CONTO - III


Quem é essa MUlher?

Capítulo 1: Vida Tumultuada

(por Claudia , adicionado em 3 de Junho de 2005)




Capítulo I



Terça feira 06:00. Maria Helena esta em frente ao espelho do minúsculo banheiro, não gosta do que vê. Olheiras enormes, cabelos desalinhado, roupa amassada, com cara de quem acabou de chegar da balada, mas ela não estava na balada isso era o pior , pensava.

Sentou no vaso. “Preciso dormir, Preciso dormir”.

Acordou com o celular vibrando em seu bolso traseiro, quase caiu do vaso, 06:30, que merda, era Rodrigo sócio e seu maior rival na empresa.

- Bom diaaaaaa Lê, esta tudo bem com você? Espero que tenha dormido bem, pois quero um relatório de como anda a implantação do sistema, do treinamento das pessoas, do...........Lê, você esta me ouvindo, diga alguma coisa!!!!!!!!

- Odeio quando você acorda de bom humor, aliás odeio qualquer pessoa que acorde de bom humor. Eu não durmo há 3 dias consecutivos. Quanto ao relatório, a implantação foi um sucesso, todas as pessoas estão treinadas e operando o sistema , teria terminado o trabalho ontem e dormido como um anjo se o analista tivesse colocado a versão nova, mas não , o palhaço fez questão de atualizar de madrugada. Portanto, vou para o hotel agora, faço minhas malas, pego um avião e chego hoje em São Paulo e assino minhas férias, entendeu, ou as férias ou a conta, você escolhe. Quer que eu diga mais alguma coisa?

Seria ótimo se ela pudesse pedir a conta, pensou.

- Bom, espero que durma muitoooooo na viajem, falamos sobre suas férias quando chegar ok, tenho uma excelente proposta pra você.

- Rodrigo, escute.... Q U E R O M I N H A S F É R I A S.

- Durma e conversaremos amanhã aqui no escritório, bom tenho que desligar .....

- Rodrigo, espera.....Seu FDP

Ajeitou a roupa, jogou uma água no rosto e nos cabelos curtos. Passou um batom, um corretivo pra disfarçar as olheiras, penteou os cabelos, treinou vários tipos de sorriso, mas não adiantou muito, saiu com a cara brava de toda manhã.

Verificou os últimos detalhes, fez seu relatório, conversou com o Gerente e despediu-se das pessoas. Entrou no taxi foi direto para o hotel, pediu pra encerrarem sua conta e enquanto fazia sua mala ligou para Dani.

- Bom dia meu amor, esta tudo bem com você?

- Estou morrendo de saudades, quando você chega?

- Amanhã, “Queria fazer uma surpresa”

- Não acredito mais em você, ontem você falou que era hoje, e hoje fala que é amanhã, que saco!!!!

- Calma, chego amanhã cedo, tá bom.

- Você pegou os folhetos de viajem que pedi?

- Peguei sim, estou com eles aqui na cama, escolhi alguns lugares. Que tal Teresópolis?

- Não, é muito perto do Rodrigo e faz frio.

- Então , Argentina, hummmm?

- Gosto das dançarinas de tango, mas é frio!!!!

- Portugal?

- Não, as mulheres tem bigode e é muito mas muito frio.

- Você não disse pra eu escolher o lugar ? Fica ai colocando defeito em todos.

- Disse!!!!! só não quero passar 30 dias com roupas dos pés a cabeça, sem vontade de tomar banho e com o corpo todo enrugado parecendo uma uva passa quando tira a roupa, você sabe que viro um urso no inverno, hiberno, ai não terá nem sexo, vai correr esse risco? Vou com você pra qualquer lugar que tenha: sol, praia, gente bonita e sol, se você escolher qualquer lugar com essas características vou sem reclamar, prometo.

- Ta bom, tá bom. Vou separar outros folhetos e Você escolhe o lugar. Mas amor, adoraria usar meu casaco novo de vison.

- Ahhhhh, já sei, você poderá usá-lo no final de semana.

- Como? Onde? Vamos a uma festa?

- Não, faremos melhor. Ligamos o ar condicionado do quarto no último, fechamos a porta e só abrimos depois de uma hora, ai você. coloca o casaco e faz um stripper só pra mim, que tal?

- Ta falando sério?

- Estou!!!!

- Acha que vou usar meu casaco caríssimo dentro do apartamento? E ainda por cima só você vai ver. Nunca!!!!

- Ta bom então, falaremos nisso quando chegar, ok

- Tem certeza que não dá pra chegar hoje?

- Tenho, adoraria estar ai com você, mas não posso. Beijos, estou morrendo de saudade .

- Beijos e se cuida hem!!! Vê se não vai ficar galinhando por ai.

Terminou de arrumar as malas, tomou um belo banho pensando em Dani, estava morrendo de saudades queria te-la logo. Seguiu para o aeroporto, não dormiu durante a viajem, morria de medo de viajar de avião, detestava tudo que não podia controlar.

Chegou em seu apartamento por volta das 18:00. Entrou devagar. Viu roupas espalhadas pelo chão, “nossa a Dani esta muito desorganizada” , largou a mala na sala e foi direto para o quarto, a porta estava entreaberta, parou estática sem acreditar no que via. “Dani nua abraçada a vizinha do 6 andar”.

Foi até o banheiro; gritou, deu um murro no espelho, cortou a mão. Sentou no vaso pra estancar o sangue e cogitou : Mato as duas estranguladas e depois fujo; não, não quero passar o resta da minha vida na cadeia: dou uma surra nas duas, ótima idéia, mas estou cansada, vai me dar um trabalho; hummmm, não; vou embora e apareço amanhã fingido que nada aconteceu, descanso e ainda faço amor com ela, posso até ficar com as duas, hummm!!!! não, não tenho sangue de barata. Já sei.

Foi até a sala pegou sua mala e tirou de lá 3 coisas, caminhou até o quarto e...

Apertou o gatilho.............. da corneta sonora que trouxe para seu sobrinho, as duas quase caíram da cama de tanto susto provocado pelo barulho ensurdecedor. Dani abriu os olhos e viu Lê com chapéu e nariz de palhaço apertando a corneta.

- Lê, amor, posso explicar, não é nada disso que você esta imaginando.

- Ah tá !!!, deixa que eu explico o que estou pensando, vocês estavam com calor, tiraram toda a roupa, deitaram pra falar da nossa viajem e acabaram pegando no sono?

- Calma Lê.

- CALMA, EU ESTOU CALMA, MUITOOOOOOO CALMA, enquanto trabalho feito uma louca sou feita de palhaça por você. Vou provar que estou CALMA. Vou deixar você ir embora sem fazer nada ok, podia te dar uma surra, te matar, mas não, vou deixar você sair da minha vida na boa sem rancor, sem vingança!!!!

- Lê, você sabe que não tenho pra onde ir, vamos conversar.

- SAIA, AGORA!!!!!

- Ta bom, vou vestir minha roupa e conversamos depois, se você ainda quiser que eu vá embora faço minha mala, dou um jeito de arranjar um lugar pra ficar.

- S A I A A GO R A!!!!!!! Fazer mala, tá louca: vai com a roupa do corpo e só.

- Espera ai, não é bem assim, tenho direitos.

- É verdade, tem sim, tem direito de ficar calada e só.

- Lê me perdoa, te amo, ela que insistiu, é tudo culpa dela.

- Opa, eu estava calada mas também não é bem assim.

Lê arrastou a vizinha até a sala, “até que é bem gostosinha”, trancou Dani no quarto.

- Bom, agora é entre nós, diga a quanto tempo sai com a Dani?

- Pouco tempo.

- PERGUNTEI QUANTO!!!! diga a verdade , pois vou perguntar pra Dani e se o que vocês disserem não bater, falo tudo pro seu M A R I D O, entendeu?

- Dois anos.

- Essa filha da P, me trai desde que mudamos.

- Mas não sou a primeira dela, e além do mais ela quem deu em cima de mim.

- Chega, se continuar falando mudo de idéia e mato essa piranha.

Abriu a porta do quarto e Dani estava com a mala pronta.

- Já disse que não vai levar nada.

- Lê, pensa bem.

- Ok. Vou deixar você levar uma coisa, que não terei coragem de usar mesmo.

Dani levantou a mala.

- Não é a mala!!! Você vai levar o colchão.

- Como assim?

Lê abriu a porta da sala, foi até o quarto e arrancou o colchão da cama, colocou nas costas de Dani.

- Saia daqui agora junto com esse colchão imundo, ah, e leve a vizinha gostosa com você.

Dani tentou argumentar mas foi em vão, foi colocada pra fora com o colchão nas costas. Ahhhh e não largue o colchão aqui na porta, vou colocar você dentro do elevador com ele. Chamou o elevador e ficou cantarolando uma musica “Eu queria ter um lança-chamas,Eu queria ter uma fogueira,Eu queria ter somente um fósforo, Eu queria ter uma vela acessa, Pra queimar Soraia, Pra ver torrar seu couro,Pra deixar somente o osso exposto ao sol”. Dani ficou assustada, quando o elevador chegou entrou correndo, Lê jogou o colchão dentro e fechou a porta.

Entrou no apartamento e trancou a porta, sentiu-se sozinha, muito sozinha. Refletiu sobre o acontecido. Sabia que tinha culpa, sabia que era ausente, sabia que traia Dani em suas viagens, sabia também que não amava Dani, gostava dela mas não a amava, na verdade ainda não tinha conhecido o verdadeiro amor, mas ser traída dentro da própria casa era demais.

O telefone toca insistentemente, era sua mãe.

- Maria Helena, posso saber o que esta acontecendo?

- Boa tarde mãe, a senhora esta bem?

- To morrendo de vergonha, a Daniela esta aqui na recepção chorando deitada em um colchão e falando muito mal de você quem passa ouve os absurdos.

- Mãe, dá o celular pra ela um minuto por favor.

- Maria Helena!!!!!!

- Dá agora!!!!!!!!!

- Dani, levanta daí agora,pega sua mudança e some da minha vida, caso contrário vou ligar para uns fotógrafos amigos meus e ai sua iniciante ascendente carreira de modelo vai para o buraco, fui clara? Ou quer pagar pra ver?

Dani entregou o celular e saiu carregando o colchão, sabia que Helena era maluca o bastante pra fazer o que prometia.


Capítulo 2: Mais confusões

(por Claudia , adicionado em 14 de Junho de 2005)




Capítulo I



Terça feira 06:00. Maria Helena esta em frente ao espelho do minúsculo banheiro, não gosta do que vê. Olheiras enormes, cabelos desalinhado, roupa amassada, com cara de quem acabou de chegar da balada, mas ela não estava na balada isso era o pior , pensava.

Sentou no vaso. “Preciso dormir, Preciso dormir”.

Acordou com o celular vibrando em seu bolso traseiro, quase caiu do vaso, 06:30, que merda, era Rodrigo sócio e seu maior rival na empresa.

- Bom diaaaaaa Lê, esta tudo bem com você? Espero que tenha dormido bem, pois quero um relatório de como anda a implantação do sistema, do treinamento das pessoas, do...........Lê, você esta me ouvindo, diga alguma coisa!!!!!!!!

- Odeio quando você acorda de bom humor, aliás odeio qualquer pessoa que acorde de bom humor. Eu não durmo há 3 dias consecutivos. Quanto ao relatório, a implantação foi um sucesso, todas as pessoas estão treinadas e operando o sistema , teria terminado o trabalho ontem e dormido como um anjo se o analista tivesse colocado a versão nova, mas não , o palhaço fez questão de atualizar de madrugada. Portanto, vou para o hotel agora, faço minhas malas, pego um avião e chego hoje em São Paulo e assino minhas férias, entendeu, ou as férias ou a conta, você escolhe. Quer que eu diga mais alguma coisa?

Seria ótimo se ela pudesse pedir a conta, pensou.

- Bom, espero que durma muitoooooo na viajem, falamos sobre suas férias quando chegar ok, tenho uma excelente proposta pra você.

- Rodrigo, escute.... Q U E R O M I N H A S F É R I A S.

- Durma e conversaremos amanhã aqui no escritório, bom tenho que desligar .....

- Rodrigo, espera.....Seu FDP

Ajeitou a roupa, jogou uma água no rosto e nos cabelos curtos. Passou um batom, um corretivo pra disfarçar as olheiras, penteou os cabelos, treinou vários tipos de sorriso, mas não adiantou muito, saiu com a cara brava de toda manhã.

Verificou os últimos detalhes, fez seu relatório, conversou com o Gerente e despediu-se das pessoas. Entrou no taxi foi direto para o hotel, pediu pra encerrarem sua conta e enquanto fazia sua mala ligou para Dani.

- Bom dia meu amor, esta tudo bem com você?

- Estou morrendo de saudades, quando você chega?

- Amanhã, “Queria fazer uma surpresa”

- Não acredito mais em você, ontem você falou que era hoje, e hoje fala que é amanhã, que saco!!!!

- Calma, chego amanhã cedo, tá bom.

- Você pegou os folhetos de viajem que pedi?

- Peguei sim, estou com eles aqui na cama, escolhi alguns lugares. Que tal Teresópolis?

- Não, é muito perto do Rodrigo e faz frio.

- Então , Argentina, hummmm?

- Gosto das dançarinas de tango, mas é frio!!!!

- Portugal?

- Não, as mulheres tem bigode e é muito mas muito frio.

- Você não disse pra eu escolher o lugar ? Fica ai colocando defeito em todos.

- Disse!!!!! só não quero passar 30 dias com roupas dos pés a cabeça, sem vontade de tomar banho e com o corpo todo enrugado parecendo uma uva passa quando tira a roupa, você sabe que viro um urso no inverno, hiberno, ai não terá nem sexo, vai correr esse risco? Vou com você pra qualquer lugar que tenha: sol, praia, gente bonita e sol, se você escolher qualquer lugar com essas características vou sem reclamar, prometo.

- Ta bom, tá bom. Vou separar outros folhetos e Você escolhe o lugar. Mas amor, adoraria usar meu casaco novo de vison.

- Ahhhhh, já sei, você poderá usá-lo no final de semana.

- Como? Onde? Vamos a uma festa?

- Não, faremos melhor. Ligamos o ar condicionado do quarto no último, fechamos a porta e só abrimos depois de uma hora, ai você. coloca o casaco e faz um stripper só pra mim, que tal?

- Ta falando sério?

- Estou!!!!

- Acha que vou usar meu casaco caríssimo dentro do apartamento? E ainda por cima só você vai ver. Nunca!!!!

- Ta bom então, falaremos nisso quando chegar, ok

- Tem certeza que não dá pra chegar hoje?

- Tenho, adoraria estar ai com você, mas não posso. Beijos, estou morrendo de saudade .

- Beijos e se cuida hem!!! Vê se não vai ficar galinhando por ai.

Terminou de arrumar as malas, tomou um belo banho pensando em Dani, estava morrendo de saudades queria te-la logo. Seguiu para o aeroporto, não dormiu durante a viajem, morria de medo de viajar de avião, detestava tudo que não podia controlar.

Chegou em seu apartamento por volta das 18:00. Entrou devagar. Viu roupas espalhadas pelo chão, “nossa a Dani esta muito desorganizada” , largou a mala na sala e foi direto para o quarto, a porta estava entreaberta, parou estática sem acreditar no que via. “Dani nua abraçada a vizinha do 6 andar”.

Foi até o banheiro; gritou, deu um murro no espelho, cortou a mão. Sentou no vaso pra estancar o sangue e cogitou : Mato as duas estranguladas e depois fujo; não, não quero passar o resta da minha vida na cadeia: dou uma surra nas duas, ótima idéia, mas estou cansada, vai me dar um trabalho; hummmm, não; vou embora e apareço amanhã fingido que nada aconteceu, descanso e ainda faço amor com ela, posso até ficar com as duas, hummm!!!! não, não tenho sangue de barata. Já sei.

Foi até a sala pegou sua mala e tirou de lá 3 coisas, caminhou até o quarto e...

Apertou o gatilho.............. da corneta sonora que trouxe para seu sobrinho, as duas quase caíram da cama de tanto susto provocado pelo barulho ensurdecedor. Dani abriu os olhos e viu Lê com chapéu e nariz de palhaço apertando a corneta.

- Lê, amor, posso explicar, não é nada disso que você esta imaginando.

- Ah tá !!!, deixa que eu explico o que estou pensando, vocês estavam com calor, tiraram toda a roupa, deitaram pra falar da nossa viajem e acabaram pegando no sono?

- Calma Lê.

- CALMA, EU ESTOU CALMA, MUITOOOOOOO CALMA, enquanto trabalho feito uma louca sou feita de palhaça por você. Vou provar que estou CALMA. Vou deixar você ir embora sem fazer nada ok, podia te dar uma surra, te matar, mas não, vou deixar você sair da minha vida na boa sem rancor, sem vingança!!!!

- Lê, você sabe que não tenho pra onde ir, vamos conversar.

- SAIA, AGORA!!!!!

- Ta bom, vou vestir minha roupa e conversamos depois, se você ainda quiser que eu vá embora faço minha mala, dou um jeito de arranjar um lugar pra ficar.

- S A I A A GO R A!!!!!!! Fazer mala, tá louca: vai com a roupa do corpo e só.

- Espera ai, não é bem assim, tenho direitos.

- É verdade, tem sim, tem direito de ficar calada e só.

- Lê me perdoa, te amo, ela que insistiu, é tudo culpa dela.

- Opa, eu estava calada mas também não é bem assim.

Lê arrastou a vizinha até a sala, “até que é bem gostosinha”, trancou Dani no quarto.

- Bom, agora é entre nós, diga a quanto tempo sai com a Dani?

- Pouco tempo.

- PERGUNTEI QUANTO!!!! diga a verdade , pois vou perguntar pra Dani e se o que vocês disserem não bater, falo tudo pro seu M A R I D O, entendeu?

- Dois anos.

- Essa filha da P, me trai desde que mudamos.

- Mas não sou a primeira dela, e além do mais ela quem deu em cima de mim.

- Chega, se continuar falando mudo de idéia e mato essa piranha.

Abriu a porta do quarto e Dani estava com a mala pronta.

- Já disse que não vai levar nada.

- Lê, pensa bem.

- Ok. Vou deixar você levar uma coisa, que não terei coragem de usar mesmo.

Dani levantou a mala.

- Não é a mala!!! Você vai levar o colchão.

- Como assim?

Lê abriu a porta da sala, foi até o quarto e arrancou o colchão da cama, colocou nas costas de Dani.

- Saia daqui agora junto com esse colchão imundo, ah, e leve a vizinha gostosa com você.

Dani tentou argumentar mas foi em vão, foi colocada pra fora com o colchão nas costas. Ahhhh e não largue o colchão aqui na porta, vou colocar você dentro do elevador com ele. Chamou o elevador e ficou cantarolando uma musica “Eu queria ter um lança-chamas,Eu queria ter uma fogueira,Eu queria ter somente um fósforo, Eu queria ter uma vela acessa, Pra queimar Soraia, Pra ver torrar seu couro,Pra deixar somente o osso exposto ao sol”. Dani ficou assustada, quando o elevador chegou entrou correndo, Lê jogou o colchão dentro e fechou a porta.

Entrou no apartamento e trancou a porta, sentiu-se sozinha, muito sozinha. Refletiu sobre o acontecido. Sabia que tinha culpa, sabia que era ausente, sabia que traia Dani em suas viagens, sabia também que não amava Dani, gostava dela mas não a amava, na verdade ainda não tinha conhecido o verdadeiro amor, mas ser traída dentro da própria casa era demais.

O telefone toca insistentemente, era sua mãe.

- Maria Helena, posso saber o que esta acontecendo?

- Boa tarde mãe, a senhora esta bem?

- To morrendo de vergonha, a Daniela esta aqui na recepção chorando deitada em um colchão e falando muito mal de você quem passa ouve os absurdos.

- Mãe, dá o celular pra ela um minuto por favor.

- Maria Helena!!!!!!

- Dá agora!!!!!!!!!

- Dani, levanta daí agora,pega sua mudança e some da minha vida, caso contrário vou ligar para uns fotógrafos amigos meus e ai sua iniciante ascendente carreira de modelo vai para o buraco, fui clara? Ou quer pagar pra ver?

Dani entregou o celular e saiu carregando o colchão, sabia que Helena era maluca o bastante pra fazer o que prometia.



Capítulo II



A campainha toca insistentemente, Helena sabe quem esta tocando mas não tem a menor vontade de atender, levanta do sofá e sai arrastando os pés, “Deus será que esse dia não vai acabar nuncaaa”.

Abre a porta sem tirar a corrente de segurança. Oi Dona Rita.

- Maria Helena abra essa porta.

- Mãe, estou cansada, sem dormir, podemos conversar amanhã?

- Não. Quero falar com você do vexame de agora pouco, abra logo!!!

- Fez um bico enorme e tirou a corrente, jogou o corpo no sofá, sabia que a conversa seria desgastante.

- Maria Helena, estou morrendo de vergonha, além de ser a mãe de uma mulher que gosta de mulher.

- Mãe, é lésbica.

- Detesto essa palavra, e você sabe disso.

- ahhaha.

- Acontece esse vexame. Estou eu, no salão de jogos e ouço Daniela falar barbaridades de você pra todo mundo ouvir e ainda com aquele colchão nas costas, não entendi nada e pior não sabia o que falar para as pessoas. E agora como vou ficar perante a vizinhança? não poderei ir mais a piscina, ao salão de jogos a nenhuma área comum do prédio!!!

- Ué, porque? Não lembro de ter atrasado o pagamento do condomínio, eu continuo pagando o condomínio em dia.

- Todos estão falando de você, já falavam e agora então você virou notícia no prédio.

- Dona Rita, fique calma, quem vai falar são seus amigos aposentados, e como a maioria tem uma idade avançada logo esquecem naturalmente.

- Não deboche.

- Bom já aconteceu, não posso voltar atrás, o quer que eu faça?

- Temos que mudar daqui.

- Ta louca!!! comprei o meu e o seu apartamento a menos de 3 anos, aliás nem aproveitei meu AP, fico mais em hotéis que dentro dele. Pago minhas contas, não devo nada nem satisfação a ninguém.

- Mas eu fico aqui né, você aparece só à noite, quando aparece; temos que mudar.

- Não. Arranje outra alternativa que limpe sua M O R A L aqui no prédio, pois a minha moral não esta nem um pouquinho abalada, alíás estou com ela lavada.

- Então viajarei por uns meses assim quando voltar já não será noticia ai poderei circular naturalmente.

Lê já sabia de antemão dessa solução, seria um alivio ficar longe de sua mãe por meses, mas sabia que arcaria com as despesas.

- Por mim tudo bem, escolha um lugar aqui no Brasil, nada de viajar para o exterior, depois fica doente e tenho que ir buscá-la como da última vez.

- Então esta combinado, agora Dona Rita, vá para o seu AP que eu preciso descansar, por favor!!!

- Esta me botando pra fora é??

“AHHH meu Deus”, “ joguei pedra na cruz, só pode ser”

- Há quanto tempo não vejo você? Uns quatro meses? Se quero saber de você tenho que ligar para o escritório e falar com a secretária, ou perguntar para sua irmã, pois você não atende o celular quando ligo, elas sabem mais de você do que eu, que sou sua mãe.

- Mãe, por favor, pare de drama. Você sabe bem porque nos afastamos.

- Eu não me afastei de você, você que se asfatou de mim, sem nenhum motivo.

- Ahh ta, sua intolerância, seu preconceito, sua vaidade, não são motivos? E tem mais, somos diferentes em tudo; sei que me tolera porque pago suas contas, suas viagens. Você me culpa pela morte do papai e eu te culpo pela morte do Junior. Pare de fingir que é uma boa mãe, pois eu parei de fingir que sou uma filha dedicada a um bom tempo.

- Maria Helena, você nunca foi uma boa filha, sempre me encheu de vergonha, você podia ter......

- Diga, complete a frase!!! Ter morrido no lugar do Junior!!! poderia ter morrido, poderia continuar morando em Londres, poderia um monte de coisas, mas estou aqui e vai ter que me agüentar por um longo tempo, dedico todos os dias da minha vida pra irritar você.

- Vou embora não vou ficar aqui agüentando seus desaforos, depois ligo pra sua secretária pra marcar a viajem.

- Foi você quem insistiu pra entrar e conversar lembra?? Ótimo, sabe o caminho da porta, até logo Dona Rita.

Ouviu o barulho da batida da porta, afundou a cabeça que latejava nas almofadas. – Ai, preciso de um café.

Adormeceu por duas horas, acordou com um barulho estranho vindo da cozinha, estava tudo escuro, ficou assustada, pegou um cinzeiro enorme e caminhou lentamente até a cozinha, acendeu a luz e gritou..........

- Biaaaaaaaaaa, sua safada, estava aqui o tempo todo e não veio falar comigo, é assim mesmo, esquece quem te ama, quem te dá carinho, venha cá e me dê um abraço bem apertado.

- Venha, estou esperando, se não vem eu vou até você hem!!!

Correu, abraçou e beijou sua cachorra, uma labradora cor de mel. Rolou no chão com Bia, recebeu em troca varias lambidas no rosto e na boca. Amava Bia, uma de suas poucas paixões. Abriu o armário pegou biscoito para Bia e batata frita pra ela, serviu água pra Bia e uma cerveja pra si, ficou ali sentada no chão da cozinha conversando com Bia enquanto ambas jantavam.

- Você hem!!! nem pra me avisar que ela estava me traindo!!!! nem pra defender sua dona, podia ter mordido a vizinha, mas não, ficava ai dormindo. Bia você esta muito gorda, vai fazer uma dieta e caminhar comigo todos os dias, vou acabar com sua vida mansa e com essa banha toda. Bia continuava comendo nem ouvia sua dona.

Acabaram de comer. Lê tomou um banho demorado e fez um curativo em sua mão que insistia em sangrar além de doer muito. Estava exausta, só pensava em dormir, foi até o quarto não viu o colchão, lembrou da cena de Dani deitada na cama com a vizinha, “preciso mudar a decoração do quarto”, pegou travesseiro e coberta, deitou no tapete da sala e adormeceu abraça a Bia.

- Leninha, Leninha.

- Hummmm,

- Que bom que chegou, levante quero te dar um abraço

- Deixa eu dormir Zefinha...

-Ta dormindo no chão duro porque?

- Depois eu conto, deixa eu dormir....

- Leninha, roubaram seu colchão, acorde.

-AHHHHHHH, Zefinha, não roubaram eu dei pra Dani.

-Ahhhh!!! quer café? vou fazer um pra você.

- Zefinha quero dormir só isso, fica quietinha um pouco.

- Eu preciso começar a faxina.

- Eu vou matar você se continuar falando e fazendo barulho.

- Desde menina é assim mal criada, com essa preguiça pra acordar. Leninha acorda, esta um dia lindo.

Sentou no chão ainda com os olhos fechados. – Leninha levanta!!! ``Deus mande um raio na cabeça dela``. Levantou e caminhou até o banheiro com os olhos fechados estava em estado de transe, fazia tudo automaticamente, tirou a roupa e ligou o chuveiro, depois de cinco minutos começou a acordar, tomou um banho, calçou um tênis colocou um short e uma camiseta folgada, fez outro curativo, colocou na mochila a roupa e os sapatos sociais.Foi até a cozinha beijou Zefinha no rosto, pegou uma xícara enorme de café.

- Zefinha, estava morrendo de saudades de você.

- Sei, disse que iria me matar agora a pouco.

- Nunca faria isso com você, sabe que te amo né.

- Minha filha cadê a Dani?

- Foi embora junto com o colchão. Zefinha preciso de um favor. Coloque todas as coisas da Dani em caixas, vou trocar a fechadura, você não dê a chave pra ela, ela esta proibida de entrar aqui quando eu não estiver, entendeu. Prometa que ela não vai entrar aqui.

- Deus finalmente atendeu minhas preces, aquela garota não prestava pra você.

- Zefinha você fala isso de todas as minhas namoradas, ando desconfiada, acho que você esta querendo casar comigo....ris..

- Me respeite viu. Eu não gostava daquela magrela mesmo, ela não era pra você minha filha, toda metida, toda cheia de amigas, nem falava comigo direito. Quando você estava aqui era um amor comigo, mas quando você estava viajando me tratava mal.

- E porque você não me contava?

- Você vive dizendo que sou implicante, ranzinza, não houve meus conselhos.

- Ta bom, de hoje em diante ouvirei todos; ahhh tenho um presente pra você.

Foi até o quarto e pegou o casaco de vison da Dani. – Aqui, esse casaco é pra você. “ Só gostaria de ver a cara da Dani agora”

- Obrigada minha filha, adorei, você sabe como meus joelhos doem no inverno.

Pegou a mochila, beijou Zefinha e foi caminhando até o escritório adorava fazer essa caminhada matinal, era o momento em que tinha suas melhores idéias e soluções para seus problemas. Foi pensando em Zefinha, ela foi sua mãe nos últimos dez anos, sempre presente, brigava quando fazia algo de errado; quando se estapeava com o irmão era Zefinha quem separava, foi quem a amparou no enterro de seu pai e irmão, sempre presente em sua vida nas horas boas e ruins.

Chegou cedo ao escritório, ao entrar no elevador da de cara com Rodrigo. “ “Será que entrei no meu inferno astral, só pode ser”.

- Bom dia Helena.

- Estava um bom dia.

- Você não muda mesmo, desde menina assim mal humorada pela manhã, acho que é falta de uma boa transa.

- Rodrigo, estaria de bom humor se não tivesse que encontrar com você e com todos os outros diretores às 8:00. Não sei porque as pessoas tem que marcar uma reunião tão cedo, ahhh, to precisando de uma boa transa mesmo, pede pra sua mulher passar na minha casa.

- Você e suas piadas sem graça.

- Porque!!! eu só queria seguir seu conselho.

Helena, preciso falar com você antes da reunião, sobre aquele nosso assunto.

- Rodrigo agora são 7:30, preciso tomar um banho e trocar de roupa, como pode perceber não posso aparecer suada de tênis e camiseta, conversamos depois.

- Helena você sabe que nossa conversa não pode ser depois da reunião, conversamos enquanto toma seu banho.

Desceram do elevador.

- Ficou maluco ou bateu a cabeça ? Rodrigo não temos nada pra conversar.

- Helena, não posso perder minhas ações.Você sabe que as herdei do meu pai, se perder as ações perco meu cargo, perco minha moral perante a minha família.

- Rodrigo, você quase levou a empresa à falência, imagine 700 funcionários sem emprego, sem salário, imagine como as famílias desses funcionários estariam no momento? E você vem me falar da sua moral com sua família!!!!!!!! Esqueça, não posso fazer nada para ajudá-lo.

Entrou em seu escritório e trancou a porta, não queria ser dura com Rodrigo, mas infelizmente tinha que ser.



Capitulo III



Helena terminou de se arrumar, pegou sua pasta com relatórios, e outros papéis importantes.

- Vera, venha até minha sala por favor.

- Bom dia Helena, fez boa viajem?

- Bom dia Vera, não diria que foi uma boa viajem mas foi muito proveitosa, fechei o contrato com os alemães em Joinvile, que esta aqui assinado, leve-o para a Kelly e diga que quero vê-la na reunião. Faça um favor, peça pra trocarem a fechadura do meu apartamento, e quando a Dani ligar diga que eu morri ontem à noite, ahhh pergunte o novo endereço dela e mande entregar umas caixas que estão no AP com a Zefinha.

- Como assim morreu?

- Diga isso que ela vai entender muito bem. Não quero receber nenhuma ligação dela, nem quero vê-la aqui no escritório, ahhh deposite esse cheque na conta dela, diga que esse dinheiro é do meu seguro de vida.

Bebeu três cafés, pegou suas coisas e foi pra a reunião, sabia que sua vida profissional mudaria a partir desse momento.

Na sala já estavam Sr. Pádua, Sr. Marcondes, Sr. Farias sócios fundadores minoritários, Rodrigo que detinha 30 % das ações da empresa Sr. Marcelo Mendonça sócio fundador majoritário com 50% das ações, Srt. Kelly a advogada, Sr. Massumi diretor de TI. Helena cumprimentou todos sem formalidade, todos ali a conheciam desde menina, exceto Kelly que tinha uma paixão platônica por Helena.

- Bom vamos ao que interessa, depois dos últimos acontecimentos graves aqui na empresa, solicitei essa reunião com todos os sócios para concretizar umas mudanças importantes para a sobrevivência de nossa empresa no mercado, falou Sr. Marcelo.

- O Sr. Rodrigo esta sendo destituído do seu cargo de Vice Diretor presidente e esse cargo passa a ser da Srt. Helena, disse isso com um brilho nos olhos.

- Como assim Marcelo? Não posso sair assim da empresa, errei mas agora tudo esta bem, corrigimos a tempo.

- Corrigimos?? – Quem corrigiu Rodrigo?

- Helena, ela quem corrigiu.

- Helena conte como foi a negociação com a empresa alemã.

- Foi perfeita, Kelly mostre o contrato assinado por 5 anos com exclusividade para nossos serviços e produtos. Terminei a implantação do projeto e da contratação de nossa equipe, agora é só acompanhar todo o processo missão do Massumi.

- Além disso pedi pra Kelly rever todos os nossos contratos com antigos clientes e fazer uma porposta de continuidade de trabalho e quase todos aceitaram continuar conosco, com o restante falarei pessoalmente.

- Bom, todos estão a par dos fatos, não vamos alongar a reunião quero uma votação agora, quem estiver a favor da promoção de Helena ergam a mão.

Foram unânimes, apenas Rodrigo permaneceu imóvel.

Bom agora que já decidimos, agradeço a presença de todos mas agora quero que fiquem na sala apenas Rodrigo e Helena.

- Espere ai, ainda tenho 30% das ações da empresa, meu voto tem um peso maior.

- Você não tem mais seus 30 %, Kelly mostre a ele o papel que assinou me passando as ações caso eu conseguisse esse contrato com os alemães, agora Eu tenho 40 % das ações da empresa.

- Assinei esse papel Helena porque estava sobre pressão, você se aproveitou de um momento de fraqueza meu.

Helena bebeu mais dois cafés, a cafeína acalmava seus nervos.

- Bom Rodrigo sei que trabalhou duro por nossa empresa esses anos todos, fez muita bobagem, seu pai e eu sempre demos um jeito pra consertar mas agora foi demais.

- Marcelo, ela se aproveitou do momento.

Helena ouvia as súplicas e ofensas de Rodrigo calada, fez o que achou certo, só isso.

-Senhores, a reunião esta terminada deixem que eu fique a sós com os dois.

- Marcelo, todo mundo aqui na empresa sabe da sua predileção por Helena, você nunca gostou de mim, só me tolerava por causa do meu pai.

- Não fale bobagens Rodrigo, estamos em uma mesa de negócios não de família. Você sabe que errou, e o pior não é humilde para reconhecer, se você tivesse escutado Helena, mas não, insistiu no negócio com os Chineses, eles faliram, quase levaram a nossa empresa para uma situação difícil. E você ainda jogou contra a empresa, não ajudando Helena a fechar o negócio com os alemães nem tentou contatos com nossos antigos clientes, disse que ela aproveitou uma situação, mas e você que foi completamente desonesto, boicotando o projeto. Você merece perder suas ações.

- Eu fui desonesto e ela? Sabe que ela dormiu com o dono da empresa, pra conseguir o contrato?

- Cala a boca Rodrigo, não fale mentiras.

- Eu não dormi com o dono da empresa, dormi com a filha dele só pra adiantar a assinatura do contrato, ele assinaria mesmo, se quer fazer fofoca faça direito pelo menos.

Olharam surpresos para Helena.

- Gente, o contrato não esta ai assinado isso é o que interessa!!!

- Eu não disse que ela faz tudo pra não perder.

- Faço mesmo, nunca menti, foi uma estratégia não muito legal sei disso, mas é melhor do que falir a empresa produzindo produtos para uma única empresa pra lavar dinheiro pra ela.

- Gente estou tonto com tudo isso.

- Marcelo a empresa Chinesa era fachada pra lavagem de dinheiro e nossos computadores serviriam de mula pra enviar droga para o Oriente. O Rodrigo ganharia dinheiro extra para cada lote de computadores que estivesse recheado com a droga.

- Helena porque não me contou isso antes?

- Porque não era necessário, descobri as mutretas desse maluco, fiz a proposta e ele aceitou, ele daria suas ações caso não desse certo o negócio com os chineses, mas se desse certo eu daria meus 10% das ações e nunca mais apareceria na empresa. Só que ele não imaginava que eu sabia de toda a transação ai foi só ligar para as pessoas certas para fecharem a empresa e prenderem os chineses.

- Então foi você?

- Foi sim. Negócios são negócios. Não podia deixar a empresa que cresci dentro dela fechar ou entrar em um negócio sujo como esse.

- Você é uma piranha mesmo, sabia de tudo e armou contra mim!!!

- Rodrigo saia da empresa agora, estou decepcionado com você, seu pai foi um homem honesto, ainda bem que ele não esta aqui.

Rodrigo saiu da sala chutando as cadeiras, batendo a porta. Helena bebeu mais um café jogou-se na cadeira. Marcelo sentou-se ao lado dela e acariciou seus cabelos.

- Demorou pra voltar do Sul, estava com saudades.

- Eu também padrinho, sinto muito sua falta, desculpe não ter contado antes, mas sabia que se soubesse tentaria evitar, falaria com Rodrigo e colocaria tudo a perder.

- Sei que fez a coisa certa por caminhos que não aprovo muito. Mas vou apoiar você, sabe disso. Você é muito parecida com sua mãe sabia? Tem esse gênio forte, decidido, detesta perder, competitiva até a morte.

- Ai nem me fale nela, ontem brigamos novamente. E não sou parecida com ela. Ela é egoísta, preconceituosa, interesseira e mais um monte de coisas que estou com preguiça de dizer.

- Você herdou o gênio da sua mãe mas herdou o coração bom e os olhos azuis do seu pai e o gosto pela conquista de belas mulheres, sabe que ele me roubou sua mãe né?

- Isso é verdade, sou boazinha ,linda, mas sou mais inteligente que ele,tem que ser muito burro pra se apaixonar por uma mulher como a Dona Rita

- E convencida também.

- Convencida eu???

- Sim convencida, e sua mãe é uma mulher muito atraente, só mudou de atitudes com o tempo, virou uma pessoa rígida, ela era alegre assim como você.

- Você sabe porque ela ficou assim?

- Tem que perguntar a ela, você sabe que ainda somos amigos, não tenho direito de falar certas coisas pra você.

- Você e a mamãe, cheios de segredos e mistérios.

Conversaram o resto da manhã, uma conversa animada mas séria. Helena tinha adoração por Marcelo e ele por ela, ele era seu chefe, seu amigo, seu padrinho. Marcelo foi responsável por muitas das loucuras de Helena, nunca disse não pra ela, sempre apoiou escondendo as confusões que ela se metia.

- Padrinho preciso contratar uma pessoa pra trabalhar comigo, estou com umas idéias novas e......

- Ei, esqueceu que agora é a Vice Presidente, que não precisa mais falar comigo para colocar em prática suas idéias.

- Claro que falarei sempre com você, se minhas idéias não derem certo vou dividir a culpa com quem?????

- Sua danada.

- Leninha preciso de sua ajuda em um assunto sério.

- Ahhh meu Deus, lá vem bomba, quando me chama de Leninha.

- Nada disso, é algo simples. Você precisa descansar não é? Então juntei o útil ao agradável assim você descansa e resolve um probleminha.Tenho uma fazenda em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, comprei uns reprodutores há um tempo , mas essa fazenda só me dá prejuízo, gostaria que fosse até lá pré vender o gado e a fazenda.

- Você sabe que faz muito frio no Sul no mês de junho ?

- Sei.

- Você sabe que cheguei do Sul ontem ...? Você sabe que detesto o frio em qualquer mês e que odeio mato, canto de passarinho, silêncio, barro, cheiro de cocô de gado então, eca...?

- Eu sei Leninha.

- Então mande outra pessoa, manda a Kelly, um advogado fará isso melhor que eu!!!

- Não, tem que ser você, mandei o Rodrigo até lá e depois que ele voltou comecei a ter prejuízo.

- Sabia que tinha dedo dele, eu vou, mas em janeiro que esta calor, tudo bem?

- Leninha, tem que ser no máximo a semana que vem, tem leilão por lá não quero perder a chance de vender por um bom preço. Você vai ficar no máximo uma semana, prometo que quando voltar vai ficar 15 dias em qualquer lugar que tenha sol,muito sol.

- Eu não entendo nado de gado, não sei a diferença entre boi e vaca, e estará muito frio por lá, padrinho querido, por favor me tira dessa.

- Agora é padrinho querido.......ris......ris

- Já mandei comprar sua passagem, passei todas as informações da fazenda, do gado pra Vera, é só pegar com ela seu kit sobrevivência.

- Desde quando planejou essa viajem.?

- Hummm, acho que há uns quinze dias.

- A bandida da Vera nem pra me avisar dessa roubada, você esta comprando ela com o quê hem!!!!.

- Com meu charme oras........ris

- Bom vamos almoçar?

- Não posso, tenho que conversar com o Gilberto sobre a contratação do meu novo funcionário.

- Helena, juízo lá na fazenda, venda e volte logo, não quero confusão lá.

- Eu hemm, fala de um jeito que parece que vivo no meio de confusão.

- Conheço você muitoooo bem.

 
Capítulo 1: A vida continua


(por Claudia , adicionado em 19 de Junho de 2005)




Capítulo IV.



Gilberto estava sentando de costas para a porta, saboreando um lanche enorme com o seu tradicional suco de tomate temperado, não viu quando ela entrou, chegou bem perto do seu ouvido e gritou, bom almoçooooo, Gilberto derrubou todo o suco em suas calças devido ao susto.

- Poxa Lê, estou todo sujo.

- Se tivesse almoçando em casa com sua mulher e filhos isso não teria acontecido.

- Adoraria fazer isso, mas hoje estou enrolado.

- E por falar em família como eles estão?

- Estão morrendo de saudade de você né. O Luca pergunta todos os dias por você.

- Não liguei porque estava sem tempo, e quando o Luca começa a falar não para mais, gosto de dar toda atenção pra ele, até achei estranho o Luca não ter ligado.

- Ele esta louco pra pedir o presente de aniversário dele, mas todos os dias ele muda o que vai querer ganhar, por isso não deixei ele ligar pra você.

- Ué porque?

- Ora Helena, você compraria todos os presente que ele pedisse, mima muito.

- Mimo nada, faço minha parte de Tia, só isso.

- E a Esther a Carol,baby ?

- Estão bem? A Esther esta de repouso, nessa última semana não esteve bem, engordou demais e o médico recomendou que ficasse em casa.

- Mais um sobrinho.... cara, tenho que reconhecer, você é muito bom pra fazer filhos lindos e saudáveis e aumentar a nossa pequena família, por isso que te amo.

Ahhh ta, esta me chamando de bom reprodutor, é só pra isso que sirvo?

- Bom toda herança genética é de nossa família, eles teen só um pouquinho de você.....ris. você contribuiu pouco com a herança genética, mas a educação e a bondade, herdaram de você com certeza...ris

- Claro que não, tem que cuidar e alimentar toda sua prole......ris.

- Sobrinho não, sobrinha, dessa vez ela deixou ver, ohh menininha teimosa parece alguém que conheço........ris

- Não acredito!!!! é maravilhoso outra mulher na família.

- Aparece em casa, a Esther tem uma surpresa pra você, todos querem te ver, a Carol quer ir no “pula, pula com a tia Lelê” eu digo que é Lelé ela não acredita....ris

- Você é muito bobo. Vou comprar uma cama elástica pra Carol, assim ela pode brincar sozinha, você coloca no jardim. Essa menina será uma grande acrobata você vai ver.

- Helena, pare de comprar coisas para as crianças, não temos mais lugar pra guardar nada, agora você quer tomar conta do jardim!!!! Ahhh, ela quer pular na cama com você, disse que adora ver as luzinhas da cidade subindo e descendo......ris

- Vou comprar, esta decidido, assim brinco com ela na sua casa e no meu AP. Giba entenda, só tenho seus filhos pra mimar, e eu vou mimar, essa é minha função como Tia, a sua função como pai é educar e a minha é estragar..........ris, não vou abrir mão disso.

- Gilberto, fez a triagem dos candidatos que pedi?

- Sim. Bom dentro do perfil que você solicitou esta difícil encontrar, mas tenho uma ótima candidata acho que você vai gostar.

- Eu pedi um homem esqueceu?

- Helena, ela é muito qualificada e linda sei que você vai gostar.

- Esse é o problema, eu gostar........ris. Preciso que essa pessoa coloque todas as energias no trabalho, que não deixe nada nem ninguém atrapalhar suas decisões. Será meu braço direito.

- Sei disso, pode confiar nela. Ela é casada, não tem filhos, trabalhou 2 anos em Nova Iorque, tem doutorado, e o melhor só tem 29 anos.

Hummmm , bom farei a entrevista, se ela passar tudo bem, caso contrario procure outro pra ontem. Marcou a entrevista pra quando?

- Amanhã 9:00.

- Não vai dar, remarque para 14:oo. Marquei com a veterinária da Bia 8:00 e quero ver os meninos antes de irem pra escola, preciso saber como anda o preparativo pra festa do Luca.

- A Esther esta me deixando doido com isso, quer contratar mágico e o Luca não quer, diz que já é um homem pra isso.

- Concordo com ele, a Esther como toda mãe não vê que o filho ta crescido, vou até lá pra salvá-lo desse mico.

- Vocês mulheres que se virem com isso, tendo cerveja na festa pra mim já esta de bom tamanho

- Bom vou indo, e vê se coloca uma calça limpa..ris

- Vou revidar, me aguarde.......ris

Voltou pra sua sala em cima da mesa encontrou 15 recados de Dani, jogou no lixo sem ler.

- Vera preciso de você.

- Sim Helena.

- Primeiro, não coloque mais recados da Dani na minha mesa, não quero nenhuma informação sobre ela, e não se esqueça não atenderei nenhum telefonema dela. Segundo, você é uma traidora poderia ter me avisado da roubada da fazenda né!!!!

- Ué você não sabia que iria? Ele me disse que já tinha acertado tudo com você.

- E você acreditou Vera??? Sei.... O Marcelo disse que entregou um dossiê pra você com todas as informações. Como punição por sua traição você lerá o dossiê e comprará toda literatura adequada para que eu fique bem informada, compre tudo que for necessário para que eu me transforme em uma especialista sobre gado, fazenda de gado, etc....Agora é exatamente 14:30, preciso desse material em minha mesa 18:00, OK?

- Mas Helena tenho um monte de coisas pra.......

- Vera o tempo esta passando 14:31

Vera saiu com as bochechas vermelhas da sala, sua sorte é que como conhecia bem Helena já tinha lido o dossiê, agora era só comprar os livros.

Helena trabalhou o resto da tarde, pegou o material que Vera entregou pontualmente 18:00 e foi para o seu AP, precisava estudar. Entrou em seu quarto, só nesse momento lembrou que precisava comprar um colchão, ligou pra Vera e solicitou para que providenciasse um.Tomou seu banho, deu comida pra Bia, que a cada dia parecia mais gorda e cansada. – Hummm, durma cedo hoje pois amanhã você vai ao médico mocinha. Bebeu um copo de leite olhou para os livros ficou com preguiça de ler, “ adoraria estar em um braço macio, beijar, fazer amor”, correu até o quarto abriu a porta do armário que ficava trancada onde só ela tinha a chave, pegou uma agenda com capa vermelha, que continha a seguinte palavra na capa “ Emergência”, pensou “não me deixe na mão”.

Abriu na letra A. Procurou pelas anotações ao lado dos nomes, era péssima para associar o nome a uma pessoa por isso anotava características pessoais, lugares , assim ficava mais fácil para lembrar.

Alexia “ Olhos azuis, peitos fartos”, hummm será a companhia ideal pra essa noite, ligou.

- Boa noite a Alexia esta?

- Quem fala?

- Helena, uma amiga dela.

- Ela esta no hospital, teve um lindo bebê ontem.

“ Que sorte a do bebê vai se fartar naqueles peitões” – Ligo depois pra desejar felicidade, obrigada. Riscou o nome de Alexia da agenda “vai ficar gorda e feia”

Ana Maria “ Advogada Masoquista” , hummm é essa; “tenho uma boa transa ainda dou uns tapas nela imaginando que estou batendo na Dani e em minha mãe, ficarei calminha, calminha”. – Ana Maria por favor.

- Ela não esta, quer deixar recado?

- Tem o celular dela? sou uma amiga.

- Infelizmente só poderá falar com ela daqui uns 3 meses, ela esta na Europa.

- Obrigada. “ Ligar só a partir de outubro“ até lá ficarei stressada.

Estou sem sorte com a letra A, vou pular pra B. Berenice “ baiana fogosa” – A Berenice por favor.

- Sou eu, quem esta falando?

- Helena. Lê, ta lembrada?

- Claro, nossa quanto tempo, como você esta? “Que sorte ela lembra de mim”.

- A mesma vida, trabalho, trabalho. Cheguei ontem de viajem, cheguei da Bahia, lá lembrei de você, fiquei com saudade por isso liguei “ uma mentirinha não faz mal a ninguém”. – Pensei em convidar para vir a minha casa, bebemos um vinho,colocamos nossa conversa em dia, que tal?

- Hummm, rissss, proposta maravilhosa, ainda lembro do último vinho que bebemos, passamos um final de semana inteiro fazendo amor, adoraria mas não posso ir.

- Ahhhhh, porque??

- Estou casada Lê, você sumiu depois daquele final de semana. Ai conheci a Mônica, lembra dela? Folheou a agenda duas Mônicas, “droga”

- Haaaa, não. Como ela é, o que ela faz?

- A fisioterapeuta.

- Haaaaaaa, sim lembro dela “ faz uma massagem maravilhosa antes de fazer amor”. Que legal, fico feliz por vocês. Mas apareça aqui em casa quando puder pra conversarmos.

- Ela me mata se souber que estou falando com você, e se souber que irei ai então.

- Credo, parece que arranco pedaço. Diga a ela que devolvo você inteira....riss...

- Você continua a mesma safada de sempre.

- Que nada estou mudada. Bom o convite esta feito, apareça, beijos e até. Riscou da agenda Berenice e Mônica Fisioterapeuta.

- Pulou pra letra C. Caroline “coxas grossas”

- A Caroline por favor.

- Quem gostaria?

- Helena, uma amiga.

- Ela ainda não chegou do trabalho, quer deixar recado.

- Diga que a Helena ligou somente. Com quem eu falei?

- Com Sergio, marido dela.

Riscou mais um nome “ que droga 4 nomes e nada, isso que dá ficar fora de circulação por tanto tempo, preciso atualizar minha agenda”.

Abriu na letra D, fechou os olhos e apontou com o dedo um nome. Débora ao lado estava escrito “Maria Helena”, não lembrou porque fez essa anotação, ligou.

- Oi a Débora por favor.

- Quem fala?

- Helena.

- Não acredito que seja você Maria Helena. Lembrou na hora porque fez a anotação. Estavam transando e a medida que Débora chegava perto do êxtase gritava alto,” isso, continua Maria Helena, não pare Maria Helena”, apenas sua mãe a chamava pelo nome completo, na hora lembrou da sua mãe a repreendendo , “isso, continue fazendo bobagens Maria Helena”........ perdeu o tesão.

- Não, sou só Helena, desculpe foi engano. Desligou o telefone, riscou o nome da garota.

Cansou dessa caça pela agenda. Pulou direto pra letra M, com essa podia contar.

- Má!!!! esta tudo bem com você?

- Lê é você sumida!!!!

- Claro, estou morrendo de saudade, quero te ver agora.

- Em meia hora estarei em sua casa.

- Vem mesmo, estou te esperando, beijos. Ficou super feliz, beijou Bia e foi preparar algo pra comerem. Colocou uma musica bem alegre “ I Belive, Cher” e começou a dançar pela casa, tropeçou em Bia que estava esparramada no meio da sala.- Levanta daí bicho preguiça. Pegou o vinho e a tábua de frios, colocou na sala, sabia que sua visita adorava. Ouviu o som da campainha, olhou através do olho mágico da porta, “ nossa quem será essa mulher enormeee”. Abriu a porta analisando a mulher por instantes.- Má ?

- Claro que sou eu mona!!! Abraçaram-se felizes. Marcos carregou Helena no colo até o sofá e a encheu de beijos.

- Quase fiquei excitada vendo esse mulherão na minha porta, porque não me disse que viria assim toda montada quando te liguei? Eu nunca vi você vestido assim.

- Queria fazer uma surpresa. Acredita que o porteiro não me reconheceu, precisei engrossar a voz pra ele deixar eu entrar.....ris

- Seu bobo avisei que estava esperando você.

Helena ria da situação, conhecia Marcelo desde criança sabia que ele era gay, mas nunca o tinha visto em trajes femininos.

- Nossa você fica a maior gata nessa roupa, confesso que se eu beber um pouco nem percebo esse seu pé 45 e esse seu gogó enorme...risss

- Sua boba. E ai me conta as novidades; como você esta? Cadê a Dani?

- Estou bem. Cheguei de viajem ontem e já ganhei duas coisas.

- Hummm, quero saber, o que?

- Ganhei uma promoção. Tenho 40 % das ações, sou uma das sócias majoritárias na empresa, e vice-presidente também.

- Que legal!!!

- Ganhei também um par de chifres da Dani

- Que chato!!! Nossa quanta novidade, quero saber todos os detalhes. Helena narrou a viajem a Joinvile, a saída de Rodrigo da empresa e o flagra que deu em Daniela. Marcos quase teve um ataque de tanto rir quando ela contou sobre a saída de Dani com o colchão e de como ficou com as ações de Rodrigo. Ele não gostava de ambos, ficou feliz da amiga estar livre dos dois.

- Má pare de rir!!! Tudo foi tão trágico. Você deveria estar me consolando ao invés de rindo feito uma hiena.Além do mais acho que me jogaram uma praga, liguei pra 4 mulheres hoje e acabo a noite com meu amigo biba.

- E desde quando Maria Helena precisa de consolo ou de sorte? Você vive rodeada por problemas e por mulheres uma hora ou outra isso iria acontecer com você. Deus castiga sabia? É fácil enfeitar a cabeça alheia né!!!

- É, eu sei!!! Mas poxa vida precisava ser na minha casa!!! Eu adorava aquele colchão.

- Adorava o colchão......ris...ahhh meu Deus, esta com raiva pelo colchão não pela atitude da Dani.

- Também, mas o colchão era especial, tínhamos uma estória juntos, muitos corpos rolaram por cima de nos dois.......ris.

- Bom, sei de uma coisa que levanta o astral de qualquer mulher.

- hummm, diga!!!

- Oras, cuidar da aparência. Venha trouxe minha necesser. Vamos cortar seu cabelo, tirar essa sobrancelha. Você esta muito relaxada.

- Você sabe que só confio em você né. Não daria meus lindos cabelos pra outro.

- Eu faço todos seus cabelos caírem se me trair.

- Posso trair todo mundo, menos o meu cabeleireiro e melhor amigo.

Enquanto Marcos cuidava dos cabelos, comiam, bebiam e conversavam, esvaziaram três garrafas de vinho.

- Má dorme aqui comigo?

- Onde? você esta sem colchão esqueceu?

- Podemos dormir no quarto de hóspede mas prefiro dormir no tapete da sala abraçada a Bia.

- Ela esta estranha Lê, nem fez festa quando cheguei,

- Amanhã vou levá-la ao veterinário, acho que ela esta doente ou deprimida. Assim aproveito e mato as saudades da Dra. Marta, ai, ai. deu sua risada sacana.

- Lê a predadora volta atacar.

- Volta porque, nunca parei.

- Lê um dia você vai mudar, vai ficar tão perdidamente apaixonada, ai será fiel, vai querer casar de verdade, só espero estar vivo pra ver esse dia chegar.

- Credo!!! você ainda se diz meu amigo, hem. Esta jogando praga? Bateu três vezes na madeira da mesa. Estou bem assim, sem ninguém me controlando, não preciso de ninguém que domine meu corpo e meu coração. Não sei dar satisfações do tipo: Onde estava, com quem estava, porque estava. Além de ter que lembrar de datas de namoro, de aniversário, do dia dos namorados. Não nasci pra dar satisfação da minha vida, e você sabe bem disso!!! Ahhh, sou fiel sim; a minha liberdade, as minhas vontades e desejos, e não a uma pessoa, padrões ou comportamento. Sou assim. Além do mais porque iria querer ter só uma mulher se posso ter todas que quiser?

- Helena e suas teorias amorosas e de vida. Fala e age dessa maneira porque ainda não encontrou uma mulher que a domasse.

- Não são teorias e sim convicções. Bom enquanto essa mulher que me domine não nasce continuarei a viver assim e digo mais sou feliz assim.

- É não adianta mesmo,você é cabeça dura, vai sofrer muito ainda por pensar assim.

- Bom, tenho 28 anos, sofrimento já passei por vários e sei que passarei ainda por muitos, mas nunca sofri por amor, por alguém. Você é o cara mais sentimental que conheço e vive sofrendo por amor e vem me dar esses conselhos e dizer que vou sofrer.Posso até sofrer mas não por isso. Enquanto puder escolher farei sempre a escolha por minhas convicções, esse negócio de deixar o coração mandar em sua vida não é bom.

Olhou para o lado e o amigo estava dormindo, fez o mesmo.


 
Capítulo 2: A Candidata a loucura


(por Cacau , adicionado em 21 de Junho de 2005)






Capítulo V



- Mas que pouca vergonha é essa?

- Ahhhh. Zefinha deixa a gente dormir!!!!!

- Nem largou uma e já esta com outra, hummm ou é outro??

- Zefinha, fica quietinha por favor. Hoje pico você inteira e jogo no rio se não calar a boca, estou falando sério.

Saiu reclamando “Esse mundo esta perdido mesmo, essa menina não tem um pingo de juízo”.

-Leninha vai tomar café em casa com suaaa, seuuu amigo? Ahhh preciso de dinheiro pra fazer compras, eu já falei........ “Zefinha CALA A BOCAAAAAA”, gritaram juntos.

Zefinha era daquelas pessoas que acordam ligadas no 220wts, fala alto, liga o rádio em programas policiais, canta, isso irritava profundamente Helena, que era um ser noturno, adorava acordar após as 12:00 e dormir depois das 3:00 da manhã. Quando isso acontecia seu dia era proveitoso, ficava feliz. Mas como tinha que acordar cedo todos os dias , estava de mau humor todos os dias.Levantou em silêncio arrastou-se até o chuveiro, tomou seu café. Marcos acompanhou seu silêncio, era do time dos notívagos e ainda por cima estava com uma dor de cabeça, efeito do vinho, despediram-se com um aceno de mão. Helena pegou Bia e foi caminhando até o consultório da veterinária. Sentada na sala de espera ficou com os olhos fechados, tirando um leve cochilo enquanto esperava. Sentiu a mão suave de Beatriz em seu ombro. – Helena!!!

Abriu os olhos, deparou-se com a linda loira. – Desculpe Beatriz, estava pensando.

- Sei.......ris. Vamos entrar? O que aconteceu com sua mão? ela esta sangrando, deixa eu ver.

- Ei a paciente aqui é a Bia, não eu. Você é veterinária, esqueceu?

- Não esqueci. Você é mais cachorra que a Bia. Senta ai e fica quieta, faço uma sutura rapidinho.

Esticou a mão e virou o rosto, não suportava ver sangue, agulhas.

- Quanto tempo hem!!!!

- Não tem tanto tempo assim Beatriz. Sabe tenho saudades de você, de nós.

- Helena, tem exatos 2 anos, nove meses e 43 dias.

- Credo que memória hem!!!!

- Não, apenas olhei na ficha de Bia. Lembra que terminamos quando eu a entreguei pra você.

- Claro que lembro, até coloquei seu nome na Bia em sua homenagem. E não terminamos, você terminou comigo injustamente. Ficou me acusando de uma coisa que não fiz. Me deu a Bia e disse, “Uma cachorra merece outra cachorra”

- Helena vai continuar negando até quando que estava naquela boate beijando as duas garotas?

- Eu não estava, era alguém parecida comigo. Eu estava no Rio de Janeiro, mostrei a conta do hotel pra você, encerrei no dia seguinte a noite que a sua irmã disse que me viu na boate.



- Helena ponte aérea existe pra que? Além do mais não existe muitas morenas altas, cabelos curtos e olhos azuis com uma fênix tatuada na nuca né!!!!

- Eu pelo menos já vi umas 3 mulheres com uma fênix tatuada, e morena alta de cabelo curto é o biótipo mais fácil de se encontrar no país como o Brasil. Bia sou uma mulher comum!!!!

Beatriz sorriu largamente. - Helena já conheci mulheres dissimuladas mas você é campeã. Além do mais já se passou muito tempo,vamos esquecer essa estória. Falou a ultima frase olhando nos olhos de Helena.

Helena avançou seu corpo e beijou-a na boca.

- Ai, ai, ai, isso dói, você furou minha mão.

- Então pare de me beijar enquanto faço a sutura, não posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo.........ris

- Esta bem vou esperar , antes que eu fique parecendo uma peneira, toda furada.

Beatriz terminou a sutura, cortou a linha, limpou o local, deu um leve beijo em sua mão. Helena avançou queria mais que um beijo na mão.

- Pare ai mocinha. Foi ameaçada com a tesoura.

- O que houve? A três minutos atrás estava retribuindo meu beijo, agora não quer mais? Beatriz vamos esquecer o passado e viver o presente.

- Por isso mesmo fique longe. Estou com uma pessoa legal, não quero estragar minha relação com ela, pra viver um momento com você. Não quero ser mais um nome na sua agenda telefônica. Sofri muito tempo por sua causa, sua presença ainda me abala, te amei tanto Helena!!! Você é a pessoa mais maravilhosa que conheci, pena ter esse coração frio, calcula todos os passos,deixe seu sentimento fluir naturalmente, madura pra tudo e muito imatura para o amor, não estou afim de esperar você crescer.

- Ta bom, se não quer tentar tudo bem, mas não precisa ser tão dura né.

- Não estou sendo dura apenas falando o que acho, o que sinto, só isso.

- Beatriz entendo você , sei que fiz você sofrer, sei que fui canalha, fui ausente, mas com sinceridade você foi a primeira mulher que eu tive vontade de me entregar de verdade, fui muito feliz com você, de coração sinto sua falta.

Beatriz aproximou-se e beijou-a, não resistiu aos olhos azuis suplicantes. Foi um beijo longo e terno, afastou-se. – Bom, agora vamos cuidar de Bia, foi pra isso que veio. Diga o que ela tem.

Helena disfarçou o seu desejo.

– Ela ta estranha, sempre foi preguiçosa mas desde que cheguei ela só dorme, não quer andar, ta comendo muito, e esta enorme de gorda.

- Deixa eu examinar, vamos colocá-la na mesa.

- Tem um guindaste ai pra erguer esse mamute..........ris

Colocaram Bia com muito custo na mesa. Beatriz começou a examiná-la, depois de um tempo disse.

- Ela esta muito bem Helena, e esses sintomas são naturais no estado dela.

- Como assim estado dela?

- Você não percebeu que ela esta prenha?

- Como assim?

- Ela terá 5 lindos cachorrinhos daqui duas semanas, fiz um ultra-som quando ela esteve aqui com a Daniela.

- A safada nem pra me contar. E você em dona Bia me aprontou essa!!!- Quero saber quem é o pai dessa cachorrada toda, espero pelo menos que seja de uma raça pura. Caramba, que vou fazer agora!!!!

- Calma, tenha calma. Sei quem é pai dos cachorrinhos é um lindo labrador negro. A Dani trouxe a Bia até aqui porque ela estava muito agitada, sugeri que fizéssemos o cruzamento. Quando os filhotes nascerem faremos uma doação ou poderemos vendê-los na petshop.

- Mais uma traição da Daniela, sua e da Bia. Vocês sabiam que eu não concordava, agora ela ta ai sofrendo e depois eu não terei coragem de me desfazer dos filhotes.

- Pare de drama, dormir e comer o dia todo é sofrer? Além do mais você mima muito a Bia, ela não quer andar porque você carrega ela pra cima e pra baixo desde pequena, acostumou mal, bem feito pra você. Quanto aos filhotes daremos eles pra ótimas famílias fique tranqüila. Só fique de olho nela e quando estiver perto de ter os filhotes você a deixa aqui ou irei até o seu apartamento pra acompanhar, tudo vai dar certo.

- Hummm, gostei da parte de você ir até o meu AP. Faço um jantar gostosinho pra nós, que tal?

- Boba, já conversamos sobre isso. Além do mais você tem a Daniela.

- Hãamm, Daniela, nem me fale nesse nome.

- Que tal sairmos hoje a noite pra falar dos preparativos pro nascimento dos nossos filhotes.

- Helena a consulta já acabou pode ir.

- Não custa nada perguntar né, vai que você muda de idéia, sabe meu telefone ......ris ......Bom Beatriz se é só isso vou indo, preciso ver a Esther e os meninos.

- Mande um beijo meu pra eles.

- Então venha cá e me beije pra eu levar seu beijo em meus lábios.

Roubou um beijo. Beatriz não resistiu, cedeu ao doce toque, ao cheiro inebriante, as mãos macias que já passeavam por dentro de sua blusa sobre seu sutiã. Ouviram o barulho de batida na porta, afastaram-se abruptamente. Era a assistente avisando que outro paciente a aguardava.

- Que hora imprópria pra essa garota bater na porta, droga.

- Vá e me ligue se algo acontecer com ela.

Pagou a consulta e voltou caminhando com seus pensamentos em Beatriz. O celular vibrou no bolso do short, deu um pulo, caiu no meio da rua, quase foi atropelada por um carro. Atendeu com um áspero Alô.

- Bom dia Helena, você esta onde?

- No meio da rua, quase fui atropelada por sua causa. “Ai que susto” Acabei de sair da veterinária, estou pertinho da Paulista, porque?

- Tentei desmarcar a entrevista a tarde toda com a Cristina mas não consegui falar com ela, dá pra você dar uma passadinha aqui no escritório.

- Que saco hem Giba, já não estou gostando da garota, se quiser falar com ela terei que mandar sinal de fumaça? Não esta começando bem, além do mais estou de tênis, camiseta, e quero ver os meninos, se eu for trocar de roupa vou demorar.

- Venha assim mesmo, se ela for trabalhar com você é bom que já vai se acostumando a te ver assim, toda desarrumada.

- Não estou desarrumada seu chato ,vou pegar um táxi e chego ai em dez minutos.

Helena desceu do táxi com Bia no colo, caminhou com dificuldade até a porta do elevador, colocou Bia no chão, sentou ao lado pra descansar enquanto esperava. Logo chegou uma jovem de olhos negros bem vestida e perfumada, que olhava a toda momento para o relógio de pulso, impaciente com a demora do elevador.

- É dona Bia, ta pensando que vou ficar carregando você até parir sua prole, pode tirar o cavalinho da chuva, pode levantar e entrar no elevador com suas próprias patas, não vou carregar você já decidi. A jovem ficou observando a conversa de Helena e Bia, com um sorriso debochado nos lábios. O elevador chegou a jovem entrou apressada, enquanto Helena tentava convencer Bia a entrar com as próprias patas.

- Desculpe mas você esta me atrasando, posso subir enquanto você continua o papo cabeça com a sua cachorra?

Helena olhou-a com aquele seu olhar que mata até bactéria a 100 mts de distância. - Se não quisesse chegar atrasada ao seu compromisso deveria ter saído mais cedo, se programado. Prefiro mil vezes ter um papo cabeça com Bia do que com uma pessoa insencivel como você, pode subir, não é justo que a Bia permaneça no mesmo ambiente que você. A jovem ia responder mas a porta fechou automaticamente. Credo que mulher grossa e que olhar gélido, olhou mais uma vez para o relógio, espero que ela não tenha chegado, chegar atrasada para a entrevista não irá causar uma boa impressão. Parou na recepção, tenho uma entrevista com Dona Maria Helena.



Capitulo VI.



Helena entrou no escritório resmungando com Bia em seu colo, jogou-se ao lado da jovem no sofá da recepção.

- Que mundo pequeno hem!!!, quem diria que você viria para o mesmo andar........riu debochadamente.

A jovem permaneceu calada, arrumava a maquiagem em um pequeno espelho, fingiu que não ouviu o comentário.

- Se estamos na mesma sala e no mesmo sofá, será que é para a mesma finalidade ??? Poderia aproveitar a oportunidade e desculpar-se com Bia, por não te-la esperado.

A jovem olhou-a de cima a baixo, analisou a cara debochada de Helena, ficou calada, sentia vontade de ser rude, responder com o mesmo tom irônico, mas algo dentro de si, dizia pra ser cuidadosa.

- Talvez. Eu estou aqui para uma entrevista com Dona Maria Helena, desculpe o mau jeito no elevador. Estou nervosa com a entrevista, dizem que ela é muito rigorosa com horários.

- Ok, estará desculpada se pedir desculpas diretamente a ofendida,a Bia.

A jovem, ficou vermelha de raiva, mas decidiu não fazer o jogo, segurou a cabeça de Bia beijou se focinho e disse " desculpe " sei que deve ser dificil ter uma dona igual a sua e ainda vem alguém estragar o resto do seu dia, desculpe de coração. Helena ficou séria com o comentário.

- Correu tanto pra não chegar atrasada pelo jeito chegou a tempo.

- Ainda bem, ouvi tantos comentários sobre ela que estou com um pouco de medo, veja estou suando frio. Mostrou as mãos.

- É também ouvi vários a respeito

- Quais comentários ouviu?

- Estive aqui na segunda feira para entrevista com o Sr. Gilberto e enquanto aguardava ouvi as pessoas dizerem, “vamos deixar tudo em ordem que a fera esta chegando”, perguntei para secretária quem era fera, ela disse que era Maria Helena a famosa Hilander “ exterminadora de cabeças”. Helena soltou uma gostosa gargalhada.

- Nossa até eu estou começando a ficar com medo dela , isso ainda eu não sabia!!! E o que mais sabe sobre ela?

- Meu tio tem uma empresa de exportação que prestou serviço para a S&TI, ele esta processando a Maria Helena porque ela quebrou o nariz e o braço dele.

- Nossa e ainda por cima ela é violenta......ris. Porque quer trabalhar na S&TI e ao lado dela? Com toda essa ficha eu correria daqui.

- Quero ser a melhor no que faço, não tenho medo das dificuldades, sei que a S&TI é a melhor em Tecnologia da Informação, sei que é a melhor porque ela esta no comando, ela tem defeitos como todo mundo, mas também tem qualidades, todos aqui parecem gostar muito dela, quero aprender com ela, sei que não será fácil, mas adoro desafios e também não tenho medo de cara feia.

- Hummm, bacana, sabe gostei de você, qual seu nome?

- Cristina.

- Prazer sou Maria Helena.

Levantou-se e colocou Bia deitada sobre a mesa de Vera.

- Vera por favor peça para o motorista subir e pegar Bia e me aguardar no carro, ahhh,peça pra candidatar entrar daqui a 5 minutos. Cristina ficou com a cara no chão, não sabia como agir.

- “ Xiiiiiiiii, ferrou tudo. Acho que não vou passar na entrevista”. Vera se divertia com a cara de babaca da novata.

- Fique calma, beba uma água, melhor um café. Não se preocupe, ela gostou de você, conheço bem a Helena, caso contrário ela já teria mandado você embora.

Entrou no escritório jogou uma água nos cabelos e no rosto, vestiu um blazer sobre a camiseta branca, ia colocar uma calça, desistiu da idéia “ falo com ela sentada, ela nem vai perceber que continuo de short, assim não pareço tão informal e ganho tempo”

-Vera, já se passou 6 minutos, cadê a candidata? Falou pelo interfone. Cristina entrou meio sem jeito na sala.

- Sente-se. Não precisa ficar tão tensa, hoje estou sem a minha espada, não costumo cortar a cabeça de meus funcionários no primeiro dia de trabalho. Cristina riu. - Desculpe pelos comentários, não imaginei que fosse tão jovem.

- Bom alguns esclarecimentos. Primeiro, você esta atrasada 2 minutos para a entrevista, mas vou tolerar. Segundo eu não extermino as cabeças, as pessoas acabam perdendo sozinhas e colocam a culpa em mim. Terceiro concordo que sou exigente, objetiva, detesto que não cumpram prazos, horários, fico profundamente irritada com isso, gosto de respeitar nossos clientes e cumprir o que prometemos faz parte desse respeito. Quarto eu não quebrei o nariz nem o braço do seu tio, simplesmente meu cotovelo bateu sem querer no nariz dele, ele ficou atordoando com a dor não viu a minha perna e tropeçou e assim quebrou o braço. “ Cristina segurou o riso”.

- Porque não esta trabalhando com ele?

- Quero trabalhar na minha área de TI, não entendo e não quero aprender nada sobre exportações e importações. Como disse antes quero ser a melhor no que faço.

- Deixa eu explicar as minhas regras. Fique tranqüila não sou perfeccionista. “Cristina fez uma cara de alivio, soltou o ar”. Sou super perfeccionista, gosto de pensar no detalhe do detalhe, gosto de inovar estar na frente de meus concorrentes, portanto trabalho muito todos os dias. Você terá horário para entrar e para sair, se conseguir fazer seu trabalho perfeitamente, caso contrario só terá horário para entrar. Viajo muito e eventualmente você virá comigo, portanto tem que ter disponibilidade. Gosto de pessoas objetivas, que não façam rodeios pra falar, ou sabe ou não sabe, ou viu ou não viu, detesto desculpas.Problemas pessoais ficam na calçada, não podem nem subir o elevador com você. Detesto mentirosos e puxa sacos, portanto nunca minta pra mim ou faça algo só pra me agradar, pense na empresa como um todo, você não trabalha só pra mim e sim para todos os acionistas, funcionários e clientes. E o mais importante, não tenha medo de mim. Não tenha medo de dizer que estou errada, que fui grossa, que poderíamos fazer de outra forma, sei que tenho defeitos mas sei reconhecer quando faço uma bobagem. Bom acho que é só isso. Ai aceita trabalhar na S&TI ao meu lado?

- Cristina estava assustada com tamanha responsabilidade. Helena despejou um monte de coisas em cima da sua cabeça. – Posso beber um café?

Helena analisou-a melhor, conhecia bem a técnica de ler as mensagens do corpo. O corpo de Cristina demonstrava ansiedade, medo, mas ao mesmo tempo confiança, segurança.

Sorveu todo o café. Olhou dentro dos olhos de Helena. – Sim, eu aceito trabalhar com você.

- Gostei de você. É determinada e corajosa. Tem algo pra fazer agora e no resto da tarde?

- Não, estou com o dia livre.

- Ótimo, esta contratada, começa a trabalhar agora, tudo bem? - Vera venha até minha sala. Cristina ficou super feliz, não sabia nem o que dizer.

- Pronto Helena.

- Vera essa é Cristina minha mais nova assistente pessoal, braço direito, dedo duro, fã e puxa saco, não fique preocupada seu lugar de fã e puxa saco numero um ainda esta garantido....”riram” . Pegue todos os projetos que estão em andamento e traga até aqui, quero mostrar a Cristina. Peça pra colocarem uma mesa com computador e tudo que ela irá necessitar na minha sala, quero tudo pronto dentro de uma hora, por enquanto o escritório dela será aqui. Convoque uma reunião com a Kelly, Massumi e Gilberto pra daqui dez minutos quero apresentá-la a equipe. Ahhh, cadê meu café?

- Você parece uma metralhadora, dispara tudo e ainda quer café, vou providenciar. Cristina estava atordoada com tudo, achou que seria mais difícil,mas ficou feliz por começar assim tão rápido.

- Cristina hoje é quinta feira e tenho que viajar na próxima terça à noite, portanto temos pouco tempo para inteirar você de todos os assuntos, então preste atenção em tudo que eu falar, tire suas duvidas, faça perguntas, porque se ficar calada acharei que entendeu e não me preocuparei, se você fizer algo errado por não ter perguntado ou entendido mando você embora, fui clara?

- Sim.

- Quero saber de tudo que acontece aqui, nenhuma decisão séria será tomada sem meu consentimento e aprovação, você esta autorizada a me ligar a qualquer hora do dia ou da noite, lembre-se você será meus olhos ouvidos e boca dentro da empresa. Irá me manter informada. Diariamente e pontualmente as 9:00 enviará relatórios, para meu e-mail, tomarei decisões através de nossas conversas por telefone e por seus relatórios, portanto seja clara e objetiva. Cristina agora a olhava com uma fisionomia séria e preocupada. Não fique com medo, sei que parece complicado. Li seu curriculum e conversei com seu ex chefe sei do que você é capaz, por isso estou te dando tantas responsabilidades.

Kelly, Massumi e Gilberto chegaram para a reunião. Helena levantou da cadeira para cumprimentá-los e ninguém conseguiu segurar o riso diante dela. Vê-la de blazer, short e descalça “ detestava qualquer tipo de sapato” era uma cena hilária. Tirou o blazer e jogou na cadeira.

- Já que vocês estão me sacaneando acabo com a tentativa de formalidade. Quero apresentar vocês Cristina, minha assistente.

- Cristina esse é Massumi, você irá trabalhar ligada a ele, é o nosso gênio. Seja bem vinda a turma.

- O Gilberto você já conhece, é o responsável por você estar aqui. É o nosso diretor de RH, e nas horas vagas é meu cunhado. – Parabéns , ou meus pesames.....ris.

- E a Dra. Kelly, responsável pelo departamento jurídico – Seja bem vinda.

- E a Vera, a minha secretária exclusiva. – Que bom que terei mais alguém pra ajudar a agüentar seu mau humor.

- Engraçadinha, aproveite e ligue pra Esther, diga que estou em uma reunião e que irei para o almoço, diga pra preparar meu prato favorito.

- Bom como todos já sabem, viajarei na terça, vocês formam a minha equipe principal então como de costume quero os relatórios as 9:00, com todas as informações sobre nossos clientes e do atendimento das filiais. Quero que vocês ajudem a Cristina nesse início sem mim, mas aqui no curriculum dela diz que ela é boa em TI e em planejamento, acho difícil encontrar esse perfil em uma pessoa, até hoje só conheço uma, EU. Então nessas duas semanas que ficarei fora espero que prove isso.

Helena conduziu a reunião até 13:00, deu ordens, broncas, fez elogios à equipe,mas sua atenção estava voltada a Cristina, observava todos seus gestos, tinha algo na jovem que ainda não identificou, não sabia se era algo bom ou ruim, mas ela tinha algo que a incomodava, e estava disposta a descobrir.

- Alguém tem mais alguma coisa a dizer? Então vamos almoçar, estou morrendo de fome. Gilberto você vim comigo? Claro que vou, tem um tempão que não como em casa e você sabe que adoro seu prato preferido, a Esther só faz quando você vai lá. Cristina você vem conosco assim conversamos.

Kelly ficou irritada com o convite, Helena nunca a tinha chamado para um almoço em família.

Helena foi até o banheiro e retornou com três sacolas, vamos estou pronta.

Chegaram no estacionamento e Bia estava correndo e brincando com o motorista, ao ver Helena chegar diminuiu o ritmo e deitou no chão.

- Essa cachorra é uma malandra, uma falsa, me vê e finge de morta, cansada, Bia levanta dai, não vou te carregar novamente, Biaaaaaa!!!!! Pegou a coleira e saiu puxando, Bia levantou a contra gosto, mas parou na porta do carro recusando-se a entrar. – Ta bom, vou te colocar no banco só dessa vez hem!!!! Gilberto e Cristina ficaram rindo da cena.

- Deixa que eu dirijo. – Helena não posso morrer hoje, tenho uma reunião importante à tarde, tenho dois filhos pra criar e um a caminho, vê se não corre, por favor.

- Giba nunca bati o carro,fica tranquilo que também não estou a fim de morrer hoje.

Gilberto correu e sentou no banco traseiro, colocou o cinto de segurança.

- Que homem corajoso hem!!!!, fica ai protegido e deixa as damas irem na frente. Você se importa de ir no banco da frente ou quer fazer companhia ao Gilberto lá trás? Não me importo de ir de motorista.

- Vou na frente, não tenho medo. Essas palavras soaram como desafio para Helena, e como um alarme para Gilberto que agarrou o PQP do carro (puta que o pariu) e fechou os olhos.

Helena ligou o motor da Audi TT prata , saiu cantando pneu do estacionamento, acelerou o máximo que pode na subida do estacionamento o carro saiu da garagem parecendo que havia sido lançado por uma catapulta, caiu na avenida principal, ela continuou aumentando a velocidade e cortando os outros veículos, a essa altura Bia estava caída no assoalho do carro. – Helena, olha o carro ai na frente, Helena olhaaa.

- Giba fica quietinho ai atrás, limite-se a sua condição insignificante de passageiro. Cristina tome nota de umas coisas por favor!!!

Cristina permaneceu tranqüila, parecia que estava andando em um carrinho na montanha encantada, abriu sua agenda. – Pode falar.

Helena freava bruscamente, acelerava, tirava fina dos outros carros, nada disso abalava Cristina e essa atitude a irritava mais, quanto a Gilberto estava deitado no assoalho abraçado a Bia. Finalmente chegaram.



Capítulo 1: Uma Adversária de peso


(por Cacau , adicionado em 5 de Julho de 2005)




VII

Nossa, que saudade eu estava de dirigir em São Paulo. Adoro o trânsito, as buzinas e ver a educação dos motoristas. “É impressionante!!!”. Soltou seu sorriso debochado.

- Pode sair, se conseguir andar é claro.

- Por que faz isso? Você sabe que fico enjoado. Estou todo amassado e cheio de pêlos.

Cristina desceu fingindo naturalidade. Não queria mostrar fraqueza e, muito menos, que ficou morrendo de medo, mas suas pernas estavam bambas, suava frio. “Essa mulher é louca, nunca mais entro em um carro com ela ao volante”.

- Você já bateu seu carro alguma vez? Essa maluca deve ter batido umas 100 vezes, pensou Cristina

- Não, claro que não, mas bateram no meu carro 19 vezes.

Cristina deu um suspiro de alivio por chegar ilesa.

Helena pegou as sacolas no carro e entrou devagar no jardim. Queria fazer uma surpresa. Esther observava Luca e Carol brincarem em volta da piscina. Helena abriu uma das sacolas e jogou uma bexiga cheia de água em Luca e outra em Carol, deixando no chão as outras duas sacolas. Correu pra se esconder.

“Tia Lê”, gritaram, saindo para pegar as sacolas. Logo começaram à guerra de água.

- Cristina entre e feche a porta. Deixe-os acabarem com a guerra, senão vai sobrar pra nós também. Vamos beber um whisk puro, pra acalmar os nervos, disse Gilberto ofegante.

Após a munição ter acabado, Helena abraçou os sobrinhos molhada dos pés a cabeça. Sempre saía na pior.

- Nossa como meus bebês estão enormes!!!! Pare de dar fermento pra essas crianças, Esther.

- Lê, fico um tempão sem te ver. Aí penso: dessa vez ela vai chegar mais madura, mais tranqüila. Mas não, continua a mesma moleca de sempre e ainda bota meus filhos a perder. Sabia que eles já estavam vestidos para irem a escola?

