Entre o Amor e o Passado - Danuska dos Santos

Captilulo 01


[19/06/12]

Querida Lice,

Neste momento deve estar me odiando pelo que fiz, mas espero que você entenda o porquê de tudo isso. Só realizei tal ato por não me sentir mais parte da minha própria vida, mesmo conseguindo realizar todos os meus sonhos e desejos. Faltou o principal para me deixar completa, você. Ainda tentei lhe ter de volta, mas nada foi a meu favor, levando-a para longe dos meus braços.

Durante todos esses anos tentei achar a sua imagem em cada esquina que olhava. Cada rosto que via queria formar o seu e cada pessoa que me interessava, tentava achar algo que lembrasse você, isso era impossível, porque só você soube me mostrar o amor.

Sei que passamos dias maravilhosos juntas, como nunca ninguém teve, mas ainda consegui estragar toda aquela felicidade, e não julgo você tentar esquecer esses momentos, pois ao invés do amor lhe dei dor, e do carinho, mágoas. Peço-lhe desculpas novamente.

A última coisa que tenho a lhe dizer é que ainda sinto o seu cheiro grudado no meu corpo. Te Amo.

Adeus,

Ceci.

Eram onze horas e Cecília ainda estava convicta do que iria fazer, sentada no sofá, pensou onde deixaria o bilhete. Resolveu colocar ao lado de uma foto dela com o seu amigo, Guilherme, sobre uma pequena mesinha que tinha na sala. Percorreu toda a sala de seu apartamento com um olhar rápido, passara intermináveis horas ali imaginando sua vida com Alice, mas que por fim o que conseguiu foi apenas um único dia com ela que acabara em discussão.

Foi à varanda, sentou-se, observou o céu e viu que estava escuro, prestes a chover, assim como na noite em que pode conhecer as linhas do corpo de sua amada e provar do doce sabor que tinha. No mesmo instante, sentiu uma lágrima deslizando sobre sua face, fazendo com que caísse no choro.

Fechou os olhos por um tempo e nesse intervalo cenas surgiram. Situações que mostravam beijos apaixonados, abraços apertados e sorrisos meramente fascinantes em tardes quentes.

Após todas aquelas cenas, levantou e foi até o parapeito, ficou olhando a movimentação e por segundos, pensou como seria uma queda do décimo quinto andar, parecia loucura, mas foi a primeira opção que Cecília teve para ir de encontro com a morte. Mas para ela isso seria rápido demais, tinha a intenção de provocar uma morte mais lenta, algo que a fizesse sentir dor, a mesma dor que Alice sentiu quando a fez sofrer.

Cecília sentou-se em um dos cantos da varanda, os sintomas, da porção de remédios que havia tomado há mais ou menos meia hora, tinham começado. Antes que piorasse, ela tirou um canivete do bolso e sem nenhuma hesitação cortou os pulsos.

Uma sonolência forte e uma dormência começavam a tomar conta do seu corpo, o ardor do corte já não sentia mais, então deixou que seus braços encostassem o chão e se entregou ao sono.

Seus sonhos voltaram-se para Alice, de como queria estar naquele exato momento ao seu lado, podendo sentir seu cheiro de rosas, vendo aquele sorriso imenso que ela tinha a qualquer instante. Queria que tudo tivesse sido diferente.

A chuva que esperava ocorrer, iniciou-se.

SEIS MESES ANTES

“Cada vez que você chegava mais perto sentia o calor do teu corpo junto ao meu, sua respiração ia ficando cada vez mais ofegante, seus olhos mais fixados nos meus, enquanto nossos corações aceleravam a cada segundo. Então quando eu menos esperava, senti sua boca colada na minha, daí surgiram beijos suaves e molhados e junto vieram as carícias. Nessa hora, você já me tinha sob todo o controle e pude perceber que o meu desejo naquele momento era sentir prazer ao teu lado, mas...”.

Alice deu um pulo da cama, olhou ao seu redor tentando descobrir o que tinha acontecido, ela só sabia que tinha sido um sonho, mas a sua sensação deixava pensar que tudo teria ocorrido realmente. Ainda atordoada, sem saber quais cenas tinha sonhado, sentou-se na cama, passou a mão no rosto e fechou os olhos por um instante, então veio à resposta, tudo que viu foram apenas lembranças que andavam rodando sua cabeça há dias.

- Inacreditável! – falou sentindo raiva da sua mente, dos seus devaneios. Ela não aceitava essas recordações, até porque eram a única ponte de ligação com certa parte do seu passado: momentos fantásticos, mas que ao mesmo tempo lhe traziam lembranças tristes.

Voltando a se deitar, ficou olhando o teto por um tempo tentando adormecer novamente, mas cada vez que cerrava os olhos todas as imagens apareciam. Resolveu tomar um banho e ir à praia para clarear seus pensamentos.

Sentada à beira mar, olhando aquela imensidão azul, tentou entender o porquê desses sonhos. Começou a ouvir alguém lhe chamar, preferiu pensar que não era com ela, continuando a ficar mergulhada nas suas ideias.

- Você poderia pelo menos fingir que me conhece? – era Alexandre, um dos seus melhores amigos, desde que havia se mudado para o Rio de Janeiro, ele tinha se tornado seu companheiro inseparável.

- Oi Alê!

- Nossa amor, que cara é essa? Você não dormiu bem essa noite, né?

- Não! Ando tendo sonhos insuportáveis, mas não queria falar sobre isso.

- Então eu sinto muito, porque o seu amigo aqui não vai ficar quieto até saber o que tá acontecendo, essa sua cara não é de hoje. Fala logo o que tá te deixando assim?

Alice continuou calada. Alexandre por sua vez, ficou falando direto até conseguir o que queria.

- Tá certo! Já chega, não precisa ficar perturbando tanto, vamos para minha casa que te conto tudo.

Eles passaram a tarde conversando. Alice colocando tudo para fora, desabafando literalmente, contando coisas que a maior parte delas Alexandre já sabia, mas a ouvia e dava seu ombro, seu braço e se precisasse até as próprias lágrimas para ajudar a amiga, e de vez em quando tentava dar um conselho por mais que fosse em vão.

Ao anoitecer, enquanto Alexandre preparava algo para eles comerem o interfone tocou, a quem o porteiro se referiu não foi um nome estranho, por mais que não conhecesse a pessoa, pediu que liberasse a entrada da garota e foi avisar Alice, que estava no banho.

- Lice tem uma visita para você, mandei subir.

- Pelo menos você sabe quem é?

- A Flávia!

- Que?! – Alice não estava acreditando, o que Flávia queria com ela?

Antes mesmo que ela pudesse dizer mais alguma coisa, a campainha tocou, Alexandre foi direto atender.

Imediatamente Alice chegou à sala.

- Flávia.

- Alice.

- Bem, acho que vocês precisam ficar sozinhas, qualquer coisa, vou estar na cozinha.

As duas ficaram em silêncio, sem conseguir pronunciar uma palavra. Não sabia como, mas Alice pressentiu que algo tinha acontecido, só não compreendia o que. Por vez, Flávia não sabia dar a notícia que havia lhe levado ali.

- O que aconteceu? – Alice quebrou o silêncio. E percebeu o nervosismo de sua amiga para falar.

- É sobre o Guilherme... – Alice fez menção de falar algo, mas Flávia fez sinal com a mão, estava tomando coragem. – Ele... ele.. sofreu um acidente de carro. Há uma semana e... entrou em coma.

- Que? Não isso não, tudo menos isso. Por quê? Não! – ficou andando de um lado para o outro processando o que havia acabado de escutar. Ela começou a chorar e a esmurrar as paredes, tentando fazer com que aquela dor desaparecesse.

- Calma Li, calma. – Flávia a abraçou com toda força tentando fazer com que ela parasse de se machucar. E continuou:

- Desde do fatídico dia, que vi tentando saber como ia te contar. Não dava pra ser por telefone, foi quando tomei coragem de vir aqui. Mas também vim para te pedir uma coisa. – nesse momento parou, ficou receosa com a resposta que podia receber.

- O que? Que pedido?

- Volta comigo. – falou entre os dentes.

- Não! – quase gritou. - Você sabe que eu não volto para Ouro Preto. Lá só vai fazer mal a mim.

- Eu sei, mas é pelo Gui, vocês são amigos desde criança, nunca deixaram de fazer um favor a ambos. Tô pedindo que venha comigo, por ele.

Alice se levantou e foi até a janela, ficou pensando por um bom tempo, respirou fundo, olhou para Flávia e:

- Tudo bem! Se fosse o contrário tenho certeza que ele faria a mesma coisa.

Por um momento Alice lembrou de Alexandre, pediu que Flávia a seguisse e foram até a cozinha, lá ela fez as apresentações. Depois contou o que tinha acontecido resumidamente ao longo desses anos e aos poucos foi sabendo mais detalhes sobre o acidente.

Ainda eram cinco da manhã, mas Alice já estava acordada, não tinha tido uma boa noite de sono, pois ficou pensando no acidente e preocupada com Guilherme, queria ter ficado sabendo antes, para poder estar ao seu lado lhe dando conforto. Nos momentos que conseguia relaxar voltava a ter o mesmo sonho de todos os outros dias, preferindo assim ficar acordada por toda a madrugada.

Quando se levantou, Flávia a encontrou pela sala olhando a manhã que as aguardava.

- Você já está pronta? Mas ainda são seis e meia. – Flávia disse espantada.

- Não consegui dormir, passei a noite em claro. É melhor você ir tomar seu banho, comer e pelas oito estaremos saindo. – Flávia fez um aceno de confirmação.

Uma hora depois as duas estavam colocando as malas no carro para seguir com a viagem.

Entraram no carro e Alice continuava receosa com tudo, mas esperava que desse tudo certo, não só na viagem, mas também quando estivesse na cidade. No começo as conversas ainda continuavam sobre o que tinha acontecido nesses últimos anos.

Aos poucos as duas iam se calando e o silêncio foi tomando conta daquele ambiente, até que o único som que sobrou foi da música que tocava.

Alice encostou a cabeça no banco e ficou observando a cidade passando pelos seus olhos, algo dizia a ela que tão cedo não voltaria a ver aquele lugar. Começou a pensar no passado, nos erros que todos diziam que tinha cometido, nas opções que tomou para sua vida e nos sofrimentos que passou por causa disso. Junto com esses pensamentos voltou a lembrar da adolescência e da história de amor que viveu. Aos poucos seus olhos foram se fechando, o sono que não teve a noite estava batendo naquele instante. Até que adormeceu, trazendo um sonho reconfortante para sua alma.







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Capitulo 2

[21/06/12]

Alice com seus dezesseis anos estava no auge da sua adolescência, além de ter começado a sair estava ficando com um carinha que havia gostado muito de conhecer e que lhe despertava desejos.

Ela com sua pele clara, cabelos castanho claro que combinavam com seu doce olhar cor de mel haviam conquistado Fernando, que por sua vez, a admirava não só por sua beleza, mas por todas suas as qualidades.

Um dia anterior ao inicio das aulas, Fernando foi à casa de Alice para lhe pedir em namoro. Sem pensar duas vezes Alice aceitou o pedido entre beijos, aos poucos Fernando foi passeando sua mão pelas pernas dela e tentando algo mais. Alice foi se deixando levar, mas uma sensação estranha a fez interromper aquela extravagância e em seguida pediu que ele fosse para casa.

No dia seguinte, Alice acordou cedinho, queria rever alguns colegas, saber quem seriam os novatos e o melhor, ver o seu namorado. Ela sabia que o fato de estar namorando seria a primeira noticia a se espalhar pelo colégio. Estava se sentindo muito ansiosa, não sabia o porquê deste anseio, não ligou, deixou que essa sensação tomasse seu corpo.

Mal sabia que aquele ano iria ser diferente principalmente para ela, pois muitas novidades iam acontecer em sua vida, sensações novas surgiriam para sua alma e quem sabe uma amizade repentina poderia ser tudo que precisasse.

- Você precisa estar em casa assim que a aula acabar, nem um minuto a mais. Entregue tudo para sua diretora. Ei, não saia do carro antes que eu termine de falar, evite...... Ei, não saia, Cecília estou falando com você! – ele gritou.

A garota olhou para os lados com um ar de revolta, fechou os olhos, virou para o carro e foi até a janela.

- Seguinte Roberto, eu não sou sua filha, muito menos seu pau mandado, então vá dar ordens à sua mulher, que diz ser minha mãe e aos filhinhos que vocês tiveram, porque eu sei me virar muito bem. Ah, outra coisa, vou chegar em casa a hora que eu bem entender.

Ele ficou olhando com uma cara de reprovação e saiu em alta velocidade. Roberto era seu padrasto, tentava colocá-la na linha desde quando ainda namorava sua mãe, mas seus planos sempre falharam.

Quando virou pra entrar no colégio, esbarrou em alguém.

- Droga!... Hum foi mal. – baixando-se para ajudar sem olhar para ver quem era.

- Não se preocupe, está tudo bem. – respondeu a garota pegando tudo, levantando-se, balançando a cabeça com um sinal de agradecimento.

Cecília ficou reparando Alice entrando no colégio, sem perceber soltou um sorrisinho no canto da boca.

Alice não teria tantas companhias assim, os colegas que tinha não eram tão próximos, então se limitou a andar com os amigos de Fernando, mesmo não tendo a liberdade igual a que tinha com sua turma. Com eles, Alice precisava andar “pisando em ovos”.

Logo que entrou no colégio, Alice conversou um pouco com alguns conhecidos e, como pensava, o assunto do dia era sobre seu namoro. Antes de ir à sala, deu de cara com a irmã e os amigos de Fernando, disseram que ele havia contado como havia lhe pedido em namoro e outras coisas a mais, só para lhe provocar. Alice com toda sua educação falou meias palavras, reagiu sem muito interesse e deu ponto final naquele assunto, por mais que ela não tivesse gostado de todos aqueles comentários, pouco importava o que eles dissessem.

###

- Ei mocinha, onde você pensa que vai?

- Sumir o dia todo, esquecer essa família que você fez o favor de me dar, Paula. - saiu batendo a porta como sempre fazia.

Depois do segundo casamento de sua mãe e da morte de seu pai, Cecília havia se tornado ainda mais uma garota rebelde, a última que aprontou foi ter cortado seu cabelo preto acima do ombro todo desigual e pintar as pontas de vermelho, e para deixar sua mãe enfurecida colocou um piercing na sobrancelha. Ela tinha uma pele branca como a neve e seu corpo era tão definido à ponto de dar inveja a qualquer garota. Mas o que lhe destacava mais eram seus profundos olhos negros.

Finalmente o final de semana. Alice estava muito bem, iria aproveitar o dia ao lado do Fernando, eles combinaram um piquenique na cachoeira. Enquanto se arrumava lembrou de seus melhores amigos, há mais de um mês que não recebia noticias deles, já estava preocupada, mas se tivesse acontecido algo já teria sido avisada.

Com tudo pronto esperou por ele, até que ouviu vozes chegando à sua casa. Não estava acreditando, Fernando não tinha marcado um encontro e sim uma reuniãozinha com seus amiguinhos.

Cecília andou bastante após sair de casa, pensou em procurar um local calmo para relaxar e deixar o tempo passar. Decidiu ir para o lado das fazendas e procurar alguma paisagem legal para limpar a mente. Como ficava um pouco longe, pediu uma carona e curtiu a visão por todo trajeto. Caminhando pela trilha, estava se sentindo bem com aquele ambiente, até que finalmente encontrou uma cachoeira. Um ótimo lugar para passar o dia, relaxar e esquecer os problemas que tinha todos os dias com sua mãe. Deitou-se em uma pedra, fechou os olhos e ficou pensando na sua vida. Queria que sua companheira estivesse ali, pelo menos não iria se sentir tão só. Desde que chegou seu coração lhe alarmava que sua vida ia ter um novo sentido.

Imaginava que aquele lugar não dava ninguém, quando de repente começou a escutar gritos e risos cada vez mais altos, abriu os olhos e percebeu que eram alguns dos alunos do colégio que estudava. Respirou profundamente, sabia que o dia não seria de paz.

- Marcos olha quem ta ali? – Fábio falou com a voz baixa. – A gostosa da novata.

- As meninas acham que ela gosta de garotas. Eu ainda não percebi nada disso.

- Deve ser é falta de homem de verdade, isso sim. Vamos provocá-la? – Fábio apenas recebeu como resposta acenos afirmativo dos amigos.

Gabriela e Luisa não deixavam por menos:

- Alice, não tem como tirar aquela garota daqui? – falou praticamente apontando para ela.

- Eu não vou expulsar ninguém, essa área é publica e mesmo assim, ela não ta fazendo nada.

- Mas esse é o problema, a presença dela. – Luisa falou ironicamente. – Você sabia que ela é sapatão?

- Não acredito que vocês estão falando isso, julgando uma pessoa só em ver. – Alice afastou-se delas.

- Vocês são cegos ou se fazem? Não, não, na verdade vocês são um bando de idiotas. – Cecília se irritava a cada segundo.

- Foi só uma brincadeira garota, não sabe se divertir?

- Eu não me divirto dessa maneira.

- Então me mostra esse outro jeito, acho que vou adorar. – Fábio saiu da água e foi chegando perto dela, continuando a provocá-la. – Que tal um mergulho?

- Se você se atrever a me jogar nessa água irá se arrepender.

- É? Então vem, bate nesse rostinho aqui, vê se consegue. – chamou dando tapas de leve no próprio rosto.

Cecília ameaçou ir pra cima, mas Alice se meteu no meio.

- Parem com isso!

- Qual é Alice, a coisa ia começar a ficar boa agora.

- Vai se ferrar Marcos e você também Fábio, essa brincadeira foi imbecil demais, não é todo mundo que aguenta.

- Lice vai defender ela mesmo? – Fernando gritou irritado.

- Vou, porque se fosse eu também não teria gostado. – olhando profundamente para ele. – Sabia que hoje o dia não ia prestar.

- Então para que você veio?

- Não faço a mínima ideia. Já chega ok?

Fábio voltou para a água e as garotas se juntaram a eles, enquanto Alice virou para Cecília.

- Desculpa.

- Você não tem que se desculpar, a culpa não é sua, mas mesmo assim, obrigada.

- Não foi nada. Defenderia qualquer pessoa que estivesse numa situação com esses caras. Então, você ta passando um tempo por aqui?

Cecília riu.

- Eu estudo no mesmo colégio que você e na mesma sala.

- Sério?! Acho que não reparei muito.

- E também sou a garota que esbarrou em você no primeiro dia. – elas riram. - Bem, vou indo, prefiro não ficar aqui, não tô a fim de aturar seus amiguinhos.

- Eles não são meus amigos.

- E por que anda com eles?

- Tá vendo aquele cara sentado na pedra de sunga preta? É meu namorado.

- Entendi. Você o namora e tem que andar com os riquinhos mimados.

- Digamos que sim. Mas sério, fica, iria adorar conversar com você.

Cecília olhou para os lados, para baixo e com um meio sorriso:

- Certo, mas se eles tentarem algo eu acabo com a cara deles.

- Feito. – Alice deu um sorriso que deixou Cecília fascinada.

As duas ficaram conversando por bastante tempo, sobre coisas banais, como: gosto musical, filmes e livros. E para surpresa delas, a cada assunto novo que arranjavam tinham sempre algo em comum, as deixando mais próxima.

Alice não sabia o porquê, como, quando ou o que. Mas tinha algo que fazia ficar perto de Cecília, apenas com a troca de olhares no primeiro momento, sentiu uma sensação prazerosa, mas não era só isso, tinha mais.... Só não sabia achar uma palavra para aquilo.

Por isso, no instante que percebeu que estava ficando tarde, na despedida...

- Já vai escurecer, preciso ir. Pessoal vocês vão agora?

- Não, vamos ficar mais.

- Então tô indo. – Alice se levantou e foi pegar suas coisas.

- Ei amor, fica mais, mal passamos um tempo juntos.

- Pois é, mas você também não quis aproveitar a minha presença. Amanhã nos falamos.

Sem gostar da resposta ele voltou para os amigos e ela para se despedir de Cecília.

- Não vai agora?

- Não, preciso ficar mais, vou da mais uma volta por aí, não quero ir pra casa agora.

- Mas à noite a estrada é perigosa, pelo menos ta de carro?

- Não, tô a pé mesmo, mas não se preocupe, sei me virar.

... Fez o pedido.

- Tenho uma ideia, vem comigo, você pode dormir na minha casa. – Deu a mão para ajudá-la a levantar.

Cecília pensou, achou ótima ideia, mas queria recusar, afinal não sabia se os pais dela iriam gostar, porém sabia que se negasse iria ser em vão, percebeu que Alice estava decidida em levá-la de qualquer jeito.

- Ok. – segurou na mão de Alice e as duas seguiram pela trilha.

Quando chegaram, Cecília ficou admirada com a casa, pelo jeito antigo e ao mesmo tempo sofisticado, no momento que ia elogiar para Alice sobre a casa, os pais desta chegam, todos são apresentados e conversam por um tempo.

Fazia tempo que Cecília não sentia aquele clima família, foi à primeira vez depois de um ano após a morte do seu pai que voltou a sentir a presença dele ao seu lado.

Depois do jantar, as duas ficaram no quarto conversando até altas horas, em um desses momentos, Cecília resolveu agradecer pela gentileza.

- Lice, obrigada pelo jantar e por tudo hoje.

- Não precisa agradecer. – sorriu. – Ceci, não cheguei a te perguntar, mas como é sua relação com seus pais? Notei que você ficou boba por ver minha interação com os meus.

- Primeiro que, perdi meu pai há um ano. – viu que Alice ia fazer menção de falar, mas a interrompeu. – Não precisa sentir muito, aconteceu. – sorriu triste. – Enfim, tirando minha irmã, ele era a única pessoa que me entedia, sempre me apoiava. – respirou, sentiu sua voz embargar. – Quando tive que voltar a morar com a minha mãe, meu mundo desabou. – uma lágrima deslizou pelo seu rosto. – Os namorados dela tentavam mandar em mim. Ela me batia, as vezes, por eu não obedecê-los. Me chamava de vagabunda por não fazer o que queria e xingava pelo fato... – não conseguiu falar, a voz ficou presa e as lágrimas caiam sem pena. Há bastante tempo não se abria para alguém.

Alice não aguentou vê-la assim, chegou mais perto e abraçou. Passaram minutos assim, até Cecília parar de soluçar, por causa do choro. No momento que saíram do abraço, os olhos se encontraram, as respirações mudaram e cada uma, sentia o cheiro da outra... Um encontro no qual existia sentimento demais ali, só não sabia defini-los.

Cecília tentou se aproximar...

Alice se afastou depressa demais...

Um silêncio constrangedor se estabeleceu...

Até...

- Precisamos dormir. – Alice disse. – Está tarde.

- Você tem razão.

- Boa noite! – disseram juntas e adormeceram.

Naquele dia, naquela noite, uma amizade estava acabando de surgir entre duas pessoas parecidas, mas que ao mesmo tempo tinham suas diferenças. O que havia acontecido, só o tempo poderá dizer o significado, podendo ou não abalar a relação entre elas.





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Capitulo 3

[26/06/12]

Mais uma semana começava normalmente, Cecília pela primeira vez desde que chegou naquela cidade estava se sentindo leve, feliz. Sábado tinha sido um dos melhores dias para ela. Quando chegou ao colégio avistou logo Alice, foi em sua direção para cumprimentá-la, mas para sua surpresa ela baixou a cabeça, fingiu que não a viu e saiu com os amigos de Fernando. Cecília ficou sem jeito, sem entender a atitude dela, resolvendo ir direto para sala.

Logo que entrou na sala, sentou na última cadeira no canto oposto a porta. Ficou pensando, se perguntando por que Alice tinha feito aquilo. “Sábado foi tão bom, há tempos não me sentia bem ao lado de uma garota. E de repente, quando acho que encontrei alguém para me fazer companhia, ela derruba as minhas esperanças.”

Assim que o sinal tocou, viu a garota entrar, ficou observando, suspirou. “Preciso resolver isso depois.” Falou em pensamento.

Alice se sentiu chateada por ter feito o que fez, fingir que não viu Cecília. Não por querer, realmente havia gostado de conhecê-la, mas se sentiu embaraçada demais com a situação que passou.

“Aquele olhar dela, a mudança repentina das nossas respirações, foi estranho. E... e... um arrepio por toda a minha espinha, não faço a mínima ideia do que isso significa. E se os boatos forem verdadeiros, Fernando tem razão, preciso me manter mais afastada dela.”

Assim que o sinal tocou, entrou na sala. E com um olhar rápido, viu onde Cecília estava sentada. Optou por uma cadeira na outra extremidade, por mais que tivesse gostado da companhia, não podia ficar perto, não queria uma garota dando em cima dela. Ela não era lésbica.

Por todo o restante do dia, Alice fez de tudo para não se encontrar com Cecília, mas parecia que as horas, o dia e o tempo, estavam contra ela, pois as duas acabavam sempre se esbarrando em algum local do colégio. Para a felicidade de Cecília e para o nervosismo de Alice.

No final da aula, Alice saiu apressada da sala, não queria mais ter um encontro com Cecília. Estava no meio do pátio quando ouviu duas vozes lhe chamando, ao virar-se avistou seus dois amigos que há tempos não via. Correu para abraçá-los.

- Vieram passar uns dias aqui? – Alice perguntou.

- Não linda, viemos para ficar de vez. Voltamos. – Guilherme lhe abraçou mais uma vez com força.

Alice vibrou com a notícia, perguntou mais umas coisas e disse que eles iriam almoçar em sua casa. Enquanto caminhavam até a saída, os três ouviram alguém a chamando. Era Fernando, querendo saber para onde ela iria, pois eles haviam combinado de almoçar.

Enquanto eles conversavam, Guilherme não gostou nem um pouco de ver a sua amiga com aquele cara, queria saber o que ela encontrou de interessante. Ele já conhecia Fernando e desde que ocorreu uma confusão no colégio que estudou nunca mais olhou para sua cara.

- Relaxa Guilherme, a gente não pode fazer nada se eles estão juntos e mesmo assim Lice ainda não sabe o que ocorreu no primeiro ano. – Flávia tentava controlar a raiva e a tensão de seu irmão.

Quando ele pensava que não podia ficar pior, Alice resolveu apresentar Fernando a eles.

- Gente deixa eu apresentar a vocês o meu namorado. – seu amigo engoliu a seco quando ouviu aquele termo e Fernando gelou quando percebeu de quem se tratava.

- Fernando, esses são Guilherme e Flávia. Meninos este é Fernando.

- Prazer, tudo bem? – Fernando tentou ser educado, mas não teve respostas, Guilherme preferiu ficar o encarando, por mais que estivesse com um pouco de receio.

- Não se lembra da gente Fernando? – perguntou Flávia tomando a frente.

- Vocês se conhecem? – Alice não entendeu do silêncio de seu amigo e muito menos a reação de seu namorado.

- Basicamente. Estudamos no mesmo colégio, não lembra? Nós esbarramos algumas vezes, acho que...

- Ah! Claro, sim. Lembro. – por um momento Fernando teve medo do que aquela garota podia dizer.

- Ótimo! – dessa vez Alice sorriu. – Não podemos passar o dia aqui. Fê, vou com eles, mas tarde nos falamos.

- Certo, sem problemas. – sorriu.

Quando tudo ficou resolvido, os três seguiram caminho. Nesse meio tempo eles conversaram sobre tudo que aconteceu nesses últimos dois anos, menos a condição de Guilherme e o namoro repentino de Alice com o rival de seu melhor amigo.

Quando chegaram em casa, almoçaram rapidamente e logo depois trancaram-se no quarto para continuar a conversa. Tudo ocorria bem, até que Guilherme decidiu comentar sobre Fernando.

Alice ficou sem reação ao ouvir da boca de seu amigo que não deveria está namorando "aquele cara", pois ele não prestava. A única reação que teve foi perguntar o porquê, no entanto Guilherme não podia contar tudo, o que lhe havia acontecido, naquele momento. Devia, mas não era a hora certa.

No instante que Alice ia continuar falando, bateram na porta, era Maria avisando que uma amiga dela estava a sua espera na sala. Os dois se entreolharam e Alice saiu rapidamente para ver quem era.

Assim que chegou as escadas, percebeu que era Cecília. Gelou. Havia feito de tudo para não falar com ela naquele dia e para sua falta de sorte, estava ali parada. E com certeza iria falar sobre o que tinha acontecido.

- Oi! - falou se aproximando da outra. - Ta tudo bem? - Alice se bateu por dentro por está sendo "falsa", odiava esse tratamento.

- Olá! É aconteceu. Precisamos conversar. - mas mesmo antes que Alice pudesse se pronunciar, Cecília foi dizendo. - Por que você fingiu que não me viu hoje?

- Eu... não te.. vi. - Alice se engasgava com essas simples palavras. Sabia que a outra ia entrar nesse assunto.

- Não mente para mim, é pior.

Antes que pudesse obter resposta, a mãe de Alice entrou na sala. Falou com elas e seguiu para o escritório. Como sua mãe poderia ouvir a conversa, Alice resolveu levar Cecília para seu quarto.

Quando entraram, Cecília ficou receosa de continuar por conta dos outros amigos de Alice, mas essa fez as apresentações e disse que não havia problema.

- Me explica o porquê daquele fingimento.

- Eu... olha desculpa ta. Eu e Fernando discutimos sobre o sábado e ele pediu que eu desse mais atenção ao nosso namoro. - Alice segurou o ar naquele momento, aquela história tinha sido nada menos do que inventada. Realmente tinha discutido com Fernando, mas foi por Cecília ter dormindo em sua casa.

- Não é isso que ele quer. Na verdade a vontade dele é te ter aos seus pés todo momento. Não o conheço, mas já deu pra perceber a arrogância que ele tem.

- Não é isso.

- É sim. Ele vai tentar te afastar dos seus amigos até conseguir. - Cecília falou apontando para os dois.

Sentados a cama, Guilherme e sua irmã ouviam calados a conversa. Por dentro ele estava adorando tudo o que aquela nova amiga de Alice falava, mas ao olhar para Alice percebia uma agoniação e não entendia.

