A Arte da Vida - por Nadine Helgenberger

A arte da Vida - Por Nadine Helgenberger






CAPITULO I – A MESMA LOUCURA DE SEMPRE

[05/11/09]



Meu nome é Sara, tenho 33 anos. Trabalho numa empresa de publicidade, e ocupo o cargo de directora de Marketing. Eu adoro o meu trabalho pois este me dá a possibilidade de estar sempre a viajar e isso para mim é fantástico, gosto de coisas novas, gente nova…

Moro sozinha num apartamento aconchegante, todo ele decorado seguindo uma tendência oriental (sou apaixonada por essa cultura). Eu não saio muito, prefiro livros e uma boa musica a badalações nocturnas. Tenho um irmão que é completamente diferente de mim, a quem amo incondicionalmente.

Eu não sou adepta a namoros longos, por isso vou vivendo um caso aqui, outro ali, mas todos sem muita importância. Alguns homens com os quais eu me envolvo não captam bem o espírito da coisa e insinuam a possibilidade de partilharmos o mesmo espaço e tal, é claro que não dou seguimento aos seus desejos. Prezo muito a minha liberdade. É claro que existem excepções, já tive homens maravilhosos dos quais até hoje recordo-me com saudade, mas a vida encaminhou tudo de forma a que cada um seguisse o seu próprio caminho.

No momento vivo um relacionamento com um Americano (Noah) que é perfeito, pois ele não vive aqui, não enche a minha paciência. Nos vemos uma vez por mês e durante uma semana, eu diria que é o amante perfeito. Eu gosto de estar com ele, de viajar, conversar, o sexo é muito bom, mas acho que jamais viveria sob o mesmo espaço com ele.

Eu sei que não sou uma mulher fácil de compreender, mas eu me compreendo muito bem e é isso que importa.

Bom, agora vamos ao que interessa. Há três meses atrás fui à Índia a trabalho, aliás foi um misto de trabalho e lazer. Eu sinto-me totalmente em paz naquele pedaço da terra, mesmo com toda aquela confusão de gente, animais, poluição, eu sinto-me bem, é uma coisa de alma, profunda…

Num sábado ensolarado eu estava sentada à porta de um templo, quando de repente sentou-se ao meu lado uma Indiana. Eu achei normal e até senti-me bem com a presença dela. Ela ficou em silêncio durante as duas horas em que estive sentada, de vez em quando olhava-me e sorria. No momento em que me levantei, ela olhou-me fixamente nos olhos e num inglês perfeito disse: - Por mais complicado que possa parecer, não fujas do teu destino, a felicidade que tanto almejas está próxima, mas nada será fácil, confia em ti e siga o teu coração, ainda que seja pela primeira vez…não te assustes com as semelhanças, são elas o encanto – Terminou de dizer aquele monte de frases sem sentido e foi-se embora sem olhar para trás. Eu não entendi nada, mas aquelas palavras ficaram na minha cabeça, uma vez que respeito e acredito sobretudo que algumas pessoas têm mais sensibilidade e são melhor iluminadas do que as demais.

Nunca mais vi aquela mulher durante a minha estadia na Índia, mas sentia a presença forte dela sempre que passava a frente do templo.

O resto do meu tempo na Índia foi maravilhoso. Depois fui encontrar-me com o Noah na Tailândia e foi tudo perfeito. Talvez fosse essa felicidade que a Indiana se referia….

De volta a rotina esqueci-me dos dizeres da indiana. Muito trabalho, stress e aborrecimentos.

Mas ontem tive um sonho muito estranho, e nele aparecia a indiana mais uma vez rindo para mim e dizendo que eu estava muito perto de encontrar aquilo que durante séculos eu vinha procurando, o AMOR. Acordei e sentei-me na cama a pensar naquilo. Mas eu nunca pensara no amor, aliás para mim aquilo não existia, não acreditava na praticidade de um sentimento como aquele, eu acreditava na paixão, na cumplicidade, mas amor? Pura perda de tempo!



CAPITULO II – FOTOGRAFO * OUTSTANDING * PRECISA-SE

[08/11/09]

Estou num período muito stressante no meu trabalho, estamos a preparar uma campanha agressiva onde nada pode dar errado já que a concorrência é enorme. A equipe que me assiste é óptima, mas eu preciso do melhor fotógrafo do mercado para não haver erros, temos que ganhar a concorrência. As pesquisas efectuadas apontam para Jaiden Howard, um fotógrafo Australiano que é o melhor do momento. Eu particularmente acho os trabalhos dele fantásticos, a luz, a forma, o sentimento que vai nas fotos, pura perfeição. Mas como é que iríamos conseguir entrar na agenda de alguém tão ocupado e o mais importante sermos atendidos imediatamente? Com certeza a concorrência já tinha tentado contratá-lo, talvez até conseguido, mas eu que não desisto fácil fui tratar do assunto pessoalmente.

Consegui o numero pessoal do assistente dele, isso depois de muito trabalho. Liguei de imediato e inesperadamente o assistente disse-me que Jaiden estava no Brasil e que provavelmente eu estava com sorte. Eu fiquei animadíssima e louca para convencer este mestre da fotografia a trabalhar comigo. Descobri que ele estava a fotografar no Pará, e marquei um almoço para discutirmos o negócio. O almoço seria no dia seguinte mas passei o resto do dia ensaiando todas as minhas abordagens consideradas infalíveis para convencer o Sr. sensação a trabalhar para a empresa que eu representava. Eu estava excitada com a possibilidade de trabalhar com alguém tão talentoso.

Cheguei no restaurante 10 minutos mais cedo e dirigi-me à mesa. Esperei uns vinte minutos até que apareceu um empregado avisando que Jaiden já havia chegado. Dois minutos depois apareceu à minha frente uma mulher dizendo ser Jaiden Howard. Eu achei que fosse brincadeira, mas a que propósito?



CAPITULO III – O FOTÓGRAFO É NOSSO…OU MELHOR A FOTÓGRAFA

Ela percebeu o meu espanto e rapidamente explicou-me que sempre a confundiam com um homem (também pudera, até onde eu sabia Jaiden era nome de homem) e que aquilo não a incomodava até gostava de causar espanto nas pessoas. Enquanto ela falava eu me perguntava como uma pessoa tão bem informada como eu não estava a par do sexo do melhor fotógrafo da actualidade. Mas realmente ela era bem low profile, não me lembrava de nenhuma foto dela nas revistas, e olha que ela recebia milhares de prémios. Quando voltei à realidade ela estava parada olhando para mim. Eu fiquei por momentos parada sem dizer nada até que ela quebrou o silêncio e começamos a tratar de negócios. Conversámos horas sobre o projecto, definimos padrões, honorários, enfim, ficou tudo acertado. Ela faria a nossa campanha, eu simplesmente ganhara Jaiden Howard. Eu era mesmo imbatível.

Não tínhamos tempo a perder e nesta mesma noite nos reunimos na empresa. Todos da minha equipa ficaram admirados com o facto de Jaiden ser mulher e alguns homens murmuram frases típicas do machismo que lhes é inerente.

Eu confesso que preferia um homem, é bem mais fácil lidar com eles, exerço o meu charme e convenço-os sempre a fazer exactamente aquilo que eu quero. Alguma coisa me dizia que esse trabalho particularmente não seria fácil, e muito menos o meu relacionamento com a fotógrafa, mas desde que o trabalho ficasse perfeito, o resto era insignificante.

Nesta noite tive um outro sonho estranho com a Indiana, ela mais uma vez ria para mim e eu sentia-me muito feliz. Acordei em paz e tive óptimas ideias para o trabalho que começaria dentro de poucas horas.

Fui a primeira a chegar ao set, ou melhor pensei que tivesse sido a primeira. Mal cheguei ouvi um barulho vindo de um dos compartimentos. Fui até lá e ao entrar vi a Jaiden fazendo cálculos estranhíssimos, eu fiquei alguns minutos observando-a e ela não percebeu, estava fora da realidade além das cameras.

De repente ela parou e olhou na minha direcção, abriu um sorriso pegou-me pelo braço e disse-me para irmos beber um café, enquanto ela me contava algumas ideias que tivera.

Essa mulher adora o que faz, fala com tanta paixão que contagia todos à sua volta. Eu fiquei fascinada com tudo o que ela dizia e acabei concordando com todas as propostas dela. Não tinha como dar errado com Jaiden a frente.

O primeiro dia de trabalho foi muito bom, houve uma sintonia perfeita entre todos da equipe. Ao final do dia eu estava cansada mas totalmente realizada. Tudo o que queria era um banho com todos os sais possíveis e a minha cama.

Eu já estava no estacionamento dentro do meu carro quando eu percebi que a nossa fotógrafa perfeição estava estacionada ao meu lado. Ela desceu o vidro do carro e perguntou se eu queria tomar um drink com ela para discutirmos uns pontos para a agenda do dia seguinte. Eu segui o meu primeiro impulso e aceitei, quando tudo o que eu queria era a minha cama…segui o carro dela pelo trânsito da cidade. Vinte minutos depois parei o meu carro atrás do dela num condomínio bastante interessante. Descemos do carro e ela disse-me que alugara aquele apartamento pois detestava a impessoalidade dos hotéis. O apartamento era lindo, aconchegante. Cheio de fotos por todos os lados, fotos lindas. Ela pediu o jantar e ficamos a conversar enquanto a comida não chegava. Comemos um sushi de encher a boca acompanhado de um vinho à altura.

Eu já estava um pouco mais a vontade do que o normal numa situação parecida, culpa do vinho. Conversámos sobre várias coisas. Ela contou-me que se chamava Jaiden porque quando a mãe estava grávida o pai queria muito um menino, mas ai quando nasceu uma menina de faces rosadas ele não desistiu e ela ficou a ser a Jaiden dos olhos do pai. Ele sempre a amou muito enquanto viveu, admirava a personalidade forte e a determinação que a caracterizavam. Os pais tinham morrido há quatro anos num acidente de viação.

Eu contei algumas coisas a meu respeito, falei sobre o meu irmão, sobre a morte do meu pai quando eu ainda era uma criança e da morte recente da minha mãe. A nossa conversa fluía naturalmente, eu falava pelos cotovelos, algo pouco comum, normalemente sou mais de ouvir…ela disse que era muito difícil ser o que era aos 31 anos, mulher e uma das melhores fotógrafas do mundo. O machismo predominava nesta área, aliás como em quase todas, mas ela já tinha conseguido algum respeito. Certo respeito? A mulher era uma estrela respeitada por todos. Perdemos a noção da hora, quando olhei para o relógio nem quis acreditar, já passavam das duas da manha, e eu ainda precisava dormir já que o dia seguinte seria cheio.

Antes de sair agradeci o jantar e ela olhou-me com um olhar que a mim pareceu-me de pura meiguice e disse, o prazer foi meu.

Cheguei em casa ligeiramente bêbada, tomei um banho rápido, esqueci-me completamente dos sais, caí na cama e dormi como um anjo. Sonhei com a Indiana de novo, e desta vez além de sorrir para mim, ela me dava as mãos e mostrava-me uma trilha. Mais uma vez eu não entendi nada.



CAPITULO IV – DESCULPA-ME…JÁ NEM EU ME ENTENDO MAIS

[12/11/09]

Tive uma reunião as 10 da manha com uns Alemães, reunião que deixou-me irritada, eles queriam tudo e não davam nada em troca. Não fechamos negocio, mas não me arrependi. Fiquei de péssimo humor e se eu bem me conheço deveria ter ido directamente para a minha casa esfriar a cabeça. Fui à empresa e só fiz asneiras. Briguei com todos no Set, reclamei que nada estava dentro do plano estabelecido, quase quebrei uma camera e foi nessa altura que a Jaiden pediu que eu saísse do Set. Eu fiquei possessa e quase pulei no pescoço dela. Saí batendo a porta com força e me perguntando quem aquela Australiana dos infernos pensava que era. Ousar me expulsar do meu reduto, onde eu era senhora e dona, e o pior saí, com raiva mas saí...ah que raiva! Entrei no meu escritório, fechei a porta, desliguei todos os telefones, fechei as janelas, acendi um incenso, deitei-me num sofá e fechei os olhos, que só foram abertos as 7 da noite.