- Sério!!! Nem percebi, achei que eles usavam uniforme em casa...(riso).

Lucas e Carol, não paravam de falar, queriam contar todas as novidades. Lê derrubou os dois no gramado e começou com a sessão cócegas.

- Vamos, Lê: tome um banho enquanto as crianças mudam de roupa. Vou pedir pra servirem o almoço.

Cristina andava pela sala e observava cada detalhe, quadros, fotografias. A casa era em estilo eclético, por fora austera mas internamente era moderna e alegre, com brinquedos espalhados pela sala, vídeo game ligado a “TV de 34 polegadas”, um pequeno aparelho de som, câmeras que monitoravam todos os cantos da casa, tudo controlado por um moderno computador.

- Bom com essa bagunça toda não fomos apresentadas, sou Esther irmã de Helena e esposa de Gilberto, e você???

- Cristina, assistente de Helena. Desculpe invadir sua casa entrei correndo com o Gilberto, também estou um pouco atordoada com tantas novidades.

- Começou a trabalhar quando?

- Nesse exato momento esta completando 5 horas. Sorriu nervosa.

- Agora compreendo sua agitação. Helena provoca isso nas pessoas, é super agitada, elétrica e acredita que todo mundo deva acompanhar seu ritmo. Vou dar um conselho, não tente acompanhar as loucuras dela, faça seu ritmo, e deixe isso claro, caso contrario sairá da empresa como as outras em menos de 3 meses, seja bem vinda a empresa e ao nosso lar.

- Obrigada. Ela já teve muitas assistentes?

- Algumas. Ela não tem paciência para explicar, para esperar, é grossa às vezes principalmente quando esta com sono ou irritada, ai as pessoas não agüentam mesmo. Só a Vera pra tolerar esse ser.

- Já tive chefes piores, tenho paciência e sei onde quero chegar, por isso acredito que não terei problemas.

- E onde você quer chegar? Perguntou com uma ruga na testa.

- Quero aprender, ser a melhor. Sei que a S&TI, tem grande reconhecimento do mercado, é uma empresa que olha para o futuro, é inovadora. Ainda terei a Helena como mestra ela pode ser um pouco maluca mas é uma excelente profissional. Esther não foi convencida pela resposta mas preferiu aguardar.

- A Helena já desceu, vamos almoçar?

- Tia Lê, só quando você vem aqui tem batata frita, ovos fritos, banana frita, bacon, hambúrguer.

- Credo que crueldade estão fazendo com vocês!!! Pode deixar: virei almoçar todos os dias, salvarei vocês do brócolis a vapor, do espinafre cozido, do frango grelhado. Esther, isso não é comida de criança. Ta querendo matar meus sobrinhos!!!!

– O que você come que não é comida de criança. Só come bobagens. Não sei como não é gorda, mas deve ter o nível de colesterol nas alturas, suas artérias devem parecer com a Marginal Pinheiros na hora do rush, todas entupidas.

- Você que pensa. Fiz um check-up, estou ótima.

- Então doe seu corpo para pesquisa, pois ter saúde com todas as bobagens que come, sem contar as bebedeiras constantes, isso é um mistério para ser resolvido pela ciência.

- Ciência nada. Quem anda 3 km todos os dias? Quem tem uma vida sexual ativa, além de beber vinho diariamente que faz bem a saúde?

- Lê, você não anda todos os dias 3km. Só se for de carro. Anda às vezes e já fala que é todos os dias. Vinho é recomendado uma taça, no máximo duas, não uma garrafa ou no máximo duas. A explicação só pode estar na vida sexual mesmo... (riso).

- Esther, passamos toda nossa infância comendo salgadinhos, hamburguês, refrigerante e estamos aqui lindas e saudáveis. Você vai deixar as crianças doentes com essa mania natureba.

- Lê, fica quietinha. Você é mau exemplo. Dou um duro danado pra colocar na cabeça deles que é bom comer coisas saudáveis e vem você acabar com tudo em 5 minutos?

- Tudo bem, mas que é um crime o que você esta fazendo com eles, é. Não tem problema. Vamos ao shopping hoje e colocaremos em dia a taxa de gordura necessária nesses corpinhos....

- Êbaaaaaa.

Helena dá uma olhada no prato de Cristina e o que vê a deixa horrorizada, o prato esta cheio de rúcula, tomate seco, queijo branco. “mais uma natureba em minha vida”

- Luca, como está o preparativo para o seu niver?

- Hummm, ta chato. Pergunte pra mamãe.

- Xiii, pelo jeito....

- Fale sargento Esther.

- Pensei em mágico e palhaço, mas o Luca não quer.

- Ele está certo. Que mico, heim? Vai queimar a imagem dele com as garotas!!!

- Agora são dois contra mim. Bom, a mamãe está ajudando a planejar.

- Ahhh, meu Deus!!!! Luca, você comemorará seus 10 anos de black tie, comerá caviar e terá uma orquestra tocando Ray Charles (riso), tudo isso organizado por dono Inrrita.

- Eu não quero, eu não quero!!!!

- Lê, olha como fala da mamãe na frente das crianças e pare de atormentar o garoto. Será que a mamãe faria isso, Lê?

- Acho, não: tenho certeza. Que idéia a sua de pedir ajuda a Dona Inrrita. Lembra da sua festa de 15 anos? Será igual.

- A sua também foi assim.

– Foi??? Não lembro.

- Se estivesse lá lembraria.

- Como assim? Você não foi a sua festa de aniversário?

- Claro que fui, Cristina. Mas fui à festa que fiz, uma festa itinerante na kombi do pai de um amigo meu, o Marcelo. Não ia participar da palhaçada montada por Dona Inrrita.

“A rebelde sem causa, ela ainda não percebeu que tem quase 30” pensou Cristina.

- Até hoje eu lembro. Na hora de cantar parabéns e cortar o bolo, mamãe colocou uma foto sua ao lado do bolo. Parecia até que era em homenagem a uma morta. Ainda tive que dançar a valsa representando você com o chato do seu namorado, o Beto.

- Ele não era meu namorado. Esther sei que você tinha uma queda por ele.

- Ta louca é, tenho bom gosto. Mas o melhor da festa foi você chegar no carro da polícia.

- Dessa parte da festa eu lembro!!!

- Mamãe havia dito a todos que você estava muito doente por isso não estava. Aí chega você bêbada, enrolada no casaco do policial.

- Ué, o que você fez ? “Além de rebelde é delinqüente, onde fui me meter”

- Nada demais. Cheguei na casa do Marcelo, bebemos uma coisinha leve Vodka e cai na besteira de misturar com um baseadozinho. Fiquei legal!! Resolvemos sair pelas ruas cantando nossa liberdade. Estávamos na Kombi. Tinha umas 15 pessoas dentro, na maior algazarra. Paramos na praça da Sé. Estava um calor danado. Não tinha ninguém por perto. Resolvemos nadar nus. Ai veio a policia pra acabar com a festa. Foi muito engraçado todo mundo correndo pelado. Cristina estava perplexa.

- Nossa, que legal tia. Quero uma festa assim!!!

- Tá louco, é? Nuncaaaaaaa.

- Esther, até ter seu primeiro filho não tinha tanto pudor. Você está andando muito com a mamãe. Não se preocupe, Luca. Quando fizer 15 anos comemoraremos com estilo.

- Ahhh, meu Deus. Vou ficar preocupada desde já com a festa de 15 anos do Luca.

Esther se quiser posso ajudar com a festa do mês que vem, pego a Vera e Cristina e faremos um mutirão. Pensaremos em coisas legais.

- Não tendo baseado e bebida alcoólica, aceito a ajuda.

Almoçaram em meio à algazarra de Luca, Helena e Carol. Os dois falavam sem parar como queriam a festa.

-Cristina anote a lista de presentes e exigências dos meninos.

Cristina, pegou papel e caneta, começou a anotar a contra gosto, ao mesmo tempo analisava todos os gestos e palavras de Helena, observou sua mudança de comportamento. Na S&TI, tinha uma postura séria, autoritária, não aceitava ordens, mas com os sobrinhos era diferente, Luca e Carol mandavam e desmandavam na tia. Ela rolava pelo chão com as crianças, tinha um brilho lindo no olhar. Cristina viu felicidade no rosto de Helena naquele momento.

- Cristina quer conhecer a casa?

- Claro Helena. É uma casa muito bonita.

- Essa casa é da nossa família há uns 150 anos. Meu bisavô comprou e foi passando de pai para filho. A casa fica de herança sempre para o filho mais velho. E Esther, como é a filha mais velha, herdou a casa. Fui criada aqui, brincando com meus irmãos, correndo pelo quintal. Conheço cada pedacinho dessa casa, desses jardins. Eu amo esse lugar. Mudei daqui tem apenas três anos por problemas familiares, mas sempre vou para a casa da árvore pra pensar. Meu pai fez aquela casinha pra mim. Ele sempre respeitou meus momentos de solidão. Hoje ela está alugada para o Luca... (riso)

- Quer conhecer?

- Sim.

Subiram por uma escada feita no tronco de uma velha árvore, Helena tirou uma chave do bolso e abriu a escotilha. Ao entrar Cristina teve uma surpresa.

- Nossa que bacana aqui.

- É simples mas é aconchegante, da pra ver as estrelas. A casinha, não era bem uma casinha, tinha um único cômodo e uma sacada com uma rede perto da janela, tela de plasma ligada a uma TV a cabo, fax, frigobar, aparelho de som, um notbook, uma pilha de livros que variavam desde técnicos a esotéricos, um jogo de xadrez sobre a mesinha

- Helena você esta chamando aqui de simples, imagino o que seria mais sofisticado pra você.

- Na verdade fiz uma reforma, era menor, não dava pra andarmos de pé aqui dentro, como gosto do lugar, contratei um engenheiro e um arquiteto ai eles fizeram essas pequenas mudanças.

- É bom termos um refúgio, simples assim, sorriu, pena que o meu esteja tão longe.

- E onde é seu refugio?

- Litoral norte, Ilha Bela, tenho uma casa lá. Também é herança do meu pai.

- Ahh, não é tão longe assim. Três horinhas de carro já esta lá.

- É verdade, mas você está só à meia hora ou a dez minutos se você estiver ao volante, é claro... (riso)

- Também gosto muito do mar, adoro praia, sol. É meu segundo habitat.

-Bom, Cristina vou te liberar de mim por hoje. Volte ao escritório com o Giba, arrume suas coisas, conheça o resto do pessoal. O Gilberto irá apresentá-la a todos. Encontro você amanhã cedinho no escritório. Ahhh, cadê minha lista.

Cristina entregou um papel todo rabiscado, as palavras não faziam sentido. Helena olhou para o papel sem entender. – O que significa isso?

- Helena eu tenho doutorado e pós-doutorado em Ciências Tecnológicas,falo três idiomas, tenho experiência profissional em grandes empresas Americanas, EU não entrei na S&TI para ser sua secretária de luxo. Desculpe mas isso não farei pra você. Pelo que me lembro fui contratada para ajudar a dirigir a empresa e não para ajudar a organizar uma festa de aniversario, se os planos mudaram, procurarei outro local para trabalhar. “Que ser insuportável e petulante, há dois minutos atrás estava boazinha, agora já desobedece minhas ordens”.

Pensou em demiti-la naquele momento. O sorriso desapareceu de seu rosto. A arrogância de Cristina, provocava algo estranho em Helena, ao mesmo tempo em que gostava da audácia, ficava incomodada, não entendia nem o motiva que a levara a convidar Cristina para o almoço, talvez quisesse desmentir a imagem ruim que as pessoas descreveram para Cristina, mas naquele exato momento estava arrependida de sua atitude. Estava com raiva.

- Você tem razão, não deveria nem tê-la trazido a minha casa, não devemos misturar a vida pessoal do chefe com a dos empregados.

- Ok, até amanhã às 8:00, vejo você no escritório. Falou lançando seu olhar de descaso.

- Ok, até amanhã

Helena chamou Gilberto falou algo baixinho em seu ouvido e despediu-se. Você é um grande filho da puta, arrumou uma cobra pra trabalhar comigo. Gilberto sorriu satisfeito.

- E agora meninos prontos para irem ao shopping???

- Êbaaa, claro que estamos.

Helena comprou um monte coisas no shopping: uma cama elástica e um jogo de maquiagem com 50 cores pra Carol, e uma bateria para Luca. Tomaram um lanche no MacDonalds e retornaram pra casa.

Chegando em casa não tinha ninguém. Lê aproveitou e montou a bateria na sala. Luca ficou tocando feito um desesperado, saia sons altos e desconexos das caixas amplificadas. Helena comprou protetor auricular pra toda a família. Colocou um em si mesma e outro em Carol. Deitou no sofá da sala para ser maquiada e penteada por Carol, enquanto assistia Luca tocar. Esther chegou uma hora depois com dona Rita e deparou-se com a cena. Helena dormindo toda descabelada e pintada. Carol testou as 50 cores em seu rosto. Estava irreconhecível. Esther desligou as caixas de som.

- Helena, você esta surda??

Não respondeu, nem percebeu a presença das duas, continuou dormindo com Carol sobre sua barriga. Esther a sacudiu. Abriu os olhos com dificuldade.

- Oi, já chegou?

- Lê, acorda.

Helena não ouvia nada, só via os lábios de sua irmã se movimentarem. “Será que fiquei surda, será que estou sonhando?”. Esther tirou o protetor auricular.

- Tá me ouvindo agora?

- Ai, que alivio. Pensei que tivesse ficado surda.

- Você ficou louca, é? Comprar essa coisa e ainda colocar aqui na sala. Terei um bebê daqui três meses. Precisamos de silêncio sabia?

- Luca, eu disse a você pra escolher algo mais tranqüilo tipo uma guitarra, um baixo, mas não !!!

- Esther, fique tranqüila. Já pensei em tudo. Vou comprar isolantes sonoros e colocarei a bateria no meu antigo quarto. Assim ele pode tocar sem perturbar ninguém. Ele disse que quer ser baterista e ter uma banda, não acha legal?

- Lê, o Luca já disse que quer ser arquiteto, dentista, veterinário, piloto de avião, pai de santo e mais um monte de outras coisas. E você vive alimentando essas fantasias Mas você sabe o dom que ele tem, será um viciado em informática como você. De todos os seus milhares de presentes o único que ele não larga é o notbook. Sabia que ele entrou no computador da escola e estava cobrando pra alterar a nota dos alunos?

- Esse é o meu garoto. Mais esperto que eu, ganhei meu primeiro dinheiro com 12 anos, vendendo o gabarito das provas. E ai Luca quanto lucrou?

- Maria Helenaaaa. Soltou Esther irritada.

- Tia fiquei de castigo por uma semana, e a mamãe proibiu de usar o programa que você me deu pra quebrar senhas.

- Poxa Esther, a culpa foi minha, não precisava ser tão severa com o Luca. Esther, ele tem que provar de tudo pra saber o que quer de verdade. Não farei como a mamãe que reprovava tudo e dizia que eu seria aeromoça, que achava a profissão tão linda, feminina.

- E acho mesmo. Se tivesse seguido essa profissão não seria como é hoje.

- Mamãe, não estou a fim de discutir agora. Vou botar a Carol na cama e volto pra colocar a bateria no meu antigo quarto, ok?

Colocou Carol na cama, retirou sua roupa que estava toda suja de sorvete, maionese e tinta. Colocou um pijama quentinho. Adorava fazer isso. “se sua mãe ver a cor dos seus pés ela me mata”. Desceu, encontrou com Gilberto na sala.

- Nossa!!! Estava em um ritual indígena? Em um, não, em vários pelo tanto de cor em seu rosto... (riso)

- Giba tire uma foto minha. Essa é a primeira obra de arte da sua filha, quero registrar.

Gilberto correu e pegou a máquina digital. Lê começou a fazer varias poses. Sua mãe olhava e balançava a cabeça negativamente. Sentou em frente à bateria colocou a língua pra fora.

- Isso, tia. Tá parecendo à baterista do Kiss.

Ela pegou Luca botou no colo e o sujou com a maquiagem. Os dois fizeram pose com a língua pra fora.

- Gilberto, você ainda ajuda a louca da minha filha estragar seus filhos. Você deveria proibir que ela os veja.

- Mamãe, se ele deixa que você as veja e que conviva com elas, qual o problema de eu estar com elas? Diga, em que é melhor? Concordo que o Giba tem um grande coração. Ele tem que aturar você com seus constantes desaforos, mas o faz em consideração a Esther e a mim.

- Vamos, Luca, dormir. Aqui o ar esta irrespirável.

Tomou banho com Luca, deitaram na cama de solteiro e dormiram abraçados, Lê adorava o cheiro daquele cabelo molhado.

 
Capítulo 1: O Inicio do Fim


(por Cacau , adicionado em 11 de Julho de 2005)








Helena acordou com os dois sobrinhos lhe enchendo de beijos. Hummm, que coisa boa. Desceram para tomar café, depois seguiu direto para o escritório com Gilberto. Ao chegar Cristina já estáva lá.

- Muito bom dia a todos. Está um lindo dia hoje.

Vera sorriu.

- Dormiu com os meninos, Helena?

- Sim.

- Como você sabe, Vera? – perguntou Cristina.

- Pelo seu humor, oras. Ela só acorda de bom-humor quando dorme com as crianças. É bom que vá aprendendo, Cristina.

- Vera, hoje vamos visitar nossos escritórios do interior de São Paulo. Chame o piloto saímos em uma hora. Cristina, pegue com a Vera a pasta de orçamento e metas dos últimos três meses e veja quem não está dando lucro.

Cristina separou a pasta de três escritórios que estávam com um péssimo desempenho.

- São esses escritórios, Helena.

Helena deu uma olhada e decidiu qual visitaria primeiro. Subiram até o heliporto do prédio.

- Bom dia, dona Helena. Faz tempo que a senhora não viaja.

- É verdade, Antunes. Estáva com saudades de pilotar.

Ao ouvir essa frase o coração de Cristina dispara, as mãos ficam trêmulas. “Se a maluca dirige carro daquele jeito, imagino como será em um helicóptero”.

- É, mas hoje acho que não irei pilotar. Tem uns 6 meses que não treino e ainda não tirei meu brevê.

- Deixa de bobagem. A senhora pilota muito bem.

- E ai, Cristina: se importa se eu pilotar?

- Não. Acho até que helicóptero é mais adequado ao seu jeito de guiar.

Helena tirou o blazer. “Mas é atrevida”. Colocou a pasta no banco traseiro e assumiu o controle. Para o espanto de Cristina ela pilotava muito bem, sem fazer manobras perigosas. Isso, até o momento que avistou umas vacas. Deu um vôo rasante e espantou o rebanho. Ria muito, divertia-se vendo os animais correndo desesperados.

Desceram em Piracicaba, pegaram um táxi e chegaram à recepção do escritório. Helena achou estranho. Não tinha ninguém. Foi até a sala do gerente estáva vazia. Foi até as outras salas e todas vazias.

- Quem fechou esse lugar antes de mim???

Caminhou em direção ao auditório ouviu a música “Girl From The Gutter”, de Kina. Abriu a porta estávam todos dançando e bebendo. Entrou na sala dançando acompanhando o ritmo da musica. Pegou um whisk. Cristina a seguiu séria. “Essa mulher é doida mesmo”. Imaginou que Helena ficaria nervosa, mas pelo contrário: estáva bem relaxada.

- Beba um whisk, Cristina.

- Não, Helena. Não costumo beber antes do almoço.

Helena chegou perto do Gerente que estáva dançando coladinho com a secretária. Quando ele a viu, quase teve um colapso.

- Você por aqui? Seja bem vinda à nossa festá de confraternização! - gaguejou.

- Nossa! Adorei sua festa. Tem algum motivo especial?

- Fechamos um bom contrato. É aniversário do boy. Decidi comemorar.

As pessoas foram se apercebendo da presença de Helena começaram a falar mais baixo, diminuíram o som.

- Almeida aproveite que o som está baixo e diga ao pessoal para arrumarem as cadeiras. Eu vou começar o sorteio.

- Sorteio? Que sorteio?

- Faça o que estou dizendo.

Almeida anunciou que a Dra. Helena realizaria um sorteio. Algazarra voltou. O barulho da música misturou-se ao barulho das cadeiras sendo arrastadas. Helena sentou em frente a uma mesa arrumou suas coisas.

- Cristina, pegue caneta e papel e anote bem o nome de algumas pessoas.

- Helena, que sorteio é esse? Você não disse nada - perguntou baixinho.

- Preste atenção: vou mostrar pra você como colocar ordem em uma bagunça sem causar tumulto.

(Voltando-se para as pessoas, disse:)

- É um imenso prazer ver toda a equipe aqui reunida e motivada, com vontade de comemorar. Fiquei feliz pela festa.

Todos sorriram.

- Por isso resolvi fazer esse sorteio.

- Digam seus nomes e departamento? – Helena apontou para três pessoas.

- Eduardo, trabalho no Serviço de atendimento ao cliente.

- Mônica, recepcionista.

- Jair, contabilidade.

- Vocês são os primeiros sorteados. Acabaram de ganhar a oportunidade de trabalhar para nossos concorrentes.

- Como assim? Não entendi - falou Jair, o mais bêbado de todos.

- Estão demitidos.

- Ei, Helena. Calma aí. A idéia da festa foi minha.

- Almeida, ainda não demiti você? Desculpe, vocês não são os primeiros e sim os segundos a serem sorteados.

Silêncio geral. As pessoas não se mexiam com medo de serem apontadas.

- Ei, você de amarelo...Você que estáva vomitando no balde de lixo?

O rapaz balançou a cabeça afirmativamente.

– Por favor, deixe seu nome aqui com a jovem ou passe direto no RH. E por falar nisso, cadê o responsável pelo Recursos Humanos?

Levantou uma bela mulher que olhou fixamente para Helena.

– Sou eu.

– Seu nome?

- Penélope.

“Nossa! Que gata... Essa eu não demitirei – pensou Helena. Olhando para ela, disse: - Sente-se aqui ao meu lado.

Olhou com desejo para mulher. “Preciso me livrar da Cris”.

Falou baixinho:

- Cristina, por favor: vá até a sala do Almeida e intere-se dos assuntos. Assim esse incompetente pode ir embora o mais rápido possível.

Cristina percebeu os olhares que Helena lançou para a garota. Não gostou de ser trocada por ela. Helena aguardou a gostosa sentar ao seu lado. “Ahhh, meu Deus! Preciso acabar logo com essa carência”. Desviou o olhar, precisava se concentrar.

- Alguém tem alguma coisa pra falar? Podem colocar suas idéias. Se acham que estou errada, podem dizer. Não sou a dona da razão.

Silêncio geral.

- Vamos, falem!

Levantou um jovem visivelmente embriagado.

- Você não pode chegar assim no meio de uma festá e ir demitindo as pessoas. Não está certo. Quem você está pensando que é pra agir assim?

- É verdade. O jovem tem razão. Não vou mais demitir ninguém aqui na festa. Diga: qual seu nome?

- Roberto.

- Roberto, por favor: saia da sala e aguarde. Falarei com você daqui a pouco. Gosto de pessoas de coragem.

O jovem saiu da sala satisfeito.

- Penélope, por favor: vá lá fora e demita esse safado. E diga a ele que sou a Dona da empresa. Não quero que ele saia daqui desinformado.

- Alguém tem mais uma sugestão, pergunta, reclamação a fazer? Vou esperar só mais dois minutos.

Fingiu que olhava para o relógio, mas olhava as pernas de Penélope.

- Bom como ninguém quer falar, recomendo que saiam e bebam um café bem forte, lavem o rosto e voltem aqui dentro de 15 minutos para uma reunião. Levantaram o mais rápido possível.

- Helena, já demiti o rapaz.

- Então pegue uma cerveja pra mim porque esse whisk é de quinta categoria. Bebeu sua cerveja e começou a paquerar a jovem até todos voltarem para sala. Começou a falar.

- Alguém aqui sabe qual foi à rentabilidade gerada por esse escritório? Alguém sabe dizer as metas para o final do mês?

Novamente o silêncio.

- Então direi: vocês tiveram o pior desempenho de todos os escritórios. Estão dando um prejuízo enorme pra empresa. Não entendo o motivo da festa. Estávam comemorando o fechamento de um bom contrato ou o fracasso? Ainda compram bebida de quinta pra comemorar. Eu cheguei aqui para colocar esses assuntos e pensar na solução com vocês, mas minha vontade é de fechar o escritório. Deveria fazer isso depois do que acabei de ver, mas não. Vou dar uma chance pra vocês. Estámos na metade do mês e vocês estão abaixo do esperado em 20%. Portanto dou até o final do mês pra alcançarem a meta que é de 30%. Caso contrário, volto aqui no final do mês para uma nova festinha: a do encerramento do escritório. Alguém tem alguma dúvida? Fui clara? Gente pode falar!!! Já mostrei pra vocês que sou uma pessoa aberta a sugestões. Bom, quem cala consente. Na segunda chega o novo gerente. Espero que todos trabalhem hoje com vontade até mais tarde. No sábado e no domingo também. Quero ver a mesma vontade da festá, heim?!! Da minha parte é só isso. Podem voltar à festa.

Olhando para a garota, disse:

-É, Penélope, você tem uma árdua tarefa: a de me manter informada. Ahhh, se você deixar que essa bagunça aconteça novamente em nome da confraternização, integração ou qualquer outra bobagem desse tipo, coloco você no olho da R U A. Bom, pena ter te conhecido nessa confusão. Fique com meu telefone e ligue quando precisar.

Saiu da sala do auditório e foi ao encontro de Cristina.

- E ai, Cristina, já acabou? Já colocou o safado do Almeida pra fora? Podemos ir?

- Não podemos ir, Helena. Ficar a par das coisas leva mais tempo que demitir pessoas, sabia? Acho que você foi muito cruel ao demitir aquelas pessoas.

- Então acredita que teria feito melhor?

Cristina olhou nos olhos de Helena e respondeu:

- Não sei se teria feito melhor, mas teria feito de uma outra maneira.

- Cada um com seu estilo, querida. Acha que fui cruel? Pode até ser, mas animei a galera, oras. No final do mês verá que o aumento da rentabilidade foi significativo. Agora só preciso arrumar um gerente.

Ligou para Gilberto.

- Giba, tive um probleminha aqui em Piracicaba. Preciso que mande um novo gerente. Mande o cara mais carrasco da companhia. Ahhh, já sei: mande o Ezequias, do escritório do Paraná. Ele detestá sair da cidade. Diga a ele que só voltará quando o escritório de Piracicaba estiver 10% acima da meta estábelecida.

- Helena, o cara vai matar todo mundo ai – disse Gilberto.

- O objetivo é esse. Os dias de festa desse escritório acabaram.

Helena voltou para seu apartamento por volta das 23h. Pegou um salame e uma garrafa de vinho sentou-se em frente à TV. Ficou mudando os canais enquanto jantava. Sentiu saudade da Bia. Ligou para Esther.

- Maninha, boa noite. Você está bem? E os meninos?

- Estámos bem. Eles estão dormindo. Está tarde.

- Liguei pra falar com a Bia. Estou com saudade.

-Helena, acho que você está precisando de um médico, um terapeuta...Começou a falar com bichos é porque não está bem.

- Talvez, ando sem amigos. Fico muito tempo fora, perco contato.

- Fale comigo, oras. Precisamos sair pra bater papo sem as crianças por perto. Preciso te contar uma coisa, ontem não deu tempo. Tenho uma novidade.

- Conte. Adoro novidade.

- Fiz uma ultrossonografia e terei uma menininha.

- Esther, isso não é novidade. O Giba já me contou.

- É um bocudo mesmo! Mas ele não contou o restante da novidade: ela terá seu nome Maria Helena.

- Esther, não acredito. Que legal, adorei!!!! Só não sei se ela quando crescer vai gostar tanto.

- Claro que vai, tenho certeza. É um lindo nome.

- Bom, mediante isso, não farei a filmagem do parto: vou contratar uma equipe especializada em filmagem. Ahhh, um fotografo profissional também. Quero fotos e imagens de todos os ângulos da minha sobrinha.

- Lê, tá louca? Fico eu de pernas abertas e você o Gilberto tirando aquelas fotos, depois mostram pra todo mundo. O pessoal do escritório conhece até minhas amídalas.

- Nada disso. Já combinei com o Giba. Dessa vez colocaremos um telão na sala de espera e ficamos assistindo, bebendo vinho e fumando um charuto, com todo conforto – Sorriu e comentou emocionada: - Obrigada, viu? Amo muito você e as crianças. Na verdade, são os únicos que amo.

- Esse é seu problema: amar muito, poucas pessoas. Poderia amar muitos, com menos intensidade.

- Esther e o sermão. Demorou pra começar.

- Ta bom, seja como você quiser.

- Lê, você confia na sua nova assistente?

- Por que, Esther?

- Ela me pareceu estranha, enigmática. Tem algo que não me agradou.

- Você sabe que não confio nem na minha sombra, mas ela parece ser uma profissional competente. Tem um currículo fabuloso. Só perde para o meu - sorriu.

- É linda também. Aposto que esse foi o quesito principal para ser contratada.

- Nada disso, dona Esther. Não misturo trabalho com prazer. Onde eu ganho meu pão não como a carne. Já passei dessa fase adolescente, acredite. Ela tem que aprender umas coisas, mas é uma profissional madura. Estou precisando de alguém assim ao meu lado. Estou sobrecarregada de trabalho. Cansei de estar cercada por incompetentes.

- Bom, se você está dizendo isso, acredito, mas é bom ficar de olho nela.

- Vou ficar pode deixar. Esther, vá descansar e cuide da Maria Helena. Beijos e até a volta. Ahhh, manda um beijão pra Bia. Diga que estou morrendo de saudades.

- Até mais e apareça no final de semana.

Sentou-se no sofá e devorou todas as informações sobre a fazenda e o gado. Dormiu no sofá por volta das 4h30. Acordou as 9h com o toque da campainha. Rolou para o lado e cobriu a cabeça, mas a campainha continuava insistente. Olhou pelo olho mágico. Era Cristina. “Droga!”. Esqueceu que tinha combinado de trabalharem. Abriu a porta, não respondeu ao bom dia. Foi até o escritório pegou umas pastas.

- Preciso que veja todos os balanços dos escritórios, sinalize os que estão com a menor rentabilidade e veja os motivos por estarem ruins, a perda de cliente, a não entrega de produtos, preço etc... Depois trace um plano de ação para resolver o problema, monte um cronograma de visitas e reuniões. Quando tudo estiver pronto, você me apresenta, ok? Fui clara? Entendeu as instruções? Acha que pode fazer sozinha?

- Sim, entendi. Posso fazer sozinha.

- Ótimo, vou dormir. Me chame quando terminar. Se tiver fome é só pegar na cozinha o que quiser. Ahh, o pó de café e o açúcar estão na segunda porta à direita.

Saiu em direção ao quarto. Agora são 9h. Ela não vai terminar tudo isso antes das 17h. Tenho um bom tempo pra dormir. Que delicia!

Cristina achou que teria uma tarefa mais fácil. “Ahhh, estou ferrada. Adeus final de semana”. Partiu pra cozinha, fez uma garrafa de café, sentou na enorme mesa da cozinha. Precisava de espaço e começou a trabalhar. Terminou às 14h. Ficou satisfeita com seu trabalho. Ligou para um restaurante japonês e pediu comida. Foi chamar Helena. Bateu na porta do quarto, uma, duas, três, vezes e não obteve resposta. Abriu a porta. Helena estava nua. Um lençol cobria apenas algumas partes do seu corpo. Cristina admirou por uns instantes aquele corpo moreno. Achava-a bonita e atraente. “Cris, nem pensar. Ela, além de ser sua chefe, é um perigo. Tire essas idéias libidinosas da sua cabeça”. Chamou novamente, mas Helena virou de lado e cobriu a cabeça “Se essa maluca não acordar vou ficar a tarde toda aqui”. Abriu as cortinas e ligou o som. Atitude impensada e perigosa. Helena abriu os olhos azuis com ira. Sua vontade era de apertar o pescoço de Cristina até que ela ficasse sem ar.

- O que está fazendo aqui? Não disse para me chamar só quando terminasse?

- Exatamente. Já conclui o trabalho há uma meia hora atrás - que é o tempo que estou tentando acordar você.

- Espero que tenha saído um bom trabalho. Pelo tempo que levou, duvido. Cristina ficou chateada com o comentário. Saiu do quarto sem dizer nada. Helena tomou um banho. Voltou com a cara fechada. Encontrou Cristina meio à papelada e de um monte de comida.

- Está revisando ou refazendo o trabalho? Ei, você comprou comida para um exército?

- Nada disso, apenas adiantando trabalho pra segunda-feira. Também não sabia o que você gosta de comer. Por isso pedi um pouco de tudo.

Enquanto comia, Helena lia o relatório. Á medida que lia, ia riscando, fazendo observações.

- Bom, não ficou de todo ruim. Se tivesse pensado melhor, gasto mais tempo com os detalhes, ficaria apresentável.

- Como assim??? Fiz o melhor.

- Xiii, se o seu “melhor” é esse, nem quero ver o pior.

Cristina ficou vermelha. Queria pular e apertar o pescoço de Helena, mas conteve-se.

- Então diga o que está ruim no seu ponto de vista que eu corrijo. Já perdi meu sábado mesmo!!!

Helena ficou feliz por ter conseguido irritá-la.

- Vou dizer em que você pode melhorar. Como não conhece ainda todos os escritórios não levou em conta a região, cultura etc.... Por isso não foi feliz em algumas sugestões. Vamos refazer.

- Vamos, não. Eu refaço.

- Vou ajudar. Conheço a empresa melhor que você e duas pessoas pensam melhor que uma. Além de que, quando não estou ao seu lado, não sai um bom trabalho.

Helena redesenhou os gráficos, refez o cronograma, fez a pauta da reunião.

- Você está mudando tudo - reclamou Cris.

- Cristina, limite-se a sua condição de aprendiz e aprenda com a mestra. Não quero um gráfico em forma de pizza, quero um em colunas, refaça agora.

- Mas Helena o padrão para esse tipo de gráfico é em forma de pizza. Fica melhor.

- Não perguntei sua opinião. Disse pra refazer.

Cristina, soltou todo o ar de seus pulmões de uma só vez. Começou a refazer.

- Pronto, acabei seu gráfico em colunas.

- Hummm, ficou bom, mas prefiro o em forma de pizza. Volte para como estava.

- Você me fez perder meia hora pra depois voltar atrás?

- Eu gosto sempre de ter uma alternativa. Aprenda isso: nunca se prenda a um único meio de fazer uma coisa, caso contrário perde a chance de mostrar o melhor.

Cristina olhou para o relógio. Não chegaria a tempo para ir ao cinema com seu marido. Deu de ombros e continuou a refazer o relatório.

- Porque montou um cronograma de visitas para daqui a duas semanas?

- É quando você volta da fazenda.

- Nada disso. Pode agendar para a partir de segunda. Você vai no meu lugar. É só colocar em prática o que estamos escrevendo. Dará tudo certo.

- Não dá, Helena. Não conheço as pessoas. Não posso chegar assim do nada e implantar tantas mudanças.

- Simples, mandarei um e-mail com sua foto, avisando que você é minha representante e que falará por mim. Portanto, não fale bobagens. Qualquer problema é só ligar - por isso ganhou um celular.

E assim correu todo o final de semana regado a trabalho, a disk pizza, disk comida japonesa, além das farpas trocadas pelas duas a todo instante.

No domingo à noite combinaram que Cristina levaria Helena ao aeroporto. Na segunda pela manhã, Helena ligou o computador e foi verificar a previsão do tempo para as próximas duas semanas. Queria saber que tipo de roupa colocaria na mala. Abriu o guarda-roupa e começou a jogar as roupas sobre a cama. Pegou cinco casacos de lã, luvas, cachecol, várias calças jeans, uma camisa xadrez. Fez uma pilha de roupa. Pegou a mala. Ao abrir, achou uns acessórios: uma algema, um pênis de silicone, um chicote, uma máscara. Lembrou da noite de sadomasoquismo que teve com a Dani. Bateu uma saudade...

Ouviu a campainha guardou tudo rapidinho no criado mudo.

– Oi, Cris. Chegou mais cedo?

- O trânsito estava tranqüilo. Já tomou café?

- Ainda não. Estava fazendo minha mala. Enquanto termino você poderia providenciar um. Sei que não é seu trabalho, mas...

- Farei, mas não se acostume. Também estou louca pra beber um café.

Cristina preparou o café. Quando foi entregá-lo, sem querer tropeçou na mala e derramou o café nas costas de Helena.

- Ai, ai, ai - tirou a blusa rápido.

Cristina viu a marca da queimadura.

– Desculpe, me desculpe. Foi sem querer..te queimei.

– Claro que queimou...ai, ai. Sei que não gosta de mim, mas tentar me matar queimada já é demais...ai, ai.

- Quem disse que não gosto de você? Por favor, me desculpe. Não foi minha intenção.

- De boas intenções o inferno está cheio. Fica fria, farei um esforço para acreditar que não foi de propósito. Tenho uma pomada ótima pra isso em algum lugar... - abriu o criado mudo e deixou à mostra seus acessórios. Pegou a pomada. Cristina ofereceu-se para passar.

- Deite-se que eu cuido disso.

Começou a passar delicadamente a pomada. O corpo de Helena reagiu ao toque. “Ai, meu Deus! Que mão macia”. Começou a ficar arrepiada. “Nossa, isso que dá ficar sem transar por tanto tempo”. Cristina percebeu e parou de passar a pomada. Helena virou e sem pensar, beijou-a. Foi estranho, Cristina queria resistir, mas não resistiu. Helena não queria ter beijado mas não conseguia parar. As duas sofriam de vontades ambíguas, mas o tesão falou mais alto. Helena que já estava sem blusa ficou sem sutiã sem saia. Arrancava sua roupa ao mesmo tempo em que tirava a de Cristina. Helena alcançou o pênis de silicone. Quando ia colocar, Cristina sussurrou:

- Se quisesse transar com um homem teria transado com meu marido antes de vir pra cá.

Helena jogou o acessório longe, com raiva.

- Diga o que você quer então? - perguntou segurando com força o cabelo de Cristina pela nuca.

- Eu que tenho que dizer? Pensei que você soubesse o que fazer. Ouvi histórias sobre você. Será que são só histórias, lendas? - disse com um ar desafiador.

Essas palavras deixaram Helena mais excitada e deu um tapa no rosto de Cristina.

- Vou mostrar a você como se faz estória. Depois que terminarmos nunca mais vai querer um homem entre suas pernas.

Helena mordia o corpo de Cristina, sugava os seios, onde sua boca passava deixava marcas, Cristina não reclamava da dor. Sentia mais prazer, tesão. Quando chegou ao sexo de Cristina, percebeu que ela já tinha gozado, mas continuou fazendo sexo oral, quando sentiu que ela gozaria novamente parou.

– POR QUE PAROU? Continue!” - disse ofegante.

Helena olhou em seus olhos, segurou-a pelos cabelos e introduziu três dedos. Cristina ficou com as pupilas dilatadas e explodiu. Contorcia o corpo devido aos espasmos seguidos. Teve seu grito abafado pelo beijo de Helena. Pela primeira vez sentiu seu gosto na boca de uma mulher.

Helena ficou sobre Cristina até seu corpo estar completamente tranqüilo. Olhou em seus olhos e disse:

- Ainda acha que não só estórias ao meu respeito? - falou com um brilho de satisfação nos olhos. Soltou seu sorriso debochado, largando seu corpo cansado ao lado de Cristina.

- Tenho que admitir: você também é muito boa na cama. Foi minha melhor transa - falou colocando seu corpo sobre o de Helena.

Começou um vai e vem, esfregando seu sexo ao de Helena. Tentou morder o pescoço de Helena, levou outro tapa.

- Nunca deixe marca em meu corpo, entendeu?

Obedeceu, levou sua mão ao sexo de Helena. Ao tentar introduzir um dedo teve sua mão retirada.

– Não deixo amadoras me tocar.

Helena tinha um lema: não deixava ninguém tocá-la. Gostava de possuir, não de ser possuída. Assim não se apaixonava. Helena amava ou queria apenas o que não podia ter ou possuir. Quando possuía uma mulher e essa se entregava sem reservas, sem mostrar resistência, ela simplesmente desprezava-as. Adorava os jogos de conquista, sedução. Nisso era mestra.

Cristina sorriu.

- Tudo bem: você quem manda.

Jogou seu corpo para o lado e voltou-se rapidamente. Em segundos Helena estava algemada à cabeceira da cama.

- Cristina, me solte.

- Agora vou mostrar para você quem manda.

- Cristina, estou mandando, me SOLTAAAAAAA.

Cristina começou a beijar o corpo de Helena que no início estava tenso, mas aos poucos foi relaxando. Foi até a mala e retirou um cachecol, cobriu os olhos de Helena.

-Cris, por favor me solte. E tire essa droga do meu rosto. Quero ver o que você está fazendo....

Cristina não deu ouvido, continuou lambendo delicadamente todo o seu corpo, afastou as pernas de Helena e percorreu suas coxas com a ponta dos dedos. Ao contrario de Helena, não usava força. Percorria cada pedacinho de seu corpo com suavidade.

- Helena, quebre seus paradigmas, relaxe, aproveite, tente ficar calma.

Helena foi deixando-se levar pela curiosidade, pelo tesão que essa manobra estava provocando em seu corpo. Usou muitas vezes desse artifício, mas como mestra, e não como aluna. De repente foi penetrada com delicadeza. Sentiu um pouco de dor, retesou o corpo.

-Cristina, pare. Cris, pare! Pare, por favor...

O pênis de silicone entrava e saía de seu corpo com suavidade. Aos poucos foi provocando um imenso prazer.

-Cris, não pare. Não pare, não pare....

Começou a acompanhar com os quadris os movimentos realizados por Cristina. Aos poucos as duas aumentaram o movimento, a respiração foi aumentando, aumentando, aumentando. Helena teve um maravilhoso orgasmo, abafou o grito mordendo os ombros de Cristina. Queria causar a mesma dor do prazer recebido. Cristina retirou o cachecol.

– E ai? Viu quem manda?!!! Foi bom?

- Não, não foi bom. Já tive transa melhor. Quem sabe treinando você aprenda a comer uma mulher - disse irritada por ter sido penetrada, por estar imobilizada e pior, por ter gostado.

Cristina deu-lhe uma bofetada.

- Mentirosa, seu corpo diz o contrário. Gostou, só não é capaz de admitir.

- Nunca ouviu dizer que as mulheres fingem muito bem na cama?!! Você deve fazer isso sempre com o seu marido.

- Nunca fingi. Ele realmente sabe como satisfazer uma mulher, ao contrário de você. – mas pensou: “o babaca nunca foi bom de cama”

- Sem essa. Sei o que fiz e o que provoquei em você. Ahhh, você disse que foi sua melhor transa. Esqueceu?

- Ahhh, eu também menti. Você não foi a minha melhor transa.

Cristina levantou-se e começou a colocar a sua roupa.

- Você pode me soltar agora?!!!!

- Você não é auto-suficiente? Não é boa em tudo que faz? Nunca precisa de ninguém?!!! Então, vire-se. Não vou soltá-la.

- Cristina, solte-me agora. Não estou brincando. Se me deixar aqui assim, eu perder o meu vôo. Juro que te mato quando sair daqui.

Cristina procurou a chave na gaveta. Pegou e colocou sobre a barriga de Helena.

- Se você pedir com jeitinho posso abrir pra você.

- Cristina, não estou brincando!!!! Abra agora.

Cristina pegou a bolsa e a chave do carro.

- Tem certeza que não vai pedir direito?

- Abre a porra da algema, CRISTINA.

- Tenha uma boa viagem, dona Helena - saiu e deixou a porta aberta.

Helena ficou olhando incrédula para a porta. “Essa vaca vai voltar. Não entre em pânico. Ela vai voltar, não entre em pânico”.

- CRISTINA, CRISTINA, CRISTINAAAA. FILHA DA PUTA. VOCÊ ESTÁ NO OLHO DA RUA. TÁ OUVINDOOOOOOOO?

“Helena, pense, pense...você vai conseguir sair dessa a tempo. Vai pegar o avião, vai dar tudo certo”. Olhou a chave sobre sua barriga, virou o corpo e derrubou a chave sobre a cama. Conseguiu ficar de quatro. Tentava pegar a chave com a boca, tentativa em vão, não conseguiu, a raiva que estava de Cristina só aumentava. Eu vou matar essa filha da puta, bem matadinha. “Bem feito pra você Helena, não pode ver uma mulher que já quer beijar, transar, só pensa em se dar bem, transar com todo mundo, vê se aprende, AHHHHHHHHH “

- O que houve? Que posição é essa? Leninha, minha filha, você foi assaltada?

- Fui, Zefinha. Levaram até a roupa do corpo. Graças a Deus que você chegou. Vamos me ajude, ande, estou com pressa!!!!

- Pressa? Tô vendo sua pressa. Se estivesse assim com tanta pressa não estaria presa à cama. Diga: você foi assaltada mesmo?? - falou olhando espantada para o pênis de silicone.

- Ande, Zefinha: é uma longa história. Se quiser, pode pegar o bilau emprestado, só volto daqui duas semanas mesmo.. - disse gargalhando.

- Pare de debochar ou deixo você aí presa.

- Zefinha, querida, ande logo. Preciso estar dentro do avião em uma hora.

Com as mãos livres Helena recolheu as roupas espalhadas pelo chão, jogou na mala, vestiu jeans, camiseta e tênis. Ligou para a portaria e pediu um táxi. Pegou sua pasta e foi voando para o aeroporto. Foi a última a entrar no avião. Sentou aliviada. Já podia ouvir os gritos de Marcelo caso não conseguisse. E se ele ainda soubesse por quais motivos, aí sim, ele ficaria maluco. Olhou para os pulsos. Estavam marcados. “Aquela vagabunda me paga!!!”. Fechou os olhos e lembrou do prazer sentido há pouco tempo. Ficou com seu sorriso sacana no rosto. “Vai ter revanche.”

 
Capítulo 1: O inicio do jogo


(por Cacau , adicionado em 20 de Julho de 2005)




IX



Helena começou a sentir frio no avião. Arrependeu-se de ter deixado todas as suas blusas na mala. Apertou o botão chamou a aeromoça.

- Preciso de um cobertor e um chocolate quente. Essa era a vantagem de viajar na primeira classe.

Ao desembarcar em Joinvile, teve a sensação que congelaria a qualquer momento, estava quase pulando na esteira para buscar sua mala. Ao avistar a grande mala vermelha cheia de adesivos aparecer na esteira saiu correndo empurrando umas pessoas. Abriu a mala no saguão e vestiu um monte de blusas, colocou tanta roupa que estava com dificuldade para andar. Saindo do saguão principal avistou uma mulher por volta de 40 anos, com um corpo bonito, fisionomia séria com uma placa, Fazenda Santa Rita. “Que bom que já chegaram”

- Boa tarde, sou Helena.

- Olá sou Fátima.Estou incumbida pelo Marcelo a acompanhar você nessas duas semanas. Ele pediu que eu a ajudasse com a venda da fazendo e do gado.

- Ok, fico feliz em saber. Mas agora preciso que você me ajude em algo urgente, me tira desse frio por favor!!!! Podemos ir correndo para o carro?

- Claro!!!, o carro é o Troller preto, esta ali. Fátima sorriu ao ver Helena correr para o carro puxando seu braço e a mala ao mesmo tempo.

- Vamos parar em um lugar bacana na estrada assim você bebe algo para te aquecer pois temos mais ou menos duas horas de viagem até a fazenda.

- Ai meu Deus, não acredito!!!! vou congelar até chegar à fazenda.

Pararam em um lindo chalé, Helena bebeu uma xícara enorme de chocolate fumegante. Depois começou a comprar biscoitos, chocolates, compotas era doida por essas bobagens, saiu carregada de coisas. No caminho com o corpo aquecido puxou conversa com Fátima.

- Então me diga o que uma mulher como você faz aqui nesse final de mundo!!!

- Aqui não é final de mundo. É um lugar lindo e tranqüilo, amo essa cidade. Sou dona de umas terras e nas horas vagas sou advogada.

- Como conheceu Marcelo?

- Somos amigos de velhos tempos, trabalhamos juntos por um período, ele me deu a primeira chance de trabalho, considero o Marcelo como um irmão e é só por essa consideração que estou aqui.

- Nossa não sabia que era um sacrifício enorme dar uma carona a uma pobre Paulistana solitária. Sorriu.

- Não é isso, apenas não gosto de servir de babá, da última vez tive que mandar os peões darem um susto em um safado.

- Nossa quem foi o sacana?

- Rodrigo conhece? Ele esteve aqui pra fazer a mesma coisa que você e não resolveu nada. Mania do Marcelo de enviar pessoas que não entendem nada de gado, terra, ai sobra pra mim.

- Conheço bem o Rodrigo, e adianto que não pareço nada com ele. Acho melhor você não generalizar. E quem te disse que não entendo nada de gado?

- Não precisa dizer, conheço mauricinhos e patricinhas à distância.

- Garanto que serei uma surpresa pra você, provarei que esta enganada ao meu respeito.

- Helena nunca me engano com as pessoas, com você não será diferente.

Helena soltou seu sorriso debochado. - Ok Dra. Fátima, apesar de não concordar com os seus padrões de pré-julgamentos, respeitarei sua opinião, vim aqui pra fazer um trabalho e vou fazê-lo com a sua ajuda ou não.

- Calma!!! Eu algum momento eu disse que não iria ajudar?

- Eu, em algum momento pedi sua ajuda?

- Além de patricinha é mimada. Sorriu. O Marcelo bem que me advertiu sobre esse seu jeito malcriado.

Helena olhou-a com o seu famoso olhar mortal, Fátima sentiu um gelo na espinha. O assunto foi encerrado. O restante do trajeto foi percorrido em silêncio.

Chegaram à fazenda por volta 14:00 estavam sendo esperadas para o almoço pelo caseiro José, pela veterinária Leila, por Antonio o capataz . Fizeram as apresentações triviais.

Helena estava cansada e irritada com a advogada, e com o lugar. Para onde olhasse via pasto, árvores,vacas, “ai que tédio”. José mostrou toda a casa, era um antigo casarão com dois andares.

- Reservei esse quarto para a Senhora, tem uma vista linda, da janela poderá ver a centenária mangueira que pela manhã fica repleta de passarinhos cantando, e poderá ver quase toda a fazenda.

- Obrigada, mas prefiro ficar com as janelas fechadas, tenho alergia a pernilongos, borrachudos, muriçocas, a qualquer coisa que voe e pique. Ahhh, fale com os passarinhos pra começarem a cantar só depois das 8:00 ou melhor 9:00 da manha, detesto acordar com o canto dos pássaros. Preciso que vasculhe todo o quarto, não quero encontrar com aranha, barata, rato, lagartixa, cobra, tenho pavor a qualquer bicho.

- Tudo bem dona Helena, não precisa ter medo farei uma vistoria.

Helena jogou-se na enorme cama, fechou o véu que envolvia a cama, sentiu-se no tempo da monarquia, teve pensamentos sacanas....

Desceu para o almoço, enquanto enchia a barriga com a farta comida observava as pessoas, conversava pouco, apenas ouvia, gostava de reconhecer o terreno .

- Então Dona Helena gostou do lugar, perguntou Antonio?

- Estou gostando, mas se estivesse um pouco mais quente uns 30 graus, por exemplo, colocassem mais prédios e carros, tirassem esse canto irritante dos passarinhos tenho certeza que iria amar.

Todos sorriram, Leila gostou do jeito maluco de Helena. “Hum até que enfim alguém interessante nesse lugar”.

- Posso levar você pra conhecer a fazenda após o almoço? Disse Leila

- Vou precisar de um guia mas para amanhã, hoje faremos uma reunião para que eu possa saber a real situação da fazenda, preciso verificar os livros contábeis, vou correr para agilizar a venda do gado e da fazenda quero passar o menor tempo possível por aqui.

- È natural não querer ficar por aqui, esta acostumada com grandes lojas, com muitas pessoas, com muitos empregados pra ajudar com seu trabalho, atacou a advogada.

Helena fixou os olhos azuis na advogada e respondeu:- Apenas não posso ficar aqui porque sou uma mulher muito ocupada e não posso perder meu tempo com algo que posso resolver logo,não sou do tipo que fica assistindo a vida passar, eu faço a vida acontecer, é diferente. Já disse pra não tirar conclusões precipitadas ao meu respeito. Quando Fátima iria fazer sua réplica Leila falou para evitar confusão, pois conhecia bem a língua afiada de Fátima: Bom Helena vamos para a nossa reunião pois preciso ir embora antes do anoitecer.

A reunião correu bem até 21:00. Helena estava louca pra tomar um banho bem quente e deitar em uma cama cheia de coberta. Leila despediu-se com um beijo no canto de sua boca “Ahhh meu Deus, nem aqui tenho sossego, como posso me tornar uma mulher séria”.

Abriu a mala, começou a organizar suas coisas no antigo guarda roupa. Começou a sentir falta de coisas básicas como calcinha , meia, shampoo, esqueceu-se de pegar na correria.

- Que droga !!!! a Cristina me paga. Nesse momento lembrou-se da loucura efetuada pela manhã, não recebeu nenhuma ligação de Cris o dia todo.

“Será que ela voltou para o trabalho? Não posso perdê-la”, arranjar uma pessoa eficiente como Cristina em um curto período era difícil. “Helena você é uma babaca mesmo vai perder uma excelente funcionária porque não consegue controlar sua tara”. Resolveu ligar, pensou no que iria falar. Não queria ser indelicada, precisava achar as palavras certas pra não magoá-la.

“ Cristina, não me relaciono com minhas funcionárias, (era uma mentirinha) desculpe não ter controlado meus impulsos, espero que isso não afete nossa relação profissional, eu já esqueci o que aconteceu, (outra mentira) e espero que você também esqueça, sem nenhum ressentimento. – Humm acho que assim serei convincente. Quando foi pegar o celular o telefone ao lado da cama toca.

“Será que é pra mim?”- Alô.

- Helena, sou eu Cristina. Preciso falar com você.

- Eu ia ligar pra você agora, porque não ligou o dia todo?

- Eu tentei mas seu celular ta fora de área, e só consegui descobrir o número do telefone da fazenda agora.



-Bom Cris preciso dizer umas coisas.

- Espera Helena, deixa eu falar, tudo bem?

- Fale. Disse deitando-se na cama, apreciando a voz macia do outro lado

“ ela vai dizer que foi bom e que esta com saudade”

- Bom Helena, primeiro quero dizer que a reunião correu bem, seu e-mail surtiu efeito, todos os Gerentes foram atenciosos, consegui colocar todos os pontos que combinamos na reunião, na semana que vem espero obter um aumento nas vendas, com a mudança da estratégia.

- Hummm, que bom, sabia que você daria conta do recado.

- Segundo. “agora que ela vai dizer que esta cheia de tesão por mim”

- Eu quero pedir que você esqueça o que aconteceu entre nós pela manhã, pois eu já esqueci, eu nunca transei com um chefe ou colega de trabalho, não sei por quais motivos não controlei meus impulsos e acabei quebrando um dos meus princípios. Quero pedir desculpas por deixá-la presa à cama, e espero que não fique ressentimento entre nós.

“ Filha da puta, ela agora lê meus pensamentos? Ainda rouba , meus argumentos, ela só pode ser telepata”

– Não Cristina, fique tranqüila, sou uma profissional, não misturo prazer ou raiva com trabalho? Mas não diga pra eu esquecer o que aconteceu hoje, se quiser podemos repetir novamente com mais calma e com mais tempo, garanto que não irá se arrepender. Também nunca transei com uma funcionária “uma mentirinha cai bem”, mas aconteceu e foi bom. Garanto que sei separar bem as coisas.

- Não Helena, essa situação não irá se repetir. Não quero ficar conhecida na empresa por transar com você, por ser sua amante. Quero ser respeitada pelo meu esforço, pelo meu trabalho, além do mais sou muito bem casada, nunca transei com uma mulher, acho que me deixei levar pela curiosidade, pelo clima, agora como já sei como é transar com uma mulher, e pra ser sincera não gostei, não vou deixar o fato repetir.

- Quanto a não ter transado antes com uma mulher eu acredito, agora que é bem casada e que não gostou, isso é bem mais difícil de acreditar, vi bem a reação do seu corpo, sei bem do que sou capaz.

- Acredite no que você quiser, não vou obrigá-la a nada, só quero deixar claro que não irá se repetir. Conheço sua fama, sei que transa com todo mundo do escritório, transa com todo mundo que tem vontade, eu não vou entrar para a sua caderneta, pode acreditar!!!

“ Mas que audaciosa”. – Ok, também não quero transar mais com você. Você não faz meu tipo, é amadora, é sem graça, mas sinto dizer que você já entrou para minha caderneta, esta catalogada como a minha pior transa. Bom assunto encerrado e esquecido, mas antes me diga quem esta falando mal de mim pra você? Perguntou completamente transtornada, “vou mandar embora o maldito da boca grande”.

- Que bom que esta tudo certo entre nós, que você entendeu, que não esta magoada. Ahhh, quanto à sua pergunta, a empresa toda fala de você, não falam bem nem mal, apenas falam, esqueça, falam também que você é uma pessoa compreensiva, disse com um ar de deboche. Tenha uma boa noite, amanhã mando o relatório completo da reunião.

- Boa noite. Helena desligou o telefone furiosa. “Quem ela pensa que é, pra me ignorar dessa forma, fingir que nada aconteceu, não acredito que ela tenha esquecido assim tão fácil, que não gostou, ta fazendo joguinho de superiora”. O comportamento alheio de Cristina deixava-a mais excitada. Helena deu por iniciado o jogo, escreveu em sua agenda. Fazer Cristina implorar por uma transa e ficar louca por mim, no máximo 1 mês”.

Cristina desligou o telefone, ficou por um tempo pensando em sua conversa com Helena. “Ela não vai me dar sossego”. Fechou os olhos e lembrou da boca de Helena entre suas pernas, começou a sentir o prazer novamente, nunca tinha sido sugada daquela maneira. Pensou e chegou à conclusão que teve seu primeiro e verdadeiro orgasmo com Helena. Caminhou e sentou-se na cadeira de Helena, olhou para o porta retrato sobre a mesa, viu a foto de Helena com os sobrinhos, estava com um sorriso maravilhoso no rosto, a pele morena, queimada de sol, os olhos azuis, muito azuis como o céu em um lindo dia de verão.Tocou-se e sentiu que estava encharcada, ficou olhando para a foto começou a masturbar-se, desejando que aquela boca estivesse na sua, desejou ser possuída ali naquela cadeira, e devagar teve um orgasmo quente e delicioso. “Sua cachorra, só assim que você vai me ter”

Helena voltou-se para seus problemas imediatos. Tomou seu banho e lavou sua calcinha e meias embaixo do chuveiro escaldante. Pendurou-os na janela do banheiro “amanhã estará seco, e no final do dia vou á cidade e compro outros”. Vestiu o pijama e tentou dormir, rolou na cama de um lado á outro, não conseguia dormir estava parecendo um frango naquelas máquinas de assar. Era sempre assim quando viajava, estranhava a cama, o travesseiro, (também tinha esquecido o Bob, seu fiel companheiro), levantou e abriu a janela pra apreciar a noite. Levou um tremendo susto, nunca tinha realmente visto a escuridão, era impossível enxergar um palmo diante do nariz, não havia luz em nenhum legar da fazenda ou da redondeza, apenas as estrelas no céu, fechou a janela rápido tinha medo do escuro. Ligou para seu amigo Marcos.

-Má, sou eu Lê, tava dormindo? to atrapalhando ?

- Eu sei que é você Lê, ninguém mais me ligaria às 2:00.Não eu não estava dormindo, estava transando com meu namorado, se ligasse 5 minutos antes eu não atenderia.E esta atrapalhando sim, aconteceu alguma coisa grave? Espero que tenha acontecido!!!

- Aconteceu. Eu não consigo dormir, aqui ta muito escuro, Má você sabe que tenho medo, to sem meu travesseiro e sem meu relógio do homem aranha, sabe aquele em que ele fica soltando uma teia? Ele joga a teia em mim e me carrega para um sonho lindo......

- Lê, toma um daqueles seus tranqüilizantes poderosos, fecha seus olhinhos que o sono vem, e pare de frescura.

- Não fale assim, to carente, com frio, e sem sono, fala comigo vai!!!

-Lê, to com um gato gostoso ao meu lado, estou quentinho e morrendo de sono, vai tomar um remedinho e dorme feito um anjinho, vai.

- Ter amigos pra quê hem?? Se não podemos contar com eles nas horas difíceis!!!Ohhh te odeio viu, boa noite.

- E eu te amo Lê, vá e me deixe dormir...

Helena desligou o telefone, pensou em ligar pra Cris, mas falar o quê àquela hora. Teve uma idéia, ligou pra Vera.

- Vera acorde e anote umas coisas.

- Ahmmm, o que? Quem ta falando?

- É sua mestra e dona, A C O R D A A A A A A V E R A, anote antes que eu esqueça!!!!!!

- Helena, acha que durmo com um bloco de notas e caneta amarradas as mãos? Além do mais o expediente ainda não começou, liga mais tarde depois das 8:00 de preferência.

- Ta perdendo mesmo a noção do perigo!!! pare de andar com a Cristina ela esta sendo uma má influência pra você, levante e anote, ou ficarei ligando pra você a cada 15 minutos durante a noite toda, estou sem sono mesmo.

Vera levantou e obedeceu, sabia que Helena era bem capaz de cumprir o prometido.

Helena passou o resto da noite trabalhando, pesquisando, “precisava dar uma lição na advogadazinha”. Dormiu por volta 5:00, às 6:00 em ponto José batia em sua porta.

- Dona Helena, dona Helena, estamos esperando a senhora para tomar o café da manhã e sairmos pra visita como combinado.

Helena praguejou, não queria sair da cama quentinha. Levantou. Foi até o banheiro e soltou um grito.......

- CARALHO, C A R A L H O O O O O O. A calcinha tinha voado pela janela junto com um pé de meia. Olhou pela janela e viu sua calcinha branca repousando serenamente no telhado, o pé de meia não conseguiu ver. Pensou em um meio de resgatar sua calcinha, mas desistiu não pegaria bem andar pelada naquele frio sobre o telhado ”que caralho”. Tomou banho pensando em como iria se virar. Vestiu o jeans sobre a calça do pijama, olhou com tristeza para o único pé de meia na cama, seu pé estava congelado, calçou o tênis, calçou o pé de meia. Foi recebida por Leila, que lhe deu seu melhor sorriso, sentou-se à mesa, ficou boba com tanta comida, comeu feito uma maluca, parecia que ia explodir.

Terminaram o café, Helena foi até o quarto pra pegar a câmera digital e seu bloco de notas.

-Helena vou esperá-la do lado de fora, disse Leila

- OK.

- Ao chegar na varanda já estava à sua espera: Antonio, Jose, Leila e Fátima todos montados em cavalos . Helena levou um susto, nunca tinha montado, olhou e viu um cavalo lindo selado a sua espera.

- Ta pronta perguntou Fátima com um sorriso zombeteiro.

- Se alguém me disser onde é o cambio, o freio e a embreagem do cavalo, podemos ir sem nenhum problema, nem ligo se não tiver cinto de segurança. Todos riram.

- Pode deixar dona Helena, vou pegar o moleza pra senhora.

- Nada disso!!! vou montar o azulão ai, só preciso que me ajude a ficar em cima dele e dê umas instruções rápidas e básicas, eu ando de moto não vou andar á cavalo!!! Leila fez questão de ajudar, mostrou como deveria fazer e partiram.

Helena parecia uma estátua sobre o cavalo, não vazia nenhum movimento brusco com medo de cair.

- Nossa como é alto aqui em cima do cavalo, alguém pode tirar o salto alto do bicho!!! Helena virou a diversão da turma...

Fátima olhava e se divertia enquanto Leila e os rapazes estavam prestativos. Quando Helena estava mais a vontade sobre o cavalo, o nextel vibra em seu bolso traseiro, fazendo que desse um pulo e quase caísse do cavalo.

- Falaaaaaaa, Cristina.

- Ei, bom dia né.

- Só se for pra você!!!

- Não esta curtindo, a vida rural?

- Agora é 8:00, esta um frio de doer, estou sem calcinha e sem meias sobre um cavalo e VOCÊ quase me derrubou, sabia que poderia ter me matado? Estou a uns 5 metros do chão, poderia ter quebrado meu pescoço.

- Ué esta em cima de um cavalo ou de um prédio? Não sabia que no sul dão hormônio de crescimento para os cavalos....disse gargalhando.

- Fala logo e não me enche!!!

- Preciso de umas pastas e a Vera não quer entregar, disse que só entregaria se você autorizasse.

- Fala a verdade, a Vera não faria isso, diga que esta com saudade de mim!!!!

- Eu, saudade? Ainda não deu tempo para ter um sentimento tão nobre. O escritório esta tão agradável!!! Porque será?? Helena fala com ela vai, é urgente.

- Você já disse as duas palavras mágicas para Vera? Por favor e obrigada.

- Helena, já pedi por favor, por misericórdia, perdão por fazer algo que a incomodou, perdão por vir a fazer algo que a incomode, mas ela esta irredutível.

- Estou ficando preocupada, se você não consegue resolver esses simples problemas quem dirá os mais graves.Pare de querer ser comediante e comece a tratar bem a Vera. Deixa eu falar com ela.

- Helena não é bem assim, não sei o que houve, ontem estava tudo bem.

- Não explique o que não dá pra explicar, deixe eu falar logo com ela, antes que minha bunda congele. Cristina passou o telefone a contra gosto para Vera.

- Vera muito bem, continue a fazer o que combinamos, não dê moleza pra ela, quero que ela me ligue a cada 5 minutos se for preciso, vou mostrar quem manda, por hora pode liberar as pastas. Depois que ouviu a voz de Cris ela finalmente sentiu que tinha acordado.

Capítulo 1: Pura razão

(por Cacau , adicionado em 22 de Agosto de 2005)




Helena acordou, olhou para Leila deitada ao seu lado na cama e viu que ela tinha um sorriso estampado no rosto. “ aaah, Maria Helena, você sabe agradar uma mulher...”, pensou ao se levantar cheia de energia. Tinha dois planos importantes na cabeça e queria colocá-los em prática logo. Tomou banho, vestiu-se, olhou para o relógio. 6h30. Pegou o telefone e ligou.



- Vera, acordaaa!



Do outro lado, uma voz sonolenta.



- Hummm...quem é?



- Que pergunta, heim? Sou eu, Veraaa.



- Helena, você não dorme não? Não sabe que horas são? Não sabe que meu expediente só começa às 8h?



- Cala boca, Vera, e levanta. Ô velha resmungona. Se tivesse enviado o que lhe pedi ONTEM, ainda estaria dormindo como um anjinho. Cadê as informações que pedi sobre a Cris?



Vera senta-se na cama e responde impaciente:



- Helena, você pensa que é fácil ter todas as informações que você quer sem que ela saiba ou desconfie? Demorei um tempão pra saber que a flor favorita dela é Orquídea, que a cor preferida é Rosa, e a comida que ela ama, além de salada, é feijoada.



- Credo, que mulher básica...Você levou dois dias pra descobrir isso? Imagino quanto tempo vai levar pra descobrir algo que realmente interesse! – ironizou com irritação, mas depois amenizou o tom: - Bom, mas já é um começo. A partir de hoje quero que ela receba todas as manhãs uma orquídea. Não mande cartão, nem deixe que ela fale ou veja o entregador. Não quero que ela descubra que sou eu que estou enviando.



Vera boceja e pergunta querendo encerrar o assunto:



- O que mais, Helena?



- Você ainda pergunta o que mais?



Vera se encolhe na cama e espera a bronca. Helena continua falando:



- Vera, quero saber tudo sobre ela, sobre a família, sobre o marido. Se ela pratica esporte, se gosta de animais, qual o filme e o livro preferido, se gosta de comédia, terror ou ficção, os lugares onde costuma ir, restaurante preferido. VERA QUERO SABER TUDO, ENTENDEU? Larga de preguiça e levanta. Você tem muita coisa pra fazer.



- Helena você já ouviu falar em direitos humanos? Ahhh, eu te odeiooooooo.



Helena sorriu baixinho:



- Vera, eu TE AMOOOOO.



Desligou e ainda com o sorriso nos lábios, ligou para Fátima.



- Bom dia, Dra. Fátima.



- Bom dia, Helena. Dormiu bem?



- Maravilhosamente bem – disse isso e lançou um olhar malicioso para a bunda de Leila que continuava dormindo - Só liguei para desejar um bom dia.



- Só isso? Não quer mais nada? Tem certeza?



- No momento não. Um grande beijo e tenha um bom dia.



Desligou e caminhou em direção à cama. Aproximou-se devagar de Leila e percebeu que ela estava quase caindo do colchão. Deu um sorrisinho. Chegou bem perto e gritou em seu ouvido:



- BOM DIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.



Leila com o susto caiu da cama. Ainda aturdida, olhou para outra e reclamou:



- Pôxa Helena...que modo carinhoso e romântico de acordar uma pessoa.



Helena ria muito. Não podia se conter.



- Desculpe, mas não resisti. Foi mais forte que eu.



Leila fingiu estar zangada.



- Ajude-me a levantar pelo menos.



- Nada disso.



Helena pulou sobre ela e beijou sua boca. Deslizou a mão sobre seus seios, bunda, mordeu o pescoço, sugou os peitos rijos. Então, tocou-a intimamente com um dedo e percebeu que Leila estava super excitada. Olhou em seus olhos e perguntou com a cara safada:



- Tá com vontade? Quer fazer amor?



Leila respondeu ofegante:



- Claro que quero. Me come agora!



Helena afastou seu corpo, levantou e disse:



- Guarde sua vontade pra noite. Temos muito trabalho a fazer.



Leila ficou parada, aturdida, olhando-a se levantar.



- Pôxa, Helena! Você me provoca, me deixa louca de tesão e depois recua. Que crueldade. Volta pra cá, vem!!!



Helena sai sorrindo e ordena sem olhar para trás:



- Leila, estou esperando você na cozinha pra tomarmos café.



“Tenho que deixá-la com vontade para que esteja em minha cama à noite”, raciocina com um sorrisinho no rosto.



Helena passou o dia todo envolvida com os assuntos da fazenda. Visitou a fazenda vizinha, a do primo do Antonio, reconheceu o gado da Fazenda Santa Rita. “O idiota nem disfarçou as marcas”. Em seguida, conversou com o proprietário, um homem gordo e careca que tinha cerca de 50 anos, chamado Geraldo. Helena saiu da fazenda com vontade de matar o homem. Ele ficou olhando descaradamente para seus seios e, no final da visita, perguntou se não queria que a levasse para conhecer a cidade.



- Que homem nojento, Leila – comentou irritada assim que a encontrou.



- Ele é assim mesmo. Por isso recusei trabalhar pra ele.



- Bom. Você viu que tentei negociar, devolver os bois doentes dele e pegar os meus de volta, mas o Sr. Nojento recusou-se. Portanto, terei que tomar medidas drásticas.



Leila arqueou as sobrancelhas e perguntou:



- Você fará o quê, Helena?



- Nada. Nada no momento!



A semana correu tranqüila: transava com Leila todas as noites, pela manhã cantava Fátima e durante o dia cuidava dos negócios da fazenda e da empresa. Apesar da rotina, pensava da hora que acordava até a hora de ir dormir como faria para conquistar Cristina.



No final da semana, estava tudo preparado para a realização do leilão. Geraldo levou o gado da fazenda Santa Rita para ser leiloado. “Meninos, vocês voltarão pra casa”, pensa Helena olhando para os belos bois.



O leilão iniciou e Helena conseguiu efetuar a venda do gado doente por um ótimo preço. Aguardava ansiosa a entrada do lote de Geraldo, quando anunciaram o lote da Fazenda Gertrudes. Helena fez uma ligação. Cinco minutos depois um carro de som cor-de-rosa estaciona próximo ao local. Do alto falante, ouvia-se uma voz masculina:



- Geraldo. Geraldo, meu amor. Geraldo, apareça.



Foi o suficiente para que iniciasse um burburinho, chamando atenção de todas as pessoas que participavam do leilão. Ao lado do carro estava Marcos, vestido de drag queen. Era ele quem falava ao microfone:



- Geraldo, sei que nosso amor é grande e verdadeiro. Não posso mais viver sem você. Assuma nosso amor pra a cidade, pra sua família. Aproveite esse momento. Eu te amo! Venha ser feliz ao meu lado, serei sua mulher para vida toda. Eu te perdôo por ter me abandonando por tanto tempo. Apareça, Geraldo!!!!



As pessoas saíram para apreciar a cena. Enquanto isso o leiloeiro dava continuidade a venda do gado. E aproveitando o tumulto, Kely arrematou o lote da fazenda Gertrudes pelo preço inicial. Helena ria da cara de Geraldo, ria da situação. Geraldo não entendia nada. Saiu correndo pelos fundos. Helena fez outra ligação.



- Ma, pode acabar com a palhaçada. Já consegui o que eu queria. Beijos. Encontro você na cidade.



- Ok, mas preciso encerrar bem meu show – respondeu Marcos, sorrindo.



- Geraldo, já que você não vai aparecer e assumir nosso amor, não precisa me procurar mais. Devolverei a chave do nosso apartamento, o carro e as jóias. Eu só quero você e nada mais me importa. Saiba que amarei você por toda a minha vida.



Fátima achou tudo muito estranho e engraçado. Foi procurar por Helena para saber se ela tinha algo a ver com aquela algazarra, mas era tarde. Ela já a tinha ido embora. Helena encontrou-se com Marcos no hotel, rindo sem parar.



- Ma, você foi M A R A V I L H O S O!!!!



Abraçaram-se.



- Eu sei disso, amiga. Sou sempre maravilhoso.



- É. Maravilhoso e convencido também. Obrigada, amigo.



- Obrigada, nada. Tá pensando que vai sair de graça? Pode ir pagando um belo almoço regado à champanhe – disse, com a voz afetadíssima.



-Pagarei com o maior prazer.



Nesse momento chega Kelly.



- Helena, que bagunça você aprontou, heim? – disse, sorrindo - Mas felizmente deu tudo certo. A compra do gado foi efetuada por um preço super-baixo. Agora só falta fechar a compra da fábrica de couros. Essa será mais difícil. Geraldo também esta interessado. Conversei com o dono da fábrica e ele disse que já esta quase certa a venda para ele. Fiz a nossa proposta, ele gostou, ficou tentado. Ele vai analisar e dar uma resposta depois. Ele marcou uma reunião com você e com a Dra. Fátima pra amanhã às 10h. Ele quer analisar o que será melhor para a cooperativa.



- Interessante. Kelly, quero que encontre com o dono da fábrica amanhã às 9h. Leve o contrato de compra e venda, além do cheque do pagamento. Quero que faça com que ele assine o contrato até às 10h, entendeu?



- Eu entendi, mas e a advogada?



- Deixa que eu resolvo esse assunto. Falarei com ela.



Depois do almoço Helena voltou para a fazenda. Precisava pensar em um jeito de convencer Fátima a desistir da compra da fábrica. Chegando à fazenda, mandou selar um cavalo e foi dar uma volta. Cavalgou por um tempo. Parou perto de uma árvore e resolver deitar na grama para descansar. Acabou adormecendo. Fátima foi até a fazenda à procura de Helena. Soube que ela havia saído a cavalo e resolveu ir atrás. Não podia esperar. Precisava saber se Helena era culpada por todo aquele circo. Avistou o cavalo, viu Helena deitada na grama e aproximou-se.



- Helena...Helena? Você está bem?



Helena soltou um gemido.



- Helena, fale comigo!!!



Helena abriu os olhos.



- Você está bem? Caiu do cavalo, diga?



Helena meneou a cabeça afirmativamente.



- Consegue levantar? Onde está doendo?



Fátima estava desesperada.



- Calma, só está doendo minha perna. Acho que torci..



- Venha, levante-se. Apóie-se em mim.



Helena, fingindo dificuldade para andar, apoiou-se no corpo de Fátima. Sentiu o cheiro de seu perfume. Pensou: “esse é o momento”. Virou seu corpo, ficou de frente para Fátima, segurou sua cintura e sentiu o corpo da Doutora arrepiar. Viu ela entreabrir os lábios. Não pensou duas vezes, beijou-a. O beijo foi retribuído, no início timidamente, mas depois com intensidade. Helena aproveitou e colou seu corpo ao dela, deslizou sua mão. Queria saber até onde Fátima permitiria o contato. Para sua surpresa, ela não ofereceu muita resistência. Logo estava sugando seu seio.



- Fátima, vamos sair daqui? - sugeriu.



Fátima ajudou-a a subir no cavalo. Perguntava a todo o momento se estava bem.



- Fátima, estou bem. Muito bem. Fui curada por seu beijo.... – e abriu seu sorriso sacana.



Na fazenda, subiram até o quarto de Helena. Fátima ajudou-a a tirar as botas e à medida que retirava, beijava seus pés. “Realmente mereço que beije meus pés. Sou uma deusa”, pensou sorrindo. Helena deixou que Fátima tomasse todas as atitudes. Recebia beijos por todo o corpo. E enquanto debruçava-se sobre ela, Fátima sussurrava entre os beijos que desejava tê-la desde o primeiro dia, que sonhou com Helena todas as noites. Mal ouviu isso, Helena partiu para o ataque. Conhecia todas as formas de satisfazer uma mulher e colocou todo o seu estoque de truques que sabia em prática. Precisava fazer com que Fátima não saísse tão cedo de sua cama. Helena pegou em sua mala o velho companheiro de aventuras e possuiu Fátima por toda a noite. Mais tarde, Helena acordou com o barulho irritante do telefone.



- Alô – resmungou aborrecida.



- Helena, sou eu: Kelly – respondeu a mulher apressadamente - Estou ligando pra dizer que acabei de comprar a fábrica. A Dra. Fátima não apareceu e como não atende ao celular, o proprietário resolver fechar o negócio comigo.



Helena sorriu e respondeu animada:



- Ótimo, Kelly. Parabéns! Conversamos depois.



Fátima acordou e ouviu o restante da conversa.



- Helena, que horas são?



- Exatamente 10h15.



- Caramba! Perdi uma reunião importante, mas não tem problema: você também perdeu.



- Eu não perdi nada. Mandei outra pessoa em meu lugar – respondeu com um sorriso sarcástico.



- Como assim?



- Mandei minha advogada e procuradora. Ela acabou de ligar dizendo que comprou a fábrica de couro.



Fátima ergueu-se da cama com um salto.



- Peraí! Será que entendi direito?



Helena cruzou os braços sobre o peito e olhou-a de forma desafiadora:



- Sim, comprei a fábrica.



Fátima armou o corpo, zangada.



- Sua trapaceira! – gritou, jogando o vaso de flores em Helena, que saiu correndo do quarto.



- Helena, volta aqui sua cachorra!



Fátima pegou um pé da bota e atirou, acertando as costas de Helena que descia a escada. O impacto fez com que Helena rolasse escada abaixo e caísse inconsciente. Fátima arrependeu-se e correu para ver como Helena estava. Viu que com a queda Helena havia cortado o supercílio e estava com o rosto coberto de sangue.



- Ah, meu Deus! Será que eu a matei?



Tomou o pulso de Helena e viu que estava viva. ”Ainda bem que essa peste está viva”, suspirou, novamente zangada. Subiu até o quarto colocou uma roupa e ligou para o caseiro. Pediu para que ele viesse ajudá-la. Pegou a chave do seu carro e saiu. Helena acordou em seu quarto com muita dor. A cabeça latejava. Antonio havia encontrado Helena. Fez um curativo precário a fim de estancar o sangue.



- A senhora está bem?



- Não, não estou nada bem! – resmungou irritada e depois, fez uma cara de dor e iniciou seu melodrama: - acho que vou morrer! Meu corpo todo dói.



Mexeu-se na cama e soltou um grito de dor. Não podia mexer o braço. Antonio apressou-se a ajudá-la:



-Vou levá-la para o hospital.



Antonio colocou Helena na pick-up e a cada sacudida, ela gritava de dor. Enquanto era atendida, Kelly e Marcos chegam ao hospital.



- Cadê Helena? Ela está bem? - pergunta Marcos aflito.



Antonio dá de ombros e responde:



- Essa aí está tirando umas radiografias, mas parece estar bem. Me xingou o caminho todo.....



- Então ela está bem mesmo... – disse Marcos, sorrindo.



Kelly separou-se do grupo e foi procurar informações sobre Helena.



- Vou ver como ela está. – disse



Uma hora depois as duas estão de volta.



- E ai, amiga? Como você está? – pergunta Marcos, aproximando-se.



- Ahh, Má! Não estou bem. Ganhei 5 pontos na testa, ficarei com uma cicatriz horrível e....ah, desloquei a clavícula.



- Cicatriz horrível nesse rosto lindo? Impossível!!!! Ganhou um charme, isso sim...- falou Marcos abraçando-a - Mas me conta como aconteceu?



Nesse momento toca o celular de Kelly.



- Sim, Marcelo. Ela esta aqui. Calma, vou passar pra ela – e olhando para ela, disse: - Helena é o Marcelo. E ele está furioso...



Helena deu um sorrisinho e pegou o telefone:



- Fala, padrinho querido...



Do outro lado, o homem estava com a voz alterada:



- Helena, eu disse pra você ir até a fazenda e vender tudo e não comprar mais coisas! Disse pra não arranjar confusão com ninguém, mas a senhorita atacou a Fátima. DÁ PRA ME CONTAR O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ? - berrou.



Helena afastou o celular do ouvido e olhou para a platéia. Deu um sorriso e retornou:



- Eu não vou contar nada. Gastar meu tempo pra quê se você já sabe de tudo? Se está me acusando é porque já sabe. Só espero que quem tenha contado, feito a fofoca, também tenha dito que Fátima quase me matou e que estou em um hospital nesse momento .



- Como assim? O que está acontecendo? – bufou o homem – Helena, não me provoque mais. Fale logo.



- Não posso falar agora. Vou fazer uns exames, depois te ligo. Desligou o celular e devolveu o aparelho para Kelly.



- Kelly, ele vai ligar novamente. Você diz que não estou bem, que levei 13 pontos...melhor: 15 pontos, que quebrei meu braço em 3 lugares. Bem, diga que estou mal. Só assim ele vai ficar calmo. Depois converso com ele e esclareço tudo.



Kelly lançou um olhar de censura para Helena e disse:



- Eu não vou mentir Helena. Conheço Marcelo. Ele vai me matar e matar você se descobrir que estamos mentindo. Além do mais, ele ficará muito preocupado.



Helena parou e olhou Kelly nos olhos de forma intimidadora:



- Kelly, faça o que estou dizendo! Deixa que depois eu acalmo a fera.



Dois minutos depois, Marcelo voltou a ligar. Kelly caprichou nas mentiras. Cristina, que estava ao lado de Marcelo, ficou apreensiva ao ouvir a conversa.



- Marcelo, a Helena está bem? O que houve?



Marcelo lançou um olhar consternado para a moça.