A discussão delas tomou mais um bom tempo, e para piorar Guilherme resolveu se intrometer para apoiar Cecília, foi ai que a discussão quase não teve fim.

###

No dia seguinte, Alice acordou completamente exausta. Tinha passado a noite pensando no que seus amigos falaram. Não havia reparado nada daqueles defeitos que eles apontaram em Fernando. Também não entendia esse ódio que Guilherme sentia por ele, era como se já tivesse acontecido algo... Outra coisa que ainda estava martelando em sua mente, os dois ficaram estranho quando foram apresentados.

Sentou na beira da cama e olhou para o relógio que estava em cima do criado mudo. Viu um anel e lembrou que o achara caído no chão do seu quarto. Era de Cecília, desde que conhecera essa garota, sempre havia algo que a lembrasse, ela tinha se tornado permanente ao seu lado. Ainda mais depois do que ocorrera.

Cecília chegou ao colégio cedo, queria poder ver Alice chegar e falar com ela. Passou algumas horas da noite pensando na conversa que teve com ela e concluiu que tinha pegado um pouco pesado. Por mais que algumas coisas fossem verdades, não tinha o direito ainda de se meter tanto na sua vida. Então resolveu lhe pedir desculpas, não queria perder o contato com ela.

Enquanto pensava como começaria a falar com ela, caminhava até o banheiro. Mas uma conversa entre Guilherme e Fernando lhe fez parar, ficou observando o que eles diziam...

- O que você falou para a Alice?

- Nada que te importa.

- Como não? Ela é minha namorada.

- E é minha amiga. Não invente de fazer nenhuma mal a ela, porque se...

- Se o que? – Fernando puxou Guilherme pelo braço. – Vai fazer o que seu viadinho. Diz!

O corpo de Guilherme gelou completamente, na sua mente se passou todas as imagens do que tinha acontecido há dois anos.

- Responde ou ficou com medo? – soltou um sorriso sarcástico.

- Não tenho medo de você seu FDP. – puxou seu braço bruscamente. E para sua surpresa Fernando avançou em cima, mas foi interrompido por Cecília.

- O que tá acontecendo aqui? – encarando Fernando.

- Nada! – disse a olhando de cima abaixo e falou olhando para Guilherme. – Fique de olho aberto, cuidado com o que diz. – depois se voltou para Cecília. – E você, fique bem longe da minha namorada.

- Só se ela quiser. - soltou um riso no canto da boca. Fernando saiu feito uma fera.

- Você tá bem? – disse se virando para Guilherme.

- Sim.

- Quer conversar sobre isso?

- O que você ouviu?

- Tudo.

- Não quero que você se meta nisso, Fernando não é de brincadeira. – Guilherme ficou preocupado.

- E eu sou? Eu sei lhe dar com pessoas do tipo do Fernando. Mas primeiro, quero saber de toda a história. – ela recebeu uma resposta afirmativa e saíram conversando sobre o assunto.

Alice entrou no colégio, olhou ao redor. Seus olhos percorreram por todo pátio e parou no momento que viu uns olhos negros em sua direção. Cecília. Fechou os olhos e suspirou. Queria entender o porquê de sentir uma sensação de nervosismo ao olhá-la. Quando fez menção de ir em direção a ela, que junto estava Guilherme e Flávia, foi interrompida por uma mão em sua cintura lhe abraçando. Fernando.

Fez de tudo para que ela fosse se sentar a mesa com seus amigos, mas como se a voz de Guilherme e Cecília estivessem em sua cabeça, recusou. Mentiu dizendo que precisava terminar um assunto com seus amigos.

- Bom dia! - disse a todos quando se sentou a mesa.

- Bom dia. - responderam juntos.

- Ceci, você esqueceu isso lá em casa. - disse entregando-lhe o anel.

- Valeu! Tava atrás dele mesmo. - recebeu colocando-o no dedo. - A gente precisa conversar, Lice.

- Ah não! De novo esse assunto gente. Não quero discutir de novo sobre meu namoro com Fernando. - disse impaciente. - Eu sei, vocês não gostam dele. Cecília, eu sei os seus motivos. Agora e o Guilherme?! Não me disse nada.

- E nem vou falar. - ele disse baixo.

- Ótimo! Vou respeitar a decisão de vocês, mas também espero que vocês respeitem a minha. Enquanto eu estiver bem com ele, continuarei namorando, até por que ele nunca me fez nenhum mal.

- Tudo bem, Lice. Iremos respeitar. - Cecília disse por fim.

Os quatro fizeram um longo silêncio, como se tivessem feito um pacto.





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Capitulo 4

[28/06/12]

Durante o restante da semana, Alice desviou de todos. Estava precisando ficar sozinha, colocar umas ideias no lugar. Mas o único assunto que conseguia pensar era sobre Cecília. Naquele final de semana que elas ficaram próximas depois do abraço, lembrava de como os olhares mudaram.

Tentava quebrar a cabeça e descobrir se Cecília realmente era lésbica. Quando estava perto dela, principalmente dentro da sala de aula, ficava olhando os gestos, o modo de vestir. Só que sempre achava tudo tão natural, tão bonito. Tudo ao gosto dela.

Quis muitas vezes conversar com Guilherme sobre, mas sempre hesitava. "Isso é estranho demais."

Durante horas, Cecília ficava olhando para o teto pensando em Alice. Queria empatar essa lembrança da sua mente, mas não era sequer possível.

“Não posso e não quero me apaixonar agora, passei muito tempo me recuperando de uma paixão que não deu certo. Com a Alice poderia ser diferente, eu sei, mas não consigo me entregar totalmente a alguém. Me feri, me magoei demais a um ano. Passei todo esse tempo erguendo um ‘escudo’ para os sentimentos e quando percebo, já estou pensando incansavelmente em outra garota. Aliás, provavelmente eu não tenha nenhuma chance com ela, dá pra ver que gosta do Fernando, mas com toda sinceridade, queria que esse namoro desse errado.” Cecília falava mentalmente consigo mesma dentro do seu quarto.

Alice estava ao telefone quando viu Guilherme entrando no seu quarto. Rapidamente dispensou Fernando, fazia dias que não lhe dava atenção e muito menos se importava com isso. Parecia que as palavras de seus amigos estavam aos poucos fazendo efeito, só não se tocava disso.

- Oi meu bem! - disse ele dando-lhe um beijo na bochecha. - Como você ta?

- Bem! Só meio dispersa das coisas ultimamente.

- Percebi. O que anda acontecendo?

Antes que ela pudesse responder, o seu celular voltou a tocar. Mordeu o lábio inferior quando viu no visor que era Cecília.

- Oi! - Alice disse com um sorriso crescente no lábio.

- Oi. Como você tá?

- Bem.

Um breve silêncio.

- É... Lice, eu liguei querendo saber se você gostaria de ir a uma festa comigo.

- Humm.. eu não sei. Acho que vou ter que estudar alguma coisa ou sair com o Fernando. - por dentro ela queria dizer sim, mas sua consciência não deixou.

- Nem vem, Lice. Desde que a gente se conheceu não saímos para nenhuma festa. E outra, você vai poder conhecer minha irmã. - antes que a outra pudesse falar algo, suplicou. - Por favor, não vai deixar de sair por causa do seu namoradinho, neh?!

- Ai Ceci, não sei. - passou as mãos pelos cabelos. - Que tipo de festa será?

- Bem... - nessa hora hesitou de dizer, mas... - Tem problema se a festa for gay? - segurou o ar ao falar.

- Nã.. não. Claro que não. - se desconcertou, porém uma súbita curiosidade lhe empurrou para dizer. - Quer saber, vou aceitar. - naquele instante teve a certeza. "É, realmente ela era gay."

- Maravilha! Amanhã a gente se encontra na casa dos meninos. Beijos.

- Beijos. - e ficou sem entender onde elas se encontrariam.

- Gui, por acaso você ta sabendo de alguma festa que a Cecília vai?

- To. Eu vou com vocês. - sorriu.

- É uma festa gay.

- Hunrum. - queria ficar sério para dizer isso a ela, mas não aguentou. Teve que brincar. - E você acha que eu sou o que, linda?!

Alice abriu a boca várias vezes, não sabia o que dizer. Como não tinha percebido antes.

- Não! Não acredito.

Guilherme riu da cara que ela fez, uma hora ou outra ela saberia. A única coisa que preferia não contar foi o que ocorreu entre ele e Fernando.

- Tem algum problema?

- Não, nenhum. - foi para o lado dele e o abraçou.

###

No dia seguinte, já no final tarde, todos já estavam se divertindo na casa de Guilherme. Ou como eles preferiam dizer, "esquentando" para cair na night.

Naquelas horas Alice trocou vários olhares com Cecília, todos tinham significados, mas não os sabia completamente. Só tinha certeza de uma coisa, a qualquer momento, elas eram cúmplices.

Cecília não conseguiu deixar de ficar feliz em saber que teria a companhia de Alice, tinha certeza que ela já sabia de si. Não se importou, já estava mais do que na hora.

Quando estavam se aprontando para sair, no quarto, sentiu o olhar de Alice em si. Demonstrou que não havia percebido, pois era como se ela estivesse procurando algo nos seus gestos.

No caminho para a boate, eles não paravam de tagarelar. Pela primeira vez, Alice estava deixando se permitindo a conhecer algo novo. "Sinceramente, nunca me via indo a uma boate gay." Sorriu quando pensou nisso, apenas para despertar a atenção e curioso dos outros dois.

Quando chegaram ao local perceberam que a festa estava mesmo arrasando, as melhores músicas e muita gente bonita. Foram direto para o bar encontrar Adriana, irmã de Cecília. Encontrando-a, Cecília deu um abraço bem apertado na irmã e um beijo longo na bochecha. Fez as apresentações, todos se cumprimentaram e cada um procurou um canto para ficar.

Enquanto Cecília conversava com Juliana, percebeu que Adriana estava se enturmando com Alice, mas viu no olhar da irmã que pretendia algo mais, não gostou do que via só que preferiu não dizer nada por enquanto.

- Quantos anos você tem?

- 16.

- Você é linda sabia?! – falou bem pertinho do ouvido. Alice agradeceu constrangida. Ela tinha achado Adriana bonita, mas sem pensar em segundas intenções, já que não era a sua praia, assim como percebeu no falar dela.

Adriana era meia irmã de Cecília, e assim como ela, tinha o corpo bem definido, os olhos negros e irresistíveis, a diferença estava na cor da pele, a sua era morena, que tinha herdado da mãe, era difícil alguma garota não prestar atenção nela.

- Que tal ir para outro ambiente? Já que minha irmã e seu amigo estão entretidos.

No momento que ouviu essas palavras, percorreu o local para achar Cecília, encontrou e não sabia dizer o porquê, mas não gostou do que viu. Ela estava dançando completamente grudada a Juliana. Tinha apenas uma certeza, não era nojo, repugnância. Raiva?! Será que era isso? Como explicar?

Passou minutos olhando aquela cena, anulou toda a atenção do que Adriana dizia, não importava, só conseguia e queria olhar em direção a sua amiga. Mas num momento de relance, sentiu as mãos da outra sobre sua cintura, foi quando voltou a si.

Ficou completamente tensa com a situação, pediu para soltá-la, tentou se sair, mas nada adiantou. Até que viu Cecília puxar com força o braço de sua irmã.

Elas falaram brevemente, Cecília levemente com raiva, pois não queria esse tipo de incomodo para Alice. E Adriana, ficou pacientemente ouvindo sua irmã, só achou que poderia ter sido avisado. Também não entendeu o estresse da irmã.

Cecília virou para sua amiga e se desculpou, perguntou se ela queria dançar um pouco, mas Alice recusou, preferia ir embora, mas não queria atrapalhar a felicidade dos amigos, e pediu que a outra fosse continuar a se divertir com Juliana.

Cecília saiu desconcertada pelo “fora” que tinha levado de Alice, só queria fazer companhia, não gostava se vê-la sozinha, ainda mais num ambiente que, pelo visto, não se sentia tão a vontade.

Voltou para perto de Juliana lembrando os segundos atrás, a cena em que sua irmã estava se atirando para Alice. Não sabia definir o que sentiu quando viu as duas tão próximas, apenas teve o impulso de agir e tirar Adriana de perto dela.

Alice se isolou num canto do bar e ficou observando o local, as pessoas e as músicas. Pediu uma bebida. No momento que procurou pelos amigos, ficou completamente estática ao ver Cecília aos beijos com Juliana. Do mesmo jeito, quando elas estavam dançando, não conseguiu tirar os olhos das duas. Aquele beijo lhe fez sentir algo quente percorrer seu corpo, um estímulo que nunca havia sentindo.

A maneira como elas grudaram os lábios, o movimento das bocas, as mãos passando pelos corpos. Todas as sensações que sentia eram novas para ela. Estava achando aquilo loucamente excitante.

Só retirou os olhos de onde elas estavam, porque Guilherme apareceu, chamando-a para se divertir com ele e seu ficante. Tentou recusar, mas não conseguiu. Então resolveu se juntar a eles.

Assim que voltou para o lado de Juliana, não conseguiu sequer ouvir uma palavra do que ela disse, não por causa da música alta, mas pelo fato de não conseguir tirar os olhos de Alice.

Voltou a dançar, tentando tirar toda e qualquer vontade de voltar para o lado de sua amiga, pois sabia exatamente o que queria. Então como quem quer matar um desejo, colou sua boca na garota a sua frente, sabia que não seria recusada.

Ficaram aos beijos e aos amassos. Por um flash abriu os olhos, a procura de Alice, a viu completamente fixada nela. Voltou a fechar os olhos e continuou a beijar Juliana.

Quando pararam para respirar, Cecília procurou novamente pela outra, sem sucesso. Não sabia onde ela teria ido, daria um jeito de achar.

Estava completamente animada depois que foi apresentada ao ficante de Guilherme. Os dois fizeram com que Alice se distraísse bastante. Dançaram, riram e beberam. Sentiu-se um pouco alta pela bebida, não se importou, nem mesmo com o fato de uma garota puxar papo com ela, achou até interessante. Percebeu que Guilherme iria se interromper, mas fez sinal de que tava tudo bem.

Conversou um longo tempo com a garota, dançou junto e até trocou certos olhares com ela. Pensou por um momento em ficar, tirar a dúvida, matar a curiosidade que naquela noite se expôs dentro de si.

Quando voltou a se juntar em uma dança, colou o rosto no da garota e assim que foi aproximando os lábios, sentiu alguém puxando seu braço.

- O que você está fazendo?

- Pensava que não tinha namorada!- a menina falou assustada.

- Namorada não, mas namorado sim.

- Qual é Ceci, você não tem nada haver com isso.

- Nem lésbica você é!

- Quem decide isso sou eu. – viu Cecília rir da sua cara. – E agora quero ficar com aquela garota.

Cecília não deu ouvidos aquilo, apenas disse.

- Você tá bêbada, isso sim. – voltou a segurar seu braço. – Vamos pra casa.

- Me solta! – puxou com força seu braço. – Eu faço o que eu quero, volta pra Juliana.

Cecília ficou estática olhando Alice ir embora. Respirou fundo, não sabia o que tinha feito. Pouco importava se ela queria ficar com outra garota, mas quando as viu dançando junto e o quase beijo, não conseguiu se controlar e interrompeu aquela cena.

Começou a discutir com ela, só para ter a certeza. Alice estava bêbada. Fez de tudo para ela se controlar, disse até que iriam embora, mas viu a chateação nos olhos da amiga.

Voltou a real, olhou para o lado e viu Guilherme. Contou rapidamente mais ou menos o que tinha acontecido e pediu para irem embora. Pagaram a conta e saíram sem se despedir de ninguém.

Assim que saíram da boate, encontraram Alice chamando um táxi. Guilherme pegou-a pelo braço e a contra gosto, ela voltou com eles.

Chegaram em casa, Guilherme foi para seu quarto e as meninas para outro. Alice passou direto para o banheiro. Cecília sentou na cama e esperou ela sair para conversarem.

- O que foi aquilo, Lice? – falou assim que saiu do banho.

- O que? – disse sem olhar, procurando uma roupa nas suas coisas.

- Do nada querer ficar com uma garota?!

- Quis matar uma curiosidade.

- Você está bêbada.

Alice soltou sua bolsa e a olhou.

- Eu sei que estou tonta, andando aos tropeços e meio alta pelos drinks. Mas amanhã vou lembrar tudo e pode ter certeza, não vou me arrepender.

- Então por que não ficou com minha irmã?

- Não estava afim.

- Porque estava lúcida. – levantou da cama. – Essa é a resposta certa.

- Não. – fixou seus olhos nos negros, que estavam enigmáticos. – E você, que ficou irritada pela sua irmã da em cima de mim? Tem resposta pra isso?

Cecília ficou surpresa pela pergunta, não esperava essa cobrança dela.

- Tem. – pensou em dizer qualquer coisa, mas... – Senti ciúmes.

Alice gelou quando ouviu aquilo. Gesticulou alguma coisa, mas nada saiu da sua boca. Então Cecília continuou.

- Não foi isso que você sentiu quando me viu com a Juliana? – aproximou um pouco da outra.

- Não! – soltou num fio de voz. – Nunca!

- Se não foi isso, por que você me mandou voltar para onde ela estava toda raivosa? – soltou um riso.

- Eu não estava com raiva. – reparou que Cecília estava a um passo de grudar seu corpo no dela. – Não se aproxime mais.

- Aproximo de você o quanto eu quiser. – disse mergulhada nos olhos de mel, e em um movimento rápido puxou Alice pela cintura e colou os corpos.

- Ceci, não. – sentiu seu corpo estremecer com aquele contato. Nunca pensou que pudesse sentir aquilo por uma garota.

Cecília não ligou para o que Alice disse, apenas a tomou para um beijo delicioso. As duas se renderam aqueles minutos.

Alice enlaçou-a pelo pescoço, deixou que o beijo acontecesse. Sentiu seu corpo desejar aquilo a noite toda, mas como um relâmpago, lembrou de Fernando e a soltou rapidamente.

- Não repita mais isso. – disse ofegante.

Cecília não respondeu, apenas a olhou. O mel dos olhos da outra mostrava tanta coisa, mas a única que conseguiu enxergar foi relutância.

Fez menção de não fazer mais nada. Pegou uma toalha e entrou no banheiro. Quando saiu, não viu Alice. Foi atrás dela. Se entristeceu quando a viu dormindo no sofá, não queria essa situação com ela, mas não sabia o que fazer. Voltou para o quarto, não adormeceu. Lembrou e relembrou milhares de vezes o primeiro beijo entre elas.



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Capitulo 5

[03/07/12]

Alice acordou com Guilherme e Flávia lhe chamando. Levantou sentindo um cansaço enorme, primeiro por que mal havia dormido e segundo seu corpo estava todo quebrado por conta do sofá.

- O que você ta fazendo aqui?

- Não quis dormir no quarto. – disse levantando-se.

- Você discutiu com a Ceci? – Flávia perguntou.

- Não. – e antes que eles perguntassem mais alguma coisa, encerrou dizendo. – Vou pegar minhas coisas e ir pra casa.

Eles tentaram protestar, mas não ia adiantar.

Ela entrou no quarto vagarosamente, se vestiu e por um tempo observou Cecília dormir. Como havia dito na madrugada, não se arrependeu do que fez, gostou muito do beijo que aconteceu entre elas, mas não podia, não dava para acontecer de novo. Saiu, se despediu dos amigos e foi para casa.

Tempo depois, Cecília acordou, tomou um banho e foi procurar seus amigos. Ficou triste por não encontrar Alice ali. Se resumiu a conversar sobre a festa. Riu um pouco sobre algumas coisas, mas sem deixar de pensar na garota. Não entrou em detalhes sobre o que aconteceu entre ela e Alice, apenas disse que tinha sido um estresse. Assim que terminou o café, também foi embora, necessitava ficar sozinha. Deixando seus amigos sem entender nada.

A manhã terminou e a tarde passou calma, Alice mal tinha passado o dia em casa, pois sentiu que se ficasse parada por muito tempo no seu quarto enlouqueceria. Então foi jogar seus pensamentos na cachoeira, o único lugar que lhe trazia paz. Passou horas olhando o cair das águas, desejando que pudesse derramar sua angústia da mesma maneira.

Essa angústia tratava-se de duas pessoas, Cecília e Fernando. Estava se sentindo divida, gostava de Fernando, mas não sabia explicar que tipo de sentimento sentia. E Cecília, tudo era novidade para si. Não sabia se era certo ou não ficar com garotas, mas não podia julgar, pois seu melhor amigo era gay e nem por isso via nada de anormal. E quando sentiu o sabor do beijo, não sabia o que pensar, porque pela primeira vez, não conseguia raciocinar perto de uma pessoa.

No final da tarde voltou para casa, esperou pelo jantar e logo após trancou-se no quarto. Ao se deitar, sentiu o corpo pesado e cansado do dia, estava exausta. Ficou lembrando, apenas, do beijo que trocou com Cecília.

O dia para Cecília transcorreu lentamente, sempre ficava olhando o relógio, esperando que as horas se passassem depressa, pois o que mais queria era rever Alice, por mais, que provavelmente, ela não quisesse.

Não sabia o que ela poderia ta pensando naquele dia, depois do beijo. Só esperava que ela não estivesse arrependida. Mas tinha certeza de uma coisa, Alice havia gostado do beijo.

Cecília ficava olhado para um ponto fixo qualquer do quarto, pensando, lembrando e imaginando o beijo que deu e outros que poderia trocar com aquela garota que balançou seu coração.

###

No outro dia no colégio, Alice estava terminando de conversar com uns colegas de sala. Quando fez menção de sair da roda, esbarrou em alguém...

- Descul... pa. - falou olhando para Cecília.

- Te desculpo, Lice. Mas não precisa ficar tão espantada. - riu do olhar bobo que ela lançava.

- Não to espantada. Só achei que era outra pessoa. - isso era verdade. Tinha achado Cecília naquele dia totalmente diferente. Ela estava usando uma blusa que deixava seu busto a mostra. O cabelo, por mais que fosse pequeno, ainda dava para fazer um coque e deixando seu rosto com mais destaque. E aqueles olhos... estavam tão vivos.

Cecília apenas sorriu com aquele comentário. E chamou-a para ir se sentar com os garotos. Só que no meio do caminho, precisava perguntar uma coisa. Na verdade provocá-la.

- Não se arrependeu de ter me dado um beijo? - perguntou baixinho no ouvido de Alice. Esta virou e ficou de frente para ela. Encarando-a.

- Não quero falar sobre esse assunto. - disse séria.

- Ah sabia! Se arrependeu e não tem coragem de dizer. - largou um sorriso sarcástico.

- Vamos esquecer o que aconteceu, por favor.

- Desculpa, mas não posso. - se aproximou um pouco mais. - Diz que você quer repetir, vai.

Alice sentiu seu corpo todo esquentar. Sua respiração faltar. Fixou seus olhos nos de Cecília e ficou pressa naquela imensidão negra. Tentou falar alguma coisa, mas sua voz não saia. No único segundo que voltou a si, saiu apressada, quase pensou em fazer uma besteira ali.

Propositalmente, Cecília sentou ao lado de Alice. Durante a primeira aula, percebeu o olhar dela direto em si. Suspirou. E mais uma vez, resolveu provocá-la. Pegou um papelzinho, escreveu algo e entregou-a.

- Ta me olhando pq?

Alice olhou-a com um ar de impaciência.

- Vc se acha, sabia? - devolveu.

- Está enganada. É vc q não quer confessar.

- E vc não me deixa em paz.

- Qual é, Lice. Pq vc não diz o q realmente quer? Não faz o q ta desejando ai?!

Alice quase não acreditou nas palavras escritas. Por mais que Cecília estivesse com toda razão, isso para ela era um absurdo, não se via ficando com uma garota. Então escreveu...

- Tenho namorado e o respeito, não insista mais nesse assunto. Vai achar alguma garota da sua laia. Já pedi para esquecer o que aconteceu. - respirou e terminou. - Foi um erro que não irá se repetir.

Toda a felicidade de Cecília caiu naquele momento. Sua face se fechou de repente. Amassou o papel e respirou vagarosamente. Sentiu sua garganta fechar. Pensou que poderia amolecer aquela cabeça dura, mas só conseguiu palavras que machucassem um pedaço de si mesma.

Alice saiu daquele colégio arrasada, sabia que tinha chateado Cecília, mas não podia fazer aquilo. Não se sentia bem com isso, não conseguia aceitar essa situação. Ela nunca foi de gostar de garotas e da noite pro dia ficou balançada por uma.

Ela gostava de garotos, namorava Fernando e iria continuar sendo assim.

Cecília entrou em casa parecendo um furacão, não queria falar com ninguém, muito menos com sua mãe. Assim que trancou a porta, deixou o turbilhão de lágrimas caírem pela sua face, havia segurado-as por toda manhã.

Nunca pensou que em tão pouco tempo, uma garota podia fazer isso com ela. Mas as coisas não iriam ficar assim, do mesmo jeito que Alice entrou na sua mente, em seu coração, sairia. Rápido.

Celular desligado, pedido que fez para não atender ninguém e porta trancada. Foi assim que Alice resolveu esquecer tudo e de todos. A conversa que teve na manhã com Cecília mexeu muito com ela, quando os olhos se encontraram, teve uma súbita vontade de abraçá-la e beijá-la, mas esse pensamento sempre era mudado rapidamente quando pensava que isso não dava certo.

Tinha decidido que mudaria aquela situação. Se distanciaria aos poucos de Cecília, não queria mais ela dando aquela indiretas, por mais que isso fosse o desejo de seu corpo e seu coração.

E cairia de cabeça nos estudos e no... namoro. Nos últimos dias, todas as vezes que lembrava de seu relacionamento, desanimava... "Tudo por causa dela, se não tivesse aparecido na minha vida, estaria mais tranquila. Bem. Droga!" Falava isso alto dentro do quarto.

###

Na manhã seguinte, assim que entrou no colégio, viu uma cena que não queria presenciar. Cecília de papo com outra garota... "E ainda por cima com a mão na perna da outra, como assim?! Eu sei que eu disse para ela ir procurar outra menina, mas não precisava ser tão rápido assim... Para, Alice! Enlouqueceu?! Você mesma confirmou que ia esquecer o que sentiu em todos os momentos que esteve com ela, não vai voltar atrás com a decisão. Você tem quem quer, então..."

Não conseguiu mais pensar, saiu a passos largos e rápidos até o banheiro. Entrou em um dos reservados, trancou e deixou um choro baixinho sair. Não havia gostado daquela aproximação. Cecília faria o que ela mandou, mas isso não a fez se sentir bem.





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Capitulo 6

[05/07/12]

Cecília reparou Alice atravessar o pátio rapidamente, ficou pensando no que tinha acontecido. Como não conseguiu mais prestar atenção o que Beatriz, a garota que lhe acompanhava, dizia. Pediu licença e saiu. Precisou ir atrás da outra.

Entrou no banheiro, tinha apenas um reservado fechado, só podia ser ela. Bateu levemente na porta e perguntou.

- Alice?

Alice não respondeu, preferiu ficar calada. Não estava acreditando que Cecília foi atrás de si.

- Alice, eu sei que é você ai. - Cecília insistiu. - Você tá bem?

Mais uma vez não obteve resposta. E tentou...

- Por favor, fala comigo. Fiquei preocupada, te vi passando quase correndo pelo pátio. Tá passando mal? Deixa eu te ajudar.

Alice fechou os olhos, queria responder, mas não o fez. Deixou Cecília num silêncio mórbido. Até que ouviu a porta bater. Ela tinha ido embora.

Entrou na sala, sentou e não desgrudou os olhos da porta. Cecília não sabia o que tinha feito a Alice, se sentiu para baixo com o silêncio que recebeu. Não esperava isso dela.

Assim que a aula iniciou, a viu entrando na sala de cabeça baixa. Queria ir lá, mas a razão a fez ficar sentada em seu canto.

Esperou até o intervalo, mas no momento que o sinal tocou a viu saindo depressa. Não hesitou, foi atrás, apenas para parar minutos depois e vê-la com Fernando. Fechou a mão com força, baixou o olhar e saiu.

Cecília procurou um canto mais isolado que tivesse no colégio, se pudesse sumiria dali naquele exato momento. Nunca gostou de ver aquele casal junto, mas tal situação foi diferente. “Tenho certeza que o beijo que trocamos não foi em vão, eu sei que mexeu com ela, da mesma maneira como aconteceu comigo. Só não esperava que fosse doer tanto ver aquele carinho entre eles.” Pensou.

Onde ficou sentada, deixou as lágrimas virem. Não podia fazer mais nada contra esse sentimento, estava, e não adiantava mentir para si, apaixonada.

Alice passou todo o intervalo acompanhada de Fernando, mas seu olhar percorreu a cada minuto o local atrás de Cecília. Achou estranho quando viu que os meninos estavam sem ela.

No momento que voltou para sala, olhou para Cecília. Percebeu sua feição triste. Por um segundo teve vontade de ir até onde se encontrava, mas foi impedida pelo professor que entrou na sala.

No final da aula, Alice não resistiu e foi até a cadeira de Cecília saber o que teria acontecido, por mais que quisesse distância não conseguia, se preocupava com ela.

- Ceci, a gente pode conversar um minuto? – disse assim que se aproximou da cadeira onde estava.

- Não! To com pressa. – Cecília falou ao se levantar e pegar suas coisas.

- É rápido.

- Deixa pra outra hora. – passou por Alice, mas essa segurou seu braço.

- Só quero saber como você ta. Te achei meio triste depois do intervalo.

Cecília ao ouvir aquela frase, pensou em segundos: “Triste?! Ela poderia ter arranjado uma palavra melhor.” Balançou a cabeça e voltou a andar, mas Alice continuou.

- Fiquei preocupada com você, será que não pode apenas responder?

Mesmo estando de costas, Alice ouviu o sorriso debochado de Cecília sair abafado.

