Uma segunda chance -

O tinha guardado em meio aos vários contos e ontem resolvi vasculhar essa baú da leitura e acabei me encantando com esse conto.

Espero que gostem da leitura, pois esse conto mostra o amor bruto, onde as brigas são constantes e o amor também, então tudo recomeça com a verdade, conversas e aparas.

Boa Leitura
Bjs

A autora é Elise Marie e foi postado no xana in box.

Uma Segunda Chance








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Capítulo 1: Lembranças.... propostas....

(por Elise Marie , adicionado em 15 de Agosto de 2006)




“ O amor, esse sufoco

Agora há pouco, era muito;

Agora, apenas um sopro!...”





Rafaela Mendonza acomodou-se numa espreguiçadeira no deque do iate e contemplou a baía de San Esteban. Uma sensação de alegria a dominou. O novo condomínio de férias espanhol tinha se transformado em algo especial, e sabia que aquela satisfação era merecida. Afinal, ele redobrara seu investimento inicial.

Fizera tudo aquilo no período de quase quatro anos, desde que assumira o comando de seu pai falecido num acidente aéreo.

Aquele projeto específico fora apenas uma idéia que tivera, quando conhecera a ilha, mas, tendo certeza de que era diferenciado, dera ênfase total, e agora o moderno e fascinante condomínio de férias estava materializado bem ali, na sua frente.

O problema agora era: para onde iria dali? O projeto fora concluído com tamanho sucesso que, as luxuosas chácaras, salpicadas nas vertentes, já tinham seus próprios donos. Um hotel 5 estrelas, campos de golf e uma enorme área de lazer, tudo funcionando como um sonho.

Em uma semana, deixaria o ancoradouro e o iate, que fora seu lar enquanto estivera ali. Em seguida, retornaria para São Paulo, onde aguardaria o casamento do seu amado irmão Alberico.

Era hora de Rafaela se mudar, apesar de não saber direito por onde começar.

Voltaria para São Paulo para perder-se definitivamente na velha força propulsora da Construtora Mendonza&Carson? Sentiu seus ombros tensos quando uma velha inquietação, começou a incomodá-la.

- ... “ Isso merece uma comemoração...” - uma voz, suavemente feminina, filtrou-se através das portas abertas atrás dela. - “...uma celebração ao dia de San Esteban, e uma festa de despedida e agradecimento à todos que trabalharam duro para isso acontecer. Teremos fogos de artifícios e muita alegria. E chamaremos tal evento de Batismo de San Esteban, e isso se transformará numa festa anual para a cidade...”

Um sorriso lindo brotou nos lábios sensuais de Rafaela, que relaxou. Batismo de San Esteban! Gostava daquilo.

E também de Diana. Era bom te-la por perto, porque era calma, determinada e muito eficiente. Quando Rafaela lhe pedia para fazer alguma coisa, Diana executava com eficiência e sem aborrece-la com detalhes irritantes. Era boa para ela e, encaixavam-se com perfeição na forma como pensavam.

Algumas vezes até a olhava de uma forma diferente, chegando a perceber o quanto era bonita. Prometia ser boa amante, já que não fazia nenhum esforço para esconder seu visível interesse num relacionamento entre elas. Em outras palavras, seria uma ótima companheira para uma pessoa tão ocupada, quanto ela, Rafaela, era. Apesar de não amá-la. Na realidade, não acreditava mais no amor. Mas, antes de se envolver mais seriamente com alguém, devia cortar todos os laços legais, que ainda restavam, com Nick. Apesar de não terem se visto nos últimos três anos, não significava que a proposta que tinha em mente, seria aceita por ela.

Dominick...!

- Que coisa! - exclamou, quando a inquietação retornou, trazendo-a de volta à realidade.

Não deveria ter-se permitido pensar no nome dela. Aquilo sempre a deixava nervosa. Com o passar do tempo, lembrava cada vez menos daquela feiticeira rebelde e teimosa e, transformara-se numa pessoa melhor por isso. Mas, algumas vezes, as recordações ainda eram muito perturbadoras.

Caminhou até o frigobar, escolheu uma lata de cerveja, abriu-a e apoiou os quadris contra o parapeito do iate, tornando a mirar a vista.

Aquela feiticeira, Dominick Sanders, deixara sua marca nela. E, mesmo depois de três anos, ainda não se apagara.

Rafaela tomou um gole da bebida gelada e, levantou o rosto para a luz do Sol. Parecia pertencer àquele lugar, com seus cabelos e olhos escuros e a pele muito bronzeada, pelo Sol quente da Espanha. Uma sensação prazerosa invadiu-lhe o corpo.

Sempre que se lembrava de Dominick, experimentava algo diferente, que mexia diretamente com sua libido. Perguntou-se se algum dia desejaria outra mulher da mesma forma como desejara Nick.

Tinham se conhecido e ido morar juntas como duas adolescentes imprudentes, amando-se com a mesma força que as destruíra no momento em que se separaram. Eram ambas bastante jovens e, Nick ainda mais que ela. Faziam amor como animais selvagens e brigavam com igual ferocidade, até que tudo se tornou tão amargo e ruim que ficou mais fácil jogarem o relacionamento fora e esquecerem uma da outra.

E, como tudo um dia acaba, agora era hora de tocar novamente a vida e, aos trinta e dois anos, Rafaela via-se pronta para estabilizar-se com uma companheira apropriada e, quem sabe, até formar uma família, já que existiam tantos meios para isso.

- Por que essa expressão pensativa?

Diana aparecera a seu lado, sem que ela percebesse. Virou-se para encara-la e, encontrou os calorosos olhos castanhos a fita-la e um sorriso doce, no rosto simpático. Mas, pensou em outro sorriso. Um de uma boca que já não sorria mais, estando na verdade sempre aborrecida e irritada. E recordou aqueles intensos olhos azuis, que já não possuíam tanto brilho, exceto quando desafiantes.

- Estou tentando aceitar o fato de que chegou o momento de partir. - respondeu com voz preguiçosa.

- Não quer ir embora? - sussurrou Diana, compreensiva.

Rafaela exalou um suspiro.

- Acho que acabei me apaixonando por este lugar. - confessou, olhando mais uma vez para a linda vista de San Esteban.

Houve um breve silêncio, o que permitiu que Rafaela mergulhasse através dos anos nos quais se escondera ali, aprendendo a ficar inteira novamente. San Esteban fora seu santuário em um momento de enorme tristeza e profunda solidão...

O leve toque dos dedos macios de Diana a despertou. Raramente se tocavam.

- Acho que ficou tempo demais aqui, Rafaela. Viver esta vida de rainha, fez de você uma preguiçosa. - timidamente, fez um carinho no braço bronzeado de Rafaela. - O que faz do momento, uma boa hora para voltar a São Paulo e seguir adiante, não acha?

- Ah! Sábias palavras, Diana...- Rafaela sorriu. Era incrível a forma que Diana podia entender seus sentimentos. - Não se preocupe,... logo após a comemoração do dia de San Esteban, tenho sérias intenções de voltar para o Brasil e, seguir adiante... como você disse.

- Ótimo! Sua mãe ficará feliz com essa notícia...

E com aquela frase, Diana se afastou, caminhando com graça, de volta para a cabine que estava ocupando, em seu vestido azul-claro, bem comportado e os cabelos escuros puxados na nuca, num rabo bastante clássico. Nick preferia morrer a usar um vestido azul-claro bem comportado. Gostava de saias curtas, que deixavam suas lindas pernas expostas e, blusinhas justas que valorizavam a beleza de seus seios firmes.

Sempre pronta a atacar, aquela ruiva rebelde era totalmente diferente da sempre doce Diana.

Nick nunca demonstrara preocupação com a opinião de sua mãe. Aliás, ela e sua família, com exceção de Max, seu amado e saudoso irmão gêmeo e sua prima Eva, jamais se entrosaram. Haviam batido de frente desde o princípio, e nenhuma das partes tentara esconder o fato.

Diana e sua mãe, por outro lado, se adoravam. E sendo a melhor amiga de Ângela, sua irmã caçula, Diana sempre estivera presente em sua casa, embora Rafaela apenas a tivesse notado melhor, quando ela chegara a San Esteban, duas semanas atrás, para ajudar na organização da comemoração da próxima semana, porque Ângela, que até então a estivera ajudando, retornara a São Paulo para ocupar-se dos preparativos do casamento de Rico, a pedido de sua mãe.

Fora uma atitude bastante simpática de Diana, naquela circunstância. Rafaela apreciou a dedicação que ela colocara a seu dispor, sobretudo porque não fazia muito tempo que ela havia retornado à São Paulo, tendo passado os últimos quatro anos nos Estados Unidos.

As vantagens sobre Nick só aumentavam, quando comparava as duas, notou Rafaela. E com esse último pensamento, bebeu o resto da cerveja e viu um homem do outro lado do cais tirando fotografias do iate.

Rafaela possuía um desgosto enorme por fotos. Não apenas porque invadiam sua privacidade, mas, também porque aquilo era o que sua queridíssima Nick fazia para viver. Quando se conheceram, Nick mirava uma câmara para ela... ou seria para Ferrari vermelha de seu primo? Não, fora para ela. Nick a fizera posar e, flertara sem o menor pudor enquanto a fotografava. No final daquele mesmo dia elas foram para a cama e, depois... só depois foi descobrir que a aquela ruiva deliciosa era Dominick Sanders, a garota que procurava, a pedido de Larry Carson, amigo e sócio de seu pai, que desejava muito conhecer a filha que abandonou, ainda no ventre da mãe, antes de morrer.



Dominick, sentada à pequena mesa da cozinha, lia a carta que recebera do advogado de “sua sócia”, notificando a intenção de Rafaela de iniciar um processo de transação para a compra de sua parte na Construtora. Sua tia ainda dormia, e ela agradecia por isso, porque a carta a pegara de surpresa, embora concordasse com o conteúdo. Já era hora de por um ponto final naquela sociedade, que lhe fora imposta tão contrariamente..

Mas, por que Rafaela só agora decidira pela compra? Teria encontrado alguém para compartilhar o resto de sua vida?

A idéia não devia machucar, mas machucou.

Amara tanto Rafaela no início que suspeitara até que estivesse ficando louca... Eram tão jovens, tão sonhadoras, principalmente ela, e talvez por isso tivesse sido uma paixão descontrolada.

“Não pensarei mais nisso,” ordenou a si mesma e voltou a ler a carta.

O texto perguntava se ela poderia ir até São Paulo para se encontrar com a sócia. Claro, na presença dos respectivos advogados. Então, poderiam entrar num acordo à fim de conseguirem uma transação rápida e sem problemas. Poucos dias do tempo dela seriam suficientes, profetizara Tales Vergueiro, advogado e padrinho de Rafaela. E, todas as suas despesas, como as de seu advogado, seriam por conta de Rafaela, uma vez que esta estava impossibilitada de deixar São Paulo, naquele momento.

Nick fez uma pausa e se perguntou, por que Rafaela não poderia vir até a Inglaterra. Para uma mulher que costumava viver com uma mala na mão, era muito difícil imagina-la sob algum tipo de restrição.

Era difícil imagina-la de qualquer forma, decidiu, e abandonando a leitura, recostou-se no espaldar da cadeira e, fechou os olhos.

Havia apenas um problema com os detalhes que o Dr. Tales Vergueiro expusera. Não sabia como iria passar alguns dias no Brasil, porque não podia deixar sua tia sozinha.





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Capítulo 2: .... descobertas....

(por Elise Marie , adicionado em 16 de Agosto de 2006)




- Quando chega o vôo dela? - Rafaela estava sentada à mesa no sofisticado escritório em São Paulo. Nas duas semanas de seu regresso, transformara-se em uma pessoa diferente. A mulher relaxada de San Esteban desaparecera, dando lugar à determinada mulher de negócios.

Não estava feliz com a volta daquela pessoa, outra vez, mas sua mesa se encontrava cheia de projetos e licitações que precisavam de sua atenção com máxima urgência. Ia de uma reunião à outra, mal tendo tempo para respirar entre elas.

Sua vida social, composta de refeições demoradas num restaurante em San Esteban, se transformara agora em constantes encontros sociais que a faziam rangem os dentes. Além disso tudo, seu amado irmão Rico, braço direito dela na Construtora, estava fora de órbita com os preparativos para seu casamento.

Com o falecimento de seu pai e de Maximiliano, seu irmão gêmeo, Rafaela tornara-se a cabeça da família Mendonza. Portanto, era sua responsabilidade responder no lugar do patriarca. Sua mãe se tornava mais neurótica com a proximidade do grande dia de Rico, e se desesperaria ainda mais, caso sua filha mais velha não a escutasse.

- Esta tarde. - Tales a chamou de volta.- Mas insistiu em fazer as próprias reservas. Ficará no Hotel Apolinarius.

Rafaela franziu o cenho.

- Mas é um hotel tão medíocre. Por que Dominick preferiu ficar lá, quando poderia ter se hospedado no melhor hotel de São Paulo?

Tales deu de ombros, num gesto indiferente.

- Tudo o que sei é que recusou nosso convite de fazer os arranjos e, reservou três quartos, e não dois, ... um deles com solicitação de acesso para cadeira de rodas.

Acesso para cadeira de rodas?!

- Por quê? O que aconteceu com ela? Sofreu algum acidente?...está doente? - sua voz saía estrangula pelo susto.

- Não sei se o aposento é para ela, Rafaela!....

- Então descubra! - interrompeu-o, zangada, trêmula....

De súbito, a idéia de sua linda feiticeira presa a uma cadeira de rodas a fez sentir-se doente. E, com certeza, devia ter ficado bastante pálida, pois seu padrinho encarava-a, assustado.

- Isso poderia mudar tudo, você não vê? Toda estrutura na qual nos baseamos para o processo da compra, pode precisar ser revisada para acrescentar uma quantia por incapacidade física.

- Acho que está bem coberta para qualquer eventualidade, Rafaela. - retrucou o advogado, com um pequeno sorriso cínico.

- Isso não é o bastante. - ficou um tanto furiosa com o cinismo do advogado, então levantou a voz e encarou-o, firme - Esse não é meu objetivo. Não quero tirar nenhuma vantagem dessa compra. Dominick confiou em mim quando me emprestou quase todo o dinheiro que herdou e, você sabe que só foi possível levar adiante o projeto da Espanha e, sairmos das dívidas que tínhamos, com esse dinheiro. Então, deixarei nossa sociedade com a certeza de que a tratei com justiça até o fim...

Tales parecia perplexo diante a explosão de Rafaela.

- Desculpe-me, Rafaela, jamais pretendi...

- Sei muito bem o que pensa... - interrompeu-o novamente, ainda tensa.

O ridículo comentário “bem coberta” a tirara do sério. Sabia o que sua família pensava de Nick e da herança que recebera sem qualquer esforço. Decerto discutiam entre eles usando aquele mesmo tom depreciativo. Mas estavam totalmente enganados se acreditavam que o fim do relacionamento entre elas, fora culpa da “rebelde e insuportável inglesinha”, porque não era. Pelo menos, não totalmente.

- Embora nosso relacionamento não tenha dado certo, Dominick merece e terá todo meu respeito, ... sempre. Entendeu, Tales?

- Claro. - respondeu o homem, mais do que depressa, com voz sumida.

Para um homem que tinha duas vezes a idade de Rafaela e, que também era seu padrinho, Tales Vergueiro, de repente, parecia um mero empregado subordinado quando assentiu com um gesto de sua cabeça branca.

- Descubra o que puder antes que eu me encontre com ela... - ordenou Rafaela, consultando o relógio. - ...agora, tenho uma reunião importante.

Tale entendeu o recado e saiu da sala, sem nenhum comentário. Rafaela esperou até que a porta se fechasse para soltar um longo e dolorido suspiro.

Levantou-se, caminhou até a janela e passou a observar o trânsito lá fora. Sentia sua cabeça pesada, dolorida e seus ombros, tensos. Sabia que tinha se comportado de forma rude e irracional com seu padrinho. Entendia também a atitude de Tales, afinal à apenas quinze dias, ligara para ele, informando-o para entrar com a proposta de compra.

Mas, até poucas semanas atrás, em sua cabeça, Nick era uma feiticeira teimosa e rebelde. Agora, por um pequeno comentário, tornara-se novamente aquela criatura jovem, vulnerável e encantadora, que a arrastara de um céu de sensualidade para o inferno da sociedade paulistana.

“ Uma cadeira de rodas...” - respirou fundo.

O telefone tocou avisando-a da reunião.

Tinha que estar preparada para não desmoronar na frente de Nick.



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Capítulo 3: Preparando o coração.....

(por Elise Marie , adicionado em 18 de Agosto de 2006)




- Você está pedindo por problemas se vestindo desse jeito. - afirmou Emily Sanders Hayes em seu usual tom materno.

Nick deu um passo atrás para se mirar no espelho.

- O que tem de errado com minha roupa? - perguntou para a tia.

Tudo que ela via era um aceitável tailleur de couro marron, justo nos quadris e nas coxas que terminava logo abaixo dos joelhos. O corte reto do blazer ia até a cintura, e por baixo dele havia uma blusa convencional branca. Os cabelos ruivos estavam presos para trás por um pente de tartaruga. A maquiagem bem leve, completava o traje elegante.

Na verdade, não poderia parecer mais conservadora nem se tentasse, disse para si mesma, com um brilho de desafio nos olhos azuis.

- O que está errado com essa roupa é que ela é uma absoluta provocação, filha! - Emily encarava a sobrinha, indignada. - A pobre da mulher nunca conseguiu manter as mãos longe de você. O que acha que ela vai querer fazer quando a vir vestida assim?

- Não posso fazer nada! - defendeu-se Nick. - Foi assim que sua irmã me fez...

- Pois é..., maldito temperamento! - suspirou Emily - Sem falar nesse desejo deliberado de mostrar-lhe o que ela jogou fora.

- Jogou fora?! - os olhos azuis de Nick, faiscaram . - Preciso relembra-la de que fui eu quem a deixou, três anos atrás?

- Mas, foi ela quem não se importou em ir atrás de você para traze-la de volta. - Emily rebateu.

- Não tenho tempo para essa conversa agora, titia! - respirou fundo. - Preciso comparecer a uma reunião...

- Você não deveria ir a esse encontro de jeito nenhum. - Ainda que soubesse que de nada adiantaria, Emily tentava convencer a sobrinha a não ir até Rafaela. Sabia o quanto a sobrinha, tinha sofrido.

- Por favor.... não vamos recomeçar. - Nick, novamente, suspirou. Haviam discutido aquilo uma centena de vezes.

- Concordo que já passou da hora de colocar um ponto final nesta sociedade, meu anjinho. - Emily olhava com imenso carinho para a sobrinha. - Admito até que, a carta do advogado de Rafaela trouxe a melhor notícia que ouvi em dois longos anos!

Observando o esforço que a tia fazia com o apoio do andador, o coração de Nick encheu-se de pena da tia adorada.

- Mas, ainda acho que você poderia ter resolvido toda essa negociação apenas por intermédio de um bom advogado... - continuou Emily. Depois, olhando mais uma vez para a figura esguia e sedutora da sobrinha, completou - ...E, olhando para a maneira como se arrumou, agora tenho certeza absoluta de que se encontrar com ela, vai ser um erro.

- Sente-se, titia.... por favor! Seus braços estão tremendo. Sabe o que o médico diz sobre esforço físico em excesso.

- Eu me sentarei quando você parar de ser tão teimosa com essa situação! - Emily tremia, enquanto falava.

- Olha só... o roto falando do rasgado! - Nick procurou brincar.

Emily sorriu. Fisicamente, a sobrinha tinha herdado da mãe os cabelos, os olhos e toda estrutura física alongada. Mas, se alguém quisesse saber de onde vinha tanta rebeldia e determinação, em Nick, era só conhecer Emily Sanders Hayes, uma mulher corajosa e determinada, que criara a única sobrinha, como a uma filha. E que não deixava as tragédias da vida, abate-la.

Foi assim com o suicido da única irmã, mãe de Nick, alguns meses após dar à luz. Alguns anos depois, com a morte da pequena Anny, sua filha única e, por último, à dois anos atrás, com o acidente de carro que além de tirar-lhe os movimentos, levou Antony Hayes, seu amor de 25 anos. Emily estava se restabelecendo aos poucos, mas graças aos céus, estava decidida a recobrar sua mobilidade total, embora soubesse que o dano na coluna cervical tinha sido devastador.

Nick sorriu-lhe de volta. Pacientemente, puxou uma cadeira e colocou atrás das pernas da tia. Emily se sentou, sem protestar.

- Olhe... - Nick agachou-se ao lado dela - ...tudo bem! Confesso que me vesti assim por um motivo, talvez até bobo. Rafaela, nos últimos tempos, criticava o modo de me vestir...

- Oh! Minha criança rebelde... - Emily acariciou o rosto da sobrinha.

- Então, pretendo mostrar a ela que, quando sou livre para escolher o que devo usar, posso ser tão convencional quanto qualquer pessoa.

A perspicácia de Emily notou um imenso abismo naquela desculpa de Nick.

Uma batida soou na porta. Devia ser Cláudia. Com um sorriso bonito, ela levantou-se para atender, deu-lhe um beijo no rosto, mas sua tia se recusou a soltar sua mão.

- Pretende contar-lhe sobre sua decisão?! - a sobrinha, com um gesto firme de cabeça, disse não. -Não a deixe feri-la de novo.... não, agora! - Emily pediu, temerosa.

- Nada do que Rafaela venha a me fazer terá o poder de me ferir, titia. - tranqüilizou-a - Nós nos apaixonamos, mas certamente foi um erro para ambas. E aprender a aceitar isso, foi muito doloroso tanto para mim quanto para ela.

Emily refreou a língua e aceitou o segundo beijo, enquanto Nick se perguntava porque estaria defendendo uma mulher que a traíra de forma tão dolorosa.

Outra batida. Nick virou-se em direção à porta, lutando contra uma estranha sensação.

- O que vai fazer enquanto eu estiver fora? - perguntou, procurando se manter calma.

- Cláudia alugou um carro... pretendemos conhecer um pouco dessa cidade fascinante... - os olhos azuis de Emily, brilhavam.

“Cláudia!”. Nick comprimiu os lábios. A fisioterapeuta de sua tia, tinha praticamente se convidado para aquela viagem. E ela só havia descoberto isso, no saguão do aeroporto, no dia anterior, quando Cláudia com a cara mais inocente do mundo, veio ao encontro delas, dizendo - “Estou aqui por sua tia. Você deveria estar contente com a surpresa, sua coisinha mal-agradecida!.”

Mas Nick não ficara nada satisfeita. Apesar de Cláudia ser ótima amiga e uma excelente profissional, ela não fazia nenhum esforço para esconder seu visível interesse em se tornar sua namorada, desde que, num desses momentos de imensa carência, acabaram ficando juntas, uma noite apenas. E isso, incomodava Nick, profundamente.

Abriu a porta e deixou Cláudia entrar, sem reparar no olhar arregalado que loira deslizou pelo traje sensual.

- Não deixe titia se cansar.... - pediu Nick, com um sorriso simpático, beijando o rosto de Cláudia, num cumprimento.

- Dominick! - chamou-a Emily. Quando a tia a chamava pelo nome, melhor seria obedece-la. Voltou-se para escuta-la. - Esse tailleur não tem nada de convencional. Portanto, pare de mentir para si mesma, pois o que quer na verdade, é chamar a atenção de Rafaela...

Nick, dando de ombros, deixou o quarto sem se importar em responder.

Encontrou Lester Miles, na recepção.

- Podemos ir? - perguntou, educada.

Lester apenas assentiu, pondo-se a acompanha-la, enquanto enxugava o suor que lhe escorria pela testa.

Talvez sua tia tivesse razão. Havia se vestido assim para fazer Rafaela sentir-se insegura.



O trajeto de táxi pareceu demorar uma década por causa do trânsito caótico de São Paulo.

Nick pestanejou, tentando fazer com que sua mente saísse daquele transe chamado Rafaela.

Uma música suave embalava seus pensamentos. Gostava do ritmo brasileiro. Uma voz rouca de mulher, chamou sua atenção. Gentilmente, pediu ao motorista que aumentasse o volume. No mesmo instante percebeu o olhar interrogativo do jovem advogado.

- Não sabia que falava o idioma “deles”.... - o tom que o advogado usou, deixou-a irritada

- Não é importante você saber! - interrompeu-o, fechando a cara e tentando escutar a canção. - Fez sua lição de casa, Sr. Miles?

- Claro....- resmungou ele - Afinal, foi para isso que fui contratado.

- Isso quer dizer que sabe por que minha “sócia”,de uma hora para outra, decidiu comprar minha parte?- perguntou, curiosa.

- Não posso afirmar com provas concretas, mas acredito que há uma mulher envolvida... - o olhar incrédulo que recebeu de Nick, fez com que o rosto, naturalmente pálido do jovem advogado, se tornasse rubro. - ....desculpe-me, eu quis dizer que Diana Castro pertence a uma família bastante respeitada no setor imobiliário deste país e.... minhas pesquisas me disseram que ela passou um bom tempo, ajudando a Srta Rafaela Mendonza, na Espanha.

As pesquisas não poderiam estar mais corretas, concluiu Nick, ao ouvir o nome de Diana. Finalmente, a união das famílias seria completa. Mamãezinha Mendonza devia estar radiante.

Nick sentiu as lágrimas querendo brotar em seus olhos e uma dor interna, despertou-lhe raiva.

“ Nada disso! Rafaela nunca mais me fará chorar!”



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Capítulo 4: O encontro...

(por Elise Marie , adicionado em 21 de Agosto de 2006)




“ Ah! Troço de loucos,

corações trocando rosas e socos...!”



Os quinze minutos que o táxi levou para chegar no elegante prédio, onde ficava os escritórios da Construtora, serviram para que Nick tentasse se vestir de uma aparente calma. Quando a secretária os anunciou, percebeu que tinha tentado em vão.

Face a face com Rafaela, constatou que ela continuava esbelta e arrogante, como sempre. Seu bronzeado parecia bastante recente, deixando sua pele morena, ainda mais bonita. Uma mulher para destruir corações, como já devia saber.

No alto de seus, quase um metro e oitenta de altura, usava um discreto e elegante terninho cinza, blusa branca e, parecia bem disposta. Não mudara nem um pouco. Não apenas na bela aparência, mas na aura de poder. Os cabelos continuavam negros, mas agora estavam curtos, num corte bastante moderno. As mechas mais compridas nas laterais, cobriam-lhe as orelhas e, decididamente, tornavam seus olhos escuros como pérolas negras, ainda mais misteriosos, e a boca de lábios carnudos e bem desenhados, continuavam tentadores. A boca mais sensual que já beijara.

Nick teve vontade de soca-la, tamanha era sua emoção em revê-la e, ao mesmo tempo, lembrar de sua traição. Será que ela pensava que ela, Nick, nada sabia sobre Diana? Achava mesmo que Ângela manteria segredo sobre a viagem que fizera à Washington para visitar a ex-namorada infeliz? Bem, provavelmente, Rafaela sabia disso tudo e, agora, depois de tanto tempo, não valeria a pena discutir sobre isso. Afinal, não era para isso que estava ali....

Sentia o sangue ferver nas veias, numa mistura de tesão e ódio. Ódio de si mesma por ainda ficar tão perturbada na presença de Rafaela.

Quando seus olhares, de fato, se cruzaram por sobre a pesada mesa de madeira, o silêncio se impôs.

O advogado e padrinho de Rafaela, Dr. Tales Vergueiro, estava lá, mas Nick se recusou a fita-lo. Lester Miles ficou em pé, em algum lugar atrás dela, silencioso como um túmulo.

Rafaela não fez um único movimento para cumprimenta-la.

“ Bem... isso diz tudo!” - pensou Nick com frieza. A família dela conseguira, enfim, torna-la um deles.



Só por vê-la adentrando a sala de reuniões em seu andar provocante de pernas sensacionais, Rafaela sentiu-se paralizada pela força do desejo que a invadiu. Não sabia como, mas ela estava mais linda que nunca, se é que isso era possível. Seus olhos azuis continuavam desafiadores e seu cabelo parecia trazer o fogo. O mesmo fogo que invadia suas entranhas, fazendo-a sentir uma vontade dolorida de morder-lhe os lábios cheios e, dolorosamente, sexy.

Quatro anos... por 4 longos anos aquela mulher vivera em seu interior como uma dor leve, porém persistente. Rafaela havia decidido não ter nenhum outro relacionamento mais sério, enquanto não se livrasse daquela dor. Por isso, não se conformava com o fato de Dominick ter trazido sua namorada, junto. Será que não conseguia passar dois dias longe daquela loira de farmácia? E, será que aquela loira “fatal” a satisfazia, a ponto de faze-la tremer da cabeça aos pés, quando alcançava o êxtase?

Furiosa com aqueles pensamentos, encarou Nick e falou entre os dentes, num inglês perfeito.

- Vocês estão atrasados! Está reunião foi marcada para começar quinze minutos atrás... - e dando um sorrisinho cínico, completou - ... um atraso nada britânico!

A voz, naturalmente rouca de Rafaela, tinha o absurdo poder de mexer com todos os sentidos de Nick. Engoliu em seco e, tentando fazer com que sua voz não tremesse, denunciando seu estado, tentou se justificar:

- O trânsito estava péssimo e...

“Trânsito?” - pensou Rafaela, furiosa. Ela não chamaria àquela “loira” de trânsito. Definitivamente não deveria ter ido até o hotel, pela manhã, ansiosa em descobrir a verdade sobre a cadeira de rodas. Assim, não teria presenciado a cena daquela “fulana” afagando “sua Nick” perante quem quisesse ver.

- O trânsito, nesta cidade, sempre foi ruim! - disse Rafaela, tentando se controlar. - De qualquer forma, devemos nos apressar. Tenho outros compromissos.

Tales franziu o cenho, estranhando a atitude de Rafaela, mas ela ignorou a expressão do advogado e, passou a estudar o advogado de Nick. Parecia outro fascinado pela beleza da ruiva. Parecia ser também, bastante inexperiente. O que Nick pretendia, pondo um camarada como aquele diante a reputação de Tales Vergueiro? Será que também era um de seus amantes?

Quem sabe fosse isso. Era possível que a “loira fatal” não fosse única amante de Nick. Na certa aquele camarada tinha um lugar diferente na vida agitada dela.

O ciúme fez com que ela pegasse uma caneta de prata e começasse a tamborilar na mesa, furiosa.

Nick deu a volta na mesa para se acomodar do lado oposto de Rafaela. O tailleur de couro demarcava o contorno de seus quadris e seios quando ela se movimentava. Haveria alguma lingerie por baixo daquilo?Fechara o zíper do blazer até o pescoço apenas para provoca-la? - observava Rafaela, sentindo o sangue ferver em suas veias.

Pela postura de Nick, decerto chegara ali pronta para uma batalha, embora ela não entendesse o motivo. Uma vez que não passara os últimos três anos sofrendo por ela, e sim se divertindo com tantos amantes, aquela hostilidade era injustificável.

Nick endireitou a coluna e olhou-a de modo autoritário. Rafaela ficou brava com aquela atitude prepotente. “ O que pensa que vai conseguir com isso, sua feiticeira desleal e deliciosa?”, pensou Rafaela, encarando-a também, fixamente. “ Você não podia estar mais linda ainda, porque está me matando!.”

Nick pousou as mãos delicadas e de unhas bem feitas, sobre a mesa e também se pôs a tamborilar na superfície encerada.

O corpo de Rafaela começou a queimar.

Tales acomodou-se numa cadeira ao lado de Rafaela. Lester Miles junto de Nick. Ela se virou para o advogado e deu-lhe um sorriso que faria um iceberg derreter.

“ Vou mata-lo!” - pensou Rafaela.

- Podemos iniciar? - Tales perguntou, num inglês bastante fluente, abrindo um pasta preta. - No meio desta tensão toda, devo começar assegurando-a, Dominick, que temos total intenção de fazer-lhe uma proposta bastante justa e civilizada...

- Olá, tio Tales! - interrompeu-o, sorrindo-lhe irônica.

Houve um momento de quietude. Uma nova tensão pairou na sala. O advogado, respeitado internacionalmente, enrubesceu.

- Minhas sinceras desculpas, Dominick.... - murmurou ele, sem graça. - ... como pude ser tão grosseiro a ponto de esquecer minhas boas maneiras?

- Tudo bem... - falou ela, sem nenhum entusiasmo.

Tales, então, esticou-se e estendeu-lhe a mão, mas Nick não correspondeu, voltando a encarar Rafaela, deixando o advogado sofrer a indignidade de ter seu cumprimento ignorado.

“ Ela continua tendo o poder de desconcertar as pessoas” - constatou Rafaela.

- Garota insolente! - pigarreou, Tales, em português.

- Por favor, Tales... nenhuma palavra mais em português. - advertiu Rafaela, autoritária, fazendo o advogado enrubescer ainda mais.

Nick sorriu, linda e falsa!

- Mas, como eu ia dizendo... - Tales voltou a falar - ....com o devido respeito pela sensibilidade de ambas as partes, segundo as instruções de minha cliente, fiz uma cópia do rascunho da proposta para nos ajudar no decorrer dessa “desagradável” reunião! - pegando as folhas na pasta preta, distribuiu para cada um, deslizando por sobre a mesa.

Nick nem mesmo olhou a folha. Foi Lester quem começou a ler.

- Penso que você concordará, Dominick, pois estamos sendo justos com nossa proposta. E, a compra de sua parte é o melhor, numa circunstância como a que houve... - a voz masculina de Tales, carregada de cinismo, machucava os ouvidos de Nick.

- Que circunstâncias são essas? - perguntou Lester, cuidadoso.