- Ah, Cristina! Ela não tem jeito: vive procurando confusão. Não sei bem o que aconteceu. Ninguém sabe explicar. Primeiro, a dra. Fátima me liga dizendo que Helena é uma trapaceira, mentirosa e que irá me processar. Depois descubro que Helena está em um hospital, fazendo exames, tirando radiografias. Não entendi o que uma coisa tem a ver com a outra, mas sei que ela está bem. Conheço bem o seu tom arrogante quando está mentindo ou quando quer fugir de um assunto. Só por isso estou aliviado.



Cristina saiu da sala de Marcelo preocupada. Não tinha falado com Helena até aquele momento. Agora entendia por que ela não tinha ligado. Pensou se devia ligar. Não resistiu ao impulso e ligou. Primeiro para o telefone de Helena. Ninguém atendeu. Ligou para Kelly em seguida.



- Helena, é a Cristina. Quer que eu atenda?



Helena ficou agitada e feliz.



- Atenda e diga que estou inconsciente chamando pelo nome dela – respondeu sorrindo.



Kelly olhou-a sério.



- Eu não vou falar isso. Chega de mentiras - disse visivelmente enciumada.



- Tudo bem. Atenda, mas mantenha o que disse ao Marcelo. Não quero falar com ela.



Cristina tentou falar com Helena o resto do dia. Estava preocupada, queria ouvir sua voz nem que fosse para levar uma bronca.


Capítulo 1: O Duelo


(por Cacau , adicionado em 27 de Julho de 2005)




Helena observava tudo, não perdia nenhum detalhe. Perguntava, questionava, tirava fotos, fazia anotações. Fátima estava impressionada com o conhecimento que ela demonstrava, com a firmeza das perguntas e afirmações que Helena fazia. “Será que dessa vez me enganei?”, refletiu.



- Leila, a marca que está nesses bois não são da Fazenda Santa Rita. Sabe dizer por quê?



- Não, Helena. Na verdade não tinha observado. Estou trabalhando na fazenda há apenas um mês. Fiquei mais preocupada em tratá-los já que estavam todos doentes.



- Doentes? Como assim?



- Ainda não sei especificar exatamente. Encaminhei os exames de sangue para um laboratório em São Paulo e os resultados ainda não chegaram. Mas obtivemos uma melhora substancial com a mudança da alimentação. A ração utilizada era de uma qualidade ruim. Não entendo porque a economia.



- Nem eu, Leila – disse Helena, séria - Outra coisa: não encontrei nos registros de compra a aquisição da raça Zebu, apenas da raça Holandesa. E o que essas Zebus estão fazendo aqui?



- Eu não sei. Você deve perguntar para o Antonio e para a Fátima que são os responsáveis pela compra e venda de animais. Eu apenas cuido da saúde deles.



Helena ficou observando Antonio e Fátima conversarem afastados dos demais. Ficou tentando imaginar o que os dois estariam falando. O seu telefone toca novamente.



- Fala, Cristina!!!!



- Helena, assim não dá para trabalhar. Qualquer coisa que eu necessito nessa empresa recebo como resposta: “só com a autorização da Dona Helena”. Você esta me boicotando? Por quê?



- Cristina, que culpa tenho eu se você não é popular, gentil e educada? Só porque você não sabe pedir as coisas, imagina que eu esteja boicotando seu trabalho. Não sabia que você pensava tão mal a meu respeito!



- Helena, conheço você um pouco – rebate Cristina, irritada – Ou você diz pra todo mundo atender minhas solicitações ou vou embora agora.



- Credooooo!!! Está fazendo ameaças agora? Tô morrendo de medo!



- Helena, não estou brincando – diz Cristina num tom cansado - Preciso de liberdade pra trabalhar. Não posso ficar ligando pra você a cada meia hora.



- O que tem de mau nisso, falar com uma pessoa tão agradável como eu? É um privilégio pra qualquer pessoa.



- Pra qualquer pessoa, sim, mas pra mim não é nenhum privilégio.



Helena sorri intimamente e adota um tom sério:



- Bom, passarei um e-mail estabelecendo que todos - “TODOS” - devem ser obedientes à senhorita, ok?



- Muitoooo obrigada. A senhora é muito gentil. Espero falar com você só daqui duas semanas.



Cristina desligou o telefone furiosa. Helena deu um sorrisinho.



- Vamos comer - sugeriu Leila.



- Comer quem? Ops...melhor: o quê? – Helena deu o seu melhor sorriso sacana.



- Vamos comer “qualquer” coisa, Helena. Ainda está muito cedo pra comer alguém – respondeu Leila, com um sorriso acanhado.



Helena estava achando estranha a relação entre Fátima e Antonio. Os dois viviam de cochichos. Intrigada, resolveu perguntar a Leila:



- Esses dois são amigos, namorados, amantes ou tem negócios em comum?



- Não sei, Helena. Conheço a Fátima há um bom tempo, mas é uma mulher reservada. Detesta falar sobre sua vida e muito menos sobre negócios.



- Hummm. Interessante. Vamos comer!



Elas retornaram à fazenda e almoçaram. Durante o almoço, Antonio lança a pergunta:



- Helena, você conhece o Rodrigo?



- Claro que sim. Somos amigos de infância.



- Eu que acompanhei e ajudei o Rodrigo com as tarefas da fazenda. Viramos amigos. Conversei com ele a semana passada e ele não falou nada sobre sua a sua chegada.



- É que não vejo Rodrigo há uns dias. Mas ele recomendou que conversasse com você sobre uns assuntos. Falaremos disso mais tarde. Só nós dois. Tudo bem?



- Tudo bem.



Fátima acompanhava a conversa com curiosidade. Enquanto comiam a sobremesa, Helena pega uma moeda e pede para que Leila escolha um lado.



- Eu quero cara, Helena – responde Leila.



- Ótimo. Fátima, você fica com a coroa. “É mais apropriado pra sua idade” – sorriu intimamente.



- Mas por que está fazendo essas perguntas? Você fará um sorteio? - pergunta Fátima curiosa.



- Sim. Vou sortear quem irá me levar até a cidade para que eu possa comprar umas coisinhas que esqueci.



“Aproveito também pra sortear quem será a minha primeira vitima. Preciso transar com alguém”. Joga a moeda para o alto e....



- A felizarda que irá passar uma tarde inteira em minha companhia é.................Leila!



“Ufa, que bom. Essa já está ganha. Esta noite não dormirei sozinha no escuro”.



- Ainda bem que não fui à sorteada. Detesto fazer compras com meninas mimadas - falou Fátima com ironia.



- Mas eu adorooooo - disse Leila com um olhar encantado para Helena. “Ai meu Deus. Não vou agüentar essa romântica por mais de uma noite”.



Helena pede para Leila esperar um pouco.



- Tenho uns assuntos para resolver com Antonio – e olhando para o homem, diz: - Eu quero ter uma conversa curta e objetiva com você, Antonio. O Rodrigo disse que tem negócios com você. E disse também que você me colocaria a par de tudo, que era para eu acertar tudo com você.



Antonio ajeitou-se na cadeira, um pouco incomodado com a situação.



- Mas, dona Helena...o Rodrigo não me disse nada.



- Então ligue pra ele já que está desconfiando da minha palavra.



Pegou o telefone e entregou para Antonio. O homem pegou o fone e ficou com o ar pensativo. Acabou resolvendo não ligar. “Não quero que ela fique com raiva ou com desconfiança em mim”.



- Não é isso, dona Helena. Confio na senhora. Não vou ligar.



Helena soltou o ar do peito aliviada. Estava blefando.



- Então comece a falar. A papelada que está no arquivo não bate com a realidade da fazenda. Os animais estão comendo ração de péssima qualidade, mas as notas de compra são de uma ração da melhor qualidade. Cadê as vacas holandesas?



O homem fica apreensivo com o tom de voz de Helena e acaba revelando o esquema:



- Bom, a ração e as outras compras efetuadas para a fazenda são efetuadas por mim. Compro uma coisa e pego nota fiscal de outra. É simples. A diferença do dinheiro é dividida. Fico com 20% e o Rodrigo com o restante. 80%. Quanto às vacas trocamos com a fazenda ao lado que pertence ao meu primo.



- Mas não encontrei nenhum documento que confirmasse a transação!



- A doutora disse que não era necessário, pois as pessoas que vêm até a fazendo não conhecem gado mesmo.



- Antonio, tenho uma proposta para fazer: a partir de agora sua participação será de 50%. É só fazer o que eu te pedir e esquecer seu trato com Rodrigo.



- Não sei não, dona.



- Quem está no comando da fazenda sou eu. Se você não fizer o que estou mandando, coloco você na cadeia numa cela ao lado do Rodrigo. A doutora Fátima não poderá ajudá-los pois estará bem ocupada numa prisão feminina.



Antonio pigarreou. Pensou um pouco.



- Tudo bem. Se não aceitar, só terei a perder mesmo.



- Com certeza. Então não fale nada da nossa conversa com o Rodrigo e principalmente com a doutora. Se você falar, eu saberei. E então não pensarei duas vezes: colocarei você no xadrez, entendeu? Agora saia da minha frente.



Antonio entrou na sala principal, seguido por Helena. Fátima olhou curiosa para os dois.



- Fátima, como você sabe preciso ir à cidade com a Leila. Portanto, esteja aqui amanhã depois do almoço. Assim acertamos como faremos a venda do gado e da fazenda. Tudo bem?



- Sem problemas. Estarei aqui. Assim terminamos esse assunto e não precisarei mais voltar.



- Nossa, não sabia que minha companhia era tão ruim – ironizou Helena, com um sorriso sacana nos lábios.



- Não é isso - falou sem graça - Apenas tenho que resolver meus compromissos.



- Ok. Sem problemas. Vamos, Leila! – então olhou para o homem - E Antonio: não esqueça da nossa conversa.



Sorriu para a garota e pediu:



- Leila, me dê as chaves. Eu mesma dirijo.



Leila entregou a chave da pick-up. Arrependeu-se 5 minutos depois. Helena acelerou o veículo levantando poeira na estradinha de terra. Cada vez que passava sobre um buraco, dava um grito de felicidade. No percurso, olhou pra Leila e disse:



- Adoro dirigir. Não agüentava mais andar em algo que não tem motor.



Ligou o rádio procurou uma estação que não tocasse musica regional ou sertaneja. Uma busca em vão.



- Leila, deixa eu ver seus CD´s. Quero ver seu gosto musical.



- Deixa que eu mostro. Dá pra diminuir a velocidade? Meu carro é 4X4, mas não é bom abusar – disse, preocupada. Depois, vai remexendo nos CDs e fala: - Nem vou mostrar os sertanejos. Sei que você vai descartar. Tenho MPB. Serve?



- Não agora. Quem sabe mais tarde?...Não tem algo parecido com rock?



- Serve Nirvana?



- Hummm. Antigo, mas gosto dos clássicos.



Helena colocou o CD e ficou cantando “Come As You Are”, tentando imitar Kurt Cobain ao balançar os cabelos curtos. Leila foi rindo o caminho inteiro do jeito desengonçado e moleque de Helena. Pararam em frente ao Shopping Mueller Joinville.



- Ahhh, me sinto em casa - disse Helena ao entrar no shopping.







Comprou botas, meias e muitas calcinhas. “Agora podem voar uma por dia se quiserem”.



- Helena, tem um lugar maravilhoso que quero você conheça – disse Leila. Ela a levou até o Mirante, uma torre localizada no alto do Morro da Boa Vista, a 250 metros de altura.



Helena ficou maravilhada com a vista panorâmica de Joinville, da Baía da Babitonga e São Francisco do Sul. Estavam sozinhas na torre final de tarde e puderam apreciar o pôr-do- sol. Helena aproximou-se de Leila e falou baixinho em seu ouvido:



- Realmente, é linda a vista daqui, mas a lembrança que levo do lugar é a do seu rosto observando o horizonte – disse, dando um beijo suave no seu pescoço.



Percebeu que Leila ficou vermelha e arrepiada com a sua proximidade e com as palavras que disse. “Essa já está ganha. Hummm. Terei alguém pra esquentar meus pés”.



- Vamos!!! Segurou a mão de Leila e desceram as escadarias que levavam a torre. Chegaram à fazenda por volta das 21h.



- Bom, Helena. O passeio foi maravilhoso, mas está tarde. Preciso ir. Vejo você amanhã – disse Leila num tom nervoso.



- Nada disso. Vamos jantar a saborosa comida da dona Eugênia. E você vai dormir aqui hoje. Nada de pegar essa estrada escura e fria.



- Tenho que ir. Não avisei meus pais. Não tenho roupa pra dormir...



- Roupa é que não irá faltar. Comprei um monte de calcinhas e meias. poderá escolher o que quiser.



- Ahhh. Só vestirei calcinha e meia?



- Claro! Tem algo mais sexy?



Helena desceu da pick-up fez a volta. Abriu a porta e colocou Leila sobre os ombros.



- Já que não vai com as próprias pernas, irá com a ajuda das minhas.



- Coloque-me no chão! Pedindo com esse jeitinho não tenho como rejeitar.



Entraram na casa sorrindo. A mesa já estava posta. Comeram muito, falaram bobagens. Leila sentia saudade de São Paulo e estava adorando o jeito como Helena contava as novidades sobre bares e boates novas.



- Podemos subir e tomar um bom banho. Depois podemos continuar a conversa bebendo um bom vinho. O que acha, Leila?



- Acho uma ótima idéia.



Subiram. Helena mostrou o quarto de hóspedes e fez com que Leila escolhe-se uma calcinha. Em seguida foi tomar o seu banho. Cantava no chuveiro.



Então já era

Eu vou fazer de um jeito que ela não vai esquecer

Se for já era

Eu vou fazer de um jeito que ela não vai esquecer



Saiu feliz do banho, colocou um conjunto de calcinha e sutiã branco de renda que ressaltava a cor da pele morena. Colocou o edredom no chão e, ao lado, duas taças e uma garrafa de vinho. Resolveu acender a lareira do quarto. Assim montava um clima romântico e ficaria aquecida. Espalhou o álcool gel sobre a lenha, riscou o fósforo e aos poucos o fogo foi aumentado. Ficou ajoelhada em frente à lareira observando o fogo. De repente, Helena começa a gritar com toda a força dos seus pulmões. Joga-se na cama, fechando a cortina de tule. Dois enormes morcegos saíram da lareira e entraram no quarto, voando de um lado para o outro do quarto, sem rumo, debatendo-se nas paredes. Difícil saber se Helena estava com mais medo dos morcegos ou se os morcegos estavam com mais medo de Helena.



Leila ouve os gritos e corre apavorada para o quarto de Helena. Vê os morcegos, abre a grande janela e no mesmo instante os animais ganham a liberdade.



- Pronto, Helena. Eles não fariam mal a você. Pode sair debaixo das cobertas.



- Tem certeza? Não esta me enganando?



Leila foi até a cama, descobriu o corpo de Helena, viu que ela estava tremendo com o susto. Abraçou-a e beijou sua testa, beijou sua bochecha, beijou timidamente os lábios de Helena. Essa foi a senha para que Helena a beijasse com vontade, tesão...



.........................

 
Capítulo 1: Quem é essa mulher?


(por Cacau , adicionado em 11 de Setembro de 2005)




Helena voltou para fazenda acompanhada por Kely. Marcos, que não pôde ficar, embarcou no mesmo dia para São Paulo. Helena sentia muita dor no corpo. Deitou-se. Precisava descansar. Mas não conseguiu dormir. Queria mesmo era ir embora. Precisava urgentemente de sua cama, do transito, da poluição. E de Cristina. É, embora não quisesse admitir, sentia falta de Cristina. Todas as noites que esteve com Leila só pensava em Cris. Sentia na pele o seu cheiro e o gosto.



Helena não sabia ao certo como lidar com esse sentimento novo e desconhecido para ela. Claro, já tinha falado para algumas mulheres que as amava, mas tinha falado da boca pra fora. Nunca tinha amado ninguém de verdade, nunca sofreu por amor. Mas agora... sentia uma dor desconhecida. Será que estava começando a amar Cris ou apenas queria muito algo que não podia ter? O jogo da conquista a excitava. Sempre foi assim. Estava acostumada a não ficar com a pessoa conquistada. Depois de ter, esquecia, partia para outra. Adorava cultivar a idéia de que “a fila tem que andar”.



Inquieta, levantou. Queria ligar para Cris. Mas desistiu. Resolveu tomar as últimas providências para poder ir embora o mais rápido possível.



Helena reuniu todos os funcionários da fazenda e demitiu metade deles, incluindo Antonio.



- Detesto ser enganada, roubada, por isso todas essas pessoas foram demitidas – disse, diante da pequena platéia atônita – Vocês que permaneceram, andem na linha pois não pensarei duas vezes pra mandar qualquer um embora. Não quero ver a Doutora Fátima e o Antonio dentro da fazenda. Se passarem da porteira, e eu souber, demito todos vocês, entenderam? Amanhã chega o novo administrador da fazenda. Ele tem total liberdade pra mudar o que quiser aqui. Bom, fui clara? Alguém tem alguma dúvida? Querem falar alguma coisa?



Ninguém se pronunciou. Helena continuou no tom duro:



- Já que o silêncio impera, voltem ao trabalho.



Kely aproveitou a situação e cercou Helena de atenção. Esperou muito por esse momento. Apaixonou-se por ela logo que entrou na empresa e procurava estar sempre por perto. Não media esforços para agradá-la e para realizar todos os seus desejos. No entanto, não entendia porque Helena nunca aceitou sair com ela e porque nunca ganhou uma cantada. Ganhava elogios, gratificações, presentes, mas não era isso que queria, o que realmente desejava.



Então, perseguia Helena nas boates, bares e fazia tudo para ser vista. Um dia, sem resistir, disse a Helena que aceitava ser sua amante. Era puro desespero. A cartada final. Helena via nessas atitudes um amor doentio e por isso em nenhum momento alimentava as esperanças de Kely. Sabia que se saísse com ela pelo menos uma vez nunca mais teria sossego. Não queria uma maluca em seu pé.



Agora, lá estava Kely de novo, esperando uma chance. Certa de que se ficasse mais de um dia sozinha na fazenda com Kely poderia ceder, Helena fez sua mala e voltou pra São Paulo na manhã seguinte. Não, não iria correr o risco.



Helena chegou ao escritório sem avisar. Respirou fundo. Ainda no corredor encontrou com alguns funcionários que começaram a questionar sobre seu estado de saúde.



- Nossa, Helena. O que aconteceu com você? - perguntou Bete, gerente da contabilidade.



- Ah, meu Deus! Estou tão mal assim? – fez uma careta brincalhona - Tive um pequeno problema com o freio do cavalo. Parei de repente e voei por cima do bicho. Deu nisso.



- Mas por que seu olho está roxo? – indagou a secretária do Marcelo.



Helena sorriu:



- Só parei de voar por que meu olho foi atingido pela cerca.



- Nossa! Deve ter doido muito!



Helena cruzou os braços e lançou um olhar repleto de malícia para a secretária:



- Pra falar a verdade, ainda dói. Meu corpo todo dói. Quem sabe você não passa na minha sala mais tarde pra fazer uma massagem? Dizem que suas mãos são milagrosas – completou, piscando o olho.



Mal conclui a frase, Cristina aparece no corredor. Helena a vê e fica paralisada. “Nossa! Como ela está linda”. Então, coloca o seu melhor sorriso no rosto e espera que Cristina se aproxime. Helena nem ouve mais as perguntas que os outros fazem. Fixa seus olhos em Cris.



Cristina se aproxima lentamente e seus olhos se cruzaram. Sem parar de caminhar disse:



- Oi.



Helena ficou atônita. Oi?. “É só isso que ela tem a me dizer depois de tantos dias sem me ver?”. Helena fica sem reação. Vê Cris se afastar, larga as mulheres no corredor sem dizer uma palavra e caminha furiosa para sua sala.



Cristina ao avistar Helena no corredor não sabia como devia agir. Foi pega de surpresa. Não esperava ver Helena tão cedo. “Não vou ficar como aquelas peruas em volta dela paparicando”. Mal saiu da frente de Helena, diminuiu o passo. Precisava pensar rápido em algo pra dizer, mas foi tomada pelo sentimento de felicidade e euforia misturado pela insegurança e incerteza. Essa confusão de sentimentos não deixava com que raciocinasse logicamente e a melhor frase que conseguiu dizer foi “Oi”. Oi? “Que estúpida!”. Entrou no primeiro banheiro que viu, baixou a tampa e sentou no vaso com a cabeça apoiada nas mãos. “Cristina! Cristina, pare de pensar e desejar essa...essa maluca!”. Seu cérebro, em vão, tentava dar ordem ao seu coração.



Os pensamentos giravam em sua cabeça. Não entendia...melhor, não queria entender, aceitar. Teve uma criação rigorosa e religiosa, casou-se jovem, engravidara do seu primeiro namorado de propósito para fugir da pressão familiar. Queria ter sua própria vida. Fez a escolha mais rápida e mais fácil, mas não a mais acertada, hoje sabia disso. Perdeu o bebê no quarto mês de gestação e para segurar a barra da perda dedicou-se de corpo e alma ao trabalho e aos estudos. Foi morar nos EUA e o marido arranjou um excelente trabalho. Ela pôde terminar com tranqüilidade seu doutorado. Arranjou um trabalho melhor e começou a ganhar seu próprio dinheiro. Era feliz com seu marido, tinham uma vida estável, tranqüila. Não tinha reclamações: ele sempre foi carinhoso e, na verdade, eram mais irmãos que marido e mulher. A cama era sem graça, transavam pouco. A distância entre os dois foi aumentando gradualmente. Cada um com seu trabalho, com sua vida. Mas com o passar dos anos, Cristina percebeu que precisava de mais: gostava de desafios, precisava de paixão. Então, teve alguns bons amantes e até chegou a se apaixonar por um deles, mas sempre parecia que faltava algo. Não, não entendia esse vazio. Mas depois que havia transado com Helena, tudo ficou claro, claro até demais. Considerava-se uma mulher moderna, sem preconceitos, mas ter um envolvimento dessa forma era difícil aceitar. Claro, já havia pensado algumas vezes em ficar com mulheres. Tinha vontade de saber como era. Então, decidiu matar sua curiosidade com Helena, que a atraía de uma forma que não sabia explicar. Gostava do seu jeito autoritário e ao mesmo tempo moleque. Adorava o senso de humor sarcástico e sabia, claro, que ela era uma galinha incondicional. Sabia que com ela seria só uma vez e pronto. Não havia risco. Pensou que ambas esqueceriam. Mas não saiu como planejado. Ver Helena parada com aquele sorriso lindo... aquilo tinha deixado ela abalada. Mesmo com um olho roxo e com o braço imobilizado continuava linda.



A cabeça de Cristina rodava, doía. “Por que fui sentir tesão por minha chefe? Pior! Por uma mulher?!”



Ainda dirigindo-se à sua sala, Helena tentava conter a irritação. Passou por Vera como um foguete:



- Vera, bom dia – falou irritada - Venha até minha sala agora!



Vera estremeceu.



- Xiiiii...nem vou perguntar se fez boa viagem.



- A viagem não foi das piores, tirando que quase fiquei cega e quase perdi um braço. Foi maravilhosamente boa.



Vera deu um sorrisinho:



- Helena, você é uma dramática incorrigível.



A outra não sorriu. Estava de mal-humor.



- Vera, cadê as informações que pedi sobre a Cris?



- Aqui, nessa pasta - disse baixinho e piscando um olho.



Vera olhou Helena de soslaio e perguntou sem poder conter a curiosidade:



- Posso saber por que você quer tanta informação sobre ela?



- Não!



- Tá bom, não pergunto mais. Mas agora mate minha curiosidade: quem foi o culpado por esse corte, olho roxo, braço quebrado? – Vera deu um sorrisinho de satisfação.



- Ô curiosidade – bufou Helena - Não foi culpa de ninguém. A culpa foi só minha, tá? Eu estava andando pelo pasto quando um boi apareceu e começou a correr atrás de mim. Quando fui pular a cerca de arame farpado, minha calça ficou presa, perdi o equilíbrio e cai. Pronto. Resultou no estrago que você está vendo. Satisfeita agora? Acredita mesmo que alguém pode me derrubar, Vera?



Cristina entrou na sala naquele momento e ouviu a explicação de Helena. Sabia que ela estava mentindo. Sorriu. Helena, quando mentia, coçava sua orelha direita. Cristina, sentou-se em sua cadeira e começou a trabalhar como se Helena não estivesse na sala. Helena não podia acreditar naquela situação.



- Vera, você está me vendo?



- Claro, Helena. Que pergunta.



- Desculpa, achei que tinha ficado invisível porque Cristina não me viu aqui. Aliás, não me viu no corredor também - falou alterada.



Querendo sorrir, Cristina ergueu a cabeça.



– Claro que vi você. Apenas não queria interromper sua conversa com as meninas...E agora, não quis fazer o mesmo com a Vera.



Helena suspirou e tentou conter a irritação. Olhando para ela, perguntou áspera:



- Bom dia, Cristina. Você está bem? Dormiu bem?



- Estou bem, Helena. Muito bem.



- Que bom fico feliz em saber. Então, o problema sou eu. Se você está bem, se dormiu bem, se está tudo bem, é pessoal mesmo - disse para ela, em tom de deboche.



Cristina não se conteve e sorriu.



- Nossa, como você voltou dramática, heim?



- Acabei de dizer isso a ela, Cris.



Helena voltou-se para a secretária com um olhar furioso:



- Vera, cala a boca!!!



Cristina balançou a cabeça e disse bem-humorada:



- Sei o que você quer ouvir, mas não vou dizer...



- E o que eu quero ouvir, sua sabe tudo???



- Que senti sua falta, que a empresa sem você vira uma bagunça e etc, etc, etc



Helena tentou manter a cara zangada, mas não resistiu. Soltou seu sorriso debochado.



- Não precisa dizer, pois tenho a convicção que você sentiu minha falta e que a empresa fica sempre uma bagunça sem mim. Há!!! Disso, tenho plena certeza.



- Helena, essa sua modéstia é até comovente.



Helena levantou e aproximou-se de Cristina. Olhou bem dentro de seus olhos e disse:



- Eu não tenho vergonha de dizer: senti muito a sua falta.



E com um olhar doce, segurou na mão de Cristina e entregou-lhe um pequeno pacote.



- Comprei pra você. Esse pequeno presente é para provar que pensei em você.



Afastou-se, deixando Cristina sem reação. Helena voltou até sua mesa e pegou outro pacote, entregando-o a Vera.



- A sua lembrança de Joinvile, Vera. Pensou que ia esquecer de você?



Vera sorriu:



- Você nunca esquece.



Cristina abriu sua caixinha e ficou surpresa com os brincos de pérolas.



- Por que está dando essa jóia pra mim?



- Já disse. E por que senti vontade, oras. Além do mais, você fez um bom trabalho nesses últimos 20 dias. Acho que merece um reconhecimento.



- Desculpe, os brincos são lindos, mas não posso aceitar.



- Cristina, estou te dando. Não estou perguntando se você quer ou não os brincos.



- Sei disso, mas não posso aceitar – disse, colocando a caixinha sobre a mesa de Helena.



- E porque não pode? - perguntou irritada.



- Helena já sou paga pra fazer um excelente trabalho. Não quero mais nada além disso.



Helena irritou-se. Nunca ninguém tinha rejeitado um presente seu.



- Diga por que você não pode aceitar? Não gosta de perolas?



- Eu adoro pérolas.



- Não gostou do modelo, tamanho?



- Não Helena, não tem nada de errado com a jóia. Ela é perfeita, linda.



- Então porque você não a quer?



- Helena já disse que não posso aceitar.



- Cristina, fale a verdade, por favor, disse alterando o tom de voz e olhando dentro de seus olhos. Cristina encarou o olhar de Helena, pensou um pouco, não queria ser grosseira.



- A jóia é linda.



- Eu sei. Você já disse isso.



- Mas não sou como as outras pessoas que você está acostumada a lidar, que estão sempre à espera de uma recompensa....Não me vendo. É isso.



- Acha realmente que eu quero te comprar? – disse alterada. Aquela mulher tirava ela do sério - Acredita mesmo que faço as coisas só por interesse próprio? Acha que não sou capaz de dar algo para uma pessoa só pela intenção de agradar ou agradecer? – Helena sentia o sangue ferver e começava a se descontrolar - E por que eu iria querer te comprar?



- Desculpe, acho que me expressei mal. É que não quero que as pessoas falem de mim, de nós. Sabe como as pessoas são, não é? – falou num tom mais baixo.



Aquela resposta deixou Helena um pouco triste.



- Tudo bem, não precisa justificar. O que você pensa de mim, espero que esteja pensando assim porque dei motivos. Espero que tenha opinião própria e que não se deixe levar pelo que as pessoas falam de mim aqui na empresa. Há muito tempo deixei que comentários idiotas mudassem meu comportamento ou ditassem a forma de como eu devo viver. Não aceito sua atitude, mas vou respeitar. Seus brincos ficarão guardados no cofre. Sei que um dia vai pensar diferente ao meu respeito – disse num tom melancólico - Tenho vários defeitos, Cristina, mas também tenho muitas qualidades, essas que poucas pessoas conseguem enxergar. Vou provar pra você que não sou tão má como pensa.



Visivelmente triste, levantou-se e guardou o presente no cofre. Cristina surpreendeu-se com a atitude de Helena. Então, Helena voltou-se para Cristina com uma expressão que ela nunca tinha visto antes. Os olhos estavam com um azul escuro e a sua fisionomia, séria.



Cristina inventou uma desculpa. Precisava sair da sala e fugir do olhar de Helena. Encontrou Vera feliz da vida com o novo colar.



- Mostre o seu presente, Cris. Estou louca pra ver.



- Eu não aceitei.



- Como assim não aceitou?



- Ora, Vera, não aceitando. Agradeci. Não tinha por que ganhar um presente.



- Cris, em todas as suas viagens a Helena traz presentes. Quer dizer, para algumas pessoas. Pra mim, é lógico, sempre! Para o motorista, o piloto do helicóptero, para a Zefinha, o porteiro......



- Humm, estou vendo que a lista é grande.



- Não muito. Helena presenteia apenas as pessoas que gosta - disse com um sorriso de satisfação no rosto, olhando o colar.



Ouvindo-a falar, Cristina ficou pensativa. “Como fui idiota”. Helena tinha trazido um presente para ela porque a considerava especial. Arrependida, Cristina retornou à sala decidida a pedir desculpas, mas Helena não quis falar mais no assunto.



- Qual a agenda de hoje, Cristina?



Passaram o resto da manhã trabalhando em silêncio total. Perto da hora do almoço, Marcelo entra na sala de Helena.



- Boa dia, dona Helena. Fiquei esperando por você a manhã toda. Como não apareceu em minha sala, resolvi vir.



- Bom dia dr. Marcelo. Como pode perceber, estou cheia de trabalho. Foi por isso que não fui falar com o doutor – disse, irônica - Mas já que deu a honra de sua presença em minha sala, pode dizer o que quer?



Marcelo empertigou-se e falou:



- Estou esperando uma explicação sua.



- Não tenho nada para explicar. Recebi ordens suas e as cumpri à risca. Não sei por que está com essa cara indignada.



- Helena, você não vendeu a fazenda: comprou mais gado e, ainda por cima, comprou uma fábrica. Ainda me diz que cumpriu minhas ordens?! Só pode estar brincando.



- Marcelo, aqui está o contrato de compra e venda da fazenda e dos bois – disse estendendo a pastas com os documentos.



Marcelo abriu a pasta com o olhar desconfiado.



- Helena, quem é “Maria Helena de Menezes”?



- Minha sobrinha e afilhada.



- Você não tem nenhuma sobrinha com esse nome.



- Claro que tenho! Irá nascer daqui a uns 3 meses. A Esther resolveu me homenagear.



Marcelo não estava acreditando no que ouvia.



- Você comprou a fazenda em nome de uma pessoa que não existe?



- Espere, aí, Marcelo: ela existe, sim. Só não nasceu ainda.



- Explica direito que não estou entendendo nada - disse exasperado.



- É simples: você não queria vender a fazenda? Eu comprei para dar de presente a minha sobrinha. Os bois, comprei para o Luca e pra Carol. Estavam baratos mesmo... E a fabrica, essa sim: somos sócios. Você comprou com a parte da venda da fazenda.



Marcelo sentou-se sentindo a cabeça girar. Helena foi explicando, sorrindo cinicamente:



- Marcelo, eu não podia deixar aquele troglodita comprar a fábrica e mandar todo mundo embora. Ele ia montar uma cachaçaria no lugar. Além de ignorante, é burro. Faremos investimentos tecnológicos, produziremos equipamentos para beneficiamento de couro. No Brasil ninguém faz isso. Vendemos couro in natura super barato e depois compramos de volta o couro beneficiado pagando muito mais caro. Fiz pesquisa, consultei algumas pessoas. Marcelo, temos uma mina de ouro na mão. Ganharemos dinheiro com a venda de tecnologia e com a venda do couro beneficiado.



- E depois de tudo o que a Fátima disse sobre o que você fez, estou cada vez mais confuso.



- Confuso à toa. Toda a papelada está aqui. É só analisar. Se está desconfiando, chame a Kely ou qualquer outro advogado. – E sem paciência, foi disparando: - Marcelo, você vai acreditar em mim ou nela? Você me conhece desde criança, sabe que eu nunca o enganaria. Mas a Fátima, sim: passou você para trás todo esse tempo. Roubava você descaradamente. Ela queria comprar a fazenda e aqueles bois doentes por preço de banana, mas se mesmo assim você tiver dúvida de toda a transação, fale com a Kely. Ela acompanhou tudo. Tenho todos os documentos para comprovar o que eu fiz.



Marcelo lançou um olhar fixo nos olhos de Helena:



- Diz uma coisa: você dormiu com ela?



Cristina ficou atenta à resposta. Olhou firme para Helena, que bateu de ombros:



- Ahhh, é com isso que você esta preocupado?! Sabia. Mas fique tranqüilo, eu não dormi com ela. Bem que ela queria e tentou, mas eu não fiz isso. Eu sabia que você saía com ela. Nunca faria isso com uma mulher sua, Marcelo, pode acreditar.



Helena coçou sua orelha direita.



- Tem certeza? Ela falou muitas coisas.



- Ela falou com todas as letras que eu dormi com ela?



- Não, não disse.



- Ah, Marcelo! Você não conhece as mulheres mesmo. Elas mentem quando são passadas pra trás, eu a enganei dizendo que não estava interessada na fábrica, disse que já tinha comprador pra fazenda e depois comprei tudo, ela não admitiu perder pra mim. Ela achou que eu fosse uma patricinha idiota. Eu disse que não era, mas ela não quis acreditar...- ela deu um sorrisinho – É por isso que está aí esbravejando com você: ela sabe que você pensa com a cabeça que está embaixo.



Marcelo agitou-se e olhou zangado para Helena.



- Tenha respeito, Helena. Do jeito que ela está brava não foi só isso que aconteceu – considerou, desconfiado - Conheço você: conte tudo. Comece dizendo como quebrou o braço e fez esse corte na cabeça. Tenho certeza que a Fátima fez isso com você.



- Tá louco, é? Caí da escada S O Z I N H A. Tropecei e cai. Ela precisaria nascer de novo pra me derrubar.



Helena coçou novamente a orelha direita. Marcelo se impacientou. Estava desistindo de tentar conseguir a verdade.



-Tudo bem, você venceu. Não vou perguntar mais nada. Sei que vai negar até a morte. Então, agora sou proprietário de uma fábrica. Ahhh, meu Deus!



- Deixe por minha conta. Já pedi para o Gilberto contratar umas pessoas. Fica tranqüilo.



- Esse é o problema: deixar por sua conta. Bom, estava preocupado com você. Sumiu, não atendeu aos meus telefonemas. Você está realmente bem?



- Aleluia! Alguém preocupado comigo. Mas não confio muito nesse seu interesse: você não pareceu estar nada preocupado quando entrou aqui me metralhando. Agora viu que fiz tudo certinho e está arrependido de ter me tratado mal.



Marcelo ignorou o comentário e prosseguiu em seu interrogatório.



- Já procurou um médico aqui em São Paulo?



- Marcelo, acabei de chegar. Nem passei em casa. Estou bem. Não preciso ir ao médico.



- Você sabe que me preocupo...Mas já sabia que você estava bem. Toda hora alguém liga pra dizer que você estava fazendo algo. Quem está morta ou muito doente não faz nada, portanto deduzi que estava bem – disse sorrindo e abrindo os braços - Vem cá e me dá um abraço. Senti sua falta, sabia? Nossa, seu olho está feio, heim?! Precisa ir a um oftalmologista.



- Está tudo bem, fica tranqüilo. O médico disse que ficaria feio mesmo. A batida foi muito forte. Os hematomas devem desaparecer em 15 dias. Até lá usarei óculos escuros. Ficarei mais sexy - Helena deu um sorrisinho e aconchegou-se nos braços de Marcelo - Também senti falta do meu padrinho querido.



- Xiii, vou embora. Já está apelando – Marcelo sorriu.



- Vamos almoçar? Você paga o almoço, Marcelo.



- Sabia que esse padrinho querido tinha um preço. Infelizmente não posso ir. Marquei com outra pessoa, mas amanhã almoçaremos juntos.



- Então, vamos almoçar, Cristina? Ou vai rejeitar achando que quero te comprar com um almoço?



Cristina ficou vermelha de raiva e de vergonha.



- Não, podemos ir.


 
Capítulo 1: Quem é essa mulher VIII


(por Cacau , adicionado em 17 de Setembro de 2005)




Elas saíram em silêncio. Enquanto andavam, Helena foi avaliando as suas reações. Deixou que Cristina dirigisse o carro, enquanto indicava o caminho do restaurante.

- Cris, pode ir mais rápido. Dá seta, passa no sinal vermelho mesmo, vira à esquerda agora,. Não! É na outra esquerda, puxa! Era nessa que você passou. Nossa, como você dirige mal. Eu, com um braço e com um olho só, dirijo melhor que você. Pára o carro. Eu mesma conduzo.

Cristina deu uma olhada rápida e sorriu:

- Helena, fica quietinha. Tenho carta de motorista há mais de cinco anos. Nunca recebi uma multa, nunca bati o carro, ao contrário de certas pessoas. Ficaria mais fácil se você avisasse antes onde devo virar. Melhor, diga aonde quer ir. Não fiquei tanto tempo assim fora do Brasil. Ainda sei como chegar aos lugares. Só pra registrar, nos EUA eu dirigia e obedecia às leis de trânsito. Aqui, continuo obedecendo.

- Nossa, como você é sensível e chata. Não falo mais nada. Vou abster você de ouvir minha voz. – disse fazendo beicinho. Mas segundos depois, disse entusiasmada - Vamos naquele restaurante descolado que vende comida natural? Fica na Paulista. Conhece?

- Claro que conheço. Sempre que posso, como lá. Mas nunca imaginei ir com você.

- Por que? Qual o problema?

- Você indo a um restaurante pra comer comida natural? Não acredito!!! Só gosta de carne vermelha, frituras, doces. Bateu a cabeça na queda?

- Engraçadinha! Às vezes vou lá. É diferente. Além do mais, passei esse tempo todo comendo uma comida super-saudável, que está me fazendo muito bem.

Cristina parou o carro sob o sinal. Um rapazote sorridente se aproxima da janela.

- E ai, dona Helena? Vai comprar quantos pacotes de bala hoje?

- Vou querer dez, Betinho. Vou levar para os meus sobrinhos.

- Helena, você conhece esse garoto? Fecha o vidro. Aqui é perigoso.

- Relaxa, Cris. Sempre tirando conclusões precipitadas sobre as pessoas.

Helena aproveitou a situação para alfinetá-la.

Ignorando a conversa entre as duas, o rapaz continuou a oferecer seus serviços.

- Está muito quente. Não vai querer água, cerveja? Pego ali com meu amigo pra senhora.

- Parei de beber hoje, Betinho.

- Fala sério, heim, dona Helena.

- Betinho, você já almoçou?

- Não, ainda não.

- Então, entra ai no carro. Tem um tempão que quero falar com você.

- Helena, você não vai deixar esse estranho entrar no carro, vai?

Helena destravou a porta.

Cristina ficou assustada quando o rapaz entrou em seu carro.

- Fica tranqüila, dona. Vou roubar, não.

Disse isso e sorriu para Helena.

- Ai, a senhora andou sumida. Viajando novamente?

- Como sempre, Betinho. Eu e essa minha vida de andarilha.

- E ai? Machucou o braço como?

- Cara, nem te conto. Arrumei uma briga feia em um baile. Estou assim quebrada, mas a mulher que me acertou está no hospital.

Os dois foram conversando de uma forma descontraída, Cristina permaneceu calada, mas olhava a toda hora pelo espelho retrovisor. Estava com medo. Chegaram ao restaurante e entraram. Helena foi logo anunciando:

- Mesa para três, por favor.

O metre que os recebeu olhou o grupo e parou os olhos sobre Betinho. Lançou um olhar de cima a baixo e percebeu que o rapaz estava usando uma sandália havaiana, camiseta e short surrado.

- Infelizmente, o jovem não poderá entrar. Não é permitido o uso de sandálias no recinto.

Helena sentiu o sangue ferver.

- Como?! Você só pode estar brincando. Onde está escrito que não se pode entrar aqui usando havaianas? Sabia que agora esse tipo de calçado é fashion? Até o Rodrigo Santoro usa.

Cristina não queria rir, mas não pôde evitar. Só mesmo Helena para usar esse tipo de argumento.

- Infelizmente, ele não poderá entrar – repetiu o metre irredutível.

- Diz só uma coisa: e se eu estivesse só de meias, entraria?

- Bom, é diferente – o metre disse, hesitante.

- Entraria ou não? - perguntou Helena, quase gritando.

- Sim, entraria.

- Betinho, que número você calça?

- 38.

- Eita garoto de sorte.

Helena tirou seu tênis e entregou a Betinho.

- Por favor, mesa pra três e rápido.

O metre ficou com a cara mexendo enquanto o grupo entrava. Sentaram-se tranqüilamente e fizeram o pedido. Cristina só observava.

- Betinho, quer trabalhar na minha empresa?

- Como assim, dona Helena? – o rapaz perguntou espantado.

- Trabalhar, Betinho, é entrar às 8h da manhã e não ter horário pra sair. É ter salário no final do mês e alguns benefícios, entendeu?

- Isso eu entendi. Só não entendi como eu posso trabalhar na sua empresa.

- Betinho, sou sua cliente há um bom tempo. Cara, você é um excelente vendedor, o melhor que já vi. Na minha empresa só trabalham os melhores e você é excelente no que faz. Por isso, quero você, entendeu? Quer ou não trabalhar comigo?

Betinho não se continha de felicidade.

- Claro que quero!

Helena abriu a carteira e tirou R$ 400,00.

- Essa grana é pra você comprar uma roupa legal e sapato. Apareça na empresa amanhã às 8h. O endereço e o nome da pessoa que você deve procurar está no cartão.

Almoçaram tranqüilamente e despediram-se de Betinho.

- Ai, ai, o chão esta quente. Cris, preciso passar em meu apartamento pra pegar outro tênis.

- Tudo bem – disse Cristina e sem agüentar a curiosidade, começou falando: - Helena, não entendo você: dá dinheiro e um tênis caríssimo para uma pessoa que você mal conhece. E fica achando que o cara ainda vai aparecer no escritório amanhã para trabalhar. Eu achei que você fosse mais esperta.

- Fico achando, não: ele vai aparecer. Você vai ver – e olhando sério para ela, disse: - Cristina, pare de ser preconceituosa. Pare de fazer julgamentos sem base concreta, nem conhece o Betinho e já esta achando que ele é um golpista.

- Não estou julgando, mas suas atitudes às vezes são estranhas.

- Você está sendo preconceituosa, sim. Desde que cheguei, você está me julgando, criticando. Não tenho atitudes estranhas, não sabia que reconhecer talento e ajudar as pessoas é ser estranha? Você é que é certinha demais. Não sai da mesmice, vê as coisas de maneira formal e rígida demais e pior não confia nas pessoas, Vamos, relaxa, permita-se conhecer o novo, permita-se conhecer as pessoas.

O carro chegou ao prédio de Helena e ela convidou:

- Vamos subir. Quero tomar um banho e trocar de roupa.

Cristina olhou para ela desconfiada. Helena entrou no quarto e fechou a porta. “Se ela está achando que vou agarrá-la, está enganada”.

Cris ficou esperando impaciente na sala. “Ela podia ter deixado a porta aberta”... e no mesmo momento, se censurou: “Não, melhor não”. E então, pensou: “Se ela tentar me beijar, o que eu faço? Adoraria beijá-la, mas não posso”. Helena cantava embaixo do chuveiro. Estava adorando esse jogo de gato e rato. Helena vestiu-se, perfumou-se, colocou uma blusa bem decotada. Saiu do quarto. Viu Cris de costas lendo a capa de um CD e aproximou-se. Cristina virou-se ao sentir seu perfume. Ficaram ali cara a cara, umedeceram os lábios. Cris fechou levemente os olhos sentindo a aproximação do corpo de Helena. Helena aproximou-se suavemente, segurou o rosto de Cris com uma mão e beijou sua testa.

- Vamos?


 
 
Capítulo 1: Quem é essa MUlher IX"


(por Cacau , adicionado em 4 de Outubro de 2005)




Um beijo na testa?



“Ahh, como sou idiota!” Cristina sentiu vontade de se enforcar. Mas não ia dar esse prazer a Helena. Pensou rápido, fingiu estar com tontura. Sentou-se rapidamente.



- Desculpe, senti uma vertigem – balbuciou constrangida.



Helena deu um sorrisinho debochado.



- Não se desculpe. Estou acostumada a causar essa sensação nas mulheres...



Cristina lançou-lhe um olhar desconfortável. Não queria ter revelado o seu desejo de beijar Helena e não esperava ser rejeitada daquela forma.



Retornaram ao escritório. O dia corria tranqüilo e Helena recebeu a visita de Esther com as crianças. Luca adorava o escritório, principalmente a mesa da tia. Mexia nas coisas, perguntava muito. Queria saber como tudo funcionava. Helena ficava orgulhosa e tinha paciência para explicar. Sabia que Luca seria seu sucessor um dia. Por isso o incentivava tanto. Combinou com o menino que duas vezes por semana ele iria ao escritório trabalhar com ela. Pediu para que instalassem uma pequena mesa ao lado da sua. O garoto pulava de felicidade.



- Luca, só não fique pensando que virá para brincar ou atrapalhar quem trabalha – explicou Helena fingindo um tom de seriedade - Quando estiver aqui deverá agir como funcionário da S&TI. Lembre-se: aqui você não será meu sobrinho e sim meu aprendiz, combinado?



- Sim, Dona Helena. Prometo ficar comportado e obedecer todas as suas ordens e regras da empresa.



- Ótimo, é assim mesmo que um homem fala – disse Helena, satisfeita – Bom, agora vamos comprar seu presente de aniversario.



Uma voz interrompeu os seus planos.



- Maria Helena e Luis Carlos! Vocês não vão a lugar nenhum. Helena, você acabou de encher essas crianças de presentes, gado...até uma fazenda você comprou. Agora, ainda quer comprar mais coisas? Não vou deixar.



Helena sorriu para a irmã e cruzou os braços no peito:



- Esther, quer parar de ser a estraga prazer da família? Você vai ficar velha e essas crianças não vão cuidar de você... – brincou - Eu apenas entreguei os presentes da viagem. E além disso, gado e fazenda não são presentes e sim investimento para o futuro deles.



A mulher ia retrucar quando Helena interrompeu mais uma vez:



- Esther, relaxe. Eu e as crianças vamos ao shopping...e já está decidido.



Helena saiu da sala brincando com as crianças sem dar ouvidos as reclamações da irmã. Mais tarde, quando chegou em casa, estava exausta. Seu braço e suas costas doíam muito. Não tinha descansado desde que chegou e ainda naquela tarde no shopping tinha realmente se excedido. Tomou dois comprimidos para dor e foi tomar um banho quente. Enquanto tentava inutilmente lavar as áreas do corpo que estavam enfaixadas, sem molhá-las, ouviu a voz de Zefinha.



- Leninha, Leninha, precisa de ajuda?



Helena abafou mais um grunhido de impaciência e respondeu:



- Não, Zefinha. Estou bem.



A senhora fingiu acreditar e foi logo dizendo:



- Leninha, pois não demore. Fiz uma canja pra você.



Canja? Canja é pra quem está arriado na cama ou está velho demais para levantar dela... Ia dar uma resposta desaforada, mas se conteve.



- Tá bom, Zefinha. Deixe na cozinha. Depois eu como. Acabei de jantar. Vá descansar...Está tarde. “Argh, odeio canja. Eca!”



A voz de Zefinha tornou a ser ouvida:



- Não vou sair daqui até você comer tudo. Leninha, você se machucou assim porque está fraquinha. Você come muito mal.



Helena desligou o chuveiro. Sabia que não adiantava reclamar ou brigar com Zefinha. Abriu a porta do banheiro e o vapor da água quente invadiu o quarto. Para seu espanto, o vapor que saía da canja era mais intenso.



- Tá querendo me matar escaldada nessa canja, é?



- Fica quieta e veste o pijama logo pra não pegar friagem. Vem aqui que eu te ajudo. Assim, você come logo antes que esfrie.



- Já disse que não quero! Tô sem fome. Por favor, Zefinha... - disse com voz manhosa.



- Não saio daqui enquanto você não tomar pelo menos um pouco. Você não está bem, minha filha.



- Zefinha, fica tranqüila. Eu estou bem.



- Você não esta bem, Leninha. Conheço você. Vi que tomou comprimido para dor. Deixe a velha Zefinha cuidar de você.



Helena deixou os braços caírem ao longo do corpo. Acabou obedecendo. Sabia que não tinha argumentos para usar com uma pessoa que a conhecia como a palma da mão. Recostou na cama e comeu algumas colheradas de canja fazendo careta.



- Seja uma boa menina e coma só mais uma colher. Vou dormir aqui no seu apartamento até você ficar boa.



- Não precis........



Zefinha fez uma cara magoada e Helena voltou atrás.



- Tudo bem, tudo bem. Não faça essa cara...Vem cá e me dê um beijo de boa noite - disse com seu sorriso maroto no rosto.



Helena deitou, mas em qualquer posição que ficava sentia dor. Tomou mais dois comprimidos, ligou a TV. Quinze minutos depois ouviu o toque da campainha. Logo em seguida reconheceu a voz de sua mãe. Fingiu estar dormindo.



- Josefa, tenho um assunto importante para tratar com Maria Helena. Vá chamá-la.



- Desculpe, mas não vou. Ela está cansada e já deve estar dormindo. Ela está...



Rita não terminou de ouvir, entrou no quarto sem bater.



- Maria Helena, acorde preciso falar com você.



Helena fingiu não ouvir.



- MARIA HELENA, pare de fingir. Sei que está acordada.



Helena abriu os olhos sem ânimo. Sabia que ia se chatear com a conversa. A sua mãe, naquela hora, com aquele tom de voz, não podia ser boa coisa.



- Não pode deixar pra falar comigo amanhã, dona Rita? O que pode ser tão importante? – começou a ficar irritada.



- É que eu fiquei sabendo que...



Ela começou a falar e Helena ficou intrigada. “Não acredito! Dona Rita, minha mãe, preocupada comigo? Veio me ver, saber como eu estou?”



Mas...



A senhora continuou falando como se nada tivesse acontecendo, desmontando rapidamente as primeiras impressões:



- Bem, amanhã acontecerá um desfile de moda country voltado para terceira idade em Ribeirão Preto. Portanto, preciso que você autorize o piloto a me levar. Liguei para o escritório e disseram que o helicóptero só sai com sua autorização. Mania que você tem em querer tomar conta de tudo.



- Só tomo conta de TUDO QUE É MEU, dona Rita. Mas tudo bem, pode deixar. Vou ligar pra Vera. Peço para o piloto estar aqui às 9h, está bem para a senhora? É só isso que quer?



“Como sou idiota! Achar que ela estaria preocupada comigo...”



- Está ótimo às 9h. Ah, e só ISSO que quero.



Mal fechou a boca e deu uma olhada em Helena.



- Você está bem, Helena?



- Estou, por que?



- Porque concordou muito rápido, não reclamou, não fez um questionário querendo saber a hora que volto, quanto tempo vou ficar. Você está bem mesmo?!!!



- Estou. Se é só isso que quer, vá embora por favor. Preciso dormir - disse virando-se na cama, ficando de costas para a mãe. Então, finalmente viu seu braço imobilizado.



Rita aproximou-se da cama e viu que ela também estava com o olho roxo.



- O que aconteceu com você? Como quebrou o braço e ganhou esse corte feio?



- Não quero falar sobre isso com você. Já tem o que queria agora pode ir.



- Maria Helena, porque sou sempre a última a saber das coisas que acontecem com você? Melhor: por que nunca sei NADA sobre você?



- Talvez porque seja você sempre a última a perguntar. Talvez se tivesse algum interesse verdadeiro e sincero sobre mim, soubesse algo, mas como só se interessa em viagens, compras, desfiles de moda, jóias, você só se interessa em saber da minha saúde financeira. Quanto à minha saúde física e mental, essas não valem nada para você. – E olhando-a com intensidade: - Respondi sua pergunta? Quando chegou aqui pensei por um momento que veio saber de mim, cuidar de mim, mas não. Como sempre, veio até aqui pelos mesmos motivos fúteis. Por favor, vá embora. Estou com sono.



Rita ouviu tudo calada. Sabia que Helena tinha razão. Nunca tiveram afinidade, nunca foram amigas, confidentes. Não tinham uma relação saudável, de mãe e filha. Ás vezes tentava entender em qual momento da vida elas se separaram, se perderam... Mas Rita sabia, só não queria admitir: foi quando Helena nasceu e Rita viu seus olhos azuis.



Então, lenta e silenciosamente, saiu do quarto.



Helena dormiu muito mal. As dores não passavam, só aumentavam. Levantou-se, vestiu-se, saiu sem fazer barulho. Não queria acordar Zefinha e ser obrigada a tomar uma gemada, ou mingau. Chegou ao escritório antes das 6h. Ligou o computador, não acendeu a luz da sala. Sentia dor de cabeça. “Ai, preciso de um café forte, urgente”, murmurou.



Passou a ler e responder seus e-mails. Cristina chegou às 7h. Acendeu a luz da sala e assustou-se com a presença de Helena.



- O que você está fazendo nesse escuro?



- Estava brincando de esconde-esconde e você me achou. - soltou um meio sorriso - Bom dia, Cristina.



- Bom dia. Nossa, que cara é essa?



- A unica que tenho, oras. Também não dormi direito, senti um pouco de dor a noite toda. E o grupo Olodum não pára de tocar dentro da minha cabeça.



- Helena, sinto em te dizer...mas você está horrível: com olheiras, pálida. Seus pontos estão um pouco infeccionados – então, tomando seu braço livre de ataduras, puxou-a delicadamente - Levante-se: vou levá-la ao médico agora.



Mesmo adorando esse cuidado todo, Helena resistiu um pouco.



- Não posso. Lembra que temos uma reunião às 8h?



- Vou cancelar, ou melhor a Vera está chegando ela acompanha você enquanto participo da reunião, que tal?



Helena fez um muxoxo impaciente.



- Cris, não dá pra cancelar assim em cima da hora. Esqueceu que o cliente veio da Argentina especialmente pra falar comigo? Não se preocupe. Estou bem, só preciso de um café forte pra dor de cabeça. Uma base e um pó resolvem as olheiras e a palidez.



- Tem certeza? Posso dizer que você está doente. Remarco para depois do almoço ou para amanhã.



- Tenho certeza. Pare de insistir. Assim acabo acreditando que você se preocupa de verdade comigo e que até gosta de mim...



Cristina não respondeu. Ficou em silencio. Sentiu vontade de abraçar forte Helena e de protegê-la, mas manteve-se afastada. Helena interrompeu o breve silêncio providencialmente.



- Bom, preciso de sua ajuda em uma coisa: pegue uma tesoura e me siga.



Helena caminhou até o banheiro e sem aviso, tirou a blusa.



- Cris, corte essas faixas, por favor. Não agüento mais ficar amarrada.



Cristina engoliu em seco. Helena estava com o corpo enfaixado à sua frente, desconcertando-a. Manteve seu tom sério:



- Não é melhor deixar que o médico decida se pode ou não pode retirar?



- Faça o que estou pedindo, por favor - disse em tom incisivo.



Cristina começou a cortar a faixa e à medida que cortava, tocava a pele de Helena. Não queria sentir desejo, tesão. Tentava em vão bloquear os pensamentos eróticos. Sentia que Helena também sentia que estava ficando arrepiada com seu toque. Então, impulsivamente, resolveu provocá-la. Aproximou-se de suas costas até encostar seu corpo no dela, respirando próximo ao seu pescoço. Excitada, Helena expirava o ar pelo nariz com força e ritmo. Estava quase fora de controle. Quando finalmente Cristina retirou a faixa, deixando-a com o dorso nu, segurou os seus seios, massageando-os delicadamente. Sentiu que eles ficaram rijos. Contornou a fênix desenhada na nuca de Helena com a língua. Falou baixinho em seu ouvido.



- Terminei...



Sem dizer mais nada, saiu em seguida do banheiro.



“Que cachorra!”. Helena arfou por alguns segundos e vestiu-se. Caminhou até a mesa de Cristina e disse:



- Um a um. Jogo empatado.



Saiu da sala foi tomar o seu café.



A reunião correu tranqüila. Helena conduziu de forma que Cristina participasse mais e que tomasse algumas decisões. Sabia que precisava diminuir seu ritmo de trabalho e que precisava confiar em alguém. Decidiu que esse alguém seria Cristina.



Helena conseguia fingir que tudo estava bem, mas estava impaciente, sentia muita dor, quase não falava. Franziu o rosto e levantou-se. Sentiu uma leve vertigem e apoiou-se na mesa. Cristina percebeu e encerrou a reunião o mais rápido que pode. Antes que pudesse ajudá-la, viu que Helena saiu da sala. No corredor, Helena avistou Betinho. Quase não o reconheceu. Estava de barba feita, vestido com terno e gravata, sapato brilhando. Satisfeita com a transformação do rapaz, abraçou-o. Então, sentiu uma nova vertigem.



- Betinho, por favor...me segure;. Acho que vou desmaiar.



Tudo ficou escuro de repente. Quando acordou, estava deitada no sofá de sua sala com Vera tentando sentir seu pulso e Cristina tentando ouvir as batidas do seu coração. Gilberto, aflito, estava ao celular falando com o médico.



- Ok, doutor. Estamos indo para o hospital.



Helena ouviu a frase e se agitou.



- Giba, eu não vou a lugar nenhum. Estou bem. É só tirar essas duas de cima de mim pra que eu posso respirar. Elas estão roubando todo o ar!



Gilberto sorriu e Vera comentou com o chefe:



- Dr. Gilberto, ela “realmente” já está melhor. Ô mulher ingrata - resmungou Vera, afastando-se.



Gilberto, entretanto, não deu ouvidos:



- Helena, dessa vez não vou te ouvir ou obedecer. Cristina, pegue a bolsa de Helena e vamos. O motorista já está esperando.



- Giba, eu não vou levantar daqui! Quero ver você me tirar daqui à força. Preciso soletrar? EU NÃO VOU!.



- Tudo bem. Já que você quer assim....- fez um sinal para Betinho: - Carlos Alberto, segure de um lado que eu seguro do outro. Levante-a no três. Um, dois...



- Nossa, que nome chique, Betinho – disse Helena, debochando - Já que vocês não vão desistir mesmo...Tudo bem, pode parar. Eu vou com minhas próprias pernas.



No hospital, Helena tirou novas radiografias, fez ressonância magnética, passou por um exame detalhado.



O médico entrou no quarto com os exames na mão. Foi logo anunciando:



- Helena, você tem três costelas quebradas, está anêmica e com colesterol altíssimo...



- Ei, ei, ei... EI! Doutor, pode parar. Não quero nem saber o que tenho. Prefiro morrer ou viver na ignorância.



- Mas Helena...



- Não tem mais nem menos. Só diga os remédios que tenho que engolir e pronto. Não entre nos detalhes sórdidos. Já basta ter perdido meu dia com exames. Odeio hospital, médicos.....argh.



O médico não estava se divertindo com a história e enviou um olhar sério para ela.



- Tudo bem, faça assim: enquanto estiver desse jeito, vou conversar com sua namorada. – Disse isso, virando-se para Cristina.



Helena sorriu e piscou um olho para ela.



- Quero ver você sair dessa – disse, levantando-se em direção à saída.



Cristina olhou para o médico e disse num tom sério:



- Doutor, não sou a namorada de Helena: apenas trabalho com ela.



- Vi que você estava tão preocupada que achei...



Agora o médico é que estava constrangido.



- Não sou namorada dela, mas diga quais as atitudes a serem tomadas para que Helena fique bem.



- Desculpe, sou o médico de Helena há uns vinte anos. Conheci algumas de suas namoradas, até tratei de uma delas. Por isso cheguei a essa conclusão precipitada. Peço desculpas.



Cristina bateu de ombros, incomodada com os detalhes. O médico falava demais.



Voltando a se concentrar, o homem receitou:



- Helena precisa ficar em repouso total durante 20 dias, no mínimo. Deve tomar a medicação no horário determinado, mudar os hábitos alimentares. Depois, deve voltar para que eu possa fazer uma nova avaliação.



- Tudo bem, doutor. Vou providenciar para que suas determinações sejam obedecidas. Tem umas coisas meio que impossíveis de convencê-la a fazer, mas vou tentar.



O médico sorriu, coçando a cabeça de leve. Sim, ele sabia.



- Sei que é quase impossível segurá-la em casa ou fazer que tome a medicação, mas sugiro que peça ajuda à Zefinha. Ela saberá direitinho como cuidar de Helena. E...desculpe mais uma vez.



Cristina balançou a cabeça e apertou a mão do médico. Estava nisso quando Helena irrompeu no quarto:



- Vamos, Cris já estou igual a uma múmia de novo. Pode me colocar em um sarcófago e me levar para o meu apartamento.



O médico riu. Cristina segurou-se. Precisava manter a seriedade.



- Helena, só queria saber de onde você tira tanta inspiração para esse seu humor negro.



- Olhar pra você me dá essa inspiração – respondeu com um sorriso debochado.



- Ei, meninas, vamos parar com as alfinetadas! – Interrompeu Gilberto – Vamos embora estou morrendo de fome.



- Giba, também estou com muita fome! Pare no MacDonalds. Estou louca pra comer um sanduíche enormeeeeeeee.



Cristina balançou a cabeça negativamente:



- Nem pensar, Helena! O médico recomendou comida saudável. Liguei para sua casa e falei com Zefinha. Ela já está preparando um excelente almoço com muita verdura e legumes. Ah, e um ótimo peixe grelhado.



- Giba, você contratou uma agente nazista pra trabalhar comigo?! E agora ela quer mandar no que eu devo comer? Será que ouvi isso ou é um sonho ruim, pesadelo?! Pior ainda ela alicia meus funcionários de anos e conspira contra mim!!!



Gilberto apenas sorria.



- Você que optou por me deixar responsável por seu tratamento. Não quis desmentir que eu era sua namorada, agora agüente. O médico passou as recomendações e SEGUIREMOS à risca.



Gilberto gargalhava.



- Não acredito que você ligou pra Zefinha e contou pra ela. Agora, ela não vai me deixar em paz! Vai me fazer comer canja e tomar gemada todos os dias....eca!



- Não liguei. Ela é quem ligou preocupada. Queria saber como você estava. Diante de seu comportamento, fui obrigada a pedir ajuda. Ela é uma grande aliada.



- Bom, esse almoço SAUDÁVEL será apenas por hoje. Amanhã volto ao trabalho e tudo entrará na normalidade, graças a Deus!!!.



Cristina cruzou os braços e advertiu:



- Nada disso! Vai ficar em casa por vinte dias.



- TÁ MALUCA, É.? Giba, essa nazista quer fazer do meu apartamento um campo de concentração! Não deixe, por favor.



- Tudo bem, então levo você pra minha casa Esther vai adorar cuidar da irmã caçula.



- Nem pensar. A Esther tem aquela mania Hare Krishna de viver, acende aqueles incensos fedidos pela casa toda. As única bebidas da casa é água e chá, ela vai me obrigar a comer salada de flores, tomar aquelas bolinhas homeopáticas a cada meia hora. Não, não!Desculpe Giba, adoro as crianças, você, mas na sua casa morreria em menos de 24 horas. Me leva pra casa da minha mãe.



- Helena, a Dona Rita não cuida nem da saúde dela, o que dirá da sua.



- Por isso mesmo. É a pessoa ideal, Giba. Eu quero a minha mãe...



Cristina e Gilberto não contiveram as gargalhadas.

Cristina providenciou tudo para manter Helena ocupada nos dias de licença. Alugou vídeos, comprou livros e Cd´s novos. Mantinha a geladeira com frutas e verduras que Helena gostava. Na parte da manhã, enquanto Helena dormia, Cristina passava no escritório, participava de reuniões, resolvia os problemas rotineiros. Almoçava diariamente com Helena e essa era a hora mais divertida do dia para Cris pois ouvia as reclamações de como ela odiava rúcula com tomate seco, que ricota tinha cheiro de chulé e que se continuasse a tomar sopa, seus dentes perderiam toda a prática de mastigar.



O rol de bobagens não tinha fim. Helena dizia que quando voltasse a comer carne morreria engasgada, que estava parecendo um urso hibernando de tanto que dormia devido aos medicamentos. Cristina ouvia todas as queixas e fingia que anotava,que falaria com o médico para diminuir os dias de repouso, mas escondida formulava outros cardápios à base de verduras. Embora fizesse tudo para agradar Helena, não iria deixar de cuidar de sua saúde.



Na parte da tarde, trabalham, discutiam qual melhor ação a tomar para melhorar as vendas e aumentar a carteira de clientes. Helena explicava para Cristina como se preparar melhor para as reuniões e como reunir informações importantes sobre clientes e concorrentes. Quando Cristina não voltava para o escritório, no final da tarde assistiam a um filme ou ouviam um CD novo, quase sempre discutiam... (ou melhor, brigavam),cada uma querendo defender o ponto de vista porquê o autor escrevera tal letra da musica ou qual o ponto de vista do diretor do filme. Nunca entravam em um acordo. Mas, incrivelmente, as discussões e diferenças, ao invés de afastá-las, só as unia mais. Quando Cristina não estava, Helena sentia um enorme vazio. Não saía da cama e ficava mais mau-humorada. Nada que fizesse superava a falta que sentia de Cris.



Do outro lado da cidade, Cristina estava fisicamente no escritório, mas, em pensamento estava com Helena. Ficava imaginando o que ela estaria fazendo....Será que ela atacou a caixa de chocolate novamente? Será que ela esta ouvindo rock e pulando feito uma desesperada? Será que ela está andando pela casa só de calcinha e pantufas?



Vera pegava Cristina rindo sozinha e com cara de boba, sabia bem o que parecia aquilo tudo. Sintomas. “ahhh, meu Deus mais uma pra sofrer”.



Então, Cristina fingia estar prestando atenção às novas reclamações de Helena, mas estava atenta àqueles olhos azuis nos seus:



- Cris, preciso sair desse apartamento! Estou há doze dias presa aqui dentro. Preciso respirar outro ar, dar uma volta.



- Eu sei que é difícil, Helena, mas falta pouco, apenas oito dias e você poderá voltar gradativamente à sua vida normal. Não estrague tudo agora.



- Só quero dar uma volta de carro, beber uma cerveja em um bar e ouvir uma musica. Isso não pode me fazer mal.



Cristina sorriu e acabou amolecendo:



- Tudo bem. Vou levar você. Mas, esqueça. Nada de cerveja, mocinha. Você ainda está tomando remédios. Prometa que só beberá sucos...



- Prometo, ta? Tem outra alternativa?!



- Não.



Elas saíram. Fazia calor. O céu estrelado, a lua cheia.



- Onde quer ir?



- Sei lá, qualquer lugar longe daqui. Posso dirigir? Estou com vontade de guiar, dirigir sem parar, sem rumo, acelerar o máximo, sentir o vento entrar pela janela do carro... Deixa, vai!



- Não, você não pode fazer esforço. E, também não estou a afim de morrer essa noite – disse, amansando a voz: - Vamos abrir todas as janelas e acelero o carro até a velocidade permitida. O vento vai entrar de qualquer maneira, tudo bem?



Helena fechou a cara e se encolheu no banco amuada.



- Fazer o que, né?



Cristina dirigia com tranqüilidade. Gostava desses momentos que passava com Helena, divertia-se muito com seu senso de humor, com o seu carisma e até com seu histórico mau humor. Helena, quando queria, sabia ser gentil, carinhosa. Nos últimos dias, essa convivência diária aproximou as duas de uma maneira diferente. No início sentiam só tesão, desejo carnal mas agora sentiam carinho e preocupação uma com a outra. Sentiam desejo só de estar perto e em muitos casos, a companhia já bastava. Mas Helena não desistia tentava seduzir Cristina de todas as formas e maneiras. Cristina resistia bravamente. Resistia... só não sabia até quando.



Impaciente, Helena ligou o rádio, mas não encontrou nenhuma música que lhe agradasse.



- Cris, cadê seus CD´s? Quero colocar uma música legal. Vamos comemorar essa noite de liberdade. Quero dizer, liberdade condicional, mas liberdade.



- Não quero que mexa nos meus CD´s. Depois vai ficar me gozando por um bom tempo dizendo que meu gosto musical é brega. Deixa que eu escolho. Vou escolher um rock bem legal.



Cristina abriu o porta CD´s e em dois minutos a música estava rolando.



- Sei que você gosta de rock. Este é um pouco antigo, mas adoro essa música.



“Seu rosto na TV parece um milagre, uma perfeição nos mínimos detalhes, eu mudo o canal, eu viro a pagina, mas você me persegue por todos os lugares, eu vejo seu pôster na folha central, beijo sua boca, te falo bobagem, fixação, seus olhos no retrato, fixação minha assombração”.



Helena tirou o CD rapidamente, abriu a janela do carro e fingiu que ia jogar fora.



- Você chama isso de rock roll?! Pelo amor de DEUS!!!! Assombração é essa musica do Kid Abelha! Tá certo que a Paula Toller é gostosa, mas gostar dessa musica já é demais.



- Nossa, como você é chata.



- Me dá esses CD´s. Deixa eu tentar encontrar algo ouvível. Quem é Marjorie Estiano?



- Deixa esse CD ai. Você não vai gostar.



- Ahhh, agora quero ouvir.



“Quando a lua tentar me encontrar / Diga a ela que eu me perdi / Na neblina que cobre o mar/ Mas me deixa te ver partir/ Um instante, um olhar/ Vi o sol acordar

Por detrás do seu sorriso/ Me fazendo lembrar/ Que eu posso tentar te esquecer

Mas você sempre será/ A onda que me arrasta/ Que me leva pro teu mar.......”



Cristina começou a cantar o refrão: ““........Que eu posso tentar te esquecer

Mas você sempre será/ A onda que me arrasta/ Que me leva pro teu mar”.



- Cris, como você é romântica. Não sabia desse seu lado passional !!!! - disse gargalhando.



Cristina fechou a cara e parou em frente ao parque Ibirapuera.



- Pronto, chegamos.



- Cris, a esta hora da noite, o parque já está fechado.



- Eu sei, comprarei refrigerante e pipoca. E depois pularemos aquela pequena cerca em frente ao chafariz e sentamos na grama, o que acha?



- Você, infringindo regras? Andar em minha companhia não está te fazendo bem –Helena debochava.



- É apenas uma pequena infração, vamos!!!



Enquanto Cristina comprava os refrigerantes, Helena cantarolava e fazia gestos “A onda que me arrasta que me leva pro seu mar”.



- Helena, quer parar?!!! Quer calar essa boca?!



Helena deu um risinho. Cristina era fácil de irritar.



Sentaram-se na grama e ficaram observando a dança das águas no chafariz.



- Cris, posso te fazer umas perguntas?



- Se eu puder fazer também, prometo responder.



- Combinado. Faço uma e você faz outra.



E sem esperar que Cristina se preparasse, emendou:



- Onde está seu marido?...- Helena arrumou-se na grama e comentou – Bem, é que você está sempre comigo, o tempo todo. Se eu fosse casada com você, não te deixaria tanto tempo livre...



- Ele está nos EUA. – respondeu, interrompendo-a.



- Fazendo o quê?



- Trabalhando. Ficará até o final do ano. Minha vez.



- Por que você não se dá bem com sua mãe?



- Posso pular essa pergunta?



- Não pode não. Responda.



- Não posso responder porque não sei a resposta exata. Acho que desde que me entendo por gente brigamos. Acho que ela não gosta de mim. Desde que meu pai e meu irmão morreram, nos distanciamos de vez. Somos estranhas uma para outra.



Helena olhou para Cristina e formulou uma nova pergunta. Queria disfarçar a ansiedade:



- Vocês estão separados mesmo ou separados apenas pela circunstância...quer dizer, pela distância?



-...Brigamos feio. Por isso resolvi voltar para o Brasil sozinha. Precisava repensar minha vida, mas não terminamos nosso casamento. Estamos dando um tempo.



Cristina ajeitou-se e fez a sua pergunta:



- Lê, você já amou alguém de verdade?



- Não, nunca amei. Apaixonei-me algumas vezes, mas nunca amei de verdade.



Helena olhou para Cristina e emendou:



- Você acha que vai voltar para o seu marido?



- Por que está perguntando isso?



- Responda, Cris: diga sim ou não.



- Não sei, Helena. Vivemos juntos por muito tempo, temos uma história juntos.



- Você ainda o ama?



- Ei, é a minha vez de perguntar.



- Responda!!!



- Amo. Mas o amo como amigo, tenho um carinho enorme por ele, mas não o amo como homem – e olhando para Helena, indagou: - Por que está fazendo todas essas perguntas sobre meu casamento?



- Por nada, apenas quero saber mais sobre você.



Cristina olhou-a nos olhos:



- Helena, o que você quer de mim?



Helena sorriu.



- Quero que você compre mais pipoca e refrigerante. Estou com sede.



- Não é essa a resposta.



Helena suspirou.



- Ok. Quero ser sua amiga, só isso.



Cristina fez uma expressão incerta. Helena sabia que estava usando uma tática arriscada para conquistar Cristina. Ao mesmo tempo que queria levá-la pra cama queria que Cristina nunca mais saísse de sua vida. Mas com toda aquela proximidade e carinho, tinha medo que ela virasse só sua amiga. E queria, profundamente, mais que amizade...mas, estava confusa. É claro que não queria nada sério. Estava com medo desse sentimento estranho, conflitante. Sabia que era uma conquistadora, sabia que poderia perder o interesse por Cris depois que a fizesse se apaixonar. Por isso vivia nessa corda bamba entre a conquista amorosa e a amizade.



- Vamos, estou cansada. Preciso da minha cama.



- Está fugindo da conversa ?



- Não, Cris. Estou cansada mesmo...



Cristina sentia que Helena escondia algo, mas não tinha coragem de cobrar uma atitude, pois também estava sendo covarde.



No caminho até o carro ouviram uma voz chamar por Helena.



- Lê! Ei, Heleninha Roitman!



- Só pode ser o sacana do Marcos.



Abraçaram-se.



- Cris, esse é meu amigo e irmão Marcos.



- Marcos, essa é a Cristina.



- Nossa! Bonita sua nova namorada, parabéns.



- Eu não sou a namorada dela. Trabalho pra ela! - disse irritada



- Opa, desculpa. É que Helena troca tanto de namorada que confunde a gente.



- Marcos, obrigada pelo comentário.



- Não precisa agradecer, Lê – Marcos deu um sorrisinho e perguntou?: - E ai? Estão indo pra onde, nessa noite linda?!!!



- Pra casa, estou cansada. Preciso liberar minha babá também. Quer ir lá pra casa? Assim você me faz companhia.



- Vou só um pouco. Depois da meia noite vou cair na vida. Quero dançar, beijar.



- Que ótimo! Quero ir com você.



Cristina intervêm, com uma nítida pontinha de ciumes.



- Nem pensar, Helena. Está na hora de tomar seu remédio. Precisa descansar. E você prometeu que não ia sair.



Helena percebeu que não adiantava discutir.



- Tá bom, Adolf.



- Nossa, Lê como você está mudada! Aceitando ordens? Preciso conhecer melhor você, Cristina.



Marcos foi abraçado a Cristina até o carro. Chegando ao apartamento, conversaram por um bom tempo. Pareciam velhos amigos. Helena observava os dois cheia de ciúmes.



- Marcos, adorei conhecer você. Me liga para sairmos qualquer dia desses. Agora preciso ir embora. Está tarde e você precisa ir pra sua balada.



- Eu AMEI te conhecer. Vou ligar, com certeza. Quero levar você a um lugar bem legal.



- Má, você contou a Cris que é bicha? E sabia que ela é hetero? – disparou Helena, já sem poder controlar seus ciúmes - Sabe que ela não gosta e não freguenta boates gay?



E olhando diretamente para Cristina, disse:



- Cris, não se iluda saindo com ele. Não vai encontrar ninguém que trepe com você!



Cristina fingiu não ouvir os comentários de Helena e deu um abraço em Marcos. E olhando para Helena, deu um pequeno aceno à distância antes de ir embora.



- Lê, quando você quer, consegue ser desagradável mesmo! Precisava fazer todos esses comentários?



- Ela estava jogando charme pra você – Justificou-se - Fiz um grande favor para os dois, só isso.



- Lê, todo mundo vê que eu sou uma bicha louca. Acha que ela é idiota?



- Não acho ela é uma idiota!



- Está com ciúmes?



- Pare de ser bobo!



- Está com ciúmes, sim. Adorei a Cristina: ela é inteligente, bonita, duas qualidades mortais em uma mulher – e olhando com atenção para Helena, pergunta: - Lê, você esta apaixonada por ela?



- Você acha mesmo que eu me apaixonaria por uma mulher como ela?



- É verdade. Você só gosta das burras gostosas e interesseiras. Nunca sairia com uma mulher inteligente. Melhor, as mulheres inteligentes não sairiam com você.



- Tá me ofendendo por que?



- Não estou ofendendo, só dizendo a verdade. É diferente. Você, com essa mania de querer sair com todo mundo, sempre fica com as fúteis, vazias e burras porque não percebem que você só quer trepar. E ai, coitada das que se apaixonam por você. O destino é sofrer.



- Peraí, Marcos.



- É isso mesmo! Tô cansado de ver você envolvida com essas modelos, aspirantes a atriz ou interesseiras de carteirinha que só sabem falar de moda e da vida de artistas. Você vive rodeada de mulheres, mas ao mesmo tempo vive sozinha. Lê...logo você faz 30 anos. Precisa dividir sua vida com alguém que te ame de verdade, que cuide de você, que se preocupe com você e não com sua conta bancária. E quer saber: pare de ser burra e olhe para a Cristina. Ela gosta realmente de você e cuida de você com carinho.



Helena amansa a voz e pergunta hesitante:



- Má, você acha mesmo que ela gosta de mim?



- Tá vendo? Eu disse que você está apaixonada. Apaixonados não são capazes de ver o óbvio.



- Má, quero só transar muito com ela, mas ela tá fazendo jogo duro. É a primeira mulher que levo mais de um mês pra levar pra cama. Tá certo que transamos uma vez, mas não conta. Foi por acaso.



- Foi por um acaso ou ela quis transar com você? Já pensou nisso? Acho que você foi usada, amiga!!!



- Será, Má?



Ele não respondeu. Deu um beijinho no rosto de Helena e saiu, deixando-a sem reação. “Caracas, será que ela foi capaz de fazer isso?!!!”.


Capítulo 1: Quem é essa MUlher X


(por Cacau , adicionado em 25 de Outubro de 2005)




Cristina não apareceu no apartamento durante uma semana. Apenas ligava e falava com Zefinha ou mandava entregar as coisas para Helena. Helena ligava várias vezes durante o dia, a semana inteira foi assim, mas não conseguia falar com Cristina. Queria se desculpar pelas grosserias que dissera. Cristina a evitava de todas as formas. “Quem ela pensa que é para falar comigo daquele jeito? E logo para uma pessoa que nem conheço direito”. Cristina não entendia esse comportamento de Helena, os seus altos e baixos no humor e nas atitudes. E por isso resolveu evitar a todo custo se envolver. No fundo, refletia que não queria terminar o seu casamento e muito menos, ter que explicar pra sua família que estava namorando uma mulher – só se fosse pra valer. Cristina era muito correta, gostava das coisas certas, às claras. Não iria se esconder se fosse a coisa certa a fazer, mas sempre que desejava agir diferente em relação à Helena, as atitudes da outra a desmotivavam. “Por que ela tem que estragar tudo?”



Na sexta-feira, no final do dia, Helena apareceu no escritório sem avisar. Estava sem as faixas e com a uma aparência ótima. Chegou carregando um enorme buquê de flores e com o seu melhor sorriso estampado no rosto. Queria fazer uma surpresa a Cristina. Ficou à sua frente e estendeu-lhe as flores.



- Comprei pra você.



Cristina não esboçou um sorriso sequer.



- Por quê?



- Para agradecer pela companhia desses dias, para agradecer seus cuidados e pra pedir desculpa pela bobagem que falei. Além das flores vai ganhar um jantar maravilhoso em minha companhia.



Cristina remexeu-se na cadeira, mas não fez menção de levantar-se. Cruzou os braços na mesa e olhou firme para Helena.



- Não precisava ter esse trabalho. Obrigada, mas não posso aceitar suas flores, nem seu convite para jantar.



Helena impacientou-se. Deixou o braço que segurava as flores pender ao longo do corpo, num gesto de desânimo.



- Cris, não faça jogo duro, vai: me perdoa. Falei aquilo tudo por causa de um impulso idiota.



Cristina continuava olhar firme para Helena.



- Então, por que falou aquilo? Por que teve esse impulso idiota?



- Porque eu...porque....bom eu.....porque eu falei, oras.....



- Helena.....não enrola.



- Tá bom, tá bom. Senti ciúmes de você.



- Eu já sabia. O Marcos me disse que foi isso.



- Como assim sabia?! Tem falado com o Má? – Helena balança a cabeça aturdida e de repente, impaciente, pergunta: - Se já sabia por que perguntou?



- Tenho falado com ele todos os dias, praticamente. Mas eu queira ouvir de você, só isso.



Helena sentiu o sangue ferver no rosto. A sua mão amassava sem perceber a haste do buquê de flores.



- Você quis que eu me sentisse ridícula dizendo que senti ciúmes de você, é isso? Me fez de idiota novamente!!!



- Não é isso. Falar o que se sente não é ser ridícula. Se tivesse falado a verdade naquela noite não estaríamos tendo essa conversa agora.



Helena olhou furiosa para Cristina, pegou as flores jogou no cesto de lixo e saiu da sala batendo a porta.



Segunda-feira, Helena entra no escritório com ar confiante, passos largos, dá bom dia a todos os funcionários. Está de muito bom humor, abre sua caixa de email e começa a preparar o escritório.



- Humm, o que será que Helena fez nesse final de semana para ficar assim alegre?



Vera fez o comentário baixinho com Betinho.