- Preocupada? Tem certeza? – falou virando-se. – Quem ficou assim fui eu, Alice. Você se trancou na droga daquele banheiro e não deu a mínima quando fui saber se estava bem. – olhava profundamente para os olhos da outra. – O que te deu? Não fiz mal nenhum. Foi o beijo? – sentiu sua voz começar a embargar. – Não se preocupe, irei fazer o que me pediu, ficar longe de você e arranjar uma garota da minha laia. – mordeu o lábio inferior com força para o choro não sair.

Olhou mais uma vez para Alice, como percebeu que não iria receber nenhum tipo de resposta, saiu apressada da sala.

Alice ficou estática, presa no chão, pois suas pernas não lhe obedeciam, aquelas palavras tinham sido duras. O jeito como recebeu o olhar da outra, sentiu como se um vazio dominasse seu corpo.

Ouviu alguém lhe chamando, era algum colega de sala, que naquele momento não sabia identificar quem era. Só conseguia pensar em Cecília, pela primeira vez sentiu seu coração doer por alguém, mas não queria aceitar que esse alguém fosse uma garota. Saiu com urgência daquele colégio, precisava se isolar. Escapar dos sentimentos que não podia sequer imaginar sentir.

Cecília trancou a porta do quarto, jogou suas coisas num canto, fechou a janela, deixou tudo escuro e caiu na cama já com as lágrimas derramando em seu rosto. Se fosse para voltar a gostar de alguém e sofrer ao mesmo tempo, preferia mil vezes ficar sozinha.

Aqueles últimos dias, não fazia outra coisa a não ser... chorar. Tentava ao máximo se manter forte, pensar que Alice fosse apenas mais um de seus passatempos. Impossível. Ela era mais do que isso, e já tinha aceitado.

Não pensou duas vezes, estava há dias engasgada com aquela situação, precisava conversar com alguém. Naquela hora a única quem poderia ouvir e entender, seria sua irmã. Ligou para ela e esperou.

Naquele dia, não adiantava olhar para os ponteiros do relógio e pedir que o tempo passasse. Para elas o dia seria lento, chato, conflitante, amargo. Ficariam submersas a lembranças, discussões, olhares que compartilhavam. E também as decisões que tomariam, por mais que fossem incertas.

###

Cecília “engoliu” todo e qualquer tipo de sentimento que sentia por Alice, não queria que ela percebesse seu abatimento. Resolveu se aproximar de Beatriz, queria algo além de uma conversa. “Nada melhor para curar amores não correspondidos.” Tentava acreditar nessas próprias palavras.

Alice deixou sua vida continuar no mesmo ritmo, estudos, amigos e... “Fernando” Disse pensando, o namoro havia se tornando uma lembrança, pois nos últimos dias, era isso que acontecia. Lembrava que tinha um namoro, lembrava que tinha alguém que gostava de si, mas isso não lhe animava.

Deixaram que os dias fossem se passando e com eles a distância entre elas aumentasse.

Faziam o máximo para não se esbarrarem, mas de vez por outra acabavam se encontrando na hora da entrada ou saída das aulas. Sem palavras, sem gestos e sem olhares. Tudo sem saberem os significados.

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- Ainda não saímos juntas. Você só pode ta evitando. – Beatriz disse com tom de raiva para Cecília.

- Não é isso, só não estou afim de ir nessa festa. – disse levantando-se da cama. – Se você quiser ir, vá.

- Quero ir contigo. – aproximou-se e enlaçou os braços na cintura da outra. – Por favor, prometo que passamos pouco tempo lá. – falou baixo no ouvido e continuou. – E sabe que depois deixo você fazer o que quiser comigo.

Conseguiu o efeito que queria, Cecília resolveu aceitar o convite. Estava se deixando levar pela beleza de Beatriz. Defeitos e qualidades, não sabia quais eram, não importava. Para ela, aquele envolvimento era apenas carnal.

###

- Você agora só vive enfurnada no quarto estudando, desse jeito vai enlouquecer uma hora. – Guilherme falava alto ao telefone.

- Me deixa, Gui. – Alice bufou do outro lado. – Tô sem vontade de fazer nada.

- Você irá com a gente.

- Não quero encontrar o Fernando. – ela usou essa última cartada, pois a festa seria feita pelos alunos do último ano de colégio.

Guilherme sabia também que não gostaria de encontrá-lo, mas precisava tirar sua amiga de casa.

- Não quero saber, se você não quiser ficar com ele, fica comigo e a Fafa e ponto, não aceito não.

E foi o jeito de dizer...

- Ok.

###

Assim que pôs os pés naquela festa, Cecília deu de cara com Fernando e de uma forma totalmente imediata com uma mistura de receio e saudade, deslizou o olhar para o lado dele, mas quem queria ver não viu.

Segundo depois, ele passou por ela e ouviu dizer.

- Pensava que não vinha, Lice.

Não teve como evitar, se virou e deparou-se com os olhos cor de mel, também, olhando para ela. Sentiu, depois de semanas, o seu coração bater forte. Mas o sorriso morreu quando Alice desviou os olhos e foi em direção de Fernando.

Alice esperava encontrar todo mundo do colégio, menos Cecília. Parou por segundos para olhá-la. “Como adoro esse olhar negro.” Pensou enquanto trocaram olhares. Respirou fundo para prestar atenção no que fazia. Virou-se para Fernando e foi em sua direção.

Conversou um tempo com ele, tentando fazer entender que não queria se divertir, pois estava lá por causa dos amigos. Ficou surpresa ao ouvir grosserias dele, não esperava que seu próprio namorado não entendesse a sua situação. Preferiu não prolongar aquela conversar, mas antes mesmo de encerrar, Fernando saiu para o meio da multidão sem dar um mínimo de atenção.

Ela ficou observando o distanciamento dele, respirou fundo e saiu em direção ao banheiro.

De longe, Cecília viu tudo, não sabia o que ocorrera, mas se sentiu aliviada, pois parecia que Alice havia acabado de discutir com namorado. E assim que a viu entrando no banheiro, aproveitou que Beatriz estava distraída com uns amigos, foi atrás da outra.

###

Quando saiu do reservado, Alice deu de cara com Cecília, a olhou e baixou o olhar. Enquanto lavava as mãos, ouviu a outra dizer.

- Brigou com o namorado?

- Não te interessa. – disse com uma voz baixa. Em seguida, levantou o rosto e encarou Cecília pelo espelho. – E você, finalmente arranjou uma namorada?

- Não, ela é apenas minha ficante.

Alice enxugou as mãos e virou-se para a outra. Mais um encontro de olhares, que tentavam dizer milhares de coisas, mas com tanto sentimento misturado, acabavam se perdendo naquelas imensidões.

Cecília não podia ter gostado mais, aproveitou aquele silêncio e avançou para Alice. Não esperou os seus protestos, agarrou sua cintura e puxou para si, grudando os lábios para um longo beijo.

Apenas seu pensamento quis protestar, mas quando sentiu as mãos da outra lhe envolverem de uma forma intensa e maravilhosa, deixou ser beijada, ser apertada, ser por segundo, novamente – que para elas pareceram horas – de Cecília.

No momento que o beijo acabou, Cecília não olhou mais para Alice, passou de leve os dedos nos próprios lábios, suspirou e virou-se para sair do banheiro. Por vez, Alice não acreditou no que ela iria fazer, resolveu se impor.

- O que você pensa que ta fazendo?

- Indo embora.

- Não vai falar nada?

- O que você quer ouvir? – colocou as mãos no bolso da calça e esperou, como não teve manifestação, concluiu. – Não existe nada a ser dito.

- Como não?! Nós acabamos de trocar um beijo e você fingi como se nada tivesse acontecido?!

- Não estou fingindo, Alice. Eu sei que aconteceu, sabe do que mais, eu gostei. E muito. Só que beijo não é compromisso. E outra, não damos certo, não é isso que você pensa?!. – Colocou a mão no trinco e antes de abrir a porta, terminou. – Apenas ficamos, não foi um pedido de casamento.

Alice prendeu todo o ar que podia, não conseguia da significado ao que sentiu com aquelas palavras. Mais uma vez Cecília a desarmou por completo. Baixou a cabeça, e antes mesmo que Cecília pudesse sair, passou pela porta primeiro em passos largos tentando enxugar as próprias lágrimas.



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Capitulo 7

[10/07/12]

Assim que saiu, Alice esbarrou em Fernando. Quando o olhou, não soube o porquê daquela reação, mas o beijou, só que foi um beijo sem sentimento algum, como se estivesse procurando algo que a fizesse enxergar que ainda gostava dele, que era com ele que queria ficar. Uma busca da qual, não havia mais sentindo, pois ela sabia a resposta, só não aceitava.

- Quer sair daqui? – ele disse com um ar diferente do qual ela respondeu.

- Preciso.

Cecília viu Alice se afastar com Fernando, quase não acreditou no que tinha visto. “Como ela pode ser capaz de beijar aquele imbecil, logo depois que me beija?! Então as coisas realmente são assim, não damos certo, acertei nas palavras que disse. Não era nada que pretendia dizer, mas pelas circunstâncias... Alice realmente não merece nada vindo de mim.”

Seus pensamentos foram interrompidos por Flávia, que lhe perguntou para onde Alice tinha ido. E ela respondeu sem nem sentir.

- Saiu com Fernando.

Não viu e nem ouviu, quando Guilherme disse irritado que iria atrás dela.

No caminho, dentro do carro, Alice não deu um pio sequer. Por um lado pensava no beijo, na sensação e nas palavras de Cecília. E por outro, tentava arranjar um jeito de terminar tudo com Fernando, não aguentava mais aquele relacionamento que não existia mais sentindo para si.

Com todos esses pensamentos fluindo em sua mente, não prestou atenção no caminho que Fernando havia feito. E quando o fez, ele já tinha parado em uma rua, quase deserta e estava virando para ela.

Antes mesmo que ela pudesse falar, ele avançou em sua direção beijando e passando as mãos vorazmente pelas suas pernas. Alice por vez, tentava ao máximo empurrá-lo, se sair, pedia para parar, mas não conseguia, ele era forte demais.

Alguns minutos depois, Alice conseguiu o que tanto queria, se afastar de Fernando, pois um carro com a luz muito forte parou na frente de seu carro. E antes que Fernando pudesse saber o que era aquilo, ouviu batidas no vidro do lado de Alice.

- Guilherme. – disse num suspiro de alívio. Fez menção de sair, seu namorado a segurou e tentou impedi-la de ir, Alice não se deixou intimidar dessa vez, lhe deu uma resposta qualquer e saiu ao encontro de seu amigo.

Cecília já estava do lado de fora quando Beatriz a alcançou, bufou ao vê-la. Elas começaram uma discussão, tomando rumo para um assunto que Cecília não gostava.

- Nós somos namoradas.

- Como?! Se você ta namorando comigo, ok! Mas eu não estou com você, nunca houve um pedido, estávamos apenas ficando, sem troca alguma de sentimento.

- Você é apaixonadinha pela Alice, né?

Cecília congelou naquele momento, nunca havia tocando no nome dela para aquela garota e de repente ela joga uma dessas. E ficou mais assustada quando a outra continuou.

- Acha que eu sou idiota, Cecília? Eu percebi tudo, desde antes de te conhecer. O problema é que ela não te quer. E se um dia vocês ficarem juntas, irão terminar uma hora. – sorriu sarcástica. – Por que você ainda será minha. - e saiu sem olhar para trás.

Cecília continuou parada, sentiu um arrepio estranho ao ouvir aquelas palavras, mas tentou ao máximo não ligar para aquele tipo de ameaça barata.

###

Assim que entraram em casa, Alice abraçou Guilherme para lhe agradecer por ter aparecido bem na hora. Ele por sua vez a afastou e ignorou aquele agradecimento.

- Se você foi comigo, era pra ter voltado comigo e não se entregar aquele imbecil.

- Mas você não sabe o que aconteceu, foi um imprevisto. E eu só pedi para ele me tirar daquela festa, não queria nada com ele. Juro como estava com medo do que ele poderia fazer comigo. Pedi pra ele parar, mas não me deu ouvidos.

- Você deixou explicito para ele que não queria nada.

- Não. – baixou o olhar. – Mas eu pensava que...

- Ficar pensando não adianta, Fernando é do tipo de cara que é vai ou não. Enxerga de uma vez que esse cara não presta.

Alice não aguentou mais, e teve que perguntar.

- Gui me diz qual é o problema de vocês, acha que eu não percebi tudo?! Você quer que eu faça tudo o que me diz, a troco de quer?! De não saber de nada, de não...

- Ele é homofóbico, e... – não aguentou mais segurar aquilo, estava mais do que na hora de contar. – Me espancou quando estudávamos no mesmo colégio.

Alice ficou olhando para seu amigo com um olhar incrédulo e só conseguiu balbuciar um...

- Me conta isso.

###

Cecília passou a noite vagando pelas ruas e andando em alguns bares. Bebia e fumava ao lado de desconhecidos, e assim foi até o amanhecer ou até a hora que recebeu uma mensagem da sua irmã, avisando que estaria chegando naquela manhã para lhe visitar.

Com essa surpresa, resolveu ir até a casa dos amigos, precisava de um banho e se recompor. Não queria ir para casa e enfrentar a mãe em mais uma discussão e muito menos encarar a irmã naquele estado. Foi pensando que Alice não estaria lá, já que havia visto saindo com o namorado da festa, com certeza dormiram juntos. Martirizou-se ao ter aquele pensamento.

Alice acordou cedo, aliás mal tinha dormido. O que descobriu de Fernando, causou uma perturbação em sua mente. “Como pode, eu me enganar tanto com um cara desses?! Definitivamente não posso mais continuar com ele.” No momento que terminou esse pensamento, alguém bateu na porta. Ao abrir se deparou com a outra pessoa que não queria ver.

- Os meninos estão ai? – disse Cecília já entrando na casa.

- Estão dormindo.

- Eu só preciso de um banho, será que posso?

- Não tem mais casa? – perguntou para irritar.

- Não quero ir para lá. – falou se distanciando, indo em direção aos quartos.

Alice ficou parada, com a porta ainda aberta. Havia sentindo o cheiro de cigarro que vinha dela e também o bafo de álcool. “O que essa garota aprontou, ein?!”

Quando saiu do banheiro, Cecília deu de cara com Alice dentro do quarto. Não trocaram uma palavra, apenas olhares. Ela preferiu não ficar muito tempo ali, pois sabia que faria alguma besteira e não estava mais disposta a ouvir desculpas esfarrapadas da outra.

Ao chegar na sala, viu além de seus amigos, sua irmã. “Lá vem bronca...” Dito de feito, assim que Adriana sentiu o cheiro de cigarro em Cecília, começou a brigar com ela. Recebeu tudo calada, sabia que estava errada e também porque estava sentindo dor de cabeça.

Assim que a irmã terminou, pediu licença e foi atrás dos amigos, dizendo que iria pedir um remédio para ressaca.

Alice resolveu aparecer na sala só quando ouviu Cecília entrar no quarto de Flávia. Quando entrou na cozinha, encontrou Adriana, a cumprimentou entre brincadeiras.

- Ainda não acredito que levei um fora seu. – disse Adriana se encostando na pia. Recebendo como resposta apenas o riso de Alice.

Já que estava um clima bom entre as duas, a irmã de Cecília resolveu entrar num assunto sobre elas duas. Alice ficou surpresa por ela saber, mas se mostrou séria durante a pergunta. Respondeu dizendo que não tinham nada.

- Vocês se gostam, Alice. Só que você não aceita isso. – Adriana devolveu essa e percebeu a tensão da outra. E antes que pudesse receber qualquer tipo de explicação, continuou. – Não quero que você fale nada, só me escute. Tente entender os seus sentimentos e se descobrir que realmente gosta da minha irmã, se permita. Isso não vai te matar.

Ao terminar viu certas lágrimas no rosto daquela garota, chegou mais perto e a abraçou. A partir daquele momento, ela a olhava como uma amiga e nada mais.

Cecília voltou para a cozinha para pegar um copo d’água, e se deparou com a irmã abraçada em Alice. Pediu licença e rapidamente foi pegar o que queria. Não as olhou, estava sentindo o peito queimar de ciúmes, mas antes de sair teve que soltar uma...

- Realmente vocês se merecem, deveriam ter ficado juntas desde aquela festa. – saiu.

Alice não aguentou aquele desaforo e foi atrás dela.

- Ta com ciúmes, Cecília? – disse assim que a alcançou na sala.

- Claro que não.

- Então porque essa raiva por eu ganhar um abraço da sua irmã?

- Porque você deveria ter mais vergonha na cara, namora um cara e fica de beijinhos com as garotas... Ah! E tirando o fato de que você ainda diz que não gosta de meninas.

- Eu não to beijando garota alguma, foi apenas um abraço. – disse irritada.

- Ok. Agora me diz, o que eu tenho haver com isso?! Por que você tá me dando satisfação? – levantou-se. – Nós não somos nada. Ou esqueceu?! – dirigiu-se a porta e foi embora.

###

Os dias voltaram a transcorrer, os amigos e a irmã tentavam apaziguar a raiva que as duas garotas criaram uma pela outra. Elas continuaram afastadas, naqueles momentos não existia nada que pudesse ser dito, pois havia confusão demais em suas cabeças e muitas coisas a serem resolvidas.

Alice terminou o namoro com Fernando, depois do que havia descoberto, não conseguia continuar com uma pessoa que faria mal aos seus amigos e por não confiar mais. Passou a ficar mais sozinha, além de começar a entender seus sentimentos por Cecília, precisava se reconhecer, pois aos poucos se deixava aceitar que gostava de garotas.

Cecília passou alguns dias desviando de Beatriz, tentou dizer que não ficariam mais, mas não foi o bastante. Começou a matar aula e diminuiu suas conversas com os amigos. Tudo isso porque não queria esbarrar em Alice e porque não aguentava mais vê-la, estava se tornando insuportável ver e não poder fazer o que queria.

###

Alice estava com seus pais em uma lanchonete, conversavam animadamente, quando Cecília apareceu. Eles a viram e acenaram, Alice ficou estática com a aproximação da outra. “Espero que ela não que fique aqui, espero que ela não fique aqui.” Repetia mentalmente.

Cecília os tinha vistos antes mesmo de entrar, como eles a viram não pode deixar de ir cumprimentá-los. Ao se aproximar prendeu o ar, pois Alice lhe olhou rapidamente. Um olhar rápido e profundo. Tentou recusar o convite de sentar com eles, mas como sempre não conseguiu ganhar da insistência.

As duas trocaram poucas palavras, ás vezes, apenas para não deixar transparecer que tinha algo errado, para o casal na frente delas. Mas como se o destino pregasse uma peça, os pais de Alice precisaram sair para falar com umas pessoas.

- Sua irmã já foi? – Alice quebrou o silêncio, não era exatamente isso que queria falar, mas foi a primeira coisa que lhe veio a cabeça.

- Já. – tentou esboçar um sorriso, aquela era a última pergunta que queria ouvir.

Cecília resolveu sentar de frente para Alice, queria conversar, se saísse alguma palavras da boca das duas, olhando para ela. Assim que sentou na outra cadeira, resolveu perguntar.

- Como você ta, depois do termino do namoro?

Alice a olhou, pensava que pudesse ser uma ironia, porém pela primeira vez via sinceridade em seu olhar.

- Bem melhor do que antes. – deixou aparecer na primeira vez naquela noite um pequeno sorriso, do qual Cecília se iluminou.

- Fico feliz. – Cecília viu uma certa esperança ainda ali, só não queria demonstrar e nem se iludir.

Em seguida, foi a vez de Alice.

- Como vai o namoro?

- Não estou namorando, aliás, nunca tive namorada. – Cecília respondeu calmamente e percebeu a surpresa de Alice.

- Só que você estava com aquela garota.

- Eu disse a você que estava ficando. Não acreditou.

Alice desviou o olhar para a rua, queria ter acreditado em Cecília antes, mas naquele momento achava que não dava mais. Queria e precisava ficar sozinha, estava com a cabeça muito cheia e definitivamente precisava se entender.

Com esse vazio entre elas, Cecília preferiu ir embora e quando mencionou isso a Alice e levantou da cadeira, ficou surpresa pelo que a outra fez.

- Posso te acompanhar? – Alice perguntou num impulso.

- Claro. – não demonstrou a felicidade que teve naquele momento.

Elas caminharam calmamente, de volta com o silêncio, porém não tão perturbador. Cecília deu uma olhada ao redor e viu que a rua estava deserta, puxou Alice pelo braço.

- Que isso, Cecília?! – assustou-se com a ação.

- Relaxa. – encostou a outra numa parede, em um canto escuro. – Só preciso saber de uma coisa. – respirou. – Você gostou dos beijos que trocamos?

- Pra que você quer saber?

- Significa algo pra mim.

Não conseguiu responder de imediato, pois foi pega de surpresa com aquela quase entrega da garota que começava a gostar.

- Então?

- Não sei. – foi o que preferiu dizer.

Trocaram olhares, Cecília um pouco cabisbaixa pela não resposta. Alice por medo de se entregar a algo novo, complicado e estranho para si.

A primeira não desistiu fácil, não teve resposta por palavras, então tiraria a conclusão através de um beijo. Aproximou-se devagar de Alice, viu a tensão dela, soltou um riso no cantinho da boca. Roçou os lábios, encostou de leve e a beijou. Em seguida teve a abertura para procurar a língua e saborear por completo aquele contato.

Alice suspirou quando houve o encontro das línguas, passou uma das mãos pelo pescoço de Cecília e puxou mais um pouco. Queria prolongar o máximo possível aquela sensação, era a primeira vez que se rendia verdadeiramente para aquela garota, para aquele sentimento. Quando as mãos começaram a deslizar por certas partes, o celular de Alice vibrou. Desgrudaram as bocas.

- Não atende. – Cecília falou ofegante.

- São meus pais. Preciso ir. – disse já se saindo do abraço da outra.

- O que você achou?

- Prefiro não falar. – estava indo embora, mas foi segurada pelo braço.

- Alice... eu preciso te dizer uma coisa.

- Não! – a olhou. – Sem palavras. – virou-se e foi embora às pressas.



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Capitulo 8

[12/07/12]

No dia seguinte, Cecília chegou cedo ao colégio e esperou Alice, estava decidida de não fugir mais do que sentia, por mais que fosse rejeitada pela a outra. Quando a viu entrar, levantou-se e foi em sua direção.

- Bom dia, Lice. – disse com um pequeno sorriso nos lábios.

- Bom dia.

- Podemos conversar? – percebeu Alice fechar os olhos, sabia que coisa boa não vinha.

- Se for de novo sobre os beijos, pode parar. – disse num tom calmo e baixo. – Não quero falar sobre isso. – como estavam ainda no meio do pátio, pegou a outra pela mão e foi para um canto menos movimentando. Continuou. – Preciso ficar sozinha, não posso me comprometer com ninguém.

- Então isso quer dizer que você ficaria com uma garota, aliás, comigo. – não perguntou, afirmou.

Alice bufou.

- Tem medo de que? – deixou a voz ficar um pouco séria.

- Não quero ter nada com uma garota.

- Não é isso que seus olhos dizem. – viu a impaciência de Alice aumentar.

- Eu não consigo me aceitar. – conseguiu fazer Cecília perder o ar de desafio que tinha. – Ficando com você ou qualquer garota, minutos depois vou me massacrar por ter feito. Entendeu?! – e não esperou resposta, seguiu para a sala.

Cecília respirou fundo várias vezes, não se deixou abater por aquelas palavras. Sabia que Alice estava passando por uma fase, se aceitar não era fácil para todo mundo.

Alice ficou abalada com a situação com Cecília ,ao vê-la andando em sua direção teve uma imensa vontade de abraçá-la, mas ainda estava relutante com si mesma. Tentava entender, estudar todos os sentimentos que se moviam dentro dela e entre elas, porém não conseguia acreditar, aceitar ou se permitir viver. “É complicado demais. Mesmo que o beijo de ontem tenha sido maravilhoso, as mãos dela, a quentura dos lábios...” Suspirou com a lembrança.

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As duas se encontraram na hora do intervalo, conversaram com os amigos amenamente. Por vezes, Cecília tentava entrar em assuntos que Alice fugia, queria arranjar um jeito de retornar a ter a confiança dela. Se reaproximar, ter a amizade de volta. A segunda percebeu essa aproximação e se afastou o possível, precisava deixar claro que sua opção era ficar sozinha, que não perderia para a insistência daqueles olhos que a seduziam.

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Aquele dia passou calmamente, como todos os outros da semana. Cecília estava trancando no quarto, em plena uma sexta feira a noite, remoendo o que poderia fazer para se entender com Alice, não estava mais conseguindo aberturas para com a outra, por mais que deixasse explicito que queria afastamento, Cecília não iria aceitar tão fácil. Ela queria muito ter coragem e dizer tudo que estava sentindo, mas não era tão fácil quanto imaginava, precisava saber quais palavras usar para conseguir reconquistar qualquer sentimento de Alice.

Alice estava lendo um livro no sofá, naquela noite dormiria sozinha no casarão, preferiu ficar em casa ao invés de viajar com os pais. Maria chegou perto da menina e perguntou se queria alguma coisa, respondeu que não e disse que a governanta poderia terminar de ajeitar tudo e ir dormir, pois ela iria terminar sua leitura no quarto. Poucos minutos depois uma chuva repentina com trovoadas surgiu por aqueles lados, Alice não gostava nada disso, sempre teve medo de ficar naquela casa com aquele tempo. Tentou relaxar, sabia que logo, logo adormeceria. Continuou sua leitura.

Cecília ainda continuava agoniada, realmente ela precisava falar com Alice naquele final de semana, não podia esperar mais. Só que olhava para o tempo, percebia que aquela chuva não iria terminar tão cedo, aos poucos ia desanimando. Ficou sentada por um instante perto da janela, por minutos pensou em várias soluções, mas a mais louca possível era ideal para ela, então foi o que fez.

Sem hesitar, pegou apenas um moletom, desceu ligeiramente as escadas e saiu. Como imaginava, ninguém notou a sua saída repentina, ela estava pouco se lixando, só queria mesmo ver Alice. Com sua adrenalina a flor da pele, Cecília começou a caminhar, não ligou por estar embaixo da chuva, pelo menos sentia que sua alma estava sendo lavada e que algo de novo em sua vida estaria prestes a começar. Com menos de meia hora de caminhada, um carro parou perto de si e o motorista perguntou se precisava de carona, ela percebeu que era o Sr. José, que trabalha na casa de Alice, aceitando.

Em poucos minutos ela chegou à casa de Alice, suas pernas começaram a tremer, um nervosismo surgiu na sua barriga e sentiu seu coração bater forte. Há poucos metros dali, olhou para a janela de Alice e viu que a luz ainda estava acessa. Com bastante vontade de voltar para casa exatamente de onde se encontrava, ouviu uma voz dentro do seu interior dizendo para fazer a coisa certa. Não tinha mais jeito, teria que encarar seu destino.

O sono de Alice sumiu repentinamente, por várias vezes fechou os olhos e relaxou o corpo sobre a cama, mas continuava totalmente alerta. Quando ia voltar a refazer isso, Maria chamou por ela num tom meio assustado, saiu da cama correndo, chegando ás escadas perguntou o que aconteceu quando de repente viu a figura de Cecília na porta. Correu em direção a ela, perguntou o que estava fazendo ali naquela hora e com aquela chuva horrível.

- Precisava falar com você urgente. – disse Cecília se debatendo de frio.

- Sua louca! – retirando o moletom. – Maria não se preocupe vá se deitar, deixe que eu cuido dela, lá em cima tem tudo que preciso.

- Tem certeza? Não quer nem que eu faça algo quente para ela tomar? Seria bom. – a senhora sugeriu.

- Deixe tudo isso comigo, primeiro preciso ajudar a enxugá-la, depois penso nisso.

As duas subiram calmamente as escadas. Chegando, Alice trancou a porta e fez com que Cecília se sentasse na cama.

- Qual é Cecília, qualquer tipo de assunto poderia esperar até amanhã.

- Não, não podia. – tentando segurar na mão de Alice para que pudesse prestar atenção no que queria falar, mas não conseguiu.

- Vou pegar umas toalhas, enquanto isso tira essas roupas molhadas, vai te fazer mal.

Cecília apenas tirou o tênis e a baby look, ficando com uma camiseta de alças finas que estava por baixo. Andou um pouco pelo quarto esperando ela voltar.

- Vem cá. – ficando de frente para ela, passando a toalha pelo seu cabelo.

- Alice...

- Droga! Você sabe muito bem que pode pegar uma gripe com essa idiotice que fez hoje, né?

- Alice...

- Tudo isso por causa de que?! De um beijo?! Poderíamos deixar para depois, mas não, você nunca pode esperar.

- Para! Não preciso que você me enxugue, eu sei fazer isso sozinha. – puxando a toalha das mãos dela. – Você não ta dando espaço para eu falar e vou repetir, não dava realmente para esperar até amanhã, quase não tive coragem para vir aqui hoje.

- Fala sério! O que você tem tão de importante para falar comigo relacionado a um fica, ein? Disse que eu queria ficar sozinha. – dando as costas para ela.

- Por favor. Me escuta! – encostando-se na cama. – Você não sabe como é difícil para eu ter que enfrentar essa situação, pode achar que é besteira minha, mas não. – respirou fundo e continuou. – Nesses últimos dias comecei a sentir algo novo, que há muito tempo não sentia...

Do jeito que estava, Alice falou sem mudar seu tom de voz.

- Não me leva a mal Ceci, mas será que não dava para você ser breve?

- Não acredito que está dizendo isso. Tô tentando relaxar aqui para conseguir falar o que quero e você pede para eu ser breve. Só posso ser uma idiota por ter vindo aqui.

- Não é isso. – virando-se para olhá-la. – Mas acho que você está rodeando as coisas demais. Se não estiver preparada fisicamente e mentalmente para dizer o que deseja, dê um tempo a si mesma.

- Mas você também não ajuda.

- Ah! Eu não sou obrigada a ficar ouvindo isso. – virando novamente.

- Droga!

Cecília não aguentou mais a pressão, não esperou que Alice olhasse para ela de novo, apenas disse.

- Eu... Eu... Estou apaixonada por você.