Tales o encarou e, parecendo ter o maior prazer do mundo, falou:

- Nossas clientes foram casadas durante um ano... e, já não vivem mais juntas há três...

Um ano, um mês e vinte e dois dias..., emendou Nick, em pensamento. Aquilo machucava, embora ela soubesse que não devia.

- Obrigado! - agradeceu Lester, numa voz engasgada pela perplexidade da revelação. Não imaginava tal situação, embora tivesse estranhado o olhar sofrido e a palidez de sua cliente, quando lhe revelara sobre Diana Castro e sua sócia, na Espanha. Tentou limpar a garganta e passou a ler, em voz alta, a lista das chamadas “provisões” a que Nick teria direito, na divisão da sociedade....

Nick começou a sentir náuseas. Então, eles achavam que ela estava ali por causa de bens materiais? Será que Rafaela acreditava mesmo que era tão mercenária?

- Quando lhe dei a impressão de que era uma interesseira, Rafaela?

- Você está aqui, não está? Que outra proposta poderia traze-la de volta?

Nick se retraiu, nervosa. Rafaela estaria sugerindo que ela viera pelo dinheiro ou para tentar reconquista-la?

Os advogados continuavam discutindo, no entanto, Nick se virou para a mulher com a qual se casara e pensou sobre toda a paixão que haviam vivido.

Rafaela a procurara pela Europa, a encontrara, cortejara-a e então, na afobação de mantê-la em sua cama, propôs o casamento. O sexo entre elas, era algo fantástico, apaixonante e explosivo, mas quando ela descobrira que havia mais num casamento do que apenas isso, passou a implicar com suas roupas, com seu trabalho, com seu jeito rebelde... então, vieram as intermináveis e constantes discussões por conta do ciúme doentio de Rafaela. Até que Ângela, a irmã caçula de Rafaela, confessou-lhe que a fatídica viagem de Rafaela aos Estados Unidos, era única e exclusivamente, para visitar sua ex-namorada, Diana Castro.

Essas lembranças trouxeram lágrimas aos olhos azuis, que ameaçaram cair. Rafaela notou e sentiu um nó na garganta.

-...sua cliente deixou a minha livre para agir nesta sociedade como achasse necessário. - Tales explicava para o jovem advogado. - E não houve nenhuma tentativa de contato desde então...

“Sim, essa cretina, nem mesmo me procurou para ver se eu estava infeliz. Nem mesmo um telefonema para saber se eu respirava” - pensou Nick, triste.

- De nenhuma das partes? - questionou Lester.

- A Construtora deposita uma generosa quantia na conta bancária da Srta Sanders, todos os meses. Mas, me parece que sua cliente não reconhece isso.

- Não quero esse dinheiro, não quero essa sociedade... - exclamou Nick, diretamente com Rafaela. - Eu nunca quis, você bem sabe disso...

- Isso não é um problema meu! - Rafaela, deu de ombros, tentando parecer indiferente.

Depois de alguns segundos em silêncio, Tales prosseguiu bastante nervoso, mas determinado.

- Agora, podemos discutir a casa de Hampshire, Inglaterra.... A Srta. Mendonza deseja passar esta propriedade para a Srta Sanders, como parte do pagamento do empréstimo...

- Também não quero sua casa, Rafaela! - explodiu Nick, com lágrimas nos olhos e mordendo os lábios.

- Você ficará com a casa! - determinou Rafaela, sem uma única inflexão.

- Para aplacar sua consciência? - Nick provocou-a.

Rafaela estreitou os olhos negros.

- Minha consciência está tranquila. - sua voz estava ameaçadora. Então, enclinou-se para frente e instigou. - Mas, por que você não me fala sobre sua consciência, Dominick?

Tales, nervoso, tentou intrometer-se.

- Rafaela, penso que isso não vai nos levar a ...

- Fique com sua casa! - repetiu Nick, não dando nenhuma atenção ao advogado. - E também com essa maldita Construtora.

- Não quer nada de mim, Dominick? - Rafaela tinha um brilho, surpreendentemente, magoado, nos olhos e, uma veia pulsava em sua têmpora.

- Nada! - ela sentiu um prazer enorme na confirmação.

- “Nada” não está nesta lista... - Lester tentou assumir, mas foi fuzilado pelo olhar furioso da morena.

Rafaela parecia perigosa, Nick parecia encorajá-la.

Tales começou a transpirar porque sabia o que podia acontecer quando aquelas duas começavam a brigar.

- A srta Sanders nunca assinou nenhuma procuração passando plenos poderes para .... - as palavras foram morrendo na boca de Lester, quando notou que, novamente, Rafaela o encarava.

- Por favor, Sr, Miles..... - e, tornando a fitar Nick - Então o que você quer?

“ O que eu queria de você... você não soube me dar!” - teve vontade de gritar. Uma hostilidade amarga que sentia, fazia seu corpo tremer. Rafaela pulverizara sua juventude e seu otimismo. Tirara dela o amor e o picara diante de seus olhos.

Fechou os olhos, por alguns segundo. Desejou, ardentemente, que aquilo tudo não passasse de um sonho ruím. Viera para São Paulo na esperança de deixar o passado para trás e, retornar a Londres sentindo-se inteira novamente e assim, continuar sua vida.... agora, com um novo significado. Respirou fundo e, quando falou, tentou demonstrar um pouco da tão falada frieza britânica.

- Não quero sua casa, não quero seu dinheiro, não quero essa sociedade, nunca quis essa herança... - num ato bastante rebelde, completou. - ... não quero sequer a aliança de casamento! - tirando-a do dedo, deslizou-a na direção de Rafaela.

Os advogados iam ficando cada vez mais perplexos e mudos.

- Torno a repetir: o que você quer, Dominick? - Rafaela parecia petrificada.

- Distância! Vê o que valeu para mim, Rafaela? - Nick tentava, com muito esforço, demonstrar total indeferença - Tudo o que desejo é que saía o mais rápido possível de meu caminho!

- Torne a me insultar e poderá não gostar das consequencias. - a voz de Rafaela era ameaçadoramente, baixa.

- E o que poderia fazer que já não tenha feto? - mais uma vez aquela rebeldia maldita, fazia com que Nick se odiasse.

- Mostrar a desclassificada que é, por trazer “ seus amantes” para o meio disso aqui!

Por um instante, Nick não entendeu ao que ela se referia. Então, engasgou.

- Esteve me vigiando?

- Sim, estive. - admitiu Rafaela, se odiando por dentro.

Furiosa, Nick se levantou, pegou sua bolsa, encarou os advogados boquiabertos, e se encaminhou para a porta.

- Rafaela... por favor! Dominick.... - tentou, Tales, mais uma vez...

- Srta. Mendonza, peço que me dê alguns minutos com minha.... - Lester, mais pálido que o habitual, também tentou. Mas, como Tales, foi interrompido pelas palavras ásperas de Rafaela.

- Fora daqui, os dois!

Então, Nick escutou, à sua costa, a mesma voz, rouca, autoritária e sem nenhuma emoção:

- Dê mais um passo, Dominick, em direção a essa porta e saiba que, a arrastarei de volta, à força, se necessário.

Seus passou diminuíram, com relutância.

Estava tremendo por dentro. Sua tia estava coberta de razão. Deveria, ao menos uma vez na vida, te-la escutado. Depois de alguns poucos segundos de quietude, viu os dois homens passarem por ela de cabeça baixa e saírem.

Estavam sozinhas agora.



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Capítulo 5: ...página de um livro bom!

(por Elise Marie , adicionado em 22 de Agosto de 2006)




- Você se transformou numa tirana, Rafaela? - o tom de voz de Nick, revelava toda sua frustração e tristeza.

- Tirana?! - Rafaela fez uma careta. - E você, “minha querida”, continua sendo uma alma angelical.

Aquela “minha querida” atingiu a alma de Nick. Rafaela só usava esse termo para ridicularizar ou insultar uma pessoa.

- Fale-me sobre Cláudia McGrey! - exigiu Rafaela, entre dentes.

Nick riu, nervosa, porque o que estava acontecendo parecia-lhe irreal. Como Rafaela ousava exigir alguma explicação, depois de três anos sem dar notícias?

Caminhou de volta para a mesa, pousou as palmas sobre o tampo e a encarou, ousada e petulante.

- Sexo! - mentiu. - Sou muito boa nisso, se você se lembra bem.... Cláudia também é dessa opinião. Ela...

Rafaela possessa rodeou a mesa, antes mesmo que Nick pudesse dizer mais uma palavra. Em segundos, ela se sentiu deitada de costas sobre a mesa, com Rafaela por sobre o seu corpo, praticamente. E no segundo seguinte experimentava novamente, aquela sensação gostosa que jamais esquecera. Aquela que envolvia o toque de Rafaela, seu peso, seu corpo, e a linda feição morena com desejo de saborear. O calor que invadiu seu corpo, veio lhe mostrar que nunca esquecera aquela proximidade. Que nunca deixara de deseja-la.

- Repita o que acabou de falar, desta posição! - Rafaela ordenou.

- Solte-me! - desesperada e trêmula, Nick tentou empurra-la, mas só conseguiu sentir ainda mais seu calor.

- Repita, Dominick! - a voz rouca, tornara ainda mais rouca. Seus olhos negros, refletiam toda raiva que sentia daquela mulher que ainda tinha o poder de faze-la sentir-se daquela forma...

- Não preciso fazer mais o que você me ordena. Nunca mais...

Rafaela soltou uma risada ofensiva.

- Desculpe-me desaponta-la, “minha querida”, mas você ainda mexe comigo. - e, movendo seus quadris contra os de Nick, alcançou-lhe o pente de tartaruga que prendia seus cabelos, soltanto-os.

O espanto e a excitação parecia querer tirar o ar dos pulmões de Nick.

- Você não pode fazer.... - sua voz foi sumindo, a medida que foi reconhecendo no olhar de Rafaela, o mesmo fogo que tantas vezes, compartilharam. Instintivamente, seus próprios quadris movimentaram-se em resposta.

Rafaela tornou a rir, e sussurrou, enquanto seus dedos corriam pela cascata de cabelos ruivos e sedosos.

- Assim.... você se parece mais com a gata selvagem com quem me casei....

Seus olhares não se desgrudavam, fixos, numa batalha de sentidos.....

Então, Nick sentiu os dedos experientes de Rafaela deslizarem para o zíper do blazer. O couro dividiu-se ao meio, revelando a blusa abotoada até o pescoço.

- Por que essa coisa sexy de couro, Dominick? O que está tentando provar? - Rafaela fervia por dentro, numa mistura de medo, mágoa, ciúme e tesão... - Ou essa é a maneira que você aprendeu a se compor para sua amante? Ela gosta de despi-la peça por peça, é isso?

Com muito esforço, para que sua voz saísse e, com desejo de machucar, Nick respondeu à provocação.

- Sim... quanto mais peças eu ponho, mais excitada ela fica! - mesmo notando o brilho ameaçador no olhar negro, ela continuou. - Diferente de você, que não tinha a sutileza de me notar, a menos que eu já estivesse nua na cama e convenientemente pronta, para satisfaze-la.

Aquilo feriu fundo Rafaela, que sentiu a cor fugindo de seu rosto.

- Você não presta mesmo! - soltou num gemido.

Nick sentiu que as lágrimas, ameaçavam-na, novamente. Sabia que tinha exagerado. Tentou empurra-la, novamente.

- Solte-me, por favor! - repetiu.

Rafaela a calou com um beijo. A princípio violento, agressivo. Mas em segundos, Nick perdeu a vontade de lutar contra àquela mulher que sabia como beijá-la e faze-la implorar por mais.

Com uma das mãos, Rafaela acariciava-lhe os cabelos, com a outra tocava-lhe os seios, fazendo Nick arquear a espinha, com sensualidade.

A blusa caiu de lado. Rafaela fora hábil com as mãos. Os dedos morenos escorregaram por baixo do sutiã, procurando pelos mamilos. Nick gemeu, apavorada, mas já correndo as mãos pelos cabelos de Rafaela, certificando-se de que não parasse com a carícia.

Era tudo tão primitivo, tão selvagem! O som ofegante da respiração de ambas, a quentura dos lábios, o toque das línguas.... o desejo contido nos corpos, querendo explodir...

Em segundos, veio a libertação.

Foi tão depressa que Nick se assustou. Confusa e desorientada, permaneceu deitada ali, enquanto Rafaela, tensa e perdida, se afastava da mesa.

Nick se esquecera da raiva com a qual Rafaela começara aquilo. Mas agora relembrava, sentindo a dor da humilhação queimar nos olhos e a dor do desejo insatisfeito arder-lhe o sexo. Sem se importar em esconder o choro, vestiu a blusa sem abotoar e colocou o blazer por cima, tentando fechar o zíper.

- Eu te odeio! - foi tudo o que conseguiu dizer.

Rafaela se aproximou, suspirou fundo e, também com voz trêmula e insegura

- Nick.... desculpe-me! Você não devia ter trazido sua amante para São Paulo. Saiba que me insultou fazendo isso...

Nick, levantou o queixo, numa atitude arrogante. Sabia o quanto deixava Rafaela zangada quando fazia isso. Fixou o olhar negro, e tentando aparentar uma frieza que não sentia, apanhou sua bolsa e sem tecer nenhum comentário, virou-se para sair.

Rafaela não a deteve.

Quando Nick chegou à sala ao lado, os dois advogados notaram seus olhos marejados, vermelhos e, mostraram total pavor.

Então, encarando o homem mais velho, falou com voz firme.

- Passe a ela a minha parte na Construtora, Dr. Tales. Redija toda a papelada e eu assinarei.

Com isso, Nick partiu.



Rafaela não se sentia tão irada havia muito tempo. Tratara Nick como uma mulher à toa, mas por que razão?

Não existia uma, na verdade. Bem, não agora que sua sanidade tinha voltado.

Três anos...

Não podia acreditar na própria estupidez. Três anos afastadas e ela reagira ao vê-la com sua amante como se tivesse pego as duas em flagrante em sua própria cama!

Nick era jovem, linda, saudável, atraente e muito, muito fogosa. Tinha todo o direito de dormir com quem quisesse. O que ela tinha a ver com isso?

“ Tenho muito a ver com isso!” - pensou. Num nível sexual e primitivo, Nick ainda lhe pertencia. Queria achar que sim, pelo menos. Ingenuidade a sua, achar que ela não teria outros casos, outros namoros...

A porta da sala se abriu e Tales entrou, silencioso.

- O que Nick lhe disse? - perguntou, enquanto se servia de um pouco de água.

O advogado, limpou a garganta e respondeu, nervoso

- “Passe a ela a minha parte na Construtora. Redija toda a papelada e eu assinarei!”. Portanto, aceite meu conselho, ... faça isso agora, antes que ela mude de idéia... - e com o rosto vermelho, completou - ... seja o que foi que fez a ela aqui dentro, isso a deixou descontrolada.

Rafaela sentiu a mente esvaziar-se.

Nick não podia fazer aquilo. Depois da humilhação que Larry Carson fizera sua mãe passar, da indiferença e desprezo com que deixou Nick crescer, amparada pela tia, e depois, pelo egoísmo de procura-la somente para aplacar sua consciência e pagar um pouco de seus pecados, Nick era sua herdeira, merecedoramente, e não ela.

Rafaela mal ouvia o que seu padrinho falava. Virando-se, passou a observar o lugar onde Nick estivera deitada. Seu sexo doeu pelo tesão contido e pela saudade que seu corpo sentia daquela mulher. Podia sentir os contornos e a maciez daquele corpo maravilhoso junto ao seu, e o gosto dela em sua boca. Notou a aliança de Nick, não muito longe de onde ela estivera deitada.

“ Até aquele dia Nick estivera usando a aliança. mesmo após três anos sem nenhum contato?” - pensou Rafaela, rodando a própria aliança no anular.

Levantou-se bruscamente da cadeira, pegou a aliança e se encaminhou para a porta.

- Rafaela... - Tales tentou detê-la. - Precisamos começar a arrumar a papelada. Não devemos perder tempo...

- Não quero esse dinheiro, Tales... - retrucou, interrompendo-o. “ Quero minha mulher de volta” - foi a resposta que acendeu como uma lâmpada fluorescente dentro de Rafaela.



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Capítulo 6: por uns instantes de paz....

(por Elise Marie , adicionado em 24 de Agosto de 2006)




Na rua, Nick tomou o primeiro táxi que avistou, falou ao motorista o nome do hotel e tentou relaxar no banco traseiro. Talvez devesse esperar por Lester, mas não queria ninguém testemunhando o estado em que se encontrava, naquele momento.

Estava confusa, triste, com raiva e, tremia, descontrolada. Por baixo do blazer, a blusa permanecia aberta, e sua pele ainda sentia a impressão quente que ficara das hábeis mãos de Rafaela.

Os cabelos, soltos, emoldurava o rosto de pele alva e que, naquele momento, deixava transparecer toda sua perturbação. Sentia a boca quente e, ainda inchada pelo tipo de assalto que deveria te-la feito, no mínimo, dar uma mordida ao invés de simplesmente...

Sentia-se vulgar. Como Rafaela pôde fazer aquilo.? O que fizera para leva-la a crer que tinha o direito de trata-la daquela maneira?

“ Você a irritou, a provocou, por isso ela agiu assim.” - uma voz soava em seu anterior. “ Quis destruir-lhe o coração infiel, e acabou que foi ela quem destruiu um pouco mais o seu...”.

Mirou a mão esquerda onde a aliança costumava estar, e tentou decidir se ficara mais magoada pela maneira que foi tratada ou porque, no meio disso tudo, descobrira que ainda amava, loucamente, aquela grosseira sexy.

Não! Ela odiava Rafaela!

As duas emoções de amor e ódio, misturavam-se dentro dela, confundindo-a cada vez mais.

Assim que o táxi parou em frente ao hotel, Nick desceu sob o sol do meio-dia. A sensação de que iria derreter, a fez duvidar um pouco mais de sua sanidade em estar ali, em pleno verão brasileiro, usando aquela roupa de couro.

Tia Emily acertara. Ela esteve procurando por problemas.... e os tinha encontrado, sem dúvida. Assim que entrou no quarto, tirou toda a roupa e entrou no banho. Debaixo da ducha gelada, desejou ardentemente que aquela água toda, levasse embora, além da sensação dos toques de Rafaela, que ainda queimavam em seu corpo, toda tristeza e toda mágoa que trazia dentro de si.

Depois de se enxugar, vestiu um jeans, camiseta curta, calçou sandálias confortáveis e prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo. Precisava sair, porque sentia que ali, iria enlouquecer. Pegou a bolsa de sua câmara fotográfica, óculos escuros e bateu a porta.

Apesar de não querer ver ninguém naquele momento, bateu na porta do quarto ao lado do seu, por duas vezes. Como não houve resposta, percebeu que a tia ainda não retornara. Com certeza, ainda devia estar passeando com Cláudia. Aliviada, tomou o elevador e dirigiu-se ao saguão.

Estava tão ansiosa para dar uma volta que deixou um bilhete bem curto para a tia na recepção, sem se preocupar em avisa-la com detalhes para onde estava indo.

Quando estava saindo, encontrou Lester Miles entrando no hotel.

- Redigiram bem rápido a papelada, não? - questinou-o, com sarcasmo.

- Eles não redigiram. - o jovem advogado franziu o cenho, soava a bicas. - A Srta Mendonza saiu de lá logo depois de você...

“ Com certeza para correr para os braços de Diana.” - pensou amargurada.

- Então, o que acontecerá agora?

- Estou aguardando instruções. - respondeu Lester

- Sério?! - perguntou ela. - Sob o comando de quem, Rafaela ou Tales?... Bem, uma vez que é de mim que você tem que receber instruções, Sr. Miles, tire a tarde livre. Aproveite para dar um passeio e esqueça aqueles dois.

Aquilo era o que ela própria pretendia fazer.

- Mas, Srta. Sanders,... nosso vôo de retorno está marcado para amanhã à tarde. Precisamos discutir sobre o que vai querer...

- Já lhe disse que não quero nada! Mas, se a coisa toda pode ser finalizada por eu aceitar o que quer que seja, então aceitarei. Eles aparecerão amanhã com toda papelada, eu assinarei e nós pegaremos nosso vôo no final da tarde...

“...Para nunca mais retornar a São Paulo.” - jurou Nick, em pensamento, deixando o pobre e suado advogado ali parado, confuso e frustrado.

Quando saiu para a rua, parou para pensar sobre os lugares que costumava freqüentar que não a lembravam Rafaela.

Haviamdiversos deles, decidiu, quando abaixou os óculos para o rosto e começou a caminhar pela calçada. Enquanto Rafaela se mantinha ocupada durante o ano que estivera em São Paulo, ela aprendera a divertir-se sozinha, explorando e fotografando a cidade imensa e assustadora, mas fascinante, do seu jeito.



Rafaela acabara de estacionar o carro quando viu Nick na porta do hotel. Antes de descer do carro, ficou a observa-la franzir o cenho e olhar tudo ao seu redor, antes de colocar os óculos escuros e começar a caminhar.

Onde estaria indo? Reparou na roupa dela. Quando seus cabelos estavam presos num rabo-de-cavalo, a câmara no ombro e aquele tipo de traje saía do armário, sua irritante Nick fugia de alguma coisa. Quantas e quantas vezes vira aquela figura esbelta desaparecer sem dizer uma palavra sobre onde estava indo ou por quê?

Apertou os lábios. Na verdade sabia por que e quando, Nick agia dessa forma. Em geral aquilo acontecia depois das intermináveis discussões. Uma sensação de culpa tomou-lhe a alma. Fora também de terrível convivência, só agora reconhecia. Não fizera nada a não ser reclamar e calar a boca de Nick com métodos mais satisfatórios. E nunca percebera o quão solitária ela se sentia, até que a tivesse deixado.

Desceu do carro, pois pretendia ir atrás dela. Mas, a imagem da linda loira a fez parar, com o peito apertado de emoções. Será que ela ainda estava no hotel? Teriam brigado e por isso Nick escapara? E será que a briga teria sido porque Nick contara que quase fez amor com sua ex, sobre a mesa da sala de reuniões? E se elas é que tinham acabado de fazer amor lá, naquele hotel de segunda, que adoçava as relações clandestinas?

Sua mente sabia bem como atormenta-la, notou, batendo a porta do carro com força.

Onde estaria tia Emily, enquanto tudo aquilo acontecia? Na cama, doente, sem ter idéia de que sua tão amada sobrinha se deleitava com a tal “fulaninha” no aposento ao lado? Talvez fosse o caso dela entrar e falar com tia Emily. Ou melhor, cuidar da amante enquanto Nick estivesse fora de seu caminho.

Nick desapareceu na esquina, e a decisão de quem deveria cuidar primeiro, foi esquecida. Aquilo era somente entre elas.



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Capítulo 7: ... revivendo sensações, .... emoções, ... sem chegar a lugar algum!

(por Elise Marie , adicionado em 25 de Agosto de 2006)




Era gostoso andar e sentir a tensão deixando seus músculos tensos, enquanto ela se perdia entre a multidão apressada. De vez em quando, parava aqui e ali para tirar fotos. Tomou um refrigerante, sentada numa mesinha de bar e, logo em seguida entrou num ônibus.

Uma hora depois, chegou ao parque do Ibirapuera. Àquela hora do dia, poucas pessoas se aventuravam a andar debaixo daquele sol escaldante. Foi direto para o quiosque de Vassilou, seu querido amigo grego.

Quando chegou, o homem de meia idade a cumprimentou com efusividade, beijando-lhe as duas faces. Serviu-lhe refresco gelado e uns beliscos e, sentou-se ao seu lado com uma xícara de seu forte café grego.

- Quantas saudades, pethi mou... - ele começou, em um portugues carregado do sotaque grego acompanhado do sorriso generoso, que lhe era tão peculiar.

- Também senti, Vassilou... - treinando seu português. Estava contente em estar ali, sentada com aquele bom homem que a tinha ajudado tanto, em sua solidão, à quatro anos atrás.

Enquanto colocavam a conversa em dia, um outro senhor, também conhecido de Nick, juntou-se a eles e, sem demora, as cadeiras da pequena mesa foram tomadas por um círculo masculino. Andréas, filho de Vassilou, trouxe café para todos e acomodou-se ali também.

Ela sentia-se relaxada e feliz por estar sendo mimada por aqueles senhores alegres e de bom coração. Apesar do pesadelo de seu relacionamento com Rafaela, apaixonara-se por São Paulo. Por aquela São Paulo. E sentira muitas saudades quando retornara para Londres.

De repente, no meio da conversa divertida, uma mão pousou em seu ombro, pelas costas.

O toque causou-lhe um sobressalto de instantâneo reconhecimento. Seu corpo, aquele idiota, reagiu ao toque, e seu sorriso desapareceu.

- Agora entendo por que minha “esposa”, sente falta daqui... - as palavras foram ditas em bom português com o objetivo de deixar bem claro seu significado... Os pobres senhores se calaram. Uns sorriam divertidos, outros sorriam assustados.

Nick se inclinou para pôr a xícara sobre o tampo da mesa, embora sua verdadeira intenção fosse se livrar da mão de Rafaela, ainda pousada em seu ombro. Mas, aquilo não aconteceu. Os dedos macios e longos escorregaram pela sua nuca, e então ela se abaixou e deu-lhe um beijo carinhoso no rosto.

Rafaela sabia que ela não gostaria daquilo, mas também não a rejeitaria perante todos aqueles olhares interessados, assustados, incrédulos.

Em poucos segundos, os senhores começaram a dar desculpas e se levantarem, dirigindo-se para as mesas ao lado.

Nick, corada pela fúria, encarou-a .

- Como sabia onde me encontrar? Continua me seguindo, Rafaela? - o português com sotaque gracioso, saiu naturalmente.

Rafaela, tinha um sorriso irônico no rosto bonito. Seus olhos brilhavam, e quando falou, sua voz revelava sua surpresa:

- Então quer dizer que você fala e entende minha língua....

Aquilo não era o que Nick esperava ouvir. Mas, escondeu sua surpresa com um meio sorriso.

- Qual é o problema? Pensou que “sua esposa” fosse tão burra que não conseguisse aprender ao menos meia dúzia de palavras?

- Nunca achei que fosse burra.... - disse. - ...e pelo que percebo, não são algumas poucas palavras...

- Inapta e desinteressante, então?

Rafaela nada respondeu. Apenas, sentou-se e ficou estudando-a com tanta intensidade que, de repente, Nick pegou-se dando a informação que era óbvio que Rafaela desejava.

- Sempre tive uma aptidão natural para idiomas. E aqui... - ela apontou para os arredores. - ... foi minha escola quatro anos atrás, onde aprendi um pouco de grego com Vassilou e, o português com essas pessoas maravilhosas, que você acabou de aterrorizar com seu jeito sempre... gentil e arrogante.

- Arrogante? - Rafaela soltou uma espécie de gargalhada. - Estou para conhecer uma pessoa mais arrogante que você, Dominick! - seus olhos negros, brilhavam, perigosos. - Viveu comigo durante um ano. Dormiu em minha cama e comeu em minha mesa. Circulou entre meus amigos e minha família. Não me recordo de ter mencionado seus passeios até aqui, “para sua escola”, ou revelado que lhe era importante entender o que meu povo falava ...

- Oh! Mas escutei tanta coisa... e não teria escutado se soubessem que eu entendia um pouco o português!

- Como o quê? - ela perguntou, curiosa e ameaçadora.

- Como por exemplo, que eles não gostavam de mim e, como desejavam que a pobre Rafaela colocasse a cabeça no lugar e dispensasse a mocinha atrevida... - sua voz não conseguiu esconder a mágoa que sentia.

- Você não quis que eles gostassem de você, Dominick. Nunca fez nenhum esforço para se integrar com alguém que importasse para mim... - por um momento, o olhar de Rafaela se dispersou, e ela pareceu lembrar algo - ... com exceção de Max e Eva, claro! E assim, prosseguiu sua vidinha secreta, escolhendo afastar-se das pessoas que deveria gostar.

- Tem a memória muito curta, Rafaela. Não me lembro de uma única vez em que alguma dessas outras pessoas que você acha que deveria ter considerado, tivesse manifestado algum interesse por algo que eu tivesse dito ou feito.

- A maioria delas estava com medo de você... - Rafaela tinha a expressão séria.

Nick gargalhou. Aquilo era simplesmente ridículo.

- ... Você os humilhou com sua exagerada superioridade britânica, e com sua língua rápida e afiada. Zombou das atitudes conservadoras de alguns membros de minha família e não fez concessão perante as diferenças de cultura. E fez tudo isso com uma postura arrogante, que apenas desmoronava quando você estava em minha cama, envolvida em meus braços...

Nick, calada, ouvia com atenção cada acusação lançada por Rafaela. Será que ela a via da forma que a estava descrevendo? Será que ela acreditava mesmo em tudo aquilo que acabara de dizer?

Foi com tristeza na voz, que exclamou:

- Não é de admirar que nosso “casamento” tenha durado apenas um ano, Rafaela. Você não tem por mim um conceito melhor que o deles.

- Eu te amei... - Rafaela confessou, desviando o olhar.

- ... Naquela cama que acabou de mencionar. - concluiu, ácida. - E fora dela? Era natural que saísse procurar meu próprio mundo...., como este aqui... - disse apontando ao redor, mais uma vez. - um lugar ao qual pertenço!

- Ia acrescentar que, infelizmente nem sempre o amor é cego. - a voz e o brilho nos olhos de Rafaela, revelavam sua dor. - Assisti você tentar chocar todos à nossa volta. Mas sabe o que foi mais triste, Dominick?

Nick arqueou as sobrancelhas...

- Foi ver que nunca se sentiu à vontade nesta sua postura desafiadora.

Rafaela estava certa, Nick odiara cada minuto daquilo tudo. Por dentro, sempre estivera infeliz, apavorada e muitíssimo insegura. Porém, Rafaela jamais movera uma palha para tornar as coisas mais fáceis para ela.

Amor? Rafaela não conhecia o significado do termo. Nick sim, a amara. E tamanho foi seu amor que, se tornava cada vez mais fraca com cada pequeno desprezo que a amada lhe dava com seu - “estou muito ocupada para discutir essas coisas” ou “ você não pode, ao menos, tentar pegar a mão amiga que estão lhe oferecendo?”. Mas que mão amiga?! Por que Rafaela sempre tinha algo mais importante para fazer do que prestar um pouco de atenção a ela? Será que sua insensibilidade era tanta, que não notava sua tristeza?

- Fale alguma coisa. - pediu Rafaela, olhando-a fixamente e, sentindo-se incomodada com seu silêncio.

Nick a fitou e logo detectou o pulsante desejo espalhar-se pelo corpo. Por que Rafaela tinha que ser tão bonita? Tão atraente?

- O quer de mim, Rafaela? Presumo que deva ter uma razão específica para ter me seguido até aqui.... - pensou por um segundo e, com um meio sorriso, concluiu - ... outra que não seja me acusar ainda mais, é claro!

O sotaque britânico na voz macia de Nick, tornava o português incrivelmente sexy e charmoso, notou Rafaela. Seu corpo voltou a latejar, gritando por aquela ruiva deliciosa. Engoliu em seco e tentou disfarçar a vontade louca que sentia de tomar aqueles lábios cheios num beijo profundo e lento.

- Não estou tentando te acusando de nada. Estava apenas querendo... - fez uma pausa e suspirou. - ...queria pedir desculpas por hoje de manhã.

- Desculpas aceitas. - Nick disse, depressa. Para ela, Rafaela poderia ir embora naquele instante.

Mas, Rafaela a surpreendeu com uma risada gostosa e curta, meneando a cabeça e então, relaxando na cadeira.

Vassilou, interrompeu-as, trazendo dois sucos geladinhos e servindo-as. Ao se aproximar de Nick, disse-lhe baixinho:

- Você nunca mencionou que tinha uma... uma “namorada” tão bonita. - gaguejou um pouco, desconcertado. - Que pena, pethi mou... olha só para meu filho. Ela está arrasado!

Com aquilo, ele se foi, deixando-a sozinha para lidar com a expressão fechada de Rafaela.

- Nunca mencionou que era comprometida? - sua voz saía entre dentes.

- E com que propósito eu faria isso? - Nick deu de ombros. - Nosso “casamento” não tinha espaço aqui...

- Quer dizer que “eu” nunca tive espaço “aqui”? - perguntou, batendo com a mão, no peito de Nick, do lado do coração.

Sem pensar direito no que fazia e, sentindo seu corpo arrepiar com aquele contato leve, Nick levantou a mão esquerda, na intuição de lhe mostrar a aliança que explicaria seu estado civil, mas ela já não estava mais lá. A tristeza e um sentimento de vazio tomou-lhe o coração ... Nenhuma aliança. Baixou a mão no colo, e a vontade de chorar, fechou-lhe a garganta.

Rafaela, atenta, observou tudo aquilo.

- Vassilou estava brincando. - sua voz saiu fraca e rouca.

- Sei, sei... mas, o rapaz não tira os olhos de você desde que se sentou aqui. - lá estava o bendito ciúme a lhe entregar mais uma vez.

- Esteve me observando o tempo todo, não? - Nick tinha vontade era de agredi-la - Por que não vai embora, agora que já se desculpou?

Rafaela ignorou sua sugestão.

- Onde está sua amante?

- O quê? - Nick levantou a cabeça, atônita.

- A loira “fatal” de sorriso preguiçoso. Onde está?

- O nome dela é Cláudia e ela é a fisioterapeuta de tia Emily. - então, também para provoca-la, perguntou: - A propósito, onde esta Diana?

“Bingo!”

- Mudei de idéia a respeito da compra... - Rafaela declarou, sem dar importância a sua pergunta

- Bem... eu não!