- Vera, eu sei, mas não vou falar....



Betinho sorriu ao se lembrar que Helena, no final de semana, o chamou até sua casa e mostrou pra ele o dossiê sobre Cristina. “Betinho, é o seguinte: você vai me ajudar a conquistar essa mulher. Ela vai se apaixonar por mim, custe o que custar”. Juntos, traçaram uma estratégia de ataque. Helena decidiu que se matricularia nos cursos de Yoga e Grego que Cristina freqüentava. Queria estar perto todo o momento. Reorganizou sua agenda, adiou umas viagens para poder correr no parque Ibirapuera às 6h. Esse era o horário que Cristina fazia seus exercícios. Pediu para Betinho comprar todos os CD`S do Kid Abelha, Marjorie Estiano, Lenine, Djavan. Comprou também revistas que falavam sobre a vida desses artistas. Decidiu que aprenderia o refrão das musicas mais populares para cantar pra Cristina e falaria coisas interessantes da vida deles. Queria impressioná-la.



Helena descobriu que a empresa do pai de Cristina estava passando por dificuldades financeiras. Orientou Betinho a procurar o pai de Cristina e fazer uma proposta de sociedade. Queria se aproximar da família de Cristina e obter o apoio deles. Seria importante na hora certa. Decidida a estratégia, colocou-a em ação. No sábado, já estava cantando algumas musicas.



E era por isso que chegou à segunda-feira tão confiante.



- Vera e Betinho, venham me ajudar. Precisamos colocar essas coisas antes que Cristina chegue.



Cristina achou estranho: ao entrar no escritório viu várias bandeiras brancas espalhadas. Ao entrar na sala, viu Helena vestida com uma roupa toda camuflada, com uma enorme bandeira branca colocada na parede atrás de sua mesa.



- Helena, o que está acontecendo aqui? É alguma campanha publicitária nova que não estou sabendo?



- Não.



Helena levanta e caminha até Cris. Olha bem em seus olhos e diz:



- Cris, quero fazer as pazes com você. Estou aqui erguendo a bandeira branca, entregando minhas armas. Sei que errei, sei que começamos errado. Quero uma nova chance.



- Por quê?



Helena se impacienta:



- Cris, você e seus porquês! As pessoas não podem fazer as coisas só porque querem? Só quero conviver em paz com você.



- Helena, qualquer pessoa pode fazer as coisas por fazer, mas você sempre faz algo com segundas intenções. Por que quer ficar bem comigo?



Helena não consegue se segurar. Em um acesso de raiva, grita:



- QUERO VOCÊ PRA MIM! – e com a voz mais mansa, diz - É isso....



- Por que me quer pra você?



- Gosto de você.



Cristina sentou-se, sem força. Precisava pensar e rápido. Claro que ficou feliz em saber que mexia com Helena. Isso fazia bem para seu ego, mas não queria ser um brinquedo na mão dela, não queria ser mais um troféu.



- Helena, tudo bem. Podemos conviver em paz, quero muito isso.



- Que bom, fico feliz. Então podemos comemorar hoje à noite. Fiz uma reserva em um restaurante muito legal, sei que você vai gostar.



- Helena, você não entendeu: conviver em paz com você, mas aqui, no escritório. Não vamos além disso.



Helena manteve o controle. Queria explodir, mas sabia manter a cabeça fria na hora certa. Respirou fundo, caminhou em direção a Cristina e estendeu a mão.



- Tudo bem, não compreendo, mas entendo. Mas não pense que vou desistir de você. Vamos, dê um aperto de mão pra selar esse novo momento em nossas vidas.



Cristina apertou sua mão e imediatamente uma corrente elétrica percorreu seu corpo. Teve vontade de largar a mão de Helena e agarrá-la. Não apenas isso, beijá-la, muito, mas manteve-se firme.



Nessa mesma noite, Cristina encontrou Helena na entrada do curso de Yoga. Espantou-se.



- Helena, o que você está fazendo aqui?



- O mesmo que você: tentando largar as drogas – respondeu com ar debochado.



- Pare de bobagem! – reagiu Cristina – Eu não entendo: um dia você me disse que odiava ficar sentada fazendo exercícios imaginários e que Yoga te dava sono, que.....



- CRIS, PARE – interrompeu: - Cristina, por que todo mundo pode mudar de idéia e eu não? Não vou ficar aqui de bate papo com você: vou pra minha aula.



Helena sentou distante de Cristina. Minutos depois, numa olhada de esguelha, Cristina viu que Helena dormia sentada. Deu um sorrisinho, mas evitou comentar.



Na terça, 6h30 da manhã, Helena passou correndo por Cristina no parque.



- Acelera, Cris. Até a pé você é devagar. Não sabe que veículos lentos têm que andar à direita?



- “Meu Deus será que estou vendo fantasma ou estou pensando muito em Helena? Será que era ela?”.



Acelerou um pouco e alcançou Helena. Disse ofegante:



- O que você ta fazendo aqui a essa hora da manhã? Você detesta acordar cedo.



- Quem disse pra você que dormi? – e então, despediu-se: - Bom, quero correr e você está muito devagar. Até daqui a pouco no escritório.



No mesmo dia, à noite, encontraram-se no curso de Grego. Topam-se na entrada da sala. Helena, fazendo uma cara séria, encarou Cristina e perguntou:



- Cristina, você está me perseguindo, é isso?



- Eu não, tá louca?! Você é que está nos lugares que freqüento.



Sem perder a pose, Helena diz baixinho:



- Bom, fique quieta. Você está tumultuando a aula. Ahh, dá pra mudar de lugar? Se você ficar ai, não consigo ver aquela professora grega gostosa.



Contrariada, Cristina muda de lugar, perguntando-se como poderia estar ocorrendo tantas coincidências.



E assim as semanas foram passando. Helena sempre dando presentes para Cristina e ela rejeitando. O cofre já estava ficando cheio. Helena convidava Cristina para festas, shows, teatro, jantar e sempre a mesma resposta: “não posso aceitar”.



Helena já não sabia mais o que fazer.....



Em uma sexta-feira, depois de levar outro fora de Cristina, Helena decide sair. “Chega de ficar esperando por essa mulher”. Convidou Betinho, seu comparsa no plano de conquista de Cristina, para sair. Ele tinha se tornado o seu confidente.



- Ahhh, Betinho adoro esse cheiro de mulher no ar. Tá sentindo?



- Estou sentindo, sim, mas também estou sentindo cheiro de muito macho. E macho, não!!!



Sentindo-se desconfortável com os olhares que estava recebendo, Betinho comenta:



- Helena, como pude deixar você me convencer a vir a uma boate gay, heim? Tanta mulher linda e nenhuma olha pra mim...Só esse monte de macho...



Helena deu um sorrisinho:



- Pára de reclamar. Tem malucas aqui que saem com caras. Paquere à vontade. Quem sabe você se dá bem. – de repente, o tom de voz muda – Hummm, mas acho que eu JÁ me dei bem. Vai dar uma volta, Betinho, que eu vou até ali falar com aquela morenaça!



A conquista foi rápida. Dificilmente alguém resistiria à Helena. Quando estava prestes a dar um beijo na garota, seus músculos se paralisam: Cristina estava entrando na boate.



“Eu não acredito! O que ela está fazendo aqui? Vou matar o Marcos a garfadas!”. No mesmo momento, Helena larga a garota sem dar explicação e fica observando Cristina de longe. Dez minutos depois, vê uma garota aproximar-se de Cris. Helena não se contém e caminha a passos largos para onde elas estão. Chega perto de Cris e praticamente empurra a garota, enlaçando num movimento contíguo Cristina. Em seguida, dá um longo beijo em seu rosto.



- Marilia, desculpe. Helena, Marília. Marília, Helena.



Com um sorriso metálico no rosto, Helena cochicha no ouvido da garota: “Cai fora! Ela é minha”. Marilia sorri sem graça, pede licença e vai embora.



Cristina se desvencilha de Helena e questiona:



- Quem você pensa que é, Helena? O que você disse pra ela ir embora daquele jeito?



Helena sorri.



- Tá vendo aquela morena no bar? Aquela que está olhando pra gente? Ela é namorada da Marília. Vim te salvar. A moça é barraqueira de primeira. Eu disse pra Marilia disfarçar e ir falar com ela. Não quero ver você metida em briga.



Mal disse isso e Helena coçou a orelha direita. Cristina ajeitou o cabelo atrás da orelha e balançou a cabeça.



- Obrigada, mas não preciso de guarda-costas. Sei me cuidar.



- Sabe nada, Cris. Estou acostumada com essas boates. E essa é sua primeira vez, não é? Confia em mim!



- Quem disse pra você que é a primeira vez? Já vim outras vezes com o Marcos. Eu já disse: sei me cuidar.



Irritada, Helena resolve afastar-se:



- Tá bom, mal agradecida...



Afastou-se e foi falar com Marcos.



- Porra, Má. Você é o maior amigo da onça que conheço. Sabe que estou tentando conquistar a Cris e trás ela aqui várias vezes! Tá querendo me ferrar mesmo!!!



Marcos dá um gole em sua bebida e sorri lentamente:



- Não, Helena. Não, querendo é ajudar a Cris. Ela é gente boa demais pra se envolver com você...



Helena ficou abismada com o que ouviu.



- Bom, vou indo beijar aquele gato...



Helena continuava sem saber o que dizer. Marcos afasta-se. Helena procura a Cristina com os olhos e a vê conversando com uma loira lindíssima. Sente seu sangue ferver. Aproxima-se novamente.



- Cris, quer dançar?



Cristina lança um olhar gelado em sua direção. E cochicha:



- Helena, não vê que estou ocupada?



- Se estivesse sozinha dançaria comigo?



Cristina fica hesitante e diz contrariada:



- Sim...



Inesperadamente, Helena fala algo no ouvido da loira e ela sai dando risada.



- Pronto! Agora está sozinha. Vamos dançar?



Irritada, Cristina sai e deixa Helena falando sozinha. Desalentada, Helena procura Betinho. Encontra-o enlaçado numa garota.



- Betinho, larga essa mulher. Preciso de você agora!



- Helena, sabe como foi difícil encontrar uma mulher que goste de homem nesse lugar?



Helena arrasta Betinho pela pista. Ela não ouve nem vê mais nada ou mais ninguém. Só enxerga Cristina e as mulheres que estão ao seu redor.



- Betinho, vá até lá e atrapalhe qualquer chance de Cristina flertar com qualquer uma dessas piranhas!



- Mas, Helena. O que eu faço, o que eu digo?



- Se vira! Diz que você é marido, namorado ou amante dela. Não! Diz que é segurança e que a mulher dela pertence ao PCC. Melhor: diz que ela tem doença venéria. Ah, sei lá! BETINHO, SÓ NÃO DEIXE ELA BEIJAR - disse gritando e empurrando Betinho em direção ao grupo onde Cristina estava.



Com os nervos em frangalhos, foi ao bar e pediu um whisky duplo sem gelo. Precisava se acalmar, pensar. Todas as chances de ficar com alguém e parar de pensar em Cristina foram embora. Passou a noite bebendo e vigiando Cristina. Por volta das quatro da manhã, Betinho apareceu ao seu lado.



- Helena, tô cansado. Quero ir embora.



- Só sairemos daqui quando ela for embora SOZINHA.



- Acho difícil. Aquela loira não sai do pé dela. Fiz de tudo, mas tudo que eu falo, a mulher acha engraçado, mas não vai embora.



Helena franziu o cenho, preocupada.



- Eu sei...eu já falei umas coisas pra ela e ela voltou. Será que a Cris está saindo com ela? Você percebeu alguma coisa?



- Bom, Helena, não quero ser estraga prazer, mas vi a loira chamando a Cristina pra ir embora.



- Caralho, caralho, caralho! O que essa loira tem que eu não tenho, Betinho?



Helena olha em direção à dupla e sobressalta-se.



- Vamos, elas estão saindo.



Helena seguiu Cristina e viu quando o carro entrou na garagem do prédio com as duas dentro. Helena desceu do seu carro e começou a chutar os pneus do carro. “Que merda!”. Helena não consegue raciocinar direito. Álcool demais na cabeça. Num impulso, pega o celular e liga.



- Cris! – disse num tom exaltado.



- Fala, Helena.



- Sei que está tarde, mas cheguei em casa e não encontrei aquela pasta preta. Está com você?



- Helena, qual pasta preta? Temos pelo menos umas 50 pastas pretas.



- Desculpa atrapalhar, mas é importante. Preciso trabalhar e não encontrei a pasta.



- Bom, se você precisa trabalhar às 5h da manhã de um sábado, eu não preciso.



- Mas...



- E já que perguntou...ah, sim, você está atrapalhando. Preciso desligar.



- Cristina, espera, é a pasta com o orçamento para o próximo ano. Tá lembrada?



- Estou. A pasta está comigo.



- Ahh, que pena... Posso passar agora na sua casa pra pegar a pasta? É importante.



- NÃO!



Cristina deu um sorrisinho.



- Ahhh, antes que eu desligue: por que você falou pra Bete que eu tenho herpes?



- Bete? Que Bete? Não conheço nenhuma Bete!



- Helena, a loira da boate...



- Ahhh, falei porque achei que ela deveria saber. Se ela fosse te beijar, saberia o risco que estaria correndo.



- Helena, de onde tirou essa idéia? Mentiu por quê? EU NUNCA TIVE HERPES!!!!



- Li no seu prontuário médico e lá estava escrito Herpes de disco!!!



- HÉRNIA DE DISCO e não HERPES. Não sabe a diferença entre os dois?



- Ahhh, desculpe. Também, quem manda ter uma letra tão feia? Não entendi, desculpe se estraguei sua noite... Então posso ir até ai pegar a pasta?



- Já disse que não. Ahhh, você não estragou minha noite.



Desligou.



- Arrrrrrrrr, filha da puta! Betinho sai do carro agora.



- Ta louca, é ? vai me deixar a pé aqui?



- Não, você vai até o apartamento da Cristina, inventa uma história, quero ver a loira piranha sair de lá entendeu?



- Helena, não vou pagar esse mico.



- Vai sim Betinho. Tô irritada, não me provoque, e só volte com a loira! Pegue ela pelos cabelos e arraste-a até aqui. Não é um pedido e sim uma ordem!



Sem ter alternativa, Betinho toca a campainha. Uma, duas, três vezes...dez vezes.



Cris entreabre a porta.



- Ahh, meu Deus! Só posso estar tendo um pesadelo. Essa noite não acaba. O que você quer aqui Betinho há essa hora?



- Bom...sabe o que é? Vi você saindo da boate com a loira. Ai pensei: duas mulheres sozinhas, eu sozinho... que tal nós três juntos?



- Você não está falando sério, está?



Betinho esticava o pescoço para dentro do apartamento. Queria ter certeza que a loira estava com Cris.



- Estou.



Cristina tentou bater a porta na cara de Betinho, mas ele segurou a porta. O olhar do rapaz tinha um ar de urgência e preocupação.



- Cristina, desculpa. Não estou aqui por isso. Sei que você não gosta de mim desde o primeiro dia que me viu, mas preciso conversar com você sobre Helena – ante o olhar desconfiado de Cristina, ele arrematou: - É sério.



- Betinho, não tenha nada contra você. Pelo contrário: até gosto, mas essa conversa vai ficar para outro dia. Se você insistir, chamo o porteiro.



Cristina empurrou a porta com firmeza e a fechou de vez. Betinho baixou a cabeça e voltou desalentado para o carro de Helena.



- Bom, Helena. Tentei, mas não deu certo. Eu fiz o que pude para entrar no apartamento e ver se tinha alguém com ela, mas não deu.



Helena entrou arrasada no carro e deixou Betinho em casa. Dirigiu até ficar exausta. A música no radio fazia exatamente a pergunta que ela queria fazer a Cris:



“Quando ela cai no sofá

So far away

Vinho à beça na cabeça

Eu que sei

Quando ela insiste em beijar

Seu travesseiro

Eu me viro do avesso

Eu vou dizer aquelas coisas

Mas na hora esqueço

Por que não eu?

Por que não eu?

Eu encomendo um jantar

Só pra nós dois

Se não tem nada pra depois

Por que não eu?

Você tá nessa rejeitada

Caçando paixão

Eu com a cara mais lavada

Digo: porque não”

Por que não eu?

Por que não eu?



Por Que Não Eu?



Leoni

 
 
Capítulo 1: Sem saída


(por Cacau , adicionado em 2 de Novembro de 2005)




A semana seguinte correu tensa entre as duas. Conversavam somente sobre trabalho. Helena continuava indo a Yoga, ao curso de Grego e, invariavelmente corria todas as manhãs. Fazia isso para vigiar Cristina. Queria saber se ela continuava saindo com a loira, mas não tinha coragem pra perguntar. Nunca via Cristina com outra mulher e isso a deixava um pouco aliviada. “Foi só uma noite”.



Finalmente chegou o dia da festa de Luca. Helena preparou a festa com o tema de “Guerra nas Estrelas”, um de seus filmes preferidos. Os convidados recebiam na entrada fantasias e sabres com luzes coloridas. Luca estava vestido de Luke Skywalker e Carol, de Princesa Leia. Cristina levou sua sobrinha para participar da festa e a todo instante procurava por Helena. Precisava falar com ela. Queria acabar com o clima péssimo entre as duas. Mas não conseguia vê-la. Em um certo momento da festa, vê uma figura vestida de Darth Vader atravessar o jardim. Conhecia bem aquele andar. Mesmo que a figura estivesse com o rosto protegido pela máscara, Cristina sabia que era Helena. “Só ela mesma pra usar essa fantasia”, divertiu-se.



Helena fez a volta na piscina, tirou o sabre de luz colorida da cintura aproximou-se de Luca e começou a simular um ataque. Os dois rolaram pela grama do jardim e no final do embate, Helena fingiu morrer. Luca sai gritando feliz: “matei o Darth Vader, matei o Darth Vader!”. Esther e Gilberto, mesmo sem concordar com o embate, riam com a felicidade do filho. O suposto corpo de Darth Vader foi retirado do jardim por dois seguranças. Cristina acompanhava a cena encantada. Aos poucos, entendia as atitudes de Helena: era uma criança crescida que às vezes precisava de uma palmada bem dada. Os seguranças deixaram Helena na casa da árvore. Helena retirou a máscara e ficou observando a festa da sacada. Procurava por Cristina, mas não a via em nenhum lugar. “Ela não veio”, murmurou decepcionada.



Retirou as botas deitou na rede, fechou os olhos, tentou dormir teve uma semana desgastante. Não sentiu a presença de Cristina ao seu lado. Apenas sentiu que alguém massageava seus pés, permaneceu mais um tempo com os olhos fechados estava adorando a massagem.



- Vai ficar sem falar comigo até quando?



Ao ouvir aquela voz, Helena estremeceu. Mas resolveu manter-se firme. Disse com desdém:



- Falo com você todos os dias.



- Fala só o essencial. Precisamos conversar, Helena.



Cristina parou de fazer a massagem. Helena abriu os olhos sentou-se na rede e abriu espaço para que ela se sentasse ao seu lado.



- Já sei: veio pedir a roupa de Obi-Wan, mas acho que você fica melhor como mestre Yoda.



Cristina queria sorrir, mas considerava a situação séria demais para render-se a mais um dos encantos de Helena.



- Sempre engraçadinha quando quer fugir de uma conversa.



Helena também ficou inesperadamente séria:



- Não tenho nada pra falar, Cris. Na realidade cansei de falar, cansei de tentar ficar numa boa com você, mas você insiste em me ignorar. Recusa todos meus convites, faz questão que me sinta mal.



- Não é isso, não coloque as coisas dessa forma. Você sabe que sou casada, sabe que nunca tive uma experiência com uma mulher. Tudo é novo pra mim. Será que é difícil entender?



Helena olhou Cristina, mas desviou-se daquele olhar que parecia consumi-la toda.



- Não é difícil entender, mas essa dificuldade toda você, pelo visto, só tem comigo. Eu vi você sair com a loira da boate. E não parecia preocupada com isso.



Cristina balançou a cabeça. Estava juntando as peças.



- Ahhh, então é isso que está te incomodando?



- Também é isso – respondeu Helena enfática - Diz ai o que ela tem que eu não tenho?



Cristina sorriu, passou as mãos pelos cabelos. Levantou foi até a sacada.



- Eu NÃO sai com ela, se isso que você quer saber.



- Como não? Eu vi você sair com ela da boate e depois entrar em seu prédio.



Cristina não escondeu sua surpresa:



- Helena, você me seguiu?!!!



- Não segui, apenas fiz um trajeto mais longo passando por sua casa até chegar à minha – respondeu, querendo disfarçar a irritação, mas em seguida, explodiu: - E se eu tivesse seguido, qual o problema? Não adianta mentir pra mim. Fiquei um tempão em frente ao prédio. Não vi a loira sair. Portanto, ela dormiu lá com você. Cris, perdôo essa traição. Só quero que diga por que me evita. Sinto que você me quer e você sabe que eu te quero muito. Diga o porquê, faço qualquer coisa para ter você pra mim.



Cristina sentiu o peito arder com aquelas palavras, mas precisava colocar as coisas em seus devidos lugares.



- Helena, você está delirando. Primeiro, eu não trai você, pois não existe nada entre nós. Segundo, o problema todo é esse: não quero ser sua, não pretendo ser propriedade de ninguém, muito menos ser tratada como um troféu. Se um dia aceitasse ter algo com você, seria para estar ao seu lado como companheira, não como uma boneca. Consegue entender a diferença?



Helena não estava mais suportando aquilo. Jogou seu corpo contra o de Cristina. A violência fez com que Cristina batesse as costas na parede. Cristina não pôde esboçar nenhuma reação. Helena segurou seu rosto e beijou-a com força, forçou sua língua para dentro da boca de Cristina. No início, pela raiva, pela surpresa, pela indignação, Cristina tentou resistir, mas o calor do corpo de Helena dominou o seu e, mesmo sem raciocinar direito, correspondia com a mesma fúria e intensidade. As roupas foram sendo arrancadas, jogadas sem destino. Helena rasgou a calcinha de Cristina e a penetrou. Não havia como resistir àquele apelo. Em pé, encostada na parede, Cristina estava tão excitada que não sentiu dor, apenas um prazer enorme. E foi ela que movida pelo ímpeto, enlaçou a cintura de Helena com as pernas e acompanhava com os quadris o movimento de vai-e-vem. Helena sugava um de seus seios ao mesmo tempo em que a penetrava. O suor escorria por suas costas. Helena estava alucinada: só queria fazer com Cristina sentisse todo o desejo que havia acumulado durante todo aquele tempo. Helena, ao sentir que Cristina ia gozar, olhou dentro de seus olhos. Não queria só sentir, queria ver também. Sim, ela não queria possuir apenas aquele corpo, mas também seu coração, sua alma. Os espasmos tomaram o corpo de Cristina. Beijaram-se e o beijo sufocou o grito de prazer. Helena deitou Cristina no chão, colocou-se entre suas pernas, sugou todo o gozo. Queria tê-la de todas as formas, queria cada pedacinho, cada fluído dela para si. Cristina teve o orgasmo mais maravilhoso de toda a sua vida, chegou ao céu, viu as estrelas, os astros e não conseguiu – não queria - segurar o grito de prazer. Helena voltou a beijar sua boca, agora com calma, com carinho, com ternura. Como era bom sentir seu gosto na boca de Helena. Abraçaram-se forte, ficaram em silêncio. Não existiam palavras certas pra dizer naquele momento.



Helena abraçava-a forte, como se não quisesse deixá-la escapar, cubriu seus corpos com a capa, a unica peça de roupa que sobrara. Cristina suspirou e sorriu.



- Ohh, senhora morcego!!! poderia sair de cima de mim e ficar ao meu lado? Preciso respirar - disse sorrindo.



- Desculpa, mas estava tão bom.



Ficaram ali trocando olhares, namorando, trocando beijos e caricias. Mas, inesperadamente, Cristina levanta-se e começa a colocar o que sobrou de suas roupas, balbuciando uma explicação:



- Helena, preciso ir. Perdi a noção do tempo e minha sobrinha está sozinha na festa há horas.



Helena levanta-se e segura levemente em seu braço:



- Cris, quer namorar comigo?



Cristina, já vestida, responde:



- Helena, foi só uma transa. Nada mais.



Sem dizer mais nada, deixa Helena parada, sem ação.



Cristina não esperava ouvir a proposta de Helena e acabou respondendo de uma forma impensada. Mal tinha saído da casa da árvore, arrependeu-se. “Sou uma burra”. Encontrou sua sobrinha na maior farra com as outras crianças e praticamente teve que arrastar a garota para ir embora. Chegou ao seu apartamento com o andar pesado, deitou em sua cama e finalmente pôde chorar. Desabou em um choro compulsivo. Estava com raiva de si, com raiva de seus medos e, principalmente, com medo de perder algo que há muito tempo buscava. Adormeceu com um peso maior que poderia carregar.

A trégua que Helena sugerirá umas semanas atrás fora quebrada pelo incidente da festa.



Cristina não falou mais no que aconteceu com Helena e a evitava todas as maneiras. Sabia que se voltasse a conversar, cederia, e cederia de vez. Queria resolver sua situação com seu marido. E agora faltava pouco. Ele estaria no Brasil no final do ano, mas, na realidade, precisava resolver seu conflito interior. Sentia-se completa quando estava com Helena, fazer amor com ela era algo maravilhoso e só de olhá-la, já sentia tesão. Compartilhar o dia a dia de Helena era fascinante. Helena era daquelas pessoas que faziam que todos os dias fossem diferentes, não existia rotina quando estava ao seu lado. A sua seriedade e no minuto seguinte o humor, o monte de bobagens ditas e feitas a encantava. A mistura de mulher e de criança em um só corpo era o que fazia de Helena tão especial. Mas a idéia de estar ao lado de uma mulher a incomodava muito. Como contaria pra sua mãe, para seu pai, um homem tão rígido, tradicional? Cristina só de pensar no assunto sentia um frio na barriga.



Helena não conseguiu dormir direito nas semanas seguintes a festa. Tentava de todas as maneiras conquistar Cristina, mas nada que fazia dava certo. Emagreceu, ficava irritada por qualquer coisa. Perdeu o interesse sexual por outras mulheres. Foi convencida por Zefinha a procurar seu médico. Fez vários exames, mas todos deram normais. O medico disse-lhe que precisava procurar um analista. Escolheu uma mulher.



- Doutora, não sei o que esta acontecendo comigo. Não tenho nada fisiológico, mas sinto uma dor no peito, um desânimo e pior perdi todo o meu tesão.



- Há quanto tempo está se sentido assim?



- Mais ou menos dois meses. Mas o tesão desapareceu há um mês. Isso nunca aconteceu comigo.



- Não é um período longo. Quantas vezes por semana você costuma fazer sexo?



- Transava pelo menos cinco vezes por semana e quando estava com a Dani, até sete.



A analista pergunta com o olhar intrigante:



- Tem algo que está te preocupando?



- Não, nada.



- Tem certeza?



- Bom, tem uma garota... quero sair com ela, mas ela não quer sair comigo. Mas isso já aconteceu antes e nunca fiquei sem transar. Não pode ser por isso...

- Ok. Mas me fale mais dessa moça.

Ao término da consulta, Helena pergunta ansiosa:

- E ai, doutora. O que tenho é grave? Preciso voltar a ser como eu era antes, quero minha vida de volta, me dê um remédio, uma solução, por favor.



- Helena, realmente você tem algo grave e sério, mas é curável.



- E o que eu tenho?



- Você está amando.



- Como? Não posso estar amando...E logo a Cristina.



- Tá vendo? Nem falei por quem e você já disse o nome dela. Só pensa nela...Todas as suas aflições acontecem por causa dela.



- Então, me cure, por favor! Se amar é perder o tesão por outras pessoas, perder a vontade de viver não quero amar.



- Amar é maravilhoso Helena, você só precisa ser correspondida. Já pensou que pode estar tentando conquistá-la de uma forma errada? Seja mais você, não pense em como ela gostaria que você fosse, seja você que vai dar certo.



Helena saiu com essas palavras na cabeça


 
 
Capítulo 1: Aceitando o inaceitável Amor


(por Cacau , adicionado em 26 de Novembro de 2005)




Quero pedir descupas pela demora na publicação dos capítulos.Por isso estou colocando o conto completo,assim quem esqueceu pode reler, e quem nunca leu pode começar. Prometo que publicarei todos os sábados até o final do conto.

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Capítulo I



Terça feira 06:00. Maria Helena esta em frente ao espelho do minúsculo banheiro, não gosta do que vê. Olheiras enormes, cabelos desalinhados, roupa amassada, com cara de quem acabou de chegar da balada, mas ela não estava na balada isso era o pior , pensava.

Sentou no vaso. “Preciso dormir, Preciso dormir”.

Acordou com o celular vibrando em seu bolso traseiro, quase caiu do vaso, 06:30, que merda, era Rodrigo sócio e seu maior rival na empresa.

- Bom diaaaaaa Lê, esta tudo bem com você? Espero que tenha dormido bem, pois quero um relatório de como anda a implantação do sistema, do treinamento das pessoas, do...........Lê, você esta me ouvindo, diga alguma coisa!!!!!!!!

- Odeio quando você acorda de bom humor, aliás odeio qualquer pessoa que acorde de bom humor. Eu não durmo há 3 dias consecutivos. Quanto ao relatório anota ai:A implantação foi um sucesso, todas as pessoas estão treinadas e operando o sistema e teria terminado o trabalho ontem e dormido como um anjo se o analista tivesse colocado a versão nova, mas não , o palhaço fez questão de atualizar de madrugada. Portanto, vou para o hotel agora, faço minhas malas, pego um avião e chego hoje em São Paulo e saio de férias, entendeu, ou as férias ou a conta, você escolhe. Quer que eu diga mais alguma coisa?

Seria ótimo se ela pudesse pedir a conta, pensou Rodrigo.

- Bom, espero que durma muitoooooo na viajem, falamos sobre suas férias quando chegar ok, tenho uma excelente proposta pra você.

- Rodrigo, escute.... Q U E R O M I N H A S F É R I A S.

- Durma e conversaremos amanhã aqui no escritório, bom tenho que desligar .....

- Rodrigo, espera.....Seu FDP

Ajeitou a roupa, jogou uma água no rosto e nos cabelos curtos. Passou um batom, um corretivo pra disfarçar as olheiras, penteou os cabelos, treinou vários tipos de sorriso, mas não adiantou muito, saiu com a cara brava de toda manhã.

Verificou os últimos detalhes, fez seu relatório, conversou com o Gerente e despediu-se das pessoas. Entrou no taxi foi direto para o hotel, pediu pra encerrarem sua conta e enquanto fazia sua mala ligou para Dani.

- Bom dia meu amor, esta tudo bem com você?

- Estou morrendo de saudades, quando você chega?

- Amanhã, “Queria fazer uma surpresa”

- Não acredito mais em você, ontem você falou que era hoje, e hoje fala que é amanhã, que saco!!!!

- Calma, chego amanhã cedo, tá bom.

- Você pegou os folhetos de viagem que pedi?

- Peguei sim, estou com eles aqui na cama, escolhi alguns lugares. Que tal Teresópolis?

- Não, é muito perto do Rodrigo e faz frio.

- Então , Argentina, hummmm?

- Gosto das dançarinas de tango, mas é frio!!!!

- Portugal?

- Não, as mulheres tem bigode e é muito, mas muito frio.

- Você não disse pra eu escolher o lugar ? Fica ai colocando defeito em todos!!!

- Eu disse, só não quero passar 30 dias com roupas dos pés a cabeça, sem vontade de tomar banho e com o corpo todo enrrugado parecendo uma uva passa quando tira a roupa, você sabe que viro um urso no inverno, hiberno, ai não terá nem sexo, vai correr esse risco? Vou com você pra qualquer lugar que tenha: sol, praia, gente bonita e sol, se você escolher qualquer lugar com essas características vou sem reclamar, prometo.

- Ta bom, tá bom. Vou separar outros folhetos e Você escolhe o lugar. Mas amor, adoraria usar meu casaco novo de vison.

- Ahhhhh, já sei, você poderá usá-lo no final de semana.

- Como? Onde? Vamos a uma festa?

- Não, faremos melhor. Ligaremos o ar condicionado do quarto no último, fechamos a porta e só abrimos depois de uma hora, ai você coloca o casaco e faz um stripper só pra mim, que tal?

- Ta falando sério?

- Estou!!!!

- Acha que vou usar meu casaco caríssimo dentro do apartamento? E ainda por cima só você vai ver. Nunca!!!!

- Ta bom então, falaremos nisso quando chegar, ok

- Tem certeza que não dá pra chegar hoje?

- Tenho, adoraria estar ai com você, mas não posso. Beijos, estou morrendo de saudade .

- Beijos e se cuida hem!!! Vê se não vai ficar galinhando por ai.

- Dani meu anjo você sabe que só penso em você!!!!

- Maria Helena, não faça rir, desligou.

Terminou de arrumar as malas, tomou um belo banho pensando em Dani, estava morrendo de saudades queria te-la logo. Seguiu para o aeroporto, não dormiu durante a viagem, morria de medo de viajar de avião, detestava tudo que não podia controlar.

Chegou em seu apartamento por volta das 18:00. Entrou devagar. Viu roupas espalhadas pelo chão, “nossa a Dani esta muito desorganizada” , largou a mala na sala e foi direto para o quarto, a porta estava entreaberta, parou estática sem acreditar no que via. “Dani nua abraçada a vizinha do 6° andar”.

Foi até o banheiro; gritou, deu um murro no espelho, cortou a mão. Sentou no vaso pra estancar o sangue e cogitou : “Mato as duas estranguladas e depois fujo”; não, não quero passar o resta da minha vida na cadeia: “dou uma surra nas duas”, ótima idéia, mas estou cansada, vai me dar um trabalho; hummmm, não; “vou embora e apareço amanhã fingido que nada aconteceu, descanso e ainda faço amor com ela, posso até ficar com as duas, hummm”!!!! não, não tenho sangue de barata. Já sei.

Foi até a sala pegou sua mala e tirou de lá 3 coisas, caminhou até o quarto e...

Apertou o gatilho.............. da corneta sonora que trouxe para seu sobrinho, as duas quase caíram da cama de tanto susto provocado pelo barulho ensurdecedor. Dani abriu os olhos e viu Lê com chapéu e nariz de palhaço apertando a corneta.

- Lê, amor, posso explicar, não é nada disso que você esta imaginando.

- Ah tá !!!, deixa que eu explico o que estou pensando, vocês estavam com calor, tiraram toda a roupa, deitaram pra falar da nossa viagem e acabaram pegando no sono?

- Calma Lê !!!!

- CALMA, EU ESTOU CALMA, MUITOOOOOOO CALMA, enquanto trabalho feito uma louca sou feita de palhaça por você. Vou provar que estou CALMA. Vou deixar você ir embora sem fazer nada ok, podia te dar uma surra, te matar, mas não, vou deixar você sair da minha vida na boa sem rancor, sem vingança!!!!

- Lê, você sabe que não tenho pra onde ir, vamos conversar.

- SAIA, AGORA!!!!!

- Ta bom, vou vestir minha roupa e conversamos depois, se você ainda quiser que eu vá embora faço minha mala, dou um jeito de arranjar um lugar pra ficar.

- S A I A A GO R A!!!!!!! Fazer mala, tá louca!!! Vai com a roupa do corpo e só.

- Espera ai, não é bem assim, tenho direitos.

- É verdade, tem sim, tem direito de ficar calada e levar uma surra.

- Lê, me perdoa, te amo, ela que insistiu, é tudo culpa dela.

- Opa, eu estava calada mas também não é bem assim.

Lê arrastou a vizinha até a sala, “até que é bem gostosinha”, trancou Dani no quarto.

- Bom, agora é entre nós, diga a quanto tempo sai com a Dani?

- Pouco tempo.

- PERGUNTEI QUANTO!!!! diga a verdade , pois vou perguntar pra Dani e se o que vocês disserem não bater, falo tudo pro seu M A R I D O, entendeu?

- Dois anos.

- Essa filha da P, me trai desde que mudamos.

- Mas não sou a primeira dela, e além do mais ela quem deu em cima de mim.

- Chega, se continuar falando mudo de idéia e mato essa piranha.

Abriu a porta do quarto e Dani estava com a mala pronta.

- Já disse que não vai levar nada.

- Lê, pensa bem.

- Ok. Vou deixar você levar uma coisa, que não terei coragem de usar mesmo.

Dani levantou a mala.

- Não é a mala idiota!!! Você vai levar o colchão.

- Como assim?

Lê abriu a porta da sala, foi até o quarto e arrancou o colchão da cama, colocou nas costas de Dani.

- Saia daqui agora junto com esse colchão imundo, ah, e leve a vizinha gostosa com você.

Dani tentou argumentar mas foi em vão, foi colocada pra fora com o colchão nas costas. Ahhhh e não largue o colchão aqui na porta, melhor vou colocar você dentro do elevador com ele. Chamou o elevador e ficou cantarolando uma musica “Eu queria ter um lança-chamas,Eu queria ter uma fogueira,Eu queria ter somente um fósforo, Eu queria ter uma vela acessa, Pra queimar Soraia, Pra ver torrar seu couro,Pra deixar somente o osso exposto ao sol”. Dani ficou assustada, quando o elevador chegou entrou correndo, Lê jogou o colchão dentro e fechou a porta.

Entrou no apartamento e trancou a porta, sentiu-se sozinha, muito sozinha. Refletiu sobre o acontecido. Sabia que tinha culpa, sabia que era ausente, traia Dani em suas viagens, sabia também que não amava Dani, gostava dela mas não a amava, na verdade ainda não tinha conhecido o verdadeiro amor, mas ser traída dentro da própria casa e na sua cama era demais.

O telefone toca insistentemente, era sua mãe.

- Maria Helena, posso saber o que esta acontecendo?

- Boa noite mãe, a senhora esta bem?

- To morrendo de vergonha, a Daniela esta aqui na recepção chorando deitada em um colchão e falando muito mal de você quem passa ouve os absurdos.

- Mãe, dá o celular pra ela um minuto por favor.

- Maria Helena!!!!!!

- Dá agora!!!!!!!!!

- Dani sua piranha, levanta daí agora, pega sua mudança e some da minha vida, caso contrário vou ligar para uns fotógrafos amigos meus e ai sua iniciante ascendente carreira de modelo vai para o buraco, fui clara? Ou quer pagar pra ver?

Dani entregou o celular e saiu carregando o colchão, sabia que Helena era maluca o bastante pra fazer o que prometia.



A campainha toca insistentemente, Helena sabe quem esta tocando mas não tem a menor vontade de atender, levanta do sofá e sai arrastando os pés, “Deus será que esse dia não vai acabar nuncaaa”.

Abre a porta sem tirar a corrente de segurança. Oi Dona Rita.

- Maria Helena abra essa porta.

- Mãe, estou cansada, sem dormir, podemos conversar amanhã?

- Não!!! Quero falar com você do vexame de agora pouco, abra logo!!!

- Fez um bico enorme e tirou a corrente, jogou o corpo no sofá, sabia que a conversa seria desgastante.

- Maria Helena, estou morrendo de vergonha, além de ser a mãe de uma mulher que gosta de mulher.

- Mãe, é lésbica.

- Detesto essa palavra, e você sabe disso.

- ahhaha.

- Acontece esse vexame. Estou eu, no salão de jogos e ouço Daniela falar barbaridades de você pra todo mundo ouvir e ainda com aquele colchão nas costas, não entendi nada e pior não sabia o que falar para as pessoas. E agora como vou ficar perante a vizinhança? não poderei ir mais a piscina, ao salão de jogos a nenhuma área comum do prédio!!!

- Ué, porque? Não lembro de ter atrasado o pagamento do condomínio, eu continuo pagando o condomínio em dia.

- Todos estão falando de você, já falavam e agora então você virou notícia no prédio.

- Dona Rita, fique calma, quem vai falar são seus amigos aposentados, e como a maioria tem uma idade avançada logo esquecem naturalmente.

- Não deboche.

- Bom já aconteceu, não posso voltar atrás, o quer que eu faça?

- Temos que mudar daqui.

- Ta louca!!! comprei o meu e o seu apartamento a menos de 3 anos, aliás nem aproveitei meu AP, fico mais em hotéis que dentro dele. Pago minhas contas, não devo nada nem satisfação a ninguém.

- Mas eu fico aqui né, você aparece só à noite, quando aparece; temos que mudar.

- Não. Arranje outra alternativa que limpe sua M O R A L aqui no prédio, pois a minha moral não esta nem um pouquinho abalada, alíás estou com ela lavada.

- Então viajarei por uns meses assim quando voltar já não será noticia ai poderei circular naturalmente.

Lê já sabia de antemão dessa solução, seria um alivio ficar longe de sua mãe por meses, mas sabia que arcaria com as despesas.

- Por mim tudo bem, escolha um lugar aqui no Brasil, nada de viajar para o exterior, depois fica doente e tenho que ir buscá-la como da última vez.

- Então esta combinado, agora Dona Rita, vá para o seu AP que eu preciso descansar, por favor!!!

- Esta me botando pra fora é??

“AHHH meu Deus”, “ joguei pedra na cruz, só pode ser”

- Há quanto tempo não vejo você? Uns quatro meses? Se quero saber de você tenho que ligar para o escritório e falar com a secretária, ou perguntar para sua irmã, pois você não atende o celular quando ligo, elas sabem mais de você do que eu, que sou sua mãe.

- Mãe, por favor pare de drama. Você sabe bem porque nos afastamos.

- Eu não me afastei de você, você que se asfatou de mim, sem nenhum motivo.

- Ahh ta, sua intolerância, seu preconceito, sua vaidade, não são motivos? E tem mais, somos diferentes em tudo; sei que me tolera porque pago suas contas, suas viagens. Você me culpa pela morte do papai e eu te culpo pela morte do Junior. Pare de fingir que é uma boa mãe, pois eu parei de fingir que sou uma filha dedicada a um bom tempo.

- Maria Helena, você nunca foi uma boa filha, sempre me encheu de vergonha, você podia ter......

- Diga, complete a frase!!! Ter morrido no lugar do Junior!!! poderia ter morrido, poderia ter continuado morando em Londres, poderia um monte de coisas, mas estou aqui e vai ter que me agüentar por um longo tempo, alias dedico todos os dias da minha vida pra irritar você.

- Vou embora não vou ficar aqui agüentando seus desaforos, depois ligo pra sua secretária pra marcar a viagem.

- Foi você quem insistiu pra entrar e conversar lembra?? Você sabe o caminho da porta, até logo Dona Rita.

Ouviu o barulho da batida da porta, afundou a cabeça que latejava nas almofadas.

– Ai, preciso de um café.

Adormeceu por duas horas, acordou com um barulho estranho vindo da cozinha, estava tudo escuro, ficou assustada, pegou um cinzeiro enorme e caminhou lentamente até a cozinha, acendeu a luz e gritou..........

- Biaaaaaaaaaa, sua safada, estava aqui o tempo todo e não veio falar comigo, é assim mesmo, esquece quem te ama, quem te dá carinho, venha cá e me dê um abraço bem apertado.

- Venha, estou esperando, se não vem eu vou até você hem!!!

Correu, abraçou e beijou sua cachorra, uma labradora cor de mel. Rolou no chão com Bia, recebeu em troca varias lambidas no rosto e na boca. Amava Bia, uma de suas poucas paixões. Abriu o armário pegou biscoito para Bia e batata frita pra ela, serviu água pra Bia e uma cerveja pra si, ficou ali sentada no chão da cozinha conversando com Bia enquanto ambas jantavam.

- Você hem!!! nem pra me avisar que ela estava me traindo!!!! nem pra defender sua dona, podia ter mordido a vizinha, mas não, fica ai dormindo. Bia você esta muito gorda, vai fazer uma dieta e caminhar comigo todos os dias, vou acabar com sua vida mansa e com essa banha toda. Bia continuava comendo nem ouvia sua dona.

Acabaram de comer. Lê tomou um banho demorado e fez um curativo em sua mão que insistia em sangrar além de doer muito. Estava exausta, só pensava em dormir, foi até o quarto não viu o colchão, lembrou da cena de Dani deitada na cama com a vizinha “preciso mudar a decoração do quarto”, pegou travesseiro e coberta, deitou no tapete da sala e adormeceu abraça a Bia.

- Leninha, Leninha.

- Hummmm,

- Que bom que chegou, levante quero te dar um abraço

- Deixa eu dormir Zefinha...

-Ta dormindo no chão duro porque?

- Depois eu conto, deixa eu dormir por favor....

- Leninha, roubaram seu colchão, acorde.

-AHHHHHHH, Zefinha, não roubaram eu dei pra Dani.

-Ahhhh!!! quer café? vou fazer um pra você.

- Zefinha quero dormir só isso, fica quietinha um pouco.

- Eu preciso começar a faxina.

- Eu vou matar você se continuar falando e fazendo barulho.

- Desde menina é assim mal criada, com essa preguiça pra acordar. Leninha acorda, esta um dia lindo.

Sentou no chão ainda com os olhos fechados. – Leninha levanta!!! ``Deus mande um raio na cabeça dela``. Levantou e caminhou até o banheiro com os olhos fechados estava em estado de transe, fazia tudo automaticamente, tirou a roupa e ligou o chuveiro, depois de cinco minutos começou a acordar, tomou um banho, calçou um tênis colocou um short e uma camiseta folgada, fez outro curativo, colocou na mochila a roupa e os sapatos sociais.Foi até a cozinha beijou Zefinha no rosto, pegou uma xícara enorme de café.

- Zefinha, estava morrendo de saudades de você.

- Sei, disse que iria me matar agora a pouco.

- Nunca faria isso com você, sabe que te amo né.

- Minha filha cadê a Dani?

- Foi embora junto com o colchão. Zefinha preciso de um favor. Coloque todas as coisas da Dani em caixas, vou trocar a fechadura, você não dê a chave pra ela, ela esta proibida de entrar aqui quando eu não estiver, entendeu. Prometa que ela não vai entrar aqui.

- Deus finalmente atendeu minhas preces, aquela garota não prestava pra você.

- Zefinha você fala isso de todas as minhas namoradas, ando desconfiada, acho que você esta querendo casar comigo....ris..

- Me respeite viu. Eu não gostava daquela magrela mesmo, ela não era pra você minha filha, toda metida, toda cheia de amigas, nem falava comigo direito. Quando você estava aqui era um amor comigo, mas quando você estava viajando me tratava mal.

- E porque você não me contava?

- Você vive dizendo que sou implicante, ranzinza, não houve meus conselhos.

- Ta bom, de hoje em diante ouvirei todos; ahhh tenho um presente pra você.

Foi até o quarto e pegou o casaco de vison da Dani. – Aqui, esse casaco é pra você. “ Só gostaria de ver a cara da Dani agora”

- Obrigada minha filha, adorei, você sabe como meus joelhos doem no inverno.

Pegou a mochila, beijou Zefinha e foi caminhando até o escritório adorava fazer essa caminhada matinal, era o momento em que tinha suas melhores idéias e soluções para seus problemas. Foi pensando em Zefinha, ela foi sua mãe nos últimos 25 anos, sempre presente, brigava quando fazia algo de errado; quando se estapeava com o irmão era Zefinha quem separava, foi quem a amparou no enterro de seu pai e irmão, sempre presente em sua vida nas horas boas e ruins.

Chegou cedo ao escritório, ao entrar no elevador da de cara com Rodrigo. “ “Será que entrei no meu inferno astral, só pode ser”.

- Bom dia Helena.

- Estava um bom dia.

- Você não muda mesmo, desde menina assim mal humorada pela manhã, acho que é falta de uma boa transa.

- Rodrigo, estaria de bom humor se não tivesse que encontrar com você e com todos os outros diretores às 8:00. Não sei porque as pessoas tem que marcar uma reunião tão cedo, ahhh, to precisando de uma boa transa mesmo, pede pra sua mulher passar na minha casa hoje.

- Você e suas piadas sem graça.

- Porque!!! eu só queria seguir seu conselho.

Helena, preciso falar com você antes da reunião, sobre aquele nosso assunto.

- Rodrigo agora são 7:30, preciso tomar um banho e trocar de roupa, como pode perceber não posso aparecer suada de tênis e camiseta, conversamos depois.

- Helena você sabe que nossa conversa não pode ser depois da reunião, conversamos enquanto toma seu banho.

Desceram do elevador.

- Ficou maluco ou bateu a cabeça ? Rodrigo não temos nada pra conversar.

- Helena, não posso perder minhas ações.Você sabe que as herdei do meu pai, se perder as ações perco meu cargo, perco minha moral perante a minha família.

- Rodrigo, você quase levou a empresa à falência, imagine 700 funcionários sem emprego, sem salário, imagine como as famílias desses funcionários estariam no momento? E você vem me falar da sua moral com sua família!!!!!!!! Esqueça, não posso fazer nada para ajudá-lo.

Entrou em seu escritório e trancou a porta, não queria ser dura com Rodrigo, mas infelizmente tinha que ser.



Helena terminou de se arrumar, pegou sua pasta com relatórios, e outros papéis importantes.

- Vera, venha até minha sala por favor.

- Bom dia Helena, fez boa viagem?

- Bom dia Vera, não diria que foi uma boa viagem mas foi muito proveitosa, fechei o contrato com os alemães em Joinvile, que esta aqui assinado, leve-o para a Kelly e diga que quero vê-la na reunião. Faça um favor, peça pra trocarem a fechadura do meu apartamento, e quando a Dani ligar diga que eu morri ontem à noite, ahhh pergunte o novo endereço dela e mande entregar umas caixas que estão no AP com a Zefinha.

- Como assim morreu?

- Diga isso que ela vai entender muito bem. Não quero receber nenhuma ligação dela, nem quero vê-la aqui no escritório, ahhh deposite esse cheque na conta dela, diga que esse dinheiro é do meu seguro de vida.

Bebeu três cafés, pegou suas coisas e foi pra a reunião, sabia que sua vida profissional mudaria a partir desse momento.

Na sala já estavam Sr. Pádua, Sr. Marcondes, Sr. Farias sócios fundadores minoritários, Rodrigo que detinha 30 % das ações da empresa Sr. Marcelo Mendonça sócio fundador majoritário com 50% das ações, Srt. Kelly a advogada, Sr. Massumi diretor de TI. Helena cumprimentou todos sem formalidade, todos ali a conheciam desde menina, exceto Kelly que tinha uma paixão platônica por Helena.

- Bom vamos ao que interessa, depois dos últimos acontecimentos graves aqui na empresa, solicitei essa reunião com todos os sócios para concretizar umas mudanças importantes para a sobrevivência de nossa empresa no mercado, falou Sr. Marcelo.

- O Sr. Rodrigo esta sendo destituído do seu cargo de Vice Diretor presidente e esse cargo passa a ser da Srt. Helena, disse isso com um brilho nos olhos.

- Como assim Marcelo? Não posso sair assim da empresa, errei mas agora tudo esta bem, corrigimos a tempo.

- Corrigimos?? – Quem corrigiu Rodrigo?

- Helena, ela quem corrigiu.

- Helena conte como foi a negociação com a empresa alemã.

- Foi perfeita, Kelly mostre o contrato assinado por 5 anos com exclusividade para nossos serviços e produtos. Terminei a implantação do projeto e da contratação de nossa equipe, agora é só acompanhar todo o processo missão do Massumi.

- Além disso pedi pra Kelly rever todos os nossos contratos com antigos clientes e fazer uma proposta de continuidade de trabalho e quase todos aceitaram continuar conosco, com o restante falarei pessoalmente.

- Bom, todos estão a par dos fatos, não vamos alongar a reunião quero uma votação agora, quem estiver a favor da promoção de Helena ergam a mão.

Foram unânimes, apenas Rodrigo permaneceu imóvel.

Bom agora que já decidimos, agradeço a presença de todos, quero que fique na sala apenas Rodrigo e Helena.

- Espere ai, ainda tenho 30% das ações da empresa, meu voto tem um peso maior.

- Você não tem mais seus 30 %, Kelly mostre a ele o papel que assinou me passando as ações caso eu conseguisse esse contrato com os alemães, agora Eu tenho 40 % das ações da empresa.

- Assinei esse papel Helena porque estava sobre pressão, você se aproveitou de um momento de fraqueza meu.

Helena bebeu mais dois cafés, a cafeína acalmava seus nervos.

- Bom Rodrigo sei que trabalhou duro por nossa empresa esses anos todos, fez muita bobagem, seu pai e eu sempre demos um jeito pra consertar mas agora foi demais.

- Marcelo, ela se aproveitou do momento.

Helena ouvia as súplicas e ofensas de Rodrigo calada, fez o que achou certo, só isso.

-Senhores, a reunião esta terminada deixem que eu fique a sós com os dois.

- Marcelo, todo mundo aqui na empresa sabe da sua predileção por Helena, você nunca gostou de mim, só me tolerava por causa do meu pai.

- Não fale bobagens Rodrigo, estamos em uma mesa de negócios não de família. Você sabe que errou, e o pior não é humilde para reconhecer, se você tivesse escutado Helena, mas não, insistiu no negócio com os Chineses, eles faliram, quase levaram a nossa empresa para uma situação difícil. E você ainda jogou contra a empresa, não ajudando Helena a fechar o negócio com os alemães nem tentou contatos com nossos antigos clientes, disse que ela aproveitou uma situação, mas e você que foi completamente desonesto, boicotando o projeto. Você merece perder suas ações.

- Eu fui desonesto e ela? Sabe que ela dormiu com o dono da empresa, pra conseguir o contrato?

- Cala a boca Rodrigo, não fale mentiras.

- Eu não dormi com o dono da empresa, dormi com a filha dele só pra adiantar a assinatura do contrato, ele assinaria mesmo, se quer fazer fofoca faça direito pelo menos.

Olharam surpresos para Helena.

- Gente, o contrato não esta ai assinado isso é o que interessa!!!

- Eu não disse que ela faz tudo pra não perder.

- Faço mesmo, nunca menti, foi uma estratégia não muito legal sei disso, mas é melhor do que falir a empresa produzindo produtos para uma única empresa pra lavar dinheiro pra ela.

- Gente estou tonto com tudo isso.

- Marcelo a empresa Chinesa era fachada pra lavagem de dinheiro e nossos computadores serviriam de mula pra enviar droga para o Oriente. O Rodrigo ganharia dinheiro extra para cada lote de computadores que estivesse recheado com a droga.

- Helena porque não me contou isso antes?

- Porque não era necessário, descobri as mutretas desse maluco, fiz a proposta e ele aceitou, ele daria suas ações caso não desse certo o negócio com os chineses, mas se desse certo eu daria meus 10% das ações e nunca mais apareceria na empresa. Só que ele não imaginava que eu sabia de toda a transação ai foi só ligar para as pessoas certas para fecharem a empresa e prenderem os chineses.

- Então foi você?

- Foi sim. Negócios são negócios. Não podia deixar a empresa que cresci dentro dela fechar ou entrar em um negócio sujo como esse.

- Você é uma piranha mesmo, sabia de tudo e armou contra mim!!!

- Rodrigo saia da empresa agora, estou decepcionado com você, seu pai foi um homem honesto, ainda bem que ele não esta aqui.

Rodrigo saiu da sala chutando as cadeiras, batendo a porta. Helena bebeu mais um café jogou-se na cadeira. Marcelo sentou-se ao lado dela e acariciou seus cabelos.

- Demorou pra voltar do Sul, estava com saudades.

- Eu também padrinho, sinto muito sua falta, desculpe não ter contado antes, mas sabia que se soubesse tentaria evitar, falaria com Rodrigo e colocaria tudo a perder.

- Sei que fez a coisa certa por caminhos que não aprovo muito. Mas vou apoiar você, sabe disso. Você é muito parecida com sua mãe sabia? Tem esse gênio forte, decidido, detesta perder, competitiva até a morte.

- Ai nem me fale nela, ontem brigamos novamente. E não sou parecida com ela. Ela é egoísta, preconceituosa, interesseira e mais um monte de coisas que estou com preguiça de dizer.

- Você herdou o gênio da sua mãe mas herdou o coração bom e os olhos azuis do seu pai e o gosto pela conquista de belas mulheres, sabe que ele me roubou sua mãe né?

- Isso é verdade, sou boazinha ,linda, mas sou mais inteligente que ele,tem que ser muito burro pra se apaixonar por uma mulher como a Dona Rita

- E convencida também.

- Convencida eu???

- Sim convencida, e sua mãe é uma mulher muito atraente, só mudou de atitudes com o tempo, virou uma pessoa rígida, ela era alegre assim como você.

- Você sabe porque ela ficou assim?

- Tem que perguntar a ela, você sabe que ainda somos amigos, não tenho direito de falar certas coisas pra você.

- Você e a mamãe, cheios de segredos e mistérios.

Conversaram o resto da manhã, uma conversa animada mas séria. Helena tinha adoração por Marcelo e ele por ela, ele era seu chefe, seu amigo, seu padrinho. Marcelo foi responsável por muitas das loucuras de Helena, nunca disse não pra ela, sempre apoiou escondendo as confusões que ela se metia.

- Padrinho preciso contratar uma pessoa pra trabalhar comigo, estou com umas idéias novas e......

- Ei, esqueceu que agora é a Vice Presidente, que não precisa mais falar comigo para colocar em prática suas idéias.

- Claro que falarei sempre com você, se minhas idéias não derem certo vou dividir a culpa com quem?????

- Sua danada.

- Leninha preciso de sua ajuda em um assunto sério.

- Ahhh meu Deus, lá vem bomba, quando me chama de Leninha.

- Nada disso, é algo simples. Você precisa descansar não é? Então juntei o útil ao agradável assim você descansa e resolve um probleminha.Tenho uma fazenda em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, comprei uns reprodutores há um tempo , mas essa fazenda só me dá prejuízo, gostaria que fosse até lá pré vender o gado e a fazenda.

- Você sabe que faz muito frio no Sul no mês de junho ?

- Sei.

- Você sabe que cheguei do Sul ontem ...? Você sabe que detesto o frio em qualquer mês e que odeio mato, canto de passarinho, silêncio, barro, cheiro de cocô de gado então, eca...?

- Eu sei Leninha.

- Então mande outra pessoa, manda a Kelly, um advogado fará isso melhor que eu!!!

- Não, tem que ser você, mandei o Rodrigo até lá e depois que ele voltou comecei a ter prejuízo.

- Sabia que tinha dedo dele, eu vou, mas em janeiro que esta calor, tudo bem?

- Leninha, tem que ser no máximo a semana que vem, tem leilão por lá não quero perder a chance de vender por um bom preço. Você vai ficar no máximo uma semana, prometo que quando voltar vai ficar 15 dias em qualquer lugar que tenha sol,muito sol.

- Eu não entendo nado de gado, não sei a diferença entre boi e vaca, e estará muito frio por lá, padrinho querido, por favor me tira dessa.

- Agora é padrinho querido.......ris......ris

- Já mandei comprar sua passagem, passei todas as informações da fazenda, do gado pra Vera, é só pegar com ela seu kit sobrevivência.

- Desde quando planejou essa viagem.?

- Hummm, acho que há uns quinze dias.

- A bandida da Vera nem pra me avisar dessa roubada, você esta comprando ela com o quê hem!!!!.

- Com meu charme oras........ris

- Seu sacana!!! vamos almoçar?

- Não posso, tenho que conversar com o Gilberto sobre a contratação do meu novo funcionário.

- Helena, juízo lá na fazenda, venda e volte logo, não quero confusão lá.

- Eu hemm, fala de um jeito que parece que vivo no meio de confusão.

- Conheço você muitoooo bem.





Gilberto estava sentando de costas para a porta, saboreando um lanche enorme com o seu tradicional suco de tomate temperado, não viu quando ela entrou, chegou bem perto do seu ouvido e gritou, bom almoçooooo, Gilberto derrubou todo o suco em suas calças devido ao susto.

- Poxa Lê, estou todo sujo.

- Se tivesse almoçando em casa com sua mulher e filhos isso não teria acontecido.

- Adoraria fazer isso, mas hoje estou enrolado.

- E por falar em família como eles estão?

- Estão morrendo de saudade de você né. O Luca pergunta todos os dias por você.

- Não liguei porque estava sem tempo, e quando o Luca começa a falar não para mais, gosto de dar toda atenção pra ele, até achei estranho o Luca não ter ligado.

- Ele esta louco pra pedir o presente de aniversário dele, mas todos os dias ele muda o que vai querer ganhar, por isso não deixei ele ligar pra você.

- Ué porque?

- Ora Helena, você compraria todos os presente que ele pedisse, mima muito.

- Mimo nada, faço minha parte de Tia, só isso.

- E a Esther a Carol,baby ?

- Estão bem? A Esther esta de repouso, nessa última semana não esteve bem, engordou demais e o médico recomendou que ficasse em casa.

- Mais um sobrinho.... cara, tenho que reconhecer, você é muito bom pra fazer filhos lindos e saudáveis e aumentar a nossa pequena família, por isso que te amo.

Ahhh ta, esta me chamando de bom reprodutor é só pra isso que sirvo?

- Bom toda herança genética é de nossa família, eles tem só um pouquinho de você.....ris. Você contribuiu pouco com a herança genética, mas a educação e a bondade, herdaram de você com certeza, serve também para trabalhar oras, tem que cuidar e alimentar toda sua prole......ris.

- Já sabe da novidade? Não é sobrinho e sobrinha, dessa vez ela deixou ver, ohh menininha teimosa parece alguém que conheço........ris

- Não acredito!!!! é maravilhoso outra mulher na família.

- Aparece em casa, a Esther tem uma surpresa pra você, todos querem te ver, a Carol quer ir no “pula, pula com a tia Lelê” eu digo que é Lelé ela não acredita....ris

- Você é muito bobo. Vou comprar uma cama elástica pra Carol, assim ela pode brincar sozinha, você coloca no jardim, essa menina será uma grande acrobata você vai ver.

- Helena, pare de comprar coisas para as crianças, não temos mais lugar pra guardar nada, agora você quer tomar conta do jardim!!!! Ahhh, ela quer pular na cama com você, disse que adora ver as luzinhas da cidade subindo e descendo......ris

- Vou comprar, esta decidido, assim brinco com ela na sua casa e no meu apartamento. Giba entenda, só tenho seus filhos pra mimar, e eu vou mimar, essa é minha função como Tia, a sua função como pai é educar e a minha é estragar..........ris, não vou abrir mão disso. Bom falando de trabalho agora,Gilberto, fez a triagem dos candidatos que pedi?

- Sim. Dentro do perfil que você solicitou esta difícil encontrar, mas tenho uma ótima candidata acho que você vai gostar.

- Eu pedi um homem esqueceu?

- Helena, ela é muito qualificada e linda sei que você vai gostar.

- Esse é o problema, eu gostar........ris. Preciso que essa pessoa coloque todas as energias no trabalho, que não deixe nada nem ninguém atrapalhar suas decisões. Será meu braço direito.

- Sei disso, pode confiar nela. Ela é casada, não tem filhos, trabalhou 2 anos em Nova Iorque, tem doutorado, e o melhor só tem 29 anos.

Hummmm , bom farei a entrevista, se ela passar tudo bem, caso contrario procure outro pra ontem. Marcou a entrevista pra quando?

- Amanhã 9:00.

- Não vai dar, remarque para 14:00. Marquei com a veterinária da Bia às 8:00 e quero ver os meninos antes de irem pra escola, preciso saber como anda o preparativo pra festa do Luca.

- A Esther esta me deixando doido com isso, quer contratar mágico e o Luca não quer, diz que já é um homem pra isso.

- Concordo com ele, a Esther como toda mãe não vê que o filho ta crescido, vou até lá pra salvá-lo desse mico.

- Vocês mulheres que se virem com isso, tendo cerveja na festa pra mim já esta de bom tamanho

- Bom vou indo, e vê se coloca uma calça limpa..ris

- Vou revidar, me aguarde.......ris

Voltou pra sua sala, em cima da mesa encontrou 15 recados de Dani, jogou no lixo sem ler.

- Vera preciso de você.

- Sim Helena.

- Primeiro, não coloque mais recados da Dani na minha mesa, não quero nenhuma informação sobre ela, e não se esqueça não atenderei nenhum telefonema dela. Segundo, você é uma traidora poderia ter me avisado da roubada da fazenda né!!!!

- Ué você não sabia que iria? Ele me disse que já tinha acertado tudo com você.

- E você acreditou Vera??? Sei.... O Marcelo disse que entregou um dossiê pra você com todas as informações. Como punição por sua traição você lerá o dossiê e comprará toda literatura adequada para que eu fique bem informada, compre tudo que for necessário para que eu me transforme em uma especialista sobre gado, fazenda de gado, etc....Agora é exatamente 14:30, preciso desse material em minha mesa 18:00, OK?

- Mas Helena tenho um monte de coisas pra.......

- Vera o tempo esta passando 14:31

Vera saiu com as bochechas vermelhas da sala, sua sorte é que como conhecia bem Helena já tinha lido o dossiê, agora era só comprar os livros.

Helena trabalhou o resto da tarde, pegou o material que Vera entregou pontualmente 18:00 e foi para o seu apartamento precisava estudar. Entrou em seu quarto, só nesse momento lembrou que precisava comprar um colchão, ligou pra Vera e solicitou para que providenciasse um.Tomou seu banho, deu comida pra Bia, que a cada dia parecia mais gorda e cansada. – Hummm, durma cedo hoje pois amanhã você vai ao médico mocinha. Bebeu um copo de leite olhou para os livros ficou com preguiça de ler, “ adoraria estar em um braço macio, beijar, fazer amor”, correu até o quarto abriu a porta do armário que ficava trancada onde só ela tinha a chave, pegou uma agenda com capa vermelha, que continha a seguinte palavra na capa “ Emergência”, pensou “não me deixe na mão”.

Abriu na letra A. Procurou pelas anotações ao lado dos nomes, era péssima para associar o nome a uma pessoa por isso anotava características pessoais, lugares , assim ficava mais fácil para lembrar.

Alexia “ Olhos azuis, peitos fartos”, hummm será a companhia ideal pra essa noite, ligou.

- Boa noite a Alexia esta?

- Quem fala?

- Helena, uma amiga dela.

- Ela esta no hospital, teve um lindo bebê ontem.

“ Que sorte a do bebê vai se fartar naqueles peitões” – Ligo depois pra desejar felicidade, obrigada. Riscou o nome de Alexia da agenda “vai ficar gorda e feia”

Ana Maria “ Advogada Masoquista” , hummm é essa; “tenho uma boa transa ainda dou uns tapas nela imaginando que estou batendo na Dani e em minha mãe, ficarei calminha, calminha”. – Ana Maria por favor.

- Ela não esta, quer deixar recado?

- Tem o celular dela? sou uma amiga.

- Infelizmente só poderá falar com ela daqui uns 3 meses, ela esta na Europa.

- Obrigada. “ Ligar só a partir de outubro“ até lá ficarei stressada.

Estou sem sorte com a letra A, vou pular pra B. Berenice “ baiana fogosa” – A Berenice por favor.

- Sou eu, quem esta falando?

- Helena. Lê, ta lembrada?

- Claro, nossa quanto tempo, como você esta? “Que sorte ela lembra de mim”.

- A mesma vida, trabalho, trabalho. Cheguei ontem de viagem, cheguei da Bahia, lá lembrei de você, fiquei com saudade por isso liguei “ uma mentirinha não faz mal a ninguém”. – Pensei em convidar para vir a minha casa, bebemos um vinho,colocamos nossa conversa em dia, que tal?

- Hummm, rissss, proposta maravilhosa, ainda lembro do último vinho que bebemos, passamos um final de semana inteiro fazendo amor, adoraria mas não posso ir.

- Ahhhhh, porque??

- Estou casada Lê, você sumiu depois daquele final de semana. Ai conheci a Mônica, lembra dela? Folheou a agenda duas Mônicas, “droga”

- Haaaa, não. Como ela é, o que ela faz?

- A fisioterapeuta.

- Haaaaaaa, sim lembro dela “ faz uma massagem maravilhosa antes de fazer amor”. Que legal, fico feliz por vocês. Mas apareça aqui em casa quando puder pra conversarmos.

- Ela me mata se souber que estou falando com você, e se souber que irei ai então.

- Credo, parece que arranco pedaço. Diga a ela que devolvo você inteira....riss...

- Você continua a mesma safada de sempre.

- Que nada estou mudada. Bom o convite esta feito, apareça, beijos e até. Riscou da agenda Berenice e Mônica Fisioterapeuta.

- Pulou pra letra C. Caroline “coxas grossas”

- A Caroline por favor.

- Quem gostaria?

- Helena, uma amiga.

- Ela ainda não chegou do trabalho, quer deixar recado.

- Diga que a Helena ligou somente. Com quem eu falei?

- Com Sergio, marido dela.

Riscou mais um nome “ que droga 4 nomes e nada, isso que dá ficar fora de circulação por tanto tempo, preciso atualizar minha agenda”.

Abriu na letra D, fechou os olhos e apontou com o dedo um nome. Débora ao lado estava escrito “Maria Helena”, não lembrou porque fez essa anotação, ligou.

- Oi a Débora por favor.

- Quem fala?

- Helena.

- Não acredito que seja você Maria Helena. Lembrou na hora porque fez a anotação. Estavam transando e a medida que Débora chegava perto do êxtase gritava alto,” isso, continua Maria Helena, não pare Maria Helena”, apenas sua mãe a chamava pelo nome completo, na hora lembrou da sua mãe a repreendendo , “isso, continue fazendo bobagens Maria Helena”........ perdeu o tesão.

- Não, sou só Helena, desculpe foi engano. Desligou o telefone, riscou o nome da garota.

Cansou dessa caça pela agenda. Pulou direto pra letra M, com essa podia contar.

- Má!!!! esta tudo bem com você?

- Lê é você sumida!!!!

- Claro, estou morrendo de saudade, quero te ver agora.

- Em meia hora estarei em sua casa.

- Vem mesmo, estou te esperando, beijos. Ficou super feliz, beijou Bia e foi preparar algo pra comerem. Colocou uma musica bem alegre “ I Belive da Cher” e começou a dançar pela casa, tropeçou em Bia que estava esparramada no meio da sala.- Levanta daí bicho preguiça. Pegou o vinho e a tábua de frios, colocou na sala, sabia que sua visita adorava. Ouviu o som da campainha, olhou através do olho mágico da porta, “ nossa quem será essa mulher enormeee”. Abriu a porta analisando a mulher por instantes.- Má ?

- Claro que sou eu mona!!! Abraçaram-se felizes. Marcos carregou Helena no colo até o sofá e a encheu de beijos.

- Quase fiquei excitada vendo esse mulherão na minha porta, porque não me disse que viria assim toda montada quando te liguei? Eu nunca vi você vestido assim.

- Queria fazer uma surpresa. Acredita que o porteiro não me reconheceu, precisei engrossar a voz pra ele deixar eu entrar.....ris

- Seu bobo avisei que estava esperando você.

Helena ria da situação, conhecia Marcelo desde criança sabia que ele era gay, mas nunca o tinha visto em trajes femininos.

- Nossa você fica a maior gata nessa roupa, confesso que se eu beber um pouco nem percebo esse seu pé 45 e esse seu gogó enorme...risss

- Sua boba. E ai me conta as novidades; como você esta? Cadê a Dani?

- Estou bem. Cheguei de viagem ontem e já ganhei duas coisas.

- Hummm, quero saber, o que?

- Ganhei uma promoção. Tenho 40 % das ações, sou uma das sócias majoritárias na empresa, e vice-presidente também.

- Que legal!!!

- Ganhei também um par de chifres da Dani

- Que chato!!! Nossa quanta novidade, quero saber todos os detalhes. Helena narrou a viagem a Joinvile, a saída de Rodrigo da empresa e o flagra que deu em Daniela. Marcos quase teve um ataque de tanto rir quando ela contou sobre a saída de Dani com o colchão e de como ficou com as ações de Rodrigo. Ele não gostava de ambos, ficou feliz da amiga estar livre dos dois.

- Má pare de rir!!! Tudo foi tão trágico. Você deveria estar me consolando ao invés de rindo feito uma hiena.Além do mais acho que me jogaram uma praga, liguei pra 4 mulheres hoje e acabo a noite com meu amigo biba.

- E desde quando Maria Helena precisa de consolo ou de sorte? Você vive rodeada por problemas e por mulheres uma hora ou outra isso iria acontecer com você. Deus castiga sabia? É fácil enfeitar a cabeça alheia né!!!

- É, eu sei!!! Mas poxa vida precisava ser na minha casa!!! Eu adorava aquele colchão.

- Adorava o colchão......ris...ahhh meu Deus, esta com raiva pelo colchão não pela atitude da Dani.

- Também, mas o colchão era especial, tínhamos uma estória juntos, muitos corpos rolaram por cima de nos dois.......ris.

- Bom, sei de uma coisa que levanta o astral de qualquer mulher.

- hummm, diga!!!

- Oras, cuidar da aparência. Venha trouxe minha necesser. Vamos cortar seu cabelo, tirar essa sobrancelha. Você esta muito relaxada.

- Você sabe que só confio em você né. Não daria meus lindos cabelos pra outro.

- Eu faço todos seus cabelos caírem se me trair.

- Posso trair todo mundo, menos o meu cabeleireiro e melhor amigo.

Enquanto Marcos cuidava dos cabelos, comiam, bebiam e conversavam, esvaziaram três garrafas de vinho.

- Má dorme aqui comigo?

- Onde? você esta sem colchão esqueceu?

- Podemos dormir no quarto de hóspede mas prefiro dormir no tapete da sala abraçada a Bia.

- Ela esta estranha Lê, nem fez festa quando cheguei,

- Amanhã vou levá-la ao veterinário, acho que ela esta doente ou deprimida. Assim aproveito e mato as saudades da Dra.Beatriz ai, ai. deu sua risada sacana.

- Lê a predadora volta atacar.

- Volta porque, nunca parei!!!

- Lê um dia você vai mudar, vai ficar tão perdidamente apaixonada, ai será fiel, vai querer casar de verdade, só espero estar vivo pra ver esse dia chegar.

- Credo!!! você ainda se diz meu amigo, hem. Esta jogando praga? Bateu três vezes na madeira da mesa. Estou bem assim, sem ninguém me controlando, não preciso de ninguém que domine meu corpo e meu coração. Não sei dar satisfações do tipo: Onde estava, com quem estava, porque estava. Além de ter que lembrar de datas de namoro, de aniversário, do dia dos namorados. Não nasci pra dar satisfação da minha vida, e você sabe bem disso!!! Ahhh, sou fiel sim; a minha liberdade, as minhas vontades e desejos, e não a uma pessoa, padrões ou comportamento. Sou assim. Além do mais porque iria querer ter só uma mulher se posso ter todas que quiser?

- Helena e suas teorias amorosas e de vida. Fala e age dessa maneira porque ainda não encontrou uma mulher que a domasse.

- Não são teorias e sim convicções. Bom enquanto essa mulher que me domine não nasce continuarei a viver assim e digo mais sou feliz assim.

- É não adianta mesmo,você é cabeça dura, vai sofrer muito ainda por pensar assim.

- Bom, tenho 28 anos, sofrimento já passei por vários e sei que passarei ainda por muitos, mas nunca sofri por amor, por alguém. Você é o cara mais sentimental que conheço e vive sofrendo por amor e vem me dar esses conselhos e dizer que vou sofrer.Posso até sofrer mas não por isso. Enquanto puder escolher farei sempre a escolha por minhas convicções, esse negócio de deixar o coração mandar em sua vida não é bom. Falou um bom tempo sobre suas convicções, como não obtinha resposta olhou para o lado e viu que o amigo estava dormindo, fez o mesmo.



- Mas que pouca vergonha é essa?

- Ahhhh. Zefinha deixa a gente dormir!!!!!

- Nem largou uma e já esta com outra, hummm ou é outro??

- Zefinha, fica quietinha por favor. Hoje pico você inteira e jogo no rio se não calar a boca, estou falando sério.

Saiu reclamando “Esse mundo esta perdido mesmo, essa menina não tem um pingo de juízo”.

-Leninha vai tomar café em casa com suaaa, seuuu amigo? Ahhh preciso de dinheiro pra fazer compras, eu já falei........ “Zefinha CALA A BOCAAAAAA”, gritaram juntos.

Zefinha era daquelas pessoas que acordam ligadas no 220wts, fala alto, liga o rádio em programas policiais, canta, isso irritava profundamente Helena, que era um ser noturno, adorava acordar após as 12:00 e dormir depois das 3:00 da manhã. Quando isso acontecia seu dia era proveitoso, ficava feliz. Mas como tinha que acordar cedo todos os dias , estava de mau humor todos os dias.Levantou em silêncio arrastou-se até o chuveiro, tomou seu café. Marcos acompanhou seu silêncio, era do time dos notívagos e ainda por cima estava com uma dor de cabeça, efeito do vinho, despediram-se com um aceno de mão. Helena pegou Bia e foi caminhando até o consultório da veterinária. Sentada na sala de espera ficou com os olhos fechados, tirando um leve cochilo enquanto esperava. Sentiu a mão suave de Beatriz em seu ombro.

– Helena!!!Abriu os olhos, deparou-se com a linda loira.

– Desculpe Beatriz, estava pensando.

- Sei.......ris. Vamos entrar? O que aconteceu com sua mão? ela esta sangrando, deixa eu ver.

- Ei a paciente aqui é a Bia, não eu. Você é veterinária, esqueceu?

- Não esqueci. Você é mais cachorra que a Bia. Senta ai e fica quieta, faço uma sutura rapidinho.

Esticou a mão e virou o rosto, não suportava ver sangue, agulhas.

- Quanto tempo hem!!!!

- Não tem tanto tempo assim Beatriz. Sabe tenho saudades de você, de nós.

- Helena, tem exatos 2 anos, nove meses e 43 dias.

- Credo que memória!!!!

- Não, apenas olhei na ficha de Bia. Lembra que terminamos quando eu a entreguei pra você.

- Claro que lembro, até coloquei seu nome na Bia em sua homenagem. E não terminamos, você terminou comigo injustamente. Ficou me acusando de uma coisa que não fiz. Me deu a Bia e disse, “Uma cachorra merece outra cachorra”

- Helena vai continuar negando até quando que estava naquela boate beijando as duas garotas?

- Eu não estava, era alguém parecida comigo. Eu estava no Rio de Janeiro, mostrei a conta do hotel pra você, encerrei no dia seguinte a noite que a sua irmã disse que me viu na boate.



- Helena ponte aérea existe pra que? Além do mais não existe muitas morenas altas, cabelos curtos e olhos azuis com uma fênix tatuada na nuca né!!!!

- Eu pelo menos já vi umas 3 mulheres com uma fênix tatuada, e morena alta de cabelo curto é o biótipo mais fácil de se encontrar no país como o Brasil. Bia sou uma mulher comum!!!!Beatriz sorriu largamente.

- Helena já conheci mulheres dissimuladas mas você é campeã. Além do mais já se passou muito tempo,vamos esquecer essa estória. Falou a ultima frase olhando nos olhos de Helena.

Helena avançou seu corpo e beijou-a na boca.

- Ai, ai, ai, isso dói, você furou minha mão.

- Então pare de me beijar enquanto faço a sutura, não posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo.........ris

- Esta bem vou esperar , antes que eu fique parecendo uma peneira, toda furada. Beatriz terminou a sutura, cortou a linha, limpou o local, deu um leve beijo em sua mão. Helena avançou queria mais que um beijo na mão.

- Pare ai mocinha. Foi ameaçada com a tesoura.

- O que houve? A três minutos atrás estava retribuindo meu beijo, agora não quer mais? Beatriz vamos esquecer o passado e viver o presente.

- Por isso mesmo fique longe. Estou com uma pessoa legal, não quero estragar minha relação com ela, pra viver um momento com você. Não quero ser mais um nome na sua agenda telefônica. Sofri muito tempo por sua causa, sua presença ainda me abala, te amei tanto Helena!!! Você é a pessoa mais maravilhosa que conheci, pena ter esse coração frio, calcula todos os passos, não deixa seu sentimento fluir naturalmente, madura pra tudo e muito imatura para o amor, não estou afim de esperar você crescer.

- Ta bom, se não quer tentar tudo bem, mas não precisa ser tão dura né.

- Não estou sendo dura apenas falando o que acho, o que sinto, só isso.

- Beatriz entendo você , sei que fiz você sofrer, sei que fui canalha, fui ausente, mas com sinceridade você foi a primeira mulher que eu tive vontade de me entregar de verdade, fui muito feliz com você, de coração sinto sua falta. Beatriz aproximou-se e beijou-a, não resistiu aos olhos azuis suplicantes. Foi um beijo longo e terno, afastou-se.

– Bom, agora vamos cuidar de Bia, foi pra isso que veio. Diga o que ela tem. Helena disfarçou o seu desejo.

– Ela ta estranha, sempre foi preguiçosa mas desde que cheguei ela só dorme, não quer andar, ta comendo muito, e esta enorme de gorda.

- Deixa eu examinar, vamos colocá-la na mesa.

- Tem um guindaste ai pra erguer esse mamute..........ris

Colocaram Bia com muito custo na mesa. Beatriz começou a examiná-la, depois de um tempo disse.

- Ela esta muito bem Helena, e esses sintomas são naturais no estado dela.

- Como assim estado dela?

- Você não percebeu que ela esta prenha?

- Como assim?

- Ela terá 5 lindos cachorrinhos daqui duas semanas, fiz um ultra-som quando ela esteve aqui com a Daniela.

- A safada nem pra me contar. E você em dona Bia me aprontou essa!!!- Quero saber quem é o pai dessa cachorrada toda, espero pelo menos que seja de uma raça pura. Caramba, que vou fazer agora!!!!

- Calma, tenha calma. Sei quem é pai dos cachorrinhos é um lindo labrador negro. A Dani trouxe a Bia até aqui porque ela estava muito agitada, sugeri que fizéssemos o cruzamento. Quando os filhotes nascerem faremos uma doação ou poderemos vendê-los na petshop.

- Mais uma traição da Daniela, sua e da Bia. Vocês sabiam que eu não concordava, agora ela ta ai sofrendo e depois eu não terei coragem de me desfazer dos filhotes.

- Pare de drama, dormir e comer o dia todo é sofrer? Além do mais você mima muito a Bia, ela não quer andar porque você carrega ela pra cima e pra baixo desde pequena, acostumou mal, bem feito pra você. Quanto aos filhotes daremos eles pra ótimas famílias fique tranqüila. Só fique de olho nela e quando estiver perto de ter os filhotes você a deixa aqui ou irei até o seu apartamento pra acompanhar, tudo vai dar certo.

- Hummm, gostei da parte de você ir até o meu AP. Faço um jantar gostosinho pra nós, que tal?

- Boba, já conversamos sobre isso. Além do mais você tem a Daniela.

- Hãamm, Daniela, nem me fale nesse nome.

- Que tal sairmos hoje a noite pra falar dos preparativos pro nascimento dos nossos filhotes.

- Helena a consulta já acabou pode ir.

- Não custa nada perguntar né, vai que você muda de idéia, sabe meu telefone ......ris ......Bom Beatriz se é só isso vou indo, preciso ver a Esther e os meninos.

- Mande um beijo meu pra eles.

- Então venha cá e me beije pra eu levar seu beijo em meus lábios.