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Capitulo 9

[17/07/12]

Alice não conseguiu acreditar nas palavras de Cecília, há tantos dias esperava por isso e naquela noite, por mais angustiante que fosse, tudo estava acontecendo. Ela respirou por algum tempo. Quando ficou frente a frente com Cecília, a primeira coisa que procurou foram seus olhos, os encontrou fixos olhando para ela, sentiu seu coração bater fora do ritmo e sua respiração faltar. Cecília por sua vez pegou a mão de Alice e foi trazendo-a para si, até que seus corpos ficassem completamente colados. Um novo beijo surgiu como se fosse o primeiro e o único que existiria entre elas.

Enquanto o beijo continuava, Cecília queria mais, foi empurrando Alice para a parede, necessitava sentir o corpo dela pressionado e quem sabe tremendo de desejo. Aos poucos as carícias começaram. De um lado Alice agarrava sua amada pela cintura com satisfação, paixão e força, chegando a pensar que poderia está machucando-a. Do outro, Cecília com uma das mãos segurava o pescoço firmemente de Alice, com a outra passeava pelo corpo, queria conhecê-lo antes de despi-lo. Os seus beijos de apenas apaixonados passaram a ser molhados e quentes, dos lábios ia direto para a nuca, fazendo Alice sentir um arrepio na espinha.

Cada segundo estava sendo aproveitado por elas. Alice sentia seu coração fervilhar, aquela sensação era boa demais, queria que não terminasse. Sua mente pedia que Cecília fosse adiante e para sua surpresa foi isso que esta começou a fazer. Ela retirou devagar sua blusa, Alice ficou espantada, parecia que ela estava lendo seus pensamentos.

Depois de olhar com tanta admiração para a beleza de Alice, Cecília começou a tocar lentamente seu corpo, até descer sua mão sobre o sexo dela, fazendo-a soltar um pequeno gemido.

Foi a vez de Alice empurrar Cecília, a caminho da cama, entre beijos, ela retirou com rapidez a camiseta que a outra usava. Beijou seu colo e desceu. Cada parte que passava seus lábios, sentia a respiração da outra ficar mais pesada. Quando estava perto de abrir a calça, parou.

- Não Lice! Continua.

- Continuo, mas não agora. Primeiro quero sentir você em mim. – Alice disse com muita segurança. Ela sabia que depois daquela noite tudo seria diferente, por isso o pedido, era isso que seu coração exigia. A diferença, a felicidade e o amor que chegaria a sentir por todos os dias que viveria ao lado daquela garota.

Cecília se sentiu mais excitada com aquele pedido, queria fazer daquela noite a mais inesquecível de todas, algo com ardor, desejo. Não queria apenas fazê-la feliz, queria deixar seu cheiro, sua marca e mostrar para Alice que era possível duas garotas se amarem incondicionalmente.

Enquanto Cecília beijava Alice, foi fazendo com que ela se deitasse, firmou seus olhos nos dela por um tempo, percebeu que aquele momento não necessitaria mais de palavras, o olhar já fazia esse trabalho. Sendo assim, Cecília foi deslizando aos poucos, passaria por cada canto do corpo daquela menina-mulher. Dos lábios, que só não faltava soltar, foi para o pescoço e orelha, ficava fazendo uma alternância para deixá-la excitada, após deslizou para os seios, primeiro passou sua língua no meio e seguiu para eles, sugando-os.

Continuou descendo, escorregou suavemente seus lábios por toda barriga de Alice, esta sentia seu corpo tremendo involuntariamente a cada toque. Quando estava chegando ao ponto mais intimo dela, Cecília começou a ir mais devagar, primeiro foi para uma das coxas, beijou. Seguiu para a outra, fazendo à mesma coisa e então tocou de leve com a língua no sexo de Alice.

Esta não sabia o que fazer, sua vontade era de gemer, gritar alto, mas não podia, nesse caso começou a apertar com força à colcha da cama para se conter.

Cecília, vagarosamente foi tocando-a com os dedos. A princípio os movimentos eram lentos, mas aos poucos foram ficando mais rápidos e intensos.

Pouco a pouco Alice não conseguia mais conter seus gemidos, já não controlava sua respiração e seu corpo, o desejo e a excitação haviam tomado-os. Por fim Cecília percebeu que ela estava chegando a seu ápice, acelerou os movimentos até que atingisse o orgasmo.

Assim que Cecília voltou a beijá-la, Alice trocou de posição, ficando por cima. Não deixando que as coisas esfriassem foi logo a beijando com intensidade boca, pescoço e orelha. Sugava os seios da mesma maneira como sua amada fez. Deslizava pela barriga com a língua e dava mordidas leves.

Em alguns instantes, Alice se sentiu com ansiedade e medo, pois estava chegando ao sexo de Cecília e sentiu-se nada preparada para encarar aquela sensação. Assim toda vez que chegava perto, rodeava-o entre beijos e voltava a subir.

Cecília percebeu um certo desconforto de Alice, a puxou até que seus olhos se encontrassem. Beijou-a com mais paixão, se é que era possível. Quando sentiu Alice mais relaxada, pegou a mão dela e a deslizou de encontro com seu sexo. A segunda gostou de onde tocou e sentiu o corpo da outra tremer um pouco com o leve toque.

Alice tocava com suavidade, queria tentar dar o mesmo prazer à Cecília. Enquanto massageava todo o sexo, ela beijava, mordia e passava a língua pela orelha da outra, deixando seus pelos eriçados. Devagar a penetrou, quando encaixou iniciou os movimentos de vai e vem, trazendo momentos de muita excitação à sua amada, até que ela soltou um gemido de prazer.

Elas continuaram por um tempo ainda se amando, até que o sono junto com o cansaço batesse, fazendo-as dormir.

Quase amanhecendo Alice acordou meio assustada, não tinha sentindo o calor de Cecília perto do seu corpo.

- Lice, estou aqui! – Cecília estava sentada no parapeito da janela. – Não consegui dormir, aproveitei para ficar contemplando você dormir.

Alice sorriu, levantou-se e foi até ela.

- Volta para a cama, se não vou começar a achar que sou péssima na hora “H”. – riram.

- Tudo bem. – Cecília abraçou sua amada e foi caminhando aos beijos para a cama.

Passaram mais uns minutos namorando até que o sono as dominou.

Ao acordarem, Cecília tentou prender Alice na cama, mas essa queria levar-lhe a um lugar. Tomaram banho juntas, demorado, não tinha como não ser. E enquanto Cecília terminava de se arrumar, Alice avisou:

- Linda, vou pedir a Maria pra preparar uma cesta para levar. – deu um beijo estalado.

- Tudo bem. Pra onde vamos? – perguntou curiosa.

- Cachoeira.

- Ah não!

- Ah sim! – e não deixou a outra falar, saiu logo do quarto.

Alice ajudou Maria a arrumar a cesta com uma alimentação para as duas. Assim que Cecília desceu, Alice pegou a mão dela e seguiram caminho.

Ao chegarem á cachoeira, Cecília sentiu um alívio de não encontrar com as mesmas pessoas da primeira vez que esteve ali. Como se Alice soubesse o que se passava em sua cabeça, falou no seu ouvido, como se contasse um segredo.

- Ninguém anda muito nesse lugar, aquele dia foi uma exceção.

Com isso, Cecília puxou a outra pela mão para entrarem na água gelada que estava naquela manhã. Onde ficaram um bom tempo conversando, brincando e namorando. Elas se sentiam livres ali, não precisava esconder o que sentiam para ninguém.

Num momento de silêncio, enquanto contemplavam a paisagem, Cecília resolveu perguntar a Alice.

- Lice... Você aceita namorar comigo?

- Eu pensava que nós...

- Eu sei, eu sei. Só que eu queria ter a certeza de que será algo sério, que não será apenas um caso de algumas semanas e tudo acabará depois. – Cecília ficou apreensiva, mesmo não precisando.

Alice, que estava encostada e com os braços de Cecília envolta de seu corpo, virou-se completamente para responder.

- Sim, sim, aceito. – dando vários beijinhos estalados na outra.

Elas ficaram abraçadas comemorando aquele momento. Quando Alice voltou a fitar os olhos de Cecília, resolveu tirar uma dúvida ou seria mais uma curiosidade?

- Linda, você demorou a aceitar o que sentia por mim neh? Ou é impressão?

- Você também demorou, não? – devolveu a pergunta rindo.

- Casos diferentes.

- Não é impressão. – resolveu responder sem receio. – Tive um envolvimento que deixou marcas dolorosas e pra tentar me proteger, me distanciei de todos os tipos de sentimentos, não me permiti mais sentir nada por ninguém. Meio que “levantei” um escudo para guardar o meu coração.

- Isso era medo?

- Sim. Não queria sofrer de novo o tanto que sofri. – baixou o olhar e um pensamento que foi transformado em palavras, sem perceber soltou. – Tenho medo do que posso fazer.

- Fazer o que? – Alice a olhou intrigada, mas só conseguiu receber um..

- Nada. Besteira de minha cabeça. – e beijou Alice longamente.

A tarde passou deliciosamente para as duas, um dia entre palavras, gestos e carinhos. Um dia de reconhecimentos, pois além de amigas, elas agora eram amantes.

No momento que voltaram para casa, Cecília procurou saber quem lhe ligou. Teve que ouvir várias broncas da irmã por sair de casa sem avisa, mesmo sua mãe não estando nem ai para si. Alice riu das caras que sua namorada fazia, para deixar a situação mais amena, pegou o celular das mãos da outra e falou com a sua cunhadinha, prometendo que o episódio não iria mais se repetir e que acompanharia sua namorada até em casa.

Poucas horas depois, Alice estava cumprindo o que prometera a Adriana, quase em frente a casa de Cecília, elas se despediam.

- Eu queria dormir com você de novo hoje. – Cecília falava baixinho no ouvido da outra.

- Terá outras oportunidades, mas agora vai pra casa que eu preciso ir para os meninos. – Alice tentava em vão empurrar sua namorada.

Cecília estrategicamente olhou ao redor, a cidade estava pouco movimentada. Aproveitou e puxou Alice para a mesma ruazinha escura onde se beijaram da última vez.

- Ceci, aqui não.

- Por quê? Já fizemos isso, relaxa. – a segurou pela cintura. – Só deixo você sair se me dê um beijo. – sorriu.

De um selinho dado por Alice, nasceu um beijo tardio. Deixaram que as bocas e as línguas se procurassem mutuamente. Um beijo de pura paixão.

Quando se desgrudaram, os sorrisos eram impossíveis de conter. Até que Alice resolveu falar.

- Pronto! Dei seu pagamento, agora podemos ir? – riram juntas.

- Por mim, te raptaria e não te devolvia tão cedo. – segurou a mão da outra e saíram do escuro.

- Mas enquanto isso não acontece, nos encontramos amanhã no colégio.

- Tudo bem. Boa noite. – deu um beijo na bochecha.

- Boa noite, meu bem. – Alice devolveu o beijo.

Desgrudaram as mãos e saíram andando para lados opostos, mas enquanto Alice se afastava, Cecília parou, virou e ficou observando aquela garota, que agora fazia ainda mais parte de sua vida, se distanciar.



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Capitulo 10

[19/07/12]

Os dias foram se passando, ora ligeiro ora calmo, mas nada que atrapalhasse aquele recém romance das duas garotas que se entregavam cada dia mais uma para outra.

Alice e Cecília tinham o apoio dos amigos e tão logo o apoio dos pais da primeira. Ao contar para eles, Alice pensava que ocorreria uma incompreensão, mas pelo contrario, eles mostraram segurança, deixando-a tranquila.

As demonstrações de carinho ultrapassaram as barreiras, pois ficou cada vez mais difícil não mostrar aquele sentimento. Não ligavam para os comentários, havia todos os tipos deles, mas não foi o pior do que o pequeno barraco que Fernando fez no meio do pátio do colégio vê-las a primeira vez juntas. Fez até ameaças, como se fosse conseguir algo com isso. Aliás, conseguiu a eterna raiva de Alice e de sua família.

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O dia a dia juntas, fez com que Cecília obtivesse ainda mais a confiança e a simpatia dos pais de sua namorada. Ela se tornou parte da família, sendo tratada como filha. Conversavam sobre tudo, mas sempre Alice era o assunto principal entre eles.

O final do ano chegou. No Natal, Alexandra e Marcos convidaram todos os amigos da filha para uma ceia em sua casa. E a virada do ano, todos se reuniram em um bar da cidade. Quando o novo ano surgiu foram feitos muitos desejos e muitas juras de amor.

“Após o aniversário de 18 anos de Cecília, sua mãe a abandonou levando alguns objetos de valor e todo dinheiro que tinha em sua casa.

Semanas depois, Cecília recebeu a visita de uns amigos, mas que provocaram várias discussões entre ela e sua amada, pois Cecília dava mais atenção aos colegas e por vezes esquecia seus compromissos com Alice. Um desses encontros foi o jantar de um ano de namoro.

Alice se entristeceu com esses atos, ligou para Cecília, sem deixá-la falar, disse tudo que estava sentindo e que passaria alguns dias viajando com seus pais, quando voltasse conversariam.

Quando retornou, Alice ao encontrar Cecília sentiu uma dor enorme domar seu corpo, lágrimas brotaram em seus olhos, uma decepção tomou conta do seu coração e uma grande discussão iniciou-se...”

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Alice deu uma remexida no banco do carro e abriu os olhos.

- Boa tarde dorminhoca! – disse Flávia com meio sorriso. – Você tá bem? Por que seu sonho parece que não foi nada bom.

- Estou. – se mexeu novamente. – Foram lembranças desagradáveis.

- Sei. – a olhou e voltou a falar. - Seja bem-vinda a Ouro Preto. – sorriu.

- Obrigada. – sentindo uma insegurança tomar todo seu corpo.

“Onde você se meteu Alice? Faz anos que não tenho notícias suas. Sei que eu errei, mas nunca deixei de te amar. Preferia mil vezes ser rejeitada por você como fui, do que ficar imaginando coisas sobre você, sobre sua vida. Isso ta me matando, não sei mais o que faço.”

Cecília pensava em Alice todos os dias, não tinha nada que não a lembrasse. Há semanas lembrava da partida de Alice, da morte dos pais dela e do rompimento de seu romance.

Seu transe foi interrompido pelo barulho do celular, olhou o visor, deu um leve sorriso e atendeu.

- Oi Flávia.

- Oi Ceci. Acabei de chegar, quero comer alguma coisa e depois ir ao hospital, me acompanha?

- Já? Pensava que ia levar mais tempo sua viagem.

- Avisei que seria coisa rápida. Então, vai comigo?

- Claro. Passo pra te pegar.

- Certo, tchau.

Cecília não deu mais trégua aos seus pensamentos, pegou suas coisas e foi encontrar com Flávia.

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- Tem certeza que ela não vai desconfiar né? – disse Alice apreensiva.

- Claro! Por acaso ta com medo de encontrá-la?

- Não.

- Certo. – Flávia a olhou por um instante e continuou. – Então vamos fazer assim. Quando eu realmente sair com ela você segue pro hospital, quando eu terminar te encontro lá.

- Será que ela não irá querer ver o Gui?

- Com certeza não, ela deve ter passado a noite lá e logo que me deixar no hospital irá para o trabalho.

- Tudo bem.

Tudo aconteceu como o combinado, assim que Cecília dobrou a esquina, Alice pegou o carro de Flávia e seguiu seu rumo.

- Fez boa viagem? Conseguiu resolver tudo?

- Sim, tudo em ordem. – Flávia mudou logo de assunto. – E você? Não ta me parecendo bem. Aconteceu alguma coisa?

- Noite em claro. Não to conseguindo dormir há dias, fico só nos cochilos rápidos.

- E o motivo? – Cecília hesitou um pouco, mas acabou dizendo.

- Saudades. – disse com um olhar vazio.

Flávia não soube o que responder, sabia que se tratava de Alice, mas não podia simplesmente dizer que ela estava na cidade. Deixou que o lanche transcorresse com apenas as mesmas conversas: trabalho e Guilherme.

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Assim que Alice entrou no quarto do Guilherme, não aguentou, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Sentiu um aperto no seu coração ao ver seu amigo naquele estado, ele não merecia tá passando por isso, era a única coisa que vinha a sua mente.

Ela pegou uma cadeira, ficou sentada ao seu lado segurando sua mão e olhando-o como se a qualquer instante ele fosse acordar.

Já passava das cinco quando Flávia chegou ao hospital.

- Alguma enfermeira ou médico veio aqui?

- Sim, o médico. Na mesma, nenhum progresso. – disse Alice voltando a olhar seu amigo. – Como foi com a Cecília? Teve algum problema?

- Não, como disse, ela tinha que trabalhar... Ela sente sua falta. – disse de uma vez.

Alice ficou surpresa com aquelas palavras, mas não deixou que sua amiga percebesse.

- Não sei por que, ela não deveria nem lembrar o meu nome.

- Alice, por favor! Você sabe muito bem que...

- Flávia, eu não voltei pra ficar discutindo com você sobre ela. Vim por causa do Guilherme. Então me poupe dos detalhes do que ela sente.

- Tudo bem. – elas fizeram um longo silêncio, mas logo Flávia o quebrou. – Se você quiser ir pra casa descansar eu fico aqui.

- Não, quero passar todas as noites com ele. Você precisa trabalhar. Quero ficar ao lado dele por todos os dias que não estive.

Assim os dias seguiram. Alice só ia para casa dos seus amigos, comer e tomar banho, quando conseguia descansar era por apenas duas ou três horas. Como havia combinado com Flávia, ficou todas as noites no hospital, não cogitava a ideia de ficar longe de Guilherme por nenhum dia.

Quando Cecília ia visitá-lo, sempre era nas horas que Alice não estava, tudo planejado por Flávia. Ela não queria assim, mas como não queria discutir com sua amiga, fez esse esforço.

Uma dessas escapadas, Alice quase esbarrou em Cecília no estacionamento do hospital. Ela estava distraída procurando pelo carro de Flávia, quando a viu andando quase na sua direção, se escondeu rapidamente entre os outros veículos, quando passou, saiu correndo e entrou no carro.

Alice, por vezes, pensou no que poderia acontecer com Guilherme, não queria pensar em coisas ruins, mas era inevitável. E se ele não acordasse mais? Sempre acabava chorando quando imaginava. Sua esperança aos poucos estava indo embora.

Em uma tarde enquanto lia um livro, Alice parou por alguns segundos do nada e levantou o olhar na direção de Guilherme, viu seu amigo lhe olhando. Um olhar distante, como se não soubesse onde estava. Ela foi em sua direção.

- Gui? Gui, você ta me ouvindo? Consegue dizer alguma coisa? – falou passando as mãos em seus cabelos. Ele tentou balbuciar algo, mas não conseguiu.

- Calma, não fala nada. Vou só chamar o médio. – e saiu ás pressas.

Enquanto o médico examinava, Alice avisou Flávia, que quase não conseguiu falar de tantos gritos de alegria que dava. Não demorou até que chegasse ao hospital.

- O médico disse que aos poucos ele vai voltar a falar.

Naquele dia, não precisou mais de palavras entre elas, o fator de ter aquele garoto novamente com elas já bastava.

E assim seguiu duas, três, quatro semanas e Guilherme foi se recuperando rapidamente. Voltou a conseguir se comunicar e aos poucos foi para as fisioterapias. As três mulheres cuidando dele, mas sem ainda haver um encontro entre aquelas principais.

Em uma manhã, enquanto Alice, Flávia e Guilherme conversavam, ele resolveu tirar sua dúvida.

- Vocês estão escondendo alguma coisa de mim?

As duas se entreolharam e ele resolveu ser mais direto.

- Nunca há um encontro das duas. – apontou para Alice e deixou que elas deduzissem que a outra era Cecília. – Elas nunca se esbarram nesse hospital.

- Ela ainda não sabe que estou na cidade. – a própria Alice resolveu se entregar.

- O que? Como vocês conseguiram?

- Todas as vezes que vinha com a Cecília, avisava a Alice e pronto. – Flávia resumiu.

- Sei... mas você não acha que já ta na hora de se encontrarem?

- Provavelmente sim, isso não vai durar pra sempre.

Nesse instante o celular de Alice tocou, pediu licença e saiu para atender. E por coincidência, Cecília entrou por aquela mesma porta praticamente no mesmo segundo que a outra tinha saído.

Os irmãos se olharam surpreso, fazendo a outra notar e perguntar.

- O que foi, gente? – aproximou de Guilherme e deu-lhe um beijo.

- A gente precisa te falar uma coisa.

- Então fala.

- Tem mais alguém cuidando do Gui esses dias todos, mas que preferi não contar e nem deixar haver um encontro com você. – Flávia foi aos poucos abrindo o jogo.

Cecília sentiu o coração acelerar, não podia ser quem ela estava pensando.

- De quem vocês estão falando? – resolveu encurtar aquilo.

- Da... Alice. – disse Guilherme baixinho.

- Vocês estão brincando.

Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, ouviram a porta se abrir, trazendo os olhos cor de mel que Cecília ansiava ver depois de tantos anos.



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Capitulo 11

[24/07/12]

Os olhos ficaram num embate por poucos segundos, mas que pareceram séculos. As duas sentiam falta daquela permutação, daquele carinho trocado em silêncio, daquele não falar.

Alice deixou-se prender naquela saudade que consumia no peito há anos, mas tão rapidamente lembrou-se dos acontecimentos. Aquele mar negro trazia muitas alegrias e tristezas juntas... E essas tristezas vieram à tona quando enxergou nos olhos de Cecília a tentativa de perdão.

Saiu daquele conflito, atravessou o quarto e ficou do lado de Flávia, para começarem novamente.

- Oi Cecília.

- Oi... Alice.

- Como você está?

- Bem, tudo bem. – antes que pudesse fazer a mesma pergunta, Guilherme interrompeu.

- Com quem você estava falando? – perguntou olhando para Alice.

- Com um amigo. Queria saber como andavam as coisas... como você estava.

- Pra que? Se não me conhece?

- Que isso Gui?!

- Vai ter um ataque de ciúmes agora?! – completou Flávia.

- Deixa Flávia, deixa ele pensar o que quiser. – Alice disse para encerrar o assunto e se afastou. Ficou sentada na poltrona observando os três conversarem.

Aqueles minutos que ficou ali tentando prestar atenção na conversa das pessoas a sua frente, foram de tortura, pois sempre seus olhos estavam presos na face, no corpo, nos olhos da mulher que amava.

Cecília, de vez ou outra pegava Alice lhe olhando, também queria olhá-la, estava com saudades daqueles olhos que deixavam sua alma mais leve. Antes mesmo que pudesse perguntar quantos dias fazia que Alice estava naquela cidade, foi interrompida por essa.

- Vou aproveitar que Cecília ta aqui pra ir em casa, to precisando tomar um banho e descansar um pouco.

- Tudo bem, linda... Você merece. – Guilherme disse esticando as mãos a chamando-a.

Alice se aproximou deu um beijo nele e outro em Flávia. Para Cecília apenas um pequeno aceno com a mão e um tchau distante, sequer deixou os olhos se cruzarem novamente com o dela.

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Após o banho, Alice foi direto para a cama, seu corpo pedia descanso. Deitou e ficou olhando para o teto pensando e vendo o par de olhos negros que sempre a deixavam inquieta. “Como ela se tornou uma mulher linda! Que porte é aquele? Tão segura de si, não parece mais aquela garota louca e insegura sobre os sentimentos que conheci. Ah Cecília! Como eu queria que a nossa vida não tivesse tido o obstáculo que teve, pois estaria ao seu lado até hoje. Mas agora é tarde, não posso, aliás, não consigo, não tem um dia que não lembre daquela tarde.” Alice ficou pensando até conseguir adormecer.

“Então faz quase dois meses que ela está pela cidade e eu não soube e nem percebi nada. Como foi maravilhoso ver aqueles olhos, aquela pele, aquela menina que virou uma mulher linda. Preciso dar um jeito de ficar a sós com ela, primeiro por que temos assuntos a tratar e segundo, preciso dela.” Cecília passou horas da madrugada pensando em uma forma de ficar sozinha com Alice.

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No dia seguinte, ao invés de ir ao hospital, Alice resolveu limpar a casa. Seu sexto sentindo dizia que seu amigo poderia sair, então resolveu seguir o que sentia. Após o almoço, decidiu ir até a sua antiga casa, queria saber como as coisas estavam, pois só mantinha contato quando mandava dinheiro a José para as despesas.

Ao chegar em frente aquele casarão, todas as suas lembranças, desde quando era criança até o último dia que ficou ali, passaram pela sua cabeça como flashes. Foi ao encontro de José e Maria, que ainda moravam na casinha que seu próprio pai fez atrás da sua.

Conversaram bastante, o homem lhe disse que não pôde continuar cuidando de toda a plantação da fazenda, cuidara mais dos cavalos, mas tendo, com um tempo, que venderem alguns. Já a mulher, falou sobre os problemas da casa, pois por mais que fizesse o melhor, o casarão estava ficando velho a cada dia e com o abandono de anos a situação piorava. Por fim, Sr. José lhe avisou que tinham pessoas querendo comprar todo o terreno.

Depois da conversa, Alice foi até a casa, entrou e ficou observando todos os detalhes. Maria tinha razão, seus cuidados não estavam dando conta... “O que eu fiz, meu Deus!?”, ela perguntava a si própria. Ver aquele local com o tom triste, sombrio, deixou seu coração aflito.

Antes que pudesse prosseguir, seu celular tocou. Ficou surpresa com a notícia, Guilherme sairia naquele mesmo dia, os exames deram tudo certo. “É, eu estava certa”. Riu do pensamento. Resolveu voltar no dia seguinte, para ajeitar umas coisas e decidir outras.

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Quando Alice e seus amigos chegaram em casa, foram recebidos por Cecília, que havia preparado um jantar. Em paz, comeram, conversaram e riram bastante como há tempos não faziam. Num certo instante o celular de Alice tocou, olhou o visor, Alexandre. Pediu licença e saiu para atender.

Depois de alguns minutos voltou para a mesa, assim que entrou na cozinha, tomou um susto com a pergunta brusca de seu amigo.

- Quando vai embora?

- Que!? – tentou entender do que ele estava falando. – O que te faz pensar que vou embora?

- Ora, o seu chefinho te ligou, deve está precisando da senhorita para algum trabalho. – parou um pouco e continuou. – E claro, para que ficar mais se o doente melhorou. – falou apontando para si.

- Você ta maluco Gui!? Não sabe o que diz. Não sabe ao menos o meu assunto que tratei com o Alexandre. Aliás, qual o seu problema com ele ein?

- Ele te liga de instante em instante, será que não pode respeitar o seu tempo de folga?

- Você pode parar com esse ciúme ridículo?! – Alice riu.

- Não estou com ciúmes. – pensou em falar mais alguma coisa, porém preferiu apenas voltar a perguntar – Então, qual é o prazo? Uma, duas semanas ou um mês?

- Cinco meses. – disse Alice a seco. Guilherme e as outras meninas ficaram boquiabertos com a resposta.

- Como.. como...

- Não pergunte nada. Pense no que você disse a pouco a mim e depois conversamos a sós. Preciso descansar. – antes de sair completamente, voltou a falar. – Outra coisa, ele não é meu chefinho. – disse num tom irônico. - Fique sabendo que tanto ele quanto eu, somos donos da empresa. – retirou-se.

No outro dia, Alice acordou primeiro que todos e foi direto para a fazenda. Conversou com Maria e José sobre a decisão que tinha tomado. Estava na hora daquela casa voltar até o ar vivo de antes. Ela sabia que seus pais onde estivessem, estariam orgulhosos.

Alice conversou com Alexandre por horas, pedindo algumas sugestões e mandando alguns arquivos pelo e-mail. Depois ficou olhando toda a casa e marcando os pontos que mais precisavam ser ajeitados.

Já pelo final da tarde, Alice estava com um dos ajudantes de José no telhado olhando as telhas quebradas, quando uma chuva forte de repente iniciou. Ela tentou inutilmente continuar com seu trabalho, acabou escorregando e arranhado o braço. Seguiu o conselho do rapaz, saiu do telhado e foi direto para dentro de casa, dando de cara com Cecília.

- Oi! O que faz aqui?

- Tava indo pra casa, mas meu carro ficou no prego. Tem problema se eu ficar um tempo aqui, até a chuva melhorar? – disse Cecília sem jeito.

- Não! Sem problemas. – passou indo em direção as escadas, mas voltou. – Melhor você tirar essas roupas molhadas, trouxe algumas roupas. – Cecília apenas deu um balanço de cabeça como resposta e seguiu Alice.

Horas depois, a chuva não havia cessado. Após o jantar, Alice foi para o antigo escritório do seu pai e ficou lá trabalhando. Cecília ficou trancada no quarto de Alice lendo um livro, queria ter tido chance para conversar com sua amada, mas não sabia o que falar e a outra não dava espaço para isso.

Em um dado instante, Alice foi ao quarto pegar uns papéis, esperava não encontrar Cecília acordada, mas isso não aconteceu. Ela estava concentrada na leitura. A primeira, não conseguiu controlar seu olhar, passou por todo o corpo da outra. “Vamos Lice, se concentre.” Pensava enquanto ia em direção as suas coisas.

A segunda, ficou observando aquela mulher maravilhosa passando a sua frente de um lado a outro. Depois daquela visão, não conseguiu se concentrar mais no que lia, queria apenas saber de “A-li-ce”.

- Que? – Alice virou repentinamente. Sem receber resposta, falou. – Cecília!

- Oi! – disse Cecília saindo do seu transe.

- O que foi? Você me chamou.

- Eu!? – pensou rápido, lembrou que ao invés de pensar, fez foi pronunciar o nome. – Ah! É... que... você não vai querer dormir?

- Não, tô sem sono. Qualquer coisa fico pelo escritório mesmo.

- Não. Você pode vir pra cá.

- Ceci, relaxa. Eu não vou precisar dormir agora. – disse saindo as pressas do quarto.

Alice saiu com o “coração na boca”, tinha gostado de ouvir Cecília lhe chamar daquele jeito e ainda mais quando começou a gaguejar, quando tentou se explicar. Parou nas escadas. Seu coração pedia que voltasse, ela não. Até que...