Meu Deus, eu tinha dormido durante cinco horas seguidas. Eu estava mesmo a precisar daquilo. A minha vida nos últimos meses tinha sido muito agitada. Viajava de um país para outro, enfrentava diferentes fusos horários, comia mal. Os negócios corriam muito bem, mas eu estava a beira de um colapso nervoso. Fiquei mais um tempo no sofá, alguns minutos mais tarde levantei-me e decidi que devia um pedido de desculpas aos meus colegas e principalmente a Jaiden.

Cheguei nos Set todos já tinham ido embora. Sentei-me num canto em cima de jornais velhos e telefonei a cada um deles pedindo desculpas. Tenho colegas maravilhosos, todos entenderam e aceitaram o meu pedido de desculpas, não sem antes recomendarem férias urgentes. Eles tinham razão. Desliguei e fiquei a pensar nas minhas atitudes e foi nessa altura que ouvi um click. Olhei para cima e vi a Jaiden com uma camera nas mãos a fotografar-me. Eu fiquei espantada e pela primeira vez naqueles dias eu pude notar como ela era linda. Os olhos de um verde luminoso, a pele branca ligeiramente avermelhada por causa do sol abrasador do Norte do Brasil onde estivera antes de São Paulo, os cabelos meio ruivos num corte muito moderno, um sorriso encantador. Ela é sem sombra de dúvidas uma mulher belíssima. De um salto fiquei de pé e perguntei porque ela tinha tirado fotos minhas ao que ela respondeu da seguinte forma – fotografo tudo o que é belo e interessante – Eu não perguntei mais nada sobre o assunto. Pedi desculpas, disse que estava em stress mas que ninguém tinha nada absolutamente nada a ver com aquilo e muito menos ela. Ela disse que entendia, e que sabia muito bem lidar com situações do género. Convidei-a para jantar em minha casa para acabarmos com qualquer mal entendido e ela aceitou. Eu não sabia bem o porque daquele convite mas mais uma vez segui o meu instinto.

Fui para a casa, encomendei um jantar Tailandês. Tomei um banho, vesti-me o mais simples possível e fiquei a espera dela. Ás nove em ponto ela chegou e eu levei um susto. Ela estava totalmente diferente, trocara as calças largas e os coletes de fotógrafa por uma saia longa meio hippie e uma blusa simples de alça fina colada ao corpo. Quando abri a porta, se não fosse pelo sorriso (único) eu jamais a reconheceria. Ela percebeu o meu espanto e no excelente humor de sempre disse – eu também posso ser cinderela – e desatou a ir, aliás nós duas. Ela aproveitou e disse-me que eu também estava muito diferente, e realmente estava, de moleton e blusinha, nada a ver com a executiva de todos os dias.

CAPITULO V – UM BELO JANTAR E MUITAS DUVIDAS Á MISTURA

O jantar foi memorável, conversar com ela era sempre óptimo. Ao meio do jantar o Noah telefonou-me dizendo que estava no Marrocos e que viria a São Paulo dentro de uma semana. Ao desligar ela olhava-me com um ar meio estranho e sempre com um sorriso lindo. Não sei porquê disse que o Noah era meu amante. Ela riu e não fez nenhum comentário. Fomos assistir a uns spots publicitários para vermos algumas tendências e acho que esquecemos completamente do mundo lá fora, pois quando demos conta de que existia algo alem daquilo, chovia torrencialmente, aquelas típicas chuvas de verão em São Paulo. A chuva era muito intensa e não havia a menor condição de alguém dirigir em segurança. Disse a Jaiden que ela teria que dormir em minha casa ao que ela assentiu dizendo que queria viver mais algum tempo. Sempre cheia de humor. Ela abriu mais uma garrafa de vinho enquanto eu preparava o quarto de hóspedes. Ainda bem que o dia seguinte era sábado e só trabalhávamos a tarde. Bebemos o vinho todo deitadas no chão conversando durante muito tempo, sempre existia algo mais por dizer, alguma coisa vista a ser partilhada, aquilo tudo me encantava. Ela levantou-se, foi ao Living e trouxe uma máquina fotográfica. Tirou várias fotos, em vários cantos do meu apartamento. Ela adorava fazer aquilo e eu estava extasiada. Eu sentei-me num Puff no canto esquerdo da sala de vídeos onde a luz era fraca. Ela ligou um abajour caminhou em minha direcção, desceu uma das alças da minha blusa e aproveitou o meu espanto e tirou uma foto linda. Eu senti um arrepio estranho pelo meu corpo mas graças a Deus ela não percebeu nada. O que estava a acontecer comigo?

Resolvi abstrair-me do turbilhão que me ia na alma e fiz fotos dela também. Parecia-mos crianças a correr de um lado para o outro com uma camera na mão. Fomos dormir quase de manha. Eu dormi como um anjo, sonhei com a Indiana mas desta vez estávamos num outro lugar que não a Índia, ela falava comigo mas em Hindu e eu para variar não entendia nada, aquilo tudo tinha algum significado que ainda descobriria.





CAPITULO VI –“BUTTERFLIES IN MY STOMACH”...E AGORA?

[15/11/09]



Acordei de excelente humor, sentia-me leve e bem disposta. O sol já estava brilhando lindo lá fora e a Jaiden já tinha ido embora. Deixou um bilhete onde dizia que estaria no Set as 4 da tarde. Tomei um banho que durou horas, comi bastante, cantarolei enquanto preparava a minha salada, eu me sentia muito bem ainda que não soubesse porque…

Dei alguns telefonemas antes de sair de casa e rumei ao escritório. Todos estavam alegres e eu já tinha sido “ perdoada”. O trabalho avançou a bom ritmo, o entrosamento continuava perfeito. A um dado momento e que todos estavam envolvidos nas suas tarefas a Jaiden veio até mim e disse que tinha algo para mostrar-me. Eu fiquei muito curiosa mas disfarcei. Finalmente quando todos saíram do Set, ela puxou-me pelo braço (essa mulher tinha o habito de fazer isso, o que em qualquer outra circunstancia da vida eu repreenderia à primeira, mas sendo ela eu ficava sem saber o que fazer) levou-me ao laboratório, pediu que fechasse os olhos (mais uma coisa que eu normalmente detestava e no entanto já estava de olhos fechados) – eu agia mecanicamente – alguns segundos depois ela pediu que eu abrisse os olhos. O que eu vi deixou-me em êxtase total. As fotos da noite passada estavam à minha frente e com uma perfeição indescritível. Eu parecia um modelo profissional, a luz, o enquadramento, estava tudo perfeito. Ela conseguira captar toda a essência do momento. Ela ficou parada olhando o meu encantamento com um sorriso que me deixou quase sem ar, e foi nesse momento que ela disse que tinha mais. Pediu que eu fechasse os olhos de novo e deu-me algo para segurar, quando abri os olhos vi um quadro lindo. Uma moldura que era uma obra de arte e nela uma foto minha dormindo languidamente. A foto era uma obra-prima. Eu não consegui dizer uma única palavra, mas palavras para quê? Limitei-me a agradecer com um obrigada, e um beijinho na face dela em sinal de agradecimento.

Saí do laboratório sem entender como é que um simples acto como aquele era capaz de deixar-me completamente sem chão, sem saber o que fazer, o que dizer. Eu tinha adorado o gesto dela, queria ter dito mil coisas, mas o quê? Qual era a razão de tudo aquilo? A forma como ela olhava para mim, deixava-me pouco a vontade. Aqueles olhos tinham um brilho majestoso…Precisava de ar.

Fui passear de carro. Horas vagando pelo transito caótico da cidade, e os olhos da Jaiden não saíam da minha cabeça. Ela não mantinha apenas um relacionamento cordial comigo, sei lá parecia que ela gostava de mim de uma forma diferente. Por mais que quebrasse a cabeça não chegaria a nenhuma conclusão. O meu telefone tocou N vezes mas eu não queria falar com ninguém, queria estar só com os meus pensamentos, tentar entender o inexplicável.

Fui para a casa, liguei a secretária electrónica. A primeira mensagem era do Charles, produtor da firma, dizendo que estavam todos num restaurante Japonês que eu adoro e que estavam a minha espera. Várias outras mensagens, todas do pessoal pedindo que eu fosse ao restaurante.

Eu ainda fiquei na dúvida se ia ou não, mas como era sábado tomei um banho, vesti uns jeans e uma blusa e fui para o restaurante. Todos estavam presentes e o ambiente estava óptimo. Conversei bastante aliás falei com todo mundo, na realidade queria esquecer o que me ia na alma. A Jaiden não estava presente e isso imediatamente saltou-me aos olhos. Fiquei impaciente, olhava ao redor e nada dela. Disse a mim mesma que estava naquele desespero todo pois era tão bom conversar com ela que sentia falta. Primeiros sinais da minha mais completa insanidade.

Ouvi alguém dizer que a Jaiden chegaria um pouco mais tarde pois estava num compromisso importante. Fiquei mais calma, ela viria!

Fomos ao Pub que ficava em cima do restaurante e eu dancei freneticamente. Só tocava música electrónica, uma das minhas preferidas para dançar. Dancei uns 45 minutos sem parar. Estava toda suada, a blusa me colava ao corpo. Resolvi ir beber alguma coisa. Foi neste momento que vi a Jaiden com um homem muito atraente a conversarem exactamente no local aonde eu me dirigia. Passei por eles e cumprimentei educadamente. Ela pegou-me pelo braço e apresentou-me ao amigo Australiano. Fui cordial com o homem e pedi uma tequilla. Precisava de algo forte. O Charles atirou-se para cima de mim a noite inteira, ele sempre fazia isso, as vezes subtilmente outras nem por isso, mas ele nunca avançava o sinal pois sabe que eu sou terrível. Trato todos muito bem mas deixo claro que cada coisa tem o seu devido lugar. Além do mais ele não tinha nada de especial que pudesse me atrair…

Não conseguia tirar os olhos da Jaiden que conversava animadamente com o amigo e conterrâneo dela. Ela estava linda, toda de negro, calças e blusa, simples mas linda. Os cabelos estavam molhados e aquilo dava-lhe um ar ainda mais sexy. Eu prestando atenção numa mulher, só poderia ser efeito das tequillas…

Ela apresentou-me ao Sean, amigo dela e produtor de cinema. O homem era lindo mesmo. Era simpático e dançamos e bebemos a noite inteira. O único problema e que eles são Australianos logo bebem muito e aguentam mais ainda, já eu…bebia vinho e olhe lá. Claro que fiquei embriagada. Ás 4 da manha eu não aguentava mais e queria ir para a casa, ainda bem que viera de táxi. A Jaiden ofereceu-se para levar-me a casa, e eu aceitei, já sem condições de dizer qualquer palavra.

Ela deixou o amigo num hotel e depois seguiu para o meu apartamento. Ela subiu comigo (praticamente me carregou), entrou, ajudou-me a tirar a roupa e a partir daí não lembro de mais nada.

Acordei no domingo à uma da tarde com uma valente dor de cabeça, mas na minha cama, sã e salva. Eu não me lembrava de nada. Que vergonha! Tomei um banho gelado seguido de um café e só ai lembrei-me de tudo, ou quase tudo. Liguei a Jaiden para agradecer, ela não atendeu.

Passei o resto do dia em casa. Estudei um projecto novo, escrevi a alguns amigos ao redor do mundo. O meu irmão ligou-me (ele mora na Califórnia) a contar que achara mulher da vida dele (a vigésima nona desde que eu me entendo por gente) conversamos bastante e o meu humor melhorou consideravelmente. O meu domingo foi tranquilo. Fui cedo para a cama. Queria muito estar na paz do meu quarto. Estava quase a dormir quando o telefone tocou, tive tanta raiva, mas atendi. Era a Jaiden, mas ela percebeu que eu estava cansada e limitou-se a desejar-me boa noite. Adormeci imediatamente. Mais uma vez tive uma noite cheia de sonhos que mais pareciam presságios.