Roubou um beijo. Beatriz não resistiu, cedeu ao doce toque, ao cheiro inebriante, as mãos macias que já passeavam por dentro de sua blusa sobre seu sutiã. Ouviram o barulho de batida na porta, afastaram-se abruptamente. Era a assistente avisando que outro paciente a aguardava.

- Que hora imprópria pra essa garota bater na porta, droga.

- Vá e me ligue se algo acontecer com ela.

Pagou a consulta e voltou caminhando com seus pensamentos em Beatriz. O celular vibrou no bolso do short, deu um pulo, caiu no meio da rua, quase foi atropelada por um carro. Atendeu com um áspero Alô.

- Bom dia Helena, você esta onde?

- No meio da rua, quase fui atropelada por sua causa. “Ai que susto” acabei de sair da veterinária, estou pertinho da Paulista, porque?

- Tentei desmarcar a entrevista a tarde toda com a Cristina mas não consegui falar com ela, dá pra você dar uma passadinha aqui no escritório.

- Que saco hem Giba, já não estou gostando da garota, se quiser falar com ela terei que mandar sinal de fumaça? Não esta começando bem, além do mais estou de tênis, camiseta, e quero ver os meninos, se eu for trocar de roupa vou demorar.

- Venha assim mesmo, se ela for trabalhar com você é bom que já vai se acostumando a te ver assim, toda desarrumada.

- Não estou desarrumada seu chato ,vou pegar um táxi e chego ai em dez minutos.

Helena desceu do táxi com Bia no colo, caminhou com dificuldade até a porta do elevador, colocou Bia no chão, sentou ao lado pra descansar enquanto esperava. Logo chegou uma jovem de olhos negros bem vestida e perfumada, que olhava a toda momento para o relógio de pulso, impaciente com a demora do elevador.

- É dona Bia, ta pensando que vou ficar carregando você até parir sua prole, pode tirar o cavalinho da chuva, pode levantar e entrar no elevador com suas próprias patas, não vou carregar você já decidi. A jovem ficou observando a conversa de Helena e Bia, com um sorriso debochado nos lábios. O elevador chegou a jovem entrou apressada, enquanto Helena tentava convencer Bia a entrar com as próprias patas.

- Desculpe mas você esta me atrasando, posso subir enquanto você continua o papo cabeça com a sua cachorra?

Helena olhou-a com aquele seu olhar que mata até bactéria a 100 mts de distância.

- Se não quisesse chegar atrasada ao seu compromisso deveria ter saído mais cedo, se programado. Prefiro mil vezes ter um papo cabeça com Bia do que com uma pessoa insensível como você, pode subir, não é justo que a Bia permaneça no mesmo ambiente que você. A jovem ia responder mas a porta fechou automaticamente. “Credo que mulher grossa e que olhar gélido”, olhou mais uma vez para o relógio, espero que ela não tenha chegado, chegar atrasada para a entrevista não irá causar uma boa impressão. Parou na recepção, tenho uma entrevista com Dona Maria Helena.



Helena entrou no escritório resmungando com Bia em seu colo, jogou-se ao lado da jovem no sofá da recepção.

- Que mundo pequeno hem!!!, quem diria que você viria para o mesmo andar........riu debochadamente.

A jovem permaneceu calada, arrumava a maquiagem em um pequeno espelho, fingiu que não ouviu o comentário.

- Se estamos na mesma sala e no mesmo sofá, será que é para a mesma finalidade ??? Poderia aproveitar a oportunidade e desculpar-se com Bia, por não te-la esperado.

A jovem olhou-a de cima a baixo, analisou a cara debochada de Helena, ficou calada, sentia vontade de ser rude, responder com o mesmo tom irônico, mas algo dentro de si, dizia pra ser cuidadosa.

- Talvez. Eu estou aqui para uma entrevista com Dona Maria Helena, desculpe o mau jeito no elevador. Estou nervosa com a entrevista, dizem que ela é muito rigorosa com horários.

- Ok, estará desculpada se pedir desculpas diretamente a ofendida,a Bia.

A jovem, ficou vermelha de raiva, mas decidiu não fazer o jogo, segurou a cabeça de Bia beijou seu focinho e disse " desculpe " sei que deve ser difícil ter uma dona igual a sua e ainda vem alguém estragar o resto do seu dia, desculpe de coração. Helena ficou séria com o comentário.

- Correu tanto pra não chegar atrasada pelo jeito chegou a tempo!!!

- Ainda bem, ouvi tantos comentários sobre ela que estou com um pouco de medo, veja estou suando frio. Mostrou as mãos.

- É também ouvi vários comentários a respeito dela e você quais comentários ouviu?

- Estive aqui na segunda feira para entrevista com o Sr. Gilberto e enquanto aguardava ouvi as pessoas dizerem, “vamos deixar tudo em ordem que a fera esta chegando”, perguntei para secretária quem era fera, ela disse que era Maria Helena a famosa Hilander “ exterminadora de cabeças”. Helena soltou uma gostosa gargalhada.

- Nossa até eu estou começando a ficar com medo dela , isso ainda eu não sabia!!! E o que mais sabe sobre ela?

- Meu tio tem uma empresa de exportação que prestou serviço para a S&TI, ele esta processando a Maria Helena porque ela quebrou o nariz e o braço dele.

- Nossa e ainda por cima ela é violenta......ris. Porque quer trabalhar na S&TI e ao lado dela? Com toda essa ficha eu correria daqui.

- Quero ser a melhor no que faço, não tenho medo das dificuldades, sei que a S&TI é a melhor em Tecnologia da Informação, sei que é a melhor porque ela esta no comando, ela tem defeitos como todo mundo, mas também tem qualidades, todos aqui parecem gostar muito dela, quero aprender com ela, sei que não será fácil, mas adoro desafios e também não tenho medo de cara feia.

- Hummm, bacana, sabe gostei de você, qual seu nome?

- Cristina.

- Prazer sou Maria Helena.

Levantou-se e colocou Bia deitada sobre a mesa de Vera.

- Vera por favor peça para o motorista subir e pegar Bia e me aguardar no carro, ahhh, peça pra candidatar entrar daqui a 5 minutos. Cristina ficou com a cara no chão, não sabia como agir.

- “ Xiiiiiiiii, ferrou tudo. Acho que não vou passar na entrevista”. Vera se divertia com a cara de babaca da novata.

- Fique calma, beba uma água, melhor um café!!!Não se preocupe, ela gostou de você, conheço bem a Helena, caso contrário ela já teria mandado você embora.

Entrou no escritório jogou uma água nos cabelos e no rosto, vestiu um blazer sobre a camiseta branca, ia colocar uma calça, desistiu da idéia “ falo com ela sentada, ela nem vai perceber que continuo de short, assim não pareço tão informal e ganho tempo”

-Vera, já se passaram 6 minutos, cadê a candidata? Falou pelo interfone. Cristina entrou meio sem jeito na sala.

- Sente-se. Não precisa ficar tão tensa, hoje estou sem a minha espada, não costumo cortar a cabeça de meus funcionários no primeiro dia de trabalho. Cristina riu.

- Desculpe pelos comentários, não imaginei que fosse tão jovem.

- Bom alguns esclarecimentos. Primeiro, você esta atrasada 2 minutos para a entrevista, mas vou tolerar. Segundo eu não extermino as cabeças, as pessoas acabam perdendo sozinhas e colocam a culpa em mim. Terceiro concordo que sou exigente, objetiva, detesto que não cumpram prazos, horários, fico profundamente irritada com isso, gosto de respeitar nossos clientes e cumprir o que prometemos faz parte desse respeito. Quarto eu não quebrei o nariz nem o braço do seu tio, simplesmente meu cotovelo bateu sem querer no nariz dele, ele ficou atordoando com a dor não viu a minha perna e tropeçou e assim quebrou o braço. “ Cristina segurou o riso”.

- Porque não esta trabalhando com ele?

- Quero trabalhar na minha área de TI, não entendo e não quero aprender nada sobre exportações e importações. Como disse antes quero ser a melhor no que faço.

- Deixa eu explicar as minhas regras. Fique tranqüila não sou perfeccionista. “Cristina fez uma cara de alivio, soltou o ar”. Sou super perfeccionista, gosto de pensar no detalhe do detalhe, gosto de inovar estar na frente de meus concorrentes, portanto trabalho muito todos os dias. Você terá horário para entrar e para sair, se conseguir fazer seu trabalho perfeitamente, caso contrario só terá horário para entrar. Viajo muito e eventualmente você virá comigo, portanto tem que ter disponibilidade. Gosto de pessoas objetivas, que não façam rodeios pra falar, ou sabe ou não sabe, ou viu ou não viu, detesto desculpas.Problemas pessoais ficam na calçada, não podem nem subir o elevador com você. Detesto mentirosos e puxa sacos, portanto nunca minta pra mim ou faça algo só pra me agradar, pense na empresa como um todo, você não trabalha só pra mim e sim para todos os acionistas, funcionários e clientes. E o mais importante, não tenha medo de mim. Não tenha medo de dizer que estou errada, que fui grossa, que poderíamos fazer de outra forma, sei que tenho defeitos mas sei reconhecer quando faço uma bobagem. Bom acho que é só isso. Ai aceita trabalhar na S&TI ao meu lado?

Cristina estava assustada com tamanha responsabilidade. Helena despejou um monte de coisas em cima da sua cabeça.

– Posso beber um café?

Helena analisou-a melhor, conhecia bem a técnica de ler as mensagens do corpo. O corpo de Cristina demonstrava ansiedade, medo, mas ao mesmo tempo confiança, segurança.

Sorveu todo o café. Olhou dentro dos olhos de Helena.

– Sim, eu aceito trabalhar com você.

- Gostei de você. É determinada e corajosa. Tem algo pra fazer agora e no resto da tarde?

- Não, estou com o dia livre.

- Ótimo, esta contratada, começa a trabalhar agora, tudo bem?

- Vera venha até minha sala. Cristina ficou super feliz, não sabia nem o que dizer.

- Pronto Helena.

- Vera essa é Cristina minha mais nova assistente pessoal, braço direito, dedo duro, fã e puxa saco, Vera não fique preocupada seu lugar de fã e puxa saco numero um ainda esta garantido....”riram” . Pegue todos os projetos que estão em andamento e traga até aqui, quero mostrar a Cristina. Peça pra colocarem uma mesa com computador e tudo que ela irá necessitar na minha sala, quero tudo pronto dentro de uma hora, por enquanto o escritório dela será aqui. Convoque uma reunião com a Kelly, Massumi e Gilberto pra daqui dez minutos quero apresentá-la a equipe. Ahhh, cadê meu café?

- Você parece uma metralhadora, dispara tudo e ainda quer café, vou providenciar. Cristina estava atordoada com tudo, achou que seria mais difícil,mas ficou feliz por começar assim tão rápido.

- Cristina hoje é quinta feira e tenho que viajar na próxima terça à noite, portanto temos pouco tempo para inteirar você de todos os assuntos, então preste atenção em tudo que eu falar, tire suas duvidas, faça perguntas, porque se ficar calada acharei que entendeu e não me preocuparei, se você fizer algo errado por não ter perguntado ou entendido mando você embora, fui clara?

- Sim.

- Quero saber de tudo que acontece aqui, nenhuma decisão séria será tomada sem meu consentimento e aprovação, você esta autorizada a me ligar a qualquer hora do dia ou da noite, lembre-se você será meus olhos ouvidos e boca dentro da empresa. Irá me manter informada. Diariamente e pontualmente as 9:00 enviará relatórios, para meu e-mail, tomarei decisões através de nossas conversas por telefone e por seus relatórios, portanto seja clara e objetiva. Cristina agora a olhava com uma fisionomia séria e preocupada. Não fique com medo, sei que parece complicado. Li seu curriculum e conversei com seu ex chefe sei do que você é capaz, por isso estou te dando tantas responsabilidades.

Kelly, Massumi e Gilberto chegaram para a reunião. Helena levantou da cadeira para cumprimentá-los e ninguém conseguiu segurar o riso diante dela. Vê-la de blazer, short e descalça “ detestava qualquer tipo de sapato” era uma cena hilária. Tirou o blazer e jogou na cadeira.

- Já que vocês estão me sacaneando acabo com a tentativa de formalidade. Quero apresentar vocês a Cristina, minha assistente.

- Cristina esse é Massumi, você irá trabalhar ligada a ele, é o nosso gênio.

- Seja bem vinda a turma.

- O Gilberto você já conhece, é o responsável por você estar aqui. É o nosso diretor de RH, e nas horas vagas é meu cunhado.

– Parabéns , ou meus pesames.....ris.

- E a Dra. Kelly, responsável pelo departamento jurídico

– Seja bem vinda.

- E a Vera, a minha secretária exclusiva.

– Que bom que terei mais alguém pra ajudar a agüentar seu mau humor.

- Engraçadinha, aproveite e ligue pra Esther, diga que estou em uma reunião e que irei para o almoço, diga pra preparar meu prato favorito.

- Bom como todos já sabem, viajarei na terça, vocês formam a minha equipe principal então como de costume quero os relatórios as 9:00, com todas as informações sobre nossos clientes e do atendimento das filiais. Quero que vocês ajudem a Cristina nesse início sem mim, mas aqui no curriculum dela diz que ela é boa em TI e em planejamento, acho difícil encontrar esse perfil em uma pessoa, até hoje só conheço uma, EU. Então nessas duas semanas que ficarei fora espero que prove isso.

Helena conduziu a reunião até 13:00, deu ordens, broncas, fez elogios à equipe,mas sua atenção estava voltada a Cristina, observava todos seus gestos, tinha algo na jovem que ainda não identificou, não sabia se era algo bom ou ruim, mas ela tinha algo que a incomodava, e estava disposta a descobrir.

- Alguém tem mais alguma coisa a dizer? Então vamos almoçar, estou morrendo de fome. Gilberto você vim comigo?

-Claro que vou, tem um tempão que não como em casa e você sabe que adoro seu prato preferido, a Esther só faz quando você vai lá. Cristina você vem conosco assim conversamos.

Kelly ficou irritada com o convite, Helena nunca a tinha chamado para um almoço em família.

Helena foi até o banheiro e retornou com três sacolas, vamos estou pronta.

Chegaram no estacionamento e Bia estava correndo e brincando com o motorista, ao ver Helena chegar diminuiu o ritmo e deitou no chão.

- Essa cachorra é uma malandra, uma falsa, me vê e finge de morta de cansada, Bia levanta dai, não vou te carregar novamente, Biaaaaaa!!!!! Pegou a coleira e saiu puxando, Bia levantou a contra gosto, mas parou na porta do carro recusando-se a entrar.

– Ta bom, vou te colocar no banco só dessa vez hem!!!! Gilberto e Cristina ficaram rindo da cena.

- Deixa que eu dirijo.

– Helena não posso morrer hoje, tenho uma reunião importante à tarde, tenho dois filhos pra criar e um a caminho, vê se não corre, por favor.

- Giba nunca bati o carro, fica tranqüilo que também não estou a fim de morrer hoje.

Gilberto correu e sentou no banco traseiro, colocou o cinto de segurança.

- Que homem corajoso hem!!!!, fica ai protegido e deixa as damas irem na frente. Você se importa de ir no banco da frente ou quer fazer companhia ao Gilberto lá trás? Não me importo de ir de motorista.

- Vou na frente, não tenho medo. Essas palavras soaram como desafio para Helena, e como um alarme para Gilberto que agarrou o PQP do carro (puta que o pariu) e fechou os olhos.

Helena ligou o motor da Audi TT prata , saiu cantando pneu do estacionamento, acelerou o máximo que pode na subida do estacionamento o carro saiu da garagem parecendo que havia sido lançado por uma catapulta, caiu na avenida principal, ela continuou aumentando a velocidade e cortando os outros veículos, a essa altura Bia estava caída no assoalho do carro.

– Helena, olha o carro ai na frente, Helena olhaaa.

- Giba fica quietinho ai atrás, limite-se a sua condição insignificante de passageiro. -- ---- Cristina tome nota de umas coisas por favor!!!Cristina permaneceu tranqüila, parecia que estava andando em um carrinho na montanha encantada, abriu sua agenda.

– Pode falar.

Helena freava bruscamente, acelerava, tirava fina dos outros carros, nada disso abalava Cristina e essa atitude a irritava mais, quanto a Gilberto estava deitado no assoalho abraçado a Bia. Finalmente chegaram.

- Nossa, que saudade eu estava de dirigir em São Paulo. Adoro o trânsito, as buzinas e ver a educação dos motoristas. “É impressionante!!!”. Soltou seu sorriso debochado.

- Gilberto pode sair, se conseguir andar é claro.

- Por que faz isso? Você sabe que fico enjoado. Estou todo amassado e cheio de pêlos.

Cristina desceu fingindo naturalidade. Não queria mostrar fraqueza e, muito menos, que ficou morrendo de medo, mas suas pernas estavam bambas, suava frio. “Essa mulher é louca, nunca mais entro em um carro com ela ao volante”.

- Você já bateu seu carro alguma vez? Essa maluca deve ter batido umas 100 vezes, pensou Cristina

- Não, claro que não, mas bateram no meu carro 19 vezes.

Cristina deu um suspiro de alivio por chegar ilesa.

Helena pegou as sacolas no carro e entrou devagar no jardim. Queria fazer uma surpresa. Esther observava Luca e Carol brincarem em volta da piscina. Helena abriu uma das sacolas e jogou uma bexiga cheia de água em Luca e outra em Carol, deixando no chão as outras duas sacolas. Correu pra se esconder.

“Tia Lê”, gritaram, saindo para pegar as sacolas. Logo começaram à guerra de água.

- Cristina entre e feche a porta. Deixe-os acabarem com a guerra, senão vai sobrar pra nós também. Vamos beber um whisk puro, pra acalmar os nervos, disse Gilberto ofegante.

Após a munição ter acabado, Helena abraçou os sobrinhos molhada dos pés a cabeça. Sempre saía na pior.

- Nossa como meus bebês estão enormes!!!! Pare de dar fermento pra essas crianças, Esther.

- Lê, fico um tempão sem te ver. Aí penso: dessa vez ela vai chegar mais madura, mais tranqüila. Mas não, continua a mesma moleca de sempre e ainda bota meus filhos a perder. Sabia que eles já estavam vestidos para irem a escola?

- Sério!!! Nem percebi, achei que eles usavam uniforme em casa...(riso).

Lucas e Carol, não paravam de falar, queriam contar todas as novidades. Lê derrubou os dois no gramado e começou com a sessão cócegas.

- Vamos, Lê: tome um banho enquanto as crianças mudam de roupa. Vou pedir pra servirem o almoço.

Cristina andava pela sala e observava cada detalhe, quadros, fotografias. A casa era em estilo eclético, por fora austera mas internamente era moderna e alegre, com brinquedos espalhados pela sala, vídeo game ligado a “TV de 34 polegadas”, um pequeno aparelho de som, câmeras que monitoravam todos os cantos da casa, tudo controlado por um moderno computador.

- Bom com essa bagunça toda não fomos apresentadas, sou Esther irmã de Helena e esposa de Gilberto, e você???

- Cristina, assistente de Helena. Desculpe invadir sua casa entrei correndo com o Gilberto, também estou um pouco atordoada com tantas novidades.

- Começou a trabalhar quando?

- Nesse exato momento esta completando 5 horas. Sorriu nervosa.

- Agora compreendo sua agitação. Helena provoca isso nas pessoas, é super agitada, elétrica e acredita que todo mundo deva acompanhar seu ritmo. Vou dar um conselho, não tente acompanhar as loucuras dela, faça seu ritmo, e deixe isso claro, caso contrario sairá da empresa como as outras em menos de 3 meses, seja bem vinda a empresa e ao nosso lar.

- Obrigada. Ela já teve muitas assistentes?

- Algumas. Ela não tem paciência para explicar, para esperar, é grossa às vezes e principalmente quando esta com sono ou irritada, ai as pessoas não agüentam mesmo. Só a Vera pra tolerar esse ser.

- Já tive chefes piores, tenho paciência e sei onde quero chegar, por isso acredito que não terei problemas.

- E onde você quer chegar? Perguntou com uma ruga na testa.

- Quero aprender, ser a melhor. Sei que a S&TI, tem grande reconhecimento do mercado, é uma empresa que olha para o futuro, é inovadora. Ainda terei a Helena como mestra ela pode ser um pouco maluca mas é uma excelente profissional. Esther não foi convencida pela resposta mas preferiu aguardar.

- A Helena já desceu, vamos almoçar?

- Tia Lê, só quando você vem aqui tem batata frita, ovos fritos, banana frita, bacon, hambúrguer.

- Credo que crueldade estão fazendo com vocês!!! Pode deixar: virei almoçar todos os dias, salvarei vocês do brócolis a vapor, do espinafre cozido, do frango grelhado. Esther, isso não é comida de criança. Ta querendo matar meus sobrinhos!!!!

– O que você come que não é comida de criança. Só come bobagens. Não sei como não é gorda, mas deve ter o nível de colesterol nas alturas, suas artérias devem parecer com a Marginal Pinheiros na hora do rush, todas entupidas.

- Você que pensa. Fiz um check-up, estou ótima.

- Então doe seu corpo para pesquisa, pois ter saúde com todas as bobagens que come, sem contar as bebedeiras constantes, isso é um mistério para ser resolvido pela ciência.

- Ciência nada. Quem anda 3 km todos os dias? Quem tem uma vida sexual ativa, além de beber vinho diariamente que faz bem a saúde?

- Lê, você não anda todos os dias 3km. Só se for de carro. Anda às vezes e já fala que é todos os dias. Vinho é recomendado uma taça, no máximo duas, não uma garrafa ou no máximo duas. A explicação só pode estar na vida sexual mesmo... (riso).

- Esther, passamos toda nossa infância comendo salgadinhos, hamburguês, refrigerante e estamos aqui lindas e saudáveis. Você vai deixar as crianças doentes com essa mania natureba.

- Lê, fica quietinha. Você é mau exemplo. Dou um duro danado pra colocar na cabeça deles que é bom comer coisas saudáveis e vem você acabar com tudo em 5 minutos?

- Tudo bem, mas que é um crime o que você esta fazendo com eles, é. Não tem problema. Vamos ao shopping hoje e colocaremos em dia a taxa de gordura necessária nesses corpinhos....

- Êbaaaaaa.

Helena dá uma olhada no prato de Cristina e o que vê a deixa horrorizada, o prato esta cheio de rúcula, tomate seco, queijo branco. “mais uma natureba em minha vida”

- Luca, como está o preparativo para o seu niver?

- Hummm, ta chato. Pergunte pra mamãe.

- Xiii, pelo jeito....

- Fale sargento Esther.

- Pensei em mágico e palhaço, mas o Luca não quer.

- Ele está certo. Que mico, heim? Vai queimar a imagem dele com as garotas!!!

- Agora são dois contra mim. Bom, a mamãe está ajudando a planejar.

- Ahhh, meu Deus!!!! Luca, você comemorará seus 10 anos de black tie, comerá caviar e terá uma orquestra tocando Ray Charles (riso), tudo isso organizado por dona Inrrita.

- Eu não quero, eu não quero!!!!

- Lê, olha como fala da mamãe na frente das crianças e pare de atormentar o garoto. Será que a mamãe faria isso, Lê?

- Acho, não: tenho certeza. Que idéia a sua de pedir ajuda a Dona Inrrita. Lembra da sua festa de 15 anos? Será igual.

- A sua também foi assim.

– Foi??? Não lembro.

- Se estivesse lá lembraria.

- Como assim? Você não foi a sua festa de aniversário? Perguntou Cristina com curiosidade.

- Claro que fui, Cristina. Mas fui à festa que fiz, uma festa itinerante na kombi do pai de um amigo meu, o Marcos. Não ia participar da palhaçada montada por Dona Inrrita.

“A rebelde sem causa, ela ainda não percebeu que tem quase 30” pensou Cristina.

- Até hoje eu lembro. Na hora de cantar parabéns e cortar o bolo, mamãe colocou uma foto sua ao lado do bolo. Parecia até que era em homenagem a uma morta. Ainda tive que dançar a valsa representando você com o chato do seu namorado, o Beto.

- Ele não era meu namorado. Esther sei que você tinha uma queda por ele.

- Ta louca é, tenho bom gosto. Mas o melhor da festa foi você chegar no carro da polícia.

- Dessa parte da festa eu lembro!!!

- Mamãe havia dito a todos que você estava muito doente por isso não estava. Aí chega você bêbada, enrolada no casaco do policial.

- Ué, o que você fez ? “Além de rebelde é delinqüente, onde fui me meter”

- Nada demais. Cheguei na casa do Marcos, bebemos uma coisinha leve Vodka e cai na besteira de misturar com um baseadozinho. Fiquei legal!! Resolvemos sair pelas ruas cantando nossa liberdade. Estávamos na Kombi. Tinha umas 15 pessoas dentro, na maior algazarra. Paramos na praça da Sé. Estava um calor danado. Não tinha ninguém por perto. Resolvemos nadar nus. Ai veio a policia pra acabar com a festa. Foi muito engraçado todo mundo correndo pelado. Cristina estava perplexa.

- Nossa, que legal tia. Quero uma festa assim!!!

- Tá louco, é? Nuncaaaaaaa.

- Esther, até ter seu primeiro filho não tinha tanto pudor. Você está andando muito com a mamãe. Não se preocupe, Luca. Quando fizer 15 anos comemoraremos com estilo.

- Ahhh, meu Deus. Vou ficar preocupada desde já com a festa de 15 anos do Luca.

Esther se quiser posso ajudar com a festa do mês que vem, pego a Vera e Cristina e faremos um mutirão. Pensaremos em coisas legais.

- Não tendo baseado e bebida alcoólica, aceito a ajuda.

Almoçaram em meio à algazarra de Luca, Helena e Carol. Os dois falavam sem parar como queriam a festa.

-Cristina anote a lista de presentes e exigências dos meninos.

Cristina, pegou papel e caneta, começou a anotar a contra gosto, ao mesmo tempo analisava todos os gestos e palavras de Helena, observou sua mudança de comportamento. Na S&TI, tinha uma postura séria, autoritária, não aceitava ordens, mas com os sobrinhos era diferente, Luca e Carol mandavam e desmandavam na tia. Ela rolava pelo chão com as crianças, tinha um brilho lindo no olhar. Cristina viu felicidade no rosto de Helena naquele momento.

- Cristina quer conhecer a casa?

- Claro Helena. É uma casa muito bonita.

- Essa casa é da nossa família há uns 150 anos. Meu bisavô comprou e foi passando de pai para filho. A casa fica de herança sempre para o filho mais velho. E Esther, como é a filha mais velha, herdou a casa. Fui criada aqui, brincando com meus irmãos, correndo pelo quintal. Conheço cada pedacinho dessa casa, desses jardins. Eu amo esse lugar. Mudei daqui tem apenas três anos por problemas familiares, mas sempre vou para a casa da árvore pra pensar. Meu pai fez aquela casinha pra mim. Ele sempre respeitou meus momentos de solidão. Hoje ela está alugada para o Luca... (riso)

- Quer conhecer?

- Sim.

Subiram por uma escada feita no tronco de uma velha árvore, Helena tirou uma chave do bolso e abriu a escotilha. Ao entrar Cristina teve uma surpresa.

- Nossa que bacana aqui.

- É simples mas é aconchegante, da pra ver as estrelas. A casinha, não era bem uma casinha, tinha um único cômodo e uma sacada com uma rede perto da janela, tela de plasma ligada a uma TV a cabo, fax, frigobar, aparelho de som, um notbook, uma pilha de livros que variavam desde técnicos a esotéricos, um jogo de xadrez sobre a mesinha

- Helena você esta chamando aqui de simples, imagino o que seria mais sofisticado pra você.

- Na verdade fiz uma reforma, era menor, não dava pra andarmos de pé aqui dentro, como gosto do lugar, contratei um engenheiro e um arquiteto ai eles fizeram essas pequenas mudanças.

- É bom termos um refúgio, simples assim, sorriu, pena que o meu esteja tão longe.

- E onde é seu refugio?

- Litoral norte, Ilha Bela, tenho uma casa lá. Também é herança do meu pai.

- Ahh, não é tão longe assim. Três horinhas de carro já esta lá.

- É verdade, mas você está só à meia hora ou a dez minutos se você estiver ao volante, é claro... (riso)

- Também gosto muito do mar, adoro praia, sol. É meu segundo habitat.

-Bom, Cristina vou te liberar de mim por hoje. Volte ao escritório com o Giba, arrume suas coisas, conheça o resto do pessoal. O Gilberto irá apresentá-la a todos. Encontro você amanhã cedinho no escritório. Ahhh, cadê minha lista.

Cristina entregou um papel todo rabiscado, as palavras não faziam sentido. Helena olhou para o papel sem entender. – O que significa isso?

- Helena eu tenho doutorado e pós-doutorado em Ciências Tecnológicas,falo três idiomas, tenho experiência profissional em grandes empresas Americanas, EU não entrei na S&TI para ser sua secretária de luxo. Desculpe mas isso não farei pra você. Pelo que me lembro fui contratada para ajudar a dirigir a empresa e não para ajudar a organizar uma festa de aniversario, se os planos mudaram, procurarei outro local para trabalhar. “Que ser insuportável e petulante, há dois minutos atrás estava boazinha, agora já desobedece minhas ordens”.

Pensou em demiti-la naquele momento. O sorriso desapareceu de seu rosto. A arrogância de Cristina, provocava algo estranho em Helena, ao mesmo tempo em que gostava da audácia, ficava incomodada, não entendia nem o motiva que a levara a convidar Cristina para o almoço, talvez quisesse desmentir a imagem ruim que as pessoas descreveram para Cristina, mas naquele exato momento estava arrependida de sua atitude. Estava com raiva.

- Você tem razão, não deveria nem tê-la trazido a minha casa, não devemos misturar a vida pessoal do chefe com a dos empregados.

- Ok, até amanhã às 8:00, vejo você no escritório. Falou lançando seu olhar de descaso.

- Ok, até amanhã

Helena chamou Gilberto falou algo baixinho em seu ouvido e despediu-se. Você é um grande filho da puta, arrumou uma cobra pra trabalhar comigo. Gilberto sorriu satisfeito.

- E agora meninos prontos para irem ao shopping???

- Êbaaa, claro que estamos.

Helena comprou um monte coisas no shopping: uma cama elástica e um jogo de maquiagem com 50 cores pra Carol, e uma bateria para Luca. Tomaram um lanche no MacDonalds e retornaram pra casa.

Chegando em casa não tinha ninguém. Lê aproveitou e montou a bateria na sala. Luca ficou tocando feito um desesperado, saia sons altos e desconexos das caixas amplificadas. Helena comprou protetor auricular pra toda a família. Colocou um em si e outro em Carol. Deitou no sofá da sala para ser maquiada e penteada por Carol, enquanto ouvia Luca tocar. Esther chegou uma hora depois com dona Rita e deparou-se com a cena. Helena dormindo toda descabelada e pintada. Carol testou as 50 cores em seu rosto. Estava irreconhecível. Esther desligou as caixas de som.

- Helena, você esta surda??

Não respondeu, nem percebeu a presença das duas, continuou dormindo com Carol sobre sua barriga. Esther a sacudiu. Abriu os olhos com dificuldade.

- Oi, já chegou?

- Lê, acorda.

Helena não ouvia nada, só via os lábios de sua irmã se movimentarem. “Será que fiquei surda, será que estou sonhando?”. Esther tirou o protetor auricular.

- Tá me ouvindo agora?

- Ai, que alivio. Pensei que tivesse ficado surda.

- Você ficou louca, é? Comprar essa coisa e ainda colocar aqui na sala. Terei um bebê daqui três meses. Precisamos de silêncio sabia?

- Luca, eu disse a você pra escolher algo mais tranqüilo tipo uma guitarra, um baixo, mas não !!! Esther, fique tranqüila. Já pensei em tudo. Vou comprar isolantes sonoros e colocarei a bateria no meu antigo quarto. Assim ele poderá tocar sem perturbar ninguém. Ele disse que quer ser baterista e ter uma banda, não acha legal?

- Lê, o Luca já disse que quer ser arquiteto, dentista, veterinário, piloto de avião, pai de santo e mais um monte de outras coisas. E você vive alimentando essas fantasias. Mas você sabe o dom que ele tem, será um viciado em informática como você. De todos os seus milhares de presentes o único que ele não larga é o notbook. Sabia que ele entrou no computador da escola e estava cobrando pra alterar a nota dos alunos?

- Esse é o meu garoto. Mais esperto que eu, ganhei meu primeiro dinheiro com 12 anos, vendendo o gabarito das provas. E ai Luca quanto lucrou?

- Maria Helenaaaa. Soltou Esther irritada.

- Tia fiquei de castigo por uma semana, e a mamãe proibiu de usar o programa que você me deu pra quebrar senhas.

- Poxa Esther, a culpa foi minha, não precisava ser tão severa com o Luca. Esther, ele tem que provar de tudo pra saber o que quer de verdade. Não farei como a mamãe que reprovava tudo e dizia que eu seria aeromoça, que achava a profissão tão linda, feminina.

- E acho mesmo. Se tivesse seguido essa profissão não seria como é hoje.

- Mamãe, não estou a fim de discutir agora. Vou botar a Carol na cama e volto pra colocar a bateria no meu antigo quarto, ok?

Colocou Carol na cama, retirou sua roupa que estava toda suja de sorvete, maionese e tinta. Colocou um pijama quentinho. Adorava fazer isso. “se sua mãe ver a cor dos seus pés ela me mata”. Desceu, encontrou com Gilberto na sala.

- Nossa!!! Estava em um ritual indígena? Em um, não, em vários pelo tanto de cor em seu rosto... (riso)

- Giba tire uma foto minha. Essa é a primeira obra de arte da sua filha, quero registrar.

Gilberto correu e pegou a máquina digital. Lê começou a fazer varias poses. Sua mãe olhava e balançava a cabeça negativamente. Sentou em frente à bateria colocou a língua pra fora.

- Isso, tia. Tá parecendo à baterista do Kiss.

Ela pegou Luca botou no colo e o sujou com a maquiagem. Os dois fizeram pose com a língua pra fora.

- Gilberto, você ainda ajuda a louca da minha filha estragar seus filhos. Você deveria proibir que ela os veja.

- Mamãe, se ele deixa que você as veja e que conviva com elas, qual o problema de eu estar com elas? Diga em que é melhor? Concordo que o Giba tem um grande coração. Ele tem que aturar você com seus constantes desaforos, mas o faz em consideração a Esther e a mim. Vamos Luca dormir. Aqui o ar esta irrespirável.

Tomou banho com Luca, deitaram na cama de solteiro e dormiram abraçados, Lê adorava o cheiro daquele cabelo molhado.

Helena acordou com os dois sobrinhos lhe enchendo de beijos. Hummm, que coisa boa. Desceram para tomar café, depois seguiu direto para o escritório com Gilberto. Ao chegar Cristina já estava lá.

- Muito bom dia a todos. Está um lindo dia hoje.

Vera sorriu.

- Dormiu com os meninos, Helena?

- Sim.

- Como você sabe, Vera? – perguntou Cristina.

- Pelo seu humor, oras. Ela só acorda de bom-humor quando dorme com as crianças. É bom que vá aprendendo, Cristina.

- Vera, hoje vamos visitar nossos escritórios do interior de São Paulo. Chame o piloto saímos em uma hora. Cristina, pegue com a Vera a pasta de orçamento e metas dos últimos três meses e veja quem não está dando lucro.

Cristina separou a pasta de três escritórios que estavam com um péssimo desempenho.

- São esses escritórios, Helena.

Helena deu uma olhada e decidiu qual visitaria primeiro. Subiram até o heliporto do prédio.

- Bom dia, dona Helena. Faz tempo que a senhora não viaja.

- É verdade, Antunes. Estáva com saudades de pilotar.

Ao ouvir essa frase o coração de Cristina dispara, as mãos ficam trêmulas. “Se a maluca dirige carro daquele jeito, imagino como será em um helicóptero”.

- É, mas hoje acho que não irei pilotar. Tem uns 6 meses que não treino e ainda não tirei meu brevê.

- Deixa de bobagem. A senhora pilota muito bem.

- E ai, Cristina: se importa se eu pilotar?

- Não. Acho até que helicóptero é mais adequado ao seu jeito de guiar.

Helena tirou o blazer. “Mas é atrevida”. Colocou a pasta no banco traseiro e assumiu o controle. Para o espanto de Cristina ela pilotava muito bem, sem fazer manobras perigosas. Isso, até o momento que avistou umas vacas. Deu um vôo rasante e espantou o rebanho. Ria muito, divertia-se vendo os animais correndo desesperados.

Desceram em Piracicaba, pegaram um táxi e chegaram à recepção do escritório. Helena achou estranho. Não tinha ninguém. Foi até a sala do gerente estava vazia. Foi até as outras salas e todas vazias.

- Quem fechou esse lugar antes de mim???

Caminhou em direção ao auditório ouviu a música “Girl From The Gutter”, de Kina. Abriu a porta estavam todos dançando e bebendo. Entrou na sala dançando acompanhando o ritmo da musica. Pegou um whisk. Cristina a seguiu séria. “Essa mulher é doida mesmo”. Imaginou que Helena ficaria nervosa, mas pelo contrário: estava bem relaxada.

- Beba um whisk, Cristina.

- Não, Helena. Não costumo beber antes do almoço.

Helena chegou perto do Gerente que estava dançando coladinho com a secretária. Quando ele a viu, quase teve um colapso.

- Você por aqui? Seja bem vinda à nossa festa de confraternização! - gaguejou.

- Nossa! Adorei sua festa. Tem algum motivo especial?

- Fechamos um bom contrato. É aniversário do boy. Decidi comemorar.

As pessoas foram se apercebendo da presença de Helena começaram a falar mais baixo, diminuíram o som.

- Almeida aproveite que o som está baixo e diga ao pessoal para arrumarem as cadeiras. Eu vou começar o sorteio.

- Sorteio? Que sorteio?

- Faça o que estou dizendo.

Almeida anunciou que a Dra. Helena realizaria um sorteio. Algazarra voltou. O barulho da música misturou-se ao barulho das cadeiras sendo arrastadas. Helena sentou em frente a uma mesa arrumou suas coisas.

- Cristina, pegue caneta e papel e anote bem o nome de algumas pessoas.

- Helena, que sorteio é esse? Você não disse nada - perguntou baixinho.

- Preste atenção: vou mostrar pra você como colocar ordem em uma bagunça sem causar tumulto.

(Voltando-se para as pessoas, disse:)

- É um imenso prazer ver toda a equipe aqui reunida e motivada, com vontade de comemorar. Fiquei feliz pela festa.

Todos sorriram.

- Por isso resolvi fazer esse sorteio.

- Digam seus nomes e departamento? – Helena apontou para três pessoas.

- Eduardo, trabalho no Serviço de atendimento ao cliente.

- Mônica, recepcionista.

- Jair, contabilidade.

- Vocês são os primeiros sorteados. Acabaram de ganhar a oportunidade de trabalhar para nossos concorrentes.

- Como assim? Não entendi - falou Jair, o mais bêbado de todos.

- Estão demitidos.

- Ei, Helena. Calma aí. A idéia da festa foi minha.

- Almeida, ainda não demiti você? Desculpe, vocês não são os primeiros e sim os segundos a serem sorteados.

Silêncio geral. As pessoas não se mexiam com medo de serem apontadas.

- Ei, você de amarelo...Você que estáva vomitando no balde de lixo?

O rapaz balançou a cabeça afirmativamente.

– Por favor, deixe seu nome aqui com a jovem ou passe direto no RH. E por falar nisso, cadê o responsável pelo Recursos Humanos?

Levantou uma bela mulher que olhou fixamente para Helena.

– Sou eu.

– Seu nome?

- Penélope.

“Nossa! Que gata... Essa eu não demitirei – pensou Helena. Olhando para ela, disse:

- Sente-se aqui ao meu lado.

Olhou com desejo para mulher. “Preciso me livrar da Cris”.

Falou baixinho:

- Cristina, por favor: vá até a sala do Almeida e intere-se dos assuntos. Assim esse incompetente pode ir embora o mais rápido possível.

Cristina percebeu os olhares que Helena lançou para a garota. Não gostou de ser trocada por ela. Helena aguardou a gostosa sentar ao seu lado. “Ahhh, meu Deus! Preciso acabar logo com essa carência”. Desviou o olhar, precisava se concentrar.

- Alguém tem alguma coisa pra falar? Podem colocar suas idéias. Se acham que estou errada, podem dizer. Não sou a dona da razão.

Silêncio geral.

- Vamos, falem!

Levantou um jovem visivelmente embriagado.

- Você não pode chegar assim no meio de uma festa e ir demitindo as pessoas. Não está certo. Quem você está pensando que é pra agir assim?

- É verdade. O jovem tem razão. Não vou mais demitir ninguém aqui na festa. Diga: qual seu nome?

- Roberto.

- Roberto, por favor: saia da sala e aguarde. Falarei com você daqui a pouco. Gosto de pessoas de coragem.

O jovem saiu da sala satisfeito.

- Penélope, por favor: vá lá fora e demita esse safado. E diga a ele que sou a Dona da empresa. Não quero que ele saia daqui desinformado.

- Alguém tem mais uma sugestão, pergunta, reclamação a fazer? Vou esperar só mais dois minutos.

Fingiu que olhava para o relógio, mas olhava as pernas de Penélope.

- Bom como ninguém quer falar, recomendo que saiam e bebam um café bem forte, lavem o rosto e voltem aqui dentro de 15 minutos para uma reunião. Levantaram o mais rápido possível.

- Helena, já demiti o rapaz.

- Então pegue uma cerveja pra mim porque esse whisk é de quinta categoria. Bebeu sua cerveja e começou a paquerar a jovem até todos voltarem para sala. Começou a falar.

- Alguém aqui sabe qual foi à rentabilidade gerada por esse escritório? Alguém sabe dizer as metas para o final do mês?

Novamente o silêncio.

- Então direi: vocês tiveram o pior desempenho de todos os escritórios. Estão dando um prejuízo enorme pra empresa. Não entendo o motivo da festa. Estavam comemorando o fechamento de um bom contrato ou o fracasso? Ainda compram bebida de quinta pra comemorar. Eu cheguei aqui para colocar esses assuntos e pensar na solução com vocês, mas minha vontade é de fechar o escritório. Deveria fazer isso depois do que acabei de ver, mas não. Vou dar uma chance pra vocês. Estámos na metade do mês e vocês estão abaixo do esperado em 20%. Portanto dou até o final do mês pra alcançarem a meta que é de 30%. Caso contrário, volto aqui no final do mês para uma nova festinha: a do encerramento do escritório. Alguém tem alguma dúvida? Fui clara? Gente pode falar!!! Já mostrei pra vocês que sou uma pessoa aberta a sugestões. Bom, quem cala consente. Na segunda chega o novo gerente. Espero que todos trabalhem hoje com vontade até mais tarde. No sábado e no domingo também. Quero ver a mesma vontade da festa, heim?!! Da minha parte é só isso. Podem voltar à festa.

Olhando para a garota, disse:

-É, Penélope, você tem uma árdua tarefa: a de me manter informada. Ahhh, se você deixar que essa bagunça aconteça novamente em nome da confraternização, integração ou qualquer outra bobagem desse tipo, coloco você no olho da R U A. Bom, pena ter te conhecido nessa confusão. Fique com meu telefone e ligue quando precisar.

Saiu da sala do auditório e foi ao encontro de Cristina.

- E ai, Cristina, já acabou? Já colocou o safado do Almeida pra fora? Podemos ir?

- Não podemos ir, Helena. Ficar a par das coisas leva mais tempo que demitir pessoas, sabia? Acho que você foi muito cruel ao demitir aquelas pessoas.

- Então acredita que teria feito melhor?

Cristina olhou nos olhos de Helena e respondeu:

- Não sei se teria feito melhor, mas teria feito de uma outra maneira.

- Cada um com seu estilo, querida. Acha que fui cruel? Pode até ser, mas animei a galera, oras. No final do mês verá que o aumento da rentabilidade foi significativo. Agora só preciso arrumar um gerente.

Ligou para Gilberto.

- Giba, tive um probleminha aqui em Piracicaba. Preciso que mande um novo gerente. Mande o cara mais carrasco da companhia. Ahhh, já sei: mande o Ezequias, do escritório do Paraná. Ele detesta sair da cidade. Diga a ele que só voltará quando o escritório de Piracicaba estiver 10% acima da meta estabelecida.

- Helena, o cara vai matar todo mundo ai – disse Gilberto.

- O objetivo é esse. Os dias de festa desse escritório acabaram.

Helena voltou para seu apartamento por volta das 23h. Pegou um salame e uma garrafa de vinho sentou-se em frente à TV. Ficou mudando os canais enquanto jantava. Sentiu saudade da Bia. Ligou para Esther.

- Maninha, boa noite. Você está bem? E os meninos?

- Estámos bem. Eles estão dormindo. Está tarde.

- Liguei pra falar com a Bia. Estou com saudade.

-Helena, acho que você está precisando de um médico, um terapeuta...Começou a falar com bichos é porque não está bem.

- Talvez, ando sem amigos. Fico muito tempo fora, perco contato.

- Fale comigo, oras. Precisamos sair pra bater papo sem as crianças por perto. Preciso te contar uma coisa, ontem não deu tempo. Tenho uma novidade.

- Conte. Adoro novidade.

- Fiz uma ultrossonografia e terei uma menininha.

- Esther, isso não é novidade. O Giba já me contou.

- É um bocudo mesmo! Mas ele não contou o restante da novidade: ela terá seu nome Maria Helena.

- Esther, não acredito. Que legal, adorei!!!! Só não sei se ela quando crescer vai gostar tanto.

- Claro que vai, tenho certeza. É um lindo nome.

- Bom, mediante isso, não farei a filmagem do parto: vou contratar uma equipe especializada em filmagem. Ahhh, um fotografo profissional também. Quero fotos e imagens de todos os ângulos da minha sobrinha.

- Lê, tá louca? Fico eu de pernas abertas e você eo Gilberto tirando aquelas fotos, depois mostram pra todo mundo. O pessoal do escritório conhece até minhas amídalas.

- Nada disso. Já combinei com o Giba. Dessa vez colocaremos um telão na sala de espera e ficamos assistindo, bebendo vinho e fumando um charuto, com todo conforto – Sorriu e comentou emocionada: - Obrigada, viu? Amo muito você e as crianças. Na verdade, são os únicos que amo.

- Esse é seu problema: amar muito, poucas pessoas. Poderia amar muitos, com menos intensidade.

- Esther e o sermão. Demorou pra começar.

- Ta bom, seja como você quiser.

- Lê, você confia na sua nova assistente?

- Por que, Esther?

- Ela me pareceu estranha, enigmática. Tem algo que não me agradou.

- Você sabe que não confio nem na minha sombra, mas ela parece ser uma profissional competente. Tem um currículo fabuloso. Só perde para o meu - sorriu.

- É linda também. Aposto que esse foi o quesito principal para ser contratada.

- Nada disso, dona Esther. Não misturo trabalho com prazer. Onde eu ganho meu pão não como a carne. Já passei dessa fase adolescente, acredite. Ela tem que aprender umas coisas, mas é uma profissional madura. Estou precisando de alguém assim ao meu lado. Estou sobrecarregada de trabalho. Cansei de estar cercada por incompetentes.

- Bom, se você está dizendo isso, acredito, mas é bom ficar de olho nela.

- Vou ficar pode deixar. Esther, vá descansar e cuide da Maria Helena. Beijos e até a volta. Ahhh, manda um beijão pra Bia. Diga que estou morrendo de saudades.

- Até mais e apareça no final de semana.

Sentou-se no sofá e devorou todas as informações sobre a fazenda e o gado. Dormiu no sofá por volta das 4h30. Acordou as 9h com o toque da campainha. Rolou para o lado e cobriu a cabeça, mas a campainha continuava insistente. Olhou pelo olho mágico. Era Cristina. “Droga!”. Esqueceu que tinha combinado de trabalharem. Abriu a porta, não respondeu ao bom dia. Foi até o escritório pegou umas pastas.

- Preciso que veja todos os balanços dos escritórios, sinalize os que estão com a menor rentabilidade e veja os motivos por estarem ruins, a perda de cliente, a não entrega de produtos, preço etc... Depois trace um plano de ação para resolver o problema, monte um cronograma de visitas e reuniões. Quando tudo estiver pronto, você me apresenta, ok? Fui clara? Entendeu as instruções? Acha que pode fazer sozinha?

- Sim, entendi. Posso fazer sozinha.

- Ótimo, vou dormir. Me chame quando terminar. Se tiver fome é só pegar na cozinha o que quiser. Ahh, o pó de café e o açúcar estão na segunda porta à direita.

Saiu em direção ao quarto. Agora são 9h. Ela não vai terminar tudo isso antes das 17h. Tenho um bom tempo pra dormir. Que delicia!

Cristina achou que teria uma tarefa mais fácil. “Ahhh, estou ferrada. Adeus final de semana”. Partiu pra cozinha, fez uma garrafa de café, sentou na enorme mesa da cozinha. Precisava de espaço e começou a trabalhar. Terminou às 14h. Ficou satisfeita com seu trabalho. Ligou para um restaurante japonês e pediu comida. Foi chamar Helena. Bateu na porta do quarto, uma, duas, três, vezes e não obteve resposta. Abriu a porta. Helena estava nua. Um lençol cobria apenas algumas partes do seu corpo. Cristina admirou por uns instantes aquele corpo moreno. Achava-a bonita e atraente. “Cris, nem pensar. Ela, além de ser sua chefe, é um perigo. Tire essas idéias libidinosas da sua cabeça”. Chamou novamente, mas Helena virou de lado e cobriu a cabeça “Se essa maluca não acordar vou ficar a tarde toda aqui”. Abriu as cortinas e ligou o som. Atitude impensada e perigosa. Helena abriu os olhos azuis com ira. Sua vontade era de apertar o pescoço de Cristina até que ela ficasse sem ar.

- O que está fazendo aqui? Não disse para me chamar só quando terminasse?

- Exatamente. Já conclui o trabalho há uma meia hora atrás - que é o tempo que estou tentando acordar você.

- Espero que tenha saído um bom trabalho. Pelo tempo que levou, duvido. Cristina ficou chateada com o comentário. Saiu do quarto sem dizer nada. Helena tomou um banho. Voltou com a cara fechada. Encontrou Cristina meio à papelada e de um monte de comida.

- Está revisando ou refazendo o trabalho? Ei, você comprou comida para um exército?

- Nada disso, apenas adiantando trabalho pra segunda-feira. Também não sabia o que você gosta de comer. Por isso pedi um pouco de tudo.

Enquanto comia, Helena lia o relatório. Á medida que lia, ia riscando, fazendo observações.

- Bom, não ficou de todo ruim. Se tivesse pensado melhor, gasto mais tempo com os detalhes, ficaria apresentável.

- Como assim??? Fiz o melhor.

- Xiii, se o seu “melhor” é esse, nem quero ver o pior.

Cristina ficou vermelha. Queria pular e apertar o pescoço de Helena, mas conteve-se.

- Então diga o que está ruim no seu ponto de vista que eu corrijo. Já perdi meu sábado mesmo!!!

Helena ficou feliz por ter conseguido irritá-la.

- Vou dizer em que você pode melhorar. Como não conhece ainda todos os escritórios não levou em conta a região, cultura etc.... Por isso não foi feliz em algumas sugestões. Vamos refazer.

- Vamos, não. Eu refaço.

- Vou ajudar. Conheço a empresa melhor que você e duas pessoas pensam melhor que uma. Além de que, quando não estou ao seu lado, não sai um bom trabalho.

Helena redesenhou os gráficos, refez o cronograma, fez a pauta da reunião.

- Você está mudando tudo - reclamou Cris.

- Cristina, limite-se a sua condição de aprendiz e aprenda com a mestra. Não quero um gráfico em forma de pizza, quero um em colunas, refaça agora.

- Mas Helena o padrão para esse tipo de gráfico é em forma de pizza. Fica melhor.

- Não perguntei sua opinião. Disse pra refazer.

Cristina, soltou todo o ar de seus pulmões de uma só vez. Começou a refazer.

- Pronto, acabei seu gráfico em colunas.

- Hummm, ficou bom, mas prefiro o em forma de pizza. Volte para como estava.

- Você me fez perder meia hora pra depois voltar atrás?

- Eu gosto sempre de ter uma alternativa. Aprenda isso: nunca se prenda a um único meio de fazer uma coisa, caso contrário perde a chance de mostrar o melhor.

Cristina olhou para o relógio. Não chegaria a tempo para ir ao cinema com seu pai. Deu de ombros e continuou a refazer o relatório.

- Porque montou um cronograma de visitas para daqui a duas semanas?

- É quando você volta da fazenda.

- Nada disso. Pode agendar para a partir de segunda. Você vai no meu lugar. É só colocar em prática o que estamos escrevendo. Dará tudo certo.

- Não dá, Helena. Não conheço as pessoas. Não posso chegar assim do nada e implantar tantas mudanças.

- Simples, mandarei um e-mail com sua foto, avisando que você é minha representante e que falará por mim. Portanto, não fale bobagens. Qualquer problema é só ligar - por isso ganhou um celular.

E assim correu todo o final de semana regado a trabalho, a disk pizza, disk comida japonesa, além das farpas trocadas pelas duas a todo instante.

No domingo à noite combinaram que Cristina levaria Helena ao aeroporto. Na segunda pela manhã, Helena ligou o computador e foi verificar a previsão do tempo para as próximas duas semanas. Queria saber que tipo de roupa colocaria na mala. Abriu o guarda-roupa e começou a jogar as roupas sobre a cama. Pegou cinco casacos de lã, luvas, cachecol, várias calças jeans, uma camisa xadrez. Fez uma pilha de roupa. Pegou a mala. Ao abrir, achou uns acessórios: uma algema, um pênis de silicone, um chicote, uma máscara. Lembrou da noite de sadomasoquismo que teve com a Dani. Bateu uma saudade...

Ouviu a campainha guardou tudo rapidinho no criado mudo.

– Oi, Cris. Chegou mais cedo?

- O trânsito estava tranqüilo. Já tomou café?

- Ainda não. Estava fazendo minha mala. Enquanto termino você poderia providenciar um sei que não é seu trabalho, mas...

- Farei, mas não se acostume. Também estou louca pra beber um café.

Cristina preparou o café. Quando foi entregá-lo, sem querer tropeçou na mala e derramou o café nas costas de Helena.

- Ai, ai, ai - tirou a blusa rápido.

Cristina viu a marca da queimadura.

– Desculpe, me desculpe. Foi sem querer..te queimei?

– Claro que queimou...ai, ai. Sei que não gosta de mim, mas tentar me matar queimada já é demais...ai, ai.

- Quem disse que não gosto de você? Por favor, me desculpe. Não foi minha intenção.

- De boas intenções o inferno está cheio. Fica fria, farei um esforço para acreditar que não foi de propósito. Tenho uma pomada ótima pra isso em algum lugar... - abriu o criado mudo e deixou à mostra seus acessórios. Pegou a pomada. Cristina ofereceu-se para passar.

- Deite-se que eu cuido disso.

Começou a passar delicadamente a pomada. O corpo de Helena reagiu ao toque. “Ai, meu Deus! Que mão macia”. Começou a ficar arrepiada. “Nossa, isso que dá ficar sem transar por tanto tempo”. Cristina percebeu e parou de passar a pomada. Helena virou e sem pensar, beijou-a. Foi estranho, Cristina queria resistir, mas não resistiu. Helena não queria ter beijado mas não conseguia parar. As duas sofriam de vontades ambíguas, mas o tesão falou mais alto. Helena que já estava sem blusa ficou sem sutiã sem saia. Arrancava sua roupa ao mesmo tempo em que tirava a de Cristina. Helena alcançou o pênis de silicone. Quando ia colocar, Cristina sussurrou:

- Se quisesse transar com um homem teria transado com meu marido antes de vir pra cá.

Helena jogou o acessório longe, com raiva.

- Diga o que você quer então? - perguntou segurando com força o cabelo de Cristina pela nuca.

- Eu que tenho que dizer? Pensei que você soubesse o que fazer. Ouvi histórias sobre você. Será que são só histórias, lendas? - disse com um ar desafiador.

Essas palavras deixaram Helena mais excitada e deu um tapa no rosto de Cristina.

- Vou mostrar a você como se faz estória. Depois que terminarmos nunca mais vai querer um homem entre suas pernas.

Helena mordia o corpo de Cristina, sugava os seios, onde sua boca passava deixava marcas, Cristina não reclamava da dor. Sentia mais prazer, tesão. Quando chegou ao sexo de Cristina, percebeu que ela já tinha gozado, mas continuou fazendo sexo oral, quando sentiu que ela gozaria novamente parou.

– POR QUE PAROU? Continue!” - disse ofegante.

Helena olhou em seus olhos, segurou-a pelos cabelos e introduziu três dedos. Cristina ficou com as pupilas dilatadas e explodiu. Contorcia o corpo devido aos espasmos seguidos. Teve seu grito abafado pelo beijo de Helena. Pela primeira vez sentiu seu gosto na boca de uma mulher.

Helena ficou sobre Cristina até seu corpo estar completamente tranqüilo. Olhou em seus olhos e disse:

- Ainda acha que não só estórias ao meu respeito? - falou com um brilho de satisfação nos olhos. Soltou seu sorriso debochado, largando seu corpo cansado ao lado de Cristina.

- Tenho que admitir: você também é muito boa na cama. Foi minha melhor transa - falou colocando seu corpo sobre o de Helena.

Começou um vai e vem, esfregando seu sexo ao de Helena. Tentou morder o pescoço de Helena, levou outro tapa.

- Nunca deixe marca em meu corpo, entendeu?

Obedeceu, levou sua mão ao sexo de Helena. Ao tentar introduzir um dedo teve sua mão retirada.

– Não deixo amadoras me tocar.

Helena tinha um lema: não deixava ninguém tocá-la. Gostava de possuir, não de ser possuída. Assim não se apaixonava. Helena amava ou queria apenas o que não podia ter ou possuir. Quando possuía uma mulher e essa se entregava sem reservas, sem mostrar resistência, ela simplesmente desprezava-as. Adorava os jogos de conquista, sedução. Nisso era mestra.

Cristina sorriu.

- Tudo bem: você quem manda.

Jogou seu corpo para o lado e voltou-se rapidamente. Em segundos Helena estava algemada à cabeceira da cama.

- Cristina, me solte.

- Agora vou mostrar para você quem manda.

- Cristina, estou mandando, me SOLTAAAAAAA.

Cristina começou a beijar o corpo de Helena que no início estava tenso, mas aos poucos foi relaxando. Foi até a mala e retirou um cachecol, cobriu os olhos de Helena.

-Cris, por favor me solte. E tire essa droga do meu rosto. Quero ver o que você está fazendo....

Cristina não deu ouvido, continuou lambendo delicadamente todo o seu corpo, afastou as pernas de Helena e percorreu suas coxas com a ponta dos dedos. Ao contrario de Helena, não usava força. Percorria cada pedacinho de seu corpo com suavidade.

- Helena, quebre seus paradigmas, relaxe, aproveite, tente ficar calma.

Helena foi deixando-se levar pela curiosidade, pelo tesão que essa manobra estava provocando em seu corpo. Usou muitas vezes desse artifício, mas como mestra, e não como aluna. De repente foi penetrada com delicadeza. Sentiu um pouco de dor, retesou o corpo.

-Cristina, pare. Cris, pare! Pare, por favor...

O pênis de silicone entrava e saía de seu corpo com suavidade. Aos poucos foi provocando um imenso prazer.

-Cris, não pare. Não pare, não pare....

Começou a acompanhar com os quadris os movimentos realizados por Cristina. Aos poucos as duas aumentaram o movimento, a respiração foi aumentando, aumentando, aumentando. Helena teve um maravilhoso orgasmo, abafou o grito mordendo os ombros de Cristina. Queria causar a mesma dor do prazer recebido. Cristina retirou o cachecol.

– E ai? Viu quem manda?!!! Foi bom?

- Não, não foi bom. Já tive transa melhor. Quem sabe treinando você aprenda a comer uma mulher - disse irritada por ter sido penetrada, por estar imobilizada e pior, por ter gostado.

Cristina deu-lhe uma bofetada.

- Mentirosa, seu corpo diz o contrário. Gostou, só não é capaz de admitir.

- Nunca ouviu dizer que as mulheres fingem muito bem na cama?!! Você deve fazer isso sempre com o seu marido.

- Nunca fingi. Ele realmente sabe como satisfazer uma mulher, ao contrário de você. – mas pensou: “o babaca nunca foi bom de cama”

- Sem essa. Sei o que fiz e o que provoquei em você. Ahhh, você disse que foi sua melhor transa. Esqueceu?

- Ahhh, eu também menti. Você não foi a minha melhor transa.

Cristina levantou-se e começou a colocar a sua roupa.

- Você pode me soltar agora?!!!!

- Você não é auto-suficiente? Não é boa em tudo que faz? Nunca precisa de ninguém?!!! Então, vire-se. Não vou soltá-la.

- Cristina, solte-me agora. Não estou brincando. Se me deixar aqui assim, eu perder o meu vôo. Juro que te mato quando sair daqui.

Cristina procurou a chave na gaveta. Pegou e colocou sobre a barriga de Helena.

- Se você pedir com jeitinho posso abrir pra você.

- Cristina, não estou brincando!!!! Abra agora.

Cristina pegou a bolsa e a chave do carro.

- Tem certeza que não vai pedir direito?

- Abre a porra da algema, CRISTINA.

- Tenha uma boa viagem, dona Helena - saiu e deixou a porta aberta.

Helena ficou olhando incrédula para a porta. “Essa vaca vai voltar. Não entre em pânico. Ela vai voltar, não entre em pânico”.

- CRISTINA, CRISTINA, CRISTINAAAA. FILHA DA PUTA. VOCÊ ESTÁ NO OLHO DA RUA. TÁ OUVINDOOOOOOOO?

“Helena, pense, pense...você vai conseguir sair dessa a tempo. Vai pegar o avião, vai dar tudo certo”. Olhou a chave sobre sua barriga, virou o corpo e derrubou a chave sobre a cama. Conseguiu ficar de quatro. Tentava pegar a chave com a boca, tentativa em vão, não conseguiu, a raiva que estava de Cristina só aumentava. Eu vou matar essa filha da puta, bem matadinha. “Bem feito pra você Helena, não pode ver uma mulher que já quer beijar, transar, só pensa em se dar bem, transar com todo mundo, vê se aprende, AHHHHHHHHH “

- O que houve? Que posição é essa? Leninha, minha filha, você foi assaltada?

- Fui, Zefinha. Levaram até a roupa do corpo. Graças a Deus que você chegou. Vamos me ajude, ande, estou com pressa!!!!

- Pressa? Tô vendo sua pressa. Se estivesse assim com tanta pressa não estaria presa à cama. Diga: você foi assaltada mesmo?? - falou olhando espantada para o pênis de silicone.

- Ande, Zefinha: é uma longa história. Se quiser, pode pegar o bilau emprestado, só volto daqui duas semanas mesmo.. - disse gargalhando.

- Pare de debochar ou deixo você aí presa.

- Zefinha, querida, ande logo. Preciso estar dentro do avião em uma hora.

Com as mãos livres Helena recolheu as roupas espalhadas pelo chão, jogou na mala, vestiu jeans, camiseta e tênis. Ligou para a portaria e pediu um táxi. Pegou sua pasta e foi voando para o aeroporto. Foi a última a entrar no avião. Sentou aliviada. Já podia ouvir os gritos de Marcelo caso não conseguisse. E se ele ainda soubesse por quais motivos, aí sim, ele ficaria maluco. Olhou para os pulsos. Estavam marcados. “Aquela vagabunda me paga!!!”. Fechou os olhos e lembrou do prazer sentido há pouco tempo. Ficou com seu sorriso sacana no rosto. “Vai ter revanche.”



Helena começou a sentir frio no avião. Arrependeu-se de ter deixado todas as suas blusas na mala. Apertou o botão chamou a aeromoça.

- Preciso de um cobertor e um chocolate quente. Essa era a vantagem de viajar na primeira classe.

Ao desembarcar em Joinvile, teve a sensação que congelaria a qualquer momento, estava quase pulando na esteira para buscar sua mala. Ao avistar a grande mala vermelha cheia de adesivos aparecer na esteira saiu correndo empurrando umas pessoas. Abriu a mala no saguão e vestiu um monte de blusas, colocou tanta roupa que estava com dificuldade para andar. Saindo do saguão principal avistou uma mulher por volta de 40 anos, com um corpo bonito, fisionomia séria com uma placa, Fazenda Santa Rita. “Que bom que já chegaram”

- Boa tarde, sou Helena.

- Olá sou Fátima.Estou incumbida pelo Marcelo a acompanhar você nessas duas semanas. Ele pediu que eu a ajudasse com a venda da fazendo e do gado.

- Ok, fico feliz em saber. Mas agora preciso que você me ajude em algo urgente, me tira desse frio por favor!!!! Podemos ir correndo para o carro?

- Claro!!!, o carro é o Troller preto, esta ali. Fátima sorriu ao ver Helena correr para o carro puxando seu braço e a mala ao mesmo tempo.

- Vamos parar em um lugar bacana na estrada assim você bebe algo para te aquecer pois temos mais ou menos duas horas de viagem até a fazenda.

- Ai meu Deus, não acredito!!!! vou congelar até chegar à fazenda.

Pararam em um lindo chalé, Helena bebeu uma xícara enorme de chocolate fumegante. Depois começou a comprar biscoitos, chocolates, compotas era doida por essas bobagens, saiu carregada de coisas. No caminho com o corpo aquecido puxou conversa com Fátima.

- Então me diga o que uma mulher como você faz aqui nesse final de mundo!!!

- Aqui não é final de mundo. É um lugar lindo e tranqüilo, amo essa cidade. Sou dona de umas terras e nas horas vagas sou advogada.

- Como conheceu Marcelo?

- Somos amigos de velhos tempos, trabalhamos juntos por um período, ele me deu a primeira chance de trabalho, considero o Marcelo como um irmão e é só por essa consideração que estou aqui.

- Nossa não sabia que era um sacrifício enorme dar uma carona a uma pobre Paulistana solitária. Sorriu.

- Não é isso, apenas não gosto de servir de babá, da última vez tive que mandar os peões darem um susto em um safado.

- Nossa quem foi o sacana?

- Rodrigo conhece? Ele esteve aqui pra fazer a mesma coisa que você e não resolveu nada. Mania do Marcelo de enviar pessoas que não entendem nada de gado, terra, ai sobra pra mim.

- Conheço bem o Rodrigo, e adianto que não pareço nada com ele. Acho melhor você não generalizar. E quem te disse que não entendo nada de gado?

- Não precisa dizer, conheço mauricinhos e patricinhas à distância.

- Garanto que serei uma surpresa pra você, provarei que esta enganada ao meu respeito.

- Helena nunca me engano com as pessoas, com você não será diferente.

Helena soltou seu sorriso debochado. - Ok Dra. Fátima, apesar de não concordar com os seus padrões de pré-julgamentos, respeitarei sua opinião, vim aqui pra fazer um trabalho e vou fazê-lo com a sua ajuda ou não.

- Calma!!! Eu algum momento eu disse que não iria ajudar?

- Eu, em algum momento pedi sua ajuda?

- Além de patricinha é mimada. Sorriu. O Marcelo bem que me advertiu sobre esse seu jeito malcriado.

Helena olhou-a com o seu famoso olhar mortal, Fátima sentiu um gelo na espinha. O assunto foi encerrado. O restante do trajeto foi percorrido em silêncio.

Chegaram à fazenda por volta 14:00 estavam sendo esperadas para o almoço pelo caseiro José, pela veterinária Leila, por Antonio o capataz . Fizeram as apresentações triviais.

Helena estava cansada e irritada com a advogada, e com o lugar. Para onde olhasse via pasto, árvores,vacas, “ai que tédio”. José mostrou toda a casa, era um antigo casarão com dois andares.

- Reservei esse quarto para a Senhora, tem uma vista linda, da janela poderá ver a centenária mangueira que pela manhã fica repleta de passarinhos cantando, e poderá ver quase toda a fazenda.

- Obrigada, mas prefiro ficar com as janelas fechadas, tenho alergia a pernilongos, borrachudos, muriçocas, a qualquer coisa que voe e pique. Ahhh, fale com os passarinhos pra começarem a cantar só depois das 8:00 ou melhor 9:00 da manha, detesto acordar com o canto dos pássaros. Preciso que vasculhe todo o quarto, não quero encontrar com aranha, barata, rato, lagartixa, cobra, tenho pavor a qualquer bicho.

- Tudo bem dona Helena, não precisa ter medo farei uma vistoria.

Helena jogou-se na enorme cama, fechou o véu que envolvia a cama, sentiu-se no tempo da monarquia, teve pensamentos sacanas....

Desceu para o almoço, enquanto enchia a barriga com a farta comida observava as pessoas, conversava pouco, apenas ouvia, gostava de reconhecer o terreno .

- Então Dona Helena gostou do lugar, perguntou Antonio?

- Estou gostando, mas se estivesse um pouco mais quente uns 30 graus, por exemplo, colocassem mais prédios e carros, tirassem esse canto irritante dos passarinhos tenho certeza que iria amar.

Todos sorriram, Leila gostou do jeito maluco de Helena. “Hum até que enfim alguém interessante nesse lugar”.

- Posso levar você pra conhecer a fazenda após o almoço? Disse Leila

- Vou precisar de um guia mas para amanhã, hoje faremos uma reunião para que eu possa saber a real situação da fazenda, preciso verificar os livros contábeis, vou correr para agilizar a venda do gado e da fazenda quero passar o menor tempo possível por aqui.

- È natural não querer ficar por aqui, esta acostumada com grandes lojas, com muitas pessoas, com muitos empregados pra ajudar com seu trabalho, atacou a advogada.

Helena fixou os olhos azuis na advogada e respondeu:- Apenas não posso ficar aqui porque sou uma mulher muito ocupada e não posso perder meu tempo com algo que posso resolver logo,não sou do tipo que fica assistindo a vida passar, eu faço a vida acontecer, é diferente. Já disse pra não tirar conclusões precipitadas ao meu respeito. Quando Fátima iria fazer sua réplica Leila falou para evitar confusão, pois conhecia bem a língua afiada de Fátima: Bom Helena vamos para a nossa reunião pois preciso ir embora antes do anoitecer.

A reunião correu bem até 21:00. Helena estava louca pra tomar um banho bem quente e deitar em uma cama cheia de coberta. Leila despediu-se com um beijo no canto de sua boca “Ahhh meu Deus, nem aqui tenho sossego, como posso me tornar uma mulher séria”.

Abriu a mala, começou a organizar suas coisas no antigo guarda roupa. Começou a sentir falta de coisas básicas como calcinha , meia, shampoo, esqueceu-se de pegar na correria.

- Que droga !!!! a Cristina me paga. Nesse momento lembrou-se da loucura efetuada pela manhã, não recebeu nenhuma ligação de Cris o dia todo.

“Será que ela voltou para o trabalho? Não posso perdê-la”, arranjar uma pessoa eficiente como Cristina em um curto período era difícil. “Helena você é uma babaca mesmo vai perder uma excelente funcionária porque não consegue controlar sua tara”. Resolveu ligar, pensou no que iria falar. Não queria ser indelicada, precisava achar as palavras certas pra não magoá-la.

“ Cristina, não me relaciono com minhas funcionárias, (era uma mentirinha) desculpe não ter controlado meus impulsos, espero que isso não afete nossa relação profissional, eu já esqueci o que aconteceu, (outra mentira) e espero que você também esqueça, sem nenhum ressentimento. – Humm acho que assim serei convincente. Quando foi pegar o celular o telefone ao lado da cama toca.

“Será que é pra mim?”- Alô.

- Helena, sou eu Cristina. Preciso falar com você.

- Eu ia ligar pra você agora, porque não ligou o dia todo?

- Eu tentei mas seu celular ta fora de área, e só consegui descobrir o número do telefone da fazenda agora.



-Bom Cris preciso dizer umas coisas.

- Espera Helena, deixa eu falar, tudo bem?

- Fale. Disse deitando-se na cama, apreciando a voz macia do outro lado

“ ela vai dizer que foi bom e que esta com saudade”

- Bom Helena, primeiro quero dizer que a reunião correu bem, seu e-mail surtiu efeito, todos os Gerentes foram atenciosos, consegui colocar todos os pontos que combinamos na reunião, na semana que vem espero obter um aumento nas vendas, com a mudança da estratégia.

- Hummm, que bom, sabia que você daria conta do recado.

- Segundo. “agora que ela vai dizer que esta cheia de tesão por mim”

- Eu quero pedir que você esqueça o que aconteceu entre nós pela manhã, pois eu já esqueci, eu nunca transei com um chefe ou colega de trabalho, não sei por quais motivos não controlei meus impulsos e acabei quebrando um dos meus princípios. Quero pedir desculpas por deixá-la presa à cama, e espero que não fique ressentimento entre nós.

“ Filha da puta, ela agora lê meus pensamentos? Ainda rouba , meus argumentos, ela só pode ser telepata”

– Não Cristina, fique tranqüila, sou uma profissional, não misturo prazer ou raiva com trabalho? Mas não diga pra eu esquecer o que aconteceu hoje, se quiser podemos repetir novamente com mais calma e com mais tempo, garanto que não irá se arrepender. Também nunca transei com uma funcionária “uma mentirinha cai bem”, mas aconteceu e foi bom. Garanto que sei separar bem as coisas.

- Não Helena, essa situação não irá se repetir. Não quero ficar conhecida na empresa por transar com você, por ser sua amante. Quero ser respeitada pelo meu esforço, pelo meu trabalho, além do mais sou muito bem casada, nunca transei com uma mulher, acho que me deixei levar pela curiosidade, pelo clima, agora como já sei como é transar com uma mulher, e pra ser sincera não gostei, não vou deixar o fato repetir.

- Quanto a não ter transado antes com uma mulher eu acredito, agora que é bem casada e que não gostou, isso é bem mais difícil de acreditar, vi bem a reação do seu corpo, sei bem do que sou capaz.

- Acredite no que você quiser, não vou obrigá-la a nada, só quero deixar claro que não irá se repetir. Conheço sua fama, sei que transa com todo mundo do escritório, transa com todo mundo que tem vontade, eu não vou entrar para a sua caderneta, pode acreditar!!!

“ Mas que audaciosa”. – Ok, também não quero transar mais com você. Você não faz meu tipo, é amadora, é sem graça, mas sinto dizer que você já entrou para minha caderneta, esta catalogada como a minha pior transa. Bom assunto encerrado e esquecido, mas antes me diga quem esta falando mal de mim pra você? Perguntou completamente transtornada, “vou mandar embora o maldito da boca grande”.

- Que bom que esta tudo certo entre nós, que você entendeu, que não esta magoada. Ahhh, quanto à sua pergunta, a empresa toda fala de você, não falam bem nem mal, apenas falam, esqueça, falam também que você é uma pessoa compreensiva, disse com um ar de deboche. Tenha uma boa noite, amanhã mando o relatório completo da reunião.

- Boa noite. Helena desligou o telefone furiosa. “Quem ela pensa que é, pra me ignorar dessa forma, fingir que nada aconteceu, não acredito que ela tenha esquecido assim tão fácil, que não gostou, ta fazendo joguinho de superiora”. O comportamento alheio de Cristina deixava-a mais excitada. Helena deu por iniciado o jogo, escreveu em sua agenda. Fazer Cristina implorar por uma transa e ficar louca por mim, no máximo 1 mês”.

Cristina desligou o telefone, ficou por um tempo pensando em sua conversa com Helena. “Ela não vai me dar sossego”. Fechou os olhos e lembrou da boca de Helena entre suas pernas, começou a sentir o prazer novamente, nunca tinha sido sugada daquela maneira. Pensou e chegou à conclusão que teve seu primeiro e verdadeiro orgasmo com Helena. Caminhou e sentou-se na cadeira de Helena, olhou para o porta retrato sobre a mesa, viu a foto de Helena com os sobrinhos, estava com um sorriso maravilhoso no rosto, a pele morena, queimada de sol, os olhos azuis, muito azuis como o céu em um lindo dia de verão.Tocou-se e sentiu que estava encharcada, ficou olhando para a foto começou a masturbar-se, desejando que aquela boca estivesse na sua, desejou ser possuída ali naquela cadeira, e devagar teve um orgasmo quente e delicioso. “Sua cachorra, só assim que você vai me ter”

Helena voltou-se para seus problemas imediatos. Tomou seu banho e lavou sua calcinha e meias embaixo do chuveiro escaldante. Pendurou-os na janela do banheiro “amanhã estará seco, e no final do dia vou á cidade e compro outros”. Vestiu o pijama e tentou dormir, rolou na cama de um lado á outro, não conseguia dormir estava parecendo um frango naquelas máquinas de assar. Era sempre assim quando viajava, estranhava a cama, o travesseiro, (também tinha esquecido o Bob, seu fiel companheiro), levantou e abriu a janela pra apreciar a noite. Levou um tremendo susto, nunca tinha realmente visto a escuridão, era impossível enxergar um palmo diante do nariz, não havia luz em nenhum legar da fazenda ou da redondeza, apenas as estrelas no céu, fechou a janela rápido tinha medo do escuro. Ligou para seu amigo Marcos.

-Má, sou eu Lê, tava dormindo? to atrapalhando ?

- Eu sei que é você Lê, ninguém mais me ligaria às 2:00.Não eu não estava dormindo, estava transando com meu namorado, se ligasse 5 minutos antes eu não atenderia.E esta atrapalhando sim, aconteceu alguma coisa grave? Espero que tenha acontecido!!!

- Aconteceu. Eu não consigo dormir, aqui ta muito escuro, Má você sabe que tenho medo, to sem meu travesseiro e sem meu relógio do homem aranha, sabe aquele em que ele fica soltando uma teia? Ele joga a teia em mim e me carrega para um sonho lindo......

- Lê, toma um daqueles seus tranqüilizantes poderosos, fecha seus olhinhos que o sono vem, e pare de frescura.

- Não fale assim, to carente, com frio, e sem sono, fala comigo vai!!!

-Lê, to com um gato gostoso ao meu lado, estou quentinho e morrendo de sono, vai tomar um remedinho e dorme feito um anjinho, vai.

- Ter amigos pra quê hem?? Se não podemos contar com eles nas horas difíceis!!!Ohhh te odeio viu, boa noite.

- E eu te amo Lê, vá e me deixe dormir...

Helena desligou o telefone, pensou em ligar pra Cris, mas falar o quê àquela hora. Teve uma idéia, ligou pra Vera.

- Vera acorde e anote umas coisas.

- Ahmmm, o que? Quem ta falando?

- É sua mestra e dona, A C O R D A A A A A A V E R A, anote antes que eu esqueça!!!!!!

- Helena, acha que durmo com um bloco de notas e caneta amarradas as mãos? Além do mais o expediente ainda não começou, liga mais tarde depois das 8:00 de preferência.

- Ta perdendo mesmo a noção do perigo!!! pare de andar com a Cristina ela esta sendo uma má influência pra você, levante e anote, ou ficarei ligando pra você a cada 15 minutos durante a noite toda, estou sem sono mesmo.

Vera levantou e obedeceu, sabia que Helena era bem capaz de cumprir o prometido.

Helena passou o resto da noite trabalhando, pesquisando, “precisava dar uma lição na advogadazinha”. Dormiu por volta 5:00, às 6:00 em ponto José batia em sua porta.

- Dona Helena, dona Helena, estamos esperando a senhora para tomar o café da manhã e sairmos pra visita como combinado.

Helena praguejou, não queria sair da cama quentinha. Levantou. Foi até o banheiro e soltou um grito.......

- CARALHO, C A R A L H O O O O O O. A calcinha tinha voado pela janela junto com um pé de meia. Olhou pela janela e viu sua calcinha branca repousando serenamente no telhado, o pé de meia não conseguiu ver. Pensou em um meio de resgatar sua calcinha, mas desistiu não pegaria bem andar pelada naquele frio sobre o telhado ”que caralho”. Tomou banho pensando em como iria se virar. Vestiu o jeans sobre a calça do pijama, olhou com tristeza para o único pé de meia na cama, seu pé estava congelado, calçou o tênis, calçou o pé de meia. Foi recebida por Leila, que lhe deu seu melhor sorriso, sentou-se à mesa, ficou boba com tanta comida, comeu feito uma maluca, parecia que ia explodir.

Terminaram o café, Helena foi até o quarto pra pegar a câmera digital e seu bloco de notas.

-Helena vou esperá-la do lado de fora, disse Leila

- OK.

- Ao chegar na varanda já estava à sua espera: Antonio, Jose, Leila e Fátima todos montados em cavalos . Helena levou um susto, nunca tinha montado, olhou e viu um cavalo lindo selado a sua espera.

- Ta pronta perguntou Fátima com um sorriso zombeteiro.

- Se alguém me disser onde é o cambio, o freio e a embreagem do cavalo, podemos ir sem nenhum problema, nem ligo se não tiver cinto de segurança. Todos riram.

- Pode deixar dona Helena, vou pegar o moleza pra senhora.

- Nada disso!!! vou montar o azulão ai, só preciso que me ajude a ficar em cima dele e dê umas instruções rápidas e básicas, eu ando de moto não vou andar á cavalo!!! Leila fez questão de ajudar, mostrou como deveria fazer e partiram.

Helena parecia uma estátua sobre o cavalo, não vazia nenhum movimento brusco com medo de cair.

- Nossa como é alto aqui em cima do cavalo, alguém pode tirar o salto alto do bicho!!! Helena virou a diversão da turma...

Fátima olhava e se divertia enquanto Leila e os rapazes estavam prestativos. Quando Helena estava mais a vontade sobre o cavalo, o nextel vibra em seu bolso traseiro, fazendo que desse um pulo e quase caísse do cavalo.

- Falaaaaaaa, Cristina.

- Ei, bom dia né.

- Só se for pra você!!!

- Não esta curtindo, a vida rural?

- Agora é 8:00, esta um frio de doer, estou sem calcinha e sem meias sobre um cavalo e VOCÊ quase me derrubou, sabia que poderia ter me matado? Estou a uns 5 metros do chão, poderia ter quebrado meu pescoço.

- Ué esta em cima de um cavalo ou de um prédio? Não sabia que no sul dão hormônio de crescimento para os cavalos....disse gargalhando.

- Fala logo e não me enche!!!

- Preciso de umas pastas e a Vera não quer entregar, disse que só entregaria se você autorizasse.

- Fala a verdade, a Vera não faria isso, diga que esta com saudade de mim!!!!

- Eu, saudade? Ainda não deu tempo para ter um sentimento tão nobre. O escritório esta tão agradável!!! Porque será?? Helena fala com ela vai, é urgente.

- Você já disse as duas palavras mágicas para Vera? Por favor e obrigada.

- Helena, já pedi por favor, por misericórdia, perdão por fazer algo que a incomodou, perdão por vir a fazer algo que a incomode, mas ela esta irredutível.

- Estou ficando preocupada, se você não consegue resolver esses simples problemas quem dirá os mais graves.Pare de querer ser comediante e comece a tratar bem a Vera. Deixa eu falar com ela.