Assim que a porta voltou a ser fechada, Cecília esmurrou o colchão pela burrice que acabara de cometer. Tampou o rosto com as mãos. Foi quando ouviu a porta sendo aberta novamente e com ela, Alice apressada vindo em sua direção.

- Aconteceu..

- Não fala nada. – Alice sentou no colo de Cecília e a beijou com vontade, fervor e tesão. A segunda segurou a cintura da primeira com uma das mãos, enquanto a outra passeava pelo corpo. Os beijos se intensificaram. Alice, sugava, chupava a língua e lambia com a ponta da própria língua os lábios daquela mulher. De vez por outra, alternava com o lóbulo da orelha, fazendo Cecília soltar os primeiros gemidos. Esta foi colocando as mãos por debaixo da blusa, quando fez menção em tirá-la, Alice saiu de cima rapidamente.

- Não! – tentava recuperar o ar. – Não podemos!

- É claro que podemos. Estávamos indo bem. – Cecília falava agoniada.

- Não, não, não. – falava indo em direção a porta, virou. – Não venha atrás de mim.

Cecília deixou seu corpo cair na cama, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Tentou abafar o choro, mas não conseguiu. Chorou por toda noite como há anos não chorava, a rejeição ainda continuava sendo a pior dor que a mulher da sua vida podia dar.

Alice desceu as escadas correndo, sentou no sofá e ficou repassando tudo que tinha feito. Não podia ter continuado, por mais que o sabor daquela mulher ainda fosse a melhor coisa do mundo para ela.



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Capitulo 12

[26/07/12]

Ao se espreguiçar, sentiu uma leve dor pelo desconforto do sofá. Alice passou as mãos no cabelo se lembrando da noite passada, não sabia o que pensar.

Enquanto subia lentamente desejou não encontrar Cecília. Para seu alívio ela não estava no quarto. Se ajeitou e desceu, assim que chegou perto da cozinha, ouviu a voz da outra. Respirou bastante para encará-la e entrou.

Cumprimentou a todos, e iniciou uma conversa com José, informando sobre o trabalho que iriam fazer alí. Cecília prestava atenção no dialogo e resolveu oferecer sua ajuda, mas para o seu desagrado, foi recusada e ainda recebeu a frieza de seu amor.

Depois de tomar seu café, Alice voltou a sala, antes que pudesse subir as escadas, uma voz conhecida lhe chamou.

- Ora, ora! Quem resolveu da as caras pela cidade. – Fernando sorriu.

- Fernando! Que surpresa. – “nada agradável por sinal”, falou em pensamento.

- Surpresa digo eu. Faz tempo que não nos vemos, mas posso dizer que continua maravilhosa. – usou uma voz conquistadora.

- Obrigada. – falou Alice numa voz totalmente seca. – Posso saber o que deseja?

- Claro. Quando soube que você estava por aqui, não perderia a oportunidade de conversar.

- Sobre?

- A fazenda. – antes que ela pudesse perguntar algo, ele continuou. - Você sabe, muitos anos fechada, quase abandonada. Então como deve está só de passagem, resolvi vir propor negócios.

- Negócios? Tipo?

- Quero comprar a fazendo, não importa o preço que você oferecer. Eu compro. – ele disse cheio de si, Alice não pôde conter o riso.

- Comprar? Óbvio que não! – balançou a cabeça negativamente. – Essa fazendo nunca estará à venda. E mesmo se estivesse, nunca venderia para sua família.

- O que quer dizer com isso?

- Que você e seu pai, nunca aceitaram que os meus tivessem todo esse terreno. Vocês sempre nos invejaram.

- Me poupe. – passou a mão pela cabeça. – Vamos lá, venda. Para que você quer essa casa? Não mora aqui e com certeza não vai passar muito tempo. – antes que ela falasse, ele continuou. – Leva em conta o que aconteceu entre a gente, nós nos gostávamos.

- É aí mesmo que não levo em conta, você não presta. E para sua informação, não sabe quanto tempo irei ficar. – Alice elevou sua voz.

- Ok. Posso não saber, mas não interessa. Quanto? Eu posso dobrar a sua oferta, se quiser. – insistiu.

- Eu não preciso de dinheiro, isso é o que menos importa. Essa casa era do meu avó, passou para meus pais e agora é minha até o último dia que eu estiver viva.

- Lindo discurso, mas não foi para isso que vim. Só saio daqui com uma resposta afirmativa. – antes que Alice pudesse se alterar mais, Cecília entrou na sala autoritária.

- Você é surdo ou se faz? Ela não irá vender, se satisfaça com essa resposta.

- O que você está fazendo aqui?

- Ué, eu conheço a Alice, mais do que normal eu está aqui. – Cecília disse com um sorriso debochado.

- Alice, o assunto é só entre nós.

- Mas ela não irá sair. E mesmo assim, ela já disse tudo que você precisava ouvir.

- Eu não ouvi nada do que essa daí disse, meu assunto é com você. Ninguém vai me fazer sair daqui.

- Como é? – Alice ficou surpresa com aquela petulância.

- Olha aqui seu filho da puta. – Cecília quase correu pra cima dele feito louca, mas foi segurada por Alice que por impulso soltou.

- Calma am..or. – as duas se entreolharam e Fernando soltou.

- É isso, você levou essa pouca vergonha adiante. – risos debochado.

- Se eu tiver levado, não é da sua conta. Eu gosto de mulheres, e quer saber de uma coisa. Cecília é muito melhor do que qualquer cara que tem por aí, isso inclui você.

- Não diga de uma coisa que você nunca experimentou. – falou feito cafajeste. Com isso conseguiu que Cecília ficasse mais agitada atrás de Alice.

- Por favor, Alice.

- Não! Você não vai estragar suas mãos com ele. – firmou seu olhar em Fernando. – Agora saia daqui, você não é e nunca será bem-vindo. – apontou a saída.

- Essa é sua palavra final? – a única resposta que ele teve foi o silêncio e o olhar frio de Alice. Deu as costas e foi embora.

- Obrigada Cecília, não tava mais aguentando ele. – Alice disse relaxando os ombros.

- Não precisa agradecer. Bem, vou indo. – quando chegou perto da porta, falou. – Se mudar de ideia sobre minha ajuda, só falar.

- Cecília, é...

- Não precisa responder, foi só uma sugestão. – se afastou.

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Como se o destino tentasse colocá-las no mesmo caminho, Alice teria que aceitar a sugestão de Cecília, pois Alexandre disse que não contrataria outra pessoa, ela era ideal. Depois de muita luta e explicação para seus amigos, conseguiu as informação de onde trabalhava e foi a sua procura.

Quando entrou no estabelecimento, aquele ambiente não lhe parecia estranho. Cada lado que olhava era como já estivesse tido ali. “Como pode? Nunca vim aqui.” Pensou. Olhou mais um pouco, sorriu, quase não estava acreditando naquilo. Até que uma moça a interrompeu.

Alice perguntou se a dona do local estava, recebendo uma resposta afirmativa, se dirigiu a sala, que tinha aos fundos do bar-restaurante, onde Cecília se encontrava. Não deixou que ninguém a guiasse, pois conhecia muito bem o caminho.

Quando chegou, bateu na porta e Cecília permitiu sua entrada sem saber ao menos quem era.

- Você não tinha dito que era dona do próprio negócio. – Cecília se surpreendeu com aquela figura a sua frente.

- Não perguntou. – sorriu. – O que devo a honra?

- A sua sugestão ainda está de pé?

- O que a fez mudar de ideia? – apontou para uma cadeira, Alice recusou.

- Não consegui o administrador, aliás, não quiseram contratar.

- Alguém tá conspirando ao meu favor. – falou se levantou. – Sim, ainda está de pé. Quando começamos?

- Amanhã mesmo. Sabe que é muito trabalho, certo?

- Claro. – Cecília pensou e continuou. – Não sabe a satisfação que vou ter de reerguer aquela fazenda. – sorriu, dessa vez um sorriso mais largo que encantou Alice. – Não só para mostrar ao Fernando que ela é sua, mas, principalmente, pelos seus pais, que sempre foram maravilhosos comigo. Com todos que conheciam. – puxou o ar. – E por aquele lugar me trazer maravilhosas lembranças. – dessa vez o sorriso voltou a ser tímido.

- Obrigada!

- Não precisa agradecer. E esses papéis? – apontando para a mão de Alice.

- Alguns dados que eu trouxe para você da uma olhada antes de começarmos. Claro, se dê.

- Ok. Amanhã que horas?

- Quando puder.

- Te ligo para avisar, pode ser? Cecília usou esse pretexto para conseguir o número do celular daquela mulher.

- Pode. – depois que trocaram os números, Alice foi embora.

Após que chegou na casa de seus amigos, tentou se concentrar no sono, de nada adiantou. Resolveu passar a noite trabalhando, e a imagem da mulher que amava não saia da sua mente.

###

O toque insistente do celular, fez com que Alice se remexesse na cama. Deixou que tocasse mais um pouco, como a pessoa não desistiu, resolveu atender.

- Alô! – sussurrou com uma voz sonolenta.

- Bom dia Alice! Ainda dormindo? – era Cecília.

- Bom dia. Aconteceu alguma coisa?

- Só para avisar que vamos nos encontrar no almoço, dei uma olhada nos papéis. Tudo bem pra você?

- Claro. – virou para o outro lado da cama. – Mais tarde nos vemos.

- Alice!

- Hã?

- Já são onze e meia, se não se importasse gostaria de almoçar ao meio-dia. – Alice deu um pulo da cama.

- Que!? – olhando o seu relógio para confirmar. – Droga! Perdi o horário. – passou a mão pelo cabelo. – Daqui a pouco estarei aí.

- Ok. – desligaram.

Cecília se divertiu ao ver a cara de sono de Alice, essa estava indignada ao saber que a outra havia conseguido olhar todos aqueles papéis e não estar cansada. Por mais que o ramo dela sugerisse isso, qualquer um sentiria o corpo pesar.

Naquele dia, Alice e Cecília passaram a tarde e um pedaço da noite juntas, trabalhando incansavelmente. Por dentro, Cecília estava adorando aquela proximidade, por mais que não pudesse se aproximar o tanto que queria, para um começo, aquilo já servia.

Depois do primeiro contato que tiveram, elas não se separam mais. Todos os dias, as duas iam para a fazenda. Já haviam contratados todos os trabalhadores, tanto para a plantação, como para cuidarem da casa. Cecília, às vezes, passava horas no escritório fazendo reajustes das contas ou transferindo tudo para um banco de dados no seu notebook. Sempre se dava ao luxo de espionar Alice trabalhando pela janela, adorava ver aquela cena, ela no comando, mais de um jeito meigo e apaixonante, era assim que classificava para si.

Mas quando não estava trancafiada, ficava junto de José na plantação, adorava ficar naquele ambiente. Ou na cozinha ajudando Maria com o almoço. Há dias não se sentia tão livre.

Alice já tinha voltado a se acostumar com a companhia de Cecília, por mais que fosse do jeito mais formal, para ela estava melhor do que nada, por vezes, discutia com ela, pois insistia em querer conversar, mas Alice sempre fugia, não era a hora. “Nunca será a hora.” Ficava pensando.

Ela ficou com a atenção mais na casa, queria deixá-la impecável como antigamente. Passava horas olhando cada detalhe, exigia bastante dos funcionários, não queria obter erros. Passou também a restaurar alguns móveis que sua mãe adorava, não queria se desfazer deles.

Por ora, quando andava a cavalo para ver as condições do plantio, observava aquela garota que ajudava com toda empolgação que tinha. “Linda!” Era o termo que usava para a dona do seu coração.

Estava pegando pesado com o trabalho, dormia quase todas as noites na fazenda, mas quando recebia reclamações de Guilherme, voltava para ficar perto de seus eternos amigos, eram sua única família.

Em um dos dias que o turno de trabalho terminou, os trabalhadores se reuniram ao redor de uma fogueira e ficaram conversando e bebendo. Logo José trouxe uma viola para dá um som aquele ambiente. Cecília e Alice, que já iam embora, não conseguiram recusar o convite.

Enquanto Cecília bebia e se divertia com as conversar, Alice ajudava José com as músicas, soltando um pouco a voz.

Um pouco depois da meia-noite, as duas garotas se retiraram. Cecília pediu que Alice dirigisse. No caminho, nenhuma das duas fez menção em iniciar uma conversa, deixaram que apenas o som do carro as levasse para casa.

- Entregue! – disse Alice parando o carro. – Agora vou pra casa. – disse indo abrir a porta do carro, mas foi impedida por Cecília.

- Nada disso, você fica com o carro, amanhã pego na casa dos meninos.

- Tudo bem. Então, boa noite. – ficou um pouco tensa com o olhar que recebia da outra.

Cecília abriu a porta, quando pensou em sair, voltou a fechá-la..

- Lice, não dá. Precisamos conversar! – falou virando-se para ela. – Até quando vamos ficar assim?

- Cecília não é hora para isso?

- E quando será? Você só sabe da essa resposta?

- E será que você não percebeu que eu não quero e não vou conversar sobre esse assunto? Me incomoda, sabia!?

- Esse incomodo pode deixar de existir se nós...

- Chega! – Alice deu um grito. – Se você não sair, saio eu. – pegou suas coisas e novamente foi impedida por Cecília.

- Ok. Eu saio. Boa noite. – abriu e fechou a porta rapidamente, as lágrimas já começavam a cair.

Alice só a viu entrar em casa para partir dali. Enquanto dirigia, pensava em todos os olhares de Cecília, de todos os momentos que ela tentou falar algo e da lágrima que viu cair antes que saísse do carro. Virou a rua, era hora de fazer uma loucura, só não sabia quanto tempo iria durar, mas ia deixar seu coração lhe guiar.

O carro parou no mesmo canto que a poucos minutos havia estado. A razão de Alice voltou quando o motor foi desligado, suas mãos suavam.

- Já estou aqui, se for pra eu me arrepender que seja apenas amanhã. – disse para si mesma. Saiu do carro e foi direto a entrada da casa. Bateu.

Cecília voltou à sala para ver quem era, quando abriu, uma surpresa.

- Lice, o que faz aqui? Não devia já está em casa?

- Sim. – Alice sentiu seu corpo gelar. – Mas preciso fazer uma loucura da qual eu posso me arrepender amanhã, só que... – não teve coragem de terminar a frase.

- Só que? Continua. E do que...

- Cala a boca e me beija, Cecília. – Alice a puxou pela blusa e fez com que seus lábios se encontrassem.



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Capitulo 13

[31/07/12]

Cecília puxou Alice com uma das mãos, com a outra fechou a porta. Elas foram andando pela sala aos tropeços, as bocas não queriam se desgrudar. Quando Cecília encontrou o sofá, se encostou.

- Não vou aguentar chegar ao quarto. – voltando a colar os corpos, beijando-a.

Alice se desvencilhou do beijo e foi para o pescoço, deu leves mordidas. Enquanto suas mãos desciam rapidamente pelo corpo de sua amada. Com agilidade, abriu a calça.

- Então se é assim. – falou com uma voz rouca e colocando a mão por dentro da calcinha, fazendo Cecília soltar um gemido.

Ela continuou massageando seu clitóris como desejava. Fazendo junto uma sequência de mordias, beijos e lambidas entre boca e pescoço. Em segundos, retirou toda a roupa que a outra usava. Desceu seu corpo inteiro, pôs suas mãos na cintura de Cecília, e colou sua boca na intimidade a sua frente.

Cecília sussurrou, gemeu feito uma louca com as sugadas e as brincadeiras que Alice fazia com a ponta da língua.

Alice estava completamente molhada. Sabia que seria capaz de chegar ao orgasmo apenas dando prazer aquela mulher. Movimentava a língua com agilidade, às vezes penetrando-a. Começou a sentir os tremores do corpo de Cecília, sinal que esta estaria perto do seu ápice. Colocou dois dedos dentro dela. Voltou a subir seu corpo com beijos rápidos. Beijou longamente a boca, junto fazia os movimentos. Aprofundou a penetração, deixando seu amor sem ar.

Cecília sentiu seu corpo estremecer involuntariamente, puxou o rosto de Alice para que seus olhos se encontrassem, precisava que ela lhe olhasse, para mostrar que estava completamente entregue a aqueles braços.

Alice, quando compenetrou seus olhos nos da outra, aumentou ainda mais os movimentos. Ela se embriagou ao ver aquele corpo chegando ao orgasmo, foi quando sentiu um líquido quente descendo por entra as pernas de Cecília e senti-la relaxar totalmente nos seus braços.

Após outro beijo, colou sua boca no ouvido da outra e:

- Agora quero no seu quarto. – puxando-a para irem. Cecília só conseguiu esboçar um sorriso com aquele pedido.

No corredor, a roupa de Alice já havia sido arrancada. Os corpos estavam novamente quentes. Dessa vez, seria Cecília que levaria loucuras a sua paixão.

A deitou na cama, usou seu corpo para cobri o dela. Alice abriu mais suas pernas para recebê-la. Gemidos, pelo contato dos seus sexos molhados. Cecília beijou demoradamente a outra boca, mordiscou a cada pausa que dava e sempre voltava a olhá-la. Movimentou um pouco, Alice arquejou a cabeça pelo toque e pediu aos sussurros:

- Não me maltrata assim, me faz logo sua.

Então Cecília voltou a rebolar e esfregar seu sexo no dela. Os gemidos eram intensos. Ela parou, deixando Alice soltar um ar de impaciência. Foi descendo sua boca pelo corpo, demorando nos seios e logo fazendo caminho até o ponto principal. De leve passou a língua, logo a sugou com todas as forças, precisava sentir o gosto daquela mulher que mexia com todos seus poros. Deu a ela prazer até que o gozo chegasse.

Cecília relaxou ao lado de Alice, elas não se olharam. Alice apenas virou para o lado e pôs seu braço em volta do corpo da outra. Adormeceram.

Três e quarenta e cinco da manhã, Alice estava perdida nos seus pensamentos. “Mais uma noite mal dormida.” Pensava olhando para a sua companhia adormecida. Estava sentada no sofá que havia no quarto. Não sabia o que pensava, eram tantas coisas, tentou colocá-las em ordens, mais foi interrompida.

- Não conseguiu dormir? – Cecília estava sentando na casa.

- Não. Tive um pesadelo. – falou com uma voz baixa.

- Quer. – hesitou. – Quer conversar sobre?

- Não, obrigada.

Silêncio se fez. Mas em poucos minutos, um impulso misturado com desejo, levou Alice a levantar de onde estava e ir caminhando lentamente. Parou na frente de Cecília, subiu na cama, sentou no colo desta e colou sua boca na orelha, falando:

- Quero você dentro de mim.

Cecília vagarosamente retirou a blusa que a outra usava. Beijaram-se, enquanto suas mãos deslizaram sobre o corpo indo parar no sexo. Alice gemeu, estava completamente molhada. Sentiu os dedos a invadirem, de uma forma carinhosa e delicada. A primeira a penetrou cada vez mais profundo. A segunda, rebolava em cima de sua amante, fazendo com que seus movimentos ficassem sincronizados.

Elas se amaram o restante da noite, até sentiram seus corpos completamente exaustos e caírem no sono.

Novamente Alice estava acordada. Encostada na janela ficou pensando como poderia ter dormido com a mulher que amava e ainda sonhar com o que havia acontecido entre elas. Isso era sinal de que ainda não tinha perdoado-a, mas também não conseguiria se afastar. Não pelos sentimentos, que ela mesma não sabia se tinham voltada a tona, mas pelo trabalho que estavam fazendo, pela companhia que elas sabiam compartilhar. Alice resolveu sair do quarto, no caminho pegou sua calça que estava jogada, pegou o celular e fez uma ligação.

Alexandre atendeu a ligação com reclamações, para ele era o cumulo do absurdo ser acordado cedo em pleno domingo. Mas quando ouviu a voz do outro lado da linha dizer, "dormi com ela", seu despertar foi imediato. Quis saber detalhes, só que sua amiga começou a lamentar, então ele foi obrigado a ser bastante claro.

- Nem vem Lice. Não quero saber o que você pensou, mas só pode ser sobre os fatos de anos atrás. Poupe-me disso. – respirou e disse. – Sapa, se liga. Aproveitei o momento que está vivendo, não olha pro passado. Promete?

Alice não prometeu, apenas tentaria. Após isso, eles se despediram.

Cecília despertou aos poucos, passou a mão pelo outro lado da cama e não encontrou quem queria. Ficou deitada olhando para o teto, triste. Essa noite tinha sido a melhor da sua vida depois de anos. Só não esperava que fosse acordar...

- Bom dia! – os pensamentos dela foram interrompidos pela voz mais doce que conhecia.

- Oi. Bom dia! – largou um sorriso de tanta satisfação ao vê-la. – Café na cama?

- Já que acordei cedo, resolvi fazer. – Alice foi caminhando até a cama com a bandeja, colocou sobre ela. – Que foi? Tá triste. – aquilo não foi uma pergunta e sim um afirmação.

- Besteira. O que importa é que meu dia começou maravilhosamente bem. – dando um beijo na bochecha de Alice.

Enquanto tomava o café, Cecília resolveu arriscar.

- Passa o dia comigo?

- Melhor não. – Alice fugiu dos olhos da outra. – Primeiro, você precisa trabalhar. Segundo, os meninos vão querer saber o que aconteceu se não aparecermos.

- Desculpa esfarrapada. Nós já somos adultas, fazemos o que queremos. E sabe muito bem que eu posso me da um descanso do trabalho. – disse com cara fechada, mas logo mudou, pois precisava passar a tarde com a outra. – Por favor, fica.

- Não sei. – levantou-se. – Preciso de um banho.

- Alice! – deu um pulo da cama. – Quero uma resposta agora!

- Não sei se é certo.

- Não é certo o que, passar a tarde comigo, assistindo um filme, conversando e... – Cecília começou a fazer cócegas em Alice, fazendo-a voltar para cama e conseguindo um...

- Tudo bem. Eu aceito. Agora para. – Cecília deitou ao seu lado. – Vou tomar um banho.

- Posso ir junto?

- Só se prometer que vai se comportar.

- Ok.

Cecília saiu primeiro do banho, se vestiu e foi para sala. Discou um número e deixou no viva voz.

Explicou para Liana, sua amiga de anos, toda a situação desde a noite passada. Sua amiga de primeiro momento, não soube o que falar. Aos poucos tentou dizer como Alice podia está, claro não sabia um terço do que passaria na mente dela, mas precisava acalmar sua amiga. Logo disse para que ela continuasse como estava, aproveitasse o momento ao lado do seu grande amor.

Assim que a ligação foi encerrada, Alice surgiu na sala, não perguntou e nem fez menção que faria. Foi até a estante perto da televisão para escolher um filme, enquanto Cecília, foi fazer algo para comerem.

Passaram a tarde assistindo filme, de vez por outra, as duas se olhavam, mas percebia que não existia algo a mais além de... De exatamente o que? Era a pergunta que faziam para si.

Cecília passou a tarde pedindo que Alice passasse novamente a noite lá. Recebeu várias respostas negativas, mas não se deixava por vencer. Toda vez que elas faziam um comentário sobre o filme, esta fazia outra tentativa, até que no final da tarde, Alice desistiu e aceitou mais um convite.

Já a noite, enquanto Cecília preparava o jantar, Alice passou um tempo no quarto pensando se tinha feito a coisa certa em ficar aceitando esses convites. Sua razão pedia que fosse embora, seu coração e desejo, que ficasse.

Por uma força que surgiu, desceu a escada decidida a ir embora. Chegou na porta da cozinha, ao invés de falar que precisava ir, só conseguiu pronunciar seu nome e olhá-la como a noite passada.

- Lice, o que foi?

- Nada. Eu só... só queria saber se tem vinho. – mentiu, fraquejou totalmente.

- Tinto ou branco?

- Tinto. – a mulher a sua frente foi até a geladeira e tirou uma garrafa. Entregou a outra para abrir.

Alice as serviu e ficou encostada no armário olhando Cecília terminar de preparar as coisas. Não conseguiu reter as lembranças da noite maravilhosa que teve. O corpo dela sobre o seu, lhe excitando, as mãos passando por todos os cantinhos. Suspirou e sentiu sua calcinha toda molhada, seu corpo não obedecia a sua razão.

Deixou novamente a emoção lhe levar, andou lentamente até Cecília. Pousou suas mãos na cintura e a fez virar. Os olhos se encontram. Um beijo doce, suave e intenso foi trocado.

Ao término do beijo, os olhares não se encontraram mais. Medo de enxergarem e mostrarem o que realmente estavam sentindo. Alice saiu da frente de Cecília, voltou pelo caminho que veio. Pegou sua taça e foi para sala.

- Me avisa quando o jantar estiver pronto. – precisava ficar sozinha. Cecília não respondeu, pois também necessitava da mesma solidão.

No jantar, o único assunto que comentaram foi sobre o que fariam durante a semana na fazenda. O clima ficou mais ameno com a sujeira que Cecília fez em si. Em um momento de distração, deixou cair um pouco de molho do macarrão e para completar, quando levantou, derrubou a taça de vinho também na sua roupa. Enquanto estava totalmente agoniada tentando limpar a blusa, Alice ria alto da cena.

- Tá rindo, porque não foi com você. – disse séria.

- Ow! Vai ficar com raiva? – Alice levantou-se e foi até a pia. Abraçou Cecília pela cintura e colocou seu queixo no ombro. – Esquece essa mancha, vai. Besteira.

Cecília virou e...

- Você não vai embora, né?

- Eu não disse que ia dormir aqui de novo?

- Disse, mas pensei que pudesse mudar de ideia. – Alice percebeu o olhar tristonho, não queria ver aquilo.

- Paranóia sua. E quer saber o jantar tava ótimo, mas precisamos dormir.

Arrumaram toda a cozinha e se encaminharam para o quarto. Naquela noite não houve sexo, apenas troca de carícias e alguns beijos roubados.



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Capitulo 14

[02/08/12]

O dia amanheceu ensolarado, mas para Cecília foi como se estivesse caindo uma tempestade, Alice estava... hum... indiferente?

Quando acordou, mais uma vez não tinha encontrado-a na cama. Tomou seu banho e foi para a cozinha. Estava lá, parada tomando café.

- Oi!

- Bom dia. – falou sem encará-la.

- Novamente me deixou na cama. – silêncio. – Hoje só vou a tarde para a fazendo, tá lembrada, né?

- Na verdade, não precisa ir. Tira seu dia para o pub.

- Lice, mas é claro que preciso ir. – não entendeu o porquê daquela indiferença. – O pub tá tudo em ordem.

- Você vai a semana toda mesmo, nada vai atrasar se deixar de ir um único dia. – falou saindo da cozinha. – Tô indo, preciso passar na casa dos meninos.

- Eu posso te deixar lá.

- Não precisa. – pegando sua mochila.

- O que você vai dizer se eles perguntarem onde estava?

- A verdade! Não iria mentir, não tem necessidade. – parou na porta e... – Até amanhã.

Cecília foi para o trabalho pensando no que tinha acontecido, não entendeu a atitude de Alice. O porquê da indiferença, da distância e o jeito frio que foi tratada. Por ora iria aceitar a sugestão dela, não ia para a fazenda, mas apenas para planejar como poderia chegar para conversar ou simplesmente surpreendê-la como as situações que ocorreram nos últimos dias.

Alice quando entrou na casa e vi seus amigos na cozinha, não fez menção de parar, seguiu direto para o quarto. E sabia que os dois estavam vindo atrás. Fizeram brincadeiras e perguntaram onde ela esteve no fim de semana, não foi possível escapar, só disse:

- Na casa da Cecília. – ouviu um barulho saindo da boca de seus amigos, mas antes que pudessem falar ou perguntar algo completou. – Sem detalhes, não vou responder mais nada. – e entrou no banheiro. Lá de dentro ouviu Guilherme dizer e sorriu com isso.

- Então vamos tomar seu silêncio como sim para a pergunta, se vocês dormiram juntas.

Meia hora depois estava pronta, iria deixar Flávia no trabalho e seguiria para a fazenda. No caminho ficou pensando no que tinha feito com Cecília, tinham tomado essa decisão de madrugada, resolveu tratá-la da maneira mais fria que conseguiria. Não gostava de ficar ao lado da mulher que amava, pensando no passado e sem ter perdoado-a.

Pensou na quase promessa que fez a Alexandre, por mais que quisesse cumprir, não conseguiria, sabia disso. Parou o carro em frente a casa, não acreditou no que viu. Carro de Cecília. Demorou a descer, não ia ter tranqüilidade.

Cecília estava com os cotovelos sobre o balcão e o queixo sobre as mãos, ainda tinha dúvidas do que faria. Foi interrompida por Bruna, seu braço direito.

Ela perguntou o que tinha acontecido e resumidamente, sua chefe contou o ocorrido. A garota ficou indignada com a atitude de Alice, chamou-a de maluca. Por mais que fosse hetero, ela achava Cecília uma mulher fascinante.

Cecília riu do comentário da sua funcionaria, lembrou rapidamente dos seus erros, queria muito que as coisas fossem fáceis para serem resolvidas.

Antes que Bruna pudesse voltar ao trabalho, a outra lhe pediu uma sugestão. Ela disse, aliás, mandou sua chefe usar o restante de inconsequência que ainda tinha e a expulsou do estabelecimento aos risos.

Alice entrou na casa receosa com medo de esbarrar em Cecília. Foi a cozinha e assim que teve a certeza que não a encontraria, relaxou. Conversou um pouco com Maria e depois foi trabalhar.

Passaram o dia sem se encontrarem. Por mais que Alice se mostrasse centrada no trabalho, seu corpo estava inteiramente tenso, não queria vê-la. Já Cecília, se entregou ao trabalho pesado, cuidou do celeiro e dos cavalos. Não viu o tempo passar, mas sabia que seu amor também cumpria suas tarefas.

No final da tarde, a segunda entrou de supetão na cozinha, parou ao ver Alice. Trocaram olhares. Suspirou e desviou sua atenção. Foi até a geladeira, pegou um copo d’água e quando ia falar algo, Maria apareceu e ficou feliz ao vê-las juntas, pois passaram o dia em desencontros, as refeições foram feitas em horários diferentes e sabia que estavam se evitando.