- Não sabia que tinha lhe dado escolha!

- Não acho que você tenha muito controle sobre minhas vontades, Rafaela. Mas, por que mudou de idéia?

- Simples. Você me excita! - essa era Rafaela. Sempre direta.

Nick enrubesceu. Não podia acreditar no que ouvia.

- Você deveria ter vergonha de si mesma.

Rafaela riu.

- Não consigo evitar isso. Tenho estado assim desde que você entrou naquela sala, hoje pela manhã. Então, nada de proposta... nada de compra.... - então se inclinou e, com um brilho sedutor nos olhos, continuou . - Sabe, quando entrou na sala de reuniões, usando aquela roupa colada a esse corpo divino, e fazia trinta graus lá fora, tomei aquilo como uma ameaça. Quando lançou seu ódio sobre mim, eu não sabia quanto tempo mais poderia me conter, sem toca-la. Surpreendi até a mim mesma. Agora está aqui, de jeans e camiseta, com os cabelos presos, e fingindo-se de difícil.

- Não estou fingindo. Eu sou difícil. - Nick disse firme.

- Também sou. E pode me agredir se quiser, Dominik, mas o que eu quero será o resultado final.

- Ainda continua me dizendo o que você quer! - Nick sentia-se irritada. - Afinal de contas, aonde pensa chegar com tudo isso?

- Quero você, neste exato momento! E acho que estou deixando isso bem claro. Quero aproximar minha boca dos pequenos botões cor-de-rosa de seus seios, que posso ver através de sua camiseta agora, e me perder neles, novamente. Só não creio que este ambiente seja apropriado para tais liberdades . - Rafaela tinha um brilho intenso nos olhos e a voz quente, inebriante.

- Acho que tem razão, e essa conversa já passou dos limites. - Nick se levantou, trêmula. - Não dou a mínima para suas fantasias, Rafaela.

Ela deu-lhe as costas para partir, mas, sentiu a mão de Rafaela fechando em seu pulso e, num instante, viu-se sentada em seu colo, o que chamou a atenção dos senhores que estavam em volta.

- Não se atreva.... - foi dizendo, mas já era tarde.

A boca de Rafaela finalizou o protesto, quando a beijou com ardor e profundidade.

O beijo demorou alguns segundos, mas ainda assim Nick viu-se atordoada e perturbada demais para entender o que se passava, quando Rafaela parou o beijo e ficou a contempla-la com paixão.

Num pulo, saiu do colo dela e sentou-se novamente, onde estava.

Corada e chocada, ela assistiu Rafaela se levantar. Por um breve momento, pensou que era ela agora quem estava indo embora, deixando-a sob a humilhação de todos aqueles olhares.

Será que Rafaela tinha ido lá para isso? Para rebaixa-la daquele jeito, apenas para se vingar da maneira como se retirara de sua sala naquela manhâ?

Rafaela pôs a mão no bolso da calça e tirou alguma coisa que fez um som metálico quando colocada sobre o tampo da mesa. A aliança de Nick. Então, ela tornou a se sentar.

Nick não conseguia raciocinar.

- Ponha isso de volta. - instruiu Rafaela, séria.

- Eu não... - a voz de Nick recusou-se a sair...

- Enquanto estiver casada comigo, usará nossa aliança. - o tom de Rafaela era autoritário, mas doce

- Estamos separadas... e prestes a desfazer de vez, nossa sociedade. Para que usar uma aliança?!

Rafaela inclinou-se para frente e colocou sua própria aliança ao lado da dela.

Nick estava tão imóvel e tão calada, que ficou claro para Rafaela, que entendia o que ela fazia. Seu coração começou a disparar.

As duas alianças sobre a mesa, lado a lado à luz do Sol, ambas numa exata combinação entre si. Cada uma tinha uma inscrição gravada - “Meu coração está aqui”.

Como ela podia ter se esquecido daquilo quando estivera no convés do iate em San Esteban, fazendo planos para uma nova união? Como Nick havia se esquecido disso quando jogara a aliança em sua direção, naquela manhã? Elas tinham feita aquilo juntas. Haviam optado por aquelas alianças, não importando o quão tolas e românticas pudessem parecer quando tomaram a decisão de gravar aquela frase nas jóias.

- Me diga que isso não significa nada. - a expressão de Rafaela estava, incrivelmente, doce. Nick estava pálida. - Se você puder sair daqui, deixando sua aliança sobre esta mesa, eu farei o mesmo e, nunca mais falaremos sobre isso. Se não puder, coloque-a de volta em seu dedo e nós conversaremos sobre o que será daqui para frente.

Nick umedeceu os lábios. Rafaela cerrou os dentes para não beijá-la outra vez. Elas se pertenciam, e, quanto mais rápido aceitassem aquilo, mais rápido elas poderiam resolver outras questões.

- A proposta de compra.... - Nick tentou balbuciar, mas foi interrompida.

- A aliança!- Rafaela a estimulou, decidida.

Nick engoliu em seco. Deveria ter a coragem de levantar-se e ir embora dali.

Mas não teve. Com um rompante de fúria, desejo e... nenhum bom senso, pegou a aliança e a enfiou no anular.

- E agora? - provocou-a - Voltamos para seu escritório e conversaremos sobre sua proposta outra vez?

- Não! - Rafaela também estava nervosa. - Vamos para algum lugar mais privativo onde não sejamos interrompidas.

O olhar de Nick se encheu de desprezo pelo que aquela mentira sugeria. Sabia o que Rafaela pretendia. Não era tola.

- Tente de novo, Rafaela!

- Jantar, então? Esta noite. Fora da cidade, naquele restaurante que você gosta. Comeremos uma boa comida, beberemos champagne e recordaremos os momentos bons do nosso casamento.

- Desculpe-me, mas já tenho um compromisso para esta noite.

Aquilo foi o bastante para o ciúme voltar a queimar o peito de Rafaela. Sem pensar, falou.

- E pensar que estava prestes a terminar meu namoro, por sua causa. Mas... tudo bem, você pode levar sua amante junto, e então formaremos um quarteto. Depois, trocaremos os pares: você fica comigo, Diana com sua amante. Não será ótimo? E se eu sentir ciúmes de Diana, todos os meus problemas estarão resolvidos.

Mas, assim que fechou a boca, sentiu que tinha feito tudo errado. Mais uma vez. Maldito ciúme! Nick estava pálida, parecia que ia desmaiar. Os olhos pareciam duas pedras preciosas, cheios de dor. Então, viu ela se levantar, abatida e, percebeu que mal podia se sustentar nas próprias pernas.

- Eu estava me referindo a tia Emily... - ela sussurrou e, dessa vez se foi.





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Capítulo 8: "Não se acalma o coração .... enquanto não se sabe a razão.....

(por Elise Marie , adicionado em 30 de Agosto de 2006)




“Sua idiota.” - Nick ia se acusando, enquanto saía do parque. “Você pretendeu dizer exatamente aquilo que Rafaela entendeu .... e, provoca-la, mais uma vez. O que você não esperava era que seria um tiro certeiro que abriria outro buraco em seu tolo coração!”

Mas, Rafaela não a seguiu, o que na certa significava que elas estavam de volta na etapa número um.

“Por que voltei aqui? Por que continuo deixando Rafaela me dominar desta forma?” - Três longos anos de separação deveriam, afinal, ter entorpecido aquelas desprezíveis emoções, pondo-as fora de combate.

Quando chegou ao hotel, uma leve dor de cabeça a incomodava. Avistou tia Emily, Cláudia e Lester, sentados nas confortáveis poltronas que o pequeno hotel possuía, assim que entrou no saguão. Na mesa à frente deles, o que sobrara de um chá da tarde. Pela primeira vez, no dia, lembrou-se que a única refeição decente que tinha ingerido fora o reforçado café da manhã. Não era à toa que se sentia fraca e atordoada.

- Onde esteve, filha? - a voz de sua tia soou aborrecida - Eu já estava preocupada...

- Mas eu lhe deixei um bilhete na recepção - disse, aproximando-se deles.

- “Saí para dar uma volta!” - repetiu Emily, o recado, repreendendo-a - Não lhe parece pouco para um sumiço de horas, Nick? Já que me trouxe para São Paulo, acho que deveria reservar algum tempo para mim....

- Mas pensei... - começou, porém mudou de idéia ao notar a expressão cansada e triste da tia querida.

Ela tinha razão, e não seria justo pôr a culpa de seu ato no fato de que Cláudia deveria ficar com Emily o dia todo. Ainda mais quando olhou e percebeu que a linda loira já devia ter se arrependido daquela viagem.

- Desculpe-me, titia... - ela murmurou, inclinando-se para beijar sua face.

Percebeu-a quente e, pareceu-lhe corada em excesso. Só então notou que todos ali pareciam mais corados que o normal. Cláudia suava, e Lester tinha tirado o paletó e a gravata, e se abanava com uma revista velha.

Foi então que Nick se deu conta de que o ar-condicionado não estava funcionando e que a temperatura ali dentro estava igual à da rua.

- Quebrou! - Cláudia falou, notando a maneira como Nick olhava para os aparelhos na parede.

“Meu Deus...!” - pensou. Não era à toa que tia Emily, sempre tão calma, estivesse tão aborrecida.

- Por que não subimos para nossos quartos e tomamos um banho? - convidou todos.

- Não podemos subir também.... - agora, era Lester quem falava - ... o elevador não funciona.

- Também?! Você deve estar brincando! - não podia acreditar. Sua cabeça passou a latejar.

- Não, Nick! Estamos no meio de um corte de energia elétrica, caso você não tenha notado. Sem luz, sem ar-condicionado e sem elevador.... - Cláudia mantinha a voz calma, apesar de seu visível aborrecimento.

- O que me diz, Nick? - Emily se mostrava nervosa. - Como uma mulher numa cadeira de rodas, vai subir seis lances de escadas para tomar seu merecido banho?

Nick começou a se perguntar o que eles fariam se ela se jogasse no chão e tivesse um ataque de choro. Nada tinha acontecido de acordo com o que planejara desde o momento em que deixara o hotel, naquela manhã. Desejou, imensamente, não ter vindo para São Paulo. E, naquele exato momento, tudo o que mais queria era estar em sua chuvosa Londres, enterrada em seu estúdio, com trabalho até a cabeça. Mas, acima de tudo isso, desejava não ter colocado os olhos em Rafaela, outra vez. Aquela mulher a fazia perder a calma, o bom senso, e queimar de desejo.

- Vocês dois não precisam ficar aqui embaixo, se preferem ir se refrescar em seus aposentos. - falou quase sem forças, olhando para Cláudia e Lester - Vou ver se titia e seu podemos encontrar...

- Acredite-me, Nick... - Cláudia interrompeu-a - ...já estamos sentados no lugar mais fresco deste lugar.

- Isso aqui está parecendo um forno, filha! - exclamou Emily.

- Lamento! - mais uma vez, Nick percebeu que estava prestes a chorar. Pôs a mão na testa e tentou raciocinar. - Me dêem um minuto e verei se posso achar outro local para...

- Algum problema por aqui? - a pergunta feita, num impecável inglês e num timbre, reconhecidamente, rouco, fez o corpo todo de Nick estremecer. Devagar e ainda mais desesperada, virou-se e deparou com seu castigo: Rafaela.

- O que faz aqui? - perguntou, incrédula

- Boa tarde para você também, tia Emily! - Rafaela sorria, poderosa, e nem ligou para a pergunta de Nick, embora seu olhar continuasse fixo no rosto pálido da ruiva. - O que está acontecendo? - perguntou gentil.

Os lábios de Nick começaram a tremer, e lágrimas brilharam em seus olhos.

- Eu.. - tentou pensar, mas descobriu que não podia. - Eu... - tentou falar, mas não conseguia. Não era justo. Rafaela não era justa. E a perseguia por todos os lugares. Ela não sabia mais o que fazer.

Rafaela, então, estendeu a mão que segurava a bolsa de sua câmara. Devia ter esquecido no quiosque de Vassilou. Talvez tivesse deixado sua coragem lá também.

Esticou o braço para pegar a alça, uma lágrima fugiu de seus belos olhos azuis. Então, de repente, viu-se sendo puxada para o corpo de Rafaela, que a abraçou, delicadamente.

Por instinto, ela também a abraçou e, apesar de tudo, teve que reconhecer que ali era o lugar que queria estar naquele momento.

- Tudo culpa sua, Rafaela! - acusou-a, tia Emily.

- Eu sinto muito. - Rafaela falou, mansamente.

Virando-se, ela dirigiu-se ao jovem advogado:

- Senhor Miles, pode me fazer o favor de ir até a recepção chamar o gerente?

Nick afastou-se um pouco e, com os olhos úmidos, quis saber:

- O que vai fazer?

- Resolver os problemas de outras pessoas. Você sempre me falou que eu agia assim, lembra-se? - seu sorriso era tímido.

Aquela era uma queixa antiga, e a recordação causou arrepio em Nick.

- Posso resolver isso sozinha, Rafaela. - sua voz saiu fraca e trêmula.

- Por favor, deixe-me ajuda-la! - a mão que estava em sua nuca, deslizou pelas costas, detendo-a no lugar, e seu olhar parecia estar sorrindo. - Hoje está prometendo ser o melhor dia de minha vida, nos últimos anos, e você não vai estragar tudo voltando a ser a garota teimosa que conheço tão bem.

O melhor dia da vida de Rafaela, o pior dia da vida de Nick. Que ironia!

Lester voltou com o gerente, sem demora, e este desculpou-se o quanto pode. No momento que ele se foi, Rafaela a libertou, e Nick teve que abraçar a si mesma para encarar a platéia.

Tia Emily a olhava, incrédula. Lester parecia exausto. Cláudia se levantou e pesava a competição. Se ela tivesse algum juízo, ficaria calada.

Nick respirou fundo e decidiu que era hora de apresenta-la à Rafaela.

- Cláudia, esta é Rafaela...

- Tia Emily, você não me parece nada bem! - Rafaela nem ao menos olhou para Cláudia, antes de ir ao encontro da bondosa senhora. - Isso deve ter sido duro para você.

Ela pegou-lhe as mãos, num gesto de puro carinho e consideração.

- Aceite minhas sinceras desculpas... - seu sorriso era encantadoramente, charmoso - ... em breve deixarei sua vida mais confortável, prometo. Em alguns minutos chegará um carro e a levará, com ar-condicionado, para bem longe desse lugarzinho desprezível.

- Posso saber para onde pretende levar minha tia? - intrometeu-se, Nick.

- Para nossa casa, é claro! - ela respondeu, firme e decidida - Dominick é uma moça muito teimosa, não, tia Emily? E isso, ela herdou de você?- perguntou rindo.

Mais uma vez, Nick não deu tempo para que a tia respondesse.

- O que quer dizer com “leva-la para sua casa?”

- Nossa casa! - Rafaela respondeu, encarando-a. Depois, voltando-se para tia Emily - Já lhe disse que você continua linda?

- Você e seu charme incorrigível, Rafaela! - os olhos de Emily cintilavam de sincero prazer.

- Rafaela, nós não ficaremos em sua casa. - protestou Nick, nem ligando para os outros dois que a olhavam, surpresos. - A energia elétrica deve retornar em alguns minutos, e então tudo voltará ao seu normal.

- E se isso se repetir quando tia Emily estiver no quarto? Vale a pena arriscar que ela fique presa lá? Nós estamos em pleno verão...

- Era justamente isso o que eu ia dizer, antes de sua chegada, Rafaela. - a voz de tia Emily, voltou a soar aborrecida.

Nick sentou-se numa poltrona e desistiu de lutar.

- E Cláudia e Lester? Eles terão que ir também.

Houve um silêncio tenso. Rafaela e Cláudia, pela primeira vez, se encararam.

- Sua amante pode dormir onde bem entender, contanto que seja muito longe de nossa casa.

Emily a encarou, estupefata. Cláudia parecia ter se transformado em pedra. Lester observava tudo, fascinado, como se estivesse assistindo ao desfecho de um drama.

O coração de Nick quase parou de bater. Fechou os olhos e desejou que o mundo a engolisse. Tarde demais lembrou que deixara Rafaela com a impressão de que ela e a loira eram amantes.

Não podia mais suportar. Assim, levantou-se.

- Estou indo para meu quarto. - afirmou, e passou a andar, com pernas bambas, em direção a escadaria.

Quando acabou de subir os seis andares, seguiu pelo corredor escuro até o quarto e, apesar de exausta, foi direto ao telefone e pediu à recepcionista que ligasse para o aeroporto. Se pudesse levar todos para a casa naquela noite, era isso que faria, decidiu com raiva.

Mas, não havia um assento sequer disponível em nenhum vôo de São Paulo. Estavam presos ali.

- Perdão! - ouviu a voz doce e macia de Cláudia. - Minha vinda aqui parece ter lhe causado mais problemas.

- Por que você veio, Cláudia? - perguntou direta, encarando a amiga. - Não entendo o que imaginava ganhar!

Cláudia estava em pé na soleira da porta.

- Achei que pudesse ser de alguma utilidade... - e deu de ombros. - ...Emily concordou. Não me ocorreu que sua ex. veria minha presença aqui com tamanha suspeita... - então, deu um sorriso amarelo. - .. na verdade, achei que nem ia conhece-la.

Rafaela não suspeitava.... mas sabia, porque ela mesma lhe contara!

- Rafaela andou me seguindo, Cláudia. Quando viu você comigo, no ato presumiu o pior.

- Mas, ela não tem mais nada a ver com sua vida, Nick! Você tem que concordar com a compra, e não pedir permissão para ter uma namorada...

Nick deu uma risada cansada.

- Rafaela é uma mulher arrogante e muito possessiva. No momento que soube de você, suspendeu a proposta. Continuo presa a uma sociedade e à alguém que decidiu lutar por mim em vez de desistir, me deixando para outra pessoa...

- Isso é primitivo, é...é.... - Cláudia estava vermelha, gaguejava inconformada - ..você não tem que obedece-la.

- Ela já reconquistou minha tia com promessas de ar-condicionado e, não posso imaginar o restante das mordomias que ela está vislumbrando....

- Emily não gosta dela! - Cláudia disse com raiva.

- Será? Titia costumava crer que Rafaela era a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

Até tudo dar errado entre as duas, claro. Então, desejou que Rafaela desaparecesse da vida da sobrinha.

Cláudia caminhou até a cama, sob o olhar atormentado de Nick. Ela era alta, bonita e charmosa. Muitas mulheres e muitos homens a perseguiam, sem pudor. Trabalhava numa respeitada Clínica de Recuperação de pessoas acidentadas e, era uma das melhores, em sua área. Enfim, Cláudia era, sem sombra de dúvida, uma boa camarada.

- Você veio para São Paulo esperando que eu precisasse de um ombro amigo depois da reunião com Rafaela, não foi? - Nick perguntou, enquanto tinha as mãos seguras pelas mãos macias e quentes da loira.

- Uma mulher apaixonada tem o direito de sonhar! - foi a resposta sincera de Cláudia.

“E como têm!” - pensou Nick. O sonho dela estava seis andares abaixo, naquele instante, assumindo o comando de sua vida, novamente.

- Desculpe-me, Cláu... - foi só o que conseguiu dizer, tendo a voz presa na garganta.

- O que pretende fazer, Nick? - perguntou Cláudia, delicada.

- Dar uma chance a isso! - sua resposta foi tão rápida e tão espontânea, que até ela mesma se assustou.

Com um suspiro dolorido, Cláudia a enlaçou e lhe deu um beijo na face. Era um abraço gostoso, firme e seguro. Era um beijo quente e carregado de afeto. Mas, não pertenciam àquela que tinha seu coração.

- Mas que cena comovente! - uma voz, carregada de cinismo, ecoou da porta.

O coração de Nick disparou. Cláudia deu-lhe um aperto final no ombro e se levantou. Quando ela andou na direção de Rafaela, Nick pôde sentir a hostilidade entre as duas. As mulheres não se falaram. Cláudia não parou de caminhar e Rafaela não se moveu.



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Capítulo 9: ...e a razão, só o coração entende!!!

(por Elise Marie , adicionado em 31 de Agosto de 2006)




No momento que a loira deixou o quarto, Rafaela bateu a porta com uma pancada violenta.

- O carro já chegou, Dominick. Lester e o motorista estão levando tia Emily.

Rafaela procurava controlar seu ciúme para não piorar ainda mais a situação. Mas sua vontade era esganar a loira e beijar Nick até ela perder a noção do tempo.

- Você deveria ter ido junto... - Nick retrucou, levantando da cama e andando em direção ao banheiro.

- E deixá-la sozinha com essa loira de farmácia? Acha que sou louca? - Rafaela esbravejou, ainda se segurando.

- Cláudia é minha amiga, não minha amante. - ela falou, sem encarar o semblante enfurecido da morena.

- Muito tarde para me convencer disso, minha querida! - lá estava, novamente, a expressão que Nick odiava - De qualquer forma, à partir de agora, trata-se de sua ex-amante.

- Cláudia não é minha amante! - repetiu, furiosa.

Os olhos negros de Rafaela pareciam soltar faíscas.

- Não minta para mim! Não sou tola! E sei muito bem contar!

- Contar?! - Nick estranhou - Sobre o que está falando?

Rafaela levantou a mão e pôs quatro dedos na frente do rosto dela.

- Quatro pessoas.... três quartos. Diga-me, como é o arranjo aqui? Me diz onde dorme a quarta pessoa?

- Cláudia não dorme comigo. E não veio a convite meu, mas por conta própria, e reservou um quarto no nome dela. - Nick sentia-se cansada com aquela discussão.

Rafalea não acreditava nela, pôde perceber isso pelo semblante fechado. Sem mais palavras, caminhou até o armário, abriu suas portas e foi falando, irada.

- Minhas roupas.... meu quarto... meu leito! - gesticulou para a cama de solteiro - Você é louca, Rafaela! Ousa subir aqui e me mostrar seu desprezo pelo que acredita que eu venho fazendo comigo mesma.... enquanto fica se enroscando com Diana em seu caríssimo iate!

- Eu não tenho iate algum e, o que falei antes sobre Diana.... - mas, foi interrompida pelas palavras frias de Nick, acompanhadas pelo riso irônico.

- Me poupe de mais uma de suas mentiras deslavadas! Eu devia ir confrontá-la agora, só para me vingar de você. Deveria ir dar um tapa naquele rosto bonitinho e ameaçá-la por estar envolvida com “minha mulher”! - Nick respirou fundo, tentando se controlar. Passou a mão pelo suor que escorria pela testa e, como que se lembrando de algo, sorriu estranho. - Talvez eu devesse fazer isso mesmo e, deixar toda família Mendonza saber que Dominick, sua rebelde e insuportável namorada, está de volta!

Rafaela estava pálida e sua expressão mostrava toda tristeza que tomava conta de seu ser.

- Insuportável.... - sussurrou ela - Você não é insuportável, mas sim uma mulher irada em defesa de alguém!

- Ah, é? De quem?

- Dessa sua loira “fatal”.

Naquele momento, Nick soube que estava com problemas. Rafaela não acreditava nela sobre Cláudia, e vinha em sua direção com passos lentos, felinos e um olhar profundo e misterioso.

- Você não se atreva! - Nick começou a tremer, quando sentiu os braços dela se estenderem para segurá-la pela cintura.

Se desse um passo para trás, entraria no armário. Se ficasse parada, estaria perdida.

- Rafa.... não.... - sua voz saiu trêmula e rouca.

- Repita isso... - a voz de Rafaela, também.

- Repetir o quê? - muito perturbada pela proximidade do corpo da morena, ela não conseguia mais raciocinar.

- Rafa!... - murmurou, Rafaela, com uma voz tão sensual e o olhar fixo em seus lábios, que fez Nick quase perder a habilidade de respirar.

Será que ela a chamara daquela forma? Não lembrava. Esperava que não, porque aquilo era entregar-se demais.

Uma mão de Rafaela soltou seus cabelos e a outra passou a acariciar, por debaixo da camiseta, a pele macia de suas costas, fazendo todo o corpo de Nick se arrepiar.

Nick sabia o que estava por vir, e sua respiração ficou parada na garganta. Se permitisse que Rafaela a beijasse naquele ponto atrás de sua orelha, explodiria num eletrizante deleite.

- Diga.... - pediu Rafaela, quase sem controle também. Mas ela não escondia seu escaldante desejo. Então, entreabriu os lábios carnudos e chegou mais perto ainda da boca de Nick

- Rafa...

Rafaela sorriu, carinhosa e tomou-lhe a boca com sede. Mas, diferente do beijo com desejo de machucar que tinham trocado pela manhã, aquele era repleto de carinho, de promessas, de saudades..

Sem muito esforço, Rafaela tomou Nick no colo e a levou para a cama. Seus olhares estavam presos. Quando suas bocas se encontraram, novamente, o carinho foi substituido pela fome louca que sentiam, as promessas pelas chamas de um tesão desvairado e a saudades pela urgência de recuperar tanto tempo perdido. Então sem reservas, elas se amaram com a mesma intensidade dos velhos tempos.



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Capítulo 10: "Eu te amo, isto é fato....

(por Elise Marie , adicionado em 4 de Setembro de 2006)




- Pode usar o banheiro agora, “senhorita teimosia”! - Rafaela disse com voz divertida, após deixar o banheiro.

- Eu usarei depois que você tiver ido embora.

Rafaela estacou ao ouvir aquilo.

- No caso de ter esquecido, meu bem, você irá comigo. - falou, se abaixando para pegar suas roupas e também para esconder a dor que aquela frase lhe causou.

- Não, eu não vou. - disse Nick, teimosa.

- Claro que vai. Não pode ficar neste lugar, e sua tia...

Nick se virou para encara-la com aqueles olhos de um azul mar. Parecia tão frágil, tão pálida... etérea até, como se pudesse a qualquer momento sair voando pela janela aberta.

- Eu seria muito grata se você pudesse hospedar titia por esta noite.... - sua voz era fraca, quase sem emoção - Tem razão sobre este lugar, ele não é um local adequado para ela. Mas, ficarei aqui e a pegarei amanhã a caminho do aeroporto.

- Você vem comigo! - persistiu Rafaela, sem querer pensar sobre o amanhã.

Mas Nick meneou a cabeça.

- Acho que já cometemos erros demais num só dia.

- O que fizemos aqui não foi um erro. - disse Rafaela, suspirando.

Durante o tempo em que tomou seu banho, sozinha, também pensou da mesma maneira que Nick. Mas, naquele instante, após tornar a vê-la , não queria que aquilo fosse um erro.

- Nós acabamos de fazer amor.... - disse, com imenso carinho, tentando convencer aquela ruiva teimosa.

Nick, exausta, ignorou a explicação em forma de súplica de Rafaela.

- Vá embora, Rafaela. Por favor!

“Vá embora! Você está dispensada!” - pensou Rafaela, agoniada.

- Assim aquela fulana pode retornar? - Rafaela provocou, lançando-lhe um olhar de desafio e esperando o revide.

Mas, estranhamente, Nick nada disse. Apenas caminhou para o banheiro e a deixou parada ali, feito uma tola apaixonada.



Rafaela olhou ao redor do pequeno quarto de hotel, notando o piso de madeira gasto, mas muito bem encerado. Embora a mobília fosse velha, tudo parecia estar conservado e extremamente limpo. Fitou a cama desarrumada, com lençóis desbotados e o ededron laranja, pensando em sua própria cama king size, com finos lençóis bordados de algodão branco.

Sem esforço algum, visualizou o corpo delicioso de sua amada entre aqueles lençóis ou sentada no chão de carpete branco, fazendo a seleção das fotos que acabara de revelar. Onde quer que Nick estivesse em sua casa ou em sua vida, ela criava um glorioso contraste. E ela sentia mais saudades daquele contraste do que ousava supor.

O som do chuveiro sendo desligado a chamou de volta à realidade. Quando a porta do banheiro se abriu, soube que ia acontecer a seguir, e que ela ia ter que convencer Nick a aceitar aquilo.

- O que você acha que está fazendo? - Nick protestou, perplexa.

Rafaela, já vestida, arrumava a mala dela.

Tinha separado para Nick um conjunto de lingerie e o único vestido que encontrara.

- Isso está bastante óbvio. - respondeu, tentando parecer segura e, desviando o olhar daquela figura tentadora, vestida com um conhecido robe azul e cheirando a banho.

- Mas eu falei...

Rafaela a encarou.

- Eu acho que... estou reconhecendo este robe...

Nick olhou para o que vestia e, levando as duas mãos á altura do decote, fechou-o numa tentativa de se proteger.

- Eu.... - só conseguiu balbuciar.

- Você o quê? - incentivou Rafaela, arqueando as sobrancelhas e se aproximando. - Levou-o por engano e então se esqueceu de devolve-lo para mim? Ou roubou-o porque necessitava ter uma parte minha junto de seu corpo?

- Ele é confortável, só isso. - ela afirmou, corada e impaciente - Se o quer de volta...

- Sim, por favor! - Rafaela tinha um brilho divertido no olhar.

Sem nenhuma hesitação, caminhou até Nick. tirou-lhe as mãos do decote do roupão, com extrema delicadeza e, pousou a face no tecido de cetim, inalando-o

- O que.... o que está fazendo, Rafaela? - era incrível como aquela mulher a excitava.

- Verificando se ainda há meu perfume no tecido ... - quando ergueu a cabeça para fitá-la, seu olhar era profundo e apaixonado. - ... mas não, ele já tem o seu cheiro... - aproximou-se mais um passo. - ...e a promessa do que guarda por baixo dele.

- Gostaria que parasse com isso e fosse embora. - pediu Nick, extremamente perturbada.

- Mentirosa... o que quer mesmo é que eu lhe arranque esse robe... - e expiou o tremor de Nick - ... Adoraria que eu o rasgasse, o fizesse em pedaços, e então a jogasse na cama e passasse os próximos minutos fazendo-a recordar-se do porquê de eu ainda estar aqui!

Nick tentou se esquivar.

- Isso é uma intimidação...

- Não, meu doce... - Rafaela traçou os lábios sensuais com a ponta do indicador e percebeu que estavam trêmulos. Assim como ela própria estava. - Quer que eu a faça se render! Adoraria que eu usasse a força para faze-la ir para a casa comigo, assim não teria de abrir mão de sua preciosa teimosia.

Rafaela estaria certa? Sim, Nick teve de admitir. Por baixo do roupão, seu corpo já vibrava, seus seios clamavam pelo toque das mãos experientes da amada e seu sexo doía de vontade, de desejo...

Virando a cabeça, livrou-se do dedo de Rafaela.

- Aquilo não é uma casa para mim! - exclamou, utilizando-se da teimosia que ela citara. Mas, estragou tudo quando passou a língua no ponto onde o dedo moreno se demorara.

Rafaela conhecia muito bem aquele gesto, sabia que Nick fazia aquilo sempre que ardia de desejo.

- Mas será, meu doce! - sua voz estava trêmula e ainda mais rouca - Assim que tirar esse robe e vestir as roupas que separei para você, iremos para o nosso lar, juntas, como um casal..... um casal que nunca deveria ter se separado. Então, sem demora, encontraremos a cama mais próxima para finalizar o que começamos aqui.

E Rafaela se virou, para terminar de arrumar as malas.

- E Diana? Vai se juntar a nós para um trio aconchegante? - Nick a encarava, com sarcasmo. - Ou esse é o ponto onde eu convido Cláudia para ir até lá, no caso de precisarmos de mais emoção?

Rafaela parou o que estava fazendo, e a encarou, completamente, pálida. Sentiu-se ferida. E, foi com tristeza na voz que disse:

- Não há Diana. Não há Cláudia. E essa é a última vez que esses dois nomes serão mencionados no contexto de nossa relação. Nosso caso, casamento, namoro... ou seja lá, como quer chamar, acaba de ser consumado mais uma vez nesta cama... Sabemos e sentimos o quanto nos queremos, o quanto precisamos uma da outra... Não me force a mostrar-lhe o significado disso, Dominick!

E Rafaela o faria, percebeu Nick, notando o quanto ela havia ficado zangada, embora não demonstrasse.

Ficaram se entreolhando por longos segundos. Nick tornou a agarrar as pontas do robe, fechando o tecido acetinado sobre o pescoço pulsante.

Rafaela assistia àquilo acontecer, enquanto esperava uma resposta, um revide.

Nick via uma mulher linda, decidida, agressiva até.... Mais do que ela fora três anos antes. Era como se aquele período a tivesse ensinado como afiar sua força e usa-la em benefício próprio.

Quatro anos atrás, Rafaela teria entrado num acordo, com o conhecimento de que não mais tinha um pai para interferir em cada decisão que tomava. Alberico Mendonza morrera apenas três meses após elas terem se casado. Rafaela, então, começava a viver com o estresse de ter que substituir seu honrado pai, já que Maximiliano, seu irmão gêmeo, tinha outros planos para sua vida, e nenhum interesse pela Construtora.

Conselheiros, acionistas e concorrentes, passaram a pressiona-la e, as dívidas, cresciam. Rafaela vivia em constante estado de preocupação, por isso, as pequenas coisas passaram a irritá-la, porque as grandes preenchiam-lhe a mente por inteiro.

Nick fora um estopim, naquele período tão crítico para ela. Mas, ela a amara muito, desde o ínicio. Durante os dois meses que passara na Europa, quando todos os seus problemas tinham sido deixados em São Paulo, foi capaz de abrir mão de suas responsabilidades e, tornar-se uma jovem relaxada, feliz e carinhosa. Assim, elas haviam se conhecido, se apaixonado, quase que embriagadas pela felicidade. Quando voltaram para São Paulo, porém, Rafaela abraçou seus afazeres outra vez e foi se tornando uma estranha para ela.