- Helena não é bem assim, não sei o que houve, ontem estava tudo bem.

- Não explique o que não dá pra explicar, deixe eu falar logo com ela, antes que minha bunda congele. Cristina passou o telefone a contra gosto para Vera.

- Vera muito bem, continue a fazer o que combinamos, não dê moleza pra ela, quero que ela me ligue a cada 5 minutos se for preciso, vou mostrar quem manda, por hora pode liberar as pastas. Depois que ouviu a voz de Cris ela finalmente sentiu que tinha acordado.



Helena observava tudo, não perdia nenhum detalhe. Perguntava, questionava, tirava fotos, fazia anotações. Fátima estava impressionada com o conhecimento que ela demonstrava, com a firmeza das perguntas e afirmações que Helena fazia. “Será que dessa vez me enganei?”, refletiu.



- Leila, a marca que está nesses bois não são da Fazenda Santa Rita. Sabe dizer por quê?



- Não, Helena. Na verdade não tinha observado. Estou trabalhando na fazenda há apenas um mês. Fiquei mais preocupada em tratá-los já que estavam todos doentes.



- Doentes? Como assim?



- Ainda não sei especificar exatamente. Encaminhei os exames de sangue para um laboratório em São Paulo e os resultados ainda não chegaram. Mas obtivemos uma melhora substancial com a mudança da alimentação. A ração utilizada era de uma qualidade ruim. Não entendo porque a economia.



- Nem eu, Leila – disse Helena, séria - Outra coisa: não encontrei nos registros de compra a aquisição da raça Zebu, apenas da raça Holandesa. E o que essas Zebus estão fazendo aqui?



- Eu não sei. Você deve perguntar para o Antonio e para a Fátima que são os responsáveis pela compra e venda de animais. Eu apenas cuido da saúde deles.



Helena ficou observando Antonio e Fátima conversarem afastados dos demais. Ficou tentando imaginar o que os dois estariam falando. O seu telefone toca novamente.



- Fala, Cristina!!!!



- Helena, assim não dá para trabalhar. Qualquer coisa que eu necessito nessa empresa recebo como resposta: “só com a autorização da Dona Helena”. Você esta me boicotando? Por quê?



- Cristina, que culpa tenho eu se você não é popular, gentil e educada? Só porque você não sabe pedir as coisas, imagina que eu esteja boicotando seu trabalho. Não sabia que você pensava tão mal a meu respeito!



- Helena, conheço você um pouco – rebate Cristina, irritada – Ou você diz pra todo mundo atender minhas solicitações ou vou embora agora.



- Credooooo!!! Está fazendo ameaças agora? Tô morrendo de medo!



- Helena, não estou brincando – diz Cristina num tom cansado - Preciso de liberdade pra trabalhar. Não posso ficar ligando pra você a cada meia hora.



- O que tem de mau nisso, falar com uma pessoa tão agradável como eu? É um privilégio pra qualquer pessoa.



- Pra qualquer pessoa, sim, mas pra mim não é nenhum privilégio.



Helena sorri intimamente e adota um tom sério:



- Bom, passarei um e-mail estabelecendo que todos - “TODOS” - devem ser obedientes à senhorita, ok?



- Muitoooo obrigada. A senhora é muito gentil. Espero falar com você só daqui duas semanas.



Cristina desligou o telefone furiosa. Helena deu um sorrisinho.



- Vamos comer - sugeriu Leila.



- Comer quem? Ops...melhor: o quê? – Helena deu o seu melhor sorriso sacana.



- Vamos comer “qualquer” coisa, Helena. Ainda está muito cedo pra comer alguém – respondeu Leila, com um sorriso acanhado.



Helena estava achando estranha a relação entre Fátima e Antonio. Os dois viviam de cochichos. Intrigada, resolveu perguntar a Leila:



- Esses dois são amigos, namorados, amantes ou tem negócios em comum?



- Não sei, Helena. Conheço a Fátima há um bom tempo, mas é uma mulher reservada. Detesta falar sobre sua vida e muito menos sobre negócios.



- Hummm. Interessante. Vamos comer!



Elas retornaram à fazenda e almoçaram. Durante o almoço, Antonio lança a pergunta:



- Helena, você conhece o Rodrigo?



- Claro que sim. Somos amigos de infância.



- Eu que acompanhei e ajudei o Rodrigo com as tarefas da fazenda. Viramos amigos. Conversei com ele a semana passada e ele não falou nada sobre sua a sua chegada.



- É que não vejo Rodrigo há uns dias. Mas ele recomendou que conversasse com você sobre uns assuntos. Falaremos disso mais tarde. Só nós dois. Tudo bem?



- Tudo bem.



Fátima acompanhava a conversa com curiosidade. Enquanto comiam a sobremesa, Helena pega uma moeda e pede para que Leila escolha um lado.



- Eu quero cara, Helena – responde Leila.



- Ótimo. Fátima, você fica com a coroa. “É mais apropriado pra sua idade” – sorriu intimamente.



- Mas por que está fazendo essas perguntas? Você fará um sorteio? - pergunta Fátima curiosa.



- Sim. Vou sortear quem irá me levar até a cidade para que eu possa comprar umas coisinhas que esqueci.



“Aproveito também pra sortear quem será a minha primeira vitima. Preciso transar com alguém”. Joga a moeda para o alto e....



- A felizarda que irá passar uma tarde inteira em minha companhia é.................Leila!



“Ufa, que bom. Essa já está ganha. Esta noite não dormirei sozinha no escuro”.



- Ainda bem que não fui à sorteada. Detesto fazer compras com meninas mimadas - falou Fátima com ironia.



- Mas eu adorooooo - disse Leila com um olhar encantado para Helena. “Ai meu Deus. Não vou agüentar essa romântica por mais de uma noite”.



Helena pede para Leila esperar um pouco.



- Tenho uns assuntos para resolver com Antonio – e olhando para o homem, diz: - Eu quero ter uma conversa curta e objetiva com você, Antonio. O Rodrigo disse que tem negócios com você. E disse também que você me colocaria a par de tudo, que era para eu acertar tudo com você.



Antonio ajeitou-se na cadeira, um pouco incomodado com a situação.



- Mas, dona Helena...o Rodrigo não me disse nada.



- Então ligue pra ele já que está desconfiando da minha palavra.



Pegou o telefone e entregou para Antonio. O homem pegou o fone e ficou com o ar pensativo. Acabou resolvendo não ligar. “Não quero que ela fique com raiva ou com desconfiança em mim”.



- Não é isso, dona Helena. Confio na senhora. Não vou ligar.



Helena soltou o ar do peito aliviada. Estava blefando.



- Então comece a falar. A papelada que está no arquivo não bate com a realidade da fazenda. Os animais estão comendo ração de péssima qualidade, mas as notas de compra são de uma ração da melhor qualidade. Cadê as vacas holandesas?



O homem fica apreensivo com o tom de voz de Helena e acaba revelando o esquema:



- Bom, a ração e as outras compras efetuadas para a fazenda são efetuadas por mim. Compro uma coisa e pego nota fiscal de outra. É simples. A diferença do dinheiro é dividida. Fico com 20% e o Rodrigo com o restante. 80%. Quanto às vacas trocamos com a fazenda ao lado que pertence ao meu primo.



- Mas não encontrei nenhum documento que confirmasse a transação!



- A doutora disse que não era necessário, pois as pessoas que vêm até a fazendo não conhecem gado mesmo.



- Antonio, tenho uma proposta para fazer: a partir de agora sua participação será de 50%. É só fazer o que eu te pedir e esquecer seu trato com Rodrigo.



- Não sei não, dona.



- Quem está no comando da fazenda sou eu. Se você não fizer o que estou mandando, coloco você na cadeia numa cela ao lado do Rodrigo. A doutora Fátima não poderá ajudá-los pois estará bem ocupada numa prisão feminina.



Antonio pigarreou. Pensou um pouco.



- Tudo bem. Se não aceitar, só terei a perder mesmo.



- Com certeza. Então não fale nada da nossa conversa com o Rodrigo e principalmente com a doutora. Se você falar, eu saberei. E então não pensarei duas vezes: colocarei você no xadrez, entendeu? Agora saia da minha frente.



Antonio entrou na sala principal, seguido por Helena. Fátima olhou curiosa para os dois.



- Fátima, como você sabe preciso ir à cidade com a Leila. Portanto, esteja aqui amanhã depois do almoço. Assim acertamos como faremos a venda do gado e da fazenda. Tudo bem?



- Sem problemas. Estarei aqui. Assim terminamos esse assunto e não precisarei mais voltar.



- Nossa, não sabia que minha companhia era tão ruim – ironizou Helena, com um sorriso sacana nos lábios.



- Não é isso - falou sem graça - Apenas tenho que resolver meus compromissos.



- Ok. Sem problemas. Vamos, Leila! – então olhou para o homem - E Antonio: não esqueça da nossa conversa.



Sorriu para a garota e pediu:



- Leila, me dê as chaves. Eu mesma dirijo.



Leila entregou a chave da pick-up. Arrependeu-se 5 minutos depois. Helena acelerou o veículo levantando poeira na estradinha de terra. Cada vez que passava sobre um buraco, dava um grito de felicidade. No percurso, olhou pra Leila e disse:



- Adoro dirigir. Não agüentava mais andar em algo que não tem motor.



Ligou o rádio procurou uma estação que não tocasse musica regional ou sertaneja. Uma busca em vão.



- Leila, deixa eu ver seus CD´s. Quero ver seu gosto musical.



- Deixa que eu mostro. Dá pra diminuir a velocidade? Meu carro é 4X4, mas não é bom abusar – disse, preocupada. Depois, vai remexendo nos CDs e fala: - Nem vou mostrar os sertanejos. Sei que você vai descartar. Tenho MPB. Serve?



- Não agora. Quem sabe mais tarde?...Não tem algo parecido com rock?



- Serve Nirvana?



- Hummm. Antigo, mas gosto dos clássicos.



Helena colocou o CD e ficou cantando “Come As You Are”, tentando imitar Kurt Cobain ao balançar os cabelos curtos. Leila foi rindo o caminho inteiro do jeito desengonçado e moleque de Helena. Pararam em frente ao Shopping Mueller Joinville.



- Ahhh, me sinto em casa - disse Helena ao entrar no shopping.







Comprou botas, meias e muitas calcinhas. “Agora podem voar uma por dia se quiserem”.



- Helena, tem um lugar maravilhoso que quero você conheça – disse Leila. Ela a levou até o Mirante, uma torre localizada no alto do Morro da Boa Vista, a 250 metros de altura.



Helena ficou maravilhada com a vista panorâmica de Joinville, da Baía da Babitonga e São Francisco do Sul. Estavam sozinhas na torre final de tarde e puderam apreciar o pôr-do- sol. Helena aproximou-se de Leila e falou baixinho em seu ouvido:



- Realmente, é linda a vista daqui, mas a lembrança que levo do lugar é a do seu rosto observando o horizonte – disse, dando um beijo suave no seu pescoço.



Percebeu que Leila ficou vermelha e arrepiada com a sua proximidade e com as palavras que disse. “Essa já está ganha. Hummm. Terei alguém pra esquentar meus pés”.



- Vamos!!! Segurou a mão de Leila e desceram as escadarias que levavam a torre. Chegaram à fazenda por volta das 21h.



- Bom, Helena. O passeio foi maravilhoso, mas está tarde. Preciso ir. Vejo você amanhã – disse Leila num tom nervoso.



- Nada disso. Vamos jantar a saborosa comida da dona Eugênia. E você vai dormir aqui hoje. Nada de pegar essa estrada escura e fria.



- Tenho que ir. Não avisei meus pais. Não tenho roupa pra dormir...



- Roupa é que não irá faltar. Comprei um monte de calcinhas e meias. poderá escolher o que quiser.



- Ahhh. Só vestirei calcinha e meia?



- Claro! Tem algo mais sexy?



Helena desceu da pick-up fez a volta. Abriu a porta e colocou Leila sobre os ombros.



- Já que não vai com as próprias pernas, irá com a ajuda das minhas.



- Coloque-me no chão! Pedindo com esse jeitinho não tenho como rejeitar.



Entraram na casa sorrindo. A mesa já estava posta. Comeram muito, falaram bobagens. Leila sentia saudade de São Paulo e estava adorando o jeito como Helena contava as novidades sobre bares e boates novas.



- Podemos subir e tomar um bom banho. Depois podemos continuar a conversa bebendo um bom vinho. O que acha, Leila?



- Acho uma ótima idéia.



Subiram. Helena mostrou o quarto de hóspedes e fez com que Leila escolhe-se uma calcinha. Em seguida foi tomar o seu banho. Cantava no chuveiro.



Então já era

Eu vou fazer de um jeito que ela não vai esquecer

Se for já era

Eu vou fazer de um jeito que ela não vai esquecer



Saiu feliz do banho, colocou um conjunto de calcinha e sutiã branco de renda que ressaltava a cor da pele morena. Colocou o edredom no chão e, ao lado, duas taças e uma garrafa de vinho. Resolveu acender a lareira do quarto. Assim montava um clima romântico e ficaria aquecida. Espalhou o álcool gel sobre a lenha, riscou o fósforo e aos poucos o fogo foi aumentado. Ficou ajoelhada em frente à lareira observando o fogo. De repente, Helena começa a gritar com toda a força dos seus pulmões. Joga-se na cama, fechando a cortina de tule. Dois enormes morcegos saíram da lareira e entraram no quarto, voando de um lado para o outro do quarto, sem rumo, debatendo-se nas paredes. Difícil saber se Helena estava com mais medo dos morcegos ou se os morcegos estavam com mais medo de Helena.



Leila ouve os gritos e corre apavorada para o quarto de Helena. Vê os morcegos, abre a grande janela e no mesmo instante os animais ganham a liberdade.



- Pronto, Helena. Eles não fariam mal a você. Pode sair debaixo das cobertas.



- Tem certeza? Não esta me enganando?



Leila foi até a cama, descobriu o corpo de Helena, viu que ela estava tremendo com o susto. Abraçou-a e beijou sua testa, beijou sua bochecha, beijou timidamente os lábios de Helena. Essa foi a senha para que Helena a beijasse com vontade, tesão...



Música



Papo Reto (prazer É Sexo O Resto É Negócio)



Charlie Brown Jr.



Helena acordou, olhou para Leila deitada ao seu lado na cama e viu que ela tinha um sorriso estampado no rosto. “ aaah, Maria Helena, você sabe agradar uma mulher...”, pensou ao se levantar cheia de energia. Tinha dois planos importantes na cabeça e queria colocá-los em prática logo. Tomou banho, vestiu-se, olhou para o relógio. 6h30. Pegou o telefone e ligou.



- Vera, acordaaa!



Do outro lado, uma voz sonolenta.



- Hummm...quem é?



- Que pergunta, heim? Sou eu, Veraaa.



- Helena, você não dorme não? Não sabe que horas são? Não sabe que meu expediente só começa às 8h?



- Cala boca, Vera, e levanta. Ô velha resmungona. Se tivesse enviado o que lhe pedi ONTEM, ainda estaria dormindo como um anjinho. Cadê as informações que pedi sobre a Cris?



Vera senta-se na cama e responde impaciente:



- Helena, você pensa que é fácil ter todas as informações que você quer sem que ela saiba ou desconfie? Demorei um tempão pra saber que a flor favorita dela é Orquídea, que a cor preferida é Rosa, e a comida que ela ama, além de salada, é feijoada.



- Credo, que mulher básica...Você levou dois dias pra descobrir isso? Imagino quanto tempo vai levar pra descobrir algo que realmente interesse! – ironizou com irritação, mas depois amenizou o tom: - Bom, mas já é um começo. A partir de hoje quero que ela receba todas as manhãs uma orquídea. Não mande cartão, nem deixe que ela fale ou veja o entregador. Não quero que ela descubra que sou eu que estou enviando.



Vera boceja e pergunta querendo encerrar o assunto:



- O que mais, Helena?



- Você ainda pergunta o que mais?



Vera se encolhe na cama e espera a bronca. Helena continua falando:



- Vera, quero saber tudo sobre ela, sobre a família, sobre o marido. Se ela pratica esporte, se gosta de animais, qual o filme e o livro preferido, se gosta de comédia, terror ou ficção, os lugares onde costuma ir, restaurante preferido. VERA QUERO SABER TUDO, ENTENDEU? Larga de preguiça e levanta. Você tem muita coisa pra fazer.



- Helena você já ouviu falar em direitos humanos? Ahhh, eu te odeiooooooo.



Helena sorriu baixinho:



- Vera, eu TE AMOOOOO.



Desligou e ainda com o sorriso nos lábios, ligou para Fátima.



- Bom dia, Dra. Fátima.



- Bom dia, Helena. Dormiu bem?



- Maravilhosamente bem – disse isso e lançou um olhar malicioso para a bunda de Leila que continuava dormindo - Só liguei para desejar um bom dia.



- Só isso? Não quer mais nada? Tem certeza?



- No momento não. Um grande beijo e tenha um bom dia.



Desligou e caminhou em direção à cama. Aproximou-se devagar de Leila e percebeu que ela estava quase caindo do colchão. Deu um sorrisinho. Chegou bem perto e gritou em seu ouvido:



- BOM DIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.



Leila com o susto caiu da cama. Ainda aturdida, olhou para outra e reclamou:



- Pôxa Helena...que modo carinhoso e romântico de acordar uma pessoa.



Helena ria muito. Não podia se conter.



- Desculpe, mas não resisti. Foi mais forte que eu.



Leila fingiu estar zangada.



- Ajude-me a levantar pelo menos.



- Nada disso.



Helena pulou sobre ela e beijou sua boca. Deslizou a mão sobre seus seios, bunda, mordeu o pescoço, sugou os peitos rijos. Então, tocou-a intimamente com um dedo e percebeu que Leila estava super excitada. Olhou em seus olhos e perguntou com a cara safada:



- Tá com vontade? Quer fazer amor?



Leila respondeu ofegante:



- Claro que quero. Me come agora!



Helena afastou seu corpo, levantou e disse:



- Guarde sua vontade pra noite. Temos muito trabalho a fazer.



Leila ficou parada, aturdida, olhando-a se levantar.



- Pôxa, Helena! Você me provoca, me deixa louca de tesão e depois recua. Que crueldade. Volta pra cá, vem!!!



Helena sai sorrindo e ordena sem olhar para trás:



- Leila, estou esperando você na cozinha pra tomarmos café.



“Tenho que deixá-la com vontade para que esteja em minha cama à noite”, raciocina com um sorrisinho no rosto.



Helena passou o dia todo envolvida com os assuntos da fazenda. Visitou a fazenda vizinha, a do primo do Antonio, reconheceu o gado da Fazenda Santa Rita. “O idiota nem disfarçou as marcas”. Em seguida, conversou com o proprietário, um homem gordo e careca que tinha cerca de 50 anos, chamado Geraldo. Helena saiu da fazenda com vontade de matar o homem. Ele ficou olhando descaradamente para seus seios e, no final da visita, perguntou se não queria que a levasse para conhecer a cidade.



- Que homem nojento, Leila – comentou irritada assim que a encontrou.



- Ele é assim mesmo. Por isso recusei trabalhar pra ele.



- Bom. Você viu que tentei negociar, devolver os bois doentes dele e pegar os meus de volta, mas o Sr. Nojento recusou-se. Portanto, terei que tomar medidas drásticas.



Leila arqueou as sobrancelhas e perguntou:



- Você fará o quê, Helena?



- Nada. Nada no momento!



A semana correu tranqüila: transava com Leila todas as noites, pela manhã cantava Fátima e durante o dia cuidava dos negócios da fazenda e da empresa. Apesar da rotina, pensava da hora que acordava até a hora de ir dormir como faria para conquistar Cristina.



No final da semana, estava tudo preparado para a realização do leilão. Geraldo levou o gado da fazenda Santa Rita para ser leiloado. “Meninos, vocês voltarão pra casa”, pensa Helena olhando para os belos bois.



O leilão iniciou e Helena conseguiu efetuar a venda do gado doente por um ótimo preço. Aguardava ansiosa a entrada do lote de Geraldo, quando anunciaram o lote da Fazenda Gertrudes. Helena fez uma ligação. Cinco minutos depois um carro de som cor-de-rosa estaciona próximo ao local. Do alto falante, ouvia-se uma voz masculina:



- Geraldo. Geraldo, meu amor. Geraldo, apareça.



Foi o suficiente para que iniciasse um burburinho, chamando atenção de todas as pessoas que participavam do leilão. Ao lado do carro estava Marcos, vestido de drag queen. Era ele quem falava ao microfone:



- Geraldo, sei que nosso amor é grande e verdadeiro. Não posso mais viver sem você. Assuma nosso amor pra a cidade, pra sua família. Aproveite esse momento. Eu te amo! Venha ser feliz ao meu lado, serei sua mulher para vida toda. Eu te perdôo por ter me abandonando por tanto tempo. Apareça, Geraldo!!!!



As pessoas saíram para apreciar a cena. Enquanto isso o leiloeiro dava continuidade a venda do gado. E aproveitando o tumulto, Kely arrematou o lote da fazenda Gertrudes pelo preço inicial. Helena ria da cara de Geraldo, ria da situação. Geraldo não entendia nada. Saiu correndo pelos fundos. Helena fez outra ligação.



- Ma, pode acabar com a palhaçada. Já consegui o que eu queria. Beijos. Encontro você na cidade.



- Ok, mas preciso encerrar bem meu show – respondeu Marcos, sorrindo.



- Geraldo, já que você não vai aparecer e assumir nosso amor, não precisa me procurar mais. Devolverei a chave do nosso apartamento, o carro e as jóias. Eu só quero você e nada mais me importa. Saiba que amarei você por toda a minha vida.



Fátima achou tudo muito estranho e engraçado. Foi procurar por Helena para saber se ela tinha algo a ver com aquela algazarra, mas era tarde. Ela já a tinha ido embora. Helena encontrou-se com Marcos no hotel, rindo sem parar.



- Ma, você foi M A R A V I L H O S O!!!!



Abraçaram-se.



- Eu sei disso, amiga. Sou sempre maravilhoso.



- É. Maravilhoso e convencido também. Obrigada, amigo.



- Obrigada, nada. Tá pensando que vai sair de graça? Pode ir pagando um belo almoço regado à champanhe – disse, com a voz afetadíssima.



-Pagarei com o maior prazer.



Nesse momento chega Kelly.



- Helena, que bagunça você aprontou, heim? – disse, sorrindo - Mas felizmente deu tudo certo. A compra do gado foi efetuada por um preço super-baixo. Agora só falta fechar a compra da fábrica de couros. Essa será mais difícil. Geraldo também esta interessado. Conversei com o dono da fábrica e ele disse que já esta quase certa a venda para ele. Fiz a nossa proposta, ele gostou, ficou tentado. Ele vai analisar e dar uma resposta depois. Ele marcou uma reunião com você e com a Dra. Fátima pra amanhã às 10h. Ele quer analisar o que será melhor para a cooperativa.



- Interessante. Kelly, quero que encontre com o dono da fábrica amanhã às 9h. Leve o contrato de compra e venda, além do cheque do pagamento. Quero que faça com que ele assine o contrato até às 10h, entendeu?



- Eu entendi, mas e a advogada?



- Deixa que eu resolva esse assunto. Falarei com ela.



Depois do almoço Helena voltou para a fazenda. Precisava pensar em um jeito de convencer Fátima a desistir da compra da fábrica. Chegando à fazenda, mandou selar um cavalo e foi dar uma volta. Cavalgou por um tempo. Parou perto de uma árvore e resolver deitar na grama para descansar. Acabou adormecendo. Fátima foi até a fazenda à procura de Helena. Soube que ela havia saído a cavalo e resolveu ir atrás. Não podia esperar. Precisava saber se Helena era culpada por todo aquele circo. Avistou o cavalo, viu Helena deitada na grama e aproximou-se.



- Helena...Helena? Você está bem?



Helena soltou um gemido.



- Helena, fale comigo!!!



Helena abriu os olhos.



- Você está bem? Caiu do cavalo, diga?



Helena meneou a cabeça afirmativamente.



- Consegue levantar? Onde está doendo?



Fátima estava desesperada.



- Calma, só está doendo minha perna. Acho que torci..



- Venha, levante-se. Apóie-se em mim.



Helena, fingindo dificuldade para andar, apoiou-se no corpo de Fátima. Sentiu o cheiro de seu perfume. Pensou: “esse é o momento”. Virou seu corpo, ficou de frente para Fátima, segurou sua cintura e sentiu o corpo da Doutora arrepiar. Viu ela entreabrir os lábios. Não pensou duas vezes, beijou-a. O beijo foi retribuído, no início timidamente, mas depois com intensidade. Helena aproveitou e colou seu corpo ao dela, deslizou sua mão. Queria saber até onde Fátima permitiria o contato. Para sua surpresa, ela não ofereceu muita resistência. Logo estava sugando seu seio.



- Fátima, vamos sair daqui? - sugeriu.



Fátima ajudou-a a subir no cavalo. Perguntava a todo o momento se estava bem.



- Fátima, estou bem. Muito bem. Fui curada por seu beijo.... – e abriu seu sorriso sacana.



Na fazenda, subiram até o quarto de Helena. Fátima ajudou-a a tirar as botas e à medida que retirava, beijava seus pés. “Realmente mereço que beije meus pés. Sou uma deusa”, pensou sorrindo. Helena deixou que Fátima tomasse todas as atitudes. Recebia beijos por todo o corpo. E enquanto debruçava-se sobre ela, Fátima sussurrava entre os beijos que desejava tê-la desde o primeiro dia, que sonhou com Helena todas as noites. Mal ouviu isso, Helena partiu para o ataque. Conhecia todas as formas de satisfazer uma mulher e colocou todo o seu estoque de truques que sabia em prática. Precisava fazer com que Fátima não saísse tão cedo de sua cama. Helena pegou em sua mala o velho companheiro de aventuras e possuiu Fátima por toda a noite. Mais tarde, Helena acordou com o barulho irritante do telefone.



- Alô – resmungou aborrecida.



- Helena, sou eu: Kelly – respondeu a mulher apressadamente - Estou ligando pra dizer que acabei de comprar a fábrica. A Dra. Fátima não apareceu e como não atende ao celular, o proprietário resolver fechar o negócio comigo.



Helena sorriu e respondeu animada:



- Ótimo, Kelly. Parabéns! Conversamos depois.



Fátima acordou e ouviu o restante da conversa.



- Helena, que horas são?



- Exatamente 10h15.



- Caramba! Perdi uma reunião importante, mas não tem problema: você também perdeu.



- Eu não perdi nada. Mandei outra pessoa em meu lugar – respondeu com um sorriso sarcástico.



- Como assim?



- Mandei minha advogada e procuradora. Ela acabou de ligar dizendo que comprou a fábrica de couro.



Fátima ergueu-se da cama com um salto.



- Peraí! Será que entendi direito?



Helena cruzou os braços sobre o peito e olhou-a de forma desafiadora:



- Sim, comprei a fábrica.



Fátima armou o corpo, zangada.



- Sua trapaceira! – gritou, jogando o vaso de flores em Helena, que saiu correndo do quarto.



- Helena, volta aqui sua cachorra!



Fátima pegou um pé da bota e atirou, acertando as costas de Helena que descia a escada. O impacto fez com que Helena rolasse escada abaixo e caísse inconsciente. Fátima arrependeu-se e correu para ver como Helena estava. Viu que com a queda Helena havia cortado o supercílio e estava com o rosto coberto de sangue.



- Ah, meu Deus! Será que eu a matei?



Tomou o pulso de Helena e viu que estava viva. ”Ainda bem que essa peste está viva”, suspirou, novamente zangada. Subiu até o quarto colocou uma roupa e ligou para o caseiro. Pediu para que ele viesse ajudá-la. Pegou a chave do seu carro e saiu. Helena acordou em seu quarto com muita dor. A cabeça latejava. Antonio havia encontrado Helena. Fez um curativo precário a fim de estancar o sangue.



- A senhora está bem?



- Não, não estou nada bem! – resmungou irritada e depois, fez uma cara de dor e iniciou seu melodrama: - acho que vou morrer! Meu corpo todo dói.



Mexeu-se na cama e soltou um grito de dor. Não podia mexer o braço. Antonio apressou-se a ajudá-la:



-Vou levá-la para o hospital.



Antonio colocou Helena na pick-up e a cada sacudida, ela gritava de dor. Enquanto era atendida, Kelly e Marcos chegam ao hospital.



- Cadê Helena? Ela está bem? - pergunta Marcos aflito.



Antonio dá de ombros e responde:



- Essa aí está tirando umas radiografias, mas parece estar bem. Me xingou o caminho todo.....



- Então ela está bem mesmo... – disse Marcos, sorrindo.



Kelly separou-se do grupo e foi procurar informações sobre Helena.



- Vou ver como ela está. – disse



Uma hora depois as duas estão de volta.



- E ai, amiga? Como você está? – pergunta Marcos, aproximando-se.



- Ahh, Má! Não estou bem. Ganhei 5 pontos na testa, ficarei com uma cicatriz horrível e....ah, desloquei a clavícula.



- Cicatriz horrível nesse rosto lindo? Impossível!!!! Ganhou um charme, isso sim...- falou Marcos abraçando-a - Mas me conta como aconteceu?



Nesse momento toca o celular de Kelly.



- Sim, Marcelo. Ela esta aqui. Calma, vou passar pra ela – e olhando para ela, disse: - Helena é o Marcelo. E ele está furioso...



Helena deu um sorrisinho e pegou o telefone:



- Fala, padrinho querido...



Do outro lado, o homem estava com a voz alterada:



- Helena, eu disse pra você ir até a fazenda e vender tudo e não comprar mais coisas! Disse pra não arranjar confusão com ninguém, mas a senhorita atacou a Fátima. DÁ PRA ME CONTAR O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ? - berrou.



Helena afastou o celular do ouvido e olhou para a platéia. Deu um sorriso e retornou:



- Eu não vou contar nada. Gastar meu tempo pra quê se você já sabe de tudo? Se está me acusando é porque já sabe. Só espero que quem tenha contado, feito a fofoca, também tenha dito que Fátima quase me matou e que estou em um hospital nesse momento .



- Como assim? O que está acontecendo? – bufou o homem – Helena, não me provoque mais. Fale logo.



- Não posso falar agora. Vou fazer uns exames, depois te ligo. Desligou o celular e devolveu o aparelho para Kelly.



- Kelly, ele vai ligar novamente. Você diz que não estou bem, que levei 13 pontos...melhor: 15 pontos, que quebrei meu braço em 3 lugares. Bem, diga que estou mal. Só assim ele vai ficar calmo. Depois converso com ele e esclareço tudo.



Kelly lançou um olhar de censura para Helena e disse:



- Eu não vou mentir Helena. Conheço Marcelo. Ele vai me matar e matar você se descobrir que estamos mentindo. Além do mais, ele ficará muito preocupado.



Helena parou e olhou Kelly nos olhos de forma intimidadora:



- Kelly, faça o que estou dizendo! Deixa que depois eu acalmo a fera.



Dois minutos depois, Marcelo voltou a ligar. Kelly caprichou nas mentiras. Cristina, que estava ao lado de Marcelo, ficou apreensiva ao ouvir a conversa.



- Marcelo, a Helena está bem? O que houve?



Marcelo lançou um olhar consternado para a moça.



- Ah, Cristina! Ela não tem jeito: vive procurando confusão. Não sei bem o que aconteceu. Ninguém sabe explicar. Primeiro, a dra. Fátima me liga dizendo que Helena é uma trapaceira, mentirosa e que irá me processar. Depois descubro que Helena está em um hospital, fazendo exames, tirando radiografias. Não entendi o que uma coisa tem a ver com a outra, mas sei que ela está bem. Conheço bem o seu tom arrogante quando está mentindo ou quando quer fugir de um assunto. Só por isso estou aliviado.



Cristina saiu da sala de Marcelo preocupada. Não tinha falado com Helena até aquele momento. Agora entendia por que ela não tinha ligado. Pensou se devia ligar. Não resistiu ao impulso e ligou. Primeiro para o telefone de Helena. Ninguém atendeu. Ligou para Kelly em seguida.



- Helena, é a Cristina. Quer que eu atenda?



Helena ficou agitada e feliz.



- Atenda e diga que estou inconsciente chamando pelo nome dela – respondeu sorrindo.



Kelly olhou-a sério.



- Eu não vou falar isso. Chega de mentiras - disse visivelmente enciumada.



- Tudo bem. Atenda, mas mantenha o que disse ao Marcelo. Não quero falar com ela.



Cristina tentou falar com Helena o resto do dia. Estava preocupada, queria ouvir sua voz nem que fosse para levar uma bronca.



Helena voltou para fazenda acompanhada por Kely. Marcos, que não pôde ficar, embarcou no mesmo dia para São Paulo. Helena sentia muita dor no corpo. Deitou-se. Precisava descansar. Mas não conseguiu dormir. Queria mesmo era ir embora. Precisava urgentemente de sua cama, do transito, da poluição. E de Cristina. É, embora não quisesse admitir, sentia falta de Cristina. Todas as noites que esteve com Leila só pensava em Cris. Sentia na pele o seu cheiro e o gosto.



Helena não sabia ao certo como lidar com esse sentimento novo e desconhecido para ela. Claro, já tinha falado para algumas mulheres que as amava, mas tinha falado da boca pra fora. Nunca tinha amado ninguém de verdade, nunca sofreu por amor. Mas agora... sentia uma dor desconhecida. Será que estava começando a amar Cris ou apenas queria muito algo que não podia ter? O jogo da conquista a excitava. Sempre foi assim. Estava acostumada a não ficar com a pessoa conquistada. Depois de ter, esquecia, partia para outra. Adorava cultivar a idéia de que “a fila tem que andar”.



Inquieta, levantou. Queria ligar para Cris. Mas desistiu. Resolveu tomar as últimas providências para poder ir embora o mais rápido possível.



Helena reuniu todos os funcionários da fazenda e demitiu metade deles, incluindo Antonio.



- Detesto ser enganada, roubada, por isso todas essas pessoas foram demitidas – disse, diante da pequena platéia atônita – Vocês que permaneceram, andem na linha pois não pensarei duas vezes pra mandar qualquer um embora. Não quero ver a Doutora Fátima e o Antonio dentro da fazenda. Se passarem da porteira, e eu souber, demito todos vocês, entenderam? Amanhã chega o novo administrador da fazenda. Ele tem total liberdade pra mudar o que quiser aqui. Bom, fui clara? Alguém tem alguma dúvida? Querem falar alguma coisa?



Ninguém se pronunciou. Helena continuou no tom duro:



- Já que o silêncio impera, voltem ao trabalho.



Kely aproveitou a situação e cercou Helena de atenção. Esperou muito por esse momento. Apaixonou-se por ela logo que entrou na empresa e procurava estar sempre por perto. Não media esforços para agradá-la e para realizar todos os seus desejos. No entanto, não entendia porque Helena nunca aceitou sair com ela e porque nunca ganhou uma cantada. Ganhava elogios, gratificações, presentes, mas não era isso que queria, o que realmente desejava.



Então, perseguia Helena nas boates, bares e fazia tudo para ser vista. Um dia, sem resistir, disse a Helena que aceitava ser sua amante. Era puro desespero. A cartada final. Helena via nessas atitudes um amor doentio e por isso em nenhum momento alimentava as esperanças de Kely. Sabia que se saísse com ela pelo menos uma vez nunca mais teria sossego. Não queria uma maluca em seu pé.



Agora, lá estava Kely de novo, esperando uma chance. Certa de que se ficasse mais de um dia sozinha na fazenda com Kely poderia ceder, Helena fez sua mala e voltou pra São Paulo na manhã seguinte. Não, não iria correr o risco.



Helena chegou ao escritório sem avisar. Respirou fundo. Ainda no corredor encontrou com alguns funcionários que começaram a questionar sobre seu estado de saúde.



- Nossa, Helena. O que aconteceu com você? - perguntou Bete, gerente da contabilidade.



- Ah, meu Deus! Estou tão mal assim? – fez uma careta brincalhona - Tive um pequeno problema com o freio do cavalo. Parei de repente e voei por cima do bicho. Deu nisso.



- Mas por que seu olho está roxo? – indagou a secretária do Marcelo.



Helena sorriu:



- Só parei de voar por que meu olho foi atingido pela cerca.



- Nossa! Deve ter doido muito!



Helena cruzou os braços e lançou um olhar repleto de malícia para a secretária:



- Pra falar a verdade, ainda dói. Meu corpo todo dói. Quem sabe você não passa na minha sala mais tarde pra fazer uma massagem? Dizem que suas mãos são milagrosas – completou, piscando o olho.



Mal conclui a frase, Cristina aparece no corredor. Helena a vê e fica paralisada. “Nossa! Como ela está linda”. Então, coloca o seu melhor sorriso no rosto e espera que Cristina se aproxime. Helena nem ouve mais as perguntas que os outros fazem. Fixa seus olhos em Cris.



Cristina se aproxima lentamente e seus olhos se cruzaram. Sem parar de caminhar disse:



- Oi.



Helena ficou atônita. Oi?. “É só isso que ela tem a me dizer depois de tantos dias sem me ver?”. Helena fica sem reação. Vê Cris se afastar, larga as mulheres no corredor sem dizer uma palavra e caminha furiosa para sua sala.



Cristina ao avistar Helena no corredor não sabia como devia agir. Foi pega de surpresa. Não esperava ver Helena tão cedo. “Não vou ficar como aquelas peruas em volta dela paparicando”. Mal saiu da frente de Helena, diminuiu o passo. Precisava pensar rápido em algo pra dizer, mas foi tomada pelo sentimento de felicidade e euforia misturado pela insegurança e incerteza. Essa confusão de sentimentos não deixava com que raciocinasse logicamente e a melhor frase que conseguiu dizer foi “Oi”. Oi? “Que estúpida!”. Entrou no primeiro banheiro que viu, baixou a tampa e sentou no vaso com a cabeça apoiada nas mãos. “Cristina! Cristina, pare de pensar e desejar essa...essa maluca!”. Seu cérebro, em vão, tentava dar ordem ao seu coração.



Os pensamentos giravam em sua cabeça. Não entendia...melhor, não queria entender, aceitar. Teve uma criação rigorosa e religiosa, casou-se jovem, engravidara do seu primeiro namorado de propósito para fugir da pressão familiar. Queria ter sua própria vida. Fez a escolha mais rápida e mais fácil, mas não a mais acertada, hoje sabia disso. Perdeu o bebê no quarto mês de gestação e para segurar a barra da perda dedicou-se de corpo e alma ao trabalho e aos estudos. Foi morar nos EUA e o marido arranjou um excelente trabalho. Ela pôde terminar com tranqüilidade seu doutorado. Arranjou um trabalho melhor e começou a ganhar seu próprio dinheiro. Era feliz com seu marido, tinham uma vida estável, tranqüila. Não tinha reclamações: ele sempre foi carinhoso e, na verdade, eram mais irmãos que marido e mulher. A cama era sem graça, transavam pouco. A distância entre os dois foi aumentando gradualmente. Cada um com seu trabalho, com sua vida. Mas com o passar dos anos, Cristina percebeu que precisava de mais: gostava de desafios, precisava de paixão. Então, teve alguns bons amantes e até chegou a se apaixonar por um deles, mas sempre parecia que faltava algo. Não, não entendia esse vazio. Mas depois que havia transado com Helena, tudo ficou claro, claro até demais. Considerava-se uma mulher moderna, sem preconceitos, mas ter um envolvimento dessa forma era difícil aceitar. Claro, já havia pensado algumas vezes em ficar com mulheres. Tinha vontade de saber como era. Então, decidiu matar sua curiosidade com Helena, que a atraía de uma forma que não sabia explicar. Gostava do seu jeito autoritário e ao mesmo tempo moleque. Adorava o senso de humor sarcástico e sabia, claro, que ela era uma galinha incondicional. Sabia que com ela seria só uma vez e pronto. Não havia risco. Pensou que ambas esqueceriam. Mas não saiu como planejado. Ver Helena parada com aquele sorriso lindo... aquilo tinha deixado ela abalada. Mesmo com um olho roxo e com o braço imobilizado continuava linda.



A cabeça de Cristina rodava, doía. “Por que fui sentir tesão por minha chefe? Pior! Por uma mulher?!”



Ainda dirigindo-se à sua sala, Helena tentava conter a irritação. Passou por Vera como um foguete:



- Vera, bom dia – falou irritada - Venha até minha sala agora!



Vera estremeceu.



- Xiiiii...nem vou perguntar se fez boa viagem.



- A viagem não foi das piores, tirando que quase fiquei cega e quase perdi um braço. Foi maravilhosamente boa.



Vera deu um sorrisinho:



- Helena, você é uma dramática incorrigível.



A outra não sorriu. Estava de mal-humor.



- Vera, cadê as informações que pedi sobre a Cris?



- Aqui, nessa pasta - disse baixinho e piscando um olho.



Vera olhou Helena de soslaio e perguntou sem poder conter a curiosidade:



- Posso saber por que você quer tanta informação sobre ela?



- Não!



- Tá bom, não pergunto mais. Mas agora mate minha curiosidade: quem foi o culpado por esse corte, olho roxo, braço quebrado? – Vera deu um sorrisinho de satisfação.



- Ô curiosidade – bufou Helena - Não foi culpa de ninguém. A culpa foi só minha, tá? Eu estava andando pelo pasto quando um boi apareceu e começou a correr atrás de mim. Quando fui pular a cerca de arame farpado, minha calça ficou presa, perdi o equilíbrio e cai. Pronto. Resultou no estrago que você está vendo. Satisfeita agora? Acredita mesmo que alguém pode me derrubar, Vera?



Cristina entrou na sala naquele momento e ouviu a explicação de Helena. Sabia que ela estava mentindo. Sorriu. Helena, quando mentia, coçava sua orelha direita. Cristina, sentou-se em sua cadeira e começou a trabalhar como se Helena não estivesse na sala. Helena não podia acreditar naquela situação.



- Vera, você está me vendo?



- Claro, Helena. Que pergunta.



- Desculpa, achei que tinha ficado invisível porque Cristina não me viu aqui. Aliás, não me viu no corredor também - falou alterada.



Querendo sorrir, Cristina ergueu a cabeça.



– Claro que vi você. Apenas não queria interromper sua conversa com as meninas...E agora, não quis fazer o mesmo com a Vera.



Helena suspirou e tentou conter a irritação. Olhando para ela, perguntou áspera:



- Bom dia, Cristina. Você está bem? Dormiu bem?



- Estou bem, Helena. Muito bem.



- Que bom fico feliz em saber. Então, o problema sou eu. Se você está bem, se dormiu bem, se está tudo bem, é pessoal mesmo - disse para ela, em tom de deboche.



Cristina não se conteve e sorriu.



- Nossa, como você voltou dramática, heim?



- Acabei de dizer isso a ela, Cris.



Helena voltou-se para a secretária com um olhar furioso:



- Vera, cala a boca!!!



Cristina balançou a cabeça e disse bem-humorada:



- Sei o que você quer ouvir, mas não vou dizer...



- E o que eu quero ouvir, sua sabe tudo???



- Que senti sua falta, que a empresa sem você vira uma bagunça e etc, etc, etc



Helena tentou manter a cara zangada, mas não resistiu. Soltou seu sorriso debochado.



- Não precisa dizer, pois tenho a convicção que você sentiu minha falta e que a empresa fica sempre uma bagunça sem mim. Há!!! Disso, tenho plena certeza.



- Helena, essa sua modéstia é até comovente.



Helena levantou e aproximou-se de Cristina. Olhou bem dentro de seus olhos e disse:



- Eu não tenho vergonha de dizer: senti muito a sua falta.



E com um olhar doce, segurou na mão de Cristina e entregou-lhe um pequeno pacote.



- Comprei pra você. Esse pequeno presente é para provar que pensei em você.



Afastou-se, deixando Cristina sem reação. Helena voltou até sua mesa e pegou outro pacote, entregando-o a Vera.



- A sua lembrança de Joinvile, Vera. Pensou que ia esquecer de você?



Vera sorriu:



- Você nunca esquece.



Cristina abriu sua caixinha e ficou surpresa com os brincos de pérolas.



- Por que está dando essa jóia pra mim?



- Já disse. E por que senti vontade, oras. Além do mais, você fez um bom trabalho nesses últimos 20 dias. Acho que merece um reconhecimento.



- Desculpe, os brincos são lindos, mas não posso aceitar.



- Cristina, estou te dando. Não estou perguntando se você quer ou não os brincos.



- Sei disso, mas não posso aceitar – disse, colocando a caixinha sobre a mesa de Helena.



- E porque não pode? - perguntou irritada.



- Helena já sou paga pra fazer um excelente trabalho. Não quero mais nada além disso.



Helena irritou-se. Nunca ninguém tinha rejeitado um presente seu.



- Diga por que você não pode aceitar? Não gosta de perolas?



- Eu adoro pérolas.



- Não gostou do modelo, tamanho?



- Não Helena, não tem nada de errado com a jóia. Ela é perfeita, linda.



- Então porque você não a quer?



- Helena já disse que não posso aceitar.



- Cristina, fale a verdade, por favor, disse alterando o tom de voz e olhando dentro de seus olhos. Cristina encarou o olhar de Helena, pensou um pouco, não queria ser grosseira.



- A jóia é linda.



- Eu sei. Você já disse isso.



- Mas não sou como as outras pessoas que você está acostumada a lidar, que estão sempre à espera de uma recompensa....Não me vendo. É isso.



- Acha realmente que eu quero te comprar? – disse alterada. Aquela mulher tirava ela do sério - Acredita mesmo que faço as coisas só por interesse próprio? Acha que não sou capaz de dar algo para uma pessoa só pela intenção de agradar ou agradecer? – Helena sentia o sangue ferver e começava a se descontrolar - E por que eu iria querer te comprar?



- Desculpe, acho que me expressei mal. É que não quero que as pessoas falem de mim, de nós. Sabe como as pessoas são, não é? – falou num tom mais baixo.



Aquela resposta deixou Helena um pouco triste.



- Tudo bem, não precisa justificar. O que você pensa de mim, espero que esteja pensando assim porque dei motivos. Espero que tenha opinião própria e que não se deixe levar pelo que as pessoas falam de mim aqui na empresa. Há muito tempo deixei que comentários idiotas mudassem meu comportamento ou ditassem a forma de como eu devo viver. Não aceito sua atitude, mas vou respeitar. Seus brincos ficarão guardados no cofre. Sei que um dia vai pensar diferente ao meu respeito – disse num tom melancólico - Tenho vários defeitos, Cristina, mas também tenho muitas qualidades, essas que poucas pessoas conseguem enxergar. Vou provar pra você que não sou tão má como pensa.



Visivelmente triste, levantou-se e guardou o presente no cofre. Cristina surpreendeu-se com a atitude de Helena. Então, Helena voltou-se para Cristina com uma expressão que ela nunca tinha visto antes. Os olhos estavam com um azul escuro e a sua fisionomia, séria.



Cristina inventou uma desculpa. Precisava sair da sala e fugir do olhar de Helena. Encontrou Vera feliz da vida com o novo colar.



- Mostre o seu presente, Cris. Estou louca pra ver.



- Eu não aceitei.



- Como assim não aceitou?



- Ora, Vera, não aceitando. Agradeci. Não tinha por que ganhar um presente.



- Cris, em todas as suas viagens a Helena traz presentes. Quer dizer, para algumas pessoas. Pra mim, é lógico, sempre! Para o motorista, o piloto do helicóptero, para a Zefinha, o porteiro......



- Humm, estou vendo que a lista é grande.



- Não muito. Helena presenteia apenas as pessoas que gosta - disse com um sorriso de satisfação no rosto, olhando o colar.



Ouvindo-a falar, Cristina ficou pensativa. “Como fui idiota”. Helena tinha trazido um presente para ela porque a considerava especial. Arrependida, Cristina retornou à sala decidida a pedir desculpas, mas Helena não quis falar mais no assunto.



- Qual a agenda de hoje, Cristina?



Passaram o resto da manhã trabalhando em silêncio total. Perto da hora do almoço, Marcelo entra na sala de Helena.



- Boa dia, dona Helena. Fiquei esperando por você a manhã toda. Como não apareceu em minha sala, resolvi vir.



- Bom dia dr. Marcelo. Como pode perceber, estou cheia de trabalho. Foi por isso que não fui falar com o doutor – disse, irônica - Mas já que deu a honra de sua presença em minha sala, pode dizer o que quer?



Marcelo empertigou-se e falou:



- Estou esperando uma explicação sua.



- Não tenho nada para explicar. Recebi ordens suas e as cumpri à risca. Não sei por que está com essa cara indignada.



- Helena, você não vendeu a fazenda: comprou mais gado e, ainda por cima, comprou uma fábrica. Ainda me diz que cumpriu minhas ordens?! Só pode estar brincando.



- Marcelo, aqui está o contrato de compra e venda da fazenda e dos bois – disse estendendo a pastas com os documentos.



Marcelo abriu a pasta com o olhar desconfiado.



- Helena, quem é “Maria Helena de Menezes”?



- Minha sobrinha e afilhada.



- Você não tem nenhuma sobrinha com esse nome.



- Claro que tenho! Irá nascer daqui a uns 3 meses. A Esther resolveu me homenagear.



Marcelo não estava acreditando no que ouvia.



- Você comprou a fazenda em nome de uma pessoa que não existe?



- Espere, aí, Marcelo: ela existe, sim. Só não nasceu ainda.



- Explica direito que não estou entendendo nada - disse exasperado.



- É simples: você não queria vender a fazenda? Eu comprei para dar de presente a minha sobrinha. Os bois, comprei para o Luca e pra Carol. Estavam baratos mesmo... E a fabrica, essa sim: somos sócios. Você comprou com a parte da venda da fazenda.



Marcelo sentou-se sentindo a cabeça girar. Helena foi explicando, sorrindo cinicamente:



- Marcelo, eu não podia deixar aquele troglodita comprar a fábrica e mandar todo mundo embora. Ele ia montar uma cachaçaria no lugar. Além de ignorante, é burro. Faremos investimentos tecnológicos, produziremos equipamentos para beneficiamento de couro. No Brasil ninguém faz isso. Vendemos couro in natura super barato e depois compramos de volta o couro beneficiado pagando muito mais caro. Fiz pesquisa, consultei algumas pessoas. Marcelo, temos uma mina de ouro na mão. Ganharemos dinheiro com a venda de tecnologia e com a venda do couro beneficiado.



- E depois de tudo o que a Fátima disse sobre o que você fez, estou cada vez mais confuso.



- Confuso à toa. Toda a papelada está aqui. É só analisar. Se está desconfiando, chame a Kely ou qualquer outro advogado. – E sem paciência, foi disparando: - Marcelo, você vai acreditar em mim ou nela? Você me conhece desde criança, sabe que eu nunca o enganaria. Mas a Fátima, sim: passou você para trás todo esse tempo. Roubava você descaradamente. Ela queria comprar a fazenda e aqueles bois doentes por preço de banana, mas se mesmo assim você tiver dúvida de toda a transação, fale com a Kely. Ela acompanhou tudo. Tenho todos os documentos para comprovar o que eu fiz.



Marcelo lançou um olhar fixo nos olhos de Helena:



- Diz uma coisa: você dormiu com ela?



Cristina ficou atenta à resposta. Olhou firme para Helena, que bateu de ombros:



- Ahhh, é com isso que você esta preocupado?! Sabia. Mas fique tranqüilo, eu não dormi com ela. Bem que ela queria e tentou, mas eu não fiz isso. Eu sabia que você saía com ela. Nunca faria isso com uma mulher sua, Marcelo, pode acreditar.



Helena coçou sua orelha direita.



- Tem certeza? Ela falou muitas coisas.



- Ela falou com todas as letras que eu dormi com ela?



- Não, não disse.



- Ah, Marcelo! Você não conhece as mulheres mesmo. Elas mentem quando são passadas pra trás, eu a enganei dizendo que não estava interessada na fábrica, disse que já tinha comprador pra fazenda e depois comprei tudo, ela não admitiu perder pra mim. Ela achou que eu fosse uma patricinha idiota. Eu disse que não era, mas ela não quis acreditar...- ela deu um sorrisinho – É por isso que está aí esbravejando com você: ela sabe que você pensa com a cabeça que está embaixo.



Marcelo agitou-se e olhou zangado para Helena.



- Tenha respeito, Helena. Do jeito que ela está brava não foi só isso que aconteceu – considerou, desconfiado - Conheço você: conte tudo. Comece dizendo como quebrou o braço e fez esse corte na cabeça. Tenho certeza que a Fátima fez isso com você.



- Tá louco, é? Caí da escada S O Z I N H A. Tropecei e cai. Ela precisaria nascer de novo pra me derrubar.



Helena coçou novamente a orelha direita. Marcelo se impacientou. Estava desistindo de tentar conseguir a verdade.



-Tudo bem, você venceu. Não vou perguntar mais nada. Sei que vai negar até a morte. Então, agora sou proprietário de uma fábrica. Ahhh, meu Deus!



- Deixe por minha conta. Já pedi para o Gilberto contratar umas pessoas. Fica tranqüilo.



- Esse é o problema: deixar por sua conta. Bom, estava preocupado com você. Sumiu, não atendeu aos meus telefonemas. Você está realmente bem?



- Aleluia! Alguém preocupado comigo. Mas não confio muito nesse seu interesse: você não pareceu estar nada preocupado quando entrou aqui me metralhando. Agora viu que fiz tudo certinho e está arrependido de ter me tratado mal.



Marcelo ignorou o comentário e prosseguiu em seu interrogatório.



- Já procurou um médico aqui em São Paulo?



- Marcelo, acabei de chegar. Nem passei em casa. Estou bem. Não preciso ir ao médico.



- Você sabe que me preocupo...Mas já sabia que você estava bem. Toda hora alguém liga pra dizer que você estava fazendo algo. Quem está morta ou muito doente não faz nada, portanto deduzi que estava bem – disse sorrindo e abrindo os braços - Vem cá e me dá um abraço. Senti sua falta, sabia? Nossa, seu olho está feio, heim?! Precisa ir a um oftalmologista.



- Está tudo bem, fica tranqüilo. O médico disse que ficaria feio mesmo. A batida foi muito forte. Os hematomas devem desaparecer em 15 dias. Até lá usarei óculos escuros. Ficarei mais sexy - Helena deu um sorrisinho e aconchegou-se nos braços de Marcelo - Também senti falta do meu padrinho querido.



- Xiii, vou embora. Já está apelando – Marcelo sorriu.



- Vamos almoçar? Você paga o almoço, Marcelo.



- Sabia que esse padrinho querido tinha um preço. Infelizmente não posso ir. Marquei com outra pessoa, mas amanhã almoçaremos juntos.



- Então, vamos almoçar, Cristina? Ou vai rejeitar achando que quero te comprar com um almoço?



Cristina ficou vermelha de raiva e de vergonha.



- Não, podemos ir.



Elas saíram em silêncio. Enquanto andavam, Helena foi avaliando as suas reações. Deixou que Cristina dirigisse o carro, enquanto indicava o caminho do restaurante.

- Cris, pode ir mais rápido. Dá seta, passa no sinal vermelho mesmo, vira à esquerda agora,. Não! É na outra esquerda, puxa! Era nessa que você passou. Nossa, como você dirige mal. Eu, com um braço e com um olho só, dirijo melhor que você. Pára o carro. Eu mesma conduzo.

Cristina deu uma olhada rápida e sorriu:

- Helena, fica quietinha. Tenho carta de motorista há mais de cinco anos. Nunca recebi uma multa, nunca bati o carro, ao contrário de certas pessoas. Ficaria mais fácil se você avisasse antes onde devo virar. Melhor, diga aonde quer ir. Não fiquei tanto tempo assim fora do Brasil. Ainda sei como chegar aos lugares. Só pra registrar, nos EUA eu dirigia e obedecia às leis de trânsito. Aqui, continuo obedecendo.

- Nossa, como você é sensível e chata. Não falo mais nada. Vou abster você de ouvir minha voz. – disse fazendo beicinho. Mas segundos depois, disse entusiasmada - Vamos naquele restaurante descolado que vende comida natural? Fica na Paulista. Conhece?

- Claro que conheço. Sempre que posso, como lá. Mas nunca imaginei ir com você.

- Por que? Qual o problema?

- Você indo a um restaurante pra comer comida natural? Não acredito!!! Só gosta de carne vermelha, frituras, doces. Bateu a cabeça na queda?

- Engraçadinha! Às vezes vou lá. É diferente. Além do mais, passei esse tempo todo comendo uma comida super-saudável, que está me fazendo muito bem.

Cristina parou o carro sob o sinal. Um rapazote sorridente se aproxima da janela.

- E ai, dona Helena? Vai comprar quantos pacotes de bala hoje?

- Vou querer dez, Betinho. Vou levar para os meus sobrinhos.

- Helena, você conhece esse garoto? Fecha o vidro. Aqui é perigoso.

- Relaxa, Cris. Sempre tirando conclusões precipitadas sobre as pessoas.

Helena aproveitou a situação para alfinetá-la.

Ignorando a conversa entre as duas, o rapaz continuou a oferecer seus serviços.

- Está muito quente. Não vai querer água, cerveja? Pego ali com meu amigo pra senhora.

- Parei de beber hoje, Betinho.

- Fala sério, heim, dona Helena.

- Betinho, você já almoçou?

- Não, ainda não.

- Então, entra ai no carro. Tem um tempão que quero falar com você.

- Helena, você não vai deixar esse estranho entrar no carro, vai?

Helena destravou a porta.

Cristina ficou assustada quando o rapaz entrou em seu carro.

- Fica tranqüila, dona. Vou roubar, não.

Disse isso e sorriu para Helena.

- Ai, a senhora andou sumida. Viajando novamente?

- Como sempre, Betinho. Eu e essa minha vida de andarilha.

- E ai? Machucou o braço como?

- Cara, nem te conto. Arrumei uma briga feia em um baile. Estou assim quebrada, mas a mulher que me acertou está no hospital.

Os dois foram conversando de uma forma descontraída, Cristina permaneceu calada, mas olhava a toda hora pelo espelho retrovisor. Estava com medo. Chegaram ao restaurante e entraram. Helena foi logo anunciando:

- Mesa para três, por favor.

O metre que os recebeu olhou o grupo e parou os olhos sobre Betinho. Lançou um olhar de cima a baixo e percebeu que o rapaz estava usando uma sandália havaiana, camiseta e short surrado.

- Infelizmente, o jovem não poderá entrar. Não é permitido o uso de sandálias no recinto.

Helena sentiu o sangue ferver.

- Como?! Você só pode estar brincando. Onde está escrito que não se pode entrar aqui usando havaianas? Sabia que agora esse tipo de calçado é fashion? Até o Rodrigo Santoro usa.

Cristina não queria rir, mas não pôde evitar. Só mesmo Helena para usar esse tipo de argumento.

- Infelizmente, ele não poderá entrar – repetiu o metre irredutível.

- Diz só uma coisa: e se eu estivesse só de meias, entraria?

- Bom, é diferente – o metre disse, hesitante.

- Entraria ou não? - perguntou Helena, quase gritando.

- Sim, entraria.

- Betinho, que número você calça?

- 38.

- Eita garoto de sorte.

Helena tirou seu tênis e entregou a Betinho.

- Por favor, mesa pra três e rápido.

O metre ficou com a cara mexendo enquanto o grupo entrava. Sentaram-se tranqüilamente e fizeram o pedido. Cristina só observava.

- Betinho, quer trabalhar na minha empresa?

- Como assim, dona Helena? – o rapaz perguntou espantado.

- Trabalhar, Betinho, é entrar às 8h da manhã e não ter horário pra sair. É ter salário no final do mês e alguns benefícios, entendeu?

- Isso eu entendi. Só não entendi como eu posso trabalhar na sua empresa.

- Betinho, sou sua cliente há um bom tempo. Cara, você é um excelente vendedor, o melhor que já vi. Na minha empresa só trabalham os melhores e você é excelente no que faz. Por isso, quero você, entendeu? Quer ou não trabalhar comigo?

Betinho não se continha de felicidade.

- Claro que quero!

Helena abriu a carteira e tirou R$ 400,00.

- Essa grana é pra você comprar uma roupa legal e sapato. Apareça na empresa amanhã às 8h. O endereço e o nome da pessoa que você deve procurar está no cartão.

Almoçaram tranqüilamente e despediram-se de Betinho.

- Ai, ai, o chão esta quente. Cris, preciso passar em meu apartamento pra pegar outro tênis.

- Tudo bem – disse Cristina e sem agüentar a curiosidade, começou falando: - Helena, não entendo você: dá dinheiro e um tênis caríssimo para uma pessoa que você mal conhece. E fica achando que o cara ainda vai aparecer no escritório amanhã para trabalhar. Eu achei que você fosse mais esperta.

- Fico achando, não: ele vai aparecer. Você vai ver – e olhando sério para ela, disse: - Cristina, pare de ser preconceituosa. Pare de fazer julgamentos sem base concreta, nem conhece o Betinho e já esta achando que ele é um golpista.

- Não estou julgando, mas suas atitudes às vezes são estranhas.

- Você está sendo preconceituosa, sim. Desde que cheguei, você está me julgando, criticando. Não tenho atitudes estranhas, não sabia que reconhecer talento e ajudar as pessoas é ser estranha? Você é que é certinha demais. Não sai da mesmice, vê as coisas de maneira formal e rígida demais e pior não confia nas pessoas, Vamos, relaxa, permita-se conhecer o novo, permita-se conhecer as pessoas.

O carro chegou ao prédio de Helena e ela convidou:

- Vamos subir. Quero tomar um banho e trocar de roupa.

Cristina olhou para ela desconfiada. Helena entrou no quarto e fechou a porta. “Se ela está achando que vou agarrá-la, está enganada”.

Cris ficou esperando impaciente na sala. “Ela podia ter deixado a porta aberta”... e no mesmo momento, se censurou: “Não, melhor não”. E então, pensou: “Se ela tentar me beijar, o que eu faço? Adoraria beijá-la, mas não posso”. Helena cantava embaixo do chuveiro. Estava adorando esse jogo de gato e rato. Helena vestiu-se, perfumou-se, colocou uma blusa bem decotada. Saiu do quarto. Viu Cris de costas lendo a capa de um CD e aproximou-se. Cristina virou-se ao sentir seu perfume. Ficaram ali cara a cara, umedeceram os lábios. Cris fechou levemente os olhos sentindo a aproximação do corpo de Helena. Helena aproximou-se suavemente, segurou o rosto de Cris com uma mão e beijou sua testa.

- Vamos?



Um beijo na testa?



“Ahh, como sou idiota!” Cristina sentiu vontade de se enforcar. Mas não ia dar esse prazer a Helena. Pensou rápido, fingiu estar com tontura. Sentou-se rapidamente.



- Desculpe, senti uma vertigem – balbuciou constrangida.



Helena deu um sorrisinho debochado.



- Não se desculpe. Estou acostumada a causar essa sensação nas mulheres...



Cristina lançou-lhe um olhar desconfortável. Não queria ter revelado o seu desejo de beijar Helena e não esperava ser rejeitada daquela forma.



Retornaram ao escritório. O dia corria tranqüilo e Helena recebeu a visita de Esther com as crianças. Luca adorava o escritório, principalmente a mesa da tia. Mexia nas coisas, perguntava muito. Queria saber como tudo funcionava. Helena ficava orgulhosa e tinha paciência para explicar. Sabia que Luca seria seu sucessor um dia. Por isso o incentivava tanto. Combinou com o menino que duas vezes por semana ele iria ao escritório trabalhar com ela. Pediu para que instalassem uma pequena mesa ao lado da sua. O garoto pulava de felicidade.



- Luca, só não fique pensando que virá para brincar ou atrapalhar quem trabalha – explicou Helena fingindo um tom de seriedade - Quando estiver aqui deverá agir como funcionário da S&TI. Lembre-se: aqui você não será meu sobrinho e sim meu aprendiz, combinado?



- Sim, Dona Helena. Prometo ficar comportado e obedecer todas as suas ordens e regras da empresa.



- Ótimo, é assim mesmo que um homem fala – disse Helena, satisfeita – Bom, agora vamos comprar seu presente de aniversario.



Uma voz interrompeu os seus planos.



- Maria Helena e Luis Carlos! Vocês não vão a lugar nenhum. Helena, você acabou de encher essas crianças de presentes, gado...até uma fazenda você comprou. Agora, ainda quer comprar mais coisas? Não vou deixar.



Helena sorriu para a irmã e cruzou os braços no peito:



- Esther, quer parar de ser a estraga prazer da família? Você vai ficar velha e essas crianças não vão cuidar de você... – brincou - Eu apenas entreguei os presentes da viagem. E além disso, gado e fazenda não são presentes e sim investimento para o futuro deles.



A mulher ia retrucar quando Helena interrompeu mais uma vez:



- Esther, relaxe. Eu e as crianças vamos ao shopping...e já está decidido.



Helena saiu da sala brincando com as crianças sem dar ouvidos as reclamações da irmã. Mais tarde, quando chegou em casa, estava exausta. Seu braço e suas costas doíam muito. Não tinha descansado desde que chegou e ainda naquela tarde no shopping tinha realmente se excedido. Tomou dois comprimidos para dor e foi tomar um banho quente. Enquanto tentava inutilmente lavar as áreas do corpo que estavam enfaixadas, sem molhá-las, ouviu a voz de Zefinha.



- Leninha, Leninha, precisa de ajuda?



Helena abafou mais um grunhido de impaciência e respondeu:



- Não, Zefinha. Estou bem.



A senhora fingiu acreditar e foi logo dizendo:



- Leninha, pois não demore. Fiz uma canja pra você.



Canja? Canja é pra quem está arriado na cama ou está velho demais para levantar dela... Ia dar uma resposta desaforada, mas se conteve.



- Tá bom, Zefinha. Deixe na cozinha. Depois eu como. Acabei de jantar. Vá descansar...Está tarde. “Argh, odeio canja. Eca!”



A voz de Zefinha tornou a ser ouvida:



- Não vou sair daqui até você comer tudo. Leninha, você se machucou assim porque está fraquinha. Você come muito mal.



Helena desligou o chuveiro. Sabia que não adiantava reclamar ou brigar com Zefinha. Abriu a porta do banheiro e o vapor da água quente invadiu o quarto. Para seu espanto, o vapor que saía da canja era mais intenso.



- Tá querendo me matar escaldada nessa canja, é?



- Fica quieta e veste o pijama logo pra não pegar friagem. Vem aqui que eu te ajudo. Assim, você come logo antes que esfrie.



- Já disse que não quero! Tô sem fome. Por favor, Zefinha... - disse com voz manhosa.



- Não saio daqui enquanto você não tomar pelo menos um pouco. Você não está bem, minha filha.



- Zefinha, fica tranqüila. Eu estou bem.



- Você não esta bem, Leninha. Conheço você. Vi que tomou comprimido para dor. Deixe a velha Zefinha cuidar de você.



Helena deixou os braços caírem ao longo do corpo. Acabou obedecendo. Sabia que não tinha argumentos para usar com uma pessoa que a conhecia como a palma da mão. Recostou na cama e comeu algumas colheradas de canja fazendo careta.



- Seja uma boa menina e coma só mais uma colher. Vou dormir aqui no seu apartamento até você ficar boa.



- Não precis........



Zefinha fez uma cara magoada e Helena voltou atrás.



- Tudo bem, tudo bem. Não faça essa cara...Vem cá e me dê um beijo de boa noite - disse com seu sorriso maroto no rosto.



Helena deitou, mas em qualquer posição que ficava sentia dor. Tomou mais dois comprimidos, ligou a TV. Quinze minutos depois ouviu o toque da campainha. Logo em seguida reconheceu a voz de sua mãe. Fingiu estar dormindo.



- Josefa, tenho um assunto importante para tratar com Maria Helena. Vá chamá-la.



- Desculpe, mas não vou. Ela está cansada e já deve estar dormindo. Ela está...



Rita não terminou de ouvir, entrou no quarto sem bater.



- Maria Helena, acorde preciso falar com você.



Helena fingiu não ouvir.



- MARIA HELENA, pare de fingir. Sei que está acordada.



Helena abriu os olhos sem ânimo. Sabia que ia se chatear com a conversa. A sua mãe, naquela hora, com aquele tom de voz, não podia ser boa coisa.



- Não pode deixar pra falar comigo amanhã, dona Rita? O que pode ser tão importante? – começou a ficar irritada.



- É que eu fiquei sabendo que...



Ela começou a falar e Helena ficou intrigada. “Não acredito! Dona Rita, minha mãe, preocupada comigo? Veio me ver, saber como eu estou?”



Mas...



A senhora continuou falando como se nada tivesse acontecendo, desmontando rapidamente as primeiras impressões:



- Bem, amanhã acontecerá um desfile de moda country voltado para terceira idade em Ribeirão Preto. Portanto, preciso que você autorize o piloto a me levar. Liguei para o escritório e disseram que o helicóptero só sai com sua autorização. Mania que você tem em querer tomar conta de tudo.



- Só tomo conta de TUDO QUE É MEU, dona Rita. Mas tudo bem, pode deixar. Vou ligar pra Vera. Peço para o piloto estar aqui às 9h, está bem para a senhora? É só isso que quer?



“Como sou idiota! Achar que ela estaria preocupada comigo...”



- Está ótimo às 9h. Ah, e só ISSO que quero.



Mal fechou a boca e deu uma olhada em Helena.



- Você está bem, Helena?



- Estou, por que?



- Porque concordou muito rápido, não reclamou, não fez um questionário querendo saber a hora que volto, quanto tempo vou ficar. Você está bem mesmo?!!!



- Estou. Se é só isso que quer, vá embora por favor. Preciso dormir - disse virando-se na cama, ficando de costas para a mãe. Então, finalmente viu seu braço imobilizado.



Rita aproximou-se da cama e viu que ela também estava com o olho roxo.



- O que aconteceu com você? Como quebrou o braço e ganhou esse corte feio?



- Não quero falar sobre isso com você. Já tem o que queria agora pode ir.



- Maria Helena, porque sou sempre a última a saber das coisas que acontecem com você? Melhor: por que nunca sei NADA sobre você?



- Talvez porque seja você sempre a última a perguntar. Talvez se tivesse algum interesse verdadeiro e sincero sobre mim, soubesse algo, mas como só se interessa em viagens, compras, desfiles de moda, jóias, você só se interessa em saber da minha saúde financeira. Quanto à minha saúde física e mental, essas não valem nada para você. – E olhando-a com intensidade: - Respondi sua pergunta? Quando chegou aqui pensei por um momento que veio saber de mim, cuidar de mim, mas não. Como sempre, veio até aqui pelos mesmos motivos fúteis. Por favor, vá embora. Estou com sono.



Rita ouviu tudo calada. Sabia que Helena tinha razão. Nunca tiveram afinidade, nunca foram amigas, confidentes. Não tinham uma relação saudável, de mãe e filha. Ás vezes tentava entender em qual momento da vida elas se separaram, se perderam... Mas Rita sabia, só não queria admitir: foi quando Helena nasceu e Rita viu seus olhos azuis.



Então, lenta e silenciosamente, saiu do quarto.



Helena dormiu muito mal. As dores não passavam, só aumentavam. Levantou-se, vestiu-se, saiu sem fazer barulho. Não queria acordar Zefinha e ser obrigada a tomar uma gemada, ou mingau. Chegou ao escritório antes das 6h. Ligou o computador, não acendeu a luz da sala. Sentia dor de cabeça. “Ai, preciso de um café forte, urgente”, murmurou.



Passou a ler e responder seus e-mails. Cristina chegou às 7h. Acendeu a luz da sala e assustou-se com a presença de Helena.



- O que você está fazendo nesse escuro?



- Estava brincando de esconde-esconde e você me achou. - soltou um meio sorriso - Bom dia, Cristina.



- Bom dia. Nossa, que cara é essa?



- A unica que tenho, oras. Também não dormi direito, senti um pouco de dor a noite toda. E o grupo Olodum não pára de tocar dentro da minha cabeça.



- Helena, sinto em te dizer...mas você está horrível: com olheiras, pálida. Seus pontos estão um pouco infeccionados – então, tomando seu braço livre de ataduras, puxou-a delicadamente - Levante-se: vou levá-la ao médico agora.



Mesmo adorando esse cuidado todo, Helena resistiu um pouco.



- Não posso. Lembra que temos uma reunião às 8h?



- Vou cancelar, ou melhor a Vera está chegando ela acompanha você enquanto participo da reunião, que tal?



Helena fez um muxoxo impaciente.



- Cris, não dá pra cancelar assim em cima da hora. Esqueceu que o cliente veio da Argentina especialmente pra falar comigo? Não se preocupe. Estou bem, só preciso de um café forte pra dor de cabeça. Uma base e um pó resolvem as olheiras e a palidez.



- Tem certeza? Posso dizer que você está doente. Remarco para depois do almoço ou para amanhã.



- Tenho certeza. Pare de insistir. Assim acabo acreditando que você se preocupa de verdade comigo e que até gosta de mim...



Cristina não respondeu. Ficou em silencio. Sentiu vontade de abraçar forte Helena e de protegê-la, mas manteve-se afastada. Helena interrompeu o breve silêncio providencialmente.



- Bom, preciso de sua ajuda em uma coisa: pegue uma tesoura e me siga.



Helena caminhou até o banheiro e sem aviso, tirou a blusa.



- Cris, corte essas faixas, por favor. Não agüento mais ficar amarrada.



Cristina engoliu em seco. Helena estava com o corpo enfaixado à sua frente, desconcertando-a. Manteve seu tom sério:



- Não é melhor deixar que o médico decida se pode ou não pode retirar?



- Faça o que estou pedindo, por favor - disse em tom incisivo.



Cristina começou a cortar a faixa e à medida que cortava, tocava a pele de Helena. Não queria sentir desejo, tesão. Tentava em vão bloquear os pensamentos eróticos. Sentia que Helena também sentia que estava ficando arrepiada com seu toque. Então, impulsivamente, resolveu provocá-la. Aproximou-se de suas costas até encostar seu corpo no dela, respirando próximo ao seu pescoço. Excitada, Helena expirava o ar pelo nariz com força e ritmo. Estava quase fora de controle. Quando finalmente Cristina retirou a faixa, deixando-a com o dorso nu, segurou os seus seios, massageando-os delicadamente. Sentiu que eles ficaram rijos. Contornou a fênix desenhada na nuca de Helena com a língua. Falou baixinho em seu ouvido.



- Terminei...



Sem dizer mais nada, saiu em seguida do banheiro.



“Que cachorra!”. Helena arfou por alguns segundos e vestiu-se. Caminhou até a mesa de Cristina e disse:



- Um a um. Jogo empatado.



Saiu da sala foi tomar o seu café.



A reunião correu tranqüila. Helena conduziu de forma que Cristina participasse mais e que tomasse algumas decisões. Sabia que precisava diminuir seu ritmo de trabalho e que precisava confiar em alguém. Decidiu que esse alguém seria Cristina.



Helena conseguia fingir que tudo estava bem, mas estava impaciente, sentia muita dor, quase não falava. Franziu o rosto e levantou-se. Sentiu uma leve vertigem e apoiou-se na mesa. Cristina percebeu e encerrou a reunião o mais rápido que pode. Antes que pudesse ajudá-la, viu que Helena saiu da sala. No corredor, Helena avistou Betinho. Quase não o reconheceu. Estava de barba feita, vestido com terno e gravata, sapato brilhando. Satisfeita com a transformação do rapaz, abraçou-o. Então, sentiu uma nova vertigem.



- Betinho, por favor...me segure;. Acho que vou desmaiar.



Tudo ficou escuro de repente. Quando acordou, estava deitada no sofá de sua sala com Vera tentando sentir seu pulso e Cristina tentando ouvir as batidas do seu coração. Gilberto, aflito, estava ao celular falando com o médico.



- Ok, doutor. Estamos indo para o hospital.



Helena ouviu a frase e se agitou.



- Giba, eu não vou a lugar nenhum. Estou bem. É só tirar essas duas de cima de mim pra que eu posso respirar. Elas estão roubando todo o ar!



Gilberto sorriu e Vera comentou com o chefe:



- Dr. Gilberto, ela “realmente” já está melhor. Ô mulher ingrata - resmungou Vera, afastando-se.



Gilberto, entretanto, não deu ouvidos:



- Helena, dessa vez não vou te ouvir ou obedecer. Cristina, pegue a bolsa de Helena e vamos. O motorista já está esperando.



- Giba, eu não vou levantar daqui! Quero ver você me tirar daqui à força. Preciso soletrar? EU NÃO VOU!.



- Tudo bem. Já que você quer assim....- fez um sinal para Betinho: - Carlos Alberto, segure de um lado que eu seguro do outro. Levante-a no três. Um, dois...



- Nossa, que nome chique, Betinho – disse Helena, debochando - Já que vocês não vão desistir mesmo...Tudo bem, pode parar. Eu vou com minhas próprias pernas.



No hospital, Helena tirou novas radiografias, fez ressonância magnética, passou por um exame detalhado.



O médico entrou no quarto com os exames na mão. Foi logo anunciando:



- Helena, você tem três costelas quebradas, está anêmica e com colesterol altíssimo...



- Ei, ei, ei... EI! Doutor, pode parar. Não quero nem saber o que tenho. Prefiro morrer ou viver na ignorância.



- Mas Helena...



- Não tem mais nem menos. Só diga os remédios que tenho que engolir e pronto. Não entre nos detalhes sórdidos. Já basta ter perdido meu dia com exames. Odeio hospital, médicos.....argh.



O médico não estava se divertindo com a história e enviou um olhar sério para ela.



- Tudo bem, faça assim: enquanto estiver desse jeito, vou conversar com sua namorada. – Disse isso, virando-se para Cristina.



Helena sorriu e piscou um olho para ela.



- Quero ver você sair dessa – disse, levantando-se em direção à saída.



Cristina olhou para o médico e disse num tom sério:



- Doutor, não sou a namorada de Helena: apenas trabalho com ela.



- Vi que você estava tão preocupada que achei...



Agora o médico é que estava constrangido.



- Não sou namorada dela, mas diga quais as atitudes a serem tomadas para que Helena fique bem.



- Desculpe, sou o médico de Helena há uns vinte anos. Conheci algumas de suas namoradas, até tratei de uma delas. Por isso cheguei a essa conclusão precipitada. Peço desculpas.



Cristina bateu de ombros, incomodada com os detalhes. O médico falava demais.



Voltando a se concentrar, o homem receitou:



- Helena precisa ficar em repouso total durante 20 dias, no mínimo. Deve tomar a medicação no horário determinado, mudar os hábitos alimentares. Depois, deve voltar para que eu possa fazer uma nova avaliação.



- Tudo bem, doutor. Vou providenciar para que suas determinações sejam obedecidas. Tem umas coisas meio que impossíveis de convencê-la a fazer, mas vou tentar.



O médico sorriu, coçando a cabeça de leve. Sim, ele sabia.



- Sei que é quase impossível segurá-la em casa ou fazer que tome a medicação, mas sugiro que peça ajuda à Zefinha. Ela saberá direitinho como cuidar de Helena. E...desculpe mais uma vez.



Cristina balançou a cabeça e apertou a mão do médico. Estava nisso quando Helena irrompeu no quarto:



- Vamos, Cris já estou igual a uma múmia de novo. Pode me colocar em um sarcófago e me levar para o meu apartamento.



O médico riu. Cristina segurou-se. Precisava manter a seriedade.



- Helena, só queria saber de onde você tira tanta inspiração para esse seu humor negro.



- Olhar pra você me dá essa inspiração – respondeu com um sorriso debochado.



- Ei, meninas, vamos parar com as alfinetadas! – Interrompeu Gilberto – Vamos embora estou morrendo de fome.



- Giba, também estou com muita fome! Pare no MacDonalds. Estou louca pra comer um sanduíche enormeeeeeeee.



Cristina balançou a cabeça negativamente:



- Nem pensar, Helena! O médico recomendou comida saudável. Liguei para sua casa e falei com Zefinha. Ela já está preparando um excelente almoço com muita verdura e legumes. Ah, e um ótimo peixe grelhado.



- Giba, você contratou uma agente nazista pra trabalhar comigo?! E agora ela quer mandar no que eu devo comer? Será que ouvi isso ou é um sonho ruim, pesadelo?! Pior ainda ela alicia meus funcionários de anos e conspira contra mim!!!



Gilberto apenas sorria.



- Você que optou por me deixar responsável por seu tratamento. Não quis desmentir que eu era sua namorada, agora agüente. O médico passou as recomendações e SEGUIREMOS à risca.



Gilberto gargalhava.



- Não acredito que você ligou pra Zefinha e contou pra ela. Agora, ela não vai me deixar em paz! Vai me fazer comer canja e tomar gemada todos os dias....eca!



- Não liguei. Ela é quem ligou preocupada. Queria saber como você estava. Diante de seu comportamento, fui obrigada a pedir ajuda. Ela é uma grande aliada.



- Bom, esse almoço SAUDÁVEL será apenas por hoje. Amanhã volto ao trabalho e tudo entrará na normalidade, graças a Deus!!!.



Cristina cruzou os braços e advertiu:



- Nada disso! Vai ficar em casa por vinte dias.



- TÁ MALUCA, É.? Giba, essa nazista quer fazer do meu apartamento um campo de concentração! Não deixe, por favor.



- Tudo bem, então levo você pra minha casa Esther vai adorar cuidar da irmã caçula.



- Nem pensar. A Esther tem aquela mania Hare Krishna de viver, acende aqueles incensos fedidos pela casa toda. As única bebidas da casa é água e chá, ela vai me obrigar a comer salada de flores, tomar aquelas bolinhas homeopáticas a cada meia hora. Não, não!Desculpe Giba, adoro as crianças, você, mas na sua casa morreria em menos de 24 horas. Me leva pra casa da minha mãe.



- Helena, a Dona Rita não cuida nem da saúde dela, o que dirá da sua.



- Por isso mesmo. É a pessoa ideal, Giba. Eu quero a minha mãe...



Cristina e Gilberto não contiveram as gargalhadas.

Cristina providenciou tudo para manter Helena ocupada nos dias de licença. Alugou vídeos, comprou livros e Cd´s novos. Mantinha a geladeira com frutas e verduras que Helena gostava. Na parte da manhã, enquanto Helena dormia, Cristina passava no escritório, participava de reuniões, resolvia os problemas rotineiros. Almoçava diariamente com Helena e essa era a hora mais divertida do dia para Cris pois ouvia as reclamações de como ela odiava rúcula com tomate seco, que ricota tinha cheiro de chulé e que se continuasse a tomar sopa, seus dentes perderiam toda a prática de mastigar.



O rol de bobagens não tinha fim. Helena dizia que quando voltasse a comer carne morreria engasgada, que estava parecendo um urso hibernando de tanto que dormia devido aos medicamentos. Cristina ouvia todas as queixas e fingia que anotava,que falaria com o médico para diminuir os dias de repouso, mas escondida formulava outros cardápios à base de verduras. Embora fizesse tudo para agradar Helena, não iria deixar de cuidar de sua saúde.