- Vocês querem comer alguma coisa? – ela perguntou as duas.

- Não Maria, eu já estou indo. – Alice disse se levantando.

- Por mim também não precisa, vou para o café. – Cecília deixou o copo em cima da pia e concluiu. – Tenha uma boa noite, Maria. – beijou sua cabeça.

Depois de falar com José, direcionou a frente da casa, encontrou com Alice falando no celular. Não fez nem menção de falar com ela, mas não conseguiu tirar os olhos dela, aquela mulher lhe fascinava.

Alice não percebera a presença de Cecília, continuou falando ao celular, mas assim que desligou e virou o rosto, os olhos negros estavam fixos nela. Se olharam por segundos, mas Alice não continuou naquele conflito silencioso, entrou no carro e foi embora. Cecília fez o mesmo.

Os dias se seguiram lentamente para aquelas duas mulheres. Elas se mantinham frias e distantes, as palavras foram limitadas em: bom dia, boa tarde, boa noite e se estava tudo bem com o trabalho.

Alice fazia tudo isso para tirar Cecília da sua vida, mas não estava tendo sucesso. Esta forçava a mesma situação, apenas para ficar perto do seu amor, mas sentia seu corpo corroer quando tinha que se manter gélida, como se elas fossem meras desconhecidas.

Quem sentia mais com isso, era Maria, não gostava de vê-las assim, só sabia de uma coisa, não se intrometeria na vida delas, o destino cuidaria disso na hora certa.

Depois de duas semanas, as coisas continuaram as mesmas. Numa quinta feira, no final do expediente, Alice dispensou todos os trabalhadores na sexta. Entrou em casa e foi direto para o escritório, assim que fechou a porta, sentiu alguém abri-la, Cecília. Olhou-a de cima a baixo, estava do jeito que gostava, totalmente suada, totalmente... ardente. Fazia dias que esteve naqueles braços, sentia saudades, mas controlava-se ao máximo.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. – Cecília disse avançando, segurou Alice pela cintura e colou os lábios em um beijo com urgência. Sentiu sendo empurrada, mas não soltou e sim a empurrou contra a parede e pressionou a perna contra o sexo. Recebeu um gemido gostoso entre os lábios. Acabara de conseguir o que queria. A entrega.

Alice iniciou a beijar com ardor, precisava sentir aquele gosto. Seu corpo se arrepiou todo e sua respiração faltou, quando sentiu sendo pressionada pela a outra. Se entregou por instantes, até que sua razão voltou a tona e fez com que empurrasse com toda força Cecília.

- Já chega. Não quero.

- Por quê? Eu sei que quer, assim como eu. – Alice passou a mão nos cabelos, antes que pudesse falar, Cecília continuou. – Por que Alice, porque você tá me tratando assim desde aquele final de semana? Não é justo, tivemos dois dias maravilhosos. E da noite pro dia, se tornou uma mulher fria. – sentiu sua voz embargar.

- Porque não dá, não podemos.

- Podemos sim! Lice...

- Cecília! – gritou. – Não dá, porque eu não te perdoei, não consegui esquecer o que aconteceu. – sentiu uma lágrima cair. – Quando você me encontrou acordada naquele final de semana na madruga, foi por que simplesmente sonhei com as lembranças. Quase todas as noites eu sonho com elas. Não vou ficar com alguém que eu não consigo perdoar. – se direcionou até a porta. – Desculpa. – saiu.

Alice saiu da casa sem rumo. Aquele dia já não estava sendo bom, pois pensou intensamente em seus pais, relembrou tantos episódios que os três viveram. Seu coração estava totalmente apertado por não ter mais as duas pessoas que daria a vida. Sentia muita falta. Se direcionou para a cachoeira, ficou um tempo deitada nas pedras, olhando para o céu sem pensar em nada. Antes que o dia chegasse ao fim, foi para um local que desde que voltara não teve coragem de ir. O túmulo de seus pais.

Cecília caiu num choro silencioso, desesperador. Nunca pensou que Alice chegaria dizer aquilo. Como faria para reconquistar a mulher que não conseguia lhe perdoar? Não viu quanto tempo se passou enquanto estava no escritório, mas se assustou quando percebeu que era noite. Saiu apressada da sala e foi procurar pela garota, mas foi impedida de subir por Maria, falou que Alice tinha saído a bastante tempo e que não voltara.

Cecília ficou angustiada, resolveu ir atrás dela. Saiu em disparada até o celeiro e pegou o primeiro cavalo que viu, para ela Alice só poderia está em um único lugar. A cachoeira.

Alice viu a noite chegar sentada do lado de seus pais, e não teve a mínima vontade ir embora, iria ficar ali o tempo que achasse melhor ou quem sabe, até suas lágrimas cessarem.

Cecília voltou com o coração na mão, pois não havia encontrado Alice e alguma coisa lhe dizia que não estava bem. Entrou na casa com esperança que já estivesse lá, mas nada. Enquanto Maria falava, Cecília, sem prestar muita atenção, pensava onde a encontraria, até que...

- Maria, acho que já sei onde ela possa estar. – saiu apressada da casa sem esperar resposta.

Alice sentiu seu corpo totalmente exausto por ter passado horas ali, quando pensou em ir embora, uma voz lhe chamou junto de um leve toque no ombro. Olhou quem era, a pessoa que menos esperava. Cecília.

- Você tá deixando todos preocupados.

- Tenho tanta saudade deles, Ceci. – encostou sua cabeça no ombro da outra, sentindo as lágrimas voltarem a cair sobre a face.

- Eu imagino o quanto, mas você não pode ficar aqui sem comer, nesse frio. Vem, vamos pra casa. – ajudou Alice a se levantar e segurando-a pela cintura, levou-a para casa.

Pouco tempo depois chegaram a fazenda, Maria tentou ao máximo fazê-la comer, mas foi em vão. Tomou um banho e quando saiu, encontrou Cecília sentada na beira da cama. Foi até ela e sentou na outra ponta.

- Obrigada.

- Não precisa agradecer. – ficou de frente para aqueles olhos que amava. – Lice, não queria ser chata, mas eu queria falar sobre a discussão que...

- Não Ceci, agora não. Tô cansada.

- Tudo bem. – falou se levantando. – Amanhã te procuro.

- Cecília, passa a noite comigo.

- Não posso. – olhou para o chão, sentiu uma lágrima querendo escapar de seus olhos. – Eu não quero passar uma noite com você e amanhã nos tratarmos como desconhecidas.

- Amanhã não vou te tratar como desconhecida. – disso com os olhos lacrimejados. – Eu preciso de você, somente de você, agora.

Aquelas palavras doeram um pouco dentro de Cecília, sabia como se sentia. Não conseguiu rejeitar o pedido. Retirou o tênis e deitou ao seu lado, ficaram frente a frente. Seus olhos percorriam a alma dos de mel que teimavam em ficar grudados nos negros. Naquela noite, elas não prometeram, não cobraram, não fizeram nada. Precisavam apenas da presença uma da outra para se sentirem vivas.



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Capitulo 15

[07/08/12]

A tranquilidade e a calmaria consumiram as duas criaturas, que se amavam, intensamente naquela manhã, mas que resquícios de um tempo não deixavam que esse sentimento falasse mais alto.

Ao despertar, Alice olhou para o lado e encontrou uma Cecília sorridente, sentiu uma felicidade ao vê-la.

- Bom dia! Vou ganhar café na cama?

- Sim, você precisa se alimentar, ontem não comeu nada. – colocou a bandeja na frente de Alice.

- Vai me acompanhar? – recebeu uma resposta afirmativa com a cabeça. Tomaram o café em um silêncio mútuo que para outras pessoas seria torturante. Naquele momento os olhares estavam fazendo um pacto, não se prometeriam para sempre, mas também não brigariam.

Estava claro, que enquanto Alice ficasse naquela cidade, poderia acontecer tudo e nada entre elas, só não sabia se mudaria sua opinião sobre a mulher que amava.

Naquela sexta, elas se deram ao desfrute de aproveitar o dia. Foi como se o tempo tivesse voltado para a época que se conheceram. Passaram horas na cachoeira conversando como a primeira vez. Falaram sobre a profissão que escolheram, o caminho que tomaram e as dificuldades que surgiram.

Permitiram-se ficar como há dias atrás, apenas curtindo uma a outra, podendo viver o momento sem medo de se machucarem. E no final da tarde, acompanharam um lindo pôr-do-sol abraçadas.

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- Nossa ta com um cheiro de da água na boca, Ceci. – Alice disse por cima do ombro da outra, tentando sem sucesso, conseguir provar a comida que essa fazia.

- Nem tente roubar... Espera ficar pronto. – disse batendo na mão da outra rindo.

- Ai, só um pouquinho. – disse encostando-se na pia que ficava do lado do fogão. – Não sei ainda como a Maria concedeu a cozinha, ela nunca gostou que outra pessoa cozinhasse a não ser ela.

- Tenho o meu jeito sedutor. – riu.

- É?! E por que você não me mostra esse jeito. – Alice provocou ainda mais mordendo o lábio inferior e olhando intensamente para Cecília.

Essa não aguentou aquilo, passou a tarde segurando para não passar dos limites, não queria demonstrar pressa nos braços de seu amor. Mas agora, ela ali se oferecendo, não se intimidou. Agarrou Alice pela cintura, trazendo-a para mais perto do seu corpo, deixando-os colados.

Não a beijou na boca, deslizou vagarosamente os lábios pelo pescoço e indo para a orelha. Mordeu, beliscou, beijou. Voltou a deslizar a ponta da língua pelo pescoço, dessa vez descendo para os seios. Passou a boca por cima do tecido, conseguindo um suspiro de Alice. Subiu e finalmente a beijou. Um beijo sedutor e voraz, daqueles que falta ar.

Deixou as mãos passearem por dentro da blusa, ficou acariciando os bicos dos seios da sua amada, fazendo com que ela soltasse alguns gemidos. Retirou a blusa que Alice usava e junto veio o sutiã. Abocanhou um dos seios com vontade, desejo, sede.

Alice estava enlouquecendo com aquele jogo de Cecília, estava necessitando daquela mulher dentro de si. Não controlava os pequenos gemidos que vinham com aquelas sugadas nos seus seios. Segurou-a pelos cabelos e a puxou para baixo, mostrando o que realmente queria.

Cecília retirou rapidamente o short que aquela usava e como havia recebido o pedido, começou a chupá-la entre as pernas. Sua excitação aumentou quando sentiu aquele sexo pulsante a sua frente. Alice totalmente entregue nos seus braços.

Cada vez que diminuía o ritmo, recebia um puxão no cabelo, fazendo-a suspirar e ver que a outra estava preste a chegar ao clímax. Com isso, segurou com força Alice pela cintura, aumentou o ritmo e começou a penetrar com a própria língua.

Alice começou a sentir suas pernas bambearem a cada sugada que recebia de Cecília. Os gemidos já estavam vindo mais altos, e quando a sentiu penetrar sua respiração começou a faltar.... Vieram os tremores do corpo, a vontade de querer mais e mais... Até seu corpo chegar ao êxtase.

Cecília segurou seu amor e deu-lhe um beijo longo, apaixonante. As duas sorriram juntas, o ato que acabara de acontecer, tinha sido arrebatador para elas.

No instante que estavam aproveitando aquele momento de carinhos, sentiram um cheiro de queimado.

- Ah não! O nosso jantar já era. – disse Cecília apagando o fogo e olhando como a comida tinha ficado. Acompanhou a risada de Alice, enquanto essa se aproximou e disse.

- Tudo bem, linda! Comemos qualquer coisa, temos um assunto mais importante para resolvermos lá em cima. – terminou puxando Cecília pela mão até o quarto.

###

O final de semana foi regado a esses atos de amores intensos e a saídas com os amigos. Dessa vez não esconderem de seus amigos, Guilherme gostou de vê-las juntas e não escondia sua satisfação. Já Flávia, ficou com o pé atrás com a atitude de Alice, sabia que ela era capaz de a qualquer momento voltar para a sua vida no Rio de Janeiro, que não trocaria tudo que havia conseguido para reviver aquele amor perdido no passado.

Domingo a noite, todos os quatro se reuniram no pub de Cecília, para comemorarem a volta de Guilherme para o seu trabalho, o retorno a vida normal. Em alguns minutos que a dona do estabelecimento saiu da mesa, Flávia resolveu atacar Alice de perguntas.

- Lice, não fique com raiva de mim, mas preciso saber de uma coisa. – tomou um gole do seu vinho e continuou. – Até onde vai isso?

- O que?

- Você e Cecília. – Alice ficou surpresa com a pergunta, nunca pensou que fosse enfrentar um interrogatório com seus amigos.

- Estamos deixando acontecer. – Guilherme fechou os olhos e virou um pouco o rosto de lado. – Que?

- A gente só não quer que a magoe ou a faça sofrer. – concluiu Flávia.

- Como?!... calma aí. – ela tentou organizar as palavras na sua cabeça. – Não tô entendo. Por quê?... Como?... Vocês lembram que foi ela que me fez sofrer? Não que eu queira dá o troco. Óbvio que não.

- Não estamos a protegendo amore. – foi a vez de Guilherme. – Nós só não queremos que você duas sofram de novo. E... – olhou um tempo para o nada. – não queremos que Cecília faça o que fez mais uma vez.

Alice não entendeu onde eles queriam chegar. “Como assim fazer o que fez?” Antes que pudesse perguntar e pedir explicação, Cecília voltou à mesa.

Quando o movimento havia acabado, eles resolveram ir embora, Cecília pediu que Alice fosse para sua casa, mas esta tinha um assunto pendente com os outros. Assim deu uma desculpa e seguiu caminho com os amigos.

Assim que entraram em casa, Alice foi pedindo explicações para entender o que havia acontecido com Cecília. Seus amigos ficaram surpresos por ela não saber de nada. Sem rodeios, Flávia contou que seu amor havia tentado se matar depois de sua mudança.

Quando ouviu aquilo, Alice se encostou na pia da cozinha e ficou sem saber o que dizer. Sua cabeça só teimava em perguntar, será que ela ainda teria coragem para fazer tal ato?

E antes que seus amigos voltassem a perguntar, ela apenas repetiu o que já havia dito e que não poderia promoter nada em relação a elas duas.

Alice pediu para ficar sozinha, e entender tudo, toda situação. Passou a noite em claro, tentou procurar no seu passado alguma cena ou lembrança que Cecília teria deixado isso subentendido.

Sentada na cadeira que tinha no quarto, ficou olhando para a cama. Recordou da primeira vez que se embriagou e junto veio a lembrança do primeiro beijo com uma garota. Sorriu. Deixou a mente vagar por aqueles dias. A sua primeira vez, a cachoeira do dia seguinte e a conversa que tiveram sobre a menina que deixou Cecília sensível aos sentimentos e quando...

“- Isso tudo era medo?

- Completamente, não queria me da mal de novo. – pensou e concluiu. – Tenho medo do que eu possa fazer.

- Como assim? – Alice voltou a fitá-la, primeiro recebeu o olhar distante e gélido.

- Nada. Besteira da minha cabeça.”

Foi aí que Alice teve sua resposta. Cecília tinha deixado entre linhas, o medo do que poderia fazer algum dia se tivesse mágoas de um amor, era esse, suicídio. Colocou as mãos no rosto, não queria isso e realmente esperava que não voltasse ocorrer.



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Capitulo 16

[09/08/12]

Alice foi acordada com o barulho do despertador, desligou e virou para o lado, seu corpo pedia para continuar na cama, estava exausta. As coisas não são como nós queremos e em seguida, Guilherme bateu na porta, entrou e avisou que Cecília já estava a sua espera.

Após um banho quase dormindo, foi a cozinha encontrá-los.

Deu bom dia a todos com uma voz totalmente de cansaço, como Cecília percebeu seu estado, insistiu que ela ficasse e descansasse, mas Alice usou sua teimosia e não deu ouvidos.

Enquanto estavam indo para a fazendo, Alice recebeu uma ligação de Alexandre, avisando que naquela semana ele iria para lá, pois tinha um assunto sério para tratar com ela e que nas próximas semanas teria uma festa que estava louco para ir.

Por todo aquele dia, Alice ficou pensando no que o assunto se tratava, poderia ser tanta coisa, não adiantaria ficar ansiosa para adivinhar o que era. Tratou de tentar esquecer.

Na hora do almoço, Alice deu uma escapada, foi até a cachoeira para se refrescar, o dia estava totalmente quente. Depois do mergulho, ficou sentada nas pedras relaxando um pouco, deixou sua mente vazia, naquela hora não queria pensar em nada, apenas queria esquecer todas as preocupações.

Cecília chegou lentamente atrás de Alice, colou seus lábios no ouvido e disse:

- Ainda lembro como se fosse ontem, você me protegendo daqueles marmanjos. – riu e viu o sorriso que iluminava seu coração.

- Se bem que deu vontade pra te ver batendo neles. – riram ainda mais.

Entre elas, houve um pequeno momento de silêncio, até Alice resolver contar uma coisa.

- Lembra da primeira vez que fui te procurar no seu trabalho?

- Claro. – Cecília disse rapidamente, percebeu o olhar divertido que a outra emanava.

- Quando entrei, percebi que aquele local era familiar, mesmo nunca estando lá. – antes que a mulher a sua frente pudesse falar algo, cortou. – Até que eu me lembrei de onde o conhecia. – sorriu.

- Como assim? Se você nunca tinha ido lá, não podia conhecer. – disse intrigada.

- Você sabe quem foi o arquiteto que fez a decoração e umas coisas mais?

- Ah eu olhei o projeto, mas nome estava abreviado e... – ela parou por um instante, pensou. – Não! Tá brincando comigo? Mas como pode? Você não veio um dia sequer.

- Não. Eu não sabia que era seu, mas por segurança não assinei com meu nome completo. - voltou a sorrir. – Realmente fui eu quem fez uma parte daquela decoração e ainda ajudei a dividir os compartimentos, mas foi o meu sócio que ficou cuidando de todas as visitas.

- Hum.. Mas isso só pode ser coisa do destino. – olhou-a profundamente. – Obrigada, Lice. Ficou tudo maravilhoso. – beijando-a.

O dia transcorreu calmo, depois do expediente, Alice acompanhou Cecília até o pub, tinha resolvido que naquela noite dormiriam juntas. Claro, depois de muitos pedidos.

Enquanto Cecília trabalhava, Alice ficou conectada no seu netbook lendo seus e-mails e conversando com amigos. Viu que Alexandre lhe mandou o link com todos os detalhes da festa que teria perto da cidade, saberia que ele não deixaria ficar em casa nesse dia.

Ficou pensando da última vez que fora numa festa, seu estado de espírito não estava bom, acabou ficando num canto qualquer bebendo todas, o resultado?! Trabalho para os amigos e muita dor de cabeça no dia seguinte. O motivo, bem esse estava na frente dela naquele momento, não conseguia esquecer Cecília nem o que ela havia feito.

No dia seguinte, Alice havia saído para comprar uns materiais para a casa. Cecília trabalhava no escritório, até que Maria lhe avisou que tinha dois amigos da dona da casa. Imediatamente ela foi recebê-los, tentou ser bastante simpática. De cara gostou do rapaz, Alexandre, mas a garota que o acompanhava, Sara, sentiu uma leve antipatia.

Ofereceu algo para beberem, o tempo que gastou indo a cozinha e voltando, Alice havia chegado. E para seu incomodo, viu uma cena nada agradável entre Alice e Sara, com afeto demais existente entre elas.

Assim que Alice se desvencilhou dos braços de sua amiga, viu Cecília parada com o refresco que fora buscar para as visitas. Elas se falaram rápido e essa deu uma desculpa qualquer e saiu.

Ficaram conversando por um bom tempo, matando a saudades. Até que Alice decidiu levar todos para atrás da casa, onde ficavam as plantações. Lá Sara perguntou se elas estavam juntas, Alice tentou negar, mas não conseguiu, dizendo que estavam deixando as coisas acontecerem.

Viu certa mágoa misturada com resquícios de alegria pelo que estava acontecendo no rosto de Sara. Sabia que ela gostava muito de si. O envolvimento que tiveram foi interrompido tanto pela viagem que aquela mulher fez quanto pelo amor que Alice sentia por Cecília. Mas sabia que Sara estava ali com esperanças de que pudessem reatar.

Cecília reparou que todos estavam alí, sentados, enquanto Alice falava com os trabalhadores. Sentiu uma inquietação com o olhar de Sara, decidiu sair dalí, ela lhe intimidava e seus pensamentos estavam embaraçando sua mente. Olhou para os lados e viu um dos cavalos a postos, esperando apenas alguém para montá-lo. Aproximou-se de Alice.

- Irá precisar de mim para algo?

- Não. – olhou Cecília. – Está tudo bem?

- Claro!

- O que está acontecendo? – os olhares se prenderam.

- Pode encontrar a resposta nos meus olhos. – virou para ir em direção ao cavalo, mas voltou. – Preciso ficar longe um pouco. – e saiu quase correndo do lado de Alice.

Sabia que as coisas tinham mudado com o pouco tempo da chegada de Sara, Cecília com certeza percebera que entre elas havia algo mais. Só que não queria dar explicações a ela, mas também não queria discutir.

Viu Cecília sair em disparada em cima do cavalo, cavalgando sem destino.

“Aquele abraço, aquelas palavras tinham afeto demais para ser de simples amizade. Não acredito que Alice está envolvida com outra pessoa. Então por que está ficando comigo? Ela não seria capaz de magoar uma pessoa sabendo que gosta de outra, ou seria?” Cecília mostrava mais dúvidas e dúvidas, não sabia o que pensar. Precisava saber de tudo, não iria se intimidar, perguntaria a Alice.

No final da tarde, Alice ficou persuadindo, até conseguir, seus amigos de ficarem na fazenda. Depois que arrumaram tudo, Alexandre seguiu para a cidade, precisava conhecer. Enquanto isso, Sara aproveitou esse tempo para conversar com a outra.

Falaram sobre tudo que acontecia até aquele momento, Sara entendia os sentimentos de sua paixão. Só não saberia se conseguiria aguentar ficar perto dela. Alice permitindo uma aproximação mais íntima, com certeza não iria perder a chance, e isso sempre foi deixado bem claro.

Alice tentou convencê-la de que não seria saudável ela presenciar tudo, mas Sara antes de tudo se tornara sua amiga, sempre colocou esse fator em primeiro lugar. Aquela encostou a cabeça no ombro da outra, e deixou-se levar pelo carinho das mãos que ganhava.

De longe, Cecília viu tudo entre Alice e Sara, tinha a impressão que existia algo. Sua mente queria imaginar mil coisas, mas não permitiu. Primeiro conversaria com seu amor, por mais que não tivesse direito, já que elas não estavam dentro de um relacionamento.

De onde estava, deu a volta com o cavalo, deixou no estábulo e depois não apareceu mais a fazendo. Precisava ficar algumas horas sozinha.



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Capitulo 17

[14/08/12]

Alice acordou mais cedo que o normal, havia ficado na fazenda para fazer companhia aos amigos. Passou a noite se remexendo na cama, tinha sentindo falta de Cecília, não só falta, mas preocupação. Depois do passeio que foi dar, não voltou mais, ligou para seu celular, desligado. Descobriu pelo José que ela havia deixado o cavalo lá e logo foi embora. Tinha certeza que estava pensando em algo, os olhos dela nunca a enganaram e desde que Sara chegou, o clima tinha mudado.

Assim que parou de pensar nesse assunto, Alexandre entrou no escritório.

Sem esperas, ele foi adiantando logo o assunto que lhe levara alí. De inicio não teve nada demais, apenas queriam contratar Alice para um projeto. A surpresa veio em seguida, quando Alexandre disse que os clientes eram americanos e ela teria que morar dois anos em Nova York.

Ficou totalmente estática, nunca pensou que tão cedo ganharia uma oportunidade dessas. Procurou saber mais alguns detalhes e no fim da conversa, disse decididamente que assinaria o contrato. Pedindo que seu sócio marcasse uma reunião para o final daquela mesma semana.

Alice saiu do escritório super feliz, estava tendo a chance que queria e não iria desperdiçá-la. Foi de encontro aos trabalhadores que já haviam começado a jornada. Ela olhou tudo por fora, faltava pouco e assim que terminasse tomaria algumas providencias e voltaria para o Rio.

- Bom dia. – Alice foi despertada dos seus pensamentos por uma voz doce.

- Oi Ceci. Bom dia. Tudo bem?

- Tudo. – hesitou um pouco, mas acabou falando. – Quero conversar com você, preciso tirar umas dúvidas, tem problemas?

- Não, acho que eu esperava por isso. Te encontro daqui a pouco no escritório.

- Certo, vou falar com Maria e fico te esperando. – fez uma afirmativa com a cabeça e voltou seu foco para o que estava fazendo.

Assim que entrou no escritório, trancou a porta para que ninguém as perturbasse.

- Vamos lá, sou toda ouvidos.

- Não queria me intrometer na sua vida, mas eu preciso saber. Você tem alguma coisa com a Sara?

- E se eu tivesse? Não nos prometemos Cecília.

- Eu sei, só não quero ficar com uma pessoa, sabendo que ela tem outra. Muito menos você, que eu tenho certeza que não faria isso. – Alice sentou, passou a mão pelo rosto e falou.

- Já tivemos. Sara é apaixonada por mim, mas sabe que não sinto o mesmo por ela. – se limitou a dizer isso, as palavras eu ainda te amo, que queria falar, não permitiu que saísse de sua boca.

- Mas ainda ficam, né?

- Não, há alguns meses ela teve que morar fora. Disse que não voltaríamos a ficar. Não queria da esperanças.

- Só que, vi muito afeto entre vocês, um carinho excessivo.

- Claro Ceci, queria o que?! Nós nos envolvemos, mas antes disso éramos e ainda somos amigas, o que diferencia é o sentimento que cada uma sente. – sentiu sendo pressionada, mas tentou manter-se calma.

- Desculpa Lice, não tenho direito de pedir explicações. – passou as mãos pelos cabelos, incomodada com o rumo da conversa tinha chegado.

- Tudo bem, era uma dúvida que foi tirada. – levantou-se. - Agora se me dá licença. – se deslocou em direção a porta, mas foi impedida.

- Espera. – Cecília fez com que Alice ficasse de frente para ela. Sem pensar, nem hesitar. Se aproximou para grudar os lábios.

- Não! – encostou as duas mãos sobre o ombro dela e a empurrou delicadamente. – Um beijo não muda as coisas Cecília. – destrancou e saiu do escritório.

###

Pela tarde, Cecília deixou-se levar pelos papos de Alexandre, conversaram bastante sobre músicas e filmes, percebeu ali um novo amigo.

Mesmo com essa distração não conseguia parar de olhar Alice, reparava cada milímetro, cabelo, olhos, boca, corpo. Tudo. Não tinha como não sentir ciúmes quando a via com a outra, mas não podia fazer nada. Na verdade só esperava que ela não tivesse ficado chateada com o ocorrido. Logo mais a noite saberia, tentaria e queria dormir com ela.

Um pouco distante de Cecília, Alice não conseguia pensar em nada. Primeiro, sentia sua pele queimar, pois a outra não parava de olhá-la. Minutos antes, tinha conversado com Alexandre, ele resolveu saber como as coisas ficariam com ela quando fosse morar fora. Tentou mudar de assunto, dizer qualquer coisa, mas nada fazia seu amigo acreditar ou mudar o rumo da conversa. Então voltou a repetir o que disse a todos, que não estava dentro de um relacionamento.

O que conseguiu com isso, foi um Alexandre furioso, pois não aguentava mais. E com as palavras mais duras disse.

– Você a ama, só não tem mais coragem pra admitir isso, porque o seu orgulho não te deixa dá uma segunda chance ao seu amor. Pensa bem no que você tá fazendo. – deixando uma Alice surpresa e estática com aquilo, sequer disse alguma palavra, pois todas elas sumiram.

O jantar que Alice pediu para Maria preparar, onde todos seus amigos estariam reunidos, foi um tanto quanto calmo e estranho. Mesmo dando atenção a Alexandre, Flávia e Sara, observou Cecília e Guilherme, principalmente a ela. Os dois bastante calados, não trocavam palavras nem entre si. Via-os apenas sentados, bebendo e paralisados. Isso era no mínimo estranho.

Cecília estava completamente incomodada com Alice ao redor dos outros. “Ela poderia parar de dá tanta atenção para Sara. Tudo bem, ela está conversando com todos, mas não poderia vir ficar aqui com o Guilherme um pouco?” Sabia como seu amigo se sentia, nada a vontade e não conseguia se soltar, só não sabia porquê.

Durante o jantar, Alice e Cecília não se falaram, mas trocaram olhares intrigados, espantados e curiosos, deixando o ar entre elas mais ameno. Perceberam que Alexandre não tirava os olhos de Guilherme, o encarava na cara de pau. Elas trocaram risadas quando notaram que seu amigo estava completamente constrangido.

Quando todos se retiraram para a sala, Alice e Cecília ficaram tirando os pratos, resolvendo falar sobre.

- Você acha que eles dariam certo?

- Não sei, o Gui parece que não gosta do Alê, mesmo sem conhecer. – Alice disse indo a cozinha.

- Mas nunca se sabe, poderíamos tentar da uma ajudinha. O que você acha? – Cecília foi seguindo-a

- Não precisa, do jeito que o Alê tava olhando pra ele, deu pra ver que tá bastante interessado. E isso é igual a Alexandre se jogar totalmente.

Cecília lhe olhou sem entender muito, mas deixou para lá e antes que Alice pudesse sair da cozinha, perguntou:

- Posso dormir com você hoje? – disse se encostando a um balcão.

- Não sei. – foi quase saindo, quando sentiu Cecília puxando seu braço.

- Qual é Lice?! Deixa vai. – colou o lábio no ouvido, disse num sussurro. – Por favor. – conseguindo o efeito que queria.

- Vamos ver. – Alice já estava amolecida, se pudesse se entregaria ali mesmo para Cecília, mas se regrava em tudo que fazia e falava para ela.

Voltando para a sala, Cecília se surpreendeu, pois Alexandre estava completamente próximo de... Guilherme. Foi quando lembrou das palavras de Alice, essa passou na sua frente e a olhou cúmplice. Caíram numa gargalhada uníssono, deixando os outros curiosos.