Nick não compreendera, na época. Era jovem, com apenas 22 anos. Criada pelos tios, que a mimavam o tempo todo, era muito egoísta, dona do próprio nariz, e irritava-se a todo instante por nunca vir em primeiro lugar para Rafaela. A compreensão acontecera aos poucos, ao longo dos anos em que permaneceram separadas, embora os ressentimentos tivessem permanecidos.

Somente naquele instante Nick se dava conta de que Rafaela mudara também, parecia bem mais madura. E o estresse originado pelo peso da responsabilidade de substituir o pai, parecia não incomodá-la mais.

- Por quê, Rafaela? Por que você mudou de idéia sobre mim? - perguntou, curiosa em saber o verdadeiro motivo.

Rafaela nem pensou em esconder.

- Eu ainda te quero, preciso de você.... e achei que isso estivesse óbvio. Tudo o que precisa fazer agora, Nick, é aceitar que ainda me quer, que ainda precisa de mim.... Então, podemos mudar tudo isso sem essa tediosa discussão.

- E se formos infelizes de novo?

Rafaela, com o olhar mais doce que Nick já vira, nela, respondeu:

- Lidaremos com isso quando e se acontecer! - deu um longo suspiro. Então, abrindo um sorriso divertido - Agora, podemos encerrar por aqui? A mala de tia Emily ainda precisa ser feita, e eu gostaria de sair daqui antes que tornemos a ficar sem eletricidade...

E Rafaela não estava brincando, Nick concluiu, apenas meio segundo depois, quando houve um clique e as luzes se apagaram.

Ela se vestiu rapidamente e, junto com Rafaela, fizeram as malas de tia Emily. Em seguida, caminharam de mãos dadas pelo corredor escuro, em direção as escadas.

- Estranho essa queda de energia... - Nick disse, quebrando o silêncio.

- À tarde, quando estava vindo para cá, vi um poste caído e caminhões da companhia de energia, na rua de trás. Deve ter sido causado por algum acidente... - Rafaela comentou, enquanto pegavam o primeiro lance de escadas.

- Você acha que isso durará muito? - Nick descia os degraus com Rafaela um passo a sua frente.

- Isso dependerá de quem é mais cabeça -dura... - a morena virou-se para lhe oferecer o primeiro sorriso, realmente, sincero, daquele dia.

Rafaela falava delas, notou Nick, e não da queda de energia e de sua possível causa.

Mas, antes que pudesse falar algo, Nick tropeçou e soltou um pequeno grito, quando quase caiu.

Rafaela foi rápida e, amparou-a, prontamente. Suas mãos enlaçaram-na pela cintura fina, e seus corpos de repente estavam colados. Rafaela a comprimiu contra a parede e então levantou seu queixo, delicadamente, até que seus olhares estivessem na mesma visão, fixos, presos, apaixonados...

- Eu a quero de volta na minha vida, Nick. Na minha casa, na minha cama... Não quero mais que briguemos ou que magoemos uma à outra. Mas que sejamos como costumávamos ser antes de a vida tomar esse caminho amargo, solitário, dolorido... - sua voz era doce, emocionada. - ... preciso ter de volta tudo, minha linda! Cada sensação doce e gloriosa que me fala que você é minha mulher, minha companheira, minha amiga.... E quero ouvi-la dizer que se sente do mesmo jeito a meu respeito...

Pressionada entre a parede e a maravilhosa maciez daquele corpo quente, e com os olhos dela tão perto, era impossível não ver que Rafaela estava sendo sincera em cada uma daquelas palavras. Então, oferecer à ela algo além da verdade, seria errado demais.

- Eu quero o mesmo, Rafa... - Nick sussurrrou.

A íris negras cintilaram de alegria.

- Sua bruxinha linda... - murmurou, Rafaela, sorridente e a beijou.

Compartilharam naquela escadaria o beijo mais honesto que já haviam trocado. Um beijo que continha uma emoção do tipo que invade a alma e cria raízes profundas.

Quando foram perturbadas pelo som de alguém descendo as escadas, interromperam o beijo, ofegantes. Rafaela se afastou, relutante. Nick não podia encara-la, por estar ocupada demais tentando lidar com uma coisa chamada esperança, que dizia “sim, quero correr o risco, novamente!”

Continuaram de mãos dadas até o saguão. O gerente, muito solícito, se desculpou, mais uma vez, pelos transtornos e lançou um olhar estranho para ambas, enquanto Rafaela instruía-o sobre fechar as contas e onde entregar as bagagens.

- Ele acha que somos estranhas... - Nick tinha um sorriso de deboche, quando saíram para a linda luz dourada do entardecer.

- Sinto-me mesmo... estranha! - Rafaela, ainda, segurava-lhe a mão, e tinha um sorriso lindo no rosto moreno.

Respirou profundamente e soltou o ar dos pulmões, vagarosamente. É,sua vida, de súbito, tinha voltado a ser maravilhosa!





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Capítulo 11: ....como é fato o desejo de ficar contigo!

(por Elise Marie , adicionado em 13 de Setembro de 2006)




O carro de Rafaela estava estacionado perto dali. Abrindo a porta do Audi preto, ela ajudou Nick a se acomodar, gentilmente. Deu a volta, sentou-se ao volante e deu a partida.

O ruído baixinho do motor potente desapareceu assim que Rafaela ligou o som. A voz suave e sensual da cantora chamou à atenção de Nick, que reconheceu a música que havia escutado, naquela manhã, a caminho da reunião.

- Linda música.... - disse, suavemente.

- Também acho! - Rafaela suspirou.

- Gosto da música brasileira. Gosto de seus diversos ritmos e de suas letras tão bem elaboradas....

- Gosta de Ivete Sangalo? - Rafaela a encarou, rapidamente, enquanto entrava no tráfego pesado da avenida.

- É dela está canção?

- Hu-hum... - a morena resmungou, preguiçosa.

O sol poente cintilou no rosto de Nick, que levantou o braço para baixar o quebra-sol. A delicadeza com que Rafaela segurou seu pulso e levou a palma de sua mão até seus lábios, beijando-a, excitou-a mais que nunca.

E enquanto o carro ganhava o trânsito, comunicavam-se através dos sentidos e das canções românticas que preenchia o interior do carro. Rafaela só soltava a mão de Nick quando precisava trocar a marcha, e em seguida tornava a pega-la, sempre de modo sensual e carinhoso.

Quando foi forçada a parar no semáforo, ela se virou para Nick. Seu olhar então deslizou por todo o vestido curto. Soltou o pulso dela e passou a acaricia-la entre as coxas lindas e macias, apertando-as de leve.

- Pare com isso, Rafa.... - Nick, implorou, sentindo sua respiração falhar e seu corpo amolecer, já em brasas.

- Por quê? - Rafaela provocou, com voz quente e um sorriso safado.

“Porque vou acabar fazendo uma loucura se você não parar!” - pensou Nick, mas pelo olhar sensual e faminto de Rafaela, suspeitou que ela já soubesse disso.

O farol abriu, e Rafaela tornou a se virar e olhar para a frente, com relutância. Nick conseguiu afastar os dedos dela de sua perna e procurou concentrar-se no movimento de carros e pessoas, lá fora.

Alguns minutos mais tarde, o carro saiu daquele trânsito infernal, e passou a percorrer ruas mais calmas e arborizadas. Logo, alcançaram o condomínio luxuoso, com casas ricamente construídas, em meio a terrenos imensos e jardins bem cuidados. A mãe de Rafaela também morava ali, embora fosse do outro lado do condomínio.

Passaram pela casa de Theodoro Gutierrez, tio de Rafaela, que também morava ali, junto com sua neta Eva, que fora uma das únicas duas pessoas da família com quem Nick se sentira bem.

Eva tinha a mesma idade dela e, era metade inglesa. Podia ser a neta mimada e adorada de um espanhol conservador e dedicado, mas sempre se agarrava com determinação as suas raízes britânicas.

- Eva está casada agora. - Rafaela quebrou o silêncio.

- Casada? - Nick a olhou, surpresa.

A garota da qual se lembrava era uma loirinha de enormes olhos azuis e uma criatura que vivia lutando contra as tentativas do avô em mantê-la em cativeiro.... como Eva chamava aquilo tudo.

- É uma longa história. - Rafaela sorriu - Acho que vai adorar ouvi-la da própria Eva.

Então Nick rememorou uma conversa que tivera com ela, uma vez:

“- Eles me aceitam porque também tenho sangue espanhol nas veias..., mesmo que eu goste de irritá-los fingindo que não tenho. Graças à Deus, passei os primeiros dez anos de minha vida em Londres, assim a família não teve a chance de interferir no casamento de meus pais... - contava Eva - ... quando eles morreram e fui mandada para cá para viver com vovô, todos sentiram tanto pelo que acontecera que, mesmo não concordando com a opção de papai em escolher uma inglesa como esposa, acabei ganhando a simpatia deles. Entretanto, isso não significa que eu concorde com o que eles pensam e com o modo como agem, Nick. Por favor, não permita que eles ganhem de você.

Mas, eles haviam ganhado, no final. E, apesar de Nick recordar-se de que o avô de Eva sempre a tratara bem, não acreditava nas maneiras gentis dele. Porque, assim como Ângela, Rico e Thea Mendonça, mãe de Rafaela, Theodoro não tinha nenhum desejo de ver a linhagem Gutierrez e Mendonça misturada com alguma outra raça, principalmente a inglesa, que não fosse a espanhola.

- Com quem sua prima se casou, Rafaela? Com algum espanhol, claro.

- Eva? Cumprindo as expectativas de tio Theodoro? - Rafaela, gargalhou, fazendo menção da teimosia da prima. - Não, não. Ela escolheu um inglês chamado Steve Hunter. Coitado, acho que até hoje ele não se recuperou do choque.

- Seu tio?

- Não, Steve! Não sabia que era tão preconceituosa, meu amor! - Rafaela tinha uma sobrancelha erguida.

Preconceituosa?! Nick abriu a boca para protestar, mas resolveu que não. Ela não era preconceituosa, mas tinha sofrido na pele o preconceito da família de Rafaela.

O carro adentrou os portões duplos que levavam à casa enorme de dois andares, bem no centro de um gramado lindo e bem cuidado, que um dia fora o lar de Nick. Aquela casa não era tão grande quanto as casas dos Gutierrez e dos Mendonza. Mas, ainda assim, era uma construção imponente e não fazia segredo de que pertencia à alguém com muito dinheiro.

Rafaela a adquirira depois de um mês que elas tinha voltado da Europa, numa tentativa de dar às duas, mais privacidade para solucionar os problemas, que já começavam a surgir.

Problemas... houvera problemas em todos os lugares, quando Nick olhava para o passado dali. Pensando naquilo, exalou um longo suspiro.

Ouvindo-a suspirar, Rafaela parou o carro na frente da entrada principal, desligou o motor e virou-se para encara-la.

- Cansada? - perguntou, num sussurro, tomando as mãos macias e geladas de Nick, entre as suas.

Nick parecia triste outra vez, e seu semblante sensual havia desaparecido. Será que a visão da casa delas era tão abominável assim?

Nick apenas meneou a cabeça, numa negativa à sua pergunta. Seus olhos passeavam pelos arredores, como que querendo mesmo acreditar que estava de volta.

Rafaela também deixou seu olhar passear pela bela propriedade e se lembrou de quando a comprara, na esperança de que aquilo daria à elas algum tempo e espaço para colar as rachaduras que haviam aparecido no relacionamento. Até mesmo contratara uma profissional para cuidar da decoração toda, antes de levar Nick para lá e surpreende-la com a nova aquisição.

Mas tudo o que conseguira fora mais um descontentamento. A ruiva entrara, olhara ao redor e não fizera nenhum comentário. Rafaela percebera tarde demais que ter uma linda casa, decorada por uma famosa decoradora de interiores, não ajudara em nada para que elas transformassem aquele imóvel num lar para as duas.

“Lar” não era um termo adequado ali, Rafaela teve que reconhecer. Aquela casa nunca fora um lar... apenas um novo local para as brigas, sem ouvidos alheios para escutá-las.

Ela continuava trabalhando muitas horas por dia, e Nick prosseguia deixando-a sozinha todas as manhãs, sem ao menos olhar para trás e ver se sua mulher se importava com sua saída.

Se Rafaela voltava depois do almoço, Nick nunca estava lá para recebê-la. E se chegava tarde da noite, Nick já dormia. Se a acordasse, ela a repreendia e o circo todo começava outra vez.

A teimosia e a rebeldia eram os maiores pecados de Nick, mas ela também fora muitíssimo grosseira com a pessoa solitária e melancólica em que Nick se tornara.

Estranho, pensou Rafaela, somente naquele instante teve certeza do porque de não ter voltado a viver com sua família e de ter preferido sair do Brasil depois de Nick te-la abandonado. Assim não viveria na esperança de que ela retornasse.

Desceu do carro e foi ajuda-la a sair do mesmo.

Longas pernas macias esticaram-se para fora do veículo, e ela captou um relance do sutiã rendado antes que o vestido de tecido leve e sensual se acomodasse novamente às belas formas daquele corpo tentador.

Quando sentiu o toque dos dedos de Nick sobre sua palma, ela esqueceu-se de todos os pensamentos que tivera até ali. Como pudera crer que preferia Diana àquela mulher incrível que era sua Dominick?

Como era bonita! E como era sexy!

Encarou-a novamente antes de se dirigirem à casa, foi então que reparou num automóvel conhecido estacionado à sombra da grande árvore, próxima à casa. Franziu o cenho sentindo-se irritada.

Puxou Nick para si, com muito carinho, e beijou-lhe os lábios, de leve, enquanto batia a porta do carro e se perguntava como explicar aquela presença.

Não havia explicação, aceitou, frustrada e nervosa. Ela estava numa grande encrenca, e a única atitude sensata a tomar era enfrenta-la.



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Capítulo 12: Às vezes, parecem que são tantos os obstáculos......

(por Elise Marie , adicionado em 13 de Setembro de 2006)




Caminhar até a porta de entrada exigiu mais coragem do que Nick havia imaginado. No momento em que Rafaela abriu a porta, sentiu seu estômago se apertando de desgosto e apreensão.

O calor do fim de tarde deu lugar ao clima fresco do ar condicionado no amplo hall com corrimão lustroso, seguindo a escadaria que levava ao piso superior. As paredes ainda eram pintadas de um branco-gelo, e as lajotas do piso ainda tinham o mesmo tom frio. A mobília era o que se via apenas nas revistas de decoração.

Nick nunca sentira aquela residência como um lar. Fora infeliz e solitária ali dentro.

Uma mulher, formalmente vestida, apareceu da direção da cozinha. Era de meia-idade e, quando se aproximou, ofereceu a Nick um sorriso nervoso

- Está é Dolores, nossa governanta. - E Rafaela apresentou Dominick para Dolores como “ minha esposa”, sem nenhum constrangimento.

- Boa tarde, senhorita Dominick! - seu inglês era bastante fluente - Seja muito bem-vinda!

Perguntando-se o que acontecera com Agnes, a governanta que Thea lhes impusera um dia, Nick sorriu e lhe devolveu o cumprimento.

- Boa tarde, Sra Dolores. E obrigada! - disse em português. - Mas, por favor, me chame de Nick, apenas.

- Desculpe-me, senhorita....- a senhora tinha o rosto rubro - .... quero dizer, Nick! - e dando um sorriso tímido, completou - Se não se importa, gostaria que também me chamasse apenas por Dolores...!

Nick sorriu de volta, simpática:

- Combinado então!

A senhora assentiu com a cabeça grisalha e, num tom ainda cerimonioso:

- Seus convidados a esperam na varanda. Devo mandar servir-lhes um chá inglês?

Pareceu estranho a Nick que a decisão fosse dela, tendo Rafaela a seu lado. Agnes costumava olhar somente para Rafaela quando qualquer decisão precisasse ser tomada, até mesmo as mais corriqueiras.

- Sim... obrigada, Dolores! - falou com certa dificuldade.

A governanta então, com um gesto de cabeça, se retirou para a cozinha.

- O que aconteceu com Agnes? - Nick quis saber.

- Foi embora logo depois de você. - ela respondeu e havia alguma coisa no tom coeso que sugeria que a partida da mulher não fora nada amigável.

Mas, aquela não era hora de conversar sobre assuntos domésticos. Nick tinha uma preocupação maior pela frente. Como tia Emily receberia a notícia de que ela concordara em tentar outra vez, depois de te-la visto sair naquela manhã pronta para acabar com a sociedade e com qualquer outra ligação que pudesse haver entre as duas?

Dirigiram-se para a varanda coberta, nos fundos da casa, com portas duplas francesas abertas para a delicada luminosidade do pôr-do-sol.

Não se falaram. Nick estava apreensiva demais para conversar e podia perceber a mesma tensão em Rafaela, que caminhava ao seu lado, de mãos dadas. Estaria preocupada com a reação de tia Emily, também? - perguntou-se, e então sorriu porque, no lugar dela, estaria mais preocupada com a reação de Thea, quando ficasse a par da reconciliação delas.

A primeira pessoa que avistou foi tia Emily sentada em uma das confortáveis poltronas de vime, parecendo feliz e descansada. Lester Miles se levantou num salto, quando as avistou.

Emily as fitou, tinha um sorriso de boas-vindas iluminando-lhe a face.

- Oh, aqui estão elas...! - exclamou - Nós estávamos a perguntar por onde andava as duas....

O “nós” não havia denotado nenhum significado especial, até que alguém mais apareceu de uma outra poltrona ao canto. Era pequena, bonita e de cabelos escuros. Mesmo antes de olhar, Nick já sabia quem teria que enfrentar naquele momento.

Encontrara Diana uma única vez, durante o jantar feito para comemorar a volta de Rafaela da Europa que, coincidentemente, também era o dia de seu aniversário. O evento fora um desastre total, sobretudo porque todos ficaram aturdidos demais com a notícia do “casamento” delas. Mas ninguém mais que Diana Castro.

- Eu estava contando a Diana .... - tia Emily sorria, encarando uma Rafaela pálida e calada. - ... como foi delicado de sua parte, trazer-nos para cá, depois da triste experiência naquele hotel horroroso, Rafaela. - tia Emily falava com toda inocência de alguém que não tinha a menor idéia a quem dava informações.

Rafaela tentou neutralizar as coisas com um sorriso amarelo.

- Diana, que surpresa! Eu não a esperava aqui, hoje.

Péssima escolha de palavras, Rafaela concluiu, no momento em que Nick se afastou e a encarou.

“Então esse era o motivo de sua tensão, sua cara de pau?” - Nick quis gritar.

- Peço-lhe desculpas por ter me tornado uma intrusa, ainda que sem querer... - o inglês daquela “mulherzinha”, era perfeito. Então ela continuou, olhando fixamente para Rafaela. - Dolores devia ter me avisado que você tinha hóspedes, então eu nem teria entrado.

- Você foi de grande ajuda. - assegurou tia Emily - Espero que não se importe, Rafaela, mas como escadas são um problema para mim, Diana organizou com seu jardineiro, um lugar nesse lindo anexo junto à casa principal. Acho que ficarei bem confortável lá, até que peguemos o vôo de volta para Londres.

- Foi um prazer, Sra Hayes! - Diana sorriu-lhe - Espero que aproveite bem o resto de sua estada aqui em São Paulo. Rafaela? - Ela se voltou para a morena, com voz doce e calma. - Preciso dar uma palavrinha com você, ainda antes do jantar. Sua mãe...

- Mais tarde. - Rafaela, interrompeu-a, nervosa.

Era óbvio a forma como Diana ignorava Nick.

Aquela mulher acreditava mesmo que tinha o direito de fazer aquilo?

- Nick, meu anjo, você está bem? Está tão pálida? - Emily olhava, preocupada, para a sobrinha.

“Não titia, não estou bem!” - pensou.

Como a vida era engraçada, pensou Rafaela, agora era a vez dela começar sua justificativa...

- Nick... - começou, com voz mais rouca que o normal.

- Céus, está realmente pálida! - Diana sorriu ao se dirigir, com a mão estendida, para Nick.

Rafaela tremeu com o que sabia que estava prestes a acontecer.

- Acho que não se lembra de mim, Dominick, mas nos conhecemos em certa ocasião...

Nick deu-lhe as costas e entrou na casa, deixando Diana com a mão estendida no ar e o som das desculpas de Rafaela para com a amante revirando em sua cabeça.

Caminhou determinada, abriu a porta que levava à menor das salas de visitas. Entrou e bateu-a atrás de si.

- Saía daqui! - gritou, quando Rafaela a localizou, minutos depois. - Deixe-me sozinha, sua traidora!

- De volta à velha forma, posso ver.

A porta se fechou com um delicado ruído. Um arrepio correu pela espinha de Nick. Rafaela não tinha saído. Podia sentir sua presença.

- Você foi muitíssimo rude, Nick... - sua voz estava, estranhamente, serena.

- Aprendi isso com uma especialista.

- Suponho que esteja se referindo a mim?

“Acertou na primeira!”- pensou Nick, mas permaneceu calada.

-Odeio esta casa! - foi mais um desabafo.

- Da mesma forma que me odeia?

- Sim. - Porque negar? Ela a odiava mesmo, naquele momento, e não podia acreditar que se deixara seduzir a ponto de estar ali, de novo.

Devia estar sendo um caso de insanidade temporária. Bem, o dia parecia estar sendo uma loucura completa.

Nick ouviu a respiração forte de Rafaela no ambiente e a vibração dos passos em sua direção.

Então falou:

- Assim que a bagagem chegar, irei embora.

Rafaela se aproximou um pouco mais.

“Se ela me tocar, não respondo por minhas ações...” - pensou Nick - “... se ousar me pedir desculpas, eu...”

- É por isso que está olhando pela janela? - Rafaela riu com ironia. - Essa é você, Dominick. Prefere correr a encarar o problema. Agora tenho essa grande imagem sua... indo embora por este caminho, arrastando a mala atrás de si..... - Sua voz estava calma, mas tinha uma certa tristeza nela. - Sabe, parece-me tão pateticamente familiar, que chego a ter vontade de chorar!

Ela bufou. Nick virou-se para encara-la. Espantou-se ao vê-la tão pálida e tão sem emoção. “Sinistra” era um termo que a descrevia bem, no momento. Sinistra e frustrada. Uma ponta de raiva brilhava em seus olhos negros.

Como uma pessoa podia mudar tanto num espaço tão curto de tempo? Aquela casa odiosa era o lar dela. E a imagem que acabara de mencionar, apertava-lhe o coração.

- Não se atreva a comparar “isso” com minha vida anterior aqui, Rafaela!

- “Nossa vida!” Qualquer coisa que tenha acontecido neste lugar, naquela época, aconteceu à nós duas! Mas, não estamos discutindo o passado - Rafaela ergueu a mão, irritada. - O que importa é o aqui e o agora... e sua propensão a sair correndo, em vez de enfrentar o que ameaça feri-la!

- Não estou ferida... estou com ódio!

Os lábios de Rafaela curvaram-se num sorriso estranho.

- Diana...

- Que bom vê-la instruindo seus empregados sobre o que fazer.... - interrompeu-a, ainda nervosa.

- É da natureza dela organizar as coisas.

Então, Rafaela, ainda tinha o descaramento de defende-la?

- É disso que você necessita, não, Rafaela? Porque eu não sou nem capaz de organizar uma bandeja de chá?

Para Rafaela, foi impossível não achar graça daquela pergunta, feita num tom enciumado.

Nick, no entanto, deu-lhe as costas e se afastou.

- Não me casei com você por suas habilidades domésticas. - murmurou ela, cheia de carinho e insinuante.

Sexo. Estavam de volta ao sexo.

- Casei-me porque você é um ser humano fantástico. Uma mulher maravilhosa, divertida e, insuportavelmente, sexy. E também, porque não consigo manter meus olhos e nem minhas mãos, longe de você!

Um arrepio percorreu a coluna de Nick, porque conhecia aquela morena e sabia que ela iria toca-la.

- Vá acariciar sua amante! - disse, tentando fugir do contato.

- Ela não é minha amante! - disse, Rafaela, se aproximando.

- Mentirosa!

Mas, Rafaela, encostou-se nela. Nick ficou excitada de imediato.

- Ela é uma amiga, muito próxima, só isso. - a morena afagou-lhe os cabelos e notou a respiração ofegante de sua bruxinha. - E você não tem o direito de falar nada, considerando que também trouxe sua amante...

- A diferença é que sei sobre Diana. Você apenas presumiu sobre Cláudia, porque tem esse tipo de mentalidade.

- Ela está louca de desejo por você.... pude ver isso! - resmungou, perto do ouvido de Nick, deixando ela perceber o estado de sua excitação, também.

- Enquanto Diana apenas a quer pelo seu dinheiro e pelo prestígio de seu sobrenome, certo? - a voz de Nick , estava totalmente, descontrolada e entrecortada....

Rafaela nada respondeu. Apenas roçou seus lábios no pescoço de Nick. Ela quase derreteu, mas um barulho do lado de fora, quebrou o encanto. Rafaela se endireitou, e ambas presenciaram a velha Van com o logotipo do hotel, subindo o caminho cimentado. A bagagem de Nick acabava de chegar. Seu coração disparou. Hora de decisão. Ficaria ou partiria?

- Eu fiquei, meu amor. - sussurrou Rafaela, adivinhando seus pensamentos. - Apesar das suspeitas que ainda tenho sobre você e aquela “loira fatal”, estou aqui lutando pelo que quero. Não acha que é sua hora de ficar e brigar pelo o que quer?

Nick a encarou. Tinha um brilho diferente nos olhos azuis....

- Está sugerindo que eu vá até a varanda e a ponha daqui pra fora?

Rafaela arqueou as sobrancelhas escuras.

- Iria se sentir melhor se fizesse isso?

- Não, não me sentiria. Porque, pondo Diana para fora daqui, ainda assim ela não estaria longe o bastante.... - então, a encarou novamente - Você já a magoou uma vez, casando comigo. Está mesmo preparada para fazer isso pela segunda vez?

- Não sei do que está falando? - a voz de Rafaela, começava a ficar zangada.

O suspiro cansado de Nick, foi abafado pelo som da Van aproximando-se da janela. Não adiantava. Rafaela nunca iria assumir que a havia traído. Ingenuidade a sua.

- Chega, Rafaela! - e se dirigiu à porta.

- Espere um minuto, Nick! - pediu ela, agoniada. Talvez aquela fosse a conversa que faltou antes de Nick deixa-la.

- Pare de brincar com as pessoas! - Nick pediu, quase chorando.

- Vou fazer mais do que brincar, Dominick, se você tentar sair daqui antes que tenhamos terminado esta discussão!

Uma ameaça. Nick estacou. Rafaela parecia furiosa. Ótimo, porque ela estava também!

- Se o que fala é verdade, porque fez tanta questão de me fazer entender de que estavam tendo um caso, um romance, ou sei lá como chamar isso? - encarou, com fúria, os olhos negros.

- Arrogância... medo... ciúmes... - Rafaela respirou fundo. - Diana é uma amiga, nada mais. Uma boa amiga que tem ajudado na união entre mim e minha mãe, que está no maior estresse por conta do casamento de Rico, na próxima semana.

- União?! Essa é boa, Rafaela. Agora, estou ouvindo mentiras repetidas!

Rafaela começou a andar até ela. Alguém forçou a maçaneta e conseguiu gira-la. Era tia Emily.

- Gostaria que me explicasse, mocinha, o que foi aquilo lá fora e o que aconteceu com as boas maneiras que lhe ensinei? Como pôde ser tão grosseira ao dar as costas para uma pessoa tão delicada e agradável, como Diana, e deixa-la falando sozinha? - Tia Emily parecia, realmente, zangada e, falava sem parar. - Passei a última meia hora me desculpando por você...

- Aquela “delicada e agradável” pessoa, por acaso, é a atual amante de Rafaela.... - interrompeu, Nick, sem poder se conter. E, após ter silenciado a tia, se foi, os cabelos voando como uma bandeira vermelha de aviso de perigo.

Rafaela seguiu-a para impedi-la de ir embora, mas acabou retornando quando a viu subir as escadas. Um sorriso lindo e aliviado, iluminou seu rosto agoniado. A ruiva rebelde e atrevida, podia querer mata-la, naquele momento, mas não ia deixa-la.



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Capítulo 13: ... que só amando, teremos forças para superá-los!

(por Elise Marie , adicionado em 20 de Setembro de 2006)




- Do que Nick estava falando, Rafaela?

- Acho que não sou a única ciumenta por aqui, tia Emily! Ela não sabe o que está dizendo. - Rafaela olhou, com doçura, para a bondosa mulher.

- Fale-me a verdade. Diana é sua atual namorada?

Atual? Ela ponderou a palavra enquanto ouvia um som familiar de uma porta se abrindo em algum lugar da casa.

- Onde está Diana, tia Emily? - perguntou

- Foi embora assim que a bagagem chegou. Não ouviu o carro dela se afastando?

Não! Ela estava ocupada demais brigando com sua feiticeira

- Tia Emily.... - disse ela, tomando uma decisão. - ... você pode não gostar do que vou lhe dizer agora, mas preciso que saiba, que aceite e que me ajude..... eu e Nick nos reconcíliamos...

Emily arregalou os olhos, surpresa.

- E decidiram voltar assim, em apenas meio dia?

-Demorou menos de meio dia, da primeira vez que nos encontramos, para sabermos que tínhamos sido feitas uma para a outra.

- Oh! Sim... e como me explica, então, o fato de ter partido o coração da minha menina e tê-la mandado de volta para mim, em pedaços, Rafaela? - Emily magoara-se muito com a morena, na ocasião. - Não vou deixar que faça isso de novo com ela..

- Não tenho a menor intenção disso. Aliás, nunca tive. - Então, sentou-se na poltrona próxima à aquela mulher que, embora estive numa cadeira de rodas, se agigantava feito uma leoa para proteger a sobrinha, que ela amava tanto. Encarando-a, colocou na voz, toda emoção que sentia e, declarou. - Amo sua sobrinha, tia Emily... sempre a amei e, vou amá-la pela vida toda... Não posso deixá-la partir mais...

Emily estudou a expressão apaixonada e determinada daquela linda mulher.

- Acho que deveria tentar dizer isso à ela, então!

- Ela já sabe! Só está com medo de recomeçar...

- E Diana?

Rafaela fez uma careta.

- Diana é apenas uma amiga. - então sorriu. - Onde está Lester?

- Na varanda.... acho.

Assentindo, Rafaela, inclinou-se para dar um beijo no rosto da tia e, tomando suas mãos entre as suas, falou:

- Estou muito feliz em revê-la, mas nada contente em vê-la confinada a essa cadeira.

- Não será para sempre. Sinto-me mais forte a cada dia. - Emily falou, decidida.

- Será muito pedir-lhe para que me conte o que aconteceu?

Quinze minutos depois, Rafaela saiu à procura do jovem advogado, com a cabeça cheia de novas informações sobre os quatros anos de Nick e sua tia, o quanto tinham lutado juntas, e toda a tristeza de ambas. Entretidas, nenhuma das duas tinham notado Nick sentada no topo da escadaria, escutando toda aquela conversa esclarecedora.

Quando Rafaela desapareceu em direção à varanda, ela desceu a escada e acariciou o rosto da tia querida como uma silenciosa saudação. Sentia que não tivera a menor idéia do quanto àquela mulher que tanto amava, tinha sofrido naqueles dois anos, até ouvi-la confidenciando à Rafaela.

- Vamos, titia. Quero dar uma olhada em sua acomodação. - E tomando o controle da cadeira de rodas, virou-a para o corredor.

- Está tudo bem, filha? - perguntou, Emily, preocupada.

- Sim. - Nick respondeu, com voz embargada.

- Ainda a ama, não é?

- Sim! - Não havia nada mais que ela pudesse acrescentar àquela resposta. Até porque, sentia que podia chorar à qualquer momento.

Juntas, verificaram o anexo todo, e não havia nada a reclamar. O local fora construído pelo antigo proprietário, para ser um escritório, mas, quando Rafaela comprou a casa, ali foi montado o laboratório e o estúdio fotográfico de Nick. Naquele lugar passará a maior parte de seus dias de Brasil. Ali, revelava seus filmes e brincava com as fotos no computador, que ainda permanecia no mesmo canto do cômodo.

Com a famosa habilidade de organização de Diana, uma cama fora colocada ali, junto com uma par de confortáveis poltronas e uma enorme TV com DVD. Embora relutante, Nick teve que admitir que o lugar havia ficado ótimo.

- Não preciso de mais nada aqui. - Tia Emily parecia muito satisfeita. Até mesmo sua bagagem já havia sido organizada no armário.

- Você viu Lester, titia? - perguntou.

- Penso que ele e Rafaela devem estar na varanda....

Nick assentiu com um movimento leve de cabeça, deu um beijo na tia e saiu à procura dos dois.

Mas Lester já havia partido.

- O que fez com meu advogado? - perguntou. Seus olhos expressivos começaram a faiscar. - Não me diga que o mandou de volta àquele hotel miserável?

- Não, Nick! Lester tem que voltar com certa urgência para a Inglaterra. Pedi ao motorista de mamãe que o conduzisse até o aeroporto.

- Ele não vai pegar o vôo...

- E por que não? - Rafaela tinha um sorriso maroto desenhando os lábios sensuais.

- Porque todos os vôos para Londres estão lotados. Eu já chequei.

- Mas que audácia! Você estava na esperança de escapar antes ou depois de irmos para a cama?

Recusando-se a responder, Nick se desviou, com certa zanga e se pôs a caminhar. Rafaela colocou-se a seu lado.

- Um amigo me emprestou seu jatinho ...- começou a justificar-se. - .... daqui duas horas, seu advogado estará a caminho de Londres.... juntamente com sua...”amiga”! - Rafaela esperou algum comentário... Nick apenas a olhou.