Na parte da tarde, trabalham, discutiam qual melhor ação a tomar para melhorar as vendas e aumentar a carteira de clientes. Helena explicava para Cristina como se preparar melhor para as reuniões e como reunir informações importantes sobre clientes e concorrentes. Quando Cristina não voltava para o escritório, no final da tarde assistiam a um filme ou ouviam um CD novo, quase sempre discutiam... (ou melhor, brigavam),cada uma querendo defender o ponto de vista porquê o autor escrevera tal letra da musica ou qual o ponto de vista do diretor do filme. Nunca entravam em um acordo. Mas, incrivelmente, as discussões e diferenças, ao invés de afastá-las, só as unia mais. Quando Cristina não estava, Helena sentia um enorme vazio. Não saía da cama e ficava mais mau-humorada. Nada que fizesse superava a falta que sentia de Cris.



Do outro lado da cidade, Cristina estava fisicamente no escritório, mas, em pensamento estava com Helena. Ficava imaginando o que ela estaria fazendo....Será que ela atacou a caixa de chocolate novamente? Será que ela esta ouvindo rock e pulando feito uma desesperada? Será que ela está andando pela casa só de calcinha e pantufas?



Vera pegava Cristina rindo sozinha e com cara de boba, sabia bem o que parecia aquilo tudo. Sintomas. “ahhh, meu Deus mais uma pra sofrer”.



Então, Cristina fingia estar prestando atenção às novas reclamações de Helena, mas estava atenta àqueles olhos azuis nos seus:



- Cris, preciso sair desse apartamento! Estou há doze dias presa aqui dentro. Preciso respirar outro ar, dar uma volta.



- Eu sei que é difícil, Helena, mas falta pouco, apenas oito dias e você poderá voltar gradativamente à sua vida normal. Não estrague tudo agora.



- Só quero dar uma volta de carro, beber uma cerveja em um bar e ouvir uma musica. Isso não pode me fazer mal.



Cristina sorriu e acabou amolecendo:



- Tudo bem. Vou levar você. Mas, esqueça. Nada de cerveja, mocinha. Você ainda está tomando remédios. Prometa que só beberá sucos...



- Prometo, ta? Tem outra alternativa?!



- Não.



Elas saíram. Fazia calor. O céu estrelado, a lua cheia.



- Onde quer ir?



- Sei lá, qualquer lugar longe daqui. Posso dirigir? Estou com vontade de guiar, dirigir sem parar, sem rumo, acelerar o máximo, sentir o vento entrar pela janela do carro... Deixa, vai!



- Não, você não pode fazer esforço. E, também não estou a afim de morrer essa noite – disse, amansando a voz: - Vamos abrir todas as janelas e acelero o carro até a velocidade permitida. O vento vai entrar de qualquer maneira, tudo bem?



Helena fechou a cara e se encolheu no banco amuada.



- Fazer o que, né?



Cristina dirigia com tranqüilidade. Gostava desses momentos que passava com Helena, divertia-se muito com seu senso de humor, com o seu carisma e até com seu histórico mau humor. Helena, quando queria, sabia ser gentil, carinhosa. Nos últimos dias, essa convivência diária aproximou as duas de uma maneira diferente. No início sentiam só tesão, desejo carnal mas agora sentiam carinho e preocupação uma com a outra. Sentiam desejo só de estar perto e em muitos casos, a companhia já bastava. Mas Helena não desistia tentava seduzir Cristina de todas as formas e maneiras. Cristina resistia bravamente. Resistia... só não sabia até quando.



Impaciente, Helena ligou o rádio, mas não encontrou nenhuma música que lhe agradasse.



- Cris, cadê seus CD´s? Quero colocar uma música legal. Vamos comemorar essa noite de liberdade. Quero dizer, liberdade condicional, mas liberdade.



- Não quero que mexa nos meus CD´s. Depois vai ficar me gozando por um bom tempo dizendo que meu gosto musical é brega. Deixa que eu escolho. Vou escolher um rock bem legal.



Cristina abriu o porta CD´s e em dois minutos a música estava rolando.



- Sei que você gosta de rock. Este é um pouco antigo, mas adoro essa música.



“Seu rosto na TV parece um milagre, uma perfeição nos mínimos detalhes, eu mudo o canal, eu viro a pagina, mas você me persegue por todos os lugares, eu vejo seu pôster na folha central, beijo sua boca, te falo bobagem, fixação, seus olhos no retrato, fixação minha assombração”.



Helena tirou o CD rapidamente, abriu a janela do carro e fingiu que ia jogar fora.



- Você chama isso de rock roll?! Pelo amor de DEUS!!!! Assombração é essa musica do Kid Abelha! Tá certo que a Paula Toller é gostosa, mas gostar dessa musica já é demais.



- Nossa, como você é chata.



- Me dá esses CD´s. Deixa eu tentar encontrar algo ouvível. Quem é Marjorie Estiano?



- Deixa esse CD ai. Você não vai gostar.



- Ahhh, agora quero ouvir.



“Quando a lua tentar me encontrar / Diga a ela que eu me perdi / Na neblina que cobre o mar/ Mas me deixa te ver partir/ Um instante, um olhar/ Vi o sol acordar

Por detrás do seu sorriso/ Me fazendo lembrar/ Que eu posso tentar te esquecer

Mas você sempre será/ A onda que me arrasta/ Que me leva pro teu mar.......”



Cristina começou a cantar o refrão: ““........Que eu posso tentar te esquecer

Mas você sempre será/ A onda que me arrasta/ Que me leva pro teu mar”.



- Cris, como você é romântica. Não sabia desse seu lado passional !!!! - disse gargalhando.



Cristina fechou a cara e parou em frente ao parque Ibirapuera.



- Pronto, chegamos.



- Cris, a esta hora da noite, o parque já está fechado.



- Eu sei, comprarei refrigerante e pipoca. E depois pularemos aquela pequena cerca em frente ao chafariz e sentamos na grama, o que acha?



- Você, infringindo regras? Andar em minha companhia não está te fazendo bem –Helena debochava.



- É apenas uma pequena infração, vamos!!!



Enquanto Cristina comprava os refrigerantes, Helena cantarolava e fazia gestos “A onda que me arrasta que me leva pro seu mar”.



- Helena, quer parar?!!! Quer calar essa boca?!



Helena deu um risinho. Cristina era fácil de irritar.



Sentaram-se na grama e ficaram observando a dança das águas no chafariz.



- Cris, posso te fazer umas perguntas?



- Se eu puder fazer também, prometo responder.



- Combinado. Faço uma e você faz outra.



E sem esperar que Cristina se preparasse, emendou:



- Onde está seu marido?...- Helena arrumou-se na grama e comentou – Bem, é que você está sempre comigo, o tempo todo. Se eu fosse casada com você, não te deixaria tanto tempo livre...



- Ele está nos EUA. – respondeu, interrompendo-a.



- Fazendo o quê?



- Trabalhando. Ficará até o final do ano. Minha vez.



- Por que você não se dá bem com sua mãe?



- Posso pular essa pergunta?



- Não pode não. Responda.



- Não posso responder porque não sei a resposta exata. Acho que desde que me entendo por gente brigamos. Acho que ela não gosta de mim. Desde que meu pai e meu irmão morreram, nos distanciamos de vez. Somos estranhas uma para outra.



Helena olhou para Cristina e formulou uma nova pergunta. Queria disfarçar a ansiedade:



- Vocês estão separados mesmo ou separados apenas pela circunstância...quer dizer, pela distância?



-...Brigamos feio. Por isso resolvi voltar para o Brasil sozinha. Precisava repensar minha vida, mas não terminamos nosso casamento. Estamos dando um tempo.



Cristina ajeitou-se e fez a sua pergunta:



- Lê, você já amou alguém de verdade?



- Não, nunca amei. Apaixonei-me algumas vezes, mas nunca amei de verdade.



Helena olhou para Cristina e emendou:



- Você acha que vai voltar para o seu marido?



- Por que está perguntando isso?



- Responda, Cris: diga sim ou não.



- Não sei, Helena. Vivemos juntos por muito tempo, temos uma história juntos.



- Você ainda o ama?



- Ei, é a minha vez de perguntar.



- Responda!!!



- Amo. Mas o amo como amigo, tenho um carinho enorme por ele, mas não o amo como homem – e olhando para Helena, indagou: - Por que está fazendo todas essas perguntas sobre meu casamento?



- Por nada, apenas quero saber mais sobre você.



Cristina olhou-a nos olhos:



- Helena, o que você quer de mim?



Helena sorriu.



- Quero que você compre mais pipoca e refrigerante. Estou com sede.



- Não é essa a resposta.



Helena suspirou.



- Ok. Quero ser sua amiga, só isso.



Cristina fez uma expressão incerta. Helena sabia que estava usando uma tática arriscada para conquistar Cristina. Ao mesmo tempo que queria levá-la pra cama queria que Cristina nunca mais saísse de sua vida. Mas com toda aquela proximidade e carinho, tinha medo que ela virasse só sua amiga. E queria, profundamente, mais que amizade...mas, estava confusa. É claro que não queria nada sério. Estava com medo desse sentimento estranho, conflitante. Sabia que era uma conquistadora, sabia que poderia perder o interesse por Cris depois que a fizesse se apaixonar. Por isso vivia nessa corda bamba entre a conquista amorosa e a amizade.



- Vamos, estou cansada. Preciso da minha cama.



- Está fugindo da conversa ?



- Não, Cris. Estou cansada mesmo...



Cristina sentia que Helena escondia algo, mas não tinha coragem de cobrar uma atitude, pois também estava sendo covarde.



No caminho até o carro ouviram uma voz chamar por Helena.



- Lê! Ei, Heleninha Roitman!



- Só pode ser o sacana do Marcos.



Abraçaram-se.



- Cris, esse é meu amigo e irmão Marcos.



- Marcos, essa é a Cristina.



- Nossa! Bonita sua nova namorada, parabéns.



- Eu não sou a namorada dela. Trabalho pra ela! - disse irritada



- Opa, desculpa. É que Helena troca tanto de namorada que confunde a gente.



- Marcos, obrigada pelo comentário.



- Não precisa agradecer, Lê – Marcos deu um sorrisinho e perguntou?: - E ai? Estão indo pra onde, nessa noite linda?!!!



- Pra casa, estou cansada. Preciso liberar minha babá também. Quer ir lá pra casa? Assim você me faz companhia.



- Vou só um pouco. Depois da meia noite vou cair na vida. Quero dançar, beijar.



- Que ótimo! Quero ir com você.



Cristina intervêm, com uma nítida pontinha de ciumes.



- Nem pensar, Helena. Está na hora de tomar seu remédio. Precisa descansar. E você prometeu que não ia sair.



Helena percebeu que não adiantava discutir.



- Tá bom, Adolf.



- Nossa, Lê como você está mudada! Aceitando ordens? Preciso conhecer melhor você, Cristina.



Marcos foi abraçado a Cristina até o carro. Chegando ao apartamento, conversaram por um bom tempo. Pareciam velhos amigos. Helena observava os dois cheia de ciúmes.



- Marcos, adorei conhecer você. Me liga para sairmos qualquer dia desses. Agora preciso ir embora. Está tarde e você precisa ir pra sua balada.



- Eu AMEI te conhecer. Vou ligar, com certeza. Quero levar você a um lugar bem legal.



- Má, você contou a Cris que é bicha? E sabia que ela é hetero? – disparou Helena, já sem poder controlar seus ciúmes - Sabe que ela não gosta e não freguenta boates gay?



E olhando diretamente para Cristina, disse:



- Cris, não se iluda saindo com ele. Não vai encontrar ninguém que trepe com você!



Cristina fingiu não ouvir os comentários de Helena e deu um abraço em Marcos. E olhando para Helena, deu um pequeno aceno à distância antes de ir embora.



- Lê, quando você quer, consegue ser desagradável mesmo! Precisava fazer todos esses comentários?



- Ela estava jogando charme pra você – Justificou-se - Fiz um grande favor para os dois, só isso.



- Lê, todo mundo vê que eu sou uma bicha louca. Acha que ela é idiota?



- Não acho ela é uma idiota!



- Está com ciúmes?



- Pare de ser bobo!



- Está com ciúmes, sim. Adorei a Cristina: ela é inteligente, bonita, duas qualidades mortais em uma mulher – e olhando com atenção para Helena, pergunta: - Lê, você esta apaixonada por ela?



- Você acha mesmo que eu me apaixonaria por uma mulher como ela?



- É verdade. Você só gosta das burras gostosas e interesseiras. Nunca sairia com uma mulher inteligente. Melhor, as mulheres inteligentes não sairiam com você.



- Tá me ofendendo por que?



- Não estou ofendendo, só dizendo a verdade. É diferente. Você, com essa mania de querer sair com todo mundo, sempre fica com as fúteis, vazias e burras porque não percebem que você só quer trepar. E ai, coitada das que se apaixonam por você. O destino é sofrer.



- Peraí, Marcos.



- É isso mesmo! Tô cansado de ver você envolvida com essas modelos, aspirantes a atriz ou interesseiras de carteirinha que só sabem falar de moda e da vida de artistas. Você vive rodeada de mulheres, mas ao mesmo tempo vive sozinha. Lê...logo você faz 30 anos. Precisa dividir sua vida com alguém que te ame de verdade, que cuide de você, que se preocupe com você e não com sua conta bancária. E quer saber: pare de ser burra e olhe para a Cristina. Ela gosta realmente de você e cuida de você com carinho.



Helena amansa a voz e pergunta hesitante:



- Má, você acha mesmo que ela gosta de mim?



- Tá vendo? Eu disse que você está apaixonada. Apaixonados não são capazes de ver o óbvio.



- Má, quero só transar muito com ela, mas ela tá fazendo jogo duro. É a primeira mulher que levo mais de um mês pra levar pra cama. Tá certo que transamos uma vez, mas não conta. Foi por acaso.



- Foi por um acaso ou ela quis transar com você? Já pensou nisso? Acho que você foi usada, amiga!!!



- Será, Má?



Ele não respondeu. Deu um beijinho no rosto de Helena e saiu, deixando-a sem reação. “Caracas, será que ela foi capaz de fazer isso?!!!”.

Cristina não apareceu no apartamento durante uma semana. Apenas ligava e falava com Zefinha ou mandava entregar as coisas para Helena. Helena ligava várias vezes durante o dia, a semana inteira foi assim, mas não conseguia falar com Cristina. Queria se desculpar pelas grosserias que dissera. Cristina a evitava de todas as formas. “Quem ela pensa que é para falar comigo daquele jeito? E logo para uma pessoa que nem conheço direito”. Cristina não entendia esse comportamento de Helena, os seus altos e baixos no humor e nas atitudes. E por isso resolveu evitar a todo custo se envolver. No fundo, refletia que não queria terminar o seu casamento e muito menos, ter que explicar pra sua família que estava namorando uma mulher – só se fosse pra valer. Cristina era muito correta, gostava das coisas certas, às claras. Não iria se esconder se fosse a coisa certa a fazer, mas sempre que desejava agir diferente em relação à Helena, as atitudes da outra a desmotivavam. “Por que ela tem que estragar tudo?”



Na sexta-feira, no final do dia, Helena apareceu no escritório sem avisar. Estava sem as faixas e com a uma aparência ótima. Chegou carregando um enorme buquê de flores e com o seu melhor sorriso estampado no rosto. Queria fazer uma surpresa a Cristina. Ficou à sua frente e estendeu-lhe as flores.



- Comprei pra você.



Cristina não esboçou um sorriso sequer.



- Por quê?



- Para agradecer pela companhia desses dias, para agradecer seus cuidados e pra pedir desculpa pela bobagem que falei. Além das flores vai ganhar um jantar maravilhoso em minha companhia.



Cristina remexeu-se na cadeira, mas não fez menção de levantar-se. Cruzou os braços na mesa e olhou firme para Helena.



- Não precisava ter esse trabalho. Obrigada, mas não posso aceitar suas flores, nem seu convite para jantar.



Helena impacientou-se. Deixou o braço que segurava as flores pender ao longo do corpo, num gesto de desânimo.



- Cris, não faça jogo duro, vai: me perdoa. Falei aquilo tudo por causa de um impulso idiota.



Cristina continuava olhar firme para Helena.



- Então, por que falou aquilo? Por que teve esse impulso idiota?



- Porque eu...porque....bom eu.....porque eu falei, oras.....



- Helena.....não enrola.



- Tá bom, tá bom. Senti ciúmes de você.



- Eu já sabia. O Marcos me disse que foi isso.



- Como assim sabia?! Tem falado com o Má? – Helena balança a cabeça aturdida e de repente, impaciente, pergunta: - Se já sabia por que perguntou?



- Tenho falado com ele todos os dias, praticamente. Mas eu queira ouvir de você, só isso.



Helena sentiu o sangue ferver no rosto. A sua mão amassava sem perceber a haste do buquê de flores.



- Você quis que eu me sentisse ridícula dizendo que senti ciúmes de você, é isso? Me fez de idiota novamente!!!



- Não é isso. Falar o que se sente não é ser ridícula. Se tivesse falado a verdade naquela noite não estaríamos tendo essa conversa agora.



Helena olhou furiosa para Cristina, pegou as flores jogou no cesto de lixo e saiu da sala batendo a porta.



Segunda-feira, Helena entra no escritório com ar confiante, passos largos, dá bom dia a todos os funcionários. Está de muito bom humor, abre sua caixa de email e começa a preparar o escritório.



- Humm, o que será que Helena fez nesse final de semana para ficar assim alegre?



Vera fez o comentário baixinho com Betinho.



- Vera, eu sei, mas não vou falar....



Betinho sorriu ao se lembrar que Helena, no final de semana, o chamou até sua casa e mostrou pra ele o dossiê sobre Cristina. “Betinho, é o seguinte: você vai me ajudar a conquistar essa mulher. Ela vai se apaixonar por mim, custe o que custar”. Juntos, traçaram uma estratégia de ataque. Helena decidiu que se matricularia nos cursos de Yoga e Grego que Cristina freqüentava. Queria estar perto todo o momento. Reorganizou sua agenda, adiou umas viagens para poder correr no parque Ibirapuera às 6h. Esse era o horário que Cristina fazia seus exercícios. Pediu para Betinho comprar todos os CD`S do Kid Abelha, Marjorie Estiano, Lenine, Djavan. Comprou também revistas que falavam sobre a vida desses artistas. Decidiu que aprenderia o refrão das musicas mais populares para cantar pra Cristina e falaria coisas interessantes da vida deles. Queria impressioná-la.



Helena descobriu que a empresa do pai de Cristina estava passando por dificuldades financeiras. Orientou Betinho a procurar o pai de Cristina e fazer uma proposta de sociedade. Queria se aproximar da família de Cristina e obter o apoio deles. Seria importante na hora certa. Decidida a estratégia, colocou-a em ação. No sábado, já estava cantando algumas musicas.



E era por isso que chegou à segunda-feira tão confiante.



- Vera e Betinho, venham me ajudar. Precisamos colocar essas coisas antes que Cristina chegue.



Cristina achou estranho: ao entrar no escritório viu várias bandeiras brancas espalhadas. Ao entrar na sala, viu Helena vestida com uma roupa toda camuflada, com uma enorme bandeira branca colocada na parede atrás de sua mesa.



- Helena, o que está acontecendo aqui? É alguma campanha publicitária nova que não estou sabendo?



- Não.



Helena levanta e caminha até Cris. Olha bem em seus olhos e diz:



- Cris, quero fazer as pazes com você. Estou aqui erguendo a bandeira branca, entregando minhas armas. Sei que errei, sei que começamos errado. Quero uma nova chance.



- Por quê?



Helena se impacienta:



- Cris, você e seus porquês! As pessoas não podem fazer as coisas só porque querem? Só quero conviver em paz com você.



- Helena, qualquer pessoa pode fazer as coisas por fazer, mas você sempre faz algo com segundas intenções. Por que quer ficar bem comigo?



Helena não consegue se segurar. Em um acesso de raiva, grita:



- QUERO VOCÊ PRA MIM! – e com a voz mais mansa, diz - É isso....



- Por que me quer pra você?



- Gosto de você.



Cristina sentou-se, sem força. Precisava pensar e rápido. Claro que ficou feliz em saber que mexia com Helena. Isso fazia bem para seu ego, mas não queria ser um brinquedo na mão dela, não queria ser mais um troféu.



- Helena, tudo bem. Podemos conviver em paz, quero muito isso.



- Que bom, fico feliz. Então podemos comemorar hoje à noite. Fiz uma reserva em um restaurante muito legal, sei que você vai gostar.



- Helena, você não entendeu: conviver em paz com você, mas aqui, no escritório. Não vamos além disso.



Helena manteve o controle. Queria explodir, mas sabia manter a cabeça fria na hora certa. Respirou fundo, caminhou em direção a Cristina e estendeu a mão.



- Tudo bem, não compreendo, mas entendo. Mas não pense que vou desistir de você. Vamos, dê um aperto de mão pra selar esse novo momento em nossas vidas.



Cristina apertou sua mão e imediatamente uma corrente elétrica percorreu seu corpo. Teve vontade de largar a mão de Helena e agarrá-la. Não apenas isso, beijá-la, muito, mas manteve-se firme.



Nessa mesma noite, Cristina encontrou Helena na entrada do curso de Yoga. Espantou-se.



- Helena, o que você está fazendo aqui?



- O mesmo que você: tentando largar as drogas – respondeu com ar debochado.



- Pare de bobagem! – reagiu Cristina – Eu não entendo: um dia você me disse que odiava ficar sentada fazendo exercícios imaginários e que Yoga te dava sono, que.....



- CRIS, PARE – interrompeu: - Cristina, por que todo mundo pode mudar de idéia e eu não? Não vou ficar aqui de bate papo com você: vou pra minha aula.



Helena sentou distante de Cristina. Minutos depois, numa olhada de esguelha, Cristina viu que Helena dormia sentada. Deu um sorrisinho, mas evitou comentar.



Na terça, 6h30 da manhã, Helena passou correndo por Cristina no parque.



- Acelera, Cris. Até a pé você é devagar. Não sabe que veículos lentos têm que andar à direita?



- “Meu Deus será que estou vendo fantasma ou estou pensando muito em Helena? Será que era ela?”.



Acelerou um pouco e alcançou Helena. Disse ofegante:



- O que você ta fazendo aqui a essa hora da manhã? Você detesta acordar cedo.



- Quem disse pra você que dormi? – e então, despediu-se: - Bom, quero correr e você está muito devagar. Até daqui a pouco no escritório.



No mesmo dia, à noite, encontraram-se no curso de Grego. Topam-se na entrada da sala. Helena, fazendo uma cara séria, encarou Cristina e perguntou:



- Cristina, você está me perseguindo, é isso?



- Eu não, tá louca?! Você é que está nos lugares que freqüento.



Sem perder a pose, Helena diz baixinho:



- Bom, fique quieta. Você está tumultuando a aula. Ahh, dá pra mudar de lugar? Se você ficar ai, não consigo ver aquela professora grega gostosa.



Contrariada, Cristina muda de lugar, perguntando-se como poderia estar ocorrendo tantas coincidências.



E assim as semanas foram passando. Helena sempre dando presentes para Cristina e ela rejeitando. O cofre já estava ficando cheio. Helena convidava Cristina para festas, shows, teatro, jantar e sempre a mesma resposta: “não posso aceitar”.



Helena já não sabia mais o que fazer.....



Em uma sexta-feira, depois de levar outro fora de Cristina, Helena decide sair. “Chega de ficar esperando por essa mulher”. Convidou Betinho, seu comparsa no plano de conquista de Cristina, para sair. Ele tinha se tornado o seu confidente.



- Ahhh, Betinho adoro esse cheiro de mulher no ar. Tá sentindo?



- Estou sentindo, sim, mas também estou sentindo cheiro de muito macho. E macho, não!!!



Sentindo-se desconfortável com os olhares que estava recebendo, Betinho comenta:



- Helena, como pude deixar você me convencer a vir a uma boate gay, heim? Tanta mulher linda e nenhuma olha pra mim...Só esse monte de macho...



Helena deu um sorrisinho:



- Pára de reclamar. Tem malucas aqui que saem com caras. Paquere à vontade. Quem sabe você se dá bem. – de repente, o tom de voz muda – Hummm, mas acho que eu JÁ me dei bem. Vai dar uma volta, Betinho, que eu vou até ali falar com aquela morenaça!



A conquista foi rápida. Dificilmente alguém resistiria à Helena. Quando estava prestes a dar um beijo na garota, seus músculos se paralisam: Cristina estava entrando na boate.



“Eu não acredito! O que ela está fazendo aqui? Vou matar o Marcos a garfadas!”. No mesmo momento, Helena larga a garota sem dar explicação e fica observando Cristina de longe. Dez minutos depois, vê uma garota aproximar-se de Cris. Helena não se contém e caminha a passos largos para onde elas estão. Chega perto de Cris e praticamente empurra a garota, enlaçando num movimento contíguo Cristina. Em seguida, dá um longo beijo em seu rosto.



- Marilia, desculpe. Helena, Marília. Marília, Helena.



Com um sorriso metálico no rosto, Helena cochicha no ouvido da garota: “Cai fora! Ela é minha”. Marilia sorri sem graça, pede licença e vai embora.



Cristina se desvencilha de Helena e questiona:



- Quem você pensa que é, Helena? O que você disse pra ela ir embora daquele jeito?



Helena sorri.



- Tá vendo aquela morena no bar? Aquela que está olhando pra gente? Ela é namorada da Marília. Vim te salvar. A moça é barraqueira de primeira. Eu disse pra Marilia disfarçar e ir falar com ela. Não quero ver você metida em briga.



Mal disse isso e Helena coçou a orelha direita. Cristina ajeitou o cabelo atrás da orelha e balançou a cabeça.



- Obrigada, mas não preciso de guarda-costas. Sei me cuidar.



- Sabe nada, Cris. Estou acostumada com essas boates. E essa é sua primeira vez, não é? Confia em mim!



- Quem disse pra você que é a primeira vez? Já vim outras vezes com o Marcos. Eu já disse: sei me cuidar.



Irritada, Helena resolve afastar-se:



- Tá bom, mal agradecida...



Afastou-se e foi falar com Marcos.



- Porra, Má. Você é o maior amigo da onça que conheço. Sabe que estou tentando conquistar a Cris e trás ela aqui várias vezes! Tá querendo me ferrar mesmo!!!



Marcos dá um gole em sua bebida e sorri lentamente:



- Não, Helena. Não, querendo é ajudar a Cris. Ela é gente boa demais pra se envolver com você...



Helena ficou abismada com o que ouviu.



- Bom, vou indo beijar aquele gato...



Helena continuava sem saber o que dizer. Marcos afasta-se. Helena procura a Cristina com os olhos e a vê conversando com uma loira lindíssima. Sente seu sangue ferver. Aproxima-se novamente.



- Cris, quer dançar?



Cristina lança um olhar gelado em sua direção. E cochicha:



- Helena, não vê que estou ocupada?



- Se estivesse sozinha dançaria comigo?



Cristina fica hesitante e diz contrariada:



- Sim...



Inesperadamente, Helena fala algo no ouvido da loira e ela sai dando risada.



- Pronto! Agora está sozinha. Vamos dançar?



Irritada, Cristina sai e deixa Helena falando sozinha. Desalentada, Helena procura Betinho. Encontra-o enlaçado numa garota.



- Betinho, larga essa mulher. Preciso de você agora!



- Helena, sabe como foi difícil encontrar uma mulher que goste de homem nesse lugar?



Helena arrasta Betinho pela pista. Ela não ouve nem vê mais nada ou mais ninguém. Só enxerga Cristina e as mulheres que estão ao seu redor.



- Betinho, vá até lá e atrapalhe qualquer chance de Cristina flertar com qualquer uma dessas piranhas!



- Mas, Helena. O que eu faço, o que eu digo?



- Se vira! Diz que você é marido, namorado ou amante dela. Não! Diz que é segurança e que a mulher dela pertence ao PCC. Melhor: diz que ela tem doença venéria. Ah, sei lá! BETINHO, SÓ NÃO DEIXE ELA BEIJAR - disse gritando e empurrando Betinho em direção ao grupo onde Cristina estava.



Com os nervos em frangalhos, foi ao bar e pediu um whisky duplo sem gelo. Precisava se acalmar, pensar. Todas as chances de ficar com alguém e parar de pensar em Cristina foram embora. Passou a noite bebendo e vigiando Cristina. Por volta das quatro da manhã, Betinho apareceu ao seu lado.



- Helena, tô cansado. Quero ir embora.



- Só sairemos daqui quando ela for embora SOZINHA.



- Acho difícil. Aquela loira não sai do pé dela. Fiz de tudo, mas tudo que eu falo, a mulher acha engraçado, mas não vai embora.



Helena franziu o cenho, preocupada.



- Eu sei...eu já falei umas coisas pra ela e ela voltou. Será que a Cris está saindo com ela? Você percebeu alguma coisa?



- Bom, Helena, não quero ser estraga prazer, mas vi a loira chamando a Cristina pra ir embora.



- Caralho, caralho, caralho! O que essa loira tem que eu não tenho, Betinho?



Helena olha em direção à dupla e sobressalta-se.



- Vamos, elas estão saindo.



Helena seguiu Cristina e viu quando o carro entrou na garagem do prédio com as duas dentro. Helena desceu do seu carro e começou a chutar os pneus do carro. “Que merda!”. Helena não consegue raciocinar direito. Álcool demais na cabeça. Num impulso, pega o celular e liga.



- Cris! – disse num tom exaltado.



- Fala, Helena.



- Sei que está tarde, mas cheguei em casa e não encontrei aquela pasta preta. Está com você?



- Helena, qual pasta preta? Temos pelo menos umas 50 pastas pretas.



- Desculpa atrapalhar, mas é importante. Preciso trabalhar e não encontrei a pasta.



- Bom, se você precisa trabalhar às 5h da manhã de um sábado, eu não preciso.



- Mas...



- E já que perguntou...ah, sim, você está atrapalhando. Preciso desligar.



- Cristina, espera, é a pasta com o orçamento para o próximo ano. Tá lembrada?



- Estou. A pasta está comigo.



- Ahh, que pena... Posso passar agora na sua casa pra pegar a pasta? É importante.



- NÃO!



Cristina deu um sorrisinho.



- Ahhh, antes que eu desligue: por que você falou pra Bete que eu tenho herpes?



- Bete? Que Bete? Não conheço nenhuma Bete!



- Helena, a loira da boate...



- Ahhh, falei porque achei que ela deveria saber. Se ela fosse te beijar, saberia o risco que estaria correndo.



- Helena, de onde tirou essa idéia? Mentiu por quê? EU NUNCA TIVE HERPES!!!!



- Li no seu prontuário médico e lá estava escrito Herpes de disco!!!



- HÉRNIA DE DISCO e não HERPES. Não sabe a diferença entre os dois?



- Ahhh, desculpe. Também, quem manda ter uma letra tão feia? Não entendi, desculpe se estraguei sua noite... Então posso ir até ai pegar a pasta?



- Já disse que não. Ahhh, você não estragou minha noite.



Desligou.



- Arrrrrrrrr, filha da puta! Betinho sai do carro agora.



- Ta louca, é ? vai me deixar a pé aqui?



- Não, você vai até o apartamento da Cristina, inventa uma história, quero ver a loira piranha sair de lá entendeu?



- Helena, não vou pagar esse mico.



- Vai sim Betinho. Tô irritada, não me provoque, e só volte com a loira! Pegue ela pelos cabelos e arraste-a até aqui. Não é um pedido e sim uma ordem!



Sem ter alternativa, Betinho toca a campainha. Uma, duas, três vezes...dez vezes.



Cris entreabre a porta.



- Ahh, meu Deus! Só posso estar tendo um pesadelo. Essa noite não acaba. O que você quer aqui Betinho há essa hora?



- Bom...sabe o que é? Vi você saindo da boate com a loira. Ai pensei: duas mulheres sozinhas, eu sozinho... que tal nós três juntos?



- Você não está falando sério, está?



Betinho esticava o pescoço para dentro do apartamento. Queria ter certeza que a loira estava com Cris.



- Estou.



Cristina tentou bater a porta na cara de Betinho, mas ele segurou a porta. O olhar do rapaz tinha um ar de urgência e preocupação.



- Cristina, desculpa. Não estou aqui por isso. Sei que você não gosta de mim desde o primeiro dia que me viu, mas preciso conversar com você sobre Helena – ante o olhar desconfiado de Cristina, ele arrematou: - É sério.



- Betinho, não tenha nada contra você. Pelo contrário: até gosto, mas essa conversa vai ficar para outro dia. Se você insistir, chamo o porteiro.



Cristina empurrou a porta com firmeza e a fechou de vez. Betinho baixou a cabeça e voltou desalentado para o carro de Helena.



- Bom, Helena. Tentei, mas não deu certo. Eu fiz o que pude para entrar no apartamento e ver se tinha alguém com ela, mas não deu.



Helena entrou arrasada no carro e deixou Betinho em casa. Dirigiu até ficar exausta. A música no radio fazia exatamente a pergunta que ela queria fazer a Cris:



“Quando ela cai no sofá

So far away

Vinho à beça na cabeça

Eu que sei

Quando ela insiste em beijar

Seu travesseiro

Eu me viro do avesso

Eu vou dizer aquelas coisas

Mas na hora esqueço

Por que não eu?

Por que não eu?

Eu encomendo um jantar

Só pra nós dois

Se não tem nada pra depois

Por que não eu?

Você tá nessa rejeitada

Caçando paixão

Eu com a cara mais lavada

Digo: porque não”

Por que não eu?

Por que não eu?



Por Que Não Eu?



Leoni





A semana seguinte correu tensa entre as duas. Conversavam somente sobre trabalho. Helena continuava indo a Yoga, ao curso de Grego e, invariavelmente corria todas as manhãs. Fazia isso para vigiar Cristina. Queria saber se ela continuava saindo com a loira, mas não tinha coragem pra perguntar. Nunca via Cristina com outra mulher e isso a deixava um pouco aliviada. “Foi só uma noite”.



Finalmente chegou o dia da festa de Luca. Helena preparou a festa com o tema de “Guerra nas Estrelas”, um de seus filmes preferidos. Os convidados recebiam na entrada fantasias e sabres com luzes coloridas. Luca estava vestido de Luke Skywalker e Carol, de Princesa Leia. Cristina levou sua sobrinha para participar da festa e a todo instante procurava por Helena. Precisava falar com ela. Queria acabar com o clima péssimo entre as duas. Mas não conseguia vê-la. Em um certo momento da festa, vê uma figura vestida de Darth Vader atravessar o jardim. Conhecia bem aquele andar. Mesmo que a figura estivesse com o rosto protegido pela máscara, Cristina sabia que era Helena. “Só ela mesma pra usar essa fantasia”, divertiu-se.



Helena fez a volta na piscina, tirou o sabre de luz colorida da cintura aproximou-se de Luca e começou a simular um ataque. Os dois rolaram pela grama do jardim e no final do embate, Helena fingiu morrer. Luca sai gritando feliz: “matei o Darth Vader, matei o Darth Vader!”. Esther e Gilberto, mesmo sem concordar com o embate, riam com a felicidade do filho. O suposto corpo de Darth Vader foi retirado do jardim por dois seguranças. Cristina acompanhava a cena encantada. Aos poucos, entendia as atitudes de Helena: era uma criança crescida que às vezes precisava de uma palmada bem dada. Os seguranças deixaram Helena na casa da árvore. Helena retirou a máscara e ficou observando a festa da sacada. Procurava por Cristina, mas não a via em nenhum lugar. “Ela não veio”, murmurou decepcionada.



Retirou as botas deitou na rede, fechou os olhos, tentou dormir teve uma semana desgastante. Não sentiu a presença de Cristina ao seu lado. Apenas sentiu que alguém massageava seus pés, permaneceu mais um tempo com os olhos fechados estava adorando a massagem.



- Vai ficar sem falar comigo até quando?



Ao ouvir aquela voz, Helena estremeceu. Mas resolveu manter-se firme. Disse com desdém:



- Falo com você todos os dias.



- Fala só o essencial. Precisamos conversar, Helena.



Cristina parou de fazer a massagem. Helena abriu os olhos sentou-se na rede e abriu espaço para que ela se sentasse ao seu lado.



- Já sei: veio pedir a roupa de Obi-Wan, mas acho que você fica melhor como mestre Yoda.



Cristina queria sorrir, mas considerava a situação séria demais para render-se a mais um dos encantos de Helena.



- Sempre engraçadinha quando quer fugir de uma conversa.



Helena também ficou inesperadamente séria:



- Não tenho nada pra falar, Cris. Na realidade cansei de falar, cansei de tentar ficar numa boa com você, mas você insiste em me ignorar. Recusa todos meus convites, faz questão que me sinta mal.



- Não é isso, não coloque as coisas dessa forma. Você sabe que sou casada, sabe que nunca tive uma experiência com uma mulher. Tudo é novo pra mim. Será que é difícil entender?



Helena olhou Cristina, mas desviou-se daquele olhar que parecia consumi-la toda.



- Não é difícil entender, mas essa dificuldade toda você, pelo visto, só tem comigo. Eu vi você sair com a loira da boate. E não parecia preocupada com isso.



Cristina balançou a cabeça. Estava juntando as peças.



- Ahhh, então é isso que está te incomodando?



- Também é isso – respondeu Helena enfática - Diz ai o que ela tem que eu não tenho?



Cristina sorriu, passou as mãos pelos cabelos. Levantou foi até a sacada.



- Eu NÃO sai com ela, se isso que você quer saber.



- Como não? Eu vi você sair com ela da boate e depois entrar em seu prédio.



Cristina não escondeu sua surpresa:



- Helena, você me seguiu?!!!



- Não segui, apenas fiz um trajeto mais longo passando por sua casa até chegar à minha – respondeu, querendo disfarçar a irritação, mas em seguida, explodiu: - E se eu tivesse seguido, qual o problema? Não adianta mentir pra mim. Fiquei um tempão em frente ao prédio. Não vi a loira sair. Portanto, ela dormiu lá com você. Cris, perdôo essa traição. Só quero que diga por que me evita. Sinto que você me quer e você sabe que eu te quero muito. Diga o porquê, faço qualquer coisa para ter você pra mim.



Cristina sentiu o peito arder com aquelas palavras, mas precisava colocar as coisas em seus devidos lugares.



- Helena, você está delirando. Primeiro, eu não trai você, pois não existe nada entre nós. Segundo, o problema todo é esse: não quero ser sua, não pretendo ser propriedade de ninguém, muito menos ser tratada como um troféu. Se um dia aceitasse ter algo com você, seria para estar ao seu lado como companheira, não como uma boneca. Consegue entender a diferença?



Helena não estava mais suportando aquilo. Jogou seu corpo contra o de Cristina. A violência fez com que Cristina batesse as costas na parede. Cristina não pôde esboçar nenhuma reação. Helena segurou seu rosto e beijou-a com força, forçou sua língua para dentro da boca de Cristina. No início, pela raiva, pela surpresa, pela indignação, Cristina tentou resistir, mas o calor do corpo de Helena dominou o seu e, mesmo sem raciocinar direito, correspondia com a mesma fúria e intensidade. As roupas foram sendo arrancadas, jogadas sem destino. Helena rasgou a calcinha de Cristina e a penetrou. Não havia como resistir àquele apelo. Em pé, encostada na parede, Cristina estava tão excitada que não sentiu dor, apenas um prazer enorme. E foi ela que movida pelo ímpeto, enlaçou a cintura de Helena com as pernas e acompanhava com os quadris o movimento de vai-e-vem. Helena sugava um de seus seios ao mesmo tempo em que a penetrava. O suor escorria por suas costas. Helena estava alucinada: só queria fazer com Cristina sentisse todo o desejo que havia acumulado durante todo aquele tempo. Helena, ao sentir que Cristina ia gozar, olhou dentro de seus olhos. Não queria só sentir, queria ver também. Sim, ela não queria possuir apenas aquele corpo, mas também seu coração, sua alma. Os espasmos tomaram o corpo de Cristina. Beijaram-se e o beijo sufocou o grito de prazer. Helena deitou Cristina no chão, colocou-se entre suas pernas, sugou todo o gozo. Queria tê-la de todas as formas, queria cada pedacinho, cada fluído dela para si. Cristina teve o orgasmo mais maravilhoso de toda a sua vida, chegou ao céu, viu as estrelas, os astros e não conseguiu – não queria - segurar o grito de prazer. Helena voltou a beijar sua boca, agora com calma, com carinho, com ternura. Como era bom sentir seu gosto na boca de Helena. Abraçaram-se forte, ficaram em silêncio. Não existiam palavras certas pra dizer naquele momento.



Helena abraçava-a forte, como se não quisesse deixá-la escapar, cubriu seus corpos com a capa, a unica peça de roupa que sobrara. Cristina suspirou e sorriu.



- Ohh, senhora morcego!!! poderia sair de cima de mim e ficar ao meu lado? Preciso respirar - disse sorrindo.



- Desculpa, mas estava tão bom.



Ficaram ali trocando olhares, namorando, trocando beijos e caricias. Mas, inesperadamente, Cristina levanta-se e começa a colocar o que sobrou de suas roupas, balbuciando uma explicação:



- Helena, preciso ir. Perdi a noção do tempo e minha sobrinha está sozinha na festa há horas.



Helena levanta-se e segura levemente em seu braço:



- Cris, quer namorar comigo?



Cristina, já vestida, responde:



- Helena, foi só uma transa. Nada mais.



Sem dizer mais nada, deixa Helena parada, sem ação.



Cristina não esperava ouvir a proposta de Helena e acabou respondendo de uma forma impensada. Mal tinha saído da casa da árvore, arrependeu-se. “Sou uma burra”. Encontrou sua sobrinha na maior farra com as outras crianças e praticamente teve que arrastar a garota para ir embora. Chegou ao seu apartamento com o andar pesado, deitou em sua cama e finalmente pôde chorar. Desabou em um choro compulsivo. Estava com raiva de si, com raiva de seus medos e, principalmente, com medo de perder algo que há muito tempo buscava. Adormeceu com um peso maior que poderia carregar.

A trégua que Helena sugerirá umas semanas atrás fora quebrada pelo incidente da festa.



Cristina não falou mais no que aconteceu com Helena e a evitava todas as maneiras. Sabia que se voltasse a conversar, cederia, e cederia de vez. Queria resolver sua situação com seu marido. E agora faltava pouco. Ele estaria no Brasil no final do ano, mas, na realidade, precisava resolver seu conflito interior. Sentia-se completa quando estava com Helena, fazer amor com ela era algo maravilhoso e só de olhá-la, já sentia tesão. Compartilhar o dia a dia de Helena era fascinante. Helena era daquelas pessoas que faziam que todos os dias fossem diferentes, não existia rotina quando estava ao seu lado. A sua seriedade e no minuto seguinte o humor, o monte de bobagens ditas e feitas a encantava. A mistura de mulher e de criança em um só corpo era o que fazia de Helena tão especial. Mas a idéia de estar ao lado de uma mulher a incomodava muito. Como contaria pra sua mãe, para seu pai, um homem tão rígido, tradicional? Cristina só de pensar no assunto sentia um frio na barriga.



Helena não conseguiu dormir direito nas semanas seguintes a festa. Tentava de todas as maneiras conquistar Cristina, mas nada que fazia dava certo. Emagreceu, ficava irritada por qualquer coisa. Perdeu o interesse sexual por outras mulheres. Foi convencida por Zefinha a procurar seu médico. Fez vários exames, mas todos deram normais. O medico disse-lhe que precisava procurar um analista. Escolheu uma mulher.



- Doutora, não sei o que esta acontecendo comigo. Não tenho nada fisiológico, mas sinto uma dor no peito, um desânimo e pior perdi todo o meu tesão.



- Há quanto tempo está se sentido assim?



- Mais ou menos dois meses. Mas o tesão desapareceu há um mês. Isso nunca aconteceu comigo.



- Não é um período longo. Quantas vezes por semana você costuma fazer sexo?



- Transava pelo menos cinco vezes por semana e quando estava com a Dani, até sete.



A analista pergunta com o olhar intrigante:



- Tem algo que está te preocupando?



- Não, nada.



- Tem certeza?



- Bom, tem uma garota... quero sair com ela, mas ela não quer sair comigo. Mas isso já aconteceu antes e nunca fiquei sem transar. Não pode ser por isso...

- Ok. Mas me fale mais dessa moça.

Ao término da consulta, Helena pergunta ansiosa:

- E ai, doutora. O que tenho é grave? Preciso voltar a ser como eu era antes, quero minha vida de volta, me dê um remédio, uma solução, por favor.



- Helena, realmente você tem algo grave e sério, mas é curável.



- E o que eu tenho?



- Você está amando.



- Como? Não posso estar amando...E logo a Cristina.



- Tá vendo? Nem falei por quem e você já disse o nome dela. Só pensa nela...Todas as suas aflições acontecem por causa dela.



- Então, me cure, por favor! Se amar é perder o tesão por outras pessoas, perder a vontade de viver não quero amar.



- Amar é maravilhoso Helena, você só precisa ser correspondida. Já pensou que pode estar tentando conquistá-la de uma forma errada? Seja mais você, não pense em como ela gostaria que você fosse, seja você que vai dar certo.



Helena saiu com essas palavras na cabeça

Helena acordou com as palavras da médica na cabeça. Foi até ao banheiro, olhou-se no espelho. Não gostou do que viu.

- E ai, dona Maria Helena, vai largar mão de ser idiota? Você deve esquecer essa mulher! Várias mulheres já ficaram apaixonadas por você e estão ai, vivinhas da silva. Nenhuma delas morreu de amor. Portanto, você que é bem melhor que elas, NÃO VAI MORRER, entendeu? - Helena disse isso apontado o dedo em riste para seu nariz refletido no espelho – A partir de hoje ordeno que esqueça essa mulher! Quem ela está pensando que é? Não querer uma mulher como você, bonita, inteligente, linda, boa de cama e, ainda por cima, cheia da grana! Ela só pode ser uma completa idiota. – O tom de sua voz ficou repentinamente dolorido: - Ela não merece você, Helena, não merece.

Helena afastou-se do espelho e tirou a roupa para entrar embaixo do chuveiro quente. Enquanto banhava, repetia para si mesma, em um tom bem alto: CRISTINA, VOU ESQUECER VOCÊ. CRISTINA, VOU ESQUECER VOCÊ!!!!!!

Saiu do banho e foi secar o cabelo. Continuava falando sozinha:

- Vou ligar o botão do FODA-SE. Vou sair com a primeira mulher que aparecer na minha frente. A partir de hoje voltarei ao meu normal. A fila tem que continuar andando e a minha está parada há muito tempo.

Helena foi até a sua gaveta e pegou a agenda de EMERGÊNCIA, colocando-a na bolsa. Vestiu uma roupa bem sensual, maquiou-se com capricho. Olhou-se no espelho e gostou do resultado. “É isso ai, Helena: tá linda”. Ela deu uma última olhada e saiu assoviando.

Helena chegou ao escritório animada. Cruzou com Vera no corredor e sorriu de si mesma. Teria que rever as suas promessas. “Sair com a Vera não dá. Sairei com a SEGUNDA mulher que aparecer na minha frente”.

- Bom dia, Verinha? Tudo bem com você?

- Hã. Verinha?! O que aconteceu? Viu passarinho verde, Helena?

- Não, Vera, apenas tomei uma decisão essa manhã que vai colocar minha vida de novo no lugar.

Vera arqueou a sobrancelha e lançou um olhar curioso sobre Helena:

- Qual decisão ?

- Bom, não devia contar, mas vou falar só pra você bem baixinho. Chega mais perto, Vera.

A secretária, sem pestanejar, obedeceu. Helena sorriu e gritou em seu ouvido:

- CURIOSA!

- Pôxa, Helena. Estou vendo que você voltou realmente ao seu normal: a mal-educada de sempre.

Helena soltou uma risada e continuou caminhando até sua sala. No corredor, cruzou com Kelly e teve que reformular mais uma vez sua promessa. “Oh Deus! O senhor não quer me ajudar mesmo”.

- “Vou refazer minha promessa: sairei com a primeira mulher que aparecer na minha frente desde que não seja uma velha amiga ou uma neurótica ciumenta. Ah, também não quero que seja feia e chata. Ninguém merece...Deus, por favor, considere essas minhas pequenas exigências.

Mal terminou sua pequena prece, entrou cantarolando em sua sala. Cristina já havia chegado e estranhou o comportamento de Helena, que andava triste e cabisbaixa nos últimos dias. Helena volta os olhos para o alto e faz uma nova súplica: “Ah, Deus: esqueci de dizer que sairei com a primeira mulher que aparecer na minha frente desde que ela me dê bola... Não agüento mais correr atrás”.

Suspirou e animou-se:

- Muito bom dia, Cristina. Dormiu bem?

Cristina lançou-lhe um olhar intrigado e respondeu suavemente:

- Bom dia, Helena. Dormi bem. Você é que parece ter tido uma ótima noite de sono. Está com uma ótima aparência.

“Essa cachorra percebeu que estou feliz. Isso é bom” – refletiu Helena, satisfeita.

- Dormi bem e acordei melhor ainda. Tomei uma decisão importante essa manhã que vai colocar minha vida em ordem novamente.

Cristina mexeu-se na sua cadeira, curiosa.

“Qual será a decisão que ela tomou? Pergunto ou não?”.

Cristina acabou rendendo-se à curiosidade.

- Posso saber que decisão é esta?

Helena sorriu para si mesma. “Hummm, como será que ela vai reagir?” Helena olhou bem dentro dos olhos de Cristina e disparou:

- Claro que pode. Voltei a ser a Helena de antes, só isso: cansei de ficar correndo atrás de uma pessoa que não está nem aí pra mim, que não dá a mínima para os meus sentimentos. Portanto, Cristina, “esqueci” você a partir de hoje.

Cristina não esboçou nenhuma reação, mas por dentro fervia. “Como assim me esqueceu? Sabia que essa filha da puta estava mentindo quando disse que queria me namorar, me levar a sério. Está aí a prova. Ninguém esquece a pessoa que ama assim do nada”.

Helena ficou olhando para o rosto de Cristina. Analisava cada pedacinho, queria saber o que estava se passando em sua cabeça nesse momento. Viu que Cristina tirou o leve sorriso do rosto, enrrugou um pouco a testa e, com calma, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Depois de uns segundos, que pareceram uma eternidade pra ambas, Cristina falou:

- Que bom, Helena, muito bom. Não agüentava mais ter que recusar seus convites. Fico feliz que você tenha entendido meus motivos e que respeite minha decisão.

- Quem disse pra você que entendo? Quem disse pra você que respeito sua decisão? Você não está entendendo direito: eu é que não te quero mais. Não vou ficar sendo usada e sendo feita de palhaça por uma pessoa que não sabe o que quer da vida, uma mulher que por medo dos pais e da boca do povo não quer ser feliz – disparou impulsivamente, olhando-a com a raiva estampada no olhar: - Cristina, eu sei que você gosta de mim, sei que me deseja, que me quer, só não tem coragem de aceitar. É mais fácil colocar a culpa em mim, no meu comportamento. Digo mais: quem está perdendo é você e não eu. Você, com certeza, vai encontrar mulheres piores que eu; melhores, talvez. Mas igual a mim, NUNCA!

Helena encerrou a conversa, virou-se e foi para sua mesa. Mas, passou a manhã observando Cristina que tentava ignorar o olhar investigativo de Helena. Tinha perdido completamente a concentração no trabalho. Toda hora errava o que estava digitando. Irritou-se e bateu no teclado, depois esmurrou o monitor. Inquieta, levantou diversas vezes para beber café e, então, começou a rasgar umas folhas que imprimiu errado. “hum, ela não está bem”...Helena ria por dentro. Cristina estava uma pilha de nervos. Ouvir a verdade às vezes é insuportável. Sabia que Helena tinha razão. Sua vontade era de levantar ir até a mesa de Helena bater na sua cara, arranhar sua pele, morder seu corpo....beijar sua boca, fazer amor... “Ahhh, pare de pensar loucuras”, recriminou-se.

Então, longe uma da outra, absortas em seus pensamentos, o telefone de Helena toca. Ela atende e lança um olhar para Cristina. Sua voz está mais entusiasmada do que o habitual.

- Oi, Alana, quanto tempo! Acredita que hoje acordei pensando em você. E, agora, assim do nada, você liga! Só pode ser o destino agindo a nosso favor. Ah...também estou morrendo de saudades. Foi ótimo que tenha ligado. Quero falar com você sobre negócios “y algunas cositas más”. Se posso jantar com você hoje? Hummm, só um minuto preciso atender a outra linha, já volto.

Helena desviou a chamada e ligou para Cristina.

- Cristina, só responda sim ou não: você quer ou não namorar comigo? Estou te dando mais uma chance.

- Helena, por que essa pergunta agora, depois de tudo que disse?

- Já disse: responde sim ou não!!!

- Helena, não dá pra responder assim.

- Claro que dá. Te dei uma semana e você nada de se manifestar. Conversamos agora a pouco e nada. Portanto, essa é sua ultima chance: sim ou não?

Cristina se impacienta:

- Helena, por que a pressão? Gostaria de conversar com você com mais calma. Além disso, você

não disse que cansou de esperar, de correr atrás de mim?

- Cansei mesmo. Cristina, é o seguinte: não saí com mais ninguém acreditando que me acertaria com você. E ainda quero me acertar com você, só que não vou esperar por você a vida toda. Estou com uma velha amiga na outra linha me chamando pra sair e ficar com ela. Então, só dependo da sua resposta para aceitar a proposta dela. Responda: sim ou não?

Cristina prendeu a respiração, remoendo os ciúmes. Quando respondeu, estava tomada pela raiva:

- Nãooooo!

Helena suspirou e engoliu a decepção.

- OK - desligou o telefone na cara de Cristina.

Então, sem demora, disse bem alto ao telefone:

- Alana, passe aqui no escritório às 15h. Preciso tratar com você uns assuntos profissionais. Depois trataremos de assuntos “bem pessoais”, prometo. Beijos na boca.

Cristina do outro lado da sala ouvia toda a conversa com a cabeça a mil. Não conseguia pensar nem encarar Helena. Pegou sua bolsa e saiu pra almoçar. Entrou em seu carro encostou a cabeça que latejava no volante. “Que merda! Por que você não deixa de ser tão babaca e certinha e aceita namorar com ela, Cris?!!!”. Ligou o carro e saiu sem direção. Estava travando a maior batalha interior da sua vida. Seu corpo, sua alma desejavam estar com Helena, mas sua razão dizia NÃO. Quando lembrava do sorriso, das piadas, do humor, do jeito alegre e prático de ver a vida que só Helena conseguia ter, seu coração se enchia de ternura, seus olhos enchiam de lágrimas. Mas quando lembrava do lado sacana, galinha, e às vezes frio e calculista de Helena sua cabeça bloqueava todos sentimentos bons e dizia: Não, Cristina. “Se ao menos ela falasse com todas as letras que me ama, eu acreditaria nela e aceitaria namorá-la”, refletia.

Cristina voltou para o escritório duas horas depois, com os olhos inchados. Chorou muito. E parecia que chorar tinha virado rotina nos últimos dias. Encontrou Helena com uma planta baixa do novo escritório aberta sobre a mesa. Ela estava concentrada no desenho, analisando, fazendo alterações. Quando viu Cristina entrando, levantou os olhos e comentou:

- Que almoço demorado, heim?!

Cristina disfarçou a sua fragilidade e respondeu num tom levemente áspero:

- Precisei resolver um assunto pessoal. Se quiser, mande descontar o atraso do meu salário - disse caminhando até a mesa, evitando olhá-la.

- Com certeza, mandarei descontar - disse debochadamente e depois amenizou o tom e pediu: - Venha até aqui e veja as alterações que fiz na planta. Quero um espaço maior na sala de programação. Coloquei mais mesas de atendimento da sala de help-desk.

Cristina ficava impressionada como Helena não misturava sua vida pessoal com a profissional. Aproximou-se e deu uma olhada na planta, mas estava difícil concentrar-se: diante de sim, só via o rosto de Helena. Piscou várias vezes os olhos. Tentou se concentrar e aos poucos foi dando palpites. O Interfone tocou, interrompendo a conversa das duas sobre o projeto.

-Helena, a Sra. Alana Guedes está na ante-sala. Posso mandar entrar?

- Não. Vera. Diga pra ela esperar um minuto – e depois, voltou os olhos em direção à Cristina: - A Alana é a decoradora contratada da empresa e uma velha amiga - disse piscando o olho - Vou me maquiar e já volto. Você pode terminar os gráficos para a reunião, por favor?

A raiva e o ciúme voltaram a contaminar o corpo de Cristina. Helena sabia como deixá-la maluca. Os seus olhos faiscavam de raiva quando voltou pra sua mesa. Fingiu estar trabalhando, louca pra ver quem era aquela mulher que ia sair com Helena.

O interfone toca novamente.

- Helena, ela já pode entrar? Aqui está o maior tumulto. A homarada agora está fazendo plantão na sala de espera.

Helena sorriu:

- Ela já pode entrar, Vera.

Helena foi abrir a porta e Cristina pôde ver a mulher mais linda de sua vida. Alana tinha por volta de 1,80 cm de altura, mas parecia mais alta porque usava uma sandália salto agulha de quase 7cm. Loira, olhos de um verde intenso, cílios grandes. Não era magra; era gostosa, com curvas ressaltadas pelo vestido justo. Cabelos longos, brilhantes, que terminavam quase na cintura. Era aquela mulher que ia ficar com Helena?

Alana abriu um sorriso lindo ao ver Helena, que era um pouca mais baixa. Abraçaram-se com carinho, mas de modo sedutor. Cristina não acreditava no que via. Helena segurou a mão de Alana e levou-a até Cristina.

- Alana, essa é Cristina, minha assistente.

Cristina levantou-se e sentiu-se uma anã perto da mulher. Com seu 1,56 cm, teve que fazer um esforço para olhar para o rosto daquela amazona. Sentiu a mão macia e as unhas bem tratadas quando a cumprimentou. O perfume que ela usava invadiu a sala. “Cris, como você é burra. Por que não disse sim?”.

Helena levou Alana para um sofá no canto da sala e conversavam de maneira descontraída durante vários minutos. Cristina não gostou do brilho que viu nos olhos de Helena quando olhava para Alana. O ciúme a consumia e, ao mesmo tempo, estava se odiando por ter rejeitado a proposta de Helena.

Depois de um tempo, Helena chamou Alana para ver a planta baixa do escritório. Cristina acompanhava todos os movimentos. Quando Alana levantou do sofá parecia que não ia terminar de se levantar. “Nossa, essa mulher não acaba...”. Alana caminhava com delicadeza, mexia nos cabelos com suavidade: exalava feminilidade por todos os seus poros. As duas, lado a lado na mesa, faziam um belo par, isso Cristina teve que reconhecer. Sentiu-se insignificante diante daquela mulher. Teve medo, muito medo de perder Helena.

Terminaram de analisar a planta, tomaram um café e saíram para jantar. Cristina ficou sozinha na sala. De repente a sala ficou gigante. Um vazio invadiu o ambiente, o coração em seu peito ficou pequeno, apertado. Sentiu uma dor estranha no peito, queria fugir, mas não sabia pra onde.

Ligou para Marcos.

- Oi, Marcos, tudo bem?

- Comigo tudo ótimo como sempre. E você, está bem? – perguntou desconfiado do tom melancólico da voz de Cristina.

- Estou sim, só queria conversar com você, ouvir uma voz amiga.

- O que houve, Cris? Você está com uma voz horrível. Estou ficando preocupado.

- Não é nada: apenas descobri que sou uma idiota, burra, medrosa e....

- Cris, pare de dizer bobagens. Conte o que aconteceu.

- Má, ela acabou de sair daqui com a mulher mais linda, sexy e feminina que já vi em toda minha vida.

- Hummm, a Alana?

- Como você sabe?

- Cris, com essa descrição não existem muitas mulheres andando por ai. Realmente ela é linda. Mas, e daí? Você sabe que Helena está apaixonada por você.

- Não tenho certeza que ela esteja apaixonada por mim. Ela nunca me disse que me ama. Só tenho certeza que ela é conquistadora e a maior galinha que conheço. Sei também que ela está com raiva de mim porque não aceitei namorar com ela. E sei também que ela resolveu me esquecer. Portanto, sei que minhas chances com ela acabaram.

- Cris, me ouve: eu sei que ela está apaixonada por você e você também sabe. Talvez Helena ainda não admita, mas está. Conheço minha amiga. Não espere que ela diga EU TE AMO em alto e bom som. Ela nunca fez isso com ninguém. Helena se acha durona demais – Marcelo suspirou e disse: - Calma, nada está perdido ainda. Primeiro, você tem que se decidir. Eu já disse pra você que com a Helena não dá pra ficar em cima do muro por tanto tempo. Sei que ela saiu com a Alana talvez até role uma transa e nada mais. Elas se conhecem há anos e só acontece isso: transa. E nada mais. Elas são muito parecidas. Nunca daria certo.

- Será, Má? Será que ela não vai me esquecer? Será que ela ainda quer namorar comigo? – disse num tom angustiado e então, o ciúmes a dominou: - Marcos, não quero que ela transe com aquela deusa!!!

- Bom, Cristina, posso ajudar a impedir que as duas transem hoje, mas preciso que você me diga se quer ou não ficar com a Lê. Quero a felicidade da minha amiga. Sei que você pode ser muito feliz com ela, mas precisa tomar uma decisão agora.

Cristina ficou em silêncio por uns minutos, relembrou a forma que conheceu Helena, todos os momentos que estiveram juntas.

- Má, foda-se o mundo: quero essa mulher só pra mim.

- Nossa, apelou até pra palavrão – sorriu - É assim que se fala, minha amiga. Bom vou ligar agora pra Helena... preciso impedir uma foda... Beijos.

Marcos desligou o telefone satisfeito. “Eita, como mulher é complicada. Por isso, amo os homens”. Marcos foi de certa forma responsável por Helena amar Cristina. Foi ele quem, aos poucos, foi dando as dicas de como Cristina devia agir com Helena. Foi ele quem incentivou Cristina a freqüentar lugares gays para que ela se acostumasse com as pessoas, com o ambiente, para que ela visse com naturalidade os homossexuais e perdesse o preconceito. Marcos sabia que conquistar Helena e fazer com Cristina assumir seu lado gay não seria fácil, mas se empenhou ao máximo. E agora estava satisfeito. Sua melhor amiga, melhor irmã de coração, finalmente teria uma mulher de verdade em sua vida. “Eu sou o máximo”, pensou.

A questão é: Helena o atenderia? Depois da noite da boate, Helena recusava-se a falar com ele. Havia xingado o amigo de traidor e questionou a sua amizade. Marcos não tinha se sentido afetado com as acusações: sabia que um dia ela o agradeceria. Então, ligou para o celular de Helena. O aparelho chamou uma, duas, três vezes até cair na caixa postal. Ligou novamente. Helena, ao ver o nome de Marcos no display do celular, não atendeu. Ainda estava magoada com ele. “Não vou deixar que atrapalhem minha noite, nem mesmo o traidor do Marcos”. Dez minutos depois toca seu celular novamente era Zefinha. Helena franziu a testa. Era raro Zefinha ligar. Pressentiu algum problema. Atendeu.

- Oi, Mãe - Zefinha ficava toda derretida quando Helena a chamava assim.

- Você vem jantar em casa?

- Não, já estou jantando por que?

- É que eu preciso falar com você.

- É urgente? Deixa pra amanhã, está tarde. Vá descansar. Hoje vou demorar pra chegar, talvez apareça só pela manhã - disse piscando um olho para Alana.

- Então, tá. Você me leva ao hospital amanhã. Posso esperar!

- Como assim “hospital”? O que você está sentindo? – Helena sobressaltou-se.

- Nada grave: só uma dor no peito, uma falta de ar..... – Ao ouvir isso, Helena já sinalizava para o mètre pedindo a conta.

- Mãe, tô indo pra casa agora. Deite no sofá. Em 15 minutos estarei ai. Alana a olhava incrédula. Não acreditava que Helena estava indo embora.

- Não precisa, minha filha. Deixa pra amanhã.

- Zefinha, fica quieta. Não fala nada, descanse. Já tô indo. Acha que vou deixar você sozinha? Tá louca? Já estou chegando.

Helena desligou o telefone e lançou um olhar para Alana, que continuava incrédula:

- Alana, desculpe, mas teremos que deixar pra amanhã. Só se você quiser me acompanhar até o hospital. Depois prometo fazer amor com você à noite toda.

- Helena, fala sério. Acha que vou ficar em um corredor de hospital esperando por uma pessoa que nem conheço direito? Depois você me liga....

- Espere sentada. Não vou te ligar. E mais: ela não é uma desconhecida, é minha mãe. Exijo mais respeito.

Helena foi se levantando da mesa irritada. Alana arrependeu-se do que disse. Tentou desculpar-se:

- Desculpa, espera... eu não quis dizer....

Helena afastou-se sem ouvir o resto da frase. Saiu do restaurante bufando. “Que sujeita! Só por que é gostosa pensa que pode esnobar minha Zefinha!”. Helena entrou em seu Audi e acelerou o máximo. Chegou ao prédio e não agüentou esperar pelo elevador. Subiu correndo as escadas. Estava em pânico só de imaginar que algo poderia acontecer a Zefinha. Entrou em seu apartamento com o coração na boca. Estava exausta por ter subido os quinze andares correndo. Olhou no sofá não viu Zefinha. Correu para o quarto de hóspede e ela não estava lá. Começou a pensar mil bobagens. Entrou em seu quarto e nada. Entrou na cozinha e viu Zefinha servindo café com bolo para Marcos. Sentou no chão. Quase não respirava. Aos poucos, o alívio foi sendo substituído pela raiva. Estava com raiva, muita raiva. Respirou fundo, tomou fôlego, levantou e pulou no pescoço de Marcos, começando a apertar:

- Seu cachorro, safado, sacana..

Marcos gritava.

-.Calma, Lê, me larga. Zefinha, me ajuda.

Helena alterou a voz e ordenou:

- Zefinha, não se aproxime! Hoje vou matar esse safado.

Zefinha sentou-se em uma cadeira e começou a simular um enfarto.

- Pare, minha filha, assim você me mata.

No mesmo momento, Helena largou Marcos, mas não sem antes lhe dar um tapa forte na cabeça.

- Cachorro, salvo pela Zefinha. Não tem vergonha, não! Pedir ajuda pra uma mulher idosa?!

- Lê, precisava falar com você. Você não me atende.

Helena foi até a geladeira e abriu uma cerveja. Foi pra sala e se jogou no sofá. Marcos foi atrás com a maior cara de pau do mundo.

- Lê, fala comigo. Não quero ficar brigado com você.

- Marcos Rogério de Almeida. Não vou mais falar com você. A partir de hoje não o considero mais meu amigo. Saia da minha casa, por favor, antes que eu levante daqui e te mate. Será tão rápido que, garanto, não vai dar tempo pra Zefinha chegar até aqui.

- Pára com isso, Lê. Dá pra me ouvir só um minuto?

Helena deu um gole na cerveja e lançou um olhar sério para Marcos.

- Tá bom: só um minuto. Já estou contando. Um, dois...

- Sei que foi sacanagem usar a Zefinha, mas foi preciso usar minha arma para emergência com você. Pôxa, somos amigos desde o jardim de infância. Você acha que eu faço as coisas para te prejudicar? Pensa Helena. Quantas vezes te coloquei em enrascada?

Helena olha para Marcos com sua sobrancelha esquerda erguida. Marcos consertou:

- Bom, está certo: uma vez.

Helena continuou encarando-o.

- Tá bom! Algumas vezes, mas não foi por mal. Quem manda querer resolver tudo?

Helena interrompeu:

- Você só tem mais 30 segundos.

- Pára de me pressionar: fico nervoso.

- Porra, Má, você estragou minha noite. Por que não foi ao escritório? Poderíamos ter conversado lá.

- Nossa, estraguei sua noite, é? Não sabia, desculpe!

- Má fala logo: já estou ficando de saco cheio.

- Lê, você sabe que te amo. Você é a irmã que não tenho. Foi por isso que ajudei no seu lance com a Cris.

- Ajudou o cacete! Você ficou falando mal de mim pra ela, levou-a pra boates, apresentou garotas. Você sabia que eu a queria e fez tudo para que ela ficasse longe de mim.

Marcos deu um sorrisinho:

- Mulheres, mulheres. Lê, acredite: tudo o que eu fiz foi pra ajudar. Confesso que no início achei que você queria só sacanear a Cris. Ela não merece isso. Mas depois percebi que esse seu coração de pedra, não é tão de pedra assim. Sei que está apaixonada por ela. Então, mexi meus pauzinhos.

- Você está enganado. Não estou APAIXONADA. E ajuda como a que você me deu estou dispensando.

- Tá bom. Já que pensa assim não vou lhe dizer o que a Cris me confessou hoje.

Helena levantou-se do sofá rapidamente.

- Peraí. Ela disse o quê?

- Tchauzinho, amiga.

- Ma, Mazinho, volte aqui agora. Diga logo: o que ela falou?

- Dizer pra quê. Você acabou de dizer que não esta apaixonada por ela.

- Marcos Rogério, vou te matar a garfadas! – reagiu, alterada, depois, mais mansa, pede, num tom de súplicas: - Tá bom, eu gosto muito dela. Estou levemente apaixonada.

Marcos sorriu satisfeito e em tom de confidência disse baixinho.

- Lê, ela disse que te ama e quer ficar com você.

O coração de Helena deu saltos, mas ela manteve-se controlada.

- Hummm, como assim? Hoje mesmo ela disse por duas vezes que não quer namorar comigo.

- Lê, ela não suportou ver você com Alana. Ela está mal. Finalmente percebeu como foi idiota por recusar seu pedido de namoro.

Helena sobe no sofá e começar a pular e jogar as almofadas para o alto de alegria. Pula no colo do amigo e enche suas bochechas de beijo.

- Má, eu sabia: a arma Alana nunca falha! - sorriu satisfeita.

- Mas, amiga tem uma coisinha...

Helena apaga o sorriso do rosto e uma ruga de preocupação aparece em sua testa.

- Xi, fala logo, seu estraga-prazer.

- Lê, ela está insegura. Cristina sente que você a ama, mas precisa ouvir isso de você.

Marcos coloca-se de joelhos, segura a mão de Helena, e diz:

-Cristina, eu te amo! – diz num tom melodramático... – Amiga, é assim que você tem que fazer.

- Má, dizer pra quê? Ela sabe que sou louca por ela, aliás, todo mundo sabe disso, até a Zefinha que é meio lerda sabe.

- Lê, até parece que você não conhece as mulheres. Mulher gosta de ouvir essa frase babaca... Custa você olhar nos olhos dela e dizer?

Helena sentou-se no sofá pensativa. De repente, abriu um sorriso.

- Foda-se a minha visão preconcebida sobre o amor. Má, vou provar e dizer pra ela e pra todo mundo que eu a amo.

- Isso mesmo, amiga: faça isso logo. Não, faça agora! Pega o carro e vá até a casa dela e diga.

- Não, Má. Vou dizer de uma forma que ela terá certeza que eu a amo. Me aguarde.

- Lê, não faz essa cara! Quando você faz essa cara é porque vai aprontar. Não inventa, faça de uma forma simples mesmo, ela é simples.....

Helena não parecia estar mais ouvindo. Estava matutando alguma idéia maluca. Marcos tenta chamá-la à razão:

- Lê, tá me ouvindo?

- NÃOOOOOOOOO!

Marcos dá de ombros.

- Bom, já cumpri com minha parte de amigo. Agora vou embora. Fale logo com ela. Beijinhos, amiga.

Helena pulou no colo do amigo e encheu de beijos. Depois de se despedir de Marcos, Helena correu pra frente do computador.

- Se é prova de amor que ela quer, então ela vai ter!
Capítulo 1: A declaração


(por Cacau , adicionado em 7 de Dezembro de 2005)




Helena entrou no site de buscas e encontrou o que queria. Anotou os telefones e fez ligações. Depois de uma hora, recostou-se satisfeita na poltrona com a sua melhor cara de safada.

Marcos como bom amigo não ligou para Cris para dizer que tinha conseguido atrapalhar os planos de Helena . “ Deixa a Cris sofrer um pouquinho, já fez minha amiga sofrer muito agora é a vez dela” sorriu.

Cristina chegou em casa arrasada “como sou idiota, como sou idiota”, tirou os sapatos, jogou a saia em qualquer lugar, foi até a cozinha e abriu a geladeira, olha primeiro para o iogurte natural desnatado, pega, mas muda de idéia ao ver a garrafa de vinho “preciso me acalmar e esquecer Helena”. Abriu a garrafa, bebeu no gargalo mesmo, jogou-se no sofá. A imagem de Alana entrando no escritório não saia de sua cabeça, “porra que mulher linda”..... Lembrou do sorriso sedutor que Helena deu ao abraçar Alana. Ficou mais tensa, bebeu mais vinho, levantou ligou o som, selecionou alguns CD´s ( Pra que fingir, mentir que perdôo, tentar ficar amigos sem rancor) mudou a musica “perdoar uma traição como essa nunca...” (Me dá a mão me leva embora passou da hora, já bebi demais ninguém mais me considera só velhos, bêbados e animais), mudou novamente, “ Paulinha, nem comecei a beber ainda...”caminhou até a varanda “ isso só pode ser um complô!!!”.

(Quantas coisas eu ainda vou provar. E quantas vezes para a porta eu vou olhar. Quantos carros nessa rua vão passar. Enquanto ela não chegar. Quantos dias eu ainda vou esperar. E quantas estrelas eu vou tentar contar.E quantas luzes na cidade vão se apagar .Enquanto ela não chegar.).” Cris sentou no chão colocou a garrafa de vinho entre as pernas, parecia que Frejat sabia exatamente o que se passava em seu coração, bebeu mais vinho, ficou ali compenetrada ouvindo a musica, (Eu tenho andado tão sozinho, que eu nem sei no que acreditar, e a paz que busco agora, nem a dor vai me negar.Não deixe o sol morrer, errar é aprender.Viver é deixar viver) as poucos as lagrimas foram nascendo e rolando por sua face, a raiva que sentia de si só foi aumentando, tomou mais um gole, precisava esquecer que amava. O vinho foi fazendo sua parte, Cris começou a ficar mole levantou e foi para seu quarto tirou a blusa ficou só de calcinha e sutiã. Deitou-se e colocou o fundo da garrafa sobre a testa, queria esfriar a cabeça, as idéias. “Sou uma imbecil mesmo, acreditar que uma mulher como ela poderia ficar interessada realmente em mim, hummm Maria Helena é ruim de amar alguém, ela só quis brincar comigo, me usar, como faz com todas, eita mulher egoísta, falsa, fingida, galinha, gostosa, maravilhosa, deliciosa, ” - Ai.ai.ai, bebeu mais gole.

“É eu poderia ter dado uma pequena chance pra ela. Ela esta certa mesmo, demorei muito pra falar que a amo, que a quero muito, que não desejo outra mulher, que nunca tive outra mulher. Demorei pra admitir, também quem manda ser tão convencida, ela poderia ter facilitado as coisas, mas não!!! Sempre jogando, sempre tentando seduzir, uma predadora e não uma presa”. Ingeriu um gole maior dessa vez. Olhou para o relógio 21:00, “porque o Má não liga? Ele não deve ter conseguido por isso não ligou!!! “A essa hora já devem estar transando, Helena é muito rápida nesse assunto” Visualizou a cena: “Helena abrindo a porta do seu apartamento e após fechar a porta agarra Alana por trás, beija sua nuca e massageia os seios ao mesmo tempo, encaixa uma de suas pernas entre as de Alana , leva um tempo assim beijando e mordendo aquele corpo cheiroso”. (Quantas besteiras eu ainda vou pensar, e quantos sonhos no tempo vão se esfarelar.Quantas vezes vou me criticar.Enquanto ela não chegar) Bebe mais vinho fica irritada ao imaginar a cena “ Oh frejat, dá pra mudar de assunto?” Fecha os olhos volta à cena . ( Helena vira Alana pra si, beija sua boca delicadamente) agora não vê mais o rosto de Alana e sim o seu. (Retribui o beijo), consegue sentir o calor da boca e do corpo de Helena.( Helena tira suas roupas, não com delicadeza e sim com desejo mas de uma forma suave”.Seu corpo fica arrepiado ao imaginar o toque, o beijo, fica excitada. Bebe mais um pouco. Muda a cena. “ Vê Helena jogando o corpo de Alana sobre a cama, que a chama para perto de si, Helena morde suas coxas, passeia com a língua sobre sua barriga, desce sua boca para o sexo de Alana” Tenta apagar esse imagem da sua cabeça, mas não consegue esta embriagada. “ Agora vê Alana introduzindo um enorme pênis em Helena que geme baixinho”. Cris fica louca de raiva grita, “Sou Eu quem deveria estar com você!!!” Ingere o resto da bebida, senta na cama, o mundo ao seu redor gira, gira, gira. Deita novamente, alcança o telefone com dificuldade, liga para Marcos, “eu preciso saber se elas estão transando”, o telefone toca até cair na caixa postal. “Merda”

( Você não tem medo de mim, você não tem medo de mim, você tem medo do amor que guarda pra mim. Você tem medo de você. Você tem medo de querer me amar......” Dá pra calar a porra da boca Adriana....” Cris grita com a voz que insiste em lhe dizer a verdade, não se contém e chora. Chora muito dessa vez, chora compulsivamente sentia uma dor terrível no peito, as cenas agora estavam misturadas , lembra dos poucos momentos de intimidade com Helena, lembrou da forma que Helena fez amor com ela na casa da árvore, apesar da forma bruta que agiu sentiu que foi a única forma que Helena encontrará pra dizer que a amava. “Deus faça com que o Marcos consiga impedir que Helena transe com aquela mulher, faça que ela não me esqueça, prometo que agirei de uma forma diferente daqui pra frente, por favor Deus”

Cris acaba dormindo pedindo a Deus para ajudá-la.

Não muito longe dali Helena esta eufórica, não consegue conter a felicidade, saber que Cristina estava com ciúmes a deixava em estado de êxtase. Isso é bom pra ela aprender a não ser tão metida, ficou se fazendo de difícil o tempo todo ela não sabe do que é capaz Maria Helena, não sabe mesmo, e amanhã terá outra prova que não me conhece mesmo, sorriu debochadamente. Pensou em ligar, falar só um oi, queria ouvir sua voz, queria provocar dizer que a noite foi ótima. “ Mas o babaca do Marcos já deve ter contado que estragou minha noite. Vou deixar a surpresa para amanhã. Dormiu como um anjo.

Cristina acorda no meio da madrugada, sua cabeça dói muito, sente um enjôo corre para o banheiro, coloca pra fora a garrafa de vinho mais o almoço. Volta para o quarto, olho no display do celular, nenhuma mensagem, fica angustiada, liga para a casa de Marcos.

- Má, me conta, transaram? Marcos responde com uma voz sonolenta.

- Sim, sim, transei até agorinha, mas porque ta perguntando isso há essa hora?

- Marcos!!!!!! Quero saber se a Helena transou com aquele potranca, não se você transou com seu namorado!!!! Gritou.

- Ei, fica calma. Você me liga a essa hora, me acorda e ainda quer que eu dê um relatório sobre Helena, porra Cris!!!!

- Me desculpe, desculpa ta. Estou nervosa. Má eu preciso saber.

- Cris eu não sei, falei com a Helena mas não posso afirmar que ela não ficou com a Alana, desculpe.

- Desculpa você Má, beijos e tenha uma boa noite.

- Vá dormir amanhã descubro e falo pra você, beijos. Marcos desligou o telefone e ficou com um pouco de remorso.”Será melhor para as duas omitir essa informação”. Voltou a dormir. .

Cristina custou a pegar no sono, voltou ao banheiro varias vezes durante a noite, não estava acostumada a beber. Teve uma noite péssima

Helena teve uma excelente noite. No dia seguinte , pulou cedo da cama. Um lindo sábado de sol, pensou. “Deus está conspirando a meu favor”. - Obrigada Deus por esse dia maravilhoso. Tomou seu café com tranqüilidade, pegou Zefinha no colo.

- Vou perdoar você só dessa vez, vê se não mente mais pra mim, por favor!!!

- Desculpe minha filha, mas o Marcos prometeu que você ficaria feliz com o que ele iria dizer, só por isso menti, não sou uma velha mentirosa. Pelo jeito ele tinha razão, você esta radiante.

- Estou mesmo mãe, estou muito feliz. Helena fazia planos. “ Vou tirar finalmente minhas férias na praia com muito sol e ao lado da mulher que amo”, “ Como fui idiota e não percebi antes que era só dizer as 3 palavrinhas mágicas”. Ligou para Marcos e para Betinho, marcou com os dois as 15:00 em frente ao prédio de Cris.

Cristina acordou com o toque insistente do telefone estava de ressaca, sua cabeça doía muito, agora fazia outra promessa “ Deus se tirar essa dor de mim prometo nunca, mas nunca mais beber”. Puxou o fio do telefone, não estava afim de falar com ninguém. Agora era seu celular que não parava de tocar. Olhou no display, Mãe. Atendeu com um breve oi.

- Cristina posso saber o que esta acontecendo, estou tentando falar com você desde 8:00 da manhã!!!!

- Mãe, hoje é sábado, acho que tenho o direito de dormir até mais tarde, não lembro de ter marcado algo com a senhora.

- Adivinha quem esta chegando no vôo das 14:00?

- Mãe me pessa tudo, menos pensar, não estou em condições.

- O Junior, ele decidiu vir antes do natal, queria te fazer uma surpresa.

- O quê? Quem?

- Filha já esqueceu do seu marido!!!!



Cristina não entendeu a movimentação em frente ao seu prédio quando retornava do aeroporto com seus pais e seu marido, que havia chegado de surpresa. Viu alguns fotógrafos, uma câmera montada, um carro de som.

- Será que estão filmando algum capítulo de novela? – perguntou sua mãe.

- Mãe não sei, não tenho a mínima idéia do que seja. Respondeu rispidamente, estava em um mau humor terrível. Entraram no prédio.



Helena chegou pontualmente às 15h. Aguardou por Marcos e Betinho ansiosa.

- Porra, vocês não são pontuais mesmo. Não posso começar sem testemunhas.

Certificou-se que Cristina estava em casa, foi até o carro de som e deu a ordem que poderiam começar.

O som foi ligado e a música “From This Moment On” era ouvida por todo o quarteirão.

From this moment, life has begun

From this moment, you are the one

Right beside you is where I belong.

From this moment on



From this moment I have been blessed.

I live only, for your happiness

And for your love.

I'd give my last breath,

From this moment on

O locutor começou a falar:

- Cristina Isabel, apareça na janela, por favor. Essa mensagem de amor é pra você.

Cristina ouve chamar seu nome. Não acredita de imediato que seja pra ela e olha timidamente por detrás da cortina. Sua mãe a empurra para a sacada e, do segundo andar, Cristina vê nitidamente a figura de Helena encostada em sua Audi preta acenando pra ela.

I give my hand to you with all my heart,

Can't wait to live my life with you

Can't wait to start.

You and I will never be apart,

My dreams came true because of you



From this moment, as long as I live

I will love you.

I promise you this.

There is nothing I wouldn't give

From... this... moment on.