Tarde da noite, Flávia e Guilherme foram para casa e os outros se retiraram para os quartos. Alice e Cecília, como de costume, dormiram juntas.

Às quatro horas, Alice já estava de pé. Pensava na reunião que teria dalí a dois dias, no jantar do dia anterior e a conversa que havia escutado da mulher que dormia a sua frente e de um convite que estava preste a fazer.

Assim que tomou um banho, desceu, foi até o jardim. Pegou uma rosa, subiu novamente. Ficou contemplando Cecília por mais alguns minutos e antes que acordasse, deixou a rosa com um bilhete em cima do travesseiro. Saiu.

Ao despertar, Cecília virou para o lado a procura de sua companhia, encontrando apenas uma rosa com bilhete. Sentou e se encostou. Primeiro cheirou a rosa e em seguida leu o que estava escrito.

“Cecília, irei ao Rio este fim de semana. Gostaria de saber se aceita ir comigo.

Estou no escritório, espero sua resposta.

Bom dia.

Alice.”



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Capitulo 18

[16/08/12]

Cecília entrou eufórica no escritório. Nunca pensou que poderia passar um final de semana a sós com Alice. Entregava-se ao poder que o amor tinha sobre ela, mesmo correndo riscos, pois estava a beira de um precipício, não saberia se teria conseqüências no futuro.

Encontrou os olhos de mel fixos nela. Sorriu e sem palavras respondeu o convite, tanto que Alice só fez perguntar.

- Não quer saber como sabia que você ia ao Rio?

- Não necessita. – andou até o outro lado da mesa e se encostou. – Vai ser ótimo passar um tempo contigo.

- Será sim.

Cecília segurou o rosto de Alice com as duas mãos e deu-lhe um beijo, para dizer.

- Mas só tinha um jeito de você saber que eu ia ao Rio, escutando minha conversa com a Flávia ontem. – deu mais um selinho e saiu da sala rindo, deixando uma Alice desconcertada.

Cecília sabia que estava se entregando demais. Que era só ter aqueles lindos olhos fixos, que o medo, a insegurança e todo o resto abandonavam seu corpo e sobrava apenas o amor que tinha.

Por vez, Alice não sabia o que imaginar ou pensar. Tentava ser a frieza em pessoa, mas quando sentia o negro compenetrando em si ou quando o seu corpo era tocado, pelo mais simples toque, se desarmava integralmente.

###

Até o dia seguinte, Alice e Cecília resolveram suas pendências. A primeira, mostrou a Alexandre como o trabalho andava e pediu que tomasse conta. A segunda, passou informações a Bruna e ajeitou uns papéis que provavelmente precisaria nesta viagem.

No aeroporto, tiveram a companhia apenas de Guilherme e Flávia. Despediram-se e embarcaram.

Pouco tempo depois, elas já estavam no Rio. Enquanto caminhavam ao ponto de táxi, Alice comentou que seria melhor ficarem cada uma no seu canto, mas Cecília foi contra a essa sugestão e fez com que a outra aceitasse o convite de ficaram no seu apartamento.

Na manhã de sexta, Alice acordou sentindo o calor do corpo de Cecília grudado ao seu. Haviam dormido abraças, sem sexo. Adorava isso entre elas.

Levantou vagarosamente para não acordar a outra. Foi dá mais uma olhada no apartamento, tinha se encantado quando entrou na madrugada, mas como estava bastante cansada, não deu tempo de apreciar.

Ao voltar para o quarto, reparou em uma foto que tinha no criado mudo. Sentou na cama e a pegou. Sorriu. O retrato as mostrava sorridentes. Aquele momento era o início do namoro. Sentia muita falta, mas era passado.

Fechou os olhos e balançou de leve a cabeça, como se afastasse pensamentos. Não queria entrar em conflito consigo mesma.

Virou para olhar Cecília, que a olhava com delicadeza e paixão, Alice se sentiu incomodada com aquele olhar. Esboçou um pequeno sorriso e disse:

- Bom dia! – saiu e foi direto para o banheiro.

Cecília ficou alí, sentada na cama, olhando o caminho que sua amada acabara de fazer. Viu o momento em que Alice sentou na cama e pegara a foto delas, que ainda mantinha no porta-retrato desde a época que haviam tirado, ficou calada para ver o que a outra iria fazer. E viu, o semblante de saudade, uma provável felicidade transformar-se em uma pequena tristeza ou um arrependimento. Não sabia, era conflituoso demais entender aquilo tudo.

Suspirou, afastou as bobagens que estavam passando na cabeça e foi para a cozinha.

Assim que terminaram de almoçar, Alice se dirigiu para sua reunião. E Cecília foi resolver seus assuntos pessoais.

Quando chegou a empresa, Alice cumprimentou a todos e foi seguindo para a sala de reunião. Acompanhada por sua secretária que lhe passava algumas informações, aquela pediu que não fosse interrompida em nenhum momento e avisou que Cecília iria procurá-la, pediu que a levasse direto para sua sala. Entrou e deu início a congregação.

Cecília passou horas atrás de estabelecimento para alugar, estava em tempo de expandir seus negócios. Estava contente pela conversar que teve com o dono de um dos locais, quase conseguiu fechar um contrato, só dependeria do cliente, que estava com prioridade, desistir de alugar. Com isso, foi direto para casa, resolveu fazer uma surpresa para Alice.

Duas horas longa de conversa, ficou satisfeita com a proposta. Claro, também deu algumas sugestões e fizeram acordo em outras. Assim que assinou o contrato, se despediu de seus mais novos clientes e saiu.

Sua secretária estava a sua espera assim que abriu a porta, ficou surpresa em saber que Cecília não tinha ido lá, pois combinaram isso. Conversou algum tempo com o pessoal que ainda estava trabalhando e decidiu voltar para o apartamento.

Alice ficou espantada e admirada com que viu quando entrou na residência. Na mesa de centro estava posta uma barca de sushi. No chão, ao redor da mesinha, umas almofadas espalhadas. E toda a sala estava a meia luz.

- Uau! – foi a única coisa que conseguiu balbuciar.

- Gostou? – disse Cecília aparecendo na sala.

- Se eu gostei?! Tá maravilhoso. – obteve um sorriso da outra.

Alice ficou alguns minutos ainda admirando aquele ambiente. Até sentir as mãos de Cecília passaram pela sua cintura e ficar encaixada a ela.

- Vamos jantar?

- Preciso tomar um banho primeiro, me espera?

- Com toda certeza. – abrindo caminho. – Coloca uma roupa bem leve. Não iremos a lugar nenhum hoje.

- Você que manda. – no meio do corredor voltou e deu um selinho em Cecília.

Assim que retornou, o som de Los Hermanos tomava o local. Elas sentaram lado a lado. Durante o jantar conversaram como tinha sido o dia, riram e cantaram juntas. Mas sempre deixavam os assuntos pessoais de lado.

Em certa hora, o silêncio compareceu entre elas assim que a música Veja bem, meu bem iniciou a tocar.

- É melhor eu trocar essa. – Cecília falou pegando o controle do som.

- Não! – Alice falou segurando no braço dela e levantando. – Vem, dança comigo.

Cecília não falou nada, apenas se deixou guiar pelo seu amor. Elas colaram os corpos e começaram a dançar lentamente, como mandava o ritmo. Não pronunciavam nada, medo, receio ou por não saberem o que dizer. O silêncio estava reconfortante para as duas. Até que segundos depois, Alice iniciou a cantar junto um trecho da música.

“E enquanto isso

Navegando eu vou sem paz

Sem ter um porto, quase morto

Sem um cais

E eu nunca vou

Te esquecer amor

Mas a solidão

Deixa o coração

Nesse leva e traz.”

No mesmo instante, se olharam e se encararam por segundo que pareceram horas. Cecília estava morrendo por dentro, seu coração entendeu que aquele momento lindo, poderia ser simplesmente uma despedida entre elas. Nada pronunciou, novamente se deixou levar por Alice. Os lábios se encontraram para um beijo longo.

O beijo se prolongou para carícias. Das carícias, passaram a percorrer os corpos com a boca, a língua e as mãos. Os sussurros, os gemidos se misturaram a ponto de parecerem uma só. Os sexos pulsantes, quando se tocaram, o gozo veio longo e nada satisfatório para elas. Usaram e abusaram uma da outra até o início da manhã, mas com uma total ausência de pressa.





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Houve um erro de postagem, onde o capítulo 18 não foi postado.

Pedimos desculpas pelos transtorno.



Atenciosamente

Equipe L.A.

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Capitulo 19

[21/08/12]

Cecília amanheceu com um sorriso que iluminava ainda mais o dia. Virou bem devagar, admirou o corpo totalmente nu ao seu lado. Abriu um pouco mais o sorriso e levantou-se. Queria preparar o café antes que ela acordasse.

Minutos depois, abriu os olhos e encarou o teto, respirou profundamente várias vezes. A noite foi maravilhosa, indescritível... se quisesse apenas sexo. O que esperava realmente sentir, o encaixe, o nervosismo, o fogo, a paixão misturada com o amor que existia pela outra, esteve ausente por todas as horas daquela madrugada. Sentia seu corpo por dentro como se tivesse um orifício.

Alice sentou e colocou seu rosto entre as mãos, não entedia nada do que lhe consumia naquele momento. Todas as vezes que fez amor com Cecília tinham sido maravilhosas. E agora, parecia que havia um vazio. Uma lágrima deslizou sobre sua face e outras teimavam em querer cair, mas segurou o choro quando ouviu a voz dela.

- Bom dia, linda! – percebeu o tom de felicidade.

- Bom dia! Dormiu bem? – Alice falou levantando-se, sem notar que a resposta e pergunta tinham saído frias.

- Dormi. To terminando de fazer o café.

- Certo, vou tomar um banho.

Cecília percebeu a distância que o mel se encontrava, pareciam mergulhados num sofrimento completamente confuso, numa mistura de medo e desespero.

Sentiu seu corpo ficar tenso, fechou os olhos segurando as lágrimas que cresciam dentro de si. Não era a primeira vez que Alice fazia aquilo, então podia se tratar dos mesmo momentos conflituosos que já havia tido, logo tudo se resolveria.

Alice entrou na cozinha com a mesma postura em relação a Cecília e ainda decidida quando falou.

- Preciso voltar hoje para Ouro Preto.

Totalmente surpresa, perplexa e sem saber o que dizer, saiu um:

- Tudo bem.

Elas tomaram o café em silêncio, cada uma imersa num pensamento obscuro, longínquo, repleto de coisas do passado que ficaram sem serem pronunciadas. Sem serem resolvidas.

Alice ficou no quarto ajeitando suas coisas, assim que comprou sua passagem. Não deixou que em nenhum minuto a incerteza pairasse sobre sua cabeça. Precisava, necessitava sair dali urgente, não queria magoar mais do que já tinha a mulher de sua vida.

- Você só irá sair daqui quando colocarmos tudo a limpo. – Cecília falou firme ao entrar no quarto.

- Não temos mais nada para conversar.

- Temos sim. Tudo o que não foi dito, tudo o que não conversamos... naquele dia.

- Passado, não quero reviver aquilo. – disse saindo do cômodo, levando sua bolsa.

- Por quê? Medo? – foi indo atrás dela. – Eu também não deveria nem olhar para você, já que conseguiu dá o troco com a minha irmã, né Alice!?

Essa riu baixinho, um riso nervoso.

- Você sabe mais do que ninguém, que não dormi com a Adriana. Eu estava bêbada, embriagada e isso tudo por sua causa. Sua. – disse apontando. – ela apenas cuidou de mim, do estado deplorável que fiquei, se você acha que isso é mentira, o problema não é meu.

Elas se encaram por um tempo. Os olhares falavam mais que as palavras.

Cecília teimava em dizer que Alice havia dormido com a sua irmã, dias depois que tinham terminado o namoro. A encontrou deitada na cama da pousada onde Adriana se encontrava. Desde desse dia, não falara mais com elas.

Como não aguentou, Cecília perguntou.

- Por que você não deixou eu explicar?

- Porque não tinha explicação, não tinha nada para você dizer. – respirou e... – Eu vi tudo.

- Eu não estava bem, tínhamos brigado. E... – foi interrompida.

- Chapada. – disse num fio de voz. – Não adianta, nada vai mudar aquele dia. – se encostou na parede. – Traição acaba com toda a confiança que a gente cria pela pessoa que amamos... E nós duas sabemos que aquela não foi à primeira vez.

Cecília segurou todo o ar que pôde, não esperava por aquilo.

- Não precisa fazer essa cara. – baixou os olhos e completou. – A Beatriz insistiu até que conseguiu.

- Quem te falou?

- Não importa como ou por quem descobri, apenas sei. E ter visto ela naquele dia na sua cama, destruiu muita coisa entre a gente, que até hoje não me recuperei. – Alice não sabia como estava conseguindo se controlar, só esperava que continuasse assim.

- Você ainda não me perdoou, é isso? – Cecília sentiu sua voz embargar. – Depois de todas as noites juntas. – A maneira como as palavras saíram, sôfrega, doeram em Alice, não queria deixá-la naquele estado, mas não tinha outro jeito.

- Pelo contrário, te perdoei, mas... – passou a mão pelo cabelo e concluiu. – Perdoar é fácil, difícil é ter certeza que isso não irá mais acontecer. – pegou sua bolsa e saiu sem olhar para trás.

Alice saiu batendo a porta. A dor dentro do peito queimava, ardia. Quando entrou no elevador, deixou as lágrimas contidas desde o amanhecer, escorrerem pelo seu rosto.

Estava acabada com aquela discussão, por todas as palavras duras, as descobertas feitas e ditas. Só que também ficou satisfeita, finalmente havia conseguido colocar um ponto final naquele angustiante passado.

Cecília se desmoronou ao ver aquela porta fechar, levando o seu “coração” junto. Tudo que havia escutado era verdade. Muitas vezes tentou jogar um pouco da culpa em Alice, para se sentir bem, mas pura ilusão. Quem ocasionou isso foi ela própria, e agora, naqueles segundos que não passavam, resolveu aceitar. Entre lágrimas e dores... toda e qualquer verdade.

Deitou seu corpo no tapete, que horas atrás, havia sido dominada pelo amor da sua vida. Deixou a aflição e o sofrimento apossarem de si, caindo tempo depois num sono, repleto de lembranças ruins.

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Capitulo 20

[23/08/12]

Sentou na calçada cansada, bateu e tocou a campainha várias vezes, mas seus amigos não estavam. Colocou as mãos no rosto. Alice não aguentava mais tantas lágrimas querendo cair. A viagem havia sido exausta, teria que ir a fazenda de alguma forma, não estava disposta. E ainda... tinha... Cecília.

Ao lembrar dela, viu tudo dos dois últimos dias passarem como flashes na cabeça, mas logo foi tirada daqueles pensamentos.

Não acreditou quando viu Adriana parada a sua frente. Sem prensar, correu e abraçou com toda força, derramando o restante das lágrimas que sobraram.

O abraço foi correspondido com a mesma intensidade. Só não esperava encontrar Alice daquela forma. E antes que pudesse falar alguma coisa, atendeu o pedido.

- Me tira daqui.

Adriana dirigiu até a fazenda com um silencia assustador, pois não sabia o que tinha acontecido, aliás, imaginava, mas não acreditava que podia ser tudo de novo.

No final da tarde, todos seus amigos estavam conversando animadamente na casa. Foi quando a figura de Alice passou feito uma tempestade, o silêncio entre eles se formou, junto com surpresa, susto e interrogação.

Alexandre fez menção de ir atrás, mas foi interrompido por Adriana. Explicou onde tinha encontrado-a e que não sabia o que ocorrera. Depois seguiu para o quarto dela.

###

Quando abriu os olhos, sentiu doer, assim como todo o seu corpo. Ficou mais um tempo esticada no chão, não sabia quanto tempo havia passado e nem se importava saber.

Ouviu o celular tocar, levantou-se com pesar e atendeu. O assunto foi rápido e prático. Conseguiu o local para alugar, e assinaria o contrato com o dono dali à uma hora.

Por mais que aquilo fosse um dos seus objetivos, não se alegrou, pois seu maior desejo não era material... Deixou o celular cair no tapete e foi para o banho.

Saiu de casa com um pesar, sempre fez um acordo com si mesmo. Nunca misturaria o seu lado pessoal com o seu lado profissional e só por isso resolveu fazer todo o esforço possível para conseguir realizar um de seus planos. Mas assim que pudesse voltaria para sua cidade.

###

Depois de ouvir tudo o que tinha acontecido, Adriana não sabia o que falar e nem ia, dessa vez não se intrometeria, até por que fazia muito tempo que não trocava uma palavra com a irmã.

- Alice, tem certeza do que vai fazer, né? – se limitou a dizer.

- Acho que será bom.

- Da primeira vez você também disse isso. – levantou da cama. – Mas se essa é a sua vontade, que seja. – beijou sua cabeça e saiu.

Alice ficou deitada por um bom tempo, sentia muito cansaço. Sua mente estava pesada, seus olhos pedindo descanso. Após uma luta para não dormir, acabou cerrando os olhos num sono pesado e extenso.

Sentiu uma mão delicada pousar no seu braço. Acordou e viu a senhora sentada ao seu lado com um semblante preocupado. Se reencostou e viu que ela trazia um lanche. Não podia negar, estava morrendo de fome, só não sentia vontade de comer, mas para agradar, comeu o que pode.

Não sabia que horas eram, mas não se interessou em saber. Teve apenas alívio por saber que Maria estava ali para cuidar de si, como sempre fez quando criança.

Maria não perguntou nada, tinha certeza que sua menina estava assim por causa de Cecília. Que fosse, ela apenas repetia para si mesma, a hora delas ainda não chegou.

Cecília voltou para o apartamento exausta. Fechou o negócio, porém, não obteve nenhuma satisfação. Sua mente estava com o coração que não lhe pertencia mais. Eles ficaram juntos de Alice, da mulher que não voltaria para trazer paz a sua alma. No instante que ela foi embora, sentiu sua vida começar a acabar ali, em pequenos pedaços, e estava decidida que dessa vez seria definitivo.

###

Após tudo aquilo, os acontecimentos foram rápidos. Os dias se seguiram como o tempo mandava e como elas planejavam ser.

Alice em uma semana concluiu o trabalho da fazenda. Passou a conversar menos com seus amigos, por mais que fossem atrás, sempre dava um jeito de encerrar o papo rápido.

Teve dois encontros com o advogado para resolver umas papeladas, todos ficaram preocupados, imaginando que ela pudesse vender a casa, quando perguntavam, ela apenas respondia: “Assuntos pessoais”. Deixando-os no vácuo.

Cecília voltou para Ouro Preto no meio da semana, iria resolver umas coisas sobre o pub com Bianca e logo voltaria para o Rio.

Perdeu toda e qualquer vontade de viver, passou a deixar que tudo acontecesse no automático, sem nenhum detalhe, se quer, lhe chamasse a atenção.

Alice tinha avisado aos amigos sobre sua mudança, só não disse quando e não diria. Dessa vez nada de despedida. Então por isso, escolheu o dia que eles estariam em alguma festa, para voltar ao Rio.

Passou a tarde arrumando suas coisas, escrevendo uma carta para eles, relembrando momentos com seus pais e se despedindo de Maria e José, eram os únicos que sabiam.

Sete horas da noite, foi quando colocou a última mala no táxi. Abraçou as duas pessoas que amava, olhou para Maria e disse:

- O mais cedo possível a senhora terá uma companhia nesta casa. – ela não entendeu, mas deixou subentendido. E disse apenas.

- Logo vou te ver de novo minha menina. – sorriram.

- Espero que sim. – Alice se distanciou, disse um até breve e entrou no carro.

Cecília encerrou o expediente mais cedo e foi para casa, no dia seguinte voltaria ao Rio de Janeiro.

Naquela noite tinha decidido ir a pé. Enquanto caminhava. A sua mente insistia em um único nome. Alice. Fazia dias que não a via, mas sabia que era melhor assim, por mais que seu corpo clamasse por ela.

No momento que terminou esse pensamento, parou. Seus olhos fixaram nos dela e perdeu totalmente o ar.

Assim que colocou o bilhete embaixo da porta de Guilherme, virou para ir embora. Foi quando avistou Cecília. Seu corpo congelou, deixou os mel submergir nos negros por segundo que pareceram horas.

Quando conseguiu sair do transe, agiu com pesar. Entrou no carro e saiu como uma fugitiva.

Nem quando o carro passou do seu lado, Cecília conseguiu voltar a andar. Aquele olhar, aquela pressa, tudo fora uma despedida. Um adeus que elas deram.



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Capitulo 21

[28/08/12]

Já tinha passado dois dias que Alice fora embora, Guilherme e os outros não acharam estranho ou se chatearam o jeito como ela resolveu ir, apenas respeitaram.

O que lhes preocupavam era Cecília, que deixou um bilhete com poucas palavras...

“Até logo ou um simples adeus.

Não sei se volto.

Amo todos.

Cecília.”

Quando leram, Flávia e seu irmão se entreolharam, o medo tomaram seus corpos. Decidiram que Alexandre e Guilherme iriam ao Rio de Janeiro, atrás de saber como estava, no dia seguinte.

###

Assim que entraram no carro, em direção ao apartamento de Cecília. Guilherme recebeu uma ligação de Adriana apavorada. Contou que a meia hora tinha falado com sua irmã e percebeu que sua voz estava estranha, meio drogue e chorosa.

Depois de encerrar a ligação, discou para Cecília ninguém atendeu. Então ligou para Alice. Quando atendeu, eles começaram a falar rápido e juntos, fazendo-a gritar.

- Parem! Fala um de cada vez.

- Lice, vai pro ape da Cecília, agora, por favor. - Alice estremeceu com a voz séria e preocupada de Alexandre, foi quando Guilherme completou.

- Estamos com medo que...

Alice foi rápida e prática.

- Não preciso de explicações, já estou indo.

- Encontramos você lá. – desligaram.

Alice já estava chegando à garagem quando desligou o celular. As quase palavras do seu amigo, foram só para ter certeza do pressentimento ruim que sentia desde o final da tarde.

Assim que entrou no carro, arrancou. Tinha esperanças de encontrá-la bem. Mesmo com o medo comparecendo na sua mente.

###

“Ainda tive capacidade de escutar umas últimas coisas. No início foram batidas fortes. Segundos depois, muitas pessoas falando, que para mim, era alto demais.

E no meio dessa barulheira, que não conseguia entender. Ouvi meu nome sendo pronunciado por uma voz doce com misto de preocupação. Inconfundível... Alice... A última pessoa que esperava aparecer.

Logo que terminei esse pensamento, fui entrando num sono pesado... Que poderia não ter volta.”

No momento que Alice viu o estado de Cecília, paralisou. Não tinha como chegar perto. Sentou um tempo no sofá, foi quando encontrou o bilhete.

Leu vagarosamente e a tristeza lhe consumiu integralmente. “Realmente ela tinha coragem para isso.” Alice pensou no episódio da cachoeira e da casa de seus amigos.

Deixou o pensamento sumir temporariamente, quando um dos rapazes do pronto socorro falou:

- Alguém vai com ela na ambulância?

Alice se levantou e se prontificou.

- Eu vou! – entregando as chaves do carro a Alexandre. – Leva pra mim. – e saiu acompanhando-os.

Uma hora depois, eles estavam na sala de espera para ter notícias. Guilherme observou sua amiga desde o apartamento, estava quieta demais, como se soubesse de algo a mais.

Aproveitou a distração e comentou com Alexandre sobre. E como esperado, também notou o distanciamento e a quietude dela.

- Lice, tem alguma coisa que você sabe e não disse a gente?

Sem hesitar e nem voltar a atenção para eles, respondeu:

- A culpa é minha. – e entregou o papel que tinha achado a eles. Que depois de lerem, Guilherme falou próximo dela.

- Claro que não é, Lice. Ninguém tem culpa disso.

- Mas... ela... – Alice sentiu sua voz embargar e as primeiras lágrimas apareceram, para em seguida vir um turbilhão delas.

Seus amigos lhe confortaram num abraço e dizendo que nada do que aconteceu tinha haver com ela. Por mais que os fatos se ligassem, Cecília sempre teve essas atitudes e nada fazia com que ela mudasse de ideia.

Mais alguns minutos de espera, o médico veio ao encontro deles. Disse que estava fora de perigo, mas com a quantidade de remédios que tinha tomado, não sabia quantas horas ia levar para acordar.

No outro dia, Alice passou um tempo no quarto velando Cecília dormir. Não tinha a menor dúvida que a amava. Naquele dia, o vazio que sentiu, provavelmente tinha sido apenas para encerrar um ciclo entre elas. Só que dali a algumas horas iria para outro país, sentiu medo de perdê-la, mas sabia que não era o momento delas.

Aproximou-se da cama, beijou a testa e colou os lábios no ouvido e disse:

- Eu volto para te encontrar. – se afastou e antes que pudesse fechar a porta, olhou-a uma última vez.

Alice se despediu rapidamente de seus amigos, recusou todos os pedidos de irem lhe deixar no aeroporto, não queria mais tristeza. Pediu que eles entregassem um bilhete junto com um envelope para que somente ela abrisse.

Horas depois no portão de embarque, Alice escutava músicas que faziam lembrar completamente de seu amor. Pensou a cara que ela faria quando visse o que tinha feito. Sorriu.

Entrou no avião, se acomodou e olhou pela janela, estava deixando seu coração ali e uma hora, um dia, talvez, voltaria a encontrá-lo.



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Capitulo 22

[30/08/12]

“Espero que tenha gostado do meu presente...

... e espero também que você se recupere. NUNCA MAIS FAÇA ISSO!

Não quero te perder...

... Eu te amo!

Alice.”

Pela milésima vez, Cecília olhava para os documentos, que continham no envelope, em suas mãos. Lia e relia o bilhete, não acreditava naquilo. “Presente? Como Alice pode ser louca a tal ponto de passar a casa dos pais para meu nome?!” Ela pensava e tentava entender o que deu naquela mulher, aquilo era inacreditável para qualquer pessoa.

Enquanto os rapazes falavam para chamar sua atenção. Cecília não conseguia focar neles, além de pensar sobre a “surpresa”, lembrava vagamente de ter ouvido a voz de Alice dizer: “Eu vou voltar pra te encontrar.” Poderia ter passado horas dormindo, mas sabia que essas palavras não tinham sido um sonho. Dando-lhe uma certeza, esperaria por ela.

Alice desembarcou se sentindo totalmente estranha, como se estivesse entrando em outro mundo. Sabia que dali para frente sua vida seria alterada.

Pegou um táxi e se dirigiu ao hotel que ficaria. Há poucas horas teria reunião com os clientes, conheceria tudo e já iniciaria seu trabalho, seria o único fator para ocupar sua cabeça.

###

A primeira semana se passou desde a tentativa de suicídio e a viagem. Cecília saiu do hospital antes de está completamente recuperada, mas continuou com o acompanhamento do médico e da psicóloga.

O trabalho continuava o mesmo. Como estava ainda no Rio, tomou conta do início das obras do seu novo bar, com a ajuda de Alexandre. Ocupava seu dia como dava, era insuportável ficar em casa, sozinha. Toda hora pensava em Alice, não existia nada que não a lembrasse.

Alice se jogou no sofá, fazia um mês que estava ali. Trabalhava arduamente todos os dias, não parava. Seu corpo latejava, às vezes, de tanto cansaço. Tinha final de semana que nem saia da cama. Isso tudo era para não ficar na tentação de ligar para Cecília, precisava aprender a ficar sem ela.

Nas primeiras semanas tinha procurado notícias dela pelos amigos, mas aos poucos foi diminuindo, limitando a conversar sobre o dia a dia. Passou uma imagem de desinteresse em relação a Cecília até que eles também deixaram de colocá-la nos assuntos.

Adormecia e amanhecia pensando nela, em como estaria, se estava com alguém... Se tocou sua vida em frente. No fundo, ainda mantinha dúvidas se um dia elas teriam uma terceira chance. Um fato que a consumia era o medo de não tê-la de volta como queria e... A incerteza de voltar ou não para o Brasil.

- Seis meses. – Cecília respirou em frente ao calendário. Não podia negar, ainda tinha esperança de um dia voltar a ver e ter Alice, por mais que todos mandasse ela seguir em frente.

Há poucos dias tinha voltado para Ouro Preto. Deixou o acabamento da obra com Alexandre e Bruna, só voltaria ao Rio de Janeira para a inauguração do bar.

Ocupou todos seus horários como pode, se dividindo entre o pub e a fazenda, Alice acertou em cheio quando deixou aquela casa para cuidar. Além de fazer bem para sua alma, podia reviver momentos que teve com ela.

Cecília não tinha mais notícias do seu amor como no começo. Parou de perguntar aos amigos, imaginou que isso se tornaria chato e como eles não se manifestavam mais, preferiu ficar no seu silêncio.

Depois da quase loucura que fez, sua vida mudou indescritivelmente. Vivia no mundo sem cor, sem cheiro, sem valor. Tudo no preto e branco. Quando estava com os amigos se mostrava mais presente, ainda assim, os evitava em todos os tipos de saídas noturnas, não tinha paciência para aguentar as garotas que eles empurravam. Ficar e conhecer alguém, se tornou impossível. Não havia mais interesse.

“E se ela não voltar?” Às vezes esse era o seu pensamento. Tinha medo do que a esperava no futuro, dá volta ou não. E se estaria disposta a recomeçar uma vida ao seu lado. Necessitava está preparada para tudo.

Alice olhava o dia terminar, sentada debaixo de uma árvore, lembrava quando via o pôr do sol na cachoeira abraçada a Cecília. Saudade era o maior sentimento que tinha naquele momento.

“Um ano, faz exatamente um ano que estou aqui e você não saiu da minha cabeça um segundo sequer. Está presente no pensamento consciente e inconscientemente, numa palavra, num nome, num lugar... em tudo.” Ela ficava falando isso mentalmente, como se quisesse memorizar, ficar e imaginar que estaria dizendo isso para seu amor.