- Você não acha que sou uma mulher bastante compreensiva?! - Nick, novamente, só a olhou. Então, Rafaela desistiu de provocá-la.

Chegaram ao andar superior, onde seis portas levavam à seis belíssimas suítes. Nick dirigiu-se a uma delas, e Rafaela foi para a outra. Com as mãos nas maçanetas, elas pararam e se entreolharam. Nick com um brilho de desafio nos olhos azuis, porque o quarto que estava prestes a entrar, não era aquele que elas costumavam compartilhar. Rafaela apenas sorriu... de novo.

- Tia Emily está confortável? - perguntou, gentil.

- Muito. Obrigada. - a voz de Nick saiu num fio.

- Ótimo.... o jantar é às oito e meia. - Em seguida, Rafaela desapareceu de vista, deixando-a em pé, ali, tomada pela frustração, porque, recusando-se a comentar o fato de que ela não pretendia dividir o mesmo quarto, a morena conseguira atingir um patamar superior ao dela.

Respirando fundo, entrou no quarto e, lembrou-se de Cláudia. Precisava ligar para ela, afinal, deixara o hotel sem se despedir da amiga e, agora, sabendo que iria partir, um certo sentimento de culpa começava a tomar-lhe os sentidos... Gostava de Cláudia, era uma boa amiga!

- Oi, Nick! - a loira atendeu com sua habitual voz melosa.

- Oi... fiquei sabendo que voltará para Londres?!

- Sim... - Nick podia perceber a chateação de Claúdia. - Acho que devo agradecê-la, afinal...

- Cláudia? - interrompeu-a.

- Sim!...

- Por favor, me perdoa.... eu não... não... - embora tentasse disfarçar, Nick não conseguia encontrar palavras para descrever seus verdadeiros sentimentos, naquele momento. Sentia-se engasgada e, com uma enorme vontade de chorar. Tanta coisa havia acontecido naquele dia...

- Eu é que te peço desculpas, meu amor! - falou Claúdia - Eu não devia ter vindo. E você, nunca me deu esperanças.. - sua voz falhou - Não se preocupe.... estou bem!

- Mesmo? - Nick perguntou.

- Mesmo.... - e sorriu, triste. - Dê um beijo em Emily, por mim. Diga à ela que não deixe de fazer exercícios leves e, quando retornar à Londres, que me procure, sim?

- Claro, minha amiga! - Nick respirou, mais aliviada. - Estaremos em Londres, muito provavelmente, na próxima semana...

- Você não vai ficar aqui? - perguntou Claúdia, interrompendo-a, já com um brilho diferente nos olhos claros.

- Sim... eu e Rafaela, reatamos! Mas, preciso voltar à Londres... tenho que terminar o ensaio para a campanha da Fox e, também pegar minhas coisas. Não tenho nada aqui, como bem sabe...

- Oh! Claro... - novo muxoxo da loira. - Bem, então nos veremos?

- Creio que sim! - foi a resposta sincera de Nick.

- Ok! Então.... cuide-se, sim?

-Pode deixar,.... cuide-se também! - Nick respondeu e, se despediu, logo em seguida.

Claúdia ficou olhando o aparelho em sua mão. Agora, tinha certeza que tinha perdido a ruiva maravilhosa, que tanto povoava seus sonhos e suas fantasias... Sorriu, triste. Hora de aceitar que, na verdade, nunca teve. Suspirou e foi terminar de arrumar suas malas.



O jantar foi um momento estranho. Tia Emily, muito cansada, decidira comer em seus aposentos e assistir a um filme, antes de dormir.

Nick desceu, usando o mesmo vestido, uma vez que aquele era o único que trouxera, embora tivesse tomado um banho, prendido os cabelos e aplicado uma leve maquiagem.

Rafaela, por outro lado, usava um conjunto escuro, bastante formal, quando se encontraram no hall. Estava tão linda que o coração de Nick disparou.

- Um pouco exagerada para uma refeição casual, não acha? - provocou-a.

- Terei de sair, mais tarde. Minha mãe está me esperando e, uma vez que estive indisponível para todo mundo hoje, vou até lá ou, ela virá até aqui descobrir o que ando fazendo.

Nick não teceu nenhum comentário, mas desejou que Thea soubesse muito bem do que se tratava.

Seguiram até a sala de jantar, como duas estranhas num primeiro encontro. Mas, gentilmente, Rafaela puxou a cadeira para que ela se sentasse.

Dolores tirara do armário todos os apetrechos para uma refeição aconchegante para duas pessoas e, colocara a mesa com elegância e simplicidade. Castiçais com velas brilhavam no lugar de luz elétrica.

Rafaela, sentou-se de frente para Nick.

As chamas faziam sombras no rosto bronzeado e bonito da mulher de sua vida. Ela era linda! Aquilo não era justo. A blusa branca sem gola e sem mangas, de tecido leve conferiam-lhe um ar sofisticado. Seu perfume suave, mas marcante, mexia com os sentidos de Nick.

Rafaela fez questão de servir-lhe a taça do vinho branco e gelado. Olhava-a diretamente nos olhos, sem perder qualquer movimento seu. Depois de alguns minutos em silêncio, por fim falou:

- Você pode vir comigo, se quiser!

Nick a encarou, incapaz de crer no que acabara de ouvir. Rafaela, com certeza, a estava provocando, mas preferiu não levar aquela provocação adiante.

- Obrigada, mas vou assistir a um filme com tia Emily.

A risada gostosa que Rafaela deu, disse tudo... Sentia sua ruiva cansada e, parecia ter ponderado qualquer outra resposta mal educada. Então, pegando a taça gelada entre os dedos morenos, levantou-a num delicado brinde, e com um brilho intenso nos olhos negros, disse , quase num sussurro.

- Bem vinda ao lar, meu amor!

Se Dolores não tivesse chegado com a comida naquele momento, era provável que Nick tivesse reagido. Mas, de novo, preferiu calar-se.

Jantaram caladas. Nick estava sem fome, e bebeu mais do que comeu, sentindo-se zonza em poucos minutos. A boca estava dormente e os sentidos atrapalhados. Sentia-se, também, um pouco trêmula. Dolores voltou com a sobremesa, mas Nick a recusou, preferindo uma xícara de café preto, no lugar.

Quando o jantar finalizou, ela levantou-se, suas pernas mal podiam sustentá-la.

Rafaela se recostou no espaldar, sem deixar de estudá-la. Seus olhos negros, tinham um brilho especial, perturbador.

- Boa noite, então.... e, boa festa! - disse Nick.

Rafaela apenas assentiu com um leve gesto de cabeça e um sorriso bonito nos lábios.

Nick deixou a sala e, após ver o resto do filme com a tia, foi para seu quarto. A noite estava fresca e, deliciosamente, clara. Tirou o vestido e colocou uma camisola transparente. Ajeitou-se sob os cheirosos lençóis de algodão, cobriu a cabeça e chorou.

Rafaela estaria com Diana, tinha certeza. Ficariam, provavelmente, num canto da casa de Thea, e então, ela daria à amante todas as explicações sobre a nova situação.

Será que Diana imploraria? Choraria? Rafaela se renderia à súplica dos olhos escuros e passaria a noite com ela?

Nesta agonia, acabou adormecendo, apenas para fugir de uma visão que não queria ter. Aquilo não era justo. Ela odiava Rafaela.... Não! Ela amava-a com todo seu coração! E era por isso, que de novo, Rafaela a estava amarrando em nós emocionais.



- Você enlouqueceu, filha?!!! - Thea Mendonza não podia acreditar no que estava ouvindo. Olhava para a filha mais velha, entre surpresa e aborrecida. Podia perceber a determinação nas feições do rosto e o brilho intenso dos olhos vivos.

- Desde o dia em que coloquei os meus olhos nela, mamãe... - respondeu Rafaela, com sinceridade e um sorriso débil a desenhar-lhe os lábios sensuais.

- Eu não estou brincando, Rafaela... - Thea deu um suspiro zangado.

- Nem eu estou.... - Rafaela sabia que sua família não tinha muita simpatia por Nick. Nem Nick por eles. Por diversas vezes, teve que dosar as trocas de “gentilezas” entre as partes. - Eu amo Dominick, mamãe! E não sei viver sem ela! - disse firme.

Thea comprimiu os lábios vermelhos. Era uma mulher bonita, sofisticada e dominadora. Sua altivez, muitas vezes intimidavam as pessoas. Mas, sabia que Rafaela, tão parecida com ela, não era uma delas.

- Por favor, Rafaela... você sabe o que penso e que não gosto quando você...

- Sim, mamãe! - interrompeu-a - ...Sei que, embora aceite, você não concorda com minha opção de vida.... sei que, de todas outras namoradas que tive, Nick foi a que menos gostou... Sei de tudo isso, mas não me faça acreditar que minha felicidade não lhe é importante!

- Claro que é, filha.... - Thea amoleceu. - ...Mas, Nick?...

- Por favor, mamãe... eu só sei ser feliz com ela... - o brilho apaixonado e a voz enrouquecida de Rafaela, dizia tudo.

- Ela te fez sofrer tanto, minha querida! - Thea sabia que era uma luta perdida, soube disso quando viu como sua filha olhava para aquela linda inglesa ruiva e rebelde.

- Não mais do que eu a fiz sofrer, Thea... - Rafaela, divagou.

Thea observou a filha, por alguns segundos. Tudo naquela mulher bonita e determinada refletia seu amor pela inglesinha. Desejou que ao menos Nick soubesse e percebesse isso.

- Max...antes do Rally, foi procura-la! - confessou, com voz culpada. Sabia que uma nova tormenta iria passar pela cabeça de Rafaela. Até então, resolvera que ela não precisava saber disso, mas com a reconciliação, Nick, muito provavelmente, lhe contaria. Sabia também que, quando a filha soubesse que na ocasião da morte do filho, a ruiva havia ligado e, ela, Thea, a tratara com total indiferença e pedira para que não procurasse por Rafaela, sua filha não lhe perdoaria, mas.... já havia feito o estrago, e sentia agora, pela primeira vez, que tinha errado.

Rafaela sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ficou pálida com as palavras da mãe, e com muita dificuldade, conseguiu pronunciar...

- Max?! Nick?! - Não! Ela não estava ouvindo aquilo. Por que sua mãe não havia lhe dito? Por que Nick não havia comentado?

Thea apenas assentiu com um gesto de cabeça, sem coragem para continuar.

- Por que não me disseram nada...? - a voz de Rafaela saia engasgada. Ela se sentia doente. - Max não tinha esse direito.... ela sempre foi minha....

- Filha...escute! Seu irmão sempre sufocou o que ele sentia por ela....Ele te amava muito, vocês se amavam muito....

Rafaela estava atordoada com aquela notícia. Sentia-se traída pelo irmão que tanto amava, que tanto lhe fazia falta.... Soube de seu amor por Nick, assim que os apresentou.... Era natural, até porque, sendo gêmeos, tinham os mesmos sentimentos, muitas vezes... Mas, nenhuma outra namorada sua havia despertado o interesse ou qualquer outro sentimento do irmão, que não fosse a simpatia e a amizade. Max, tão relaxado, tão calmo, tão bonito, tão galanteador, tão aventureiro.... nisso consistia seu charme irresistível...

- Nick ligou, quando soube do acidente.... - Thea, continuou, nervosa. - .... eu pedi que ela não lhe procurasse e nem viesse, para o funeral!

Rafaela fuzilou a figura nervosa da mãe, sempre tão calma e altiva. O que era aquilo? Por que estava se sentindo tão machucada?

- Thea! Thea! - foi tudo o que Rafaela conseguiu dizer. - Você não tinham esse direito!

- Perdoe-me, filha! Você estava sofrendo tanto, nem queria mais ficar no Brasil.... depois, Max estava morto! - Thea estava agoniada com a expressão vazia e pálida da filha mais velha.

Rafaela caminhou até a janela. A noite estava clara e fresca. A Lua iluminava os jardins floridos da mansão. Mas, para ela, naquele momento, toda essa beleza e calmaria, não significavam nada.... só conseguia imaginar o sofrimento de Nick , sem poder fazer nada.

Max tinha sido seu único e verdadeiro amigo. Sem saber de seus verdadeiros sentimentos, Nick o defendia e o mimava, o tempo todo. E isso, sempre foi motivo de muitas brigas, entre elas.

“Oh! Meus Deus!”.... - pensou. “Porque ela não me disse nada? Eu teria entendido.., não, não teria entendido.... brigamos tanto por isso....”

Precisava ver Nick, precisava estar com ela e, ela... estava ali, à alguns metros....

Sem se despedir da mãe, virou-se e saiu do escritório...

- Rafaela?! - chamou Diana.

- Outra hora, Diana! - Ela nem olhou para a mulher bem vestida, que vinha ao seu encontro, com os olhos brilhando e um sorriso sensual nos lábios vermelhos.









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Capítulo 14: Começamos o caminho rumo ao paraíso.....

(por Elise Marie , adicionado em 4 de Outubro de 2006)




Rafaela entrou na suíte, onde Nick dormia, sem fazer barulho. Olhando ao redor, percebeu a luz tímida do abajur e, as cortinas se movendo ao sabor da brisa leve que entrava pela janela aberta, deixando o quarto fresco, naquele noite quente.

Fechou a porta com muito cuidado e se aproximou da cama, onde a ruiva, de bruços e com os braços simulando um travesseiro, dormia serenamente. Os longos cabelos vermelhos estavam esparramados pelos ombros e sobre o rosto, escondendo-o. Sua feiticeira ainda usava aquele tipo de camisolas diáfanas, que atiçavam tanto seu desejo. Sentiu-se desorientada e enternecida, com aquela visão.

Silenciosamente, sentou-se na beirada da cama e ficou um bom tempo observando-a, imaginando que tipo de emoção era aquela que a ruiva lhe despertava. Era algo além do amor... Ela, Rafaela, costumava denominar, para si mesma, de “o feitiço de Dominick!”. Desejou acordá-la com beijos e poder continuar o relacionamento de onde tinham parado, quando deixaram Londres...

Onde tinham errado? Trabalhara tanto por ela... por elas, que não soube perceber o momento da aproximação de Max! Será que, por um momento apenas, sua mulher tinha se interessado pelo irmão tão adorado? Franziu o cenho, descontente e dolorida com aqueles pensamentos. Num gesto, meio perdido, estendeu a mão e, com um toque muito sutil, retirou a mecha dos cabelos sedosos, descobrindo o rosto de pele clara e macia.

- O que... - murmurou Nick, sonolenta. - Rafa?

Rafaela não conseguia deixar de se encantar com aquela mulher que, despertava devagar, piscando os grandes e sonhadores olhos azuis, por diversas vezes.

Nick se espreguiçou e, ao se mover, rolando seu corpo, Rafaela pode perceber que o lado do rosto que estivera apoiado, estava mais rosado. Devagar, Nick rolou de vez o corpo e, ficou de barriga para cima. A camisola não pôde esconder a calcinha de renda branca que, por sua vez, também não conseguia esconder o triângulo de pelos acobreados entre as coxas. Rafaela perdeu a respiração com aquela visão tentadora, seu pulso acelerou e ela, sem mais se conter, respirou fundo e deitou-se ao lado da amada.

Nick estava quente e sedutora, ela bem sabia, então passou a acariciar o colo, com ternura e carinho.

- Está tudo bem com você? - perguntou Nick, preocupada, ao notar um brilho úmido nos olhos negros que tentavam segurar lágrimas.

- Sim! - foi a resposta curta, trêmula e nada convincente.

Ainda sonolenta, Nick estendeu a mão e tocou-lhe a face.

Rafaela, segurando seu pulso, levou sua mão de encontro à sua boca e beijou-lhe, delicada. Fechou os olhos, e então duas grossas lágrimas caíram, junto com a sensação de que tinham tomado o caminho errado.

Nick, rolou o corpo novamente para o lado e, apoiando-se ao cotovelo, aproximou-se e ficou a admirar àquela mulher forte, mas que lhe parecia muito frágil, naquele momento.

- Brigou com Thea? - arriscou, mexendo nos cabelos escuros e lisos, que desgrenhados, logo voltavam à forma, em camadas curtas.

Rafaela, só meneou a cabeça, numa negativa.

Ficaram alguns segundos assim, em silencio, olhos nos olhos. O quarto, mergulhado num silêncio gostoso e sensual, apesar das lágrimas da morena.

Calmamente, Nick começou a beijar-lhe os cabelos, os olhos, a face. Podia perceber a respiração de Rafaela se alterando. Uma sensação de poder a fez sorrir. Rafaela, lentamente, foi levantando seu rosto, num convite urgente e mudo.... Em seus olhos, o brilho de um desejo familiar e sensual, tornava-os ainda mais apaixonados.

Nick, então, a beijou persuasiva, exigente. E Rafaela, retribuiu o beijo com igual fervor, e a abraçou, trazendo-a para junto de si. Sua pele estava quente, firme e sexy. Ela desejava aquela mulher mais que tudo na vida.

Devagar, Nick encerrou o beijo.

- Este não é seu quarto!.... - brincou, com a voz rouca pelo desejo

- Eu sei! - sussurrou a morena, saboreando o sotaque britânico, naquela voz deliciosa.

- ... - Nick sorriu, atrevida, passeando as mãos pelo corpo preso ao seu, atiçando-o. - Por que está aqui, então?

- Não pensou que eu iria deixá-la dormir sozinha, não é? - E, sem esperar uma resposta, voltou a buscar seus lábios e abraçá-la como se Nick fosse seu universo, e tivesse que segurá-la para que não a deixasse mais.

Nick, tomada por ondas de calor, sentia seu coração disparar à medida que Rafaela aprofundava o beijo, sugando-a, bebendo-a e, acariciando suas costas, suas nádegas, apertando-a contra si. Podia perceber que o tremor do corpo moreno se misturava com os tremores de seu próprio corpo.

- Vem comigo, Nick.... eu a quero tanto!... preciso tanto! - convidava Rafaela, em sussurros roucos contra seus lábios.

Nick tentava gravar cada movimento, cada toque, cada carícia...

Devagar, Rafaela sentou-se e trouxe Nick, junto. Com um único movimento, removeu seu robê, sob o olhar de um azul cheio de promessas para ela.

Delicada e excitada, deslizou uma mão pela cascata de cabelos vermelhos , e a outra, deixou deslizar pelo colo coberto de pequeninas sardas, pelos seios firmes, pela barriga reta, pelas coxas grossas, num passeio demorado, ousado, explorador...podia sentir, nas pontas dos dedos, o arrepio que provocava na pele macia. Em seguida, tornou a subir a mão, trazendo consigo a camisola. Rafaela a despia com tanta ternura e sensualidade, que Nick sentia aos poucos, o ar lhe faltando.

Sem qualquer aviso a morena beijou-lhe e, Nick gemeu, sem controle. Seus sentidos femininos começavam à alçar vôo.

Quando, Rafaela parou de beijá-la por um segundo e, a fitou com os olhos cheios de paixão, Nick perguntou, enciumada.

- Você foi atrás dela, está noite?

- Não!

- Ela estava lá? - insistiu.

As pupilas de Rafaela escureceram ainda mais.

- Sim!

Nick mordeu os lábios.

- Falou com ela.... tocou-a?

- Não! Eu não tinha nenhuma razão para isso. - a expressão de Rafaela era sincera.

- Fiquei aqui, imaginando todo tipo de coisa... - Nick confessou, trêmula.

- Estou com a única mulher que me satisfaz por completo. Porque me contentaria com menos? - a morena a abraçou, e beijando-lhe o pescoço, pediu num sussurro. - Não vamos falar sobre isso, agora... - e, tomando-lhe a mão, guiou-a até o centro de seu prazer. - ... sinta o que você está fazendo comigo!

Nick estremeceu, quando tocou a umidade de Rafaela. Com habilidade e safadeza, passou a acariciar seu clitóris inchado pelo tesão. Rafaela amolecia e gemia a cada carícia, mas, juntando ainda o pouco controle que tinha, empurrou, gentilmente, Nick para a cama e, ajoelhou-se entre suas pernas. Observou por segundos as reações que causava naquele corpo cheio de curvas. Inclinou-se e tomou os mamilos rosados entre os lábios, ora sugando-os com sofreguidão, ora mordendo-os de leve. A ruiva se contorcia e tentava prendê-la, abraçando-a pelas pernas, numa tentativa transloucada de senti-la junto a si.

Rafaela, sabendo e gostando do efeito que estava provocando em Nick, procurou sua boca novamente, com beijos famintos, molhados... Quando precisou se afastar, para tomar um pouco de fôlego, Nick gemeu:

- Não... por favor, não.... - mas, calou-se ao perceber que a boca de sua amada, começava a passear, deixando um caminho de fogo pelo seu corpo, já em chamas.

- Quero sentir seu gosto, minha linda... deixe-me beber seu mel... - Rafaela pedia, aumentando suas carícias, deixando-a enlouquecida de prazer.

- Rafa...Rafa... - a ruiva voltou a gemer e, instintivamente, arqueou os quadris, quando sentiu a boca da amada explorando o máximo de sua feminilidade, penetrando-a com a língua.

Rafaela saboreava o gosto daquela fêmea e os gemidos incontroláveis da mulher de sua vida, até que sem agüentar mais, Nick fechou as mãos em sua cabeça, gritou seu nome e, se entregou aos fortes tremores que tomou seu corpo, quando gozou.

O corpo de Rafaela reagia de forma quase animal à aquela combinação toda. Enquanto provocava e engolia o prazer daquela feiticeira, seu próprio desejo explodia em cada parte de seu corpo trêmulo e febril. Seu sexo doía e exigia carinhos também.

Devagar, deitou-se ao lado de Nick e abraçou-a, esperando sua respiração voltar ao normal...

- Eu quero ser sua, Nick... - murmurou baixinho, beijando seu pescoço.

A ruiva, satisfeita, passou a acariciar-lhe a pele, seduzindo-a ainda mais, excitando-a ainda mais. Rafaela estava em brasa e só Nick podia aplacar aquele desejo louco, desesperado.

Mas, ao invés de extinguir as chamas, ela as alimentava ainda mais e, Rafaela ia perdendo o pouco controle que tinha, a cada mordida, a cada lambida...

Em pouco tempo, a morena deixou escapar um grito rouco, quando sentiu seu corpo explodir de calor, de prazer, de amor... nas mãos e na boca de sua feiticeira Dominick!

Devagar, veio voltando à terra, saboreando cada sensação e desejando que o tempo parasse.

Nick, deslocou-se para o lado, aninhou-se ao seu lado, no travesseiro, e ficou admirando o movimento do peito com a respiração ofegante.

A morena abriu os olhos e a encarou, extasiada.

- Você.... sempre tão fantástica, meu amor! - soltou um suspiro e acariciou o rosto bonito, limpando as gotículas de suor, na testa e ao redor dos lábios.

Um leve sorriso desenhou os lábios de Nick, fazendo o coração da morena acelerar. Nick estava ali, junto dela, mas sabia que ela tinha problemas com aquele fato. Será que deveria tocar no assunto que a fez fugir da festa, sem se despedir de ninguém? Talvez fosse uma abertura para que elas, afinal, começassem a solucionar os problemas do passado! Mas, decidiu que não! Aquele não era o momento... Suas pálpebras estavam pesadas e seu corpo, exausto e satisfeito. Os cabelos de Nick espalhados pelo seu ombro, sua leve respiração, acariciando-lhe o pescoço e, a quietude gostosa do quarto acalmando-a em direção ao sono.

Então foi a vez de Nick suspirar. Rafaela se virou e, inclinando sobre a ruiva com a cabeça apoiada em uma das mãos.

- Porque esse suspiro melancólico, meu anjo?

- Não é melancolia. - Nick tinha os olhos fechados.

Rafaela arqueou uma sobrancelha para zombar daquela pequena mentira.

- Sabe, Nick... as vezes, não a entendo! - começou, suave - Acabamos de fazer amor! Você gemeu em meus braços, me agarrou como se eu fosse a única pessoa no mundo capaz de protegê-la.... Disse que me amava...

- Eu não disse ! - exclamou, Nick, sem muita convicção.

- Pensou, então! - a morena corrigiu, dando de ombros. Arrumou uma mecha de cabelos que teimava querer cobrir seus olhos,e a fitou séria. - Precisamos conversar sobre o verdadeiro pôrque de termos nos separado... - mas calou-se, arrependida, ao notar os olhos azuis encherem-se de dor, medo e lágrimas.

- Não! - Nick, soltou num murmuro, levantando-se em seguida e indo para o banheiro.



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Capítulo 15: ...o paraíso de seus braços!

(por Elise Marie , adicionado em 16 de Novembro de 2006)




Rafaela vestiu seu robe e a seguiu. Encontrou-a amarrando o roupão azul. Seu coração se apertou com a visão daquela mulher, ali, com o olhar da mais pura angústia e a face pálida, refletida no espelho.

- Até quando vamos fugir, Nick? - disse, encarando-a. - Se não encararmos o passado juntas, como poderemos mudar?

Nick permaneceu quieta. Como poderia ter se esquecido do que Rafaela lhe fizera? Como pôde ter se entregado mais uma vez àquela mulher, permitindo-se ignorar o tipo de pessoa que sabia que Rafaela era?

Respirou fundo, encheu-se de coragem, encarou-a também, através do espelho e, desabafou:

- Porque me traiu, Rafaela? Porque me traiu depois de ter me acusado de ter tido um caso com seu irmão?

A morena recuou, como se tivesse sido atingida por um soco, tamanho era a profundidade do olhar gélido de Nick e de suas palavras, que embora tivesse um tom fraco, continha uma amargura imensa.

- Nick! Isso não é verdade...

- É, sim! - interrompeu-a Nick. - E tanto é verdade que, quando retornou de sua viagem, você já nem me queria mais!

- Nick!!! - exclamou Rafaela, movendo a cabeça, aturdida.

- Afinal, eu era a irritação de que não precisava, não é mesmo? E, você certificou-se de que eu soubesse disso! - Sua voz era firme e seu olhar, fixo no olhar da morena. Sim, Rafaela estava certa! Elas não podiam mais fugir daquilo. O que acontecera tinha que ser enfrentado antes que cometessem os mesmos equívocos pela segunda vez e, transformassem desejo sexual em amor, o que então viraria frustração e arrependimento. - Você se casou comigo mesmo sem precisar... nós duas sabíamos que já tinha tudo o que queria de mim. Porém, tirou-me de meu mundinho de classe média, trouxe-me para toda essa riqueza e, esperou que eu lhe mostrasse a minha gratidão. Mas, como retribuí tamanha generosidade? Recusando-me a me adequar, recusando-me a obedecer sua mãe, quando ela me dava lições de moral e sobre como devia me comportar...

Rafaela ouvia calada àquelas acusações, que até então, lhe pareciam sem sentido.... Nunca imaginara que Nick pensara e vivera, daquela forma, no passado.

- Thea tentou aconselhá-la. - resmungou, sem muita vontade.

- Não... ela era fria, crítica e entrava em conflito comigo sem parar.

- Então você passou a brincar com essas críticas, não é? Apenas para deixá-la ainda mais irritada e me atormentar a vida, um pouco mais.

- Eu fiz foi me afastar daquilo tudo! - corrigiu- a - Ou você não notou? - Nick tremia, como se tudo aquilo estivesse de volta - Saí para as ruas e encontrei o meu tipo de gente...

- Como Vassilou? - a palidez da morena denunciava seu cansaço.

Nick, também exausta, encarou-a. Certamente que ela iria defender sua mãe.

- Se você não pode ver a diferença entre “ ...que roupa horrível, Dominick” e “Ah! como você está linda hoje!...”, Rafaela, eu posso! Ou ainda, “...algumas pessoas merecem ser rejeitadas quando chegam na hora errada, Dominick!” - Engoliu seco, pois sua garganta estava apertada e os olhos afetados.

Palavras como aquelas que ouvira da mãe e da irmã de Rafaela, só contribuíram para aumentar os conflitos que já existiam no relacionamento delas. E, sim, ajudaram a destruí-lo.

- Minha mãe não pode ter dito isso à você. - Mas, Rafaela bem sabia que Nick falava a verdade. - Ela ainda nada sabia de Max.... logo, não podia ter sido tão....

- ....cruel? - Nick completou. - Mas, talvez isso tenha sido para o melhor, como você mesmo disse, na época. “ Devia saber que tipo de mulher eu coloquei em minha casa!” - repetiu uma das ultimas frases que ouvira da morena. Os olhos azuis, refletiam tristeza e os negros de Rafaela, refletiam dor.

Sem coragem para sustentar àquele olhar, a morena deu-lhe as costas e voltou para o quarto. Nick a seguiu.

- Fiquei com vergonha de mim mesma quando lhe disse aquilo. - falou, tensa.

- Ótimo, porque também senti vergonha de você! - em seguida, Nick caminhou até a cama e sentou-se, derrotada.

Rafaela, em pé, próxima à janela, voltou seu rosto em direção de Nick e, esta pode perceber que havia lágrimas em seus olhos. Um aperto lhe tomou o peito, mas conteve-se.

- Na noite em que a vi nos braços de Max, procurei me controlar. Quantas pessoas fariam a mesma coisa naquela situação? - perguntou.

- Se pareci culpada, sem ter culpa alguma, foi por que fiquei assustada. Você parecia querer me bater.

- Mas, eu nem toquei em você!

- É verdade. - Nick concordou. - Mas, fiquei com medo, você estava brava demais. E eu, tentei me explicar, mas você não queria nem me ouvir. Já estava convencida de que a tinha traído e, no entanto o que você realmente viu? Max tentando me beijar?

- Vi muito mais que isso, Nick. Escutei quando ele lhe implorou para me deixar e partir com ele. - a voz perturbada de Rafaela, parecia querer sumir.

- Até Max começar a falar, eu não tinha a menor idéia de que ele estivesse apaixonado por mim. Fiquei tão chocada, tão sem ação que, nem consegui reagir quando ele me beijou.

- Ah, então ficou com pena dele e deixou beijá-la... - Rafaela fechou os olhos, triste ao recordar da cena - ...o que você queria que eu pensasse? Você era tão jovem e, nossa relação estava uma bagunça... Estávamos tão infelizes e, tínhamos parado de nos comunicar em todos os níveis e...

- Sobretudo sob os lençóis, não é? - Interrompeu-a Nick.

- Isso mesmo! - A morena deu três passos em sua direção e, segurando seus pulsos, agachou-se à sua frente. - Você andava calada, introspectiva e, parecendo sempre tão triste que eu, por mais que quisesse, não sabia como aliviar tamanho sofrimento!

- Claro. Estava sempre ocupada demais e tendo que sair para alguma reunião importante.

- Você está certa, sei disso agora! - Rafaela disse com um ar não muito animador. - Por isso, não sei se é possível pedir perdão por ter sido tão insensível com você, meu amor!

- É verdade, agora é tarde.... mas, também, isso tudo ficou para trás. - sussurrou Nick, concordando, sem no entanto comemorar essa pequena vitória sobre a morena.

- Nick? - Rafaela chamou-a - Por que não me disse nada sobre Max ter ido procura-la, antes do Rally?

Nick, sem acreditar no que ouvia, olhou- a intensamente e percebeu.... estivera enganada. Rafaela não tinha sido cúmplice de sua mãe, naquele episódio triste e dolorido. Balançou a cabeça e, tentou soltar suas mãos das mãos morenas e quentes.

- Achei que você soubesse.... sua mãe me disse... - sussurrou, quase sem voz, quase sem forças.

Rafaela meneou a cabeça.

- Thea extrapolou todos os limites! - exclamou Rafaela, com amargura.

Em silêncio, elas se olharam.... Havia tanta dor, ressentimentos, mágoas, conversas atravessadas, inacabadas, influências alheias....

- Rafaela? - Nick chamou, baixinho.

A morena só arqueou as sobrancelhas escuras.

- Eu queria muito saber o porque de me querer de volta, se nunca deixou Diana? Que espécie de relacionamento você está querendo? Se eu não aceitei à quatro anos atrás, o que lhe faz acreditar que aceitarei agora?

- Como assim?! Do que está falando, Nick?!

Num gesto de zanga e de impaciência, Nick puxou suas mãos. O calor que emanavam daquelas mãos morenas a perturbava e o olhar de interesse que lhe era lançado, despertava as sensações que a proximidade daquele corpo moreno e tentador sempre provocava em seu corpo. Tudo era tão devastadoramente familiar, que seus sentidos, se não se afastasse, iriam certamente reagir, sucumbindo-a aos encantos da bela mulher, não importando o que ela fizesse nem o quanto a magoasse.

- Nick? Olhe prá mim.... - Rafaela, pediu com tanta suavidade que, Nick sentiu um arrepio percorrer sua espinha. -... não sei do que está falando!

- Pare com isso, Rafaela... por favor! - a ruiva reagiu, impaciente.

- Parar com o quê? - Rafaela ainda aparentava calma, o que lhe deixou ainda mais nervosa.

- Pare de mentir! - Nick mordeu os lábios. Sentia um certo desespero, pois sabia ser fraca demais para enfrentar Rafaela. Bastava um olhar, um toque, um gesto, e lá estava ela, embevecida, fascinada, apaixonada e, idiota. A súbita consciência de que não conseguiria dominar sua fraqueza a fez levantar e caminhar até a janela.

- Sei tudo sobre seu antigo romance com Diana...

- Espere um pouco.... - interrompeu-a Rafaela, indo para junta dela. -.... que droga de romance é esse que, pela segunda vez, você me acusa de ter tido com essa moça? - Agora ela, Rafaela, queria ouvir.

- Da maneira como Ângela me contou, você praticamente a obrigou a ir para Washington, quando me trouxe para cá...