Helena faz sinal para que o locutor continue.

- Cris, eu poderia ter feito de uma forma mais simples: olhar em seus olhos e dizer EU TE AMO, mas fiquei com medo que não acreditasse em minhas palavras, que não me aceitasse como tem feito desde que nos conhecemos. Reconheço que algumas vezes te magoei, peço perdão. Reconheço que tenho muitos defeitos, mas por você sou capaz de mudar. Com você, tenho certeza que serei uma pessoa melhor. Sei que meu passado é péssimo, fiz muitas bobagens, mas meu futuro está limpo, imaculado. Por isso, quero que faça parte dele. Quero dividir minha vida com você, quero te dar todo o amor que nunca ninguém teve.

Marcos chorava.

You're the reason. I believe in love,

And you're the answer to my prayers, from up above

All we need is just the two of us.

My dreams came true because of you.



From this moment as long as I live

I will love you

I promise you this

There is nothing I wouldn't give

From this moment



I will love you (I will love you)

As long as I live

From this moment on

A rua estava tomada por pessoas. Os moradores dos prédios instalavam-se nas janelas e varandas. Cristina não acredita no que ouvia nem assistia. Seu coração disparava de felicidade. Sua mãe está muda, mas seu pai, que se acerca das duas, puxa seu braço e fala irritado:

- Filha, essa loucura é pra você?

Nesse momento, ouve-se o barulho do motor de um helicóptero, que lanças pétalas de rosas brancas e vermelhas. O locutor volta a falar:

- Cristina, EU TE AMO muito, muito. Case comigo. Eu prometo te fazer feliz.

- Estou esperando você aqui em baixo pra levá-la ao céu.

- Quem é esse cara, Cristina? - pergunta o seu marido.

Nesse momento, o pai de Cristina vê Helena, Betinho e Marcos, abraçados pulando de felicidade e posando para os fotógrafos.

- Filha, qual daqueles dois fez essa palhaçada? Eu vou até lá quebrar a cara dele. Que absurdo fazer isso com uma mulher casada.

Cristina não respondia. Estava em estado de choque. Podia esperar tudo de Helena, menos uma atitude como essa. “Ela é louca, mas amo essa maluca”. Cris olha mais uma vez para a rua e vê os três acenando para que descesse. Quando tentou acenar, seu marido a puxou pelo braço e a arrastou para dentro do apartamento.





From This Moment On (tradução)

Shania Twain

Juro que sempre estarei ao seu lado. Eu daria tudo,

qualquer coisa e sempre cuidarei. Através da fraqueza

e fortaleza, alegria e tristeza, pelo melhor ou pior,

te amarei com a força de cada batida do meu coração



A partir deste momento a vida começou



A partir deste momento você será o único(a)

E bem ao seu lado é onde eu pertenço

A partir deste momento em diante



A partir deste momento eu fui abençoado(a)

Eu vivo somente para sua felicidade

E pelo seu amor daria meu último suspiro

A partir deste momento em diante



Eu entrego a minha alma com todo o meu coração

Não consigo imaginar minha vida sem você

Não consigo esperar....

Meus sonhos se tornaram realidade por sua causa,por sua causa.



A partir deste momento e enquanto eu viver

Eu vou te amar, eu te prometo isso

E Não há nada que eu não daria.

A partir deste momento em diante



Você é a razão por eu acreditar no amor,

Você é a resposta das minhas preces lá de cima

Nós precisamos somente de nós dois

Meus sonhos se tornaram realidade por sua causa



A partir deste momento e enquanto eu viver

Eu vou te amar, eu prometo isto

E não há nada que eu não daria

A partir deste momento

Eu vou te amar enquanto eu viver

A partir deste momento...

Capítulo 1: Quem é essa MUlher XIV


(por Cacau , adicionado em 18 de Dezembro de 2005)




CAPÍTULO 12





Enquanto Cristina passava por maus momentos com sua família, na rua Helena estava radiante.

- Vamos! Agora soltem os balões.

A música mudou e balões vermelhos, em forma de coração e com a frase eu te amo, foram soltos. Subiam e bailavam no ar ao ritmo da música: “Se você quiser eu vou te dar um amor

Desses de cinema/ Não vai te faltar carinho,/ Plano ou assunto ao longo do dia”.

Da sacada do apartamento, a mãe de Cristina estava encantada com a cena:

- Filha, venha até aqui. Olha que lindo!

Cristina livrou-se da mão de Junior e se posicionou ao lado de sua mãe observando a dança dos balões. A música prosseguia a toda altura: “Se você quiser eu largo tudo/ E vou pro mundo com você, meu bem/ Nessa nossa estrada/ Só terá belas praias e cachoeiras”.

Cristina não acreditava nos que seus olhos viam: Helena estava sobre o capô do carro cantando a canção com a mão no peito: “Aonde o vento é brisa/ Onde não haja quem possa/ Com a nossa felicidade/ Vamos brindar a vida meu bem/Aonde o vento é brisa/ E o céu claro de estrelas/ O que a gente precisa/ É tomar um banho de chuva”.

- Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaai – entoava o refrão, empolgada.

Cristina não pôde conter o sorriso. Nunca em sua vida imaginaria a poderosa Maria Helena fazer uma cena daquela, ao mesmo tempo patética, engraçada e romântica.

- Cristina Isabel, aquela sobre o carro não é a doida da sua chefe? – perguntou o pai de Cristina, acercando-se.

- Não sei. Acho que não. Daqui não dá pra ver direito.

A mãe insiste, apertando os olhos e tentando esticar o corpo para fora da sacada:

- Claro que é ela. Reconheceria aquela cara de pau a qulômetros de distância. Odeio essa mulher. Sempre fui contra que você trabalhasse com ela!

O pai de Cristina começou a irritar-se instantaneamente.

- Não é ela, pai. Tá louco?! Vamos entrar.

Lá em baixo, Helena era pura euforia: cantava, dançava, era fotografada e falava para a câmera de vídeo.

– Má, quero eternizar esse momento pois sei que riremos muito dele ainda – justificou para o amigo - Sei que nunca mais terei outra mulher em minha vida.

Marcos estava emocionado e não conteve as lágrimas quando viu o helicóptero lançar as pétalas de rosas e depois os balões sob a rua.

- Lê, você é louca e exagerada. Não imaginava que você seria capaz de fazer uma declaração de amor tão linda – exultou Marcelo, batendo palmas e abraçando Helena - Amei, amei! Foi exagerado, mas amei.

- Isso é pra calar a sua boca e da Cris. Vivem dizendo que sou insensível, durona. Eu sou um poço de sensibilidade! – respondeu Helena com um largo sorriso - Será que agora deixei claro pra todo mundo o que sinto? Tá certo que copiei tudo de um filme, mas o que conta aqui é que falei que a AMO . Tem alguma dúvida ainda, Marcos Rogério?

Marcos abraçou carinhosamente a amiga e deu um selinho em sua boca.

- Amiga, sei que não é tão insensível como faz questão de mostrar, mas dizer que é um poço de sensibilidade é demais! Se não fosse minha ajuda aqui, ó, duvido que teria tomado coragem.

Helena sorriu:

- A bicha tá se achando!

Betinho que estava com os olhos fixos no apartamento de Cristina, chamou a atenção da dupla:

- Ei, vocês! Não acham que a Cris tá demorando pra descer?

- Que nada: ela deve estar fazendo a mala. Ou você acha que ela é louca e vai continuar dizendo não pra mim?

Betinho, entre gargalhadas, comentou:

- Acho que ela vai é desaparecer...depois desse mico na porta da casa dela.

Helena arqueou as sobrancelhas:

- Você acha?

- Pôxa, Helana que puta mico! Eu sumiria do mapa por uns 10 anos até todo mundo esquecer... – disse, sorrindo.

Helena fez uma careta de preocupada, mas Marcos interveio:

- Liga não, Lê. Homens são assim mesmo: insensíveis, incapazes de entender o coração feminino. Ela deve estar se perfumando, colocando uma roupa bem bonita para se jogar em seus braços. Ou então, está esperando que a multidão saia da janela também – completou irônicamente.

Betinho entrou na conversa e disse:

- Faço uma aposta: ela não vem. Se vier é pra te dar uma surra. Talvez role um beijinho pela surpresa, mas como sempre, continuará dizendo NÃO.

- Sai, agorento! – disse, empurrando o rapaz de leve - Mas aceito a aposta. Não tenho a menor dúvida que a levo pra minha casa hoje. Ela vai ficar comigo pra sempre, cara!

Marcelo entra na conversa:

- Também vou entrar nessa. Aposto que ela vem até aqui, diz que sim, chora em seus braços e leva você para o apartamento dela para uma linda noite de amor.

Os três apertam as mãos e selam a aposta.

- Betinho, vá pegar umas cervejas. Essa espera está me deixando com a garganta seca. Traga umas latinhas para o fotógrafo e para o câmera. Eles já estão me olhando de cara feia.

Helena dispensou o carro de som, pois a vizinhança estava reclamando do barulho, mas ordenou que o fotógrafo e o câmera ficassem. Queria registrar o rosto de Cris dizendo: “ Sim, quero casar com você”.

- Lê, vou ter que concordar com Betinho: ela tá demorando muito.

- Liga pra ela, Má.

Marcos ligou para o celular de Cristina.

- Ei, Cris! Não vai descer? Podemos subir?

A voz de Cristina foi baixa e incisiva no aparelho:

- Marcos, não suba. Vou descer assim que puder. Me espera.

Disse isso e desligou. Marcos se voltou para Helena e comunicou:

- Lê, ela mandou esperar.

- Tá bom, né, desde que não tenha que esperar a minha vida toda. Amor tem limite também. Se ela acha que vou ficar mais de três horas aqui, está enganada – disse Helena, bancando a durona – Bom, vou esperar só por três horas. Nada mais. Só por hoje vou relevar essa desfeita.

Marcos ria da amiga.

- “Helena está apaixonada mesmo. Pra esperar por uma mulher, só pode estar de quatro”.

Marcos a abraçou pelos ombros e disse:

- Lê, pára de reclamar e bebe a cerveja.

Lá no apartamento, o pai de Helena tentava encontrar respostas para o que estava acontecendo:

- Filha, não vou perguntar novamente; Qual daqueles dois lá embaixo é o canalha que está te paquerando. O sacana só poderia mesmo ser amigo da canalha da sua chefe! Vou até lá acertar as contas com esse safado agora mesmo – seja lá quem ele for! Se não disser quem é, eu descubro e quebro a cara dele de qualquer jeito.

Após derramar sua fúria, o pai de Cristina percebeu que estava se exasperando sozinho.

- Júnior, você não vai dizer nada, vai ficar sem tomar uma atitude? Que droga de marido é você? Ser corno é admissível, mas manso é demais.

O pai de Cristina estava indignado. Andava de um lado para o outro, resmungando, falava só. O marido de Cristina continuava sentado na poltrona, bebendo calmamente sua cerveja.

- Dr. Adalberto, sua filha é linda. É natural que os homens fiquem loucos por ela. Ficamos separados todo esse tempo. Sua filha não é santa, mas agora estou de volta e esse romance vai acabar, não é, Cris?

Cristina ouviu aquilo e ficou calada. O seu marido continuou falando de maneira cínica:

- Portanto, fique calmo e beba uma cerveja.

O pai de Cristina sentou e aos poucos foi deixando que as palavras de Júnior o acalmassem. Cristina disfarçava sua aflição, olhava pela janela e fugia da conversa com o pai.

- Cristina Isabel, estou esperando uma explicação. Pensa que vai enrolar a família toda? Fale logo quem é esse sujeito. Como o conheceu?

- Pai, eu não quero nada com ele, mas vou fazer o quê se ele gosta de mim? Ele deu a prova de amor mais linda da minha vida.

Júnior se indigna e altera a voz:

- Peraí, Cris: fiz várias pra você. Não tão exageradas, mas fiz.

- Nossa, filha. Ele deve ser muito rico e amar muito você pra mandar um helicóptero cheio de flores e depois encher o céu de balões. Ai, ai, foi tão lindo - suspirou a mãe de Cris.

Júnior balança a cabeça e comenta sarcástico:

- Essa é minha sogra: sempre pensando no lado financeiro do amor.

O tempo foi passando. Helena, Betinho, Marcos, o fotografo e o câmera já estavam praticamente bêbados. As latinhas de cerveja estavam empilhadas no capô da Audi. Helena cansou de esperar e ligou ela mesma para Cristina. O telefone toca e o pai de Cristina antecipa-se para atender antes de Helena. E antes que ele dissesse algo, Helena dispara:

- Cris, é a Helena. Você não vai descer? Se não descer agora, vou até ai te buscar.

O pai de Cristina não acredita no que está ouvindo e esbraveja:

- Quem é? Helena?! Eu ouvi direito? Maria Helena? Foi você quem montou essa palhaçada pra minha filha?

Helena ficou muda ao ouvir a voz do homem do outro lado da linha. No mesmo momento o pai de Cristina começa a gritar.

- Cristina Isabel, diga que estou sonhando! Você não está saindo com a sapatão da sua chefe! Por favor, diga que é coisa da minha cabeça.

Enquanto isso, Helena, ao telefone, escuta as ofensas do velho e grita do outro lado, indignada:

- Ei, você não pode falar assim! Tá pensando que é quem?!

O velho responde, gritando:

- Sou o pai dela. E não costumo falar com sapatão! - desligou.

Do outro lado da linha, Helena está atônita:

- Puta que o pariu, caralho, caralho! Agora fudeu tudo. Caralhooooooo de asa!

Marcos aproxima-se apreensivo. E Betinho pergunta aflito:

- Que foi, Lê?

- Caralho, Betinho: ela não vai me perdoar nunca! Caralho! Agora entendi porque ela não desceu: o pai dela está lá, viu tudo e agora sabe quem fez a porra da declaração de amor – vai dizendo Helena, com uma expressão preocupada – Caralho, porque não mandei flores ou um e-mail? Sempre fui tão prática. Quem mandou ouvir a porra do meu coração?!!!!

- Calma Lê - disse Marcos - Vou ligar para o celular dela.

Lá em cima, a confusão está armada. Cristina ouve o celular tocar, mas não pode atender. Junior a segurava pelos ombros transtornado.

- Cris, quero uma explicação. Ser trocado por outro cara, tudo bem, mas por uma mulher é demais. Porra! O que está acontecendo com você?

Cristina desabou em um choro compulsivo. Não sabia o que falar, não sabia o que fazer. Foi pega de surpresa. Queria que Helena estivesse ali ao seu lado, mas ao mesmo tempo sabia que seria pior se ela estivesse ali. O celular tocava insistentemente. Cristina desvencilha-se de Júnior, pega o celular e se tranca no quarto. Quando está só, atende a ligação:

- Cris, é o Má. Está tudo bem? O que está acontecendo ai? Pare de chorar, querida, por favor.

Helena toma o celular das mãos de Marcos e começa a falar aflita:

- Cris, sou eu. Me desculpe, me perdoa, meu amor. Eu queria fazer uma surpresa, queria fazê-la feliz, só isso. Eu não sabia que seu pai estava aí.

Cristina soluçava. As palavras não saiam. O desespero de Helena só aumentava.

- Meu amor, estou subindo. Vou até ai falar com seu pai. Fiz a merda agora vou consertar.

Cristina desespera-se:

- Não, por favor não venha. Você só vai piorar ainda mais as coisas pra mim.

Helena ficou triste ao ouvir essas palavras. Cristina parou de soluçar e Helena pode ouvir os berros do pai de Cris, batendo na porta do quarto.

- Tô subindo – disse isso e desligou. Virou para Marcelo e Betinho e anunciou: - Meninos, vou até lá. A coisa tá feia. O velho tá armando o maior barraco. Fiz a merda e vou tentar arrumar ou piorar ainda mais.

- Nós vamos com você – disse Marcelo.

Os três subiram calados e apreensivos. A bebedeira passou com o susto. Tocaram a campainha. A porta abriu-se. A mãe de Cristina estava com os olhos vermelhos e inchados. Helena passou pela mulher sem dizer uma palavra, saindo à procura da origem dos berros. Encontra o pai de Cristina esmurrando a porta. Segura o braço do homem e diz:

- Descarregue toda sua raiva em mim. Cristina não tem culpa alguma da bobagem que acabei de fazer. Eu que sempre insisti, mas ela nunca quis ficar comigo. Portanto, se quer bater em alguém, bata em mim.

O velho não pensou duas vezes: mandou um soco no olho esquerdo de Helena, que caiu com a força do golpe. Marcos segurou o velho que avançava novamente sobre Helena. Os dois rolaram no chão. Júnior foi ajudar o sogro e foi golpeando por Betinho. A confusão estava armada. A mãe de Cristina começou a gritar para que Marcos soltasse seu marido. Cristina abriu a porta do quarto e não acreditava no que via.

- Párem com essa briga agora!! - disse em tom forte e incisivo – Marcos, largue o pescoço do meu pai. Júnior, páre agora de bater no Betinho. Caso contrário, chamarei a policia e mando todos, todos mesmo, sem exceção, pra delegacia.

Aos poucos, o grupo foi se separando, corpos foram sendo liberados pelas mãos, mas a cara de fúria ainda permanecia. Cristina ficou angustiada quando viu o rosto de Helena: ela tinha um corte feio abaixo do olho, que estava inchado.

- Pai, mãe, Júnior: quero que saiam agora da minha casa.

Indignado, Júnior intervêm:

- Cristina, essa casa também é minha. Esqueceu? Não vou sair daqui - disse e cruzou os braços.

O pai de Cristina, ao ouvir isso, toma fôlego e diz:

- Também não vou sair. Quero uma explicação pra tudo isso agora.

Cristina fica ainda mais séria e anuncia:

- Tudo bem. Se vocês não saem, saio eu. Não dá pra conversar com a cabeça quente – e olhando para Marcelo, Betinho, diz: - Vamos, meninos.

Ela diz isso e pega a mão de Helena, tentando levá-la pra fora. Mas Helena resiste e pára o movimento.

- Cris, não vou sair. Preciso conversar com sua família e explicar tudo. Não adianta fugir da situação.

- Helena, por favor estou pedindo. Vamos deixar essa conversa pra depois. Quero falar com você antes.

O marido de Cristina tentou impedir que ela saísse, mas Marcos colocou-se entre eles e Betinho foi abrindo caminho para que as duas passassem. No elevador Betinho tirou a camisa e entregou à Cris para que ela estancasse o sangue do corte no rosto de Helena. Cris pega a camisa e carinhosamente começa a limpar o ferimento. Helena a olha com uma cara sacana. Mas depois se internece quando diz:

- Cris, desculpe-me por tudo, pela confusão de agora, mas responda: você quer ficar comigo? Cristina inesperadamente dá um tapa no braço de Helena.

- Ai!!!

- Isso é por ser exagerada e pretensiosa.

Em seguida dá um leve beijo em sua boca.

- E isso é porque te amo.

Betinho grita.

- Ganhei!

Os três se entreolharam e caem na gargalhada. Cristina não entende o que está acontecendo.

- Ganhou o quê? Vocês estão rindo do quê? Aprontaram a maior confusão na minha vida e acham graça???

- Cris, deixa pra lá. Somos bobos mesmo - disse Betinho.

Cristina olha desconfiada para o grupo, mas deixa passar. Estava preocupada. O rosto de Helena estava feio. Desceram no oitavo andar.

- Cris, por que subimos?

- Vamos ao apartamento de uma amiga. Você precisa cuidar desse olho urgente.

Tocam a campainha. A loira da boate abre a porta. Helena fica estática. Não move um só músculo ao reconhecer a mulher.

- Nossa! A maluca apaixonada e romântica aqui na minha porta. Que honra!

Helena fica igual mula empacada na porta da mulher.

- Não vou entrar ai.

- Helena, larga de bobagem. Vem.

- Já disse: N Ã O vou e-n-t-r-a-r!!!!

- Como não Helena?! Precisa dar um jeito nesse corte. A Bete é enfermeira. Pode fazer um curativo. Além disso, quero conversar com você – diz Cris impaciente.

Helena vocifera:

- Como você pode me trazer na casa da sua amante?

- Eita mulher ciumenta que você foi arrumar, Cris. - diz Bete que segura no braço de Helena e a puxa, mas Helena faz força e resiste. Betinho e Marcos a empurram Helena para dentro do apartamento.

Bete comenta risonha:

- Parabéns, Helena. Não foi muito criativa, mas foi corajosa. Fazer uma declaração de amor como essa, precisa ter coragem. Tô vendo também que essa coragem teve um preço. Tá feio seu olho, heim?! Vou pegar umas coisas pra fazer um curativo.

- Ei, eu não sou ciumenta e não sou corajosa. Apenas expresso meus sentimentos. Só isso, mas já estou começando a ficar arrependida.

- Por que? - perguntou Cris baixinho.

Helena levou Cris para um canto.

- Cristina, você tem coragem de me trazer para o apartamento da sua amante?! Agora entendo porque você me ignorou por tanto tempo. Estou me sentindo uma idiota - disse com a cabeça baixa.

- Helena, pare de bobagem. Nunca tive nada além de amizade com a Bete.

Cristina segura seu queixo e beija sua boca. Beija devagar, com carinho, com ternura. Abraça o corpo de Helena e ficam assim por um tempo.

Helena fala baixinho, quase num tom infantil:

- Jura que você não teve nada com ela.

- Juro, juro, juro. Helena você é a única mulher que quero, dá pra entender? Só quero você.

Bete chega com a caixa de primeiros socorros. Faz com que Helena se sente e começa a limpar seu rosto e fazer o curativo.

- O que aconteceu com seu olho? Não acredito que a Cris tenha feito isso depois da declaração...

Betinho e Marcos começaram a narrar a cena. Falavam e riam da situação ao mesmo tempo. Helena e Cristina estavam de mãos dadas e permaneciam em silêncio. Cada uma absorta em seus pensamentos.

- Prontinho. Parou de sangrar. Um rosto tão lindo machucado assim é um pecado.

Helena piscou o olho bom para Bete.

- Você acha??

Logo em seguida soltou um “Ai!”. Cristina havia aplicado um beliscão.

- Bete, posso usar seu quarto um minuto? Preciso conversar a sós com a Helena.

- Claro, Cris. Você já conhece o caminho. Fique à vontade.

Ao ouvir isso, Helena olhou desconfiada para Cristina. Entraram no quarto e mal Cristina fecha a porta, é agarrada por Helena.

- Helena, pare. Quero falar com você. Se continuar me beijando assim não será possível - disse afastando seu corpo.

- Ok, tudo bem - disse fazendo bico.

O silêncio reinou por um tempo. Helena foi a primeira a falar.

- Cris, não queria que sua família soubesse desse modo. Estou consciente da confusão que arrumei, mas quero ficar ao seu lado, quero que vá morar comigo. Sei que vai ser uma barra enorme, mas tenha certeza que pode contar comigo pra tudo.

- Helena, lutei muito, mas muito mesmo pela minha liberdade financeira, pelo meu reconhecimento profissional, pelo respeito da minha família. Se eu ficar com você terei que abrir mão de tudo que conquistei. No escritório serei vista como a namorada ou a mulher da dona e não como a Cristina Isabel, assistente da presidente da empresa. Meu pai não vai me perdoar nunca, talvez não fale comigo nunca mais. Minha mãe vai me dar sermões, dizer que estou doente, vai me mandar falar com o padre. Te amo, hoje tenho certeza disso. Tive alguns amores, umas paixões, mas nunca me senti completa como me sinto com você. Não sei ficar longe do seu olhar, sem seu sorriso sacana. Fazer amor com você é algo inexplicável. É muito bom. Sabe, tenho medo que você enjoe de mim e me largue como fez com suas outras namoradas. Estou disposta a abrir mão de tudo isso. Quero correr esse risco. Sei que você vale a pena, mas você tem que ser sincera, quero que diga a verdade.

- Fale, o que quer que eu diga?

- Que realmente esta disposta a ficar ao meu lado, que me ama e que, principalmente, vai me respeitar. Helena não vou ser feita de palhaça por você, está entendendo?

Helena estava encantada não imaginava ouvir essas coisas. Ajoelhou-se.

- Cristina Isabel, EU TE AMO. Prometo te amar e respeitar, prometo fazê-la feliz. Prometo que seus dias nunca serão iguais ao meu lado. Prometo cantar para você todos os dias, prometo.....

- Ei, Helena, já entendi – interrompeu, sorrindo. - Chega. Prometa só o que você pode cumprir!!!!

E completou:

- Lê, para que eu possa ficar com você peço uma coisa. Dê um tempo para que eu converse com minha família e com meu marido. Não posso largar tudo de uma hora pra outra. Não sei ainda o que dizer. Estou pensando em ir até lá e dizer que foi um mal entendido, que não tenho nada com você. Assim as coisas esfriam e tocarei no assunto com calma.

- Cris, já está feito. Por que mentir pra depois desmentir? Será pior.

- Conheço meus pais. Se jogar tudo na cara, eles não vão entender. Irão me atormentar pelo resto da minha vida. Você não entende. A gente pode namorar escondido até eles concordarem.

- Nunca fiz isso. Namorar escondido?!! Não sou criminosa. Desde quando uma mulher amar outra mulher é crime? Garanto que se eu falar com seu pai e oferecer uma boa grana pra recuperar a empresa dele, vou ser aceita. Serei a nora que ele pediu a Deus.

- Helena, você acha que o dinheiro compra tudo? Acha que todo mundo se vende?

- Cris, sou assumida desde meus 14 anos. Nunca escondi nada de ninguém. Já sofri muita discriminação, preconceito e a duras penas descobri que todo mundo tem seu preço. Alguns pedem pouco, mas outros pedem mais – olhou Cristina nos olhos e disse: - Cris, acredite: todo mundo se vende por algo. Seu pai tem um preço e eu estou disposta a pagar pra ter você ao meu lado e vivermos todos em paz e em harmonia.

- Helena, você acha que sou uma mercadoria? Acha que estou à venda?

- Cris, você me entendeu!!!! – reagiu com veemência - Não quero comprar você e, sim, a paz para que possamos viver felizes. Só isso.

- Conheço meu pai. Ele tem caráter. Nunca se venderia. Deixa eu fazer do meu jeito, só dessa vez, por favor.

- E para o seu marido vai contar a verdade?

- Não sei, Helena. NÃO SEI.

- Se estou entendendo, vou virar sua amante. É isso? Se essa é sua proposta pra ficar comigo, tô fora!!! Quero você como minha mulher em todos os momentos. E quero já. Não vou abrir mão disso.

Cris aproximou-se devagar e a abraçou. Disse baixinho em seu ouvido:

- Transa comigo agora.

Helena deu-lhe um empurrão.

- Não transo nem trepo com quem amo. Pelo jeito você não entendeu nada mesmo. Acha que continuo a mesma e que só quero trepar com você. Porra, eu quero é fazer amor com você, como fiz das outras vezes. Sabe? Acho que você só me usou mesmo: só quis trepar comigo. O Juninho deve ter o pau pequeno, por isso escolheu a trouxa aqui. Se quiser fazer amor comigo, sabe onde me encontrar. Saiu e bateu a porta.

Capítulo 1: Decisões


(por Cacau , adicionado em 22 de Janeiro de 2006)




Helena saiu do quarto furiosa, deixando Cristina atônita. Entrou na sala furiosa. Viu Betinho e Marcos bebendo, metidos em um papo super animado com Bete.

- Estou indo - resmungou.

Cristina entrou correndo na sala e segurou em seu braço:

- Helena, ainda não terminamos de conversar. Dá pra ficar calma e me ouvir, por favor?!

- Ouvir mais o quê? Falar o quê? Sabe, Cris, as coisas que realmente conquistamos ninguém nos tira. Você é uma excelente profissional, provou isso por diversas vezes na empresa. Tenho certeza que as pessoas te respeitaram por sua capacidade não porque será a mulher da “grande” Maria Helena!!! Independência financeira você vai continuar tendo. É, você terá seu dinheiro. Mas que culpa tenho eu se nasci e vou morrer rica? Se posso dar a você tudo que desejar? Afinal, trabalho tanto pra quê? E quanto aos seus pais, se não respeitarem sua opção sexual é porque nunca te amaram, nunca quiseram te ver feliz. Sei que é difícil entender, mas se eles a desprezarem é porque não merecem a filha maravilhosa que você é.

Depois, mais calma, completou:

- Cris, tudo o que você conquistou de verdade não vai perder, eu prometo. Se perder é porque não tinha conquistado.

Helena sentou-se. Sentia-se exausta.

- Sabe, achei que você fosse uma mulher forte e de coragem, mas acho que me enganei. Não vou fugir, mentir depois de tudo que fiz hoje. A minha proposta é a seguinte: descemos, falamos com seu pai, sua mãe, seu marido, cachorro, gato, papagaio, e quem mais estiver lá. Se o seu pai quiser me bater até cansar eu não vou me importar, desde que depois você venha morar comigo. Eu não me importo com nada com que eles possam fazer ou dizer.

Cristina sentou-se ao seu lado, acariciou seu cabelo.

- Helena, Helena, desculpe se a decepcionei. Quero ficar com você, mas preciso desse tempo. Preciso resolver tudo com calma. Por favor, me dê um tempo.

Helena olhou incrédula para Cristina, olhou para os amigos que presenciaram seu desabafo, procurava um apoio, uma ajuda. Helena segurou na mão de Cris e disse:

- Cris, minha proposta está feita. Não vou mudar de idéia. É agora ou nunca. Depois que eu sair por aquela porta não terá volta. Ou você vem comigo ou me esquece, porque eu vou te esquecer!!!

Cristina não acreditava no que estava ouvindo. Sentia-se pressionada, colocada contra a parede. Marcos abriu a boca lentamente e tentou ponderar. Conhecia bem a amiga e sabia que ela estava falando sério:

- Lê, não faz assim. Não diga algo que poderá se arrepender depois: pense melhor. Vamos pra casa... não, vamos a um bar beber e colocar as idéias em ordem, esfriar a cabeça. Amanhã vocês conversam com calma. Não dá pra resolver a vida de vocês assim de uma forma tão impensada.

Helena retrucou agitada:

- Impensada, o cacete! Decidi há muito tempo que quero a Cris como minha mulher, companheira. Você e ela sabem muito bem disso. Má, eu não vou me esconder e viver uma vida de faz-de-conta com ela só pra poupar sua família.

Helena levantou-se.

- Você vem ou não comigo?

Cristina permanecia sentada e olhava perplexa para Helena, mas não conseguia levantar ou tomar qualquer outra atitude.

Helena empertiga o corpo e diz em tom formal:

- Então fui. Vejo você na segunda, no escritório, senhorita Cristina Isabel, e daqui por diante, só tratarmos de assuntos profissionais. Ahh, isso se seu papai deixar é claro. Bom, Bete, obrigada pelo curativo e desculpe a confusão. Ahh, agora este rostinho lindo está livre. Se quiser, pode pegar meu telefone com a Cristina.

Beijou o rosto de Bete e foi embora. Marcos foi socorrer Cristina que voltou a chorar. Betinho saiu correndo atrás de Helena, encontrou-a dentro do elevador.

- Poxa, Helena acho que você foi muito dura com ela. Podia dar um tempo para as coisas ficarem mais tranqüilas.

- Porra, Betinho, tem coisas que não dá pra protelar. Essa era a hora, o momento certo. Ir até lá segurando minha mão e falar: mãe, pai, corno, essa é a mulher que vou viver daqui por diante, vocês aceitando ou não. É simples. Continuar mentindo pra quê????

- É, eu sei, mas não é tão fácil assim para algumas pessoas, Helena. Pode ser fácil pra você, pra mim, que já tomamos muita porrada da vida. Estou com pena dela. A Cris gosta muito de você. Não foi uma escolha fácil pra ela, tenho certeza.

A porta do elevador fechou, deixando-a sozinha, com seus pensamentos. Mal chegou à rua, foi surpreendida pelos flashes da máquina fotográfica. O câmera começou a filmar. Helena gritou, irritada:

- Hei, pode parar, o show acabou! Podem ir.

Tanto o câmera como o fotógrafo já estavam bêbados e responderam, com a voz embargada:

- Não “vamo” não. “Vamo” é terminar o trabalho conforme combinado.

- Ei, já disse que está acabado! – atalhou a conversa, segurando o câmera pelo colarinho. O fotógrafo continuava tirando fotos de Helena, que arrancou a máquina da mão dele. Quando ia partir pra bater no fotógrafo, Betinho a segurou:

- Helena, calma, calma. Ele não tem nada a ver com o que aconteceu lá em cima, fica calma.

- Me larga Betinho, o cara é folgado! Já estou calma. Tá vendo: tô calminha. Voltou-se em direção aos dois rapazes bêbados e disse, rispidamente:

- Mandem a conta do trabalho para o meu escritório como combinado.

Entrou no carro, viu seu rosto no espelho retrovisor. O olho atingido estava praticamente fechado de tão inchado. Teve vontade de chorar, mas não o fez. A raiva era maior.

- Lê, amiga, fica bem. Tome um banho frio e descanse. Durma um pouco e amanhã, tenho certeza, você vai encontrar um meio de resolver essa bagunça. Você sempre encontra um meio. Você é a grande e maravilhosa Maria Helena, minha amada chefe e minha amiga. A mulher que tanto admiro por manter a cabeça fria enquanto todos estão perdidos.

Betinho ia afastando-se, quando lembrou:

- Ahh, se tiver problemas com a família pitybul é só me chamar.

Helena sorriu e agradeceu. Desceu do carro e abraçou o amigo. Depois, deu partida e saiu sem rumo. Deu umas voltas e parou onde sempre ia quando as coisas não estavam bem.

- Ahh, sua safada! Estava morrendo de saudades. Agora que é mãe nem liga mais pra mim. Vem cá e me dá um abraço! - Bia correu para Helena latindo e fazendo a maior festa.

Logo em seguida apareceu Carol e Luca correndo com os cinco filhotes de Bia.

- Nooossa, como nossa família cresceu. Vi vocês bebezinhos e agora estão enormes!

“A Esther deve estar querendo me matar com essa cachorrada toda”, pensou, dando um leve sorriso.

A confusão estava armada. Helena, os cachorros e as crianças rolavam pela grama, ao mesmo tempo em que os seus sobrinhos a beijavam, era lambida pelos cachorros. Depois de um tempo, sem fôlego, sentou-se na grama.

- Tia Lê, o que aconteceu com o seu olho? - perguntou Luca, preocupado.

- Nada de mais, querido. Estava andando de bicicleta. Ai não vi a árvore e bummmm: bati meu olho. Mas vai ficar bom logo, não se preocupe. Cadê a mãe e o pai de vocês?

Carol adiantou-se:

- Titia Lelê, eles foram ao hospital buscar minha irmãzinha. Mamãe disse que papai Noel deixou a minha irmãzinha no hospital e que ela será nosso presente de natal. Mas tia não quero ela de presente...nós podemos sair e comprar uma boneca bem bonita pra mim?

“Caracas! Não acredito que vou perder o nascimento da Maria Helena! A Esther vai me matar!”

- Claro, meu anjo. Vamos ao shopping e compraremos tudo que você quiser, tudo bem? – virou-se para o menino e perguntou: - Luca, tem muito tempo que eles saíram? E porque eles não me ligaram?

- Sei não, tia. Acho que tem umas duas horas. Papai ligou sim, mas você não atendeu o celular.

Helena tirou o aparelho do bolso e viu que estava sem bateria. “Que droga”. Correu para dentro da casa e ligou para Gilberto.

- E ai pai do ano, como vão as coisas por ai? Não era pra ser só no final do mês? Já nasceu? A Esther está bem?

- Ei, Helena! Dá pra fazer uma pergunta de cada vez? Realmente era pra ser no final do mês, mas desde que a Esther colocou seu nome no bebê, que ela está agitada. Acho que está querendo sair pra dizer que não aceita esse nome - debochou Giba, para depois acrescentar tranqüilo: - Ainda não nasceu. E a Esther, tirando as dores, o inchaço, e o fato de que a cada cinco minutos tem alguém colocando o dedo em suas partes íntimas, está ótima!

- Você é muito bobo e palhaço! – brincou Maria Helena - Estou indo pra ai. Giba, levou a máquina e a filmadora, né?

- Claro que não. A Esther ia me matar. Mas contratei uma equipe especializada. Já estão a postos.

- Parabéns, Giba assim é que se faz. Tô chegando.

As crianças acercaram-se de Maria Helena, puxando-lhe a roupa:

- Tia Lelê: quero ir ver a mamãe e o neném. Depois quero ir ao shopping.

- Eu também quero! – disse Luca.

- Mas, crianças, lá vocês não podem entrar. Terão que esperar aqui. Volto depois que o bebê nascer e ai faremos muitas compras, tudo bem?

Carol fez bico e começou a chorar baixinho. Luca sentou-se emburrado no sofá.

Maria Helena revirou os olhos e deixou os braços penderem ao longo do corpo, cansada.

- Tá bom, tá bom! Levo vocês, mas prometam que na farão bagunça, barulho. Entraremos escondido, tudo bem?

Carol pulou em seu colo e encheu o seu rosto de beijos.

- Tia Lê, eu te amo – disse, acompanhada pelo irmão.

- Eu sei, eu sei...mas agora vamos.

As crianças saíram apressadas, puxando Helena pela ponta da blusa. Quando chegaram ao hospital, Maria Helena teve que subornar duas enfermeiras com seu charme, dizendo que estava à procura de um anjo para curar seu olho. Enquanto ela conversava com as enfermeiras, as crianças entraram no quarto. Gilberto levantou-se da cadeira espantado.

- Helena, tá maluca! Por que trouxe as crianças? – e depois, quando viu o olho de Maria Helena, perguntou: - E o que foi isso no seu olho?

- Ué, a irmã deles vai nascer e eles não podem participar, por que? Olha a discriminação!!! Esse direito está adquirido no estatuto da infância e do adolescente. Você sabia que pode ser processado por negar esse direito?

Gilberto estava nervoso com o nascimento da filha e depois dessa, não estava suportando. Ia ter um treco.

- Ahhh, meu Deus! Só você mesma pra usar um argumento tão forte e mentiroso ao mesmo tempo. Mas ainda não explicou o olho. Tá feio, heim!

- Bom, estava eu andando de bicicleta...ai apareceu uma....hummm, bom, uma cobra no meio do caminho. Ai cai e bati meu olho em uma pedra.

As crianças que estavam ouvindo a história com os olhos arregalados iam abrindo a boca para contestar a versão dos fatos, quando Maria Helena fez um sinal de silêncio. Gilberto percebeu a cena e sorriu levemente:

- Bom, vou acreditar nessa desculpa esfarrapada agora. Depois falamos sobre isso.

Sentaram em uma sala de espera confortável com um telão onde apareciam os bebês que estavam nascendo. Enquanto esperavam, Helena e Gilberto fumavam um charuto, as crianças bebiam refrigerantes e comiam muito salgadinho. De repente aparece a imagem de Esther no telão e logo em seguida aparece a figura mais linda e esperada da família. Helena e Gilberto ficaram emocionados e começaram a chorar, abraçados.

- Gilberto, você é o fabricante de joelhos mais lindos do mundo – disse Maria Helena, sorrindo entre as lágrimas - Parabéns e obrigada por me dar as coisas mais preciosas da minha vida.

- Sua boba – disse Gilberto fungando – Eu amo tanto a sua irmã e as crianças. Eu é que tenho a agradecer por todo o apoio que você me deu e que me dá.

Ele se abraçou a ela, mas Maria Helena disse, fungando e mudando o tom:

- Vamos largar a rasgação de seda e ver as mulheres da nossa vida.

- Espere aqui com as crianças que já volto - diz Gilberto.

Minutos depois, Maria Helena está se divertindo com as crianças quando é surpreendida com a chegada de sua mãe.

“ Ahh, meu Deus. O trem da alegria vai virar o trem fantasma agora”, pensou contrariada.

- Tudo bem, dona Irrita?

- Maria Helena, pare de fazer deboche de mim na frente das crianças – repreendeu a senhora, com ar sério – O bebê já nasceu?

- Acabou de nascer. O Gilberto foi verificar se Esther está no quarto.

- O que aconteceu com seu olho? Nossa, está horrível. Aliás, você está horrível!!!

- Obrigada por levantar minha auto-estima, mãe. Estou cansada de explicar o que aconteceu com meu olho. Carol, conte à vovó o que houve com o olho da tia Lê.

- Vovó, a tia Lelê estava andando de bicicleta. Ai veio um caminhão enorme e... bummm! Bateu no olho dela.

- Helena, você está ensinando a menina a mentir?

- Não, ensino ela contar estória. Todo mundo gosta de ouvir uma estória, portanto damos estória. Essa é minha garota! – disse Maria Helena, agarrando a sobrinha, estalando um beijo na sua bochecha gorda.

-Esther é maluca: não pára de ter filhos do irresponsável e ainda vai colocar o seu nome no bebê. Já imagino como será essa criança com o sangue ruim do pai e o seu nome. Não vai ser normal!

Maria Helena, ainda com Carol nos braços, sentiu o sangue ferver e respirou fundo.

- Com certeza não será uma pessoa comum. Terá o coração bom do pai e a firmeza de caráter da tia. Só com esses dois elementos ficará livre do lado mesquinho e medíocre da avó – respondeu rispidamente, mas em tom baixo - Se veio até aqui pra estragar nossa alegria com seus comentários desnecessários, pode dar meia volta e sumir daqui. Aliás, podia viajar por uns dez anos. Assim essa criança não terá contato com o lado negro da família.

A velha senhora inflou o peito e fez uma cara contrariada:

- Já começou a me atacar, né? Você faz isso por hobby, por ciúme da sua irmã? ou por que é maluca mesmo?

- Errou. E porque te odeio. Só por isso.

Gilberto apareceu na porta e apartou a briga:

- Ei, vocês duas! Por favor, não briguem aqui...principalmente na frente da Esther. Ela está cansada. Precisa de carinho e sossego nesse momento...

- Bom, vamos ver a personagem principal – respondeu Maria Helena, dando as costas para a mãe. – Giba, onde fica o berçário?

- Por aqui.

Todos saíram felizes, menos dona Rita, que mantinha sua altivez. Helena não se cansava de olhar para o bebê. Apaixonou-se de pronto. Estava orgulhosa, pois aquela coisa fofa teria seu nome. Olhava para Gilberto e de súbito bateu um pouco de inveja. Nunca estaria ali na posição dele como pai. A imagem de Cristina surgiu em sua mente. Adoraria ter um filho com ela, adoraria ter uma família só dela. Adorava os sobrinhos, mas sentia a necessidade de ter seu próprio lar com sua mulher e filhos. Imaginava estar ali, olhando e admirando seu filho com Cristina, com a mesma cara de bobo e orgulho que Gilberto estava. Passou um tempo assim divagando. Sabia que não tinha deixado chance para Cristina. Sentiu um leve arrependimento, mas tinha certeza que fez a coisa certa. Abanou a cabeça e os pensamentos sombrios, para compartilhar a alegria da família. Foram visitar Esther, que parecia ter saído de uma batalha.

- Maninha, ela é linda. É a minha cara – exultou Helena, abraçando-se a Esther.

- Espero que não tenha nascido com o olho roxo e inchado como o seu – gracejou Esther, escondendo uma careta de dor – Lê, o que aconteceu com seu olho?

- Carol, conta pra mamãe o que houve.

- Mamãe, a tia Lê estava andando de bicicleta e veio um ônibus e um caminhão e...bum! Bum no olho dela.

Esther, mesmo cansada, sorria da estória da filha.

- Esther, pare de rir dessa bobagem! – Interveio dona Rita indignada - Não vê que Helena está ensinando a Carol a mentir?

- Dona Irrita, já disse: Carol será uma artista. Ela está apenas criando fatos – defendeu Maria Helena - Pare de implicar com a imaginação da Carol!

E olhando para Esther, Helena disse em tom carinhoso:

- Maninha, não se preocupe. Cuidarei das crianças e dos cachorros enquanto você tira férias aqui na maternidade.

- Você quer me matar de preocupação? Cuidar das crianças e dos cachorros? Sei! Quando eu chegar na minha casa, estará uma verdadeira bagunça. Helena, pode deixar que o Gilberto se encarrega disso.

- Ei, maninha...confia em mim, por favor!!! Por favor!! – Maria Helena ajoelhou-se e pediu, piscando um olho só.

- Tudo bem, mas com algumas condições. Está proibida de comprar qualquer coisa, entendeu? Ahhh, deixe que cozinheira faça tudo como combinei. Não mude o cardápio das crianças, por favor.

- Tá bom, tá bom... – respondeu - Que coisa chata. Vamos meninos. Acho que sua mãe tomou muito soro e lavou o cérebro. Esther, sei ser responsável, sabia? Pode deixar comigo. Tudo estará bem – disse, beijando a irmã. Saiu e foi direto ao shopping com os sobrinhos. Mas fez com que eles guardassem segredo da escapolida.

Cristina ficou por um tempo no apartamento de Bete. Marcos ouvia seus motivos, seus medos, suas explicações. Mesmo sem concordar, Marcos dava apoio à amiga, mas sabia que seria difícil fazer com que Helena voltasse atrás na decisão tomada. Cristina voltou para o seu apartamento com medo e sem saber como lidar com a situação que a esperava. Abriu a porta receosa. Não ouviu vozes, apenas avistou Junior sentado olhando para o nada com uma lata de cerveja na mão.

- Cadê meus pais, Junior?

- Foram embora envergonhados. Seu pai disse que você não é mais filha dele.

Cristina sorveu um gole da cerveja de Junior, ficou observando seu rosto, aquele homem que ela achava que conhecia tão bem e que agora lhe parecia um estranho, um invasor.

Junior quebrou o silêncio.

- Cris, meu anjo, posso saber o que aconteceu conosco? Com você?

Junior segurou a mão de Cristina com carinho.

- Junior, o que aconteceu conosco, você já sabe. Viramos amigos, irmãos. Nossa relação como casal acabou há muito tempo. Agora comigo, nem eu sei bem como explicar. Eu podia mentir pra você, mas acredito que, de todos, você é o único que merece a verdade – disse Cristina, em um tom baixo, sério - Depois que conheci Helena, tudo mudou na minha vida: meus conceitos, minhas atitudes, minhas crenças. Ela é completamente o oposto de mim. E simplesmente me apaixonei por ela no primeiro momento que a vi.

Os olhos de Cristina brilharam quando ela começou a recordar:

- Ela, na porta do elevador conversando com um cachorro. Foi engraçado, foi mágico. Olhei para aqueles olhos azuis e pronto. Depois não tive mais como fugir. Veio o beijo, a transa.

Júnior agitou-se na cadeira, bebeu um gole de cerveja, mas não disse nada.

- Você sabe que preservo meu lado profissional mais que tudo nessa vida. Evitei ao máximo me envolver. Ela é minha chefe, é a dona da empresa, é uma mulher. Deu um nó na minha cabeça, mas ela é maluca, é insistente, é um ser apaixonante. E a situação chegou nesse ponto que você acabou de ver. Ela fez a declaração de amor mais linda do mundo, abriu mão do orgulho, veio até aqui pra dizer que me ama e quer ficar comigo. E o sabe o que eu fiz? Desisti – a voz de Cristina fraquejou e ela começou a se emocionar - Ela realmente tem razão: sou covarde!

- Por que covarde? Não saiu com ela e me largou com seus pais aqui?

Júnior falou isso com a voz contida.

- Apenas fui conversar com ela, pedir um tempo. Mas ela não quis dar um tempo. Terminou com todas as possibilidades de ficarmos juntas.

Júnior sentiu um alivio por dentro. Estava com o seu orgulho masculino ferido. Ficou satisfeito em saber que a relação das duas não deu certo. Controlou a voz e perguntou, de forma carinhosa:

- E agora, o que vai fazer?

- Vou sair da empresa. Será impossível olhar para Helena todos os dias e não poder beijar, abraçar, amá-la. Posso voltar com você para EUA?

- Claro que pode. Quem sabe podemos nos acertar novamente? Quer tentar? – perguntou, abraçando Cristina por trás e beijando seu pescoço.

- Pare, Junior. Não pode ser assim.

- Como não? Ainda sou seu marido! Vamos tentar, Cris. Eu prometo que esqueço tudo o que aconteceu hoje. Falamos com seu pai. Ele, com certeza, vai achar que foi tudo culpa dela e vai te perdoar. Conheço o velho. Ai voltamos. Quem sabe você não consegue seu emprego de volta lá? Hamm...e ai, que tal?

Cristina afastou-se de Junior, sentou-se e encostou a cabeça no sofá.

- Junior, por favor, me dê um tempo pra pensar.

- Ok, meu anjo, mas não demore pra decidir a sua, minha vida e a da tal Helena.

Cristina sentiu um peso enorme sobre seu ombro, decidir a sua vida já não era fácil e agora era responsável por mais duas. Levantou tomou um banho e deitou precisava descansar e pensar, pensar e pensar. Não demorou muito pra que Junior deitasse ao seu lado. Ela sentiu quando ele começou a acariciar sua mão, a beijar seu pescoço. Cristina pensou em resistir, rejeitar Junior, mas precisa saber, precisava ter certeza que queria Helena e só teria essa certeza se transasse com Junior e não sentisse nada. E foi o que fez. Não resistiu. Deixou que Junior avançasse. Sentiu as mãos grossas e firmes segurarem suas coxas e abrir suas pernas. Fazia tudo automaticamente, obedecia o ritmo do corpo de Junior e sentiu dor quando foi penetrada. Não estava excitada o suficiente. Sentia o vai e vem do corpo de Junior sobre o seu, mas não participava. Continuava imóvel. E os segundos tornaram-se minutos e minutos em horas. Finalmente, quando ele terminou, ainda dentro dela, olhou em seus olhos, e viu que eles estavam cheios de lágrimas. Junior afastou-se sem dizer uma palavra. Levantou e vestiu sua roupa. Foi até a varanda e acendeu um cigarro. Terminou e acendeu outro e mais outro. Cristina, da cama, observava o marido. “Queria tanto saber o que ele está pensando”.

Finalmente, Junior volta para o quarto, acende a luz e senta na cama.

- Cris, nesse período que estamos casados passamos por diversas dificuldades, mas nunca chegamos a esse ponto. Quando você decidiu voltar para o Brasil acreditei realmente que seria o melhor pra nós, mas juro: achei que você voltaria comigo pra tentar mais uma vez. Mas depois de agora, dessa transa solitária que tive, nossa, foi horrível. Parecia que estava transando com um cadáver. Tinha um corpo, mas sua alma não estava aqui. Mas foi bom. Vi e senti que você não é mais minha, que não temos chance alguma de dar certo. Realmente, a amizade é maior. Eu te adoro, respeito muito você e, do fundo do meu coração, quero que você encontre um cara legal, mas um cara, um homem, Cris! Não sou preconceituoso, mas acho que você vai sofrer muito, sua família não vai dar trégua. Você não vai voltar comigo. Vai ficar aqui e resolver tudo isso. Acho até bom que você fique com ela. Talvez assim você perceba o erro e encontre um cara legal que te mereça. Só quero que seja feliz.

Junior levantou, apagou a luz e saiu do quarto. Dormiu na sala.

Capítulo 1: A revanche.


(por Cacau , adicionado em 29 de Janeiro de 2006)




Helena passou o domingo reformando o seu antigo quarto e o de Luca. Queria fazer uma surpresa para Esther quando ela chegasse da maternidade. Cristina passou o domingo pensando no que faria. Não contava com aquela atitude de Junior. Sentia-se sozinha, muito sozinha. No final do dia escreveu sua carta de demissão e decidiu que não poderia mais trabalhar ao lado de Helena. “Será melhor pra nós duas”.

No dia seguinte, Cristina chegou cedo ao escritório. Queria deixar tudo organizado antes de entregar sua carta de demissão. Abriu seu e-mail e viu varias mensagens de Helena. Leu todas, aflita, na esperança que Helena tivesse mudado de idéia ou que aceitou o tempo que havia pedido. Mas em vão: todas as mensagens eram sobre trabalho. Cristina sabia que teria uma conversa difícil com Helena. Tinha certeza que ela não aceitaria a demissão, mas estava decidida. Mergulhou no trabalho. Não viu o tempo passar e, quando se deu conta, já eram 11h. Achou estranho Helena não ter chegado ou ligado para avisar sobre o atraso. “Será que aconteceu alguma coisa?”. Interfonou para Vera.

- Vera, você sabe algo sobre a dona Helena? Ela nunca chega tarde ao escritório.

Vera, em tom casual, responde:

- Ela está na maternidade com a irmã. A sobrinha dela nasceu no sábado.

“Nossa, ela deve estar muito feliz”, pensa Cristina.

- Vera, você sabe informar se a dona Helena virá hoje ao escritório?

- Sim. Ela acabou de ligar marcando uma reunião para às 14h e pediu pra você preparar tudo, conforme orientação dada através de e-mail.

- Obrigada, Vera.

“ Helena é fogo. Está me evitando. Ela poderia ao menos ter me ligado”.

Helena acordou cedo. Saiu para comprar as últimas coisinhas para o bebê. Depois foi com Gilberto à maternidade buscar a irmã. Chegaram ao quarto e Esther já estava pronta com o bebê no colo.

- Vocês me abandonaram mesmo, heim! É assim: tenho uma filha linda e sou abandonada por meu marido e irmã – reclamou, fazendo biquinho.

- Meu amor, a culpa é da Helena. Ela me obrigou a passar em umas lojas antes de vir pra cá.

- Não acredito! Maria Helena, não disse que estava proibida de comprar?

- Bom dia, Esther. Eu também te amo e também estava com saudade - disse Helena entregando-lhe um enorme ramalhete de flores. Esther foi obrigada a sorrir. Entregou o bebê para Helena.

- Vamos logo pra casa, Esther. Estou louca pra te mostrar uma coisa.

- Ahh, meu Deus. O que você aprontou dessa vez?

- Nada. Por que tem que achar que fiz algo errado, heim? Tô vendo que minha moral anda muito baixa com essa família – brinca Helena, e olhando para Gilberto, pede apoio: - Giba, fala pra ela que não fiz nada...quem sabe ela acredita.

- Amor, fica tranqüila: eu também ainda não vi a surpresa, mas devemos dar crédito a Helena.

O grupo saiu do hospital animado, mas quando estavam na porta, Helena brigou com Gilberto pois queria ir dirigindo e ele não deixou. Foi no banco traseiro levando o bebê no colo.

- Giba, pode ir mais devagar. Esqueceu que tem um tesouro aqui atrás? Gilberto diminui a velocidade. Cinco minutos depois....

- Giba, não precisa ir tão devagar assim. Desse jeito, só chegaremos em casa quando a Leninha completar 18 anos.

Gilberto aumenta a velocidade. Três minutos depois...

- Giba, você pode fechar as janelas? Quer matar o bebê com essa ventania? Gilberto fecha todos os vidros. Dois minutos depois...

- Giba, também não precisa cortar todo o ar...Dá pra ligar o ar-condicionado na temperatura de 21,5°.

Gilberta liga o ar. Um minuto depois...

- Giba dá pra........

- Helena, cala a boca! Deixa eu dirigir por favor...

- Credo! Que ignorância. Só ia pedir pra baixar o som do rádio.

Chegaram em casa. Foi uma festa. As crianças queriam segurar o bebê, os cachorros – no meio da sala, pulando em Helena. Após amamentar o bebê, Esther foi até seu quarto. Espantou-se pois o berço, as coisas do bebê, não estavam lá. “Ahh, meu Deus!”. Vira-se e vê Helena com o sorriso sacana no rosto.

- Lê, cadê o berço e as coisas que estavam aqui?

- Esther, fala sério. Você acha que eu deixaria a herdeira do meu nome dormir em um berço de 1800?

- Helena, nós dormimos nele. Ele está em nossa família desde o nascimento de mamãe.

- Por isso mesmo. Além de velho, ele não combina com os outros móveis do quarto. Por isso mandei guardá-lo.

- Em que quarto, Lê?. Não temos mais quartos disponíveis. Você está me deixando zonza.

- Vem comigo, Esther.

Helena levou Esther ao antigo quarto de Luca. Helena reformou todo o quarto, mudou o papel de parede, trocou o piso, encheu o teto de móbiles, estrelas e bichinhos fosforescentes. Comprou muitos bichos de pelúcia, bonecas e espalhou por todo o quarto. A decoração tinha ficado realmente linda. Esther não teve como brigar com a irmã. E a Abraçou emocionada.

- Obrigada, Lê. Mas onde o Luca vai dormir?

- No meu antigo quarto. Luca sempre foi louco por ele... – sorriu e comentou, maliciosa: - Será que é pelas fotos das mulheres nuas que estão no teto?

- Lê, não queria me desfazer do seu quarto. Essa casa também é sua. Você sabe disso. Tem direito a um quarto.

- Pare de bobagem, Esther. Agora, ao invés de um, terei três quartos. Posso escolher onde vou dormir. E além disso, eu nunca dormia nele. Sempre durmo com as crianças – Helena sorriu e animou a irmã: - Venha, vamos colocar a rainha na sua nova cama.

Esther, entretanto, olhou-a fingindo seriedade:

- Bom, dona Helena, agora falaremos sobre esse olho roxo. Pensa que engoli a sua estória. Só concordei porque não estava em condições de brigar. Pode ir contando.

- Foi nada de grave. Levei um soco do pai da Cris. Só isso.

- Como só isso?!!. Quero saber de tudo!

Helena narrou toda a estória para Esther e ao final, estava quase chorando. Evitou ao máximo não pensar em Cristina no final de semana, mas naquele momento, conversando com Esther, todo o sentimento de raiva, culpa e impotência vieram à tona.

- Eu disse pra você não confiar nessa mulher. Eu te avisei. Agora está aí apaixonada. Pensei que nunca veria isto na minha vida: minha irmã galinha apaixonada de verdade. Nem tudo está perdido nessa vida – brincou, abraçando-a.

- É, Esther: apaixonada, mas não cega nem burra. Não vou deixar que ela brinque comigo. Dei um basta na nossa história sábado mesmo. Vou tirar essa mulher da minha cabeça, você vai ver.

- Vai demiti-la?

- Tá louca?!! Não misturo as coisas. Ela é uma excelente profissional. Não a entregaria para o concorrente. Sei que vai ser difícil trabalhar com ela, mas já pensei em algo. Bom, e por falar nisso, vamos comer, pois tenho uma reunião 14h e não posso me atrasar.

Pontualmente às duas da tarde, Helena entra na sala de reunião, diz em tom grave.

- Quem perguntar ou falar sobre o meu olho roxo estará despedido, fui clara?

Todos já estavam na sala, menos Cristina. Helena olha impaciente para o relógio, pega o celular e liga para ela.

- Cristina, onde você está?

- Na sala, à sua espera. Queria lhe mostrar os resultados financeiros antes da reunião.

- Venha já pra sala, está atrasada. Você vai apresentar os resultados aqui na reunião – disse isso e desligou.

Cristina ficou irritada. “Que grossa. Não precisava gritar comigo. Agora mesmo é que entrego minha carta de demissão”. Recolheu todo o material e saiu apressada para a reunião. Entrou na sala e percebeu que o seu lugar ao lado de Helena estava ocupado por Kely, que estava com um sorriso enorme nos lábios. “Ainda mato essa lambisgóia”, pensou irritada. Sentou-se entre Gilberto e Massumi. Entregou as pastas para todos com a pauta da reunião, resultados e gráficos. Aguardou que Helena iniciasse a reunião.

- Solicitei a reunião de hoje por dois motivos: primeiro, devido a proximidade do final do ano, quero dar inicio ao planejamento do próximo ano. Precisamos acertar as metas, orçamentos, quadro de funcionários. Por isso solicitei a Cristina que preparasse o gráfico com o desempenho de todas as filiais. Quero montar um planejamento dentro da realidade de cada filial. Também quero mais agressividade, objetividade e criatividade da nossa equipe da matriz. Precisamos apoiar de forma mais efetiva e eficaz as filiais. Tenho a impressão que estão largadas à própria sorte.

Cristina não conseguia tirar os olhos de Helena. Ela tinha um magnetismo fora do comum. Era apaixonada pela mulher, mas também pela profissional Maria Helena. Admirava a forma como ela colocava as palavras, a entonação da voz - que alternava de áspera para suave; saía do tom grave e ia para o tom de brincadeira em um piscar de mágica. Helena sabia segurar a atenção das pessoas como ninguém: era uma excelente oradora. Helena caminhava pela sala, dizia o objetivo da empresa, fazia com que o objetivo se tornasse comum a todos, incentivava a equipe a crescer, a correr atrás da meta. Cristina já não ouvia mais as palavras de Helena, admirava a mulher, o corpo, a boca, o sorriso que iluminava tudo. Helena parou de falar e solicitou a Cristina que apresentasse o resultado das filiais do interior de São Paulo. Cristina não ouviu. Estava absorta admirando-a em seus pensamentos.

- Alô, terra chamando Cristina, por favor, responda - debochou Helena. Cristina levantou meio sem graça com a piada. Viu o sorriso malicioso de Kely. “Vou matar essa vagabunda lentamente”. Ligou o datashow, mostrou os gráficos, o resultado final de cada filial. Massumi interrompeu Cristina:

- Cristina, essas filiais estão sem Diretor Operacional a mais ou menos dois meses. Como conseguiram melhorar o desempenho?

Helena respondeu:

- Na verdade, mandei o incompetente embora, pois ele não tinha um resultado positivo há dois anos. Cristina está gerenciando as filiais com meu apoio, até arranjarmos um substituto e, para minha surpresa, em menos de dois meses, as filiais não dão resultado negativo. Tem uma tendência ao crescimento – e olhando para Cristina, pediu que ela mostrasse sua idéia para o próximo trimestre.

Cristina discorreu sobre suas idéias por cerca de trinta minutos e respondeu com firmeza e clareza a algumas perguntas, a maioria delas, formuladas por Kely. Ao final, Gilberto falou:

- Bem, senhoras e senhores, acho que já temos uma nova Diretora para as filiais. Quem estiver de acordo que Cristina assuma, levante a mão.

Cristina ficou surpresa. Não esperava. Achou estranho que Helena solicitasse para que falasse de suas idéias, mas não imaginava que seria promovida assim, de repente, e com a aprovação quase unânime da sala. Apenas Kely permanecia com a mão abaixada. Helena não demonstrava emoção alguma. Permanecia séria, sem olhar para Cristina. E então, falou:

- Bom, senhores, não pretendia perder uma assistente tão rápido. Foi difícil achar alguém que, além de Vera, agüentasse meu mau-humor. Mas como é para o bem da empresa, e de Cristina, se ela quiser, é claro, será a nova Diretora das filiais problemáticas.

Ao terminar de falar olhou para Cristina esperando uma resposta. Todos olharam ao mesmo tempo para ela, que não sabia o que dizer. Ficou nervosa, vermelha e, depois de um breve silêncio, disse:

- Prefiro pensar um pouco mais. Darei a resposta a Helena mais tarde.

- Está certo, Cristina. Retomemos a reunião – disse Helena, um pouco irritada.

Helena voltou a falar e encerrou a reunião depois de uma hora, solicitando que Cristina e Gilberto permanecessem na sala. Cristina achou que ficaria sozinha com Helena. Ficou apreensiva com a presença de Gilberto. Helena falou séria:

- Cristina, vamos conversar na frente do Gilberto. Contei tudo o que aconteceu pra ele. Também, não dava pra negar nada com esse olho roxo – depois de um breve intervalo, acrescentou: - Bom, você viu que todos concordaram com a sua promoção, portanto, está claro que não sou a única culpada por você ser promovida. Espero que aceite, será bom para a empresa, pra você e pra mim. Você terá que viajar, eu também, portanto arranjarei para que não nos encontremos aqui no escritório pelo menos durante uns três meses. Deve ser tempo suficiente para que eu te esqueça.

Cristina sentiu o impacto da afirmação:

“Cachorra, vai levar só três meses para me esquecer?”.

Helena continua a falar:

- Acho que ficando longe de mim, sua família vai esquecer o que aconteceu no sábado e tudo na sua vida voltará ao normal. Terá um bom aumento de salário, e um carro da empresa. Só peço que você, em conjunto com o Gilberto, encontre e treine uma nova assistente pra mim, o mais rápido possível. Não quero sobrecarregar você de trabalho. Bom, é isso. Aceita ou não?

Cristina não esperava tanta frieza de Helena. Sua vontade era de pular em seu colo e ficar ali, abraçadinha. Tentou ser racional. Pensou bem e percebeu que seria uma ótima solução. Gostava de trabalhar na S&TI e ter o reconhecimento de toda a diretoria fez bem para o seu ego, mas não gostava da idéia de ficar longe de Helena.

- Se eu não aceitar, continuarei sendo a sua assistente?

Helena não esperava por essa pergunta. Ficou sem jeito, mudou de posição na cadeira.

- E porque não aceitaria a promoção?

- Fiz uma pergunta, Helena. Não aceito uma outra pergunta como resposta.

- Continuaria, não tenho motivos pra despedi-la. Você sabe muito bem que não misturo as coisas. E por não misturar as coisas que estou te promovendo. Sei que você almeja fazer carreira na S&TI. É uma excelente profissional. Não posso ser egoísta e impedir seu crescimento apenas para que continue ao meu lado como assistente. Então, vai aceitar ou não? - perguntou impaciente.

Cristina olhou bem para Helena. Percebeu que estava sendo difícil para ela manter a pose de inabalável.

- Aceito - respondeu sem ânimo.

- Perfeito. Acerte os detalhes com Gilberto. Preciso ir - levantou-se.

Cristina segurou seu braço.

- Helena, espere. Preciso conversar em particular com você.

- Qual o assunto? Acho que já falamos tudo!

- Falar sobre nós. Não falamos e você sabe disso. Preciso te dizer umas coisas.

- Cristina, não temos mais nada pra conversar. Não quero ouvir seus argumentos, não vou alimentar seu medo, sua covardia. Como já disse, daqui pra frente só falaremos sobre assuntos profissionais. Não existe um nós, nunca existiu, e não existe por sua causa. Você fez a escolha. Eu disse a você que não voltaria atrás.

- É assim que diz que me ama? Que amor é esse que não é capaz de entender, que não é capaz de ter paciência e esperar pela pessoa amada?

- Esqueça a bobagem que fiz e disse no sábado. Fiz só para te conquistar. Menti. Eu não te amo - puxou o braço e saiu da sala.

Cristina desabou na cadeira. Sentia que não tinha mais força. Pegou a carta de demissão e entregou a Gilberto. Gilberto leu a carta em silêncio, dobrou e colocou sobre a mesa.

- Cris, deixe de bobagem. Acabou de aceitar uma boa promoção e me entrega uma carta de demissão. Tá maluca?!!!

- Acho que sim. Ela está me deixando maluca! Não sei o que fazer. Na realidade, quero que abra um buraco pra eu cai dentro. Concordo que estou cheia de dúvidas, com problemas com minha família, mas ela poderia facilitar um pouco, não ser tão radical. Só pedi um tempo pra resolver tudo, mas não tem que ser do jeito que ela quer.

- Eu pensei que conhecia a mulher mais cabeça dura da minha vida, mas você supera Helena, sabia? Cris, dê um tempo pra Helena. Coloque-se no lugar dela. Helena sempre teve tudo o que queria, na hora que desejava. Não conheço algo que ela quisesse que não teve. Ratificando, conheço: VOCÊ. Isso mexe com ela. Pior: eu nunca vi Helena apaixonada, amando. Acredite, ela te ama. O que ela acabou de dizer é coisa de menina mimada. Ela está com raiva, frustrada, mas isso tem um lado positivo. Fará com que ela dê o valor que você merece. Espere a raiva dela passar e, enquanto espera, resolva os problemas com sua família, marido. Garanto a você uma coisa, terá a pessoa mais maravilhosa desse mundo ao seu lado. Não deixe essa oportunidade passar.

Gilberto levantou e pegou a carta sobre a mesa e a rasgou enquanto saía da sala.

No dia seguinte, quando entrou na sala de Helena, e não viu sua mesa, suas coisas, Cristina ficou apavorada. “Ela me demitiu. Sabia que ela faria isso”. Logo em seguida, entra Vera com o melhor sorriso do mundo.

- Cristina, o que foi? Viu fantasma?

- Não, Vera. Só não estou vendo minhas coisas, minha mesa. A Helena me despediu é isso?

- Tá louca, é?!! Bebeu leite ao invés de café?! Cristina, você é a nova Diretora. Portanto, terá uma sala só sua. A Helena mandou que deixassem pronta pra você hoje. Ah, ela disse que mandou tirar a mesa de sua sala porque não queria recordações. Humm, você sabe que recordações são essas?

- Sei, sei bem, mas não vou te falar tá!!!

- Ei o cargo já te subiu a cabeça? Ou fez treinamento intensivo com a Helena? Só fiz uma pergunta boba.

- Desculpa, Vera. Fiquei nervosa.

- Tudo bem, vamos ver sua nova sala.

Cristina abriu a porta e não acreditou no que via. Era uma sala ampla, arejada. Em uma das paredes tinha um mapa do Brasil com Bandeirinhas nos estados onde a S&TI tinha filiais. No canto da sala, a mesa de vidro era enorme. Um notebook estava sobre ela. Ao centro, uma mesa redonda poderia ser usada para pequenas reuniões. Na outra extremidade, um sofá vermelho confortável. E, sobre a mesa de vidro, um buquê enorme de suas flores favoritas.

- Ainda não sei como Helena consegue transformar os lugares tão rapidamente. Ela só pode ter uma construtora e uma loja de móveis - desabafou Cris.

- Eu sei como e porquê ela consegue essa proeza – disse Vera, com ar misterioso.

Cris olhou interessada para ela.

- Como ela consegue?

- Como: ela tem dinheiro e conhece as pessoas certas. Por quê? Simples. Ela faz isso porque gosta de agradar, surpreender as pessoas que ama. Boa sorte, Cristina. Você vai precisar.

Vera saiu da sala. Cristina sentou-se na confortável cadeira, ficou admirando as flores. Só ai percebeu o pequeno cartão, abriu e reconheceu a letra de Helena: “Espero que aceite as flores. São para parabenizá-la por seu sucesso, já que todas as de amor foram recusadas. Boa sorte no seu novo caminho dentro da S&TI.” - Maria Helena.

Cristina teve uma semana cheia, mas mesmo assim tentou falar com Helena por várias vezes. Telefonou, mas não era atendida. Foi até a sala de Helena com a desculpa de deixar papéis para serem assinados, mas na mesma hora foi barrada por Vera.

- Cristina, desculpe, mas a Helena pediu para não ser incomodada. Ela está resolvendo algo importante.

- Vera, deixe de bobagem. Ela nunca deixou de me atender. Preciso discutir algumas coisas e entregar esses documentos para serem assinados.

- Pode falar comigo, direi a ela. E os papéis, pode deixar aqui que eu entrego.

- Vera, saía da minha frente. Vou entrar na sala.

- Tudo bem, eu avisei.

Cristina tentou entrar, mas a porta estava trancada.

- Não acredito que ela trancou a porta!!!!

- Eu avisei...

Cristina pegou o interfone. Helena atendeu, um tanto irritada:

- Fala, Vera!!!

- Helena, não é a Vera: é a Cristina. Preciso tratar de assuntos urgentes com você.

- Fale com a Vera. Estou ocupada. Não posso atender você agora.

- A que horas pode falar comigo? - perguntou furiosa.

- Amanhã, às 16h. Pede pra Vera marcar na agenda.

- Helena, amanhã às 16h estarei em reunião com a minha nova equipe e você sabe disso. Preciso falar com você agora. Não levará mais que dez minutos.

- Não insista. Se quiser falar comigo, volte amanhã às 16h – disse isso e desligou.

Cristina remarcou a reunião para o período da manhã e pontualmente às 16h estava na porta da sala de Helena.

- Vera, avise que estou aqui pra falar com ela.

- Xiii, ela não está. Ela veio bem cedo e foi embora. Disse que iria dar banho na sobrinha. Remarcou a reunião com você para amanhã 10h.

“ahhh, eu mato a Helena”. Na mesma noite, Cristina foi até o apartamento de Helena, mas o porteiro não a deixou entrar, alegando que dona Helena não queria ser incomodada. No dia seguinte, Cristina chegou bem cedo ao escritório. “Hoje ela não me escapa” e ficou esperando na porta da Sala de Helena. Esperou até às 10h, mas Helena não apareceu.

- Vera, cadê a Helena? Marcou a reunião para às 10h. Ela nunca se atrasa.

- Mas ela já esta lá dentro... – disse Vera, batendo de ombros.

- Como assim lá dentro? Estou aqui desde às 7h. Só se ela virou fumaça e passou por debaixo da porta.

Nesse momento o celular de Cristina toca.

- Sempre atrasada, Cristina... Você quer ou não falar comigo? Tenho um dia cheio hoje. Quer vir logo pra minha sala, por favor? - desligou.

Cristina entra na sala, não vê Helena, mas ouve sua voz. Vira-se e vê sobre a mesa de reunião um monitor de TV ligado. A imagem de Helena está visivelmente irritada:

-Sente-se e fale logo sobre os assuntos tãooooooo urgentessss.

- Helena, não acredito que estamos em uma videoconferência!!!!

- Cristina, a tecnologia serve pra quê? Esqueceu que trabalha em uma empresa de tecnologia?

Cristina segurou a raiva. Esperava seduzir Helena com seu charme, com seus beijos. Viu seu plano traçado há dias ir por água a baixo. Mesmo assim, não desistiu. Precisava que Helena a ouvisse, nem que fosse por cinco minutos. Então, começou a falar e, devido ao nervosismo, caminhava de um lado para outro da sala.

- Lê, te amo muito. Quero ficar com você, preciso de você. Perdoa as minhas franquezas e indecisões. Me dê mais uma chance, por favor.

Olhou para o monitor e viu uma foto de Helena com um bilhete enorme: “QUANDO QUISER FALAR SOBRE TRABALHO, ME PROCURE”.

- Ai, Helena como você tem o poder de me irritarrrrrrr -esbravejou.

No outro dia pela manhã, percebeu que Helena esteve trabalhando de madrugada, ao conferir o horário dos e-mail enviados. Ela também havia deixado uns papéis para serem assinados à noite e encontrou os papéis assinados sobre sua mesa pela manhã. “Humm, agora ela vem de madrugada para o escritório. Que cachorra! Vou esperá-la essa noite”. Cristina entrou no escritório de Helena no final do expediente. Estava disposta a falar com ela a qualquer custo. Esperou por mais de duas horas e nada. Deitou no sofá para descansar e adormeceu. Não percebeu a presença de Helena, que ficou admirando-a. Helena fez um esforço enorme para resistir à vontade de beijá-la. E abraçá-la era tudo que queria. “Mas tenho que ser forte”. Fez tudo em silêncio, assinou os papeis e ao sair, cobriu Cristina com seu blazer.

Cristina acordou de madrugada com dores nas costas. Reconheceu o blazer de Helena e não se perdoou por ter dormido. “Cris, você é uma idiota, mas se ela tá pensando que vou desistir, está enganada”.

Capítulo 1: Tudo ou nada


(por Cacau , adicionado em 10 de Fevereiro de 2006)




Cristina acordou cedo e foi até a casa de Gilberto com a desculpa de fazer uma visita a Esther e ao bebê, mas sabia que Helena estava lá, dormindo com as crianças.

- Gilberto, bom dia. Desculpe por vir tão cedo, mas é o único horário que tenho uma folga.

- Sem problema, Cris. Venha conhecer a Maria Helena 2, a missão - brincou.

Chegando ao quarto, viu Helena cantando uma canção de ninar com o bebê nos braços. Ficou paralisada com a cena. Nunca imaginara Helena assim, como mãe.

- Posso entrar? - perguntou timidamente.

Helena ficou séria, mas controlada.

- Claro, Cristina. Estava tentando acalmar essa boêmia. Ela não dorme a noite, só quer mamar e agora fica assim, resmungando pra dormir. Quer segurá-la?

- Adoraria.

Helena passou o bebê para os braços de Cristina. A troca de olhares foi inevitável. Estava claro como elas não estavam bem, e que sentiam a falta uma da outra. Isso estava estampado em seus rostos e foi percebido pelas duas. Helena sentou-se em uma poltrona e observava com carinho Cristina que embalava calmamente a pequena.

- Seu olho está bem melhor...Espero que não fique marca.

- Se ficar uma marca garanto que será bem menor que a marca do meu coração.

- Helena, por favor, pare de me evitar. Preciso falar com você, preciso estar com você.

Helena esboçou um sorriso triste.

- Pra quê aumentar a dor, Cris, me dando expectativas e esperanças. Eu sei e você sabe que nunca vai admitir pra ninguém a nossa relação. Já sofri muita discriminação, preconceito, mas nunca dessa forma. Ver o preconceito na cabeça de quem se ama é a pior coisa do mundo.

- Helena, não é isso. Já disse só preciso de um tempo pra falar com meus pais.

- Diz uma coisa, mas não minta: você teria coragem de assumir nossa relação no escritório?

Cristina colocou o bebe no berço.

- Helena, teria coragem sim, mas não vejo motivos pra isso. As pessoas misturam tudo. Achariam que levo vantagem por ser sua mulher. Já disse que não quero ser reconhecida dessa maneira. O importante é que você sabe que eu te amo. Que quero ficar com você. Isso sim importa.

- Pra mim, o que importa não é saber do seu amor, e sim você demonstrar esse amor. Não tem nada de errado nisso. Quero ir a sua casa como sua mulher, quero que saibam na empresa, na rua, que você é minha mulher. Quero participar e quero que você participe da minha vida completamente. Me diga: que mal há nisso?

- Ahh, Helena, por que você complica tudo?!!!!

Nesse momento, Esther entra no quarto e cumprimenta muito mal Cristina.

- Veio conhecer minha filha ou falar com Helena?

- As duas coisas já que ela está me evitando - respondeu no mesmo tom de voz.

- Se ela esta evitando-a é porque não quer falar com você, portanto poderia respeitar a vontade da minha irmã.

- Ei, Esther, calma, eu sei me defender.

- Desculpe, Esther, mas esse assunto só diz respeito a mim e a Helena.

- Desculpe, Cristina, mas desde a primeira vez que a vi, percebi que faria Helena sofrer. Amo minha irmã e quero você longe dela. Por favor, deixe minha irmã em paz e quando quiser falar com ela que seja longe da minha casa.

- Esther, não é minha intenção fazer Helena sofrer. Amo sua irmã, acredite. Me desculpe se incomodei você. Sua filha é linda, desejo de todo o meu coração que ela cresça com saúde e que seja linda como a tia. Que ame e entenda as pessoas como você. Helena, espero você na sala - disse ao sair do quarto.

Helena olhou Esther com o ar suspenso.

- Esther, quando você quer, pega pesado mesmo. Não precisava falar assim com ela.

- Falei e já tá dito. Não me arrependo. Vá até lá e a leve embora daqui.

Helena foi ao encontro de Cristina e se desculpou:

- Cristina, desculpe Esther. Ela está estressada. A pequena não a deixa dormir.

- Sem problema, Helena. Se eu fosse sua irmã agiria da mesma maneira. Vamos tomar café em um outro lugar. Precisamos terminar nossa conversa.

- Cris, já disse: está tudo acabado. Não temos mais nada pra falar. Vamos dar um tempo. Logo, logo eu te esqueço, você me esquece, e a vida continua. A sua vida continuará a mesma e a minha também. Por favor, vá embora.

- Helena, EU TE AMO. E-U- T-E –A-M-O.

- Dizer é fácil. Quero ver provar que me ama.

- É prova que você quer, então vai ter. Ah, se vai...

Cristina foi embora, imaginando uma maneira de provar seu amor por Helena.

No final de semana, Cristina resolveu procurar o pai para uma conversa séria. Já estava mais que na hora. Chegou na casa de seu pai e foi tratada friamente por sua mãe.

- Minha filha, você decepcionou e envergonhou nossa família. O que fez é imperdoável.

- Mãe, não fiz nada de errado. Apenas recebi uma declaração de amor de uma mulher. Diz onde está o erro?

- Você aceitou, Cristina. Não respeitou a mim, seu pai, seu marido. Ainda por cima, saiu com aquela mulher. Deu razão a ela.

- Mãe, eu precisava tirar Helena de lá, precisava conversar a sós com ela. Vocês estão sendo injustos e cruéis comigo. Cadê o papai? Preciso falar com ele.

- Está no escritório, mas ele não quer ver você.

Cristina saiu. Foi atrás de seu pai. Bateu na porta e não obteve resposta. Entrou no pequeno escritório atulhado de papéis e livros. Viu seu pai fumando na janela.

- Pai, bom dia. Precisamos conversar - seu pai permanecia calado.

- Pai, sabia que fui promovida? Agora sou diretora de uma das regionais. Estava decidida a pedir demissão, mas depois de apresentar um projeto, a diretoria resolver me promover. Isso não é ótimo?

- Acha mesmo que foi promovida por sua competência?

- Claro que sim. Fui promovida por mérito. Trabalhei muito nesses meses e mereci o voto de confiança.

- Acha mesmo que é capaz?!!! Não se iluda, minha filha. Nunca foi uma aluna brilhante e só conseguiu aquele excelente trabalho nos Estados Unidos pela influência de Junior. Acha que a poderosa Maria Helena daria um cargo tão importante na empresa a uma assistente inexperiente como você? Ela só fez isso pra te comprar e pelo jeito você se vendeu, não é mesmo? Eu alertei você sobre ela. Eu a conheço bem. Ela é capaz de tudo pra fechar um negócio que a favoreça. Mas você não quis me ouvir. Agora está envolvida com ela até o pescoço. Melhor, com o corpo todo. Filha, por favor, largue esse trabalho, afaste-se dessa mulher, volte para o seu marido ou arrume outro. Venha trabalhar comigo na nossa empresa...Comigo irá aprender a dirigir de verdade uma empresa e, logo tomará conta de nossos negócios.

Cristina ouvia incrédula todas as palavras de seu pai. E aos poucos foi lembrando-se das palavras de Helena: “Cris, as coisas que realmente conquistamos ninguém nos tira”. Percebeu que nunca conquistou o respeito de seus pais. Eles não a respeitavam como profissional e, principalmente, como ser humano, como filha.

- Cris, minha filhinha, volte a ter uma vida normal e digna. Perdoarei você e esquecerei tudo, mas, filha, saia dessa empresa e não envergonhe mais nossa família.

A cabeça de Cristina latejava, tomou coragem e falou:

- Pai, a única pessoa que até hoje confiou e acreditou em mim de verdade foi a Helena. Acreditou em mim como profissional, como pessoa, como mulher. Sabe, eu a decepcionei, eu a fiz sofrer por sua causa e pela mamãe, mas agora vejo como fui burra e idiota. Talvez eu perca a MULHER que eu AMO. Tá ouvindo? Eu amo a Helena, vou fazer tudo pra ficar com ela. Vou morar com ela, se ela ainda me quiser. E se você, pai, quiser me aceitar, me amar dessa maneira, tudo bem. Se não quiser, será um problema só seu. Mas, garanto, serei feliz com ELA.

O velho estava com os olhos esbugalhados. Gritou:

- De hoje em diante pode considerar que não tem pai. Morri pra você!

- Não, papai, eu é que morri pra você. Pode esquecer que tem uma filha.