Durante todo esse tempo, conheceu poucas pessoas e lugares, se limitava as que trabalhavam com ela. Não queria criar vínculo algum e muito menos se mostrar aberta a outras garotas. Envolver-se com alguém sem sentir nada e ainda pensando em outra, isso era inconcebível.

Muitos dias pegava-se no arrependimento de não ter ficado com Cecília naquele hospital, mas como não podia mudar o passado, pensava nas mudanças dos próximos meses e na decisão de voltar. Para depois de um imenso tempo perdido, ir em busca do que realmente lhe faz sentir viva... Iria recuperar a sua mulher.

UM ANO DEPOIS...

Alice estava tomando seu último chocolate quente antes de sair daquela cidade que foi como um baú para seus sentimentos. Ali ela apenas registrou seus momentos de dor, tristeza, frustração, saudade e amor. Tudo isso por uma única pessoa, que em breve voltaria ver.

Chegaria ao Brasil duas semanas antes do previsto, assim não avisou a ninguém. De primeiro momento, queria e precisava ficar sozinha. Faria uma surpresa a todos. E o quanto antes, procuraria ter notícias de Cecília.

- Está mais do que na hora de ter você de volta na minha vida. – falou olhando uma foto dela na tela do seu notebook. Em seguida, fechou, pegou suas últimas coisas e saiu para embarcar na viagem que a levaria de volta para seu verdadeiro mundo.



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Capitulo 23

[04/09/12]

No instante que Alice saiu do aeroporto no Rio de Janeiro, sentiu um alívio e um bem estar, por se sentir em casa. Sorriu ao ouvir a música, exatamente na hora do refrão...

“Take this sinking boat

(Pegue esse barco afundado)

And point it home

(E guie-o para casa)

We've still got time

(Nós ainda temos tempo)

Raise your hopeful voice

(Levante sua esperançosa voz)

You have a choice

(Você tem uma escolha)

You've made it now

(Você precisa fazê-la agora)”

(Falling Slowly - Glen Hansard And Marketa Irglova)

… se tivesse programado, não teria dado certo. Pegou o primeiro táxi que viu e pediu que fosse para seu endereço. Assim que desse, procuraria Cecília.

Cecília acordou preguiçosamente, passou um bom tempo na cama olhando para o teto e pensando em Alice, como sempre fazia todas as manhãs. Levantou-se e foi atrás de Alexandre e Guilherme, depois que vendera seu apartamento, passou a ficar com eles sempre que ia ao Rio.

Chegou a cozinha e viu um bilhete avisando que haviam deixado o café pronto. Aproveitou que estava sozinha e foi tomar um banho bem demorado, passaria o dia descansando para a noite, precisava ver como andava seu negócio.

- Nem acredito! – foi o que Alice disse alto e bom som quando caiu deitada na sua cama. Seus amigos cuidaram bem do seu cantinho, agradeceu bastante por isso.

Ficou pensativa por um longo tempo, não ia aguentar esperar tanto tempo, precisava, desejava falar com Cecília. Pegou o celular e ligou para ela, contava que ainda fosse o mesmo número. Desligado. Fechou os olhos e respirou, pediu paciência, já tinha aguentado dois anos, poderia passar mais uns dias aguardando.

Após o banho, Cecília desligou o celular e só voltaria a ligá-lo a noite, não queria ninguém lhe perturbando antes do tempo. Estava precisando meditar, os últimos dias haviam sido de uma inquietude só. Não se concentrava e não tinha paciência para nada. Tudo em sua vida voltou a se centralizar em Alice com grande intensidade. Não entendia esse sentimento avassalador de lembranças, esperava e torcia que fosse algo bom para acontecer.

Depois de tantas tentativas, na hora do almoço e enquanto estava no supermercado, Alice desistiu de ligar, só dava desligado. Não podia imaginar nada, primeiro que fazia dois anos que não falava com Cecília, não sabia como sua vida se encontrava. E segundo, o número podia não ser mais o mesmo.

Durante toda viagem, ansiou por ouvir sua voz, era como se fosse um sonho a ser realizado. Como não estava sendo possível ter contato, se conformou e acreditou que naquele dia, pelo menos, não falaria com ela.

Cecília estava terminando de se arrumar, iria encontrar os rapazes para jantar antes de ir trabalhar. Quando estava terminando de ajeitar o cabelo, ficou olhando para o espelho pensando como seria bom ter um encontro com Alice. Seu pensamento foi quebrado com o telefone tocando.

- Que horas você chegar aqui, ein?!

- To terminando de me arrumar, já já chego, Gui. Beijo.

Desligou e lembrou que seu celular continuava desligado. Pegou-o e ligou, segundos depois, viu que havia uma chamada de um número, mas não lembrava ou não conhecia. Deu de ombros e deixou para lá. Pegou suas últimas coisas e saiu para encontrá-los.

Alice estava com dúvidas se saia ou não. Descansou a tarde inteira e o comecinho da noite. Na hora que jantava, algo lhe fez pensar na possibilidade de ir para algum ligar, como se fosse uma intuição. Só não sabia para onde ir.

Ficou sentada no sofá com a televisão ligada, não tinha a menor ideia do que passava, Cecília rondava sua mente. Quando pegou o controle, em cima da mesinha de centro, viu um papel com o nome de um bar-boate. Lembrou que haviam dado a ela na saída do restaurante. Olhou, analisou o que teria e como um empurrão, resolveu cair na night.

Eram onze horas quando Alice entrou no estabelecimento, adorou o ambiente. O DJ já havia iniciado, tinha algumas pessoas na pista e umas poucas nas mesas que existia bem na entrada.

Sentou perto do bar e pediu uma bebida. Ficou curtindo as músicas e olhando em volta, para ver se conhecia alguém. Estava totalmente distraída olhando para os locais, quando ouviu a voz conhecida chegando ao bar.

- Dei uma olhada, tá tudo ok. Estão precisando de alguma coisa? – Cecília falava para os funcionários. Alice ficou encantada com a imagem dela, como sempre, apaixonante.

Enquanto não tinha uma chance, observou-a sem pressa. Até que...

- Traz uma bebida para mim, por favor. – pediu.

Quando eles se afastaram, Alice a chamou com uma voz trêmula.

- Cecília!

Ao ouvir aquela voz, percebeu seu corpo estremecer por inteiro. Olhou para a direção de Alice e viu o sorriso mais estonteante que podia encontrar.

- Alice?! – recebeu um sorriso, para em seguida ficarem num embate de olhares, com mistura de saudade e receio, pois elas não sabiam como estava a vida uma da outra.

Cecília pegou a sua bebida e foi em direção a Alice. Os olhos não se desgrudavam um segundo sequer.

- Oi.

- Oi.

- Que surpresa!

- Boa ou ruim?

- Maravilhosa. – Cecília mordeu o lábio inferior achando que tinha dito besteira, antes que a outra pudesse falar algo, continuou. – Quanto tempo você tá no Brasil?

- Cheguei hoje, mas ninguém sabe.

Silêncio. Os minutos se passavam sem palavras, mas a energia ao redor delas, deixava muita coisa clara.

- Como você tá?

- Bem e você?

- Bem... só com saudade. – Alice ficou com medo que estivesse sido direta demais. Disse o que deu vontade, o que precisava, aquele sentimento estava sufocado dentro de si. Só que tinha outro problema, existia várias significados na frase, então não saberia qual Cecília entenderia, até finalmente...

- Também senti sua falta, bastante.

Alice chegou a pensar que seu coração sairia pela boca, assim que escutou aquelas palavras, segurou o ar e aumentou o sorriso. Incrível como, mesmo depois de tempos, elas mantinham aquela ligação, com apenas um gesto ou uma palavra, a outra sabia o que dizer ou pensar.

Novamente elas não sabiam o que falar, por mais que as últimas frases ditas foram de uma total e verdadeira entrega de sentimentos. Parecia que faltava algo, talvez uma intimidade maior? Não se sabia.

Por uns segundos, respiraram, se concentraram, tomaram coragem juntas. Mas foi Cecília que resolveu falar qualquer coisa.

- Gostou do bar?

- Adorei, não sabia que tinha aberto outro.

- Pois é... Quer conhecer o restante? – recebeu a resposta com uma afirmação de cabeça. Pegaram suas bebidas e saíram entre silêncio e palavras.

Quando chegaram na parte superior, que era ao ar livre, Alice ficou maravilhada com a paisagem. Parabenizou pelo local e depois resolveu abrir o coração.

- Morri de medo de te perder naquele dia. Quando te vi desmaiada e sangue nos braços, não consegui imaginar outra coisa.

- Não queria ter te deixado assim. – Cecília não fazia ideia do que dizer.

- Por que tudo aquilo?

- Não conseguia mais viver. – os olhos negros estavam mergulhados nos de mel seriamente. – Não suportava passar mais tempo longe de você, e ter que aprender tudo de novo.

- E esses dois anos?

- Só consegui ficar bem, porque tinha pelo menos um dos meninos no meu pé vinte e quatro horas. Mas... – olhou um tempo para a noite e completou. – Existia um fator maior, você disse que voltaria para me encontrar. – deixou um sorriso tímido escapar.

- Então, você... escutou? – Alice ficou surpreendida por ela se lembrar daquela frase. – Me esperou por todo esse tempo?

- Sim, não existia mais nenhuma mulher que me chamasse a atenção. Você dominou e completou minha alma. – respirou e continuou. – Se não fosse contigo, não seria com mais ninguém.

Alice ficou sem palavras por minutos, ouviu tudo o que desejara. Estava mais que surpresa, estava na verdade, inteiramente emocionada.

- Sinceramente, não sei o que dizer, mas... – Cecília ficou hesitante com termino da frase. – Tudo isso é recíproco da minha parte. Voltei para o Brasil, com a total esperança de te reencontrar e te pedir para a gente tentar uma terceira vez. – Alice com a voz embargada e Cecília com os olhos cheios de lágrimas.

Foi naquele exato momento, que elas se abraçaram pela primeira vez na noite. Um abraço com troca de compreensão, saudade, felicidade e principalmente, amor. Ao se separarem, Cecília deslizou o dedo polegar sobre as lágrimas de Alice, fazendo-a soltar um risinho. Encostaram a testa uma na outra, Cecília com as mãos pousadas no pescoço de Alice e essa com as mãos na cintura daquela.

- Não me abandona mais, Lice.

- Nunca mais, Ceci. Nunca mais.

Selaram essa promessa com um beijo sem pressa, saboreando cada movimento que os lábios faziam.

###

- Vou ficar perto da pista.

- Tá bom, te encontro já.

Elas desceram para Cecília da uma olhada nas coisas, falar com alguns clientes e pegar outras bebidas para elas. Alice estava radiante por tudo que estava acontecendo, da maneira como queria, nada mais ria atrapalhar seu relacionamento.

Depois de resumir rapidamente para Bruna o que ocorrera, deixando-a espantada e feliz pela sua chefe, Cecília pegou as bebidas e saiu para onde se encontrava seu amor. A viu conversando com outra garota, diminuiu seus passos e parou um pouco perto, o bastante para ser percebida. Pacientemente esperou que elas terminassem, se fosse anos atrás, teria chegado do lado delas e mandado a outra pastar. Riu do pensamento. Agradeceu pela mudança e evolução que teve, nada melhor do que se sentir segura de si.

Alice percebeu Cecília perto dela, se despediu e foi de encontro a ela.

- Por que você não foi para onde eu estava?

- Tava esperando você terminar seu assunto com a garota.

- Ta com ciúmes?

- Não, só não queria atrapalhar. – falou com um sorriso divertido. – E também, porque eu sabia que você ia dispensá-la.

- É?! E seu eu não fizesse? – provocou.

- Daria sim, eu sei disso. – deu um gole na sua bebida.

- Convencida!

- Convencida não, apaixonada. Loucamente apaixonada. – puxou Alice pela cintura e ficou abraçada a ela.

- Fiquei curiosa em saber o que você faria, se eu não desse o fora.

- Bem, assim que eu percebesse que rolaria algo. Chegaria perto, te pegaria pela cintura e pedia licença, porque essa daqui é minha mulher.

Elas caíram na gargalhada, numa cumplicidade só. Depois vieram os beijos, os amassos. Em seguida foram para a pista de dança, curtir um pouco, até que o inevitável veio.

- Ainda precisa resolver alguma coisa?

- Não, minha atenção é toda sua. Por quê? – Cecília disse numa ansiedade.

- Vamos para outro lugar?

- Agora! – Alice segurou na mão de Cecília, passaram por todos e só pararam quando chegaram do lado de fora.

- To de carro, é só dizer para onde iremos.

- Não existe outro lugar que eu queira ir, a não ser, a minha casa. – Cecília olhou para Alice surpresa, pois nunca havia conhecido o canto dela e para fazer isso, entendeu que aquela noite seria marcante nas suas vidas. Entraram no carro e sem nenhuma dúvida, seguiram para o caminho que elas se reencontrariam de corpo e alma.



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Capitulo 24

[06/09/12]

Alice abriu a porta com dificuldade, pois Cecília ficava passeando suas mãos pelo seu corpo e beijando a nuca, provocando-a de toda e qualquer forma.

- Agora você me paga. – Alice disse empurrando-a no sofá e sentando no seu colo. – Estou no comando. – falou mordendo o lóbulo da orelha e fazendo a outra soltar um gemido abafado.

Colaram os lábios com uma urgência jamais vista. Cecília deslizou suas mãos pelas costas quentes de Alice até nas coxas, puxando-a mais para sai, e apertando-as com força, pois no mesmo instante Alice havia passado levemente a palma da mão nos bicos dos seios.

Quando as mãos da outra desceram para sua barriga e depois subirem levando a sua blusa junto, Cecília jogou sua cabeça para trás. Alice saiu beijando, mordendo o pescoço e deslizou por entre as pernas de Cecília, ficando de joelho, colocou a boca em um dos seios, sugou, lambeu, chupou vorazmente como ansiava por todo esse tempo. Enquanto continuava a se deliciar, desceu as mãos para abrir e tirar a calça de Cecília. Voltou a descer pelo o corpo, beijou a parte interna das coxas, passou a boca sobre a calcinha, deixando a outra arfando de tanta excitação. Retirou a peça íntima. Por fim, matou a saudade que sentia por aquele corpo, aquele cheiro. Mergulhou seus lábios, sua língua naquele sexo que latejava a sua frente, com vontade e todo amor que tinha por a mulher que gemia de prazer.

Assim que sentiu Cecília estremecer, penetrou-a com dois dedos e continuou a chupá-la até se entregar num gozo demorado.

Alice voltou a sentar no colo de Cecília, para recuperarem o fôlego. Os olhos se encontraram com a chama já acessa de novo. Cecília, com a ponta da língua, passou pelo pescoço até a orelha só para dizer.

- Você sai do comando e eu entro. – riram juntas. – Só que agora, no seu quarto. – passou a língua e junto soltando o ar na orelha dela, apenas para conseguir o efeito da excitação.

Elas se levantaram, Cecília abraçou Alice por trás e saíram rumo ao quarto. A cada passo que se seguia Cecília aumentava as provocações e aos poucos iam tirando a roupa da outra. Quando entraram no quarto, Alice já estava completamente nua.

Ficaram uma de frente para outra, beijaram-se longamente. Deitaram-se, Cecília por cima, iniciou a beijar boca, pescoço, enquanto suas mãos deslizavam pelo corpo, deixando, em certas partes, Alice sem ar. Pousou os lábios sobre o bico de um dos seios. De olhos fechados, roçou, beijou e passou a ponta da língua, para o desespero de Alice, que já arfava. Foi ai, que os tomou de uma vez. Enquanto sugava-os, uma das mãos descia de encontro ao sexo, assim que deslizou nele, gemeu e ouviu um gemido.

Continuou nessa exploração, fazendo uma sincronia magnífica. Assim que ouviu Alice pedir com dificuldade para não lhe maltratar mais, a penetrou e desceu para poder sentir o gosto da sua mulher.

No momento que recuperaram de vez o fôlego, elas se olharam ternamente, até que Alice se aconchegou nos braços de Cecília e adormeceram.

Alice se virou, sentiu a cama vaga demais, abriu os olhos e não a encontrou. Antes que pudesse chamar seu nome, Cecília apareceu saindo do banheiro.

- Bom dia, meu anjo! – deitando ao lado e lhe dando um beijo.

- Bom dia! – falou preguiçosamente. – Como é maravilhoso acordar contigo. – beijou-a.

- Concordo plenamente. – abraçou-lhe com força. – Ta com fome? Posso preparar algo?

- To morrendo! Mas... não é de comida que estou falando. – mordeu o lábio e olhou a outra com volúpia.

Cecília não falou nada, atendeu prontamente o pedido dela. Puxou-a para cima de se e começaram os beijos ardentes, foi quando o celular de Cecília tocou.

- Não vou atender. – falou entre um beijo e outro.

- Tem certeza?

- Absoluta. Daqui a pouco para. – foi só se calar que parou, elas sorriram e voltaram aos amassos, mas não demorou muito e o celular voltou a tocar.

- Será possível! – falou bufando.

- Calma, amor. Vai atender, vai. – Alice disse saindo de cima dela e completou. – A gente vai ter muito tempo ainda. – piscou.

- Pode ter certeza. – soltou um beijo da porta e foi atrás do seu aparelho.

Alice ficou olhando aquela bela mulher sair nua, respirou e largou um sorriso no rosto como se não acreditasse naquilo. Estava imensamente feliz por tudo ter dado certo, dali em diante não deixaria Cecília nunca mais sair de sua vida.

Resolveu levantar-se e ir a cozinha, passou por ela e a observou conversando ao celular. Não aguentou e foi até onde estava, abraçou-se por atrás e beijou suas costas, deixando Cecília desconcentrada.

- Humm.. – puxou o ar. – Não foi nada, Gui. A gente pode se falar depois? – tentava inutilmente tirar as mãos de Alice de seu corpo, estava vendo a hora de gemer com o amigo ouvindo.

- Vai almoçar com a gente?

- Não. – disse num fio de voz. Alice havia acabado de morder sua orelha e pousar as mãos nos seus seios.

- Desliga, diz que você ta ocupada e mais tarde a gente os encontra, mas não diz que ta comigo, quero fazer uma surpresa. – Alice falou baixinho.

- Gui, preciso desligar, mais tarde vou ai. Beijo e tchau. – não esperou que ele respondesse, desligou e jogou o celular. Virou-se, pegou Alice pela cintura e empurrou-a de encontro a parede. – Você, ein?! Gosta de me ver numa situação.

- Queria te ver se controlando para não gemer. – riu.

- Pois agora quero ver você se controlar. – grudou os lábios nos da outra, com uma das mãos, levantou uma das pernas de Alice e com a outra, penetrou-a bem devagar, para depois intensificar os movimentos.

Alice não deixou barato, também desceu uma das mãos para o sexo de Cecília. Primeiro, apenas deslizou pelo clitóris, para logo penetrá-la.

Elas fizeram dos movimentos uma sintonia dos seus corpos. Foram cada vez mais fundo uma na outra, até o gozo demorado chegar mutuamente.

Depois de comerem alguma coisa, se amaram por mais um tempo, elas estavam sentadas na cama abraçadas conversando animadamente, quando Cecília resolveu pedir.

- Amor, me desculpa. – Alice se virou para fitá-la e quando os olhares se encontraram, entendeu o que ela quis dizer.

- Já te perdoei há muito tempo. – deu-lhe um beijo rápido. – Se não ficamos juntas naquela época, era por que não estávamos prontas uma para outra. Precisávamos descarregar o que teimava em ficar cutucando a nossa cabeça, para depois deixarmos o tempo nos preparar e ficarmos madura o suficiente para termos outra chance.

- Obrigada, muito obrigada por existir e me amar tanto. – abraçou-a com intensidade. Tentando mostrar o quanto estava grata.

Beijaram-se para selar mais um momento de felicidade e antes que pudessem passar além dos beijos e não conseguirem sair da cama, Alice interrompeu.

- Ceci, pode ir parando. – foi tirando ela de cima e saindo da cama. – Esqueceu que vamos pro ape dos meninos? Já ta na hora.

- Ih! É mesmo. – sentou na cama. – Preferia ficar aqui com você. – puxou e ficou dando beijinhos na barriga de Alice.

- Eu também, mas prometemos, aliás, você prometeu. Vem vamos tomar um banho juntas.

- Hummm... isso significa horas de banho. – gargalharam juntas e entraram no banheiro.

Como previam, o banho realmente durou tempos, pois a saudade e vontade que tinham era insaciável.



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Capitulo 25

[11/09/12]

- Já tava na hora, ein?! – Guilherme disse ao ver Cecília entrando.

- Se eu fico em casa, vocês reclamam. Se eu passo a noite fora, vocês reclamam. Então não sei o que fazer, - disse com humor.

- Pensávamos que você não ia voltar mais. – vez de Alexandre.

- Essa menina te pegou de jeito. – brincou Guilherme.

- Queria conhecer essa criatura que conseguiu fazer isso. – completou Alexandre. – Você vai deixar essa porta aberta mesmo?

- Não, tava esperando vocês pararem de falar para eu chamar alguém que eu trouxe.

- Trouxe a garota? E não diz nada. – Alexandre falou indignado.

- Podia ter avisado. – Guilherme reclamou.

Cecília não falou nada, saiu rindo e balançando a cabeça. Voltou com Alice rindo do falatório deles.

- Alice! – disseram juntos.

- Oi meninos.

- Foi com você que Ceci passou a noite? – Guilherme ficou surpreso.

- Foi, tem algum problema?

- Claro que não! – novamente juntos.

- Mas era pra senhorita voltar daqui a duas semanas. – Alexandra a repreendeu.

- Resolvi fazer surpresa. – assim que terminou de falar, foi abraçada por seus amigos.

Eles passaram horas conversando, matando a saudade. Alice contou como encontrou Cecília e que tinham se resolvido. Guilherme também falou sobre algumas novidades, como estavam suas vidas.

Combinaram que no dia seguinte iriam para Ouro Preto, eles primeiro, para juntar as meninas no casarão, pois Alice queria surpreendê-las.

Tarde da noite, Alice se despediu deles e levou Cecília de volta com ela, tinha decidido que não iria mais largá-la um segundo.

- Vou tomar um banho, quer vir comigo? – Cecília perguntou assim que entraram.

- Não, vou arrumar umas coisas. – deu-lhe um selinho e foi a cozinha.

Assim que ouviu o chuveiro, Alice correu para o quarto e pegou na bolsa uma caixinha, abriu e ficou olhando. Ficou pensando se deveria, se era a hora exata para entregar a Cecília. Respirou e resolveu fazer o que o coração lhe pediu. Deixou a caixinha aberta no meio da cama e foi para a janela. Esperaria a reação de seu amor.

Cecília saiu do banheiro enxugando seu cabelo. Ia passar direto pela cama, mas algo lhe fez parar. Olhou de longe, observou o que era e tentou acreditar no que estava vendo. Nesse instante, procurou os olhos cor de mel para ter certeza de que aquilo era...

- Lice?! – disse com o olhar surpreso. Alice veio ao seu encontro, pegou seu rosto com as mãos, deixou os olhos se aprofundarem um no outro.

- Gostou?

- Tem certeza? – Cecília ficou apreensiva.

- Toda certeza do mundo. Desde o momento que te reencontrei. – pegou a caixinha em cima da cama e repetiu a pergunta. – Gostou das alianças?

- Adorei, amor. – abraçaram-se.

- Quando você comprou?

- Há bastante tempo. – Alice pegou a mão de Cecília e sentaram na cama. – Eu ia te entregar naquele dia. – sentiu seus olhos ficarem marejados.

- Sério? - Recebeu uma afirmação de cabeça.

- Tinha resolvido ficar bem contigo. Resolver tudo o que estava errado. – soltou um risinho no canto da boca. – Mas quando te vi – respirou. – Enfim, as joguei numa gaveta qualquer. – enxugou uma lágrima que caiu pela sua face. – E num dado momento as encontrei, decidi que se um dia ainda tivéssemos chance, entregaria e perguntaria a você... Cecília... Você aceita passar o resto dos seus dias comigo?

- Você é a mulher da minha vida, é claro que aceito, meu amor. – abraçou e foi dando beijos no seu rosto.

Alice pegou uma das alianças e colocou no dedo anelar da mão direita de seu amor. Cecília fez o mesmo com Alice, isso tudo em um mútuo silêncio.

- Te amo, Ceci.

- Também te amo, minha vida.

- Meus pais ficariam orgulhosos e felizes por nos verem juntas.

Cecília sorriu num consentimento, voltou a abraçá-la e beijou sua boca longamente, com amor.

Naquela noite, elas se entregaram de uma forma delicada, tranquila. Amaram-se por horas, deixaram que os corpos mostrassem tudo o que sentiam, tudo o que desejavam sentir. A madrugada passou junto com a rendição das suas almas.



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Capitulo 26

[13/09/12]

No dia seguinte, Alice e Cecília acordaram tarde e deixaram para ir a Ouro Preto depois do almoço. Assim que chegassem a cidade, iriam direto a fazenda. As duas estavam ansiosa, pois além da surpresa da volta de Alice, contariam sobre o que decidiram das suas vidas.

No final da tarde, todos estavam no casarão. Os rapazes tentavam se desvencilhar de todas as formas para não dizer qual era a surpresa, até que Cecília chegou o com Alice atrás. Flávia e Adriana pularam no pescoço de Alice para matarem a saudade que sentiam. Depois dos abraços, sentarem-se e foram conversar sobre as novidades, a volta e como havia sido a experiência trabalhando fora.

Quando a euforia passou, na hora do jantar, todos repararam na aliança que o casal usava. Perguntaram, fizeram brincadeiras e decidiram fazer uma festa para comemorar. Em seguida, elas contaram sobre alguns planos que estavam pensando em fazer e como tentariam desenrolar a vida juntas.

Uma semana depois, elas fizeram a festa de comemoração, tanto do casamento quanto da volta de Alice. Após a festa, o casal comemorou do seu estilo. No quarto pela madrugada inteira.

O mês seguinte, a vida das duas ainda se encontrava em transição, se acostumando e um pouco de caos. Cecília resolveu vender sua casa da cidade, pois não usava mais, passaram a morar na fazenda. Cuidava do casarão com maior satisfação e continuava trabalhando no seu pub. Já a filial do Rio, deixou por conta de Bruna, só aparecia por lá quando realmente precisavam dela ou quando a saudade batia e ia encontrar seu amor.

Alice teve que se acostumar em dividir a vida entre Rio de janeira e Ouro Preto. Normalmente passava a semana no seu apartamento e no final de semana ia para a fazenda, matar a saudade de sua mulher. Quando não tinha muito trabalho, se dava ao luxo de passar vários dias com Cecília, trabalhando em casa.

O seu próximo plano era colocar uma filial da empresa para poder tomar conta, assim teria mais tempo para montar sua família ao lado de sua vida.

SETE ANOS DEPOIS...

Cecília estava dormindo tranquila quando sentiu um peso no seu corpo, se virou e abriu o melhor sorriso, as duas criaturinhas mais lindas a sua frente tentavam empurrar para lhe tirar da cama.

- Bom dia pra vocês também. – disse rindo e pegando Sofia.

- Anda mãe, levanta. A gente que ir pra cachoeira. – reclamava Pedro.

- E quem disse que eu vou levá-los hoje?

- A mamãe, ué. – foi a vez de Sofia.

- Ela disse foi?! – Cecília ficou olhando para os dois fazendo cara de quem estava pensando. – Só se vocês me derem um beijo bem gostoso de bom dia. – assim que terminou, recebeu dois estalinhos em cada bochecha.

- Bora crianças, deixem a mãe de vocês tomar banho. – disse Alice entrando no quarto e completou. – Vão tomar o café. – os dois saíram da cama correndo.

Cecília observou aqueles dois e sorriu ao se lembrar...

- Amor, vou chegar no médico um pouquinho atrasada, mas ainda pego a consulta. – disse Cecília ao celular.

- Tudo bem, fica tranquila que vou entrando logo e te espero. Beijo. – Alice desligou e foi chamada pela atendente de sua ginecologista.

Conversou um pouco com a médica, foi examinada e foram para a ultrassom.

- Já da para saber qual é o sexo? – Alice estava com quatro meses de grávida e ansiosa para saber se seria menino ou menina.

- Dá sim, mas você não prefere esperar Cecília? – assim que terminou de falar, Cecília entrou, desejou bom dia, deu um beijo em Alice e perguntou.

- E o sexo? – mordeu o lábio inferior.

- Vamos lá, suas ansiosas. – a doutora brincou. – De quem vocês querem saber? – sorriu.

Alice e Cecília se entreolharam e fizeram cara de quem não entenderam.

- Vocês serão mamães de gêmeos, um casal.

- Sério?! – Cecília quase não acreditou.

Elas voltaram a se olhar, com os olhos marejados e sorrisos de uma felicidade inexplicável...

- Amor? – Alice sentou ao seu lado. – Tá longe, pensando em que?

- No dia que descobrimos que teríamos filhos lindos. – sorriu e beijou-a.

- Foi um dos melhores dias da minha vida. – devolveu o beijo, só para acender o fogo de sua esposa. – Nem pense, os meninos estão nos esperando.

- Tá bom, anjo. Vou tomar meu banho. – se rendeu e foi direto para o banheiro.

Tempos depois, elas estavam na cachoeira observando os filhos nadarem e brincarem. Sempre quando iam para lá, relembravam a primeira vez que conversaram, que trocaram olhares. Divertiam-se de todas as formas.

No final da tarde, sentaram num canto estratégico para verem o pôr do sol, como todas às vezes, abraçadas, trocando beijos e carícias. E cada minuto que a tarde ia e a noite chegava harmoniosa, elas faziam juras de amor.

- Vou te amar a minha vida inteira, meu anjo. – Cecília disse perto do seu ouvido.

- Eu também, te amarei para sempre. – Alice lhe olhou profundamente e beijou-a com amor.

O passado, muitas vezes, pode afetar o nosso presente e nosso futuro, pondo obstáculos quase impossíveis de ultrapassar, principalmente o amor. Mas se este for verdadeiro, ele quebra, rasga e deixa as duas almas se fundirem como se fosse única.

FIM

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