Acordei cedo e fui fazer jogging no parque. Voltei para a casa renovada.



CAPITULO VII – AS COINCIDÊNCIAS EXISTEM

O Noah chegou à tarde e ficamos em casa o resto do dia. Era bom estar com ele. Eu sabia que antes de qualquer ímpeto sexual ele era meu amigo, e isso dava-me uma certa tranquilidade. Ele me entendia, respeitava o meu espaço, talvez por essa razão a nossa “amizade colorida” durava há um bom tempo.

No dia seguinte fomos ao meu trabalho. O Noah conhecia algumas pessoas e queria vê-las. Ele conversava com a Clara, uma assistente de produção quando a Jaiden entrou na sala. Para a minha incredulidade os dois correram para um abraço. Eles se conheciam, afinal coincidências existiam. Pensando bem não era tanta coincidência assim, afinal ambos eram de áreas afins, e figuras proeminentes nas respectivas áreas. Eu fiquei parada olhando para a cena daquelas duas pessoas que se deliciavam com a presença uma da outra.

O Noah admirava o talento da Jaiden, falava nela o tempo todo. Acho que fiquei um pouco enciumada… Ela convidou-nos um jantar no apartamento dela ao qual aceitámos, ou melhor o Noah aceitou sem ao menos me consultar. Se fosse outro ser humano qualquer eu teria ficado no mínimo irritada com a atitude dele, mas um jantar em casa daquela mulher que me intrigava era tudo o que eu queria.

O Noah comprou flores para a Jaiden e disse-me que ela era uma dessas raras pessoas que ainda existiam no mundo, bela, inteligente, talentosa, integra e mais outros mil adjectivos qualificativos. Eu a brincar perguntei porque ele não se apaixonava por ela ao que ele respondeu da seguinte forma: - a Jaiden não deixa ninguém ir alem dos limites impostos por ela mesma, essa mulher é dura na queda – Eu achei aquilo muito intrigante.

O jantar estava soberbo, comida Mexicana (adoro) bons vinhos. Haviam outros convidados, todos conhecidos do Noah também.

Eu tentava pensar em outras coisas, prestar atenção ao que as outras pessoas presentes me diziam, mas os meus olhos teimavam em cruzar com os de Jaiden. Ela me hipnotizava. Fui à varanda tomar um pouco de ar e tentar organizar as minhas ideias. Eu estava abstraída nos meus devaneios quando ela ficou do meu lado olhando a noite. O perfume dela era bom demais e já estava gravado nos meus sentidos. Ficamos em silêncio durante algum tempo. Eu tinha medo de abrir a boca e dizer alguma asneira. Alem do mais era bom partilhar aquele silêncio com ela. A sensação era que estávamos no mesmo mundo e que falávamos a mesma língua não obstante o silêncio.

Ela perguntou-me se eu tinha ficado bem no dia da bebedeira e eu quase morri de vergonha. Os olhos dela eram de uma meiguice apaixonante. Ela falava com os olhos. Eu devo ter ficado vermelha com a intensidade dos meus pensamentos pois ela tocou a minha face e numa carícia que me fez prender a respiração, disse-me no humor característico que todos na vida tinham direito a um porre de vez em quando. Ela ficou olhando para mim com um olhar que eu não consegui definir…a cada momento que eu passava ao lado daquela mulher a achava mais fascinante, ficaria tranquilamente naquela varanda a vida inteira a olhar para ela. O meu momento mágico foi quebrado com a chegada de Noah. Ele beijou-me e perguntou o que as duas mulheres mais interessantes da terra estavam a fazer juntas e sozinhas, que aquilo era uma maldade para o resto da humanidade – o Noah sempre espirituoso –. Ainda ficamos um bocado mas eu sentia-me cansada (embora não fosse físico) e queria ir para a casa. O Noah, claro, concordou pois para ele estava subentendido um convite para uma noitada de muito sexo, mas nem que fosse a ultima coisa a ser feita na vida, o que eu queria era estar só, no meu canto.

Chegámos em casa, ele começou a animar-se mas eu cortei logo. Ele resmungou um pouco mas foi dormir. Que alivio! Tomei um banho morno, vesti o meu pijama e fui para a sala de vídeos. Deitei-me no meu sofá predilecto e fechei os olhos. Eu precisava mudar aquilo…mas afinal o que estava a acontecer comigo? Eu jamais tinha tido qualquer tipo de fantasia com mulher alguma. Alguns namorados ao longo da vida insinuaram a possibilidade de um menage mas eu nunca me sentira a vontade para alinhar. Já tinha dormido com dois homens para realizar uma fantasia, experiência que revelou-se monótona pois na altura eu e o meu namorado não demos a mínima atenção ao terceiro elemento, na realidade ele não passou de um mero voyeur, enfim… mas a Jaiden…eu queria ficar o tempo todo conversando com ela, tudo bem, eu adoro gente inteligente e a inteligência dela está bem acima da média, mas não era apenas na inteligência que eu reparava, aqueles olhos verdes faiscantes, aquela boca vermelha que parecia sempre que ela acabara de morder uma maça suculenta, aquela pele de pêssego, a forma dela andar…ah eu não entendia nada do que se passava no meu intimo. Eu sempre me considerei uma heterossexual convicta, sempre adorei sexo e homens em geral, mas desde aquele dia no restaurante quando aquela mulher apareceu a minha frente dizendo ser Jaiden eu não tinha certeza de mais nada.

Ainda bem que o trabalho estava prestes a terminar e logo era iria embora. Como eu ansiava por aquele momento, precisava ter a minha paz de volta. Adormeci com os meus pensamentos mas ao acordar tive a certeza de que aquilo era fantasia da minha cabeça, não existia atracão alguma e eu não queria nada sexual com a Jaiden, nada!





CAPITULO VIII – RAZÃO E SENSIBILIDADE

[19/11/09]

Amanheceu! O Noah ia embora nessa noite, passamos o dia inteiro juntos. Estive durante meia hora no escritório mas sai logo, não queria ver ninguém, muito menos a Jaiden.

Conversei bastante com o Noah, ele era meu amigo antes de qualquer coisa, era bom conversar com ele. Passeamos pela cidade de mãos dadas, mas eu não estava lá, o meu pensamento estava solto, vagava de um extremo a outro sem focar em nada. Eu me sentia perdida num turbilhão de emoções.

Fui levá-lo ao aeroporto as 10 da noite e na despedida ele me abraçou e disse para eu me cuidar e que queria que eu fosse muito feliz. Retribui o abraço mas não entendi o que ele quis dizer.

O avião partiu, eu queria ter ido junto, não com o Noah, queria fugir dali, fugir de mim. Logo eu que era tão corajosa e destemida…

Cheguei em casa com uma sensação de vazio. Fiquei acordada ate bem tarde e quando dormi tive sonhos desconexos.

Fui ao trabalho na manha seguinte decidida a esquecer qualquer sentimento dúbio que pudesse ter pela fotógrafa. Evitei o máximo que pude chegar perto do Set mas ao fim da tarde tive que lá ir. Eu senti um frio na barriga ao vê-la de costas a preparar uma das cameras, meu Deus como ela era linda. Tinha uma aura de mistério e ao mesmo tempo era transparente, eu devo ter ficado uns 5 minutos olhando com todo o interesse do mundo para outra mulher. Isso definitivamente não estava a acontecer comigo.

Ela percebeu a minha presença, largou a camera e veio ate a mim com aquele sorriso capaz de derreter os Himalaias, deu-me um abraço tão efusivo que senti o meu coração na boca. Ela olhou-me nos olhos por alguns segundos e depois disse-me que queria que eu fosse à casa dela, tinha algo para me mostrar. Era tudo o que eu queria, mas a minha sanidade ou o que restava dela mandou-me responder que aceitava sem demonstrar o que realmente sentia. Fui para casa e fiquei pensando se aquilo tudo existia ou se era fruto da minha mente privilegiada. Não encontrei resposta, tomei um banho e fui a casa dela.

Eu adorava a decoração daquele apartamento. Ela foi buscar alguma coisa e eu fiquei vendo aquelas fotos pelas paredes, tinha foto de tudo, cada uma mais linda do que a outra. Eu estava apaixonada por toda aquela beleza. Estava parada numa das paredes a observar a foto de um velho aborígene quando ela bem atrás de mim disse que aquele velho era um sábio. Eu tive uma descarga eléctrica ao ouvir a sua voz atrás da minha orelha, tive receio de virar e denunciar o meu nervosismo. Permaneci de costas e ela pediu-me que entrasse numa espécie de studio. Eu nunca tinha visto tanta parafernalia fotográfica junta, estava deslumbrada e ela se deliciava com o meu encantamento. Arrastou uma cadeira para que eu me sentasse, apagou as luzes e numa das paredes deu inicio a exibição do melhor spot publicitário que eu jamais vira. A fotografia era perfeita, nós já tínhamos ganho aquilo, eram escassos minutos de pura perfeição. Vimos o spot durante vários minutos, eu estava extasiada e extremamente realizada. Ninguém conseguiria fazer algo melhor do que aquela obra de arte.

Por breves segundos ela ficou olhando para mim sem dizer uma única palavra. Tive vontade de beijá-la, abraça-la, mostrar o quanto estava feliz com o trabalho dela, o quanto estava feliz por ela existir…mas não fiz nada disso. Morria de medo que ela não entendesse a minha atitude, aliás eu tinha quase certeza que o desejo que me consumia não era recíproco.

- Gostou do resultado final? Ela perguntou com aquele brilho no olhar que me encantava.

- Acredito que perfeito não faça total justiça ao que acabas de me apresentar. Está imbatível Jaiden. – Disse com toda a sinceridade possível.

- Então vamos comemorar? Estas convidada para um jantar amanha com todo o pessoal da produtora. Eu convido mas tu pagas – disse rindo do próprio comentário. Eu simplesmente amava o sentido de humor apurado daquela mulher.

Dei uma gargalhada e assenti. Aquilo merecia varias comemorações. Ela saiu do studio e disse que voltava em segundos.

Eu fiquei parada vendo ela se afastar, admirando cada detalhe por menor que ele fosse daquela mulher maravilhosa.

Voltou com uma garrafa de champanhe nas mãos e levou-me a uma espécie de terraço. Estava uma noite linda, nem parecia o céu de São Paulo, brindámos com champanhe e eu senti-me em perfeita sintonia com a felicidade. Conversámos sobre vários temas, ela contou-me as aventuras que vivera ao redor do mundo devido a profissão que escolhera. Falava com tanto entusiasmo e eu simplesmente ouvia e me deliciava.

- Falo demais, eu sei, podes mandar-me calar a boca – disse rindo.

Involuntariamente respondi – podes falar a noite inteira que escutarei com interesse – nem sempre a razão prevalece e dessa vez ouvi o meu coração ao fazer aquele comentário. Sinceramente, não me arrependi.

- Hmmm pelo menos gostas do que eu digo, já é um bom sinal, não é muito fácil saber o que agrada à srta – piscou um olho e deixou aquela frase martelando a minha mente. Será que ela queria me agradar? E porquê? A estrela era ela…ah eu não entendia mais nada. Será que ela sentia o mesmo que eu? Ás vezes tinha a sensação que o seu olhar tinha um brilho diferente quando falava comigo, mas poderia ser pura simpatia e educação, além do que ela não me parecia uma mulher que gostava de outras mulheres. Mas que sabia eu de mulheres que gostavam de outras mulheres? Isso normalmente não aparecia escrito na testa de ninguém, o que eu tinha era um monte de ideias pré concebidas. Entrava num universo novo e estava muito assustada.