- Ângela?!? - Rafaela exclamou, estupefata.

- Sim, Ângela. - Nick impôs mais distancia entre elas. - Afinal, vocês precisavam do dinheiro da herdeira aqui, mesmo que ela fosse uma “ inglesinha rebelde, atrevida e idiota!” . - Nick sentia toda dor, como se aquelas palavras estivessem sempre presentes na ferida aberta em seu coração.

- Quando minha irmã lhe falou isso?

- Isso importa?

- Sim, importa! Porque não é verdade! Nem o romance.... nem a herança! Posso lhe garantir que Diana nunca recebeu um encorajamento meu.... em momento algum. - Rafaela respirava fundo e uma veia pulsava em sua têmpora, revelando seu estado nervoso. - Antes de chegar no iate, como substituta de Ângela, eu não tinha colocado os olhos nela nos últimos quatro anos. Durante duas semanas que ficou comigo, não nos beijamos e nem dormimos juntas. Admito que achei uma boa companhia e num ato de pura arrogância, tomei a decisão de que talvez.... apenas talvez, ela pudesse ser uma boa companheira para mim. - novamente, Rafaela diminuiu a distância e segurando Nick pelos ombros, a sacudiu levemente. - Nick, você precisa acreditar em mim!

- Eu também esperei que você acreditasse em mim, mas não há dúvidas de que me enganei. - Nick retrucou com um leve sorriso. - Então, por favor, não espere que eu seja mais generosa com você do que foi comigo.

Um silêncio profundo, caiu sobre elas, depois dessa frase de Nick.

Ambas estavam doloridas pelas lembranças amargas e pela falta de diálogo que havia existido. Os olhos duelavam numa batalha de sentidos, de almas.

Devagar, a expressão de Rafaela foi desanuviando e, em seus olhos, um brilho intenso se instalou. Quando falou, sua voz rouca trazia toda verdade de seus sentimentos.

- Eu te adoro.... Você brilha, queima e promete com uma coragem que me tira o fôlego. Quando está junto de mim, é como se eu tivesse segurando algo muito precioso. Talvez por isso, nosso casamento não teve tempo de ir além dessa obsessão física.... - Sua voz, fraquejou, abalada com as lágrimas que ameaçavam cair dos olhos azuis. Agora, toda a verdade estava revelada ali, mas, na verdade sempre esteve... Ela, presa àquele ciúmes doentio, não tinha percebido... e isso, estava tão claro naquele olhar, que começou a sentir um torpor dominar seus sentidos. - Preciso que me perdoe por tê-la julgado tão mal, Nick! Prometo, ... prometo compensa-la com muito amor e total confiança os sofrimentos que lhe causei. - Seus olhos buscavam, com insistência, um sinal qualquer, naquela ruiva estática à sua frente, sem nenhuma reação.

Nick apenas meneou a cabeça, levemente, não querendo acreditar naquilo tudo

- Não poderia ter me dito isso tudo, naquela ocasião, ao invés de se tornar fria e passar a me ignorar? - Nick percebeu que a morena retesou o corpo, tensa.

- Dizer-lhe que eu estava sendo egoísta? Que podia até perdoar a traição, mas que não iria conseguir ser comparada com Max, na cama? - Rafaela riu de modo autodepreciativo - Você não tem idéia do quanto sofri quando escutei Max se declarando todo pra você. Fiquei louca.... senti-me duplamente traída e, pior do que ver ele beijá-la, foi saber que ele tinha razão, que eu a havia jogado nos braços dele. Senti desprezo por mim mesma, Nick.... por isso, foi muito fácil me convencer de que a desprezava também!

- Então me deixou partir? - Nick começava a entender o inferno por qual tinha passado a morena. - E despedaçou meu coração... Não lhe ocorreu que eu precisava que você fosse atrás de mim?

Rafaela fez que não. Os ombros caídos e o olhar fixo nos próprios pés.

Silêncio!

Nick olhou ao redor, perguntando-se como a quietude naquele quarto podia ferir tanto.

Então, num suspiro longo, ela desabou.

- Oh! Meu Deus... - e abraçou o corpo tenso de Rafaela. - Não foi só culpa sua, Rafa! Quero dizer.... sobre Max. Eu também não soube enxergar que todo aquele cuidado, todo aquele entusiasmo, toda aquela amizade, daquele que eu considerava meu único e grande amigo, de repente, tinha se transformado em paixão... - Sua voz devia estar saindo tão sofrida que, aí foi Rafaela quem passou a abraçá-la. E era tão bom estar colada a ela daquela maneira que Nick não pode conter um soluço. - Tenho minha própria culpa para lidar. - confidenciou . - Sinto que falhei com você, com ele, comigo... Por isso, tive que ir embora... Não podia agüentar a expressão de sofrimento de ambos e, nem a expressão de desprezo de sua família.

Rafaela se mantinha calada, mas a apertou ainda mais, oferecendo conforto em lugar de palavras. Nick aconchegou-se às formas quentes e descansou a cabeça em seu peito.

Rafaela, também, suspirou profundamente.

- Nada mais importa, meu amor..... amanhã, começaremos a fazer um novo trabalho com essa segunda chance que estamos nos permitindo.... - falou ela, baixinho

E Nick, assentiu.

- Vamos conversar mais em vez de discutir... - a morena enfatizou.

Nick tornou a assentir.

- Quando as pessoas disserem coisas de que você não gosta, conte-me sobre isso e eu a escutarei e a defenderei..

- Sim! - Nick resmungou, com os olhos fixos em seus lábios.

Rafaela se afastou um pouco

-...e, por favor, não seja tão cordata comigo. Isso me deixa nervosa.

- Não estou sendo cordata... - sorriu Nck, maliciosamente. - ... estou apenas gostando da sensação dessa sua voz “sensual” contra meu rosto.

Rafaela sorriu, feliz, e a beijou, numa gostosa punição. E, como uma coisa leva à outra, não demorou muito e seus corpos já entravam em harmonia, com a excitação dominando-as por completo.



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Capítulo 16: Novos horizontes....

(por Elise Marie , adicionado em 17 de Novembro de 2006)




Dormiram enlaçadas e acordaram ainda juntas, tomaram banho juntas e apenas se separaram quando Rafaela teve que voltar para sua suíte para se vestir.

Reencontraram-se na varanda, onde Dolores servia-lhes o café da manhã. O primeiro empecilho surgiu quando Nick viu que Rafaela estava vestida para o trabalho, quando ela precisava tanto que ela ficasse a seu lado.

- Será por algumas horas, apenas, Nick.... - Rafaela prometeu, quando percebeu a expressão decepcionada da ruiva. Beijou-lhe, levemente, os lábios e sentou-se também.

- Bem...esta é a nossa realidade.... - Nick, sorriu, meio à contra gosto.

- Estou em São Paulo há poucas semanas, após uma longa estada na Espanha, meu anjo. E o casamento de Rico será um grande evento que está envolvendo todos nós.

- Quando será? - Nick perguntou, curiosa, enquanto servia um fatia de queijo branco, no prato de Rafaela.

- Na próxima semana... - agradeceu-a pela delicadeza e, passou a encher o copo de ambas de suco de frutas. - Estou sendo designada para diversos jantares que mamãe organizou, e também para escoltá-la para aqueles que a família de Sandra está organizando. Está é a razão de eu tê-la deixado ontem à noite....- ela parou de falar para servir uma xícara de café para Nick. - ... está noite devo fazer o mesmo... a menos que eu consiga convencê-la a me acompanhar!

Rafaela viu o sorriso de Nick desaparecer e os cílios baixarem, enquanto buscava uma desculpa aceitável para recusar o convite.

E ela veio na figura de tia Emily, que apareceu na varanda, caminhando com a ajuda do andador de metal.

Ambas se levantaram e, sorrindo, cumprimentaram-na.

- Mais que bela visão, tia Emily! - exclamou a morena, com simpatia, beijando-lhe a face. - Suas pernas ficam muito mais bonitas quando avistadas em pé.

- Deixa disso, garota! - censurou-a, Emily, enrubescendo, mas com os olhos brilhando de satisfação pelo elogio. - Não posso mudar de idéia sobre este calor bárbaro ou, sobre este Sol cruel a está hora do dia, mas me sinto muito mais forte hoje.

Nick também beijou a tia e, ajudou-a a se sentar. Rafaela observava a ternura, o amor e o cuidado com que sua bela mulher tratava a tia. Também percebeu o grande alívio em seu semblante, pela conversa interrompida. Foi até o interfone e pediu um bule de chá e, voltou a sentar. Não demorou muito, Dolores chegou com o chá. Rafaela fez questão de servir Emily, mas notou que Nick mal olhava para ela.

Durante o café, conversaram sobre algumas banalidades, até que, depositando sua xícara de café sobre a mesa, a morena decidiu:

- Tia Emily, Nick e eu temos uma festa esta noite e, .... - sentiu o olhar de Nick sobre ela. - ... ficaríamos muito honradas se você nos acompanhasse!

Pronto! Ela apostara no ponto fraco da amada e, parecia ter dado certo. Pelo que lembrava, tia Emily tinha uma vida social bem agitada antes do acidente.

- Sério? Que ótimo! - exclamou, feliz e vibrante, Emily.

Nick fulminou-a com um olhar.

- Nós não viemos à São Paulo preparada para festas, Rafaela. - disse-lhe, séria.

O rosto feliz da tia, se fechou pelo desapontamento. Ao notar aquilo, Nick se sentiu como se estivesse maltratando um animalzinho doente.

- Sem problemas, mulheres de minha vida!... Nada que um passeio de uma hora pela cidade não possa resolver.- Rafaela não ia entregar os pontos, agora.

- Claro! - Emily tornou a se animar. - Temos o dia todo pela frente para encontrarmos algo, filha! Que festa é essa?

Rafaela voltou a atenção para a alegre senhora e lhe explicou sobre o casamento do irmão, na próxima semana e, que a comemoração daquela noite, ficava à apenas meia hora dali, na casa dos futuros sogros de seu irmão.

- Você não está jogando limpo.... - disse Nick, em português. - Sabe muito bem que eu não quero ir!

- O que falou, filha? - Emily quis saber.

- Nick disse que não acha certo esperar que você faça compras e que passe a noite festejando. - Rafaela mentiu, sorrindo. - Sendo assim, vamos resolver o problema da maneira de mulheres ricas... - e sorriu ainda mais. - Pedirei para que tragam aqui, uma coleção de trajes de noite para que escolham em casa, em vez de gastarem energia nas lojas.

A parte de mulheres ricas foi dita para provocar mais um sorriso em Emily. Porém, Nick não achou nenhuma graça. Seu olhar para Rafaela prometia vingança.

- Tente algo contra mim e eu, também me vingarei, Nick!- seu sorriso era lindo, seu olhar, decidido.

- Ei!..., vocês duas querem parar de falar em português perto de mim? Nunca lhes disseram que é falta de educação? - apesar do tom zangado, tia Emily era só sorriso.

- Tem razão, titia, desculpe-nos. - Nick, então, sorriu atravessado para a morena - Rafaela disse: “ escolham algo de valor exorbitante, queridas!”.

Rafaela, não agüentou e caiu na gargalhada. Era muito divertido ter uma mulher que falava sua língua e ainda, tinha aquele senso de humor apurado, embora tivesse soado... perigoso. Bem...hora de cortar a conversa e correr, antes que sua feiticeira decidisse encurralá-la num lugar mais privado. Levantou-se, despediu-se de ambas com beijos e partiu, sem dar tempo de um contra- ataque de Nick.

- Você não quer ir a está festa, filha? - Tia Emily perguntou, notando o rosto contrariado da sobrinha.

- Estou apenas um pouco nervosa por ter de reencontrar algumas pessoas, titia. Acho que ainda é muito cedo! - ela não tinha contado tudo o que enfrentara com a família de Rafaela, no passado.

- Bobagem, querida! Se posso ver que estão tão felizes, então porque não dar à eles a chance de fazer a mesma descoberta?

Nick, até pensou em contar à tia os duros fatos sobre aquela gente, mas desistiu. Para que arranjar complicações antes que elas viessem por si mesmas. Embora insegura, decidira ficar e tentar de novo. Não era isso afinal que estava fazendo?

Emily relaxou no assento e exalou um suspiro de contentamento.

- Meu Deus! Sinto-me renascer hoje, sabia? - Emily, suspirou, novamente. Depois, tomou, delicadamente seu chá, pensou um pouco e, olhando para a sobrinha calada e parecendo longe, perguntou: - Nick, você já contou para Rafaela a decisão que tomou para sua vida?

Ela apenas meneou a cabeça. Estivera procurando o momento certo! Mas, depois da conversa que tiveram na noite anterior, talvez esse momento não chegasse tão cedo.



Tia Emily adorou cada traje que viu, com acessórios que nem imaginava existir. Mesmo com alguma dificuldade, pelos movimentos ainda travados, experimentou os que mais lhe agradou.

Almoçaram juntas e, quando tia Emily foi tirar uma soneca vespertina, Nick ficou feliz em poder escapar para seu quarto para descansar um pouco, também. Não podia repousar muito, pois,Rafaela podia chegar a qualquer momento e queria estar pronta para ela.



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Capítulo 17: Felicidade se reconquista...

(por Elise Marie , adicionado em 22 de Novembro de 2006)




Quando Rafaela chegou em casa, encontrou a ruiva sentada de pernas cruzadas sobre sua cama com uma toalha branca enrolada no corpo. Devia ter acabado de sair do banho. Os cabelos molhados estavam sendo penteados, e ela se inclinava para a frente, permitindo que o excesso de água caísse sobre uma outra toalha branca.

- Se quiser tomar um banho, sugiro que use outro banheiro, Rafaela. - Nick falou, sem desviar sua atenção do que estava fazendo. - Caso contrário, ... posso assassiná-la enquanto estiver nua e vulnerável, aí dentro.

Rafaela riu e encostou-se no batente. A visão daquela mulher deliciosa ali, no meio de sua cama, a deixava embevecida.

- Caso não tenha notado, querida... você está no “meu” quarto, portanto... esse é o meu banheiro! Agora, quanto ao que acabou de dizer... você não faria isso, sei que veria minha morte rápida como sendo muito pouco para mim...

- Não aposte nisso! - exclamou Nick, ainda sem encará-la.

- Certo!... Viverei perigosamente, então. - com aquilo, ela se desencostou do batente, foi até Nick, estalou um beijo em sua face e, sentou na beirada da cama.

Nick não saiu da posição que estava e nem parou de pentear os cabelos, mas com os cantos dos olhos, percebeu Rafaela depositando duas caixinhas de veludo preto sobre o criado mudo. Ainda de cabeça baixa, continuou a observá-la, enquanto ela começava a se despir, já sentindo seus sentidos em alerta.

Rafaela, decidida a fazer o jogo da ruiva, fingia ignorá-la como estava sendo ignorada. E assim, abaixou-se para tirar os sapatos, despiu-se da calça de linho creme, a blusinha de alças, ... Nick voltou a pentear os cabelos em movimentos lentos... descalçou as meias e, só de calcinha, caminhou para o banheiro.... seu corpo estava todo arrepiado, afinal aquele joguinho de sedução a tinha deixado excitada. Precisava de um banho...urgente! Ligou a ducha, despiu a calcinha e se refrescou debaixo do forte jato de água morna.

Quando saiu do banho, Nick a esperava em pé, encostada na grande pia de mármore negro, e lhe entregou a toalha felpuda.

- Vamos lá... escolha suas armas! - disse, sorrindo, aceitando a toalha.

Nick se aproximou e a abraçou.

Pelo reflexo do enorme espelho, Rafaela pode perceber que seus olhos azuis cintilavam e sua boca tremia.

- Não quero ir à festa está noite. - Nick choramingou.

Escolhera bem sua arma, percebeu Rafaela. Com a raiva da ruiva, ela podia lutar... mas, lágrimas verdadeiras e o medo eram coisas diferentes.

- Por favor, minha linda... não chore! Isso não é justo...

- Não podemos esperar um pouco mais, antes que me atire aos lobos, outra vez? Por favor...

Aquilo estava amolecendo Rafaela. Mas, recuperando-se, puxou-a para o quarto, em direção à cama.

- Se alguém a magoar, eu a defenderei com unhas e dentes. Dou-lhe minha palavra!

- Eles não gostam de mim, Rafa!

“Rafa”... Nick era a única pessoa que a chamava assim e, quando o fazia, punha seus sentidos de cabeça para baixo. O apelido carinhoso colocava amarras possessivas em volta de seu coração. Amava aquela mulher com todas as suas forças....

Com todo carinho, tocou-lhe a face de pele clara e macia.

- Acha que nós duas somos as únicas arrependidas do que aconteceu no passado, Nick? Minha mãe foi testemunha de minha lenta destruição... Depois que partiu, deixei São Paulo e, muito raramente voltava para cá... - o brilho intenso nos olhos negros, falava à Nick da dor e da paixão, contida nesta declaração.

- Deveria ter ido me procurar... - murmurou, gostando das carícias que recebia.

- E eu fui... todas as noites em meus sonhos... - sussurrou de volta Rafaela, abraçando-a e aspirando o perfume suave dos cabelos, ainda úmidos, de Nick.

- Não foi bom o bastante... - retrucou, Nick, acariciando as costas nuas da morena, atiçando-a

- Mas, agora temos uma vida inteira para recuperar o que perdemos... - e sem mais nenhum aviso, porém, delicadamente, puxou a toalha do corpo de Nick e se deitou, trazendo-a junto e posicionando-a por sobre seu corpo úmido e excitado... queria saciar seu desejo e o desejo que lia nos olhos azuis. - ...e, que acha de começarmos agora?

Nick fixou seu olhar na boca sensual de Rafaela e, instintivamente, molhou seus próprios lábios com a ponta da língua, num passeio cheio de sensualidade, que a morena seguiu com seus olhos e, com o corpo estremecendo...

- Eu a quero tanto, Rafa... - sussurrou, rouca, voltando a encará-la.

Rafaela, extasiada, deixou-se envolver ainda mais pela onda de amor que lia naquele olhar mar da mulher de sua vida.

- Faz tanto tempo que você não me olha assim, meu amor... - falou baixinho, feliz, feliz... - ... senti tanta falta desse olhar.... antes, você me olhava assim o tempo todo e, eu tinha certeza de que me amava.... Eu quero esse amor de volta, Nick... eu preciso do seu amor de volta! - completou, ainda sussurrando e acariciando os lábios úmidos, com seus lábios úmidos... provocando!

- Não sei se quero adorá-la mais... - Nick, ainda tentou argumentar, respirando com dificuldade.

- Esqueça tudo e só se lembre dos nossos melhores momentos. - a morena sussurrou em seu ouvido, provocando-lhe arrepios. - Eu preciso de você.... e preciso ser sua! .... - implorou, toda trêmula.

Nick, sem deixar de fitá-la, afastou as pernas morenas e passeou a palma de sua mão pelas coxas macias, gostando da reação que provocava na pele da morena. Quando sentiu a umidade deliciosa de sua mulher, penetrou-a como uma invasora selvagem, sem controle, faminta... deixando-a alucinada diante da onda de prazer que tomava seu corpo em brasa.

- Adoro quando você faz isso... - gemeu, Rafaela, segurando o ar.

- Adoro quando você me pede isso... - Nick, também gemeu, sentindo o sangue ferver em suas veias, enquanto a morena movia os quadris, implorando que ela a possuisse mais e mais...

O grito rouco de Rafaela quando atingiu o orgasmo, fez com que Nick, também gozando, buscasse sua boca carnuda, num beijo louco, arrebatador, desejoso.

Quando o êxtase abrandou as chamas, Rafaela se levantou, sem desgrudar seus olhos, apaixonadamente negros, dos olhos, apaixonadamente azuis. Carinhosamente, convidou-a a se levantar e juntas caminharam para o banheiro. Embaixo da forte ducha, Rafaela recomeçou todo o maravilhoso trajeto dos amantes, no corpo da amada.



Aprontar-se para sair não foi fácil, visto que ambas estavam esgotadas. Por sorte, Nick teve que ir para seu quarto para se vestir. Assim, Rafaela não podia cair na tentação de perder-se nela de novo.

Riu ao pegar as duas caixinhas de jóia de cima do criado mudo e ir atrás de seu castigo de cabelos de fogo. Se Nick a provocasse novamente, elas não iriam a lugar algum, prometeu Rafaela à seus sentidos insaciáveis.



Entrou no quarto com uma leve batida à porta. Nick virou-se para o espelho para dar uma última olhada e, não conseguiu decidir se gostava ou não do que via.

Mãos nervosas alisavam a saia do moderno tubinho pelo qual optara. O tecido leve, num tom verde musgo, descia sensual pela figura esbelta, sem marcar muito suas formas. A maquiagem estava leve e natural, os sapatos de salto alto, escuros também, completavam o traje elegante.

- O que acha? - perguntou a Rafaela, desejando estar com os cabelos soltos, pois presos daquele jeito faziam-na sentir-se muito exposta.

Rafaela nada respondeu. Assim, Nick se voltou para olhá-la e ficou impressionada ao se deparar com a mulher de seus sonhos. Ela descartara os terninhos e os conjuntos que costumava usar, em favor de um vestido champagne, quase sem costas... simples e lindo! Ela estava magnifica! Este era o termo.

Rafaela, também olhava fascinada para a ruiva.

- Impressionante como você consegue ficar ainda mais bonita! - sussurrou com voz rouca.

- E você está... perfeita! - retrucou, Nick, maravilhada com a bela visão, não conseguindo achar nenhuma outra palavra em português para descrever seu encantamento.

Rafaela se aproximou, então ela notou as duas caixinhas de jóia em suas mãos e as reconheceu de imediato.

- Por favor, Rafaela... - balbuciou, nervosa.

Com um movimento rápido de dedos, Rafaela abriu a tampa e deu a Nick alguns segundos para observar a gargantilha de esmeralda, salpicada de pequenos diamantes, que outrora ela tinha achado tão linda. Mas aquilo fora antes de Ângela ridicularizá-la, dizendo que a peça era uma preciosidade de família e que seria desperdiçada em Nick.

- Por favor, amor... vire-se! - pediu a morena, sorrindo.

- Eu as devolvi, Rafa e... não quero usá-las mais.

- Hoje foi um dia preenchido com segundas chances, Nick! - falou, calma, estudando-a por alguns instantes. - Por isso estou aqui, devolvendo-as à sua verdadeira dona. Ficará incrível com esse vestido, não acha?

Talvez ficasse!

- Mas... - Nick calou-se. Olhando para Rafaela, teve vontade de dizer: “Vamos voltar para a cama, para o lugar onde me sinto segura com você.” - ... não acha que usá-las hoje seria como atirar no rosto de sua família o fato de que estou de volta?

- Acontece que você está de volta, meu anjo! Você é a minha mulher e faz parte de minha vida. E isso, ninguém, além de nós, poderá mudar. - seu sorriso era lindo e seu semblante calmo. - Agora, por favor... vire-se! Ou, vou pensar que não gostou do meu presente.

Sem alternativa, Nick obedeceu. A gargantilha circulou a base do pescoço como se tivesse sido feita especialmente para estar ali.

- Um novo começo para nós duas, significa um recomeço para todos, feiticeira! - Rafaela murmurou, enquanto, hábil e provocativamente, fechava-a na nuca de Nick, provocando-lhe arrepios com o roçar dos dedos morenos.

Em seguida, ela tirou-lhe as pequenas argolas de ouro das orelhas de Nick, substituindo-as por um par de delicados brincos com o mesmo desenho da gargantilha.

Nick, tornou a mirar-se no espelho com a morena abraçando-a pela cintura. Rafaela estava certa sobre como as peças ficariam bem com seu vestido, concluiu, ainda relutante.

- Ainda acho que usá-las pode significar uma tentativa de afrontá-los...

Estendendo a mão direita, Rafaela passeou as pontas dos dedos sobre a gargantilha e com um sorriso muito safado, insinuou:

- Pois eu já acho que vou me divertir muito, mais tarde, quando for ajudá-la a tirar esta jóia... - e deu-lhe um beijo no ombro desnudo e salpicado de pequenas sardas, fazendo a ruiva se arrepiar, novamente.

Desceram as escadas de mãos dadas e encontraram tia Emily no hall. Ela estava linda em seu vestido alegre e leve, muito apropriado para a noite do verão brasileiro.

- Oh, tia Emily... você está linda! - Nick não conteve a emoção de ver aquela mulher que amava tanto, apoiada no andador e, que diante do elogio e do brilho úmido dos olhos azuis da sobrinha, tentou fazer uma pose, tendo entendido somente o “Emily” no português cada vez melhor de Nick.



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Capítulo 18: ...respeito e amor próprio, também!

(por Elise Marie , adicionado em 24 de Novembro de 2006)




Nick sentiu seu nervoso voltar quando Rafaela parou o carro no estacionamento da belíssima casa dos pais de Sandra. Tia Emily estava alegre e decidida a se divertir, Nick desejou poder encontrar a mesma motivação.

A mão de Rafaela pousada em sua cintura, discretamente, conferia-lhe um pouco mais de segurança, enquanto caminhavam.

Na porta, o Sr. e a Sra Santoro, recebiam os convidados. Rafaela apresentou-as e logo Sandra, uma jovem de longos cabelos escuros e olhos sorridentes, e Rico, apareceram. Os quatros receberam Nick e sua tia com polidez, mas com evidente curiosidade, independente do quanto estivessem tentando esconder o fato.

O sorriso de Rico foi simpático, quando a cumprimentou.

- Que bom vê-la aqui, Dominick! - ele falou com voz grave e, beijou-lhe o rosto.

Aquilo foi o que a ajudou a enfrentar o próximo momento, quando teve que encarar a mãe de Rafaela. Thea Mendonza parecia tensa e sem graça ao cumprimentá-la. Porém, foi amável com tia Emily e, demonstrou uma preocupação genuína sobre o acidente, prometendo passar mais tempo com ela depois, para saber detalhes do acontecido.

- Viu? Ela não é tão má assim! - sussurrou Rafaela, quando elas se afastaram de Thea.

- Isso porque você a preveniu. - retrucou, rebelde.

Rafaela nada comentou. Mas, visivelmente irritada, soltou a mão de sua cintura.

Sentindo-se de repente renegada ao acaso quando adentraram à enorme sala de recepção, Nick teve que lidar sozinha com algumas dezenas de rostos virando em sua direção.

Rafaela podia ter prevenido seus familiares, mas não conseguira avisar a todos, Nick notou, quando um burburinho de repente chegou-lhe aos ouvidos.

Foi horrível. Ela experimentou a velha sensação de desconforto e teve vontade de desaparecer.

Tia Emily chegou do outro lado de Rafaela, chamando-lhe a atenção.

- É nosso momento de fama, Rafaela? - A sorridente senhora não era tola, sabia muito bem o que estava acontecendo ali.

Uma das mãos da morena cobriu a de tia Emily, que se segurava no andador, e a outra segurou firme a de Dominick. Então, ela empinou a cabeça e encarou a pequena multidão, que silenciou os murmúros no mesmo instante.

Sentindo uma espécie de satisfação, Nick percebeu o quão forte era a presença e o respeito que Rafaela exercia sobre aquela ilustre platéia. Ela não era respeitada daquela maneira da última vez que fora em uma reunião como aquela, em sua companhia. Aqueles três anos de separação dera à ela alguma coisa extra.

Sem uma palavra e mantendo o sorriso irônico nos lábios bem feito, Rafaela as guiou em direção a um dos sofás próximos e convidou tia Emily a se acomodar. Mas, Emily meneou a cabeça. Tal tia, tal sobrinha, pensou Nick. Nenhuma das duas iria permitir-se recuar dali.

Um garçon apareceu com taças de champanhe. Nick aceitou uma. Tia Emily não.

- Tudo bem? - quis saber Rafaela.

- Sim... - foi a resposta curta, seca.

- Nick!!! - o som de seu nome a fez virar-se e abrir o primeiro sorriso sincero até então. Eva Gutierrez vinha ao seu encontro, entre seu avô e um outro homem loiro que Nick presumiu ser seu marido.

- Isso é muito bom para ser verdade! - exclamou Eva.

Ela e Nick se abraçaram sincera e calorosamente. Rafaela cumprimentou seu tio, Theodoro e, apresentou-o a tia Emily. Então, Eva puxou o marido e o apresentou com orgulho. Steve sorriu com sincera simpatia e certo alivio, por saber serem inglesas.

Assim, um pouco da tensão começou a se dispersar a medida que as apresentações iam sendo completadas.

- Estou realmente feliz em revê-la, Dominick! - afirmou Theodoro, e inclinou-se para lhe dar os dois tradicionais beijinhos.

Neste momento, alguém mais se juntou ao círculo seletivo. Era a bela irmã de Rafaela, Ângela. O cumprimento que ofereceu a Nick foi tão frio quanto o de Thea. Ângela era a caçula dos irmãos. Por toda a vida fora mimada pelos homens Mendonza, o que a estragara e a tornara egoísta.

Rafaela via a irmã de uma maneira diferente. Mimada e egoísta ela fora, sem dúvida, mas sofrera demais com a morte do pai, que idolatrava. Perdê-lo deixara um vazio enorme em seu coração, que esperou que Max e Rico preenchesse. Aí, venho a morte de Max, outra perda devastadora em sua vida.

Ângela mudara muito à partir desse episódio doloroso. Amadurecera e, não era mais uma adolescente cheia de exigências. Embora Rafaela entendesse que Nick não tinha obrigação de saber daquilo, motivo pela qual ela agarrou-lhe os dedos quando Ângela olhou-a e disse:

- Seja bem-vinda, Dominick! - beijando-lhe a face.

Quando se afastou, seus olhos observavam a jóia brilhando no pescoço fino e delicado da “cunhada”.

- Mais que bela gargantilha! - comentou, Ângela. - Parece uma jóia de família...

- Mas, é nova! - respondeu Rafaela, rapidamente. - Eu a mandei fazer para Nick logo depois que chegamos de Londres. E, pelo que me recordo, ela as usou uma única vez, não foi meu anjo? - perguntou a Nick, muito doce.

- Eu?...Sim! - Nick estava sem voz.

- Mas, realmente, gostamos de chamá-las de “relíquias de família!” - Rafaela, completou. “Como sou cruel”, pensou consigo mesma, tranquilizando Nick com um olhar e vendo os olhos arregalados da irmã.

Ângela compreendeu que estaria em apuros na próxima vez que sua irmã a pegasse a sós.

O jantar foi servido uma hora depois. Os convidados começaram a se movimentar, e uma leve agitação tomou conta do ambiente.

Ângela desapareceu num instante. Theodoro, gentil, ofereceu-se para acompanhar tia Emily. Nick, Rafaela, Eva e Steve foram os últimos a deixar o salão em direção à sala de jantar.

- Acho que tio Theodoro se interessou por tia Emily... - Rafaela comentou baixinho, bem próxima ao ouvido de Nick.

- Não converse comigo agora! ... - Nick retrucou. - Estou muito brava com você para ouvi-lá.

Rafaela fitou os olhos azuis brilhantes.

- O que foi que eu fiz? - perguntou, inocente.

- Não precisa fazer nada para ser uma pessoa horrível! Isso deve estar em seus genes. - resmungou.

Rafaela achou graça. Sua ruiva ficava ainda mais maravilhosa zangada. Em silêncio, conduziu-a para a tumultuada mesa de Bufê e a noite se seguiu.



Após o jantar, novos grupos voltaram a se formar e, com tranquila determinação, Rafaela levava Nick de grupo em grupo e a introduzia, de forma delicada, nas conversas de modo que ela fosse se enturmando. Enquanto fazia aquilo, também expunha outro segredo, sempre se certificando de fazer todos os comentários em português com ela. E fazia isso com um propósito. Estava avisando à todos que pensassem duas vezes antes de discutir “sua mulher” na presença da própria.

E assim, em menos de uma hora, não havia uma só pessoa presente que a conhecera antes que não soubesse, agora, que ela entendia a língua deles. Alguns pareceram desconfortáveis com a descoberta, outros simplesmente aceitaram o fato com prazer e surpresa. Outros ainda preferiram manter certa distância, o que dizia até mesmo mais o que lhes ía no íntimo.

Tales Vergueiro era um deles. Ângela, claro, também.

Nick podia entender as razões de Ângela em se manter distante, mas a atitude do advogado a confundiu.

E havia Diana, sempre próxima a Thea ou a Ângela. Nick até chegou a se apiedar da moça, pois não devia estar sendo fácil ver Rafaela e ela, ali.

- Não acha que deveria ir até lá conversar um pouco com Diana? - sugeriu, tentando afogar a pontinha do ciúme que surgiu em seu peito, quando flagrou a morena olhando na direção de Diana.

- Para quê? - Rafaela não entendeu.

- Ela deve estar se sentindo desconfortável...

- Diana parece que tem minha irmã e minha mãe para oferecer-lhe todo conforto necessário.

O que dizia, mais ou menos, o que Nick estivera tentando não pensar. A preferência da família de Rafaela não podia ser mais óbvia. E isso, Eva confirmou, quando minutos depois se juntou a Nick na varanda á meia luz, onde tinha ido tomar um pouco de ar fresco.

- Palavra de amiga... - começou Eva. - ...Tome cuidado com Diana! Ela parece meiga e amigável, mas esconde talentos debaixo daquele sorriso doce. Ela tem um jeito de manipular as pessoas sem que elas se dêem conta disso. Hà algumas semanas atrás, convenceu Ângela a ficar aqui para ajudar tia Thea com os preparativos para o casamento de Rico, e mandá-la em seu lugar para a Espanha, a fim de auxiliar Rafaela com a festa do lançamento de San Esteban! - E olhando fixamente para Nick, completou. - Ela quer Rafaela, Nick! E Tales, o tio dela, quer muito essa união.