Bebemos a garrafa toda e eu, claro, já estava para lá de alegre. O meu raciocínio lógico estava a 25%...ela me olhava com aqueles olhos que pareciam estar sempre húmidos, que olhos lindos, pareciam duas esmeraldas. Sentei-me numa cadeira e me encolhi toda, adorava fazer aquilo na minha sala de vídeos, ficava horas assim pensando na vida. Mas eu não estava sozinha e muito menos na minha casa…estava completamente relaxada com uma quase estranha. Ela perguntou se eu queria ver umas fotos, claro que queria, tudo era pretexto para ficar mais um pouco na companhia daquela criatura encantadora. Ela foi buscar as tais fotos e eu fiquei entregue aos meus pensamentos. De repente ouço a minha banda favorita a tocar na sala, Coldplay, X&Y, sonho ou realidade?

Ela volta com as fotos e pergunta – gostas dos Coldplay? Não era sonho. – Adoro! É a minha banda favorita. - Temos algo em comum? Perguntou rindo…eu queria ter muito mais em comum contigo, apenas pensei, mas o som não saiu, graças a Deus. Precisava ir para a minha casa antes que caísse nos braços daquela mulher…o pior ainda estava por vir. Ela sentou-se na mesma cadeira que eu, só tinha essa. Ficamos coladas uma na outra. Eu ia morrer, tinha a certeza absoluta. Ela agia com tanta naturalidade e aquilo me desconcertava mais ainda. Começou a minha tortura. Ela me mostrava foto por foto explicando tudo, desde detalhes técnicos a momento, lugar enfim tudo. Vi uma foto dela a preto e branco encostada a uma janela. Aquilo não era real, fantasia, ninguém podia ser tão lindo assim. Estava bêbada, lembram-se? Pois é, acariciei aquela foto, fiquei parada olhando, completamente apaixonada. O silêncio que acompanhou o meu acto foi o coroar da minha loucura. O meu olhar ia da foto que estava nas minhas mãos, à face dela, um milhão de coisas na minha mente. Eu queria aquela foto para mim, se não pudesse ter a mulher que fosse aquela foto que ficaria grudada em mim pelo resto da vida.

- Queres a foto?

- É linda, quero sim. Disse num sussurro. A minha respiração estava alterada…o vinho…sempre lês os meus pensamentos? Perguntei completamente entorpecida…ela não disse nada, apenas me abraçou e encostou a minha cabeça no seu ombro. Mexia nos meus cabelos, me apertava em seus braços, eu não conseguia fazer nada, não queria fazer nada, queria estar exactamente naquele lugar. Tive vontade de chorar, não sei porque. Aquilo nunca me acontecera antes…também era a primeira vez que estava nos braços de uma mulher e desejando ardentemente que ela me beijasse…eu queria que ela me beijasse. Mil coisas passavam pela minha cabeça. O que será que acontecia com ela? Enigmática, essa era a palavra certa para descrevê-la naquele momento.

Uma leve brisa de sobriedade pairou sobre a minha cabeça, eu precisava ir para a casa, caso contrario me atiraria nos braços dela. – Jaiden, preciso ir para a casa agora, daqui a poucas horas tenho que estar naquele escritório ultimando tudo para apresentar ao cliente – fiz um esforço extra humano para proferir aquelas palavras. A bomba! – Não queres dormir aqui? Ela faz uma pergunta dessa com a cara mais tranquila do mundo, ela não tinha a menor noção do que me ia na alma, ou então estava a me provocar. – Seria o mais sensato dado o adiantado da hora mas tenho que ultimar alguns dados que estão no meu computador – hmmm até que essa cadeira dá para nos duas se ficarmos assim – ela definitivamente estava a me provocar – aconchegou-se mais na cadeira e consequentemente me apertou mais ainda. Ela alem de linda era manhosa, ai meu Deus difícil não se apaixonar…levantei-me um pouco e fiquei olhando nos olhos dela, esses ficaram turvos, um verde-escuro, lindos… notei que ela respirava com alguma dificuldade – porque não me beijas, pensei…ela apenas disse, Sara, e beijou o canto da minha boca, o meu ombro, os meus cabelos…e nada mais, eu não entendia aquela mulher. Ela sabia que eu queria ser beijada, e ela também queria, ou pelo menos eu achava que sim, mas nada. Talvez fosse melhor assim.

Ela levou-me para a casa no meu carro e de lá tomaria um táxi que a levaria de volta. Ela sempre dando cobertura as minhas bebedeiras, que vergonha! Fomos em silêncio, eu pensava em toda aquela situação e o nó na minha cabeça apenas aumentava.

Do carro liguei para um serviço de táxi que já estava a porta do meu condomínio quando chegamos.

- Desculpa-me mais uma vez por esse transtorno – disse com uma certa vergonha, já era a segunda ou a terceira vez que ela me trazia para a casa em estado de embriagues, logo eu que era tão seria.

- É sempre um prazer trazer a Sra. Directora super seria para a casa quando ela está meio de pileque – disse isso com aquele sorriso que me encantara desde o primeiro momento.

- Eu era uma mulher séria, pelo menos no que tocava à minha tolerância ao álcool, mas de há uns tempos para cá comecei a andar em más companhias e me transformei nisso que estás a ver a tua frente – resolvi provocar também, mas ela era dura na queda.

- E será que a Sra. Seriedade está aberta a novas mudanças radicais? – Ela fez aquela pergunta com um misto de brincadeira e seriedade…a que mudança se referia? O que quer que fosse não esperou a minha resposta. Deu-me um beijo no rosto, entrou no táxi e foi embora.

CAPITULO IX – SUCUMBIR OU FUGIR DO AMOR?

[19/11/09]



Entrei em casa e tive vontade de ligar à Jaiden, queria ouvir a voz dela, quente e macia, mas é claro que eu não liguei. A minha sensatez começava a me irritar, mas ainda era mais forte do que os meus sentimentos. Não liguei à Jaiden. Ouvir Coldplay era mais seguro. “Dont Panic”, amo essa música. Viajo na melodia…we live in a beautiful world… o meu mundo estava realmente mais lindo, mas consideravelmente muito mais complicado. “Dont Panic”, mas eu estava completamente em pânico. Como eu queria ter uma amiga com quem pudesse conversar naquele momento. Eu me arrependia de ter dado tanta importância a carreira e esquecido completamente do resto. Tinha alguns amigos mas nenhum capaz de entender aquela minha intempestiva mudança de atitude. David, o meu irmão, será? Não, melhor não e depois ia dizer o que? Que achava que tinha-me apaixonado pela melhor fotógrafa do mundo, soava-me patético. Ele não acreditaria, pois para ele eu era uma devoradora de homens, incapaz de cogitar outra possibilidade. Tirando os exageros do meu irmão, eu realmente tinha tido alguns homens na minha vida, e até aparecer essa Australiana que me tirava o sono, eu sempre gostei muito deles. Talvez fosse uma fase, crise dos 33…ria sozinha com os meus pensamentos loucos.

Fui para a cama as 6 da manha, e dormi com o cheiro da Jaiden impregnado no meu nariz.

Cheguei ao escritório faltava pouco para as 13 da tarde, dormira mais do que me era permitido, mas precisava de umas horas de sono para organizar a minha cabeça. Preparei todo o material que mostraria ao cliente (aquilo estava sensacional) graças a minha linda Jaiden e ao esforço de toda uma equipa. O cliente chegou as 17 como tinha sido combinado. Todos estavam na sala excepto a Jaiden. Alguém disse que ela estava no Studio 2, fui pessoalmente chamá-la. Ao entrar, vi que estava ao telefone e ouvi quando disse algo como fazer uma viagem para organizar as ideias. Fiquei triste com aquilo, afinal a hora da despedida estava chegando…melhor assim. Fiz um sinal que estávamos a espera dela e ela pediu que eu esperasse um pouco. Falava com um tal de Nádia e despediu-se dela com um Thank you, I Love you que me deixou ardendo de ciúmes. Pois é, já não haviam mais duvidas, eu estava louca! Com ciúme de uma mulher que eu mal conhecia. Ela veio em minha direcção com aquele sorriso que me deixava sem chão, passou os braços ao redor dos meus ombros e disse que estava com saudades de mim. Ri e fomos para o encontro com o cliente. Foi um sucesso absoluto. A empresa que nos contratara estava totalmente satisfeita com o produto apresentado, não houve uma única queixa e aquela empresa era muito exigente, o dono era insuportável mas desta vez não teve razoes para reclamar. O dono da empresa onde eu trabalhava não cabia em si, eu gostava do meu chefe, sempre tivera carta branca para fazer aquilo que me competia tecnicamente. Nessa área da minha vida sempre tivera sorte.

Todos estavam excitados com o jantar que Charles daria a noite em sua casa (um apartamento de cobertura maravilhoso) para comemorarmos em grande o sucesso do negócio. O Charles não perdia uma oportunidade de jogar o seu charme na tentativa de me levar para a cama. Eu conversava com a Jaiden e por segundos ela olhou para o lado para atender a alguém que queria felicitá-la pelo trabalho, e ele imediatamente encostou-se a mim com um olhar coberto de malícia e disse-me ao ouvido – vá ao jantar sexy e linda como só tu sabes ser minha deusa – eu não ia dar escândalo naquele ambiente cheio de gente importante para a nossa empresa mas a minha vontade era matá-lo. Limitei-me a dar um sorriso amarelo carregado de ódio. A Jaiden ouvira tudo e fez um comentário ridículo – Já esqueceste o meu amigo Noah? Não tenho nada a ver com a tua vida minha querida mas esse Charles é um idiota – despejou aquilo e afastou-se para atender a um chamado do dono da empresa que parecia fascinado por ela. Fiquei com muita raiva, quem ela pensava que era? Que intimidade era aquela? Aquele comentário tinha sido uma intromissão deliberada na minha vida. Que ódio! Mas não sabia se dela ou do Charles…Noah, eu não me lembrava mais dele, pelo menos não como meu amante, se bem que a nossa relação era mais de amizade do que qualquer outra coisa. Tomara que ele fosse feliz.

O jantar era as 10 da noite e todos estariam presentes. Por momentos pensei em não aparecer tamanha era a minha raiva daquele idiota do Charles (tinha que concordar com a Jaiden) mas não ficaria bem, tinha que ir.

Fui para a minha casa, tomei um banho e resolvi que iria linda para provocar tudo e todos. Usei um vestido preto lindo que comprara há poucos dias num dos meus ataques consumistas. Ele era curto sem ser exagerado e tinha uma fenda nas costas que deixava-as totalmente expostas. O decote era proporcional à fenda das costas e o que vi no espelho me agradou profundamente. Eu não era vaidosa mas de vez em quando gostava de me vestir bem. Prendi os meus cabelos cor de fogo nuns pauzinhos chineses, fiz uma maquiagem suave que realçava os meus olhos cor de mel e os meus lábios sensuais. Não usei uma sandália muito alta pois já tinha 1 metro e setenta e oito, caso contrario não passaria na porta de entrada (risos). Olhei-me mais uma vez no espelho, estava linda. Acho que pela primeira vez em alguns anos reparava na minha beleza. Sempre ouvia elogios mas não me preocupava muito com isso, afinal os homens não são tão difíceis de agradar. Mas eu queria que a Jaiden me olhasse, louca pensei, eu estou ficando doida. Ao sair lembrei-me de um último detalhe para completar a minha personagem femme fatale, precisava de umas gotas do meu perfume favorito. Uma, duas, três gotas de “ Be Delicious” da Donna Karan e pronto já estava pronta para a noite.

Fui de táxi, no mínimo beberia alem da conta e na volta não teria condições de dirigir, uma mulher prevenida vale por mil, pensei.

Atrasei-me um pouco e quando cheguei faltava pouco para as 11 e 30.

A festa (sim aquilo era uma festa, aliás não poderia ser diferente levando em conta os exageros do Charles) estava animadíssima, muita gente linda dançando e bebendo. A Clara foi a primeira que veio até mim. Abraçou-me e disse – Sara estás linda, nossa, maravilhosa. Hoje matas esses babacas do coração – ela já estava meio alegre, e tinha um copo de whisky nas mãos, continuou – se a minha namorada não fosse tão ciumenta e se eu não gostasse tanto dela eu juro que te raptaria – disse aquilo, piscou o olho e foi dançar com uma loira linda que devia ser a namorada dela. Já ouvira boatos na empresa que ela gostava de mulheres, mas eu nunca dera ouvidos aquilo, mas ao que parece era verdade. Tomara que a Jaiden tivesse a mesma opinião a meu respeito naquela noite. Eu já não me preocupava com as loucuras que tomavam conta da minha cabeça, pelo menos não naquela noite.

Dirigia-me ao bar para beber uma água (era melhor começar assim) quando o Charles me abordou – Sara, Sara, isso não se faz, estás deslumbrante – falava e passava as mãos pelas minhas costas nuas. Aquilo irritou-me mas decidi relevar, era uma festa. Brinquei com ele e dirigimos ao bar. Pedi uma água e ele fez um escândalo. Tomou um scotch on the rocks e iniciou o ataque. Ele estava disposto a me levar para a cama, pobre Charles, se ele soubesse o que me ia na cabeça…ele falava e eu fingia que escutava, mas na realidade percorria a sala com o olhar a procura dela e nada. Será que ela não estava presente? Outras pessoas vieram conversar comigo e por instantes esqueci da minha mulher maravilha.

Dancei um pouco com o Charles colado em mim, e aproveitei uma distracção dele e fui para a varanda que tinha uma vista fenomenal. Observava a noite linda que fazia lá fora quando de repente senti a presença de alguém. Virei de imediato e lá estava ela. Levei um susto, o meu coração parou de bater por fracções de segundos. Eu não saberia como descreve-la…maravilhosa? Pouco, deslumbrante, talvez isso…linda de morrer, meu Deus. Fechei os meus olhos e abri-os de novo como que para ter certeza que eles não me pregavam uma peça. Era ela mesma. Veio em minha direcção, parecia incrédula também, estava seria. Ficamos paradas uma em frente da outra sem dizer uma palavra, eu não sabia o que dizer…estava confusa. Queria elogiar a beleza dela, mas que palavras usar sem parecer comum? – Estas linda – falamos ao mesmo tempo – rimos, o gelo estava quebrado. Ela deu-me um abraço. O meu coração batia descompassadamente. Ela encostou-se em mim e quis fundir-me naquele abraço. Pela primeira vez notei que tínhamos quase a mesma altura. Afastamo-nos por escassos centímetros, aqueles olhos verdes escuros de novo, aquela boca, aquela pele, aquele perfume…só não a beijei porque a festa estava repleta de gente. O toque daquela mulher fez-me sentir coisas que não me lembrava mais. Tive vontade de fazer amor com ela ali mesmo. Como eu queria ser completamente louca e levá-la dali para algum lugar onde só estivéssemos nós duas. Precisava de uma bebida urgentemente.

- Vamos beber alguma coisa? – Convidei-a para sair daquela situação insustentável – ela acompanhou-me ate ao bar. Tomei uma tequilla sun rise, e ela para o meu espanto, pediu um cocktail sem álcool. Vendo a minha cara de espanto disse rindo – quero estar muito sóbria hoje…aquele sorriso enigmático…fomos dançar. A Clara estava completamente louca. Fez os mesmos elogios que fizera a mim à Jaiden e não ficou por ai. Iniciou uma dança sensual com aquela mulher linda e eu fiquei parada olhando, alias eu e metade da festa. Os homens babavam e algumas mulheres também (eu por exemplo), aquilo era demais. A Clara era linda, era a primeira vez que a olhava com mais atenção. Tinha um corpo perfeito, parecia uma atleta, nisso ela e a Jaiden eram iguaizinhas, a minha deusa parecia uma escultura grega. Tive que sair dali para não denunciar o meu desejo por aquela mulher. Eu estava com muito calor, uma brasa me consumia por dentro. O Charles pela primeira vez na vida apareceu em boa hora, ele levou-me para a varanda e começou um ataque feroz. Ele era puro desejo carnal, estava irritada mas ao mesmo tempo sentia um certo prazer ao ver o desejo estampado nos seus olhos, coisa de mulher…cinco minutos depois a Jaiden apareceu, exactamente no momento em que o Charles tentava me beijar. Salva pelo meu amor. Que nojo que tive daquele idiota, ele tresandava a álcool. Deixei-o a falar sozinho e fui falar com a Jaiden. Ela estava estranha e desferiu um comentário no mínimo dispensável – será que é hoje que ele consegue o troféu? - Quê? Ela só poderia estar louca. Com ódio retruquei – É assim que me vês? Como um troféu? Estás louca ou quê? Não admito que ninguém fale assim comigo muito menos alguém que mal conheço. Como eu estava enganada a teu respeito Jaiden Howard, não passas de uma mulherzinha como outra qualquer – disse aquilo e sai em disparada, ela não teve a mínima chance de abrir a boca. Ficou parada olhando para mim com um semblante indecifrável. Eu estava possessa, entrei num compartimento isolado daquele apartamento apinhado de gente e sem querer comecei a chorar convulsivamente. Como ela poderia ser tão estúpida? Estava linda sim, mas porque queria que ela me achasse linda, ninguém mais me interessava naquela porcaria de festa, fora para vê-la, como eu tinha sido idiota. Ela era uma idiota…chorava muito, e a cada lágrima derramada sentia mais raiva da minha atitude. Fiquei naquela saleta aproximadamente uma hora. Estava mais calma quando saí, mas ainda muito magoada. Queria ir embora, precisava sair dali o mais rápido possível. Graças a Deus àquela altura da festa a maioria dos convidados já estavam bêbados ou então pelos cantos se esfregando. Saí sem ser notada e quando dirigia-me ao porteiro para pedir um táxi ouvi passos apressados vindo em minha direcção.

- Sara, por favor, espera-me, preciso falar contigo – Jaiden? Não era possível, ela ainda estava na festa? A minha raiva voltou.

- Me deixe em paz, não quero falar com ninguém muito menos contigo. – Dirigi-me ao porteiro que para o meu desespero não estava no seu posto. Droga!

- Sara, pare de ser criança e fale comigo – disse ela visivelmente impaciente.

- Agora alem de troféu, sou criança, ah vá se danar sua idiota – disse espumando de raiva, onde se metera a droga do porteiro, eu precisava sair dali imediatamente.

- O porteiro está a ajudar os convidados a deixarem a festa em segurança, portanto se quiseres sair daqui entre no meu carro. - Entre no meu carro, agora ela me dava ordens, que mulherzinha insuportável. O pior é que não tinha como sair dali nos próximos minutos. Já dentro do carro ela me disse para entrar. Entrei e bati a porta. Eu não me lembrava de ter estado assim antes. Eu me sentia uma idiota por gostar tanto de alguém insensível como a Jaiden, aquilo fez-me chorar de novo. Á frente dela, era o fim da picada. Ela não disse nada, continuou dirigindo absorta nos próprios pensamentos. O silêncio me incomodava. Mexi no aparelho de som e escolhi uma rádio aleatoriamente. Jewel, this fragile heart, eu merecia…a musica conseguiu acalmar-me um pouco. Ela estacionou dentro do meu condomínio. Fiz menção de abrir a porta e ela trancou-a. A raiva voltou – abra essa porta, não vou sair correndo, embora seja uma criança…a minha voz estava carregada de ironia.

- Calma Sara – destrancou a porta e eu permaneci sentada. Não conseguia olhar para ela.

- Desculpa-me por favor, falei aquilo sem pensar – a voz dela saiu fraca – eu não tinha o direito de dizer aquilo a ti, primeiro porque não penso assim e depois não tenho nada a ver com a tua vida – Ela escolhia as palavras, parecia que não queria cometer mais asneiras. – Não sei porque falei aquelas bobagens todas, desculpa-me por favor – agora a voz não passava de um sussurro – ela parecia mesmo arrependida. Eu não conseguia dizer uma palavra, tinha um nó na minha garganta, as lágrimas teimavam em cair.

- Por favor, eu vou viajar amanha e não queria ir embora com esse peso na minha consciência – ela ia embora? Não era possível, era o fim de algo que nunca começara…mil coisas passavam na minha mente ao mesmo tempo, não conseguia raciocinar direito – vais para a Austrália? – Perguntei embora a minha voz estivesse embargada. Continuava sem olhar para ela.

- Ainda não, vou viajar aqui dentro do Brasil, mas em poucos dias vou sair daqui para um projecto na Europa. Preciso descansar um pouco e organizar as minhas ideias antes de encarar novos desafios…-porque ela parecia triste, porque a sua voz estava tão fraca?

- Sara, ainda que não acredites, foste uma das pessoas mais encantadoras que conheci nos últimos tempos, eu quero muito manter a tua amizade, eu preciso mantê-la – meu Deus ela precisava mudar o tom daquela conversa, eu já estava amolecendo…nesse momento ela tocou os meus ombros nus e eu gelei.

- Olha para mim por favor, diz que me perdoa, eu preciso viajar em paz. Sara eu fui uma perfeita idiota hoje, mas acredito que passamos momentos agradáveis durante esse trabalho, momentos esses que jamais esquecerei… – mais uma vez ela parecia escolher as palavras…eu já estava totalmente amolecida, o meu coração voltara a iluminar-se, queria ver o sorriso dela, mas tinha medo encará-la e ser traída pelos meus sentimentos.

Ela segurava as minhas mãos que deveriam estar geladas, aos poucos fui virando em sua direcção… o meu coração parou. Ela tinha lágrimas nos olhos, aqueles olhos verdes…ela iria embora em poucas horas, talvez para sempre, não sem antes provar os meus lábios. Deslizei um dedo na face dela e ela fechou os olhos, mais uma lágrima caiu. O meu coração queria sair do peito, as minhas mãos tremiam… no rádio uma música da Paula Cole que falava de desejos proibidos, os Deuses conspiravam a meu favor, a musica não poderia ser mais perfeita para aquela ocasião. Ela mantinha os olhos fechados, eu me aproximei. Os meus lábios tremiam, fiquei a escassos centímetros da face dela e num ímpeto disse – Jaiden, desculpa-me mas tenho que fazer isto. Ela abriu os olhos e eu a beijei. O gemido que ela deu assim que a minha boca cobriu a dela ecoa ate hoje na minha mente. Eu estava desesperada por aquele beijo e ela também. Nossa “ química” foi perfeita, os nossos lábios encaixaram-se milimétricamente. Eu não pensava em nada, apenas me deliciava com o gosto de morango maduro que tinha a boca daquela mulher. Eu estava ardendo de desejo, louca de desejo. Sentei-me em cima dela e ela arrancou os pauzinhos Chineses do meu cabelo e o agarrou. Cheirava o meu cabelo, me cheirava e me beijava. Eu não sabia muito bem o que estava a fazer mas enfiei a minha mão dentro da blusa dela, há muito ansiava tocar aquela barriga de atleta daquela mulher, que maravilha, eu a beijava e ria ao mesmo tempo, estava no céu. Subi as minhas mãos um pouco mais e toquei os seios dela, estavam soltos na blusa, ela não usava soutien…morri e renasci naquele momento. Afastei-me um pouco e fiquei admirando a beleza daquela deusa linda que estava a minha frente. Ela estava ofegante e apoderou-se da minha boca de novo. O beijo dela era uma atracão a parte, ela beijava cada canto da minha boca, beijava a minha face, o meu pescoço, voltava a boca, me mordia levemente, e eu delirava. Comecei a me esfregar nela, eu estava louca de desejo. Ela passou as mãos nas minhas pernas (graças a Deus estava de vestido de tecido mole e solto no corpo) a posição era incomoda mas com muita habilidade ela conseguiu passar as mãos pelo meu corpo todo. Quando ela tocou os meus seios eu tive a certeza que o meu coração parou. O toque dela parecia seda na minha pele, ela parecia estar se segurando para não me devorar dentro daquele carro. A minha vontade era gritar, me devore meu amor…eu queria ser dela, totalmente dela. Ela me chamava de linda, princesa, tesão, enfim, dizia coisas desconexas, me beijava, me sugava, me mordia, me lambia…um fogo me consumia, eu estava completamente entregue.