- Tales e Diana são parentes? - aquilo era novidade para Nick.

Eva assentiu.

- Eles têm laços de união muito fortes... laços que só os espanhóis entendem.

- Sobre o que vocês estão falando? - interrompeu-as Rafaela, que apareceu de repente.

Uma par de mãos envolveu a cintura de Nick, enquanto lábios quentes pousaram em seu ombro.

- Conversa de amiga para amiga, prima. E você, dê-se por satisfeita em escapar da minha opinião! - com aquela provocação e um sorriso malicioso, Eva deixou-as.

Ambas viraram-se para vê-la se afastar, uma linda criatura num vestido azul marinho, indo em direção ao marido, que sorriu, feliz, ao vê-la.

- Eva o conquistou contra a vontade dele. - confidenciou Rafaela.

- Bem... acho que Steve é um homem de sorte.

- Eu também sou uma mulher de sorte! - Rafaela falou, olhando-a apaixonadamente, e voltando-se , ficou de frente para Nick, encostada na grade. - Minha feiticeira ...

- Não, você não é... - começou a falar, mas perdeu a voz quando percebeu que Rafaela abaixava a cabeça em direção aos seus lábios. - Não, aqui não! Você vai arruinar o pouquinho de dignidade que consegui manter até agora.

Rafaela, parou. Seus olhos estavam divertidos e em seus lábios cheios, um sorriso meio safado.

- Você está linda neste vestido. - disse, correndo os dedos morenos pelo decote ousado.

O sorriso de Nick, iluminou seu rosto. Ela fitou Rafaela com imenso carinho.

- Eu te amo! - declarou, suave.

Os ombros de Rafaela tencionaram, o corpo recuou, trêmulo, o aperto na cintura de Nick tornou-se mais apertado.

Foi a vez de Nick começar a tremer, porque aquela declaração fora algo que escapou de forma espontânea e, a comprometia, colocando-a vulnerável para ser ferida de novo. Sua garganta se fechou num misto de emoções que ameaçavam transformar-se em lágrimas.

Ela podia perceber o esforço que Rafaela fazia para não responder àquilo de maneira apaixonada. Um simples “eu também te amo” à ajudaria naquela situação.

- Retirarei o que disse, se você quiser! - sussurrou.

- Não, Nick!!! Não! Por favor! - sua voz estava emocionadamente rouca. Ela limpou a garganta. - Apenas, não fale de novo enquanto eu... - “lido com isso”, finalizou Rafaela, em pensamento.

Aquilo era tolo, era estúpido... Tinha sonhado com esse momento, desde que Nick voltou. Elas eram adultas, resolvidas... não havia razão para se torturarem... mesmo que estivessem em público.

Nick não agüentou o olhar carregado de emoção da morena e, desviou seu olhar. Uma onda de sensações parecia ter desiquilibrado a ambas.

Bem que podiam estar sozinhas. Deviam estar sozinhas.

Nick respirou fundo. Rafaela, não se contendo, puxou-a de encontro ao seu peito.

- Não me beije, Rafa...!

- Não estou conseguindo me controlar... - foi o sussurro agoniado da morena, que apertou o abraço.

Um intenso calor se apoderou do corpo de ambas e, a chocante evidência disso, tirava-lhes o bom senso. A música, as risadas e o rumor das conversas, no salão, pareciam distantes. Se continuassem naquele abraço, num minuto estariam e beijando, famintas, suspeitou Nick. Assim, tentou se desvencilhar daquele abraço gostoso, porém sem muita vontade.

- Toda docilidade e toda luz. Sorrisos e respostas calmas. Cabelos lindamente presos e arrumados. Desde quando você cedeu às convenções, Nick? Não tem um só convidado aqui, que já te conhecia, que não olhou surpreso e maravilhado a versão refinada da bela Dominick! - a voz rouca de Rafaela, revelava sua satisfação. Então, soltando o ar de forma lenta, confessou. - Mas, eu prefiro a minha atormentadora feiticeira! - seu olhar dizia isso de forma maliciosa.

- Continue falando... - Nick a encorajou, tentando se afastar um pouco mais.

- Desde o momento em que a vi, pela primeira vez, com essas pernas sensacionais, vivo excitada como uma garotinha perdida de amor.

- E você ousa chamar isso de “amor”? - Nick, sorriu, provocando.

- Sempre amei você! Desde o momento que flertou comigo, sobre o capô daquele bendita Ferrari, e continuei amando-a depois de ter me deixado, consumindo-me por três longos anos...

- Três anos consumindo-se?... - Nick riu, de novo. - Interessante... não vi nenhuma evidência disso...

- Nós já conversamos sobre isso.

- Mas, trouxe-me de volta apenas para comprar a minha parte da Construtora... - argumentou.

- Aquilo foi um pretexto. - interrompeu-a, Rafaela.

- ... e, já tinha até escolhido minha nova substituta! - lembrou-a Nick.

- Sou arrogante, lembra-se? - Rafaela sorria-lhe, cheia de charme.

Mas, antes que Nick pudesse responder, som de passos atrás delas, fez Rafaela se virar. O coração de Nick quase parou de bater quando viu Thea Mendonza à alguns passos delas. Que impressão elas estavam dando?

“Ajude-me, Meu Deus!” - Nick pediu, em silêncio.

- Desculpem-me à intromissão... - pigarreou Thea, muito séria. E, se dirigindo a Nick - Estou preocupada cm sua tia, Dominick! Theodoro está dançando com ela e tenho medo de que o entusiasmo de ambos a prejudique.

Um único olhar através das portas duplas para dentro do salão, foi necessário para confirmar que a preocupação da mãe de Rafaela tinha fundamento. Theodoro, um senhor de quase setenta anos, estava usando o andador como suporte e flertava, descaradamente, com tia Emily que, divertida, ria sem parar. Mas, até mesmo dali de fora, Nick podia perceber o esforço começando a refletir no semblante da tia.

- Irei até lá... - começou a andar, mas Rafaela a deteve.

- Não, deixe que eu vou.... - disse, sem dar-lhe tempo de reagir. Beijou-lhe a face e ao passar pela mãe, beijou-a também.

E, num minuto Nick se viu a sós com uma mulher que não gostava dela nem um pouco. O desconforto era uma coisa tão tangível que, mantinha as duas imóveis e caladas.

- Rafaela admira muito a sua tia. - Thea quebrou o gelo com a pequena observação.

- Eu sei..., tia Emily também gosta muito de Rafaela. - Nick não retrucou a observação feita pela mãe de Rafaela para censurar seu próprio relacionamento com ela, mas pelo visto Thea entendera assim, pois ficou tensa e virou-se para sair.

- Não vá, por favor! - disse Nick, num impulso.

Thea estacou.

Uma sensação de dúvida e receio atingiu o peito de Nick. Aquilo era para ser tempo de descobertas novas e, para viver bem com Rafaela, ela sabia que tinha de tentar estender, ao menos, a mão da amizade.

- Você estavam brigando de novo! - Thea afirmou, com seu olhar “quase” frio.

- A senhora entendeu mal o que viu... - Nick ofereceu-lhe um sorriso tímido e cauteloso. - Estávamos, na verdade, nos ... provocando! - disse aquilo com cuidado e receio. Mas sentiu seu rosto queimando. Limpou a garganta e a encarou novamente: - Isso sempre foi assim entre nós, embora eu entenda por que a senhora não tenha visto dessa maneira e, também, saíba o que pensa a respeito de nossa união.

Thea pareceu levar alguns segundos para absorver tudo aquilo. Em seguida, suspirou, e sua guarda pareceu baixar um pouco.

- Percebi que aprendeu o português. Foi durante o período em que esteve aqui?

- Sim. - Nick, concordou.

- Neste caso deve ter ouvido coisas que não deveriam ter sido ditas. - Os mesmos olhos negros de Rafaela, pareciam queimar ainda mais os rosto rubro de Nick.

Baixando a cabeça, assentiu.

Thea deu alguns passos e encostou-se na grade, ao lado dela.

- Minha filha te ama muito, Dominick! E a felicidade dela é tudo o que me importa. Porém, as brigas de vocês... costumam me esgotar.

“Não tanto quanto a mim!” - Nick, pensou, recordando das faíscas que trocavam nos últimos tempos e que já não eram de amor apaixonado.

- Quando você partiu... - Thea, continuou: - ...Confesso que me senti aliviada. Mas, Rafaela não sentiu o mesmo. Parecia tão infeliz aqui que, resolveu ir para a Espanha numa viagem de negócios e não mais retornou. Sentia muito a sua falta.

- Também senti saudades dela... - Nick, ouvia tudo, no entanto procurava não fazer maiores comentários.

- Eu sei! - Thea, suspirou. Parecia mais calma. Ao menos sua voz já não era tão rude. - Rafaela deseja que sejamos amigas... Eu também quero ser sua amiga, Dominick!

Nick sorriu. Que mais podia esperar? Thea Mendonza era uma mulher muito orgulhosa, e estava ali, rebaixando-se perante sua altivez.

- Eu fui infantil, quatro anos atrás, Sra Mendonza. Senti-me sobrepujada pelo estilo de vida de vocês. E também, fui rebelde demais para aceitar conselhos de como deveria me comportar... - Então, ela encarou a mulher ao seu lado e prometeu: - Desta vez será diferente.

Thea nada disse, mas seus olhos fixos nos de Nick, revelava que estava entendendo que um tipo de pacto estava sendo selado ali.

- Sinto muito por tudo o que aconteceu. Hoje, lamento não ter sido mais compreenssiva e não ter feito nada para ajudá-las a superar a crise do relacionamento de vocês... - Thea respirou fundo e, dando-lhe um sorriso acanhado, completou: - Agora, trate-me por Thea, sim?

Nick, surpresa, só conseguiu menear a cabeça numa afirmativa e devolver-lhe o sorriso acanhado.

Thea também percebia que ali, não haveria uma resposta melhor a ser dada, pelo menos, naquele momento. Encarou-a por mais alguns segundos e, dando-lhe um beijo na face, voltou para a festa.

Rafaela apareceu segundos depois, e Nick se perguntou se ela não agira de propósito ao deixar as duas sozinhas para conversarem.

- Tudo bem? - Rafaela, perguntou, hesitante e observadora.

Nick fez que sim e, deu um passo em sua direção. Escorregando as mãos pelos braços morenos, segurou-lhe, as mãos, apertando-as.

- Nunca mais me deixe partir, Rafa...

- Não deixarei! E isso é uma promessa. - A morena respondeu, sem deixar de fitá-la.



Deixaram logo a festa, fazendo o trajeto para casa sem muita conversa. A conversa foi deixada para tia Emily, que tagarelava sobre Theodoro e os planos que fizeram de sair no dia seguinte.



- Não posso acreditar... - dizia Nick para Rafaela, enquanto se preparavam para ir para a cama. - ... Tia Emily encantada por outro homem...

- Meu tio é um conquistar nato, feiticeira! - a morena sorriu.

- Mas tem quase setenta anos! Evidente que não pode estar olhando para minha tia e tendo...

Rafaela soltou uma gargalhada, interrompendo-a. Então, arqueando as sobrancelhas negras, disse maliciosamente.

- Tenho o mesmo sangue quente, meu bem! - a voz rouca e sedutora de Rafaela, sussurrada ao pé do ouvido e o calor de seu corpo semi-nu, encostado ao de Nick, provocava ondas de calor por todo o corpo de Nick.

- Acha que estará disposta a permanecer comigo quando eu estiver com setenta anos, e você com...

- Não ouse me dizer com quantos anos estarei!... - interrompeu-a, Nick, se desvencilhando de seus braços e pegando um travesseiro, atirou em sua direção, o qual Rafaela pegou no ar, sorrindo, fascinada.

É claro que Nick estava mais que disposta a tudo por ela.



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Capítulo 19: Tempestade à vista...

(por Elise Marie , adicionado em 8 de Dezembro de 2006)




O novo dia trouxe um Sol ainda mais brilhante, e o desjejum mais uma vez fora servido na varanda para as duas. Tia Emily tomara café em seu quarto e se aprontava para o encontro com Theodoro.

- Rafa!... - Nick começou, sem encarar a morena. - Precisamos conversar!

- Sobre? - Rafaela perguntou, num tom de voz receoso, não gostando muito do fato de Nick não olhar para ela.

- Sobre eu não estar aqui para o casamento de seu irmão. - respondeu e, só então encarou os olhos negros que, silenciosamente, a questionava.

- Sei que deve ter compromissos em Londres... - Rafaela depositou a xícara de café sobre a mesa, calmamente e, procurando esconder sua decepção, continuou - ...mas, será que não poderá adiá-los por mais alguns dias?

- Infelizmente, não! Não esperava ficar por aqui por mais de dois dias... - interrompeu-se, sentindo seu rosto enrubescer. - Estou bem no meio de um ensaio fotográfico para o lançamento de uma nova linha de cosméticos, ... tenho um contrato e não posso adiá-lo por mais tempo. - Era tão difícil dizer “não” para o amor de sua vida.

Rafaela mexeu-se na cadeira e, um leve estremecimento tomou conta de seu corpo. Não sabia bem o porquê, mas era como se estivesse com medo.

- Não sei... acho que não vou poder acompanhá-la... - calou-se. “Mas o que estava dizendo? Nick não a estava convidando e sim, dizendo que ía!”

- Mas, você não precisa vir... - Nick também, se calou. Sentia-se uma idiota. Será que deveria esperar que a morena a acompanhasse? Se Rafaela estava colocando empecilhos naquela conversa, o que aconteceria se ela de repente tocasse em outro assunto, aquele que a esperava em Londres e, que ainda precisava lhe falar?

- Não? E porque não posso ir? - com as sobrancelhas arqueadas, Rafaela questionou-a - Ou, você não quer que eu vá?

Nick tomou, de um só gole, o café quente... precisava de argumentos e de um pouco mais de tempo.

- Veja, Rafaela... o que faria em Londres nesta época? E o casamento de seu único irmão? Sua mãe não me perdoaria jamais se a tirasse daqui agora...

Rafaela estudou por alguns segundos a expressão da ruiva. É lógico que ela tinha razão. Como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? Não se preocupava com o que sua mãe iria achar..., mas certamente magoaria Rico e, isso ela não queria. Amava o irmão e queria estar ao seu lado neste momento tão especial em sua vida.

- Bem... podemos falar sobre isso depois? - Preferia tentar convencer sua amada ou ainda, tentar entender suas razões, num outro momento e num outro lugar.

Nick suspirou.

- Não, não podemos! - falou firme. - Estou pensando em marcar minha passagem para a próxima sexta-feira.

“Sexta-feira? Mas, isso era dali...dois dias?” - Rafaela tentava pensar, mas não conseguia.

- Nick... sexta-feira é depois de amanhã! Como... como... - sua voz falhou.

- E, ainda tem mais uma coisa que quero discutir com você.... - Nick respirou fundo! Já que tinha começado, agora ia até o fim. A expressão de Rafaela era de total descontentamento.

Neste momento, Theodoro chegou. O homem enorme, de cabelos grisalhos, foi muito amável com Nick e, beijou efusivamente a sobrinha. Não demorou muito, tia Emily chegou, de cadeiras de roda. Theodoro a beijou e, flertando descaradamente com ela, convenceu-a de que a cadeira não seria útil naquele dia. O que o fez ganhar um sorriso verdadeiramente agradecido de Nick.

Não demorou muito, os dois partiram animados.

O assunto, que fora cortado tão abruptamente e, que tinha sido tão estratégicamente calculado por Nick, parecia ter morrido de vez.

Rafaela, pensativa, terminou seu café sem mais uma palavra. Nick ainda tentou voltar ao assunto, mas a morena pediu, gentilmente, que discutissem sobre isso depois.

“Rafaela está fugindo, mais uma vez!” - Nick pensou. Meneou a cabeça e concordou com certa relutância.

Rafaela beijou-a com tanta paixão quando se despediu para ir trabalhar, que Nick desejou arrastá-la para a cama e esquecer o resto.

Sozinha, pediu a Dolores um segundo bulê de café, decidindo que retornaria ao assunto de sua ida a Londres, tão logo Rafaela retornasse. E ainda, contaria a ela sobre sua decisão de engravidar... ainda naquele ano.

Quando Dolores chegou com o café, trazia junto um envelope a ser entregue em mãos, dizendo que acabara de chegar. O nome “Dominick” estava bem no centro, em letras garrafais. Abriu o lacre e, o conteúdo a fez empalidecer e recuar.

As fotografias que segurava entre as mãos trêmulas, pareciam cobras venenosas, loucas para atirar seu veneno. Hesitante e com o coração disparando a cada foto, levantou-se. Seu corpo tremia e seu estômago começava a se revoltavar...

Jogou as fotos sobre a mesa e, sem perceber a governanta que a olhava assustada, saiu correndo para o quarto da tia.



Dolores encontrou Nick sentada no chão do banheiro, com o queixo encostado contra o vaso sanitário.

- Nick?! - Dolores estava aflita e condoída de ver o estado da ruiva.

Nick nem se moveu.

- Vou chamar um médico ... - e se virou para deixar o banheiro.

- Não! - Nick exclamou sem levantar o olhar. - Não é preciso, Dolores. Preciso apenas descansar por alguns minutos. - e fez menção de se levantar.

Com algum esforço e com a ajuda da governanta, conseguiu se dirigir à cama de tia Emily.

- Obrigada, Dolores! - falou baixinho, enquanto a governanta ajeitava os travesseiros em suas costas. Abrindo os olhos lentamente, percebeu o olhar preocupado de Dolores sobre si. - Agora, por favor, me deixa um pouco sozinha.

- Não acha melhor avisar Rafaela....

- Não!!! - Juntando o pouco de forças que lhe restava, Nick interrompeu a governanta.

Dolores olhou-a penalizada e concordou com um gesto de cabeça, mas sentindo que falharia em seu dever se não informasse Rafaela sobre o ocorrido.

Porém, Rafaela não precisava da informação. No mesmo instante que Nick recebeu o envelope, ela também estava recebendo o seu. Enquanto olhava, horrorizada, para as fotografias, o telefone começou a tocar.

Primeiro o pai de Diana, que havia recebido um envelope também. E, tão alarmante quanto essa chamada nervosa de Roberval Castro, foi a de sua mãe, sobre uma revista de fofocas com notória reputação de informar mexericos sobre ricos e famosos.

Não precisava ser muito inteligente para saber o que estava para acontecer.

Sem nenhuma satisfação, saiu do escritório e rumou para a casa. Quando seu celular começou a tocar, desligou-o e, num acesso de fúria, atirou-o sobre o banco do passageiro, onde deixara o envelope das fotos. Não lhe importava quem mais recebera as cópias, sua única preocupação era que sabia que Nick deveria estar olhando para a mesma horrível evidência.

Mal estacionou o carro, saiu em disparada em direção à casa. Encontrou Dolores, no hall, nervosa.

- Onde Nick está? - perguntou, indo em direção às escadas.

- Ela está no quarto da Sra. Emily... - Dolores respondeu, fechando a porta.

Mudando de direção, Rafaela caminhou pelo corredor que levava ao terraço. Quando passava pela mesa do café, na varanda, viu o envelope e as fotos espalhadas por sobre o tampo. A raiva voltou a tomar conta de seu ser.

Juntou o material e continuou através do terraço, entrando no quarto de tia Emily. Nick, encolhida na cama, chorava. Seu coração quase se partiu neste momento.

Devagar, se aproximou.

- Nick? - chamou-a, baixinho.

Ela não deu sinal de que tivesse ouvido.

- Nick!? - chamou-a, novamente. - Essas fotos são falsas. Por favor...

De novo, nada.

- Por Deus, Nick! Você é uma fotógrafa profissional... - suplicou Rafaela, desesperada. - Acredite em mim e me ajude a entender...

- Vá embora... - foi o sussurro choroso de Nick. - Vá embora daqui...



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Capítulo 20: ...tempo de recuar e tentar encontrar o melhor caminho...

(por Elise Marie , adicionado em 8 de Dezembro de 2006)




Num lapso de desespero e impaciência, Rafaela se curvou e agarrando-a pela cintura, levantou-a do colchão, fazendo-a sentar-se. Então, arrumou os cabelos em desalinhos que escondiam-lhe a face pálida. Nick estava tão arrasada quanto ela.

- Me ouça, meu amor....

- Não me chame de meu amor e, ... - Nick interrompeu-a, tentando desvencilhar. Seus olhos, apesar de vermelhos e inchados pelo choro, estava frios como pedras de gelo. - Você mentiu para mim, Rafaela!

- Não! Nunca!... - a voz da morena quase nem saía.

- Mentiu! Veja! - e pegando as fotos, foi mostrando, uma à uma, com raiva... - “Nunca toquei nela, Nick...” - imitando-a, cinicamente - O que é isto aqui? Me diz, RAFAELA! Você, no iate, nua, abraçando-a. E aqui.... deitadas, juntas... dormindo, inocentes. Por que, Rafaela? Por que mentiu para mim? Eu nunca a perdoarei... - e de novo voltou a chorar.

Rafaela, nervosa, tomou o resto das fotos de suas mãos.

- Tem de acreditar que estás fotos são falsas!- quase berrou.

- Falsas? - agora foi a vez de Nick se alterar, em meio a uma risada nervosa.

- Pense um pouco com a cabeça, em vez de com o coração... - Rafaela, tentou argumentar, mas foi interrompida por um suspiro cansado da ruiva.

- Não tenho mais coração, Rafaela. Você o arrancou do meu peito e jogou fora.

- Melodrama não vai ajudar em nada nesta situação, Dominick! - falou firme.

Nick encarou-a e a pontinha de humor que viu na expressão carregada da morena, a deixou ainda mais enraivecida. Levantou-se num salto.

- Marcarei minha passagem de volta para Londres para está noite...

Rafaela empalideceu. A onda de medo que havia sentido naquela manhã, quando conversavam sobre a ida de Nick para Londres, agora invadiu-lhe a alma. Tendo que disfarçar seu estado, levantou-se também e, numa voz firme, apesar de rouca, disse:

- Fugindo de novo, Dominick? - E, como a resposta não veio, acrescentou - Tome cuidado, pois poderei deixar mesmo que faça isso.... Não passarei minha vida temendo a próxima vez que decidir me deixar.

Nick percebeu naquela voz sensual, a tristeza e o medo disfarçados numa zanga inexplicável.

- Por que está zangada comigo? Não deveria ser o contrário? - Nick perguntou, perplexa.

- Não estou zangada com você, meu anjo! - ela tentou se aproximar, mas Nick deu um passo atrás. - Meu ódio é isso aqui! - E balançou as fotos no ar. - Você não foi a única a receber cópias...

Então ela lhe contou quem mais as recebera.

- ...Isso é sério, Nick! Alguém quer causar um escândalo e, acabar com nosso casamento. Por isso, preciso de sua ajuda, não de seu desprezo... - interrompeu-se como se algo tivesse acendido dentro de si. Então, seus olhos começaram a passear pelo quarto.

Focalizando o que procurava, andou até o velho computador de Nick e começou a verificar pinos e tomadas.

- Você sabe usar isto aqui... - falou para Nick.

- Este computador não é usado há três anos. Talvez não funcione por falta de uso. - a ruiva a interrompeu.

- Ao menos tente! - Rafaela exclamou, exasperada.

Notando a seriedade e ansiedade da morena, Nick obedeceu. E surpresa, constatou que apesar dos anos ali parado, a máquina funcionva.

- Rafaela... dê-me uma boa razão para isso! - seus olhos azuis buscaram os negros.

- Eu já lhe disse. Estas fotos são falsas... trata-se de uma montagem.

- Tem certeza! - Nick insistiu.

- Sim, absoluta! - Rafaela assentiu, confiante. - Eu gostaria muito de um pouquinho de confiança de sua parte. - pediu, magoada.

Nick voltou a fixar o monitor e, disse:

- Falsas, você disse...

- Verifique por si mesma se estou mentindo. - desafiou-a.

E esse desafio colocou Nick em movimento. Scaneou as fotos e com toques hábeis no mouse, ela fez o que Rafaela pedia. Se estivesse mentindo, descobriria em poucos minutos. Se estivesse falando a verdade, então...

- Por que isso está acontecendo, Rafaela? Quem você acha que fez essa barbaridade? É preciso uma terceira pessoa envolvida para tirar fotos como estas... - interrompeu-se e, observou o perfil da morena que, calada, olhava para o monitor. - ... precisa ser alguém muito íntimo para estar numa posição de flagrá-las em lances como esses.

Rafaela pareceu pensar por um momento e, quando falou, sua voz saiu meio estrangulada.

- Ângela... é claro!

- Ângela?! - Nick murmurou, incrédula. - Oh, não! O que sua irmã ganharia ferindo você e a melhor amiga dela?

- Ganha o que sempre quis. - Rafaela a olhou e, uma nuvem ainda mais escura que seus olhos parecia pairar sobre sua cabeça. - Separar-me de você, por exemplo, e também... durante toda sua infância, ela fantasiou sobre um de seus irmãos casar-se com sua melhor amiga. Max morreu, Rico nunca nem olhou direito para Diana... Acho que na cabeça dela, sou a próxima vítima, já que nunca escondi minha preferência por mulheres.

- Não, não posso crer nisso. - suspirou, Nick.

- É... realmente é muito dolorido chegar a esta conclusão... - e balançou a cabeça, triste. - Ela foi muito esperta... denegrir Diana e a mim para Roberval Castro, que sempre foi muito conservador... - mas, parou de falar quando avistou algo na tela . - Nick, vi esse homem no cais tirando fotos do iate... Aqui... - e apontou a figura. - ... por favor, mostre-me como eu estava vestida naquele dia...

- Ora... com nada! - Nick , respondeu com certa raiva.

- Eu estava vestida com um short branco e camiseta regata azul, Nick! Esse sujeito deve ter sido pago por alguém e, Ângela é a pessoa mais lógica...

- Eu não concordo com você, Rafaela! - Nick enfatizou, balançando a cabeça. - Ninguém chega a tais extremos se não for para o interesse de mais alguém.

- Interesse de quem? De Diana, por exemplo? - a morena argumentou, passada, visto que a dúvida estava estampada no olhar azul, quase transparente. - Pelo amor de Deus, Domenick!... Diana está sendo manipulada tanto quanto nós. Olhe para as evidências... Ângela manda Diana em seu lugar para San Esteban e, essas fotos foram tiradas lá. Já te falei que vi esse camarada tirando fotos do iate...

- E a foto em seu quarto? - Nick a interrompeu, teimosa. - Como o “camarada” entrou lá?

Rafaela parou para pensar, antes de responder:

- Ele devia ser um membro da tripulação... Estava muito longe e, não pude reconhecê-lo.

Nick soltou um leve suspiro. Rafaela pensava que tinha resposta para tudo e, aquilo a deixava cansada. Mesmo assim, recordou-se da conversa que teve com Eva, na noite passada e, suas suspeitas recaíam sobre Diana, mas decidiu não expor isso a ela.

Concentrando a atenção na tela, em poucos segundos conseguiu localizar uma série de discrepâncias e, em instantes circulou uma a uma.... A falta de um dedo, um ponto da grade do convés, que não se ajustava... O mouse deslizava para todos os lados, copiando e colando cada detalhe num quadro separado. Ampliando-os, Nick começou a imprimi-los.

A tudo isso, Rafaela observava em muda fascinação e surpresa.

- Quer que eu faça o mesmo com o restante das fotos? - Nick perguntou, quando terminou de imprimir o primeiro lote.

- Não! - ela respondeu, decidida. Depois, erguendo as sobrancelhas negras, disse sarcástica. - A menos que você tenha que se certificar de que todas são falsas...

Nick suspirou. Aquilo foi um golpe limpo perante a falta de confiança dela.

- Suponho que agora queira um humilde pedido de desculpas?

- Mais tarde, minha feiticeira teimosa... como recompensa! - ela respondeu calma, mas não sorria.

Falsas ou não, aquelas fotos parecia roubar algo delas e Nick teve de se perguntar se jamais haveria um volta outra vez.

Quando a morena se virou para deixar o quarto, Nick a chamou:

- Rafaela, ... Ângela sabe sobre meu trabalho. Lembre-se disso quando for confrontá-la.

- O quer dizer com isso? - Rafaela quis saber.

- Apenas que vá até lá com a mente aberta... e, por favor, não arranje confusão em família! - pediu. Não queria destruir a imagem da pessoa decente, que tanto Rafaela quanto sua família, tinham de Diana. Até porque, ainda não estava certa de suas suspeitas. Mas, de qualquer modo, estava determinada a descobrir o causador ou a causadora daquele ato, tanto quanto Rafaela.

Desse modo, assim que Rafaela se foi, Nick imprimiu um segundo lote das cópias. Em seguida, pediu a Dolores que lhe chamasse um táxi e que lhe desse o endereço de Diana. Quinze minutos depois, foi recebida por uma empregada que a conduziu para uma saleta de visitas e correu para procurar a patroa.



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Capítulo 21: ...ainda que seja de pedras...

(por Elise Marie , adicionado em 18 de Dezembro de 2006)




Ainda no condomínio, Rafaela encarava Ângela que, pálida diante a acusação da irmã mais velha, não conseguia pronunciar uma palavra para se defender.

- Por quê, Ângela? O que Nick lhe fez? A minha felicidade não lhe importa, não é? - sua voz, embora triste, tinha um timbre raivoso.

- Mas..., Rafaela... eu ... - Ângela gaguejava e, entre assustada pela zanga da irmã e surpresa pelas fotos que via, olhava-a sem entender direito o por que de Rafaela a estar acusando. - Não fiz.... não sei de nada disso... eu, não seria tão baixa...

- Ah, não? - Rafaela tentava se controlar para não dar uns tapas na sonsa da irmã. Levantou a voz e se aproximou um pouco mais, ameaçadora. - E o que isto então, se não uma baixaria? Vamos, garota, me fala?

- Rafaela!!! - exclamou Thea, entrando na sala, exasperada pela gritaria. - Filha, você nunca discutiu com sua irmã...

- Fica fora disso, mamãe! - interrompeu-a Rafaela, andando de um lado para o outro, nervosa. - Essa garota parece uma criança birrenta, que acha que pode brincar com os sentimentos das pessoas...

- Mamãe! - Ângela suplicou, pedindo sua ajuda. Mas sem sair do lugar. - Rafaela me acusa de ter algo com essas fotos... juro que não tenho nada com isso.

- E quem tem? - berrou Rafaela, possessa. - Diana?!

- Pode ser..., porque não? - a voz de Ângela não passava de um sussurro.

- Meu Deus, Ângela! - a morena exclamou, indignada - Até onde chega sua irresponsabilidade.... como pode acusar uma pessoa que é tão vítima quanto eu? - Encarou a irmã, por alguns segundos. Sentia seus nervos tremerem. Seus olhos deviam estar ameaçadores, pois percebeu a irmã se encolher. Estava com medo, tinha certeza e, era pra estar mesmo, porque tinha vontade de dar a surra que a irmã nunca tinha levado. Aproximou-se e, com a voz baixa e um dedo em riste, ameaçou:

- Escuta aqui, garota! Por conta dessa sua brincadeira, Nick está querendo voltar para Londres. Se isso acontecer... eu... eu... - se engasgou . - ... eu não sei do que serei capaz!

Thea, que até então, se mantinha calada, percebia o nervosismo em Rafaela e o medo de Ângela. Tinha certeza que a filha caçula não era a autora daquele episódio. Mesmo não gostando de Dominick, Ângela jamais seria capaz de prejudicar a irmã, a quem amava, acima de tudo.

- Rafaela? - interveio, com voz firme. - Me escuta, filha!

A morena a encarou. Seus olhos estavam úmidos e tristes. Isso deixava seu coração de mãe totalmente amolecido.

- O que Ângela sugeriu, não é assim tão absurdo. Você sabe que sempre gostei muito de Diana, mas há duas semanas atrás, ela me convenceu a chamar sua irmã de volta e, se colocou à disposição para ocupar o seu lugar, lá em San Esteban...

Rafaela fitava a mãe nos olhos, com intensidade, para saber se ela não estava mentindo.

-... Ela me disse que precisava de uns dias de férias e, que lá seria um ótimo lugar para descansar.

- Por que não me disse isso, quando me ligou pedindo para mandar Ângela de volta? - Rafaela perguntou, duvidosa.

- Com sinceridade, filha, não achei que isso fosse importante... - Thea, respondeu, cabisbaixa.

Então era Diana?!!!

Rafaela, andou até a grande janela que dava para o jardim, passou alguns segundos olhando para fora e, num gesto nervoso, que demonstrava todo seu estado de espírito, passou as mãos pelo cabelo e suspirou fundo.

- Nick tentou me dizer... - sussurrou mais para si. Enxugou, com a costa da mão, uma lágrima que desceu e, voltando para a irmã, disse:

- Vem comigo!



Diana demorava muito. Precisando fazer algo, Nick vasculhou sua bolsa a procura de uma presilha para prender seus cabelos.Transpirava de nervoso. Agora, já não sabia se fizera a coisa certa indo até lá, nem mesmo tinha certeza se sabia lidar com aquilo... tudo o que sabia era que precisava saber se Diana era ou não, culpada.

Quando ela apareceu, usava um vestido elegante e tinha uma expressão afável, que, de alguma maneira, não cabia muito naquela situação, considerando que Nick era a namorada ciumenta e que estava ali para confrontá-la.

- Teremos de ser breves... - Diana foi afirmando, sem cumprimentá-la e sem encará-la. - Meu pai está a caminho de casa e não gostará de encontrá-la aqui. - Sentou-se numa poltrona larga, próxima à enorme janela, mas não convidou Nick para fazer o mesmo. - Agora que você já constatou a verdade sobre mim e Rafaela, podemos esperar que saia de nossas vidas para sempre?