- Baby, eu quero fazer amor contigo numa cama macia e perfumada não nesse carro que não consegue acompanhar a voracidade dos nossos desejos, posso subir para o teu apartamento? – Ela perguntou aquilo me beijando com muito desejo e nesse momento eu acordei para a realidade. Eu estava no estacionamento do meu prédio na iminência de fazer um sexo mais do que explicito com outra mulher. Que loucura! Fui assaltada por um pânico absoluto, desvencilhei-me dela e sem pensar no que fazia, abri a porta do carro e sai correndo para dentro do meu condomínio. Ela ainda chamou o meu nome mas eu não olhei para trás.

Entrei no meu apartamento completamente sem ar, fechei a porta a chaves e sentei-me no chão. Não conseguia pensar, minhas pernas tremiam, de medo, tesão, uma mistura louca. Eu tremia inteira…me encolhi num canto. O choro veio aos poucos. Já não havia espaço para dúvidas, eu estava absurdamente apaixonada pela Jaiden. Eu, apaixonada por uma mulher. Era inusitado e sem nenhum precedente mas não podia mais fingir, amava aquela mulher.





CAPITULO X – FÉRIAS PROVIDENCIAIS

[22/11/09]



Permaneci sentada no chão durante largos minutos. E agora meu Deus? Pela primeira vez na vida estava com medo. Até então eu não conhecia esse sentimento. Num impulso desliguei os meus telefones, não queria falar com ninguém. Queria desaparecer, ir embora dali. Se eu visse aquela mulher as minhas defesas ruiriam no acto. Não conseguia formar um raciocínio lógico, meu corpo tremia alucinadamente. Meia hora se passara. Levantei-me, fui a janela. O carro dela ainda estava lá. Ela estava deitada sobre o volante, parecia perdida, indefesa…linda. Fui tomar um banho. Água gelada na cabeça, quem sabe assim acordaria daquele sonho. Deitei-me mas o sono não veio. Rolava de um lado para o outro naquela cama enorme. Fui à janela, o carro tinha partido. Sentei-me no sofá e as lágrimas vieram de enxurrada. Tudo era novo para mim, não só pelo facto dela ser mulher, claro que isso me perturbava, mas o pior eram as minhas reacções ao toque daquela mulher. Nunca em sã consciência tivera tanta vontade de fazer amor com alguém. Eu sempre gostei de sexo, aliás essa era uma parte bem resolvida da minha vida, mas jamais desejara alguém com a fúria que desejara a Jaiden. Ela era uma mulher…minha cabeça doía, meu corpo doía. Que futuro aquilo poderia ter? Futuro? E desde quando eu me preocupava com futuro? Não que eu fosse leviana, longe disso, mas pensar em futuro após um único beijo? Inconcebível. A minha loucura atingira o ápice. Dormi no sofá. Sonhei com a Jaiden, linda, leve, sorrindo…

Acordei as 11 da manha. Ainda estava com a alma dolorida, mas bastante mais calma. Viajaria para longe dali, estava decidido. Eu não deixaria nada mudar as minhas convicções. Ela iria embora em poucos dias e com certeza aquele mar bravio que se transformara a minha vida encontraria aguas calmas.

Fui ao escritório, sabia que ninguém estaria lá. Alem de ser sábado, as festas do Charles eram sempre extenuantes. Deixei todos os dossiers prontos em cima da mesa do meu chefe, enviei emails para a equipa toda comunicando que ficaria ausente por uns dias e que estaria incontactável, pelo menos no número que a empresa colocara ao meu dispor. Liguei ao chefe, disse que precisava ausentar-me da cidade por uns dias e ele concordou imediatamente sem muitas perguntas. Ele sabia que eu precisava mesmo daquela retirada, ainda que não soubesse os reais motivos. Eu tinha direito a férias e ficaria fora o máximo de tempo possível. Ele ainda perguntou se estava tudo bem comigo. A minha voz deveria estar péssima, eu mal dormira.

- Sara, o trabalho mais importante já está praticamente concluído, podes ficar os dias que achares conveniente. Precisas descansar, até tu precisas descansar – disse rindo numa tentativa de me descontrair.

- Ficarei apenas o necessário, qualquer anomalia o Sr. por favor contacta-me no meu numero privado, pois o da Empresa estará desligado. – Disse com uma voz cansada.

- Fique tranquila, não serás incomodada e ninguém aqui da empresa terá acesso ao teu número particular – Desligou e eu de seguida liguei para a agência de viagens que nos assistia na empresa, com sorte conseguiria o meu pacote ainda naquele dia. Tudo certo, partiria ás 3 da tarde para a Bahia, Porto Seguro.

Antes de deixar o edifício fui ao Set onde passara momentos encantadores com a Jaiden, um sentimento estranho tomou conta do meu peito, um aperto, um desconforto, não sabia explicar. Saudades talvez…não me despediria dela, era-me impossível tal acto. Lágrimas nos meus olhos…

Fui para a casa arrumar as malas, fazia tudo mecanicamente, não pensava em nada.

Partida com destino a Salvador do voo 4110, embarque imediato. Parti em busca de um porto seguro.



CAPITULO XI – PORTO SEGURO

[22/11/09]



Fiquei num hotel calmo sem aquele frenesi habitual dos grandes estabelecimentos daquela região esplendorosa da Bahia. A janela do meu quarto ficava praticamente em cima do mar, era tudo o que eu precisava para descongestionar a minha mente. O mar me acalmava. Tomei um banho e pedi uma refeição leve no meu quarto. Estava cansada e sem muito animo para enfrentar restaurantes, ver gente. Começaria as minhas ferias na manha seguinte.

Fiquei algumas horas vendo o mar calmo e reflectindo sobre tudo que me acontecera nos últimos dias. Tentei encontrar inúmeras explicações que definissem o que a Jaiden provocava em mim, mas chegava sempre à mesma conclusão, eu me apaixonara por ela, por tudo o que ela representava. A beleza, o talento, a inteligência, a meiguice, a forma desprendida de encarar a vida, o mistério que a envolvia…lembrei-me do sorriso dela, aquela forma única de sorrir, aqueles olhos que pareciam estar sempre húmidos. Fechei os olhos, e um flash dos nossos momentos naquele carro passou-me pela cabeça. Eu tomara a iniciativa de a beijar. Naquele momento o meu desejo foi de longe mais forte do que qualquer acto reflectido. Que beijo perfeito, a boca dela parecia ter sido concebida pensando na minha. As mãos dela passeando pelo meu corpo eram um convite a viagens alucinantes cujo destino eu ainda não conhecia e talvez nunca conhecesse…precisava dormir, descansar, tentar esquecer algo que já fazia parte de mim.



Acordei as 8 da manha. Fiquei um pouco na cama. Tinha que fazer tudo diferente do habitual durante as minhas férias. No meu dia-a-dia pulava da cama ao amanhecer, stress de São Paulo, mas estava na Bahia e de férias. Tomei um banho rápido, queria sair do quarto, o sol brilhava lá fora. O café da manhã daquele hotel era um banquete. Comi todas aquelas frutas que só provara no nordeste Brasileiro, ainda bem que eu era magra, mas com certeza ao final das minhas ferias estaria alguns quilos mais gorda. Ri-me daquele pensamento, estava definitivamente mais calma.

O hotel oferecia varias modalidades de entretenimento, mas eu preferi ficar na praia. Ás 11 horas, um dos empregados do hotel disse-me que uma excursão a uma praia que ficava numa enseada cujo nome agora não me lembro sairia em 15 minutos. Resolvi fazer algo diferente e inscrevi-me. O passeio era qualquer coisa de majestoso. Eu estava maravilhada com a beleza daquele lugar. Fomos de barco e depois para chegar à praia percorremos uma espécie de trilha. A praia era linda, quase deserta. Uma única pousada e algumas casas de pescadores. Apesar de já ter estado anteriormente em Porto Seguro, aquela era a primeira vez que conhecia aquele espaço quase virgem de beleza singular. Paz na alma!

Éramos 5 excursionistas além do guia. Eu, uma senhora de meia-idade e uma menina de uns 13 anos que deveria ser neta dela e um casal de jovens de no máximo 29 anos. Eram muito simpáticos, a mulher principalmente. Eles pareciam estar em lua-de-mel tamanha era a felicidade que transmitiam. A moça, alem de linda era bastante extrovertida. Pediu-me que tirasse uma foto dos dois à porta da pousada. Falou comigo em Português mas percebi que entre eles o idioma utilizado era o Alemão. Mais tarde descobriria que ela era uma Brasileira que morava na Alemanha há muitos anos.

As horas passadas naquele lugar foram gratificantes. Almoçava sozinha numa mesa quando a moça do casal apaixonado perguntou-me se não queria ficar com eles. Porque não, pensei. Eles eram realmente pessoas maravilhosas. Sebastian e Nahima. Contaram que aquela era a quinta lua-de-mel desde que se conheceram e que sempre vinham ao Brasil, pois além de ser a terra da Nahima, o Sebastian também adorava o lugar. O almoço decorreu de forma descontraída, parecíamos amigos de longa data. Após o digestivo, o Sebastian resolveu ir explorar a praia e eu e a Nahima ficamos na Praia. Á medida que a nossa conversa evoluía eu tinha a sensação que a conhecia há muito tempo. Ela era espontânea, alegre, de bem com a vida e muito bonita. Eu ria com as piadas dela, coisa que não tinha conseguido fazer há uns dias tamanha era a minha tristeza e apatia. Parecíamos amigas de infância. Ela contou que vivia com o coração na mão devido ao hobby do namorado, ele era alpinista nas horas vagas. A cada escalada ela morria um pouquinho, disse rindo mas percebi que aquilo a perturbava. Ela falava muito e eu limitava-me a escutar. As aventuras dela eram muito interessantes. A dada altura ela olhou para mim e disse – Sara, agora esclareça uma dúvida minha, como é possível que uma mulher tão linda como tu, esteja num lugar paradisíaco como este sozinha e pior ainda com este olhar perdido? Tentando esquecer um amor? – Ela era directa e eu gostava daquilo.

Suspirei e disse – quem sabe não te conte o que me aflige e obrigada pelo linda – ri e ela disse – tudo a seu tempo, se achares que deves, força, mas quero ver mais sorrisos nesse rosto lindo ok.

Fomos nadar, que boa a sensação da agua na minha pele. Mergulhei naquelas águas azuis. Voltei a superfície e pensei como seria bom ter a Jaiden comigo naquele momento. Que saudades dela. Não tinha pensado nela durante o passeio, até porque a Nahima falava tanto e era tão bom ouvi-la que não sobrava espaço para devaneios, mas naquele momento a imagem dela ficou retida na minha mente e eu percebi que não seria fácil esquecer aquela Australiana.

Voltamos ao hotel e combinamos de jantar juntos naquela noite. Após o jantar fui convidada a ir ao chalé deles e aceitei. O Sebastian tocava violão e ficamos cantando a noite inteira enquanto ele tirava notas do seu violão. Diverti-me a valer nessa noite. Que bom que encontrara essas pessoas. A Nahima disse que mais um inferno dela começaria, já que na noite seguinte o Basti (ela o chamava assim) partiria para uma escalada no Paquistão. Acho que morreria de susto se namorasse alguém assim tão dado a aventuras…pensei na Jaiden que também vivia numa roda-viva, sempre pulando de país em país atrás da melhor foto…pronto lá estava eu de novo pensando na Jaiden. Onde estaria ela aquela hora? Talvez tivesse partido para o novo desafio na Europa que mencionara numa das nossas conversas. O que ela tinha achado daquilo tudo? Naquela noite no carro eu tive a certeza que ela me desejava com a mesma intensidade aliás ela queria ir para o meu apartamento, mas será que o sentimento que a impelia para mim, qualquer que ele fosse, tinha a mesma intensidade desse calor que me queimava por dentro, dessa vontade de ficar com ela, de ser dela…duvidas, muitas dúvidas e apenas uma certeza, eu queria estar com ela mais uma vez – Sara minha querida em que galáxia estas? – Ouvi a voz da Nahima, parecia distante… – oh, desculpa, estava distraída – minhas mãos estavam húmidas, o poder daquela mulher sobre mim era inexplicável. Precisava dormir um pouco.

- Acho que já é hora de dormir depois de um dia cheio de acção, vocês não concordam? – Brinquei com os meus mais novos amigos tentando esquecer aquilo que teimava em permanecer na minha cabeça. Ainda fiquei mais um pouco, era bom estar com gente alegre, leve, a vida parecia mais fácil.

Tentei ler um livro para ver se o sono vinha, mas nesta noite talvez devido ao cansaço físico não tive problemas de insónia. Sonhei com a Indiniana. Ria e mostrava-me uma praia, parecia um lugar que já conhecia, e dizia, o caminho é esse, a felicidade está ali. A praia de novo, e eu me via lá, alegre correndo com borboletas azuis as costas. Que sonho estranho, mais uma vez não entendia nada.

O dia seguinte foi muito bem passado. Saí cedo com a Nahima e o Basti. Exploramos cada canto daquele pedaço de chão abençoado por Deus. Banho de mar em praias de beleza indescritível, o sol me fazia bem, o mar também, eu definitivamente precisava daqueles dias de descanso. Almoçámos num quiosque que ficava a escassos metros do mar onde serviam uma iguaria de camarão jamais provada em minha vasta experiência pelos melhores restaurantes do mundo. Eu me sentia bem, só faltava uma certa mulher de personalidade marcante que teimava em não deixar os meus pensamentos.

As 6 da tarde o Basti partiu para Salvador. De lá seguiria para São Paulo e depois uma maratona até o Paquistão. Na despedida tive saudades dele, engraçado havíamos nos conhecido há poucos dias e eles já eram meus amigos. A Nahima estava apreensiva mas parecia já ter se acostumado com a segunda paixão do amor dela. Despediram-se com muito carinho e percebi que ali existia amor de verdade.

- Ele faz essas escaladas de dois em dois meses, e já foi para lugares que nem sequer existem nos mapas. Eu sofro muito mas amo-o demais e aprendi a gostar do que ele gosta ainda que jamais me atreva a subir numa montanha – ela disse rindo e me abraçou.

- Minha querida vais precisar de um pouco de paciência comigo nos próximos dias. Fico insuportável nos primeiros dias após cada partida do meu amor, mas prometo não ser muito chata. – Ela era uma companhia muito agradável e ainda que não estivesse em condições de dar colo a ninguém se precisasse eu estaria pronta.

- Vens jantar comigo no meu chalé? Gosto de conversar contigo e sei que esses olhos lindos escondem alguma tristeza que eu ainda hei de desvendar – disse aquilo rindo do meu embaraço evidente. Precisava conversar com alguém, precisava ouvir a opinião de uma outra pessoa, alguém que me dissesse se estava doida. Ás vezes achava que aquilo tudo era fruto da minha cabeça, mas e a cena do carro? Aquilo existira, eu não sonhara, tanto existira que eu numa atitude insana fugira por não saber como lidar com tal situação.

Jantaria sim com a Nahima, e se o meu coração assim o quisesse diria a ela o que me afligia.

Descansei um pouco antes de tomar um banho e ir jantar com a minha mais nova amiga. Cheguei as 8 e ela estava ao telefone. Falava com o Sebastian que chegara a São Paulo. Mandei um beijo e desejei boa sorte. O jantar estava divino, polvo gratinado acompanhado de um vinho soberbo. Comi bastante, adoro frutos do mar. A nossa conversa estava bastante animada, a Nahima era muito engraçada. Falámos de tudo, dos nossos trabalhos, das nossas conquistas, dos desafios que nos esperavam enfim de tudo um pouco. De repente no meio de uma conversa mais amena ela olha para mim e diz – Sara, eu te conheço há pouco tempo mas a sensação que tenho é que somos amigas há anos. Já percebi que és uma mulher sensacional, forte, decidida, meiga mas, embora a tua beleza seja surpreendente, eu percebo uma tristeza, uma inquietude nos teus olhos que me deixam um pouco preocupada. Posso te ajudar de alguma forma?

Sem pensar nas consequências das minhas palavras disse – estou fugindo…aquela frase saiu como um sussurro.

- De quê amiga? Aposto que não é da polícia, não tens cara de bandida – disse brincando para amainar a expressão de desespero que estava estampada na minha face.

- Antes fosse da policia…acho que estou a fugir de mim mesma.

- Como assim Sara, eu não estou a entender nada, mas quero que fique claro que não estou a forçar que me digas nada que não queiras, apenas estou preocupada pois sinto que tem algo te afligindo, mesmo nos momentos de alegria, há uma sombra no teu olhar…interrompi-a e disse – quero falar sim, preciso falar para não enlouquecer.

Eu não a conhecia tão bem assim, mas algo me dizia que preconceito não fazia parte do vocabulário dela, então abri o meu coração.

- Nahima, eu praticamente fugi de São Paulo, pois de repente sem que nada o fizesse prever, eu me vi completamente apaixonada por uma outra mulher – pronto, tinha admitido aquilo para mais alguém que não a mim mesma. Fiquei parada esperando a reacção dela. Ela segurou as minhas mãos e numa voz seria disse:

- Que mulher idiota é essa que não consegue ver a pessoa incrível que tu és e permite que fujas? – Ela agira com naturalidade à minha revelação, exactamente como imaginara.

- A idiota sou eu. E fugi sem ao menos dar uma chance a mim mesma de entender o que se passava comigo. Ela não sabe que estou aqui…apenas fugi como uma covarde, uma adolescente que se apaixona pela primeira vez – lágrimas nos meus olhos.

- Calma minha querida, mas é a primeira vez, pelo menos pelo que eu entendi, é a primeira vez que te apaixonas por uma mulher. Isso deve mexer muito com a cabeça de alguém – ela me abraçava numa tentativa de me acalmar.

- Nahima eu sempre gostei de homens, tive vários em minha vida, e de repente aparece uma fotógrafa para acabar com as minhas convicções. Eu me apaixonei pela pessoa, pelo que ela representa, não me interessa se é mulher.

- Então qual é o problema? Qual é a razão de tanto desespero? Ela não gosta de ti também? Só se for muito burra e cega, e se for isso não te merece. – Ela fora peremptória.

- Eu me apaixonei por Jaiden Howard – apenas pelo facto de dizer o nome dela eu tremera toda.

- Mas espera ai, Jaiden Howard o fotografo das fotos de ouro? É dele que falas? Mas ele não é um homem?

- Pois é minha amiga, eu também pensei que fosse, mas ela é uma mulher e uma mulher maravilhosa – Nahima estava espantada. Peguei a minha bolsa que estava em cima de um sofá e tirei uma foto da Jaiden.

- Pensando bem nunca vi uma foto dela. – Entreguei-lhe a foto da mulher mais linda que alguma vez vira na vida.

- Nossa como ela é linda, que foto marcante. Não me admire nada que estejas apaixonada. Sara conta-me esta historia pelo amor de Deus, preciso entender tudo. – Num resumo contei todos os detalhes desde o dia daquele primeiro almoço de trabalho quando ainda achava que Jaiden fosse um homem até o beijo no carro dela que culminara na minha fuga – ela ouvia tudo prestando atenção nos mínimos detalhes.

- Sara não podes fugir disso, eu não conheço a Jaiden mas pelo que acabas de contar, ela deve estar sentindo a mesma coisa. Ela só não foi mais explicita talvez com medo de te assustar, sei lá, sem contar que és amante de um amigo dela. Coloque-se no lugar dela. Para ela deve ser mais fácil lidar com os sentimentos, por isso o ar natural ao fazer as coisas a que referes. Na minha opinião o facto de ela não te atropelar com a avalanche de sentimentos que a meu ver é recíproco, só prova o quanto está preocupada contigo. Pense comigo amiga – eu não conseguia pensar em mais nada, as lágrimas não paravam de cair pela minha face. Saudades dela, muitas saudades da Jaiden.

- Ela tentou falar contigo nestes dias que estas aqui na Bahia?

- Não…mas…

- Mas o quê Sara? – Nesse momento eu me lembrei que a Jaiden só tinha o número do meu celular da empresa e o número da minha casa. Eu normalmente não dava o meu numero pessoal ás pessoas com as quais trabalhava. O celular da empresa tinha ficado em São Paulo, mesmo que ela quisesse falar comigo seria impossível.

- És uma especialista em fugas, pensas em todos os detalhes – ela disse rindo – acho que deves tentar falar com ela Sara, vejo nos teus olhos o quanto gostas dessa mulher, e isso é raro amiga, não nos acontece muitas vezes na vida. Vamos ligar para a Jaiden? – Gostava das atitudes firmas dessa mulher, e pensar que eu já fora assim…

- Acho que a uma altura dessa ela já não está mais em São Paulo, muito menos no Brasil – disse com a voz embargada.

- Pode até ser, mas só vais saber se tentares, não concordas? Diz o número ai. – Foi fácil dizer os números, eles não saíam da minha cabeça. – A Nahima discou os números e entregou-me o celular dela. O meu coração estava na boca, acho que morreria apenas ao ouvir a voz dela. Caixa postal, lógico, ela já tinha ido embora. Uma dor estranha tomou conta de mim.

- Nada de desânimo, eu não conheço esta palavra e além do mais acredito piamente que o amor tem razões que só ele conhece. Acho que foste mordida pelo bichinho do amor minha amiga e tenho a certeza que as energias cósmicas hão de conspirar a vosso favor, não sei como mas sei que algo muito bom vai acontecer. – Estava claro que ela dizia aquelas palavras numa tentativa de me acalmar, gostava cada vez mais daquela mulher fascinante que era a Nahima. Encontrara uma amiga no momento que mais precisara.

Ficamos conversando durante muito tempo, ela queria saber tudo nos mínimos detalhes.

- E o Noah? Tenho a impressão que nunca estiveste apaixonada por ele, estou certa?

- Hoje sei disso, ele é mais um amigo do que qualquer outra coisa, mas a sua companhia é óptima – disse lembrando dos bons momentos que passara com ele.

- Mas nada que se compare a um olhar da nossa amiga Jaiden? Rimos juntas.

- Obrigada Nahima, estou tão feliz por ter-me tornado tua amiga. Já deves ter ouvido isso um milhão de vezes, mas vou repetir, és maravilhosa.

- Ah para com isso olha que eu sou tímida hein. Ei queres ir comigo para Natal? Ainda tens mais uns dias de férias não tens?

- Tenho sim, e adoro Natal, acho que só me faria bem.

- Então amanha cedo vamos providenciar as passagens. Minha única irmã tem uma pousada numa praia chamada Pipa que é um sonho. Tenho certeza que vais adorar. – Disse numa alegria contagiante.

- Já estive em Natal mas não conheço Pipa, e se dizes que é um sonho acho que vou embarcar. – Iria sim a Natal, precisava aproveitar todos os dias das minhas férias.