Nick sem perder um único gesto daquela mulher que, apesar de não olhar diretamente para seus olhos, tinha um sorrisinho cínico no canto dos lábios.

Apertou a alça da bolsa e pensou: “Como ela é patética!”

- Então, foi você quem enviou as fotos? - perguntou, num português perfeito.

Diana assentiu.

Era até decepcionante que ela admitisse aquilo com tamanha facilidade.

Nick se aproximou. Os olhos castanhos encontraram os seus, provocativos. Enquanto com macia e pausada, Diana disse:

- Embora tenha que acrescentar que, qualquer coisa que eu diga a você, aqui, negarei para qualquer outra pessoa. Mas, você estava no meu caminho, novamente, Dominick, e estou farta de ser rejeitada pelos irmãos Mendonza.

Nick arqueou a sobrancelhas, tentando entender sobre o que exatamente Diana falava e, pelo seu gesto, Diana percebendo sua interrogativa, justificou:

- Sim... Primeiro Max, depois Rafaela...

Agora é que ela entendia menos ainda.

- Há duas semanas atrás, Rafaela prometeu ficar comigo assim que comprasse sua parte na Construtora. Mas, de uma hora prá outra, fui posta de lado, mais uma vez... por motivos de negócios, é claro! Não foi sempre assim?

Nick não gostava daquele sorriso irônico que parecia colado naqueles lábios vermelhos. Mas, não conseguia esconder sua perplexidade diante aquilo tudo que estava escutando. Por isso, se mantinha calada e observadora.

- Como é que é? - atiçou-a.

- O fato de você possuir 65% da sociedade, coloca Rafaela numa situação terrível... - interrompeu-se, parecendo espiar a reação da ruiva que lhe encarava, imponente.

Nick sentia-se diante uma força destruidora, pois Diana se mostrava calma e confiante, sua voz nivelada mostrava todo seu poder de manipulação.

- ...Tenho de admitir que o que fiz não é lá muito bonito, mas... uma mulher que lutou muito para recuperar a fortuna que o pai jogou pelo ralo, não pode permitir perder tudo para uma pessoa inexperiente e sem nenhuma habilidade para os negócios.

- Você não sabe o que diz, Diana! - Nick falou, controlada. Tremia por dentro pela vontade que tinha de pegar aquela mulher pelo pescoço e sacudi-lá até que parasse de inventar todas aquelas barbaridades. Mas, preferiu tentar se manter impassível e, pelo jeito, sua atitude sensata começava a dar resultado pois a morena começou a se mostrar nervosa.

- Sei o que falo, sim! Você é que parece não querer entender que Rafaela me ama... - seus olhos tinham um brilho perigoso e seu sorriso já não era tão firme. - Venda sua parte para Rafaela, Domenick e, nos deixe viver felizes. Já estamos cansadas de mentir para todos.... já é hora das pessoas saberem os fatos...

- Como o caso de vocês na Espanha? - Nick a interrompeu.

- Não é só um caso.... trata-se de um relacionamento que começou muito antes de você abandoná-la, se quer saber. Ela me visitava sempre nos Estados Unidos.

Nick estremeceu, lembrava-se nitidamente das viagens de Rafaela para aquele País.

- E, desculpe-me contar, mas ainda ontem estivemos juntas, durante a tarde. - Outra vez aquele sorrisinho insuportável. - Tenho um apartamento próximo ao escritório da Construtora, onde nos encontramos na maioria das tardes.

Nick, lutando para sew controlar, respirou fundo e desafiou-a.

- Sem evidências fotográficas desses encontros, suponho?

- Mas que pode ser obtido. - respondeu, falsa.

- Oh!, estou certa de que pode... - dizendo isso, Nick tirou as cópias do envelope e as colocou por sobre a mesa que estava ao lado de Diana. Esta sequer dignou-se a olhar, mantendo seus olhos fixos nos azuis de Nick.

- Você não passa de uma mentirosa, Diana! Adora manipular as pessoas. Ângela foi manipulada para mandá-la à Espanha. Thea, também, por seu sempre tão gentil ímpeto de agradá-la...

- Isso é o que você diz... - murmurou sem vontade.

Nick riu. Precisava de toda sua força para não socar aquele rosto bonito e vazio.

- ... até Rafaela exalta suas grandes habilidades de organização!... Não acho que seja um elogio muito apetitoso para a mulher que ela ama, concorda? - Sentiu o ódio brilhar no olhar da moça. Sorriu novamente, com cinismo desta vez. - Pelo visto, você sabe como organizar uma grande festa. Quanto a mim, luto para organizar uma bandeja de chá... mas, ela me chama de sua feiticeira e, quando fazemos amor, ah.... - suspirou, propositalmente - ... ela delira em meus braços e depois, dorme tão agarrada a mim que mal consigo respirar. Não como isso aqui... - e, mostrando a foto das duas dormindo no quarto do iate. -... ela ocupando um lado da cama, enquanto ocupo o outro.

Bingo! Nick percebeu um pouco daquela máscara de frieza ruir.

Diana baixou o olhar para as fotos. Então, Nick indicou outra, ampliada, mostrando mais evidências do crime.

- Graças à Deus, Rafaela ainda tem todos os dedos... - Nick indicou o dedo que estava faltando na mão morena em cima da barriga de Diana. - ... e, se ela ficar em pé atrás de você, como aqui, o alto de sua cabeça não alcança mais que a altura do seio dela, e não seu queixo... - por um momento sentiu pena da palidez que o rosto da garota ía ganhando. - Você é de estatura baixa e, não é tão delgada e nem tão curvilínea assim. E, mais... - respirou fundo, notando gotículas de suor no rosto maquiado. - ... Um bom manipulador deve ser cauteloso!

Diana a encarou, seus lábios tremiam.

- Você se esqueceu um pequeno detalhe, querida! - Não sentia mais pena, quando olhou no fundo dos olhos castanhos. - Sou fotógrafa profissional, lido com fotografia computadorizada há anos...

O leve dar de ombros de Diana e, seu projeto de sorriso nervoso, mas irônico, surpreendeu Nick mais uma vez.

- A boba aqui é você, Dominick! Sei muito bem o que faz para ganhar a vida e, estas fotos foram sempre destinadas a serem expostas como falsas. Fiz isso para atenuar um escândalo, caso você não queira vender sua parte da herança...

Nick a interrompeu com uma leve gargalhada. Estava, na verdade, possessa.

- Então, existe um pequeno probleminha com seu plano, minha querida! - controlou-se, primeiro. - ...Não tenho nenhuma intenção de vender minha parte para Rafaela... e sim, dar a ela, de livre e espontânea vontade, toda minha herança.

Diana encarou-a visivelmente surpresa. A expressão de seu rosto seria hilária, se não fosse patética.

- Você quer fazer o quê?! Quer dizer ... quer dizer que... - Diana gaguejou, mas pareceu retomar o controle e, tentou feri-la mais um pouco. - Você acredita que Rafaela a quer de verdade?!? Ela não estaria só protegendo seus interesses comerciais???

- Sim, eu a quero! - a voz rouca, mas imponente, ecoou pela sala.

As duas se voltaram ao som daquela voz. Rafaela estava em pé, no meio da sala, encarando-as. Ângela estava junto.

Nick encontrou o olhar negro que brilhava , apaixonadamente, para ela.

- Eu a quero como nunca quis NADA e nem NINGUEM nesta vida. Eu a quero a cada minuto em que estou acordada e em cada minuto que estou sonhando... - e desviando o olhar para Diana, sua expressão se fechou e sua voz saiu cortante. - Você tem sérios problemas de cabeça, Diana. - e sem esperar uma resposta, voltou a olhar para Nick e, estendeu-lhe a mão, chamando-a. - Vamos, meu amor!

Nick não titubeou e se aproximou de Rafaela.

Mas, Diana não ia desistir sem lutar.

- Só porque essas fotografias não são verdadeiras, não significa que não dormimos juntas. Conte a ela, Rafaela, como passávamos as noites no iate... - seu sorriso era doente e Rafaela quis fulminá-la com olhar. - ...Conte-lhe sobre como Thea acha que Dominick é uma prostituta e... - olhando para Ângela, continuou afiada instigando os nervos de todos.... - E você, Ângela, vamos... diga-lhe o quanto você despreza até o ar que ela respira...

Ângela, visivelmente envergonhada, deu um passo à frente e ía dizer algo, mas Rafaela, com um único gesto, a fez calar e estacar.

Diana soltou uma espécie de gargalhada, descontrolada.

- Não tem coragem, não é minha bela Rafaela? - provocou-a. - Não tem coragem de dizer a “essazinha” que toda sua família soube que ela era amante de Max, enquanto morava com você e... - parecendo querer desafiar ainda mais a morena, completou. - .... e de como foi que você descobriu isso. - Sem noção do perigo que ela corria com a aproximação de Rafaela, Diana encarou Nick, com os olhos brilhando ensandecidos. - Rafaela colocou um detetive particular atrás de você, Dominick!

As pernas trêmulas de Nick, bambearam. Sua garganta estava seca, todos os nervos do seu corpo tremiam, seu olhar procurou, avidamente, o olhar de Rafaela.

- Por favor, Rafaela... - sua voz era uma súplica - ...diga-me que ela está mentindo!

Mas, Rafaela empalideceu como Nick jamais vira. E pior, desviou o olhar.

- Vamos embora daqui, Nick! - ela ordenou.

Alguém mais entrou na sala, naquele momento.

- Pare com isso, Diana! - vociferou Roberval Castro.

- Diana... não entendo como você pode... - Ângela começou a falar, hesitante e com a voz sumida.

- Claro que você não entende, garotinha... - ela exclamou, zombeteira. - Mas, não serei mais usada pelos seus irmãos!

Rafaela suspirou fundo. Aquilo era demais, já não suportava mais escutar a voz melosa e descontrolada de Diana. Deu um outro passo em sua direção e, Nick a segurou.

- Sempre tive que tomar conta de você, Ângela, a adorada por todos. Não sabe o que é ser rejeitada o tempo todo... - E, olhando para o pai, acusou-o. - Primeiro foi você, porque não fui o filho que desejava... Depois, ... Max, que me rejeitou porque não era o que ele mais desejava... - essa última frase foi dita com muita dor.

- Diana, eu nunca... - Ângela começou, mas foi interrompida, pela própria.

- Não! Nem você e nem ninguém sabia...- ela balançou a cabeça e voltou a olhar para Rafaela. - Max passou a me rejeitar assim que conheceu Dominick! Disse-me que tinha encontrado o amor de sua vida e, que eu não sabia o que o amor verdadeiro significava. Mas eu conhecia o amor... - ela parou por um momento, olhou para as mãos de unhas bem feitas e, olhando com certa ternura para Rafaela, que continuava impassível e indecifrável, ao lado de Nick. - Esperei e ... esperei por ele em Washington, quando você descobriu o caso dos dois... Mas, ele não apareceu! Você chegou em vez dele, sem nenhuma noticia, sem nenhuma emoção. Depois de algum tempo, voltei para o Brasil para reconquistá-lo... mas, tudo o que Max queria era continuar participando dos Rallys da vida, para esquecer Dominick e você, Rafaela, escondida na Espanha com o coração partido. Foi quando eu pensei, por que não superarmos juntas nossa dor? Você é tão parecida com Max... e, também, sempre me senti atraída por você. Você também pensava nisso, sei que sim. Pode até mentir para Dominick, mas foi por mim que pediu para tio Tales entrar com o processo de compra...

- Então, Tales deu com a língua nos dentes... - a voz de Rafaela ecoou feito um trovão seco e feroz. Sua palidez, fora do comum, era um sinal de seu estado nervoso.

- Não! Não comentei o fato com ninguém, Rafaela! - o advogado adentrou a sala, parando perto de seu irmão.

Nick, mesmo aturdida com tudo aquilo, virou para encarar Tales Vergueiro e teve que admitir, ele parecia sincero.

- Chega, Diana!!! Acho que está indo longe demais...! - Rafaela exclamou, decidida.

- Também acho!- Roberval Castro se pronunciou. - Rafaela, você conseguiu impedir que as fotos fossem publicadas nas revistas?

- Sim, consegui! - ao invés de Rafaela, Tales foi quem respondeu, recebendo um olhar agradecido da morena.

- Neste caso, por favor, Rafaela... - o pai de Diana, disse firme. - ...Aceite minhas desculpas e, leve sua família para a casa. Agora, é comigo! - Roberval Castro decidira que a filha havia ferido gente demais naquele dia.



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Capítulo 22: ...pois, certamente, este será o caminho....

(por Elise Marie , adicionado em 21 de Dezembro de 2006)




O percurso de volta aconteceu em total silêncio. Rafaela deixou Ângela em casa, primeiro. Quando ela desceu do carro, voltou-se para Nick e falou, sem jeito:

- Desculpe-me, Dominick! Nunca pretendi...

- Hoje não, Ângela... - Rafaela a interrompeu. - ...conversaremos uma outra hora, mas agora Nick e eu temos que ir.

- Tudo bem, Rafaela. - Ângela resmungou, ainda mais envergonhada.

Com brusquidão, Rafaela partiu, cantando os pneus do carro. Quinhentos metros adiante, ela estacionou e desligou o motor.

- Fale, Nick....! Mais um segundo e você vai explodir. - disse -lhe, tentando parecer calma e, tocando sua mão.

Porém, a ruiva puxou-a, evitando seu toque.

- Muito bem! Vamos por os pingos nos ís... - começou Nick, esforçando-se para que sua voz saísse. - ...Fui insultada e ameaçada em cada oportunidade que surgiu. Fui posta a desfilar diante sua família preconceituosa e sua falta de confiança... - sua voz falhou, novamente, na rouquidão da vontade de chorar, mas manteve-se firme. -... Agora, sou forçada a encarar essas malditas fotos... - uma lágrima ameaçou-lhe escapar dos olhos. - ...acha mesmo que, pelo fato de serem falsas, elas perderam o poder de me ferir?

- Claro que não, meu amor... - a morena sussurrou e, novamente tentou se aproximar. E Nick, novamente se esquivou, sem deixar de encará-la.

- Ainda não terminei... Enfrentei o veneno de Diana, enquanto você perseguia o culpado no lugar errado! E, a ouvi difamá-la e, ainda assim, acreditei em você... - soluçou. - E você, Rafaela, precisou de um detetive para tentar acreditar em mim? Meu Deus! Por que tem que ser assim? Por que estamos trilhando a mesma estrada de quatro anos atrás? - Nick mordeu o dedo, para segurar o choro e, desviou o olhar.

- Não é a mesma coisa! - a voz da morena, estava mais rouca que o normal.

- Mas tem o mesmo gosto horroroso! - riu, triste e, continuou. - Sua mãe está preparada para gostar de mim, pelo seu bem... agora, sua irmã quer fazer o mesmo e, pelo mesmo motivo. Acha mesmo que me importo se elas gostam de mim? - Nick suspirou cansada e, sem esperar resposta, completou. - Não, não me importo! Na realidade, acho que não me importo mais com você!

Rafaela olhou para ela, assustada.

- Você não pode estar sendo sincera!

Nick, fitou a feição transtornada da morena e desejou não estar sendo sincera.

O silêncio se fez presente. Ambas estavam sofrendo com aquilo tudo. Uma Mercedes prata vinha pelo caminho e parou ao lado de Nick.

- Algo errado? Podemos ajudá-las?

Nick voltou-se para encarar Theodoro. Ao lado dela, no assento de passageiro, sua tia se curvava para olhá-la.

- Sim, Sr. Theodoro! - Nick abriu a porta e, Rafaela não tentou detê-la, mas saiu do outro lado. - O senhor pode me dar uma carona... - e, se acomodou no banco de trás.

- E Rafaela?... - ele começou

- Dirija! - Nick ordenou, em inglês.

Theodoro olhou-a, pelo retrovisor, perplexo.

- Desculpe-me pela minha grosseria... - Nick murmurou e começou a chorar.

- Por favor, Theodoro, dirija! - murmurou tia Emily, com toda sua calma.

Calado, Theodoro fez o que lhe mandaram. Olhando pelo retrovisor, viu a sobrinha abandonada ao lado de seu carro, parecendo uma mulher que acabara de ser destruída.



Já passava das 20:00 horas, quando Rafaela estacionou seu carro em frente à sua casa. A Mercedes de tio Theodoro ainda estava lá, além de outros dois carros. Ao entrar, Rafaela seguiu o murmuro das vozes que vinham da sala de visitas.

Da porta, pode avistar, além de tio Theodoro e tia Emily, Ângela, Thea, Eva e Steve. Nick não estava ali.

- Filha?! - chamou sua mãe, fazendo os outros se voltarem. - Onde esteve?



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Capítulo 23: ...que vai nos levar à tão sonhada Felicidade! (Final)

(por Elise Marie , adicionado em 21 de Dezembro de 2006)




Rafaela sentiu os olhares, mas apenas murmurou um “Boa noite” à todos, sem qualquer emoção e voltando-se, subiu para o quarto delas, praticamente, correndo. Mas era a porta do quarto ao lado que estava aberta.

Nick, parada em frente à janela, olhava para fora de braços cruzados.

- Nick? - chamou-a, baixinho.

A ruiva se voltou para ela. Tinha uma expressão cansada e triste e os olhos azuis, apagados, quando encontrou os olhos dela.

Rafaela sentia seu coração querendo sair pela boca, tamanha era a dor que via naquele olhar.

- Nick... - exclamou, ainda cautelosa. - ... quero que saiba que, se eu a amasse mais do que já amo, eu teria de ser internada, porque me tornaria perigosa. E, se pareci insensível quanto às mentiras de Diana, é porque eu também fui ferida por aquelas fotos...

Nick suspirou...

- Diana fez parte de minha família, desde que nasceu, Nick.... - se aproximando mais um pouco, sem deixar de fitá-la. - ... por isso, sempre me preocupei com ela e ia visitá-la em Washington, quando estava por lá. Mas, me enganei a seu respeito e, me enganei a seu respeito também, meu amor... Por isso, por conta do meu ciúme louco, me atrevi a colocar um detetive atrás de você! Eu... eu... - engasgada e derrotada, ajoelhou-se diante da ruiva. - Me perdoa, Nick?

- Pare com isso, Rafaela! - Nick, que até então, se mantinha impassível, comoveu-se e, pediu. - Por favor, vem... - e lhe estendeu as mãos.

Rafaela, imóvel e olhando-a fixamente, tomou suas mãos entre as suas e, levou uma delas ao seu peito, por sobre o coração descompassado.

- Me perdoa, feiticeira? - implorou.

Nick, em silêncio, passeava seu olhar pelo rosto moreno e , timidamente, ensaiou um sorriso e, já que Rafaela não levantava, ela ajoelhou-se à sua frente.

- Quase despedi Tales, está tarde... - Rafaela, arriscou, com a esperança renovada ao notar o olhar, disfarçadamente apaixonado, da ruiva.

- Tales?! - Nick não entendeu.

- Sim! Eu estava infeliz, você estava infeliz... E, Tales era a pessoa de confiança de meu pai.... - ela começou a justificar sua atitude. - Uma vez, depois de uma de “ nossas brigas”, cheguei tão arrasada no escritório que, não tive como disfarçar e, então... ele me perguntou como andava nosso casamento... contei-lhe que andava preocupada com sua constante ausência... o miserável sugeriu que talvez devesse contratar um detetive e descobrir aonde você ía... - parou, levou a mão de Nick até a boca e, acariciou-a com um beijo leve. - Hoje, ele me disse que comentou este fato com Diana e...

Uma suspeita passou pela cabeça de Nick e, então ela interrompeu a morena.

- Será que não foi ele quem contratou o ... “camarada”?

- Não! - Rafaela meneou a cabeça. - Também cheguei a pensar isso e o prensei na parede. O coitado quase teve um troço... Não, meu amor... acreditei nele e, esse tipo de atitude só pode ter saído da cabeça doente de Diana. - olhou com toda ternura para Nick. - Já lhe ocorreu que ela tirou aquelas fotos, antes de saber que reataríamos?

Nick fez que sim com a cabeça, sorrindo.

- Isso significa que sempre planejou usá-las. Como acha que me sinto?

Nick riu da cara de tola de Rafaela

- Uma boba, suponho! - E, sem conseguir se conter mais, se jogou nos braços da morena. Ali era o lugar ao qual ela pertencia. Uma lágrima rolou sua face. - Rafa...

- Hum? - resmungou Rafaela, apertando o abraço

- Eu amo você!

Rafaela sentiu seu coração explodir de alegria e, com todo cuidado, sentou-se e trouxe Nick para junto de si, acomodando-a com as pernas a lhe enlaçar a cintura. Com as mãos em forma de concha, tomou o rosto de Nick e, aproximando-o para um beijo, sussurrou:

- Estou perdoada?

Nick fez que sim com a cabeça, fitando os lábios carnudos, desejando beijá-los.

- Ótimo, então... - Rafaela falou baixinho, roçando seus lábios nos dela. - A que horas partimos, amanhã?

- Marquei meu vôo para as 11:00 horas... - Nick calou-se. “Como ela sabia?” - Ei!!!? Como sabe que antecipei minha partida?

Rafaela riu, gostoso, jogando a cabeça para trás.

- Já me acostumei com suas fugas estratégicas... - disse, divertida.

Nick fez biquinho e, ...então, outra ficha lhe caiu.

- Peraí...! A que horas partimos?!? - perguntou, surpresa.

Rafaela fez que sim e, escondeu sua cabeça no pescoço elegante, aspirando seu perfume enquanto espalhava beijinhos insinuantes.

- Rafa... - Nick tentou chamá-la, já sentindo seu desejo latejar, com o que Rafaela fazia. - Você está dizendo que vai para Londres comigo?

Rafaela voltou a encará-la .

- Vou! - respondeu, simplesmente. - Ou, acha que ía deixá-la partir, brava comigo e... sabendo que aquela “loira de farmácia” está te esperando em Londres?

Nick riu do ciúme e da expressão decidida da morena.

- Não tem ninguém me esperando em Londres e...desta vez, eu não estou fugindo! - disse, suavemente.

- Mas, me disse está tarde que já não se importava mais comigo! - uma sombra de tristeza passou rapidamente por seus olhos.

- Oh! Meu amor... me perdoa por tê-la feito sofrer... eu não devia ter dito aquilo. Mas, eu estava tão ferida e quis te machucar também... - o rosto de Nick enrubesceu.

- Eu entendo, minha feiticeira! - Rafaela a beijou de leve. - Depois que você me deixou lá... fui para o escritório pensando sobre o que faria de minha vida, novamente, sem seu amor. Liguei para Dolores e perguntei como você estava, ela me disse que você tinha lhe pedido para marcar as passagens para amanhã... então, pedi que ela reservasse uma para mim também e, fui conversar com Rico. Contei-lhe tudo, tudo mesmo e, ele me entendeu.... e mais, disse-me que o melhor presente que eu poderia lhe dar, era me fazer feliz... - uma lágrima escapou de seus olhos.

Nick, também emocionada, limpou a lágrima com os dedos macios, num carinho gostoso.

- Você não precisa vir agora, meu amor... embora eu queira muito! Mas, é o casamento de seu irmão e, penso que Thea não aprovaria...

- Thea é minha mãe e, para ela a minha felicidade é o que importa...e, a minha felicidade é você! Eu e ela, também já conversamos.... - Rafaela, tomou novamente o rosto de Nick entre as mãos e séria, pediu. - Deixe-me ir com você, Nick... por favor! Preciso tanto!

Nick acariciou seu rosto, inebriada com o pedido e com o amor que lia no olhar negro e profundo. Lentamente, chegou seus lábios próximos ao de Rafaela e sussurrou, insinuante e quente.

- Está bem, meu amor, vem comigo!... - e a beijou, faminta e sedenta.

Rafaela correspondeu ao beijo de forma tão eloqüente que, as chamas do desejo provocou-lhes os corpos. A respiração de ambas, alteradas.... os batimentos cardíacos, alterados... Nick, maliciosamente, começou a abrir a blusinha sem manga de Rafaela. Foi quando, a morena, lembrando das pessoas que estavam na sala, esperando-as, muito a contra gosto, interrompeu o beijo, respirou fundo, impediu Nick de continuar sua invasão e, encarou o olhar atormentado e insatisfeito de Nick...

- Tive uma tarde horrível.... - sua voz saiu sôfrega.

- Posso mudar isso! - Nick sorriu, ainda com a respiração alterada, aproximando-se de sua boca, novamente.

- Eu sei que pode... - ela respondeu, também sem ar. Mas, com todo cuidado do mundo, fez um movimento para se levantar, trazendo Nick junto que, olhava para ela sem entender. - ...mas, isso terá de ser mais tarde! Agora, vem comigo! - E, tomando-a pela mão, levou-a para fora do quarto.



De mãos dadas, desceram as escadas no momento que Dolores abria a porta para Rico e Sandra, que chegavam , trazendo uma garrafa de vinho.

- Para dar as verdadeiras boas vindas para minha cunhadinha!- disse, Rico, enquanto beijava-lhe a face.

E, seguiram para a sala repleta das pessoas que tinham vindo mostrar lealdade.

Eva e Steve, Theodoro e tia Emily, pareciam menos aturdidos, depois que Thea e Ângela lhes contaram a sequencia inteira do acontecido.

Tia Emily caminhou, apoiada no suporte de metal, até a sobrinha, com seu sempre sorriso calmo e tranquilizador. Deu-lhe um beijo e ganhou outro. Feliz, ao perceber as faces rosadas pela felicidade da sobrinha, perguntou:

- Está tudo bem, meu anjinho?

- Sim titia, está tudo bem!- Nick respondeu, agradecida pelo amor e pela força daquela mulher tão importante em sua vida. Depois, olhando para todos, disse num bom português: - Nossa, os rumores se espalham feito fogo, por aqui! - todos gargalharam.

O encontro virou um jantar festivo e, enquanto todos conversavam na varanda, esperando o café, Rafaela percebeu Nick falando algo para Dolores.

Não demorou muito, todos partiram felizes. Tia Emily, cansada, foi para seu quarto com a ajuda de Dolores.

Quando esta voltou, visivelmente feliz, se aproximou de Nick :

- O banho de vocês já está preparado!

- Obrigada, Dolores! - Nick agradeceu-a de coração.

E, Dolores entendeu sobre o que, realmente, Nick lhe era grata. Abriu seu melhor sorriso, pediu licença e se retirou.

Rafaela assistia a tudo isso, em pé e ao lado da imensa janela aberta, por onde entrava o perfume das flores, misturado à brisa da noite, tornando aquele momento, ainda mais especial. Intrigada e ainda mais apaixonada pela bela Dominick, abriu-lhe os braços, quando esta se aproximou.

Nick, encostou seus lábios nos dela e fez o convite, sussurrando:

- Vem, meu amor... vamos relaxar um pouco!



- Nick!?

- Hum... - murmurou de olhos fechados, sentindo os lábios macios de Rafaela, passeando pelos ombros úmidos.

- Sabe que adoro quando você prende seus cabelos assim...?

- É!?... - estava viajando ali, relaxada, na enorme banheira, deitada sobre o corpo moreno da amada.

- É... - Rafaela sussurrou, com voz quente. - Você fica mais...

- ...Mais? - Nick perguntou, rindo deliciada.

- Sexy... - beijou-lhe o ombro direito. - Deliciosa... - beijou-lhe o ombro esquerdo.

Nick sorriu, feliz e excitada com os carinhos ousados e insinuantes que Rafaela lhe fazia. Seu corpo, mesmo mergulhado na água morna da banheira, começou a queimar.

- Rafa...? - chamou-a, rouca.

- Hum... - agora foi a vez da morena murmurar, enquanto mordia-lhe a pontinha da orelha, fazendo o corpo de Nick estremecer.

- Queria te dizer uma coisa.... - ela arriscou e, gemeu pela mordida.

- É sobre o que conversávamos pela manhã, não é? - Rafaela perguntou, depois de alguns segundos em silêncio, voltando a pousar seus lábios na pele macia dos ombros de Nick.

- É... - a ruiva respondeu, receosa e excitada.

- Não podemos deixar para depois? - Rafaela não queria quebrar aquele momento gostoso, pois alguma coisa lhe dizia que ia se aborrecer.

Nick se virou, sem sair de cima dela, provocando com o movimento e a visão de seus seios, uma onde de calor em Rafaela.

De frente e bem próxima à sua boca, Nick sorrindo provocante, disse:

- Podemos.... - e depositou um leve beijo em seus lábios. - ... mas, prefiro te falar agora!

Rafaela, por longos segundos, encarou profundamente aqueles olhos azuis, que brilhavam entre divertidos e apreensivos. Com as pontas dos dedos, desenhou o contorno daquele rosto magnífico e depois, o contorno dos lábios cheios. Suspirou resignada e, ensaiando um pequeno sorriso, concordou:

- Ok! Vamos lá...

- O que acha de aumentarmos a família?

Rafaela ficou tensa no mesmo instante.

- Aumentar a família?!? - sua voz quase não saiu. - O que você quer dizer com isso? - Era tão nítido a tensão e o pavor no rosto moreno que Nick, mesmo sabendo que não deveria, não conseguiu esconder o sorriso. - Nick... você está querendo me dizer que está... está... grávida?

Então Nick riu gostoso. Rafaela sentia- se uma tola.

- Não... - a ruiva respondeu.

Rafaela respirou aliviada.

- ...ainda, não! - completou, sorrindo.

Rafaela, voltou a ficar tensa e, num gesto de zanga, empurrou um pouco Nick e saiu de banheira, para o espanto da ruiva.

- Não brinque comigo, Nick!

Nick balançou a cabeça, surpresa pela atitude de Rafaela.

- Não estou brincando... - ela disse, enquanto também saía de banheira, indo em direção da morena. - Rafa... esse é um sonho antigo nosso, lembra? - falou enquanto se aproximava do corpo molhado e maravilhoso.

- Isso foi antes... antes de... - Rafaela gaguejou, sem encarar Nick, mas também sem se afastar.

- E o que mudou? - Nick encostou seu corpo no dela... atiçando-a ainda mais.

“Pronto! Agora ela me ganha de vez!” - a morena pensou, sentindo suas defesas baixarem, enquanto o desejo fazia sua temperatura subir.

- Nada mudou... - respondeu, suspirando, excitada e quase já convencida. - ...mas, não podemos deixar para depois?

Nick buscou seu olhar, com o seu olhar mais intenso e apaixonado. Sorriu-lhe, seu sorriso mais lindo e, com a voz mais inocente do mundo, falou:

- Já estou com quase tudo pronto em Londres!

Rafaela, não se conteve.... sorriu-lhe vencida, totalmente.

- Está certo, feiticeira.... - seus olhos negros refletiam toda sua felicidade. Sua boca roubou-lhe um beijo. -Mas ... tenho uma condição!

- Qual?! - Nick quis saber, desejando um beijo de verdade.

- Assim que você terminar seu trabalho, nós iremos passar um mês inteiro no Caribe... exatamente como planejamos nossa lua-de-mel!

- Condição aceita! - Nick sussurrou, excitadíssima.

Rafaela, sorriu e só então a abraçou, colando seu corpo ainda úmido ao corpo, ainda úmido, de Nick. Ambas estremeceram de prazer à aquele contado

- Sua felicidade é tudo para mim! - Rafaela murmurou de encontro ao seu pescoço.

- Ah! Lembrei-me.... você é a mulher que um dia me prometeu a lua... - Nick disse com um sorriso pra lá de sensual. - Sabe?, ... ainda estou pensando sobre isso...

- E eu a amo cada vez mais e sinto-me uma mulher insaciável ao seu lado...- Rafaela foi dizendo e puxando-a para o quarto.

Nick riu, enquanto pensava que ainda não era o momento para dizer-lhe que o sêmem coletado, era o de Max.... mas, sabia como convencer a bela e apaixonada morena.



O calmo Arthur e rebelde Anny nasceram um ano depois...

Nick tinha tido uma gravidez normal e extremamente calma. Rafaela é quem tinha sofrido mais... visto que, do momento da concepção até ouvir o choro dos bebês, praticamente não tinha deixado sua ruiva teimosa, rebelde e maravilhosa, um só segundo.

Nick não teve desejos... Rafaela, sim.... Nick tinha sonhos... Rafaela, pesadelos... Nick se tornava cada dia mais apaixonada e mais quente... Rafaela, também...mas, morria de medo de fazer amor, pois podia prejudicar os bebês.... Nessas horas, Nick ria divertida e, como sempre, convencia-a a tal ponto que, Rafaela não conseguia resistir e se entregava, apaixonadamente, sem pudor... sem reservas...com muito amor!

Nick se sentia cada vez mais feliz, calma e muito satisfeita com sua vida no Brasil, com seus lindos filhos e com a mulher mais apaixonada e fantástica do mundo, dona de seu coração, de seu corpo, de seu mundo.

Quando a ruiva e os bebês voltaram do hospital, Rafaela presenteou Nick com um brilhante enorme em forma de meia lua.

- Não vou liberta-lá nunca mais, meu amor... - Nick alertou-a, enlaçando seu corpo no dela.

- Você me conhece bem, feiticeira.... sabe que quero ser sua eterna prisioneira! - Rafaela falou, rouca de felicidade. - Eu te amo, Dominick Sanders Mendonza!

- Eu te amo, Rafaela Mendonza Sanders! - Nick retrucou.



E assim, a vida nos dá sempre uma segunda chance.... só precisamos saber aproveita-la... Rafaela e Nick, se deram uma segunda chance e souberam aproveita-lá... e o fizeram, em nome do AMOR!



FIM.