CAPITULO XII – NATAL, CIDADE DO SOL

[26/11/09]

Chegámos em Natal ás 3 da tarde. Adorava aquela cidade que fazia jus ao nome “ Cidade do Sol” já que este brilhava majestosamente no céu azul. Há muito que não vinha à cidade e as coisas estavam um pouco mudadas, mas para muito melhor. Ficaríamos o resto do dia na cidade e na manha seguinte partiríamos para Pipa. Estava curiosa para conhecer aquele lugar…

A Nahima estava extasiada, ela era de Curitiba mas passara boa parte da vida antes de partir para a Alemanha em Natal, tinha óptimas recordações do lugar. Falava pelos cotovelos durante o nosso trajecto do aeroporto à pousada na Praia de Ponta Negra onde ficaríamos naquela noite. De longe vi o morro do careca, cartão postal da cidade. O mar parecia um lago de diamantes tamanho era o brilho daquelas águas. Chegámos na pousada que ficava exactamente na Praia, perto do morro. Muita gente andando no calçadao, verão no seu máximo Deixamos as coisas no hotel e a Nahima levou-me à Barraca do Caranguejo provar um peixe de comer e lamber os beiços. Sentia-me muito bem, uma sensação estranha de paz tomava conta do meu coração. Após o almoço passeámos pelas lojas da praia, comprei um bikini novo de cores quentes para contrastar com o bronzeado que adquira em Porto Seguro. Fomos a praia e eu caí naquela água quente. Estava encantada.

- Isso é muito bom Nahima, estou muito feliz. – Disse enquanto jogava água nela.

- Espera ate veres Pipa, acho que não voltarás mais para São Paulo. Um dia convenço o Basti para vir para cá – disse sonhadora.

Fiquei naquelas águas até a lua aparecer atrás do morro. Eu fiquei sem palavras ao ver aquela cena que mais parecia uma miragem. Pensei na Jaiden, queria que ela estivesse ali comigo presenciando aquele espectáculo da natureza. Por onde andarás meu amor? – Pensei com uma nostalgia que estranhamente não me entristeceu…

Á noite jantamos na barraca rústica, outro lugar maravilhoso e com uma comida fenomenal. Demos mais umas voltas, mas fomos cedo para a pousada pois estávamos ambas cansadas e na manha seguinte iríamos a Pipa que segundo a Nahima ficava a umas duas horas de carro da cidade.

Dormi bem nessa noite, tive sonhos enigmáticos mas que me deram alguma calma.

Ao entrarmos no carro que a Nahima alugara ela disse que iríamos a Pipa pelo litoral, que esse percurso era muito mais interessante. Partimos com destino à tão famosa praia de Pipa. Estava feliz e excitada para conhecer o lugar que encantara tanto a minha amiga, o que não sabia era que o destino me reservava uma maravilhosa surpresa.



CAPITULO XIII – AMANDO NA “ PRAIA DO AMOR”

[26/11/09]



Eu fui o caminho todo tirando fotos daquelas paisagens deslumbrantes. Algumas praias já conhecia, mas outras eram totalmente novas e cada uma mais bonita que a outra. Parámos na praia de Tibau para descontrair as pernas.

- Falta pouco Sara. Estou louca para ver a minha irmã. Há um ano que não a vejo. Ela é uma pessoa maravilhosa, tenho certeza que vocês se darão muito bem.

- Eu nem sei como agradecer tudo isso que me estas a proporcionar Nahima, vou ser grata pelo resto da minha vida. – Estava sinceramente agradecida àquela mulher que em poucos dias conseguira devolver algum brilho aos meus dias.

- Agradeça-me correndo atrás da tua felicidade. Prometa-me que assim que voltares a São Paulo vais entrar em contacto com a Jaiden. Use a tua influência e descubra uma forma de ter ao menos uma conversa com ela. Prometes?

- Prometo – precisava resolver aquilo. Não sabia o que ela sentia, mas sabia o que eu sentia. Não fugiria do sentimento avassalador que me consumia. – Ela piscou-me um olho e deu-me um beijo na face.

- Vamos que a Soraia já deve estar preocupada…exagerada essa minha irmã.

Finalmente chegamos em Pipa. Nahima não exagerara. Aquele era indiscutivelmente um dos lugares mais lindos que conhecera.

Pousada dos Navegantes, era esse o nome do estabelecimento da Soraia, irmã da Nahima e do marido dela, Jonas.

As duas irmãs abraçaram-se durante largos minutos. O amor que as unia era bem visível. Senti saudades do meu irmão, precisava falar com ele.

- Solzinha essa é a Sara, a amiga que encontrei em Porto Seguro – A Soraia parecia mesmo um raio de sol, era loira, com os cabelos num tom que eram muito semelhantes aos raios do sol. Era linda, tinha o mesmo sorriso que a Nahima, embora não fossem muito parecidas fisicamente. A Nahima era mais alta, tinha os cabelos e os olhos castanhos, enquanto que a Soraia lembrava uma Alemã.

- E o Basti? – Indagou a irmã enquanto beijava os cabelos da Nahima.

- Adivinha – disse simulando um ar dramático.

- Ah esse cunhado que me foste arrumar. Por falar em cunhados, o teu cunhado que vem a ser o meu marido não veio receber-te como mereces pois está lá na praia ultimando os preparativos para a festa de logo mais a noite. – Ela falava com as mãos na cintura num gesto que lembrava e muito a Nahima. A genética sempre me fascinara.

- Vai haver uma festa hoje a noite? Oba chegamos no dia perfeito amiga. Pena que o meu amor não esteja aqui, ele adora festas na praia, mas deve estar escalando algum monte gelado a esta altura.

A Soraia era muito simpática, fez-me sentir em casa. O meu quarto era lindo, e a vista para a praia era privilegiada. Não cansava de agradecer a Deus por ter colocado aquela mulher na minha vida. Fugira do amor e encontrara uma amizade especial. A vida não era tão injusta como as vezes parecia…devaneios. Permaneci no quarto durante algum tempo, não queria interromper as longas conversas das irmãs que não se viam há tanto tempo. Coloquei o meu bikini novo, queria conhecer a praia que não ficava muito distante. Olhei-me no espelho. Estava linda, a minha pele bronzeada contrastava com a cor alaranjada do bikini, e fazia um conjunto perfeito com os meus cabelos da cor do fogo. Tinha ares de férias, embora lá no íntimo uma tristeza teimava em apoderar-se de mim.

A praia era enorme e linda. Corri imediatamente para a água que estava tépida, uma carícia na minha pele. Fiquei horas nadando de uma ponta à outra. Fiquei cansada e regressei a casa. A Nahima não estava quando voltei, a irmã disse que tinha ido com o Jonas a um outro hotel buscar algo para a festa que estava prestes a começar. Perguntei a Soraia se ela precisava de ajuda e ela disse que já estava tudo pronto e me levou a cozinha para comer. Eu me sentia em casa naquele lugar. Comi algo leve e fui tomar um banho para tirar o sal do corpo. Adormeci lendo um livro, precisava descansar um pouco. Fui acordada as 7 e meia da noite por Nahima.

- Acorda dorminhoca, há uma festa lá fora a tua espera – abri os olhos ainda meio sonolenta – hmm, que horas são? Acho que não vou, estou um pouco cansada.

- Ah vais, nem que seja arrastada mas vais a essa festa Sara, levanta daí. – Ela disse aquilo já praticamente me arrastando para fora da cama.

- Alguma estrela vai descer de um navio e participar da festa? – Perguntei dado à ânsia da minha amiga em me tirar da cama.

- Num ar misterioso respondeu – quem pode prever o que nos pode acontecer nas próximas horas minha querida. – Ela estava diferente, parecia esconder-me alguma coisa, mas o quê?

- Dou-me por vencida, irei à festa ok srta Nahima, satisfeita?

- Muito – deu-me um beijo na testa e antes de deixar o quarto disse ainda – vá linda ok, não precisas fazer muito por isso, mas de uma caprichada, haverá muita gente bonita – piscou um olho e saiu.

Louca, pensei, mas eu gostava da maneira dela estar na vida, tudo parecia ser mais fácil. Eu aprendera muito com ela naqueles poucos dias.

Vesti uma saia verde que gostava muito, uma blusinha de alça branca, havaianas nos pés e fui. Afinal estava numa praia, nada de exageros.

A praia estava cheia de gente jovem e linda. Musica electrónica, muita bebida, calor de verão. A Nahima conversava com algumas pessoas, chamou-me e fez as apresentações. Pessoas simpáticas e um homem mais afoito que imediatamente iniciou uma tentativa de me conquistar. Ele era engraçado, não conseguia ficar com raiva das abordagens dele.

- Não ligues ao Thomas, ele é assim, não pode ver uma mulher bonita. Não te preocupes ele é inofensivo. – A Nahima tentou tranquilizar-me mas em momento algum me sentira incomodada com o assédio do Thomas. Olhei a volta e vi um lugar um pouco distante da azáfama da praia onde pareceu-me identificar uma espécie de pier. Iria para lá, queria estar sozinha, aquela multidão não me dizia nada.

- Vou dar uma volta pela praia – disse à Nahima.

- Está tudo bem? – Assenti – apenas quero estar um pouco sozinha, ficarei naquele pier logo ali.

- Ok, fico prestando atenção para ver se nenhum barco aparece e te leva daqui – disse rindo – sempre brincando.

Fui-me afastando aos poucos do local da festa. Um sentimento estranho tomava conta de mim, não saberia explicar, mas algo me levava para aquele lugar.

Caminhei sobre o pier e sentei-me com os pés quase tocando a água daquele mar calmo e de águas quentes. Jaiden! Sentira tantas saudades dela desde que chegara em Natal, e agora na praia de Pipa a impressão que eu tinha era que ela apareceria a qualquer instante à minha frente. Tudo não passava de delírios da minha mente. Naquele instante ela com certeza estava bem longe daquele paraíso e provavelmente já nem sequer lembrava da minha existência. A música da festa da praia soava longe, estava absorta nos meus pensamentos e não percebi que uma outra pessoa sentara-se ao meu lado no pier. Permaneci olhando o reflexo da lua na agua e viajando nas minhas lembranças. Voltaria a São Paulo no máximo em dois dias e faria de tudo para encontrar a Jaiden, nem que tivesse que viajar para a Austrália. A pessoa ao meu lado parecia gostar tanto do mar quanto eu, parecia querer partilhar com ele alguns dos seus problemas, coisa que eu também fazia no momento. De repente ela levantou-se e sentou-se atrás de mim. Não tive medo, apenas um arrepio que eu conhecia percorreu a minha espinha…

- Sara, que bom que estás aqui – ela disse aquela frase encostada ao meu ouvido, e a descarga eléctrica que aquelas simples palavras provocaram em mim eu já conhecia. Jaiden! O mundo parou, eu só ouvia as nossas respirações, ambas alteradas. Tive medo de voltar e ver que tudo não passara de um sonho, que estava ali sozinha, sendo vítima do meu desejo por aquela mulher. Então porque sentia o cheiro do perfume dela, seria delírio também? Coloquei o meu braço direito sobre o pier, ela deslizou os dedos pela minha pele, entrelaçou os dedos nos meus e me abraçou. Não tinha mais duvidas, meu amor havia voltado.



CAPITULO XIII – O AMOR É UM LUGAR ESTRANHO

[29/11/09]

O meu coração batia desgovernadamente, não era sonho, era Jaiden quem me abraçava. Milagre! Eles ás vezes aconteciam. Eu olhava o mar e o meu amor me abraçava, palavras para quê? Queria guardar aquele momento para sempre no meu coração. Ficamos assim por largos minutos até que ela disse:

- Sara eu nem acredito que isto esteja realmente a acontecer – um suspiro e um abraço cada vez mais apertado, parecia que temia que eu fugisse. Eu não conseguia dizer nada, a minha boca estava seca, o meu coração na mão…virei o meu rosto. Jaiden, linda sob o luar. Lágrimas nos meus olhos.

- Não chores, por favor – disse aquilo quando os seus olhos estavam marejados – se quiseres eu vou embora… – a frase saiu fraca.

- N..não, fique aqui, quero que fiques exactamente aqui, precisamos conversar – ela parecia estar mais magra, mas deliciosamente mais linda ( se é que fosse possível). Tanta coisa para dizer, mas não sabia por onde começar.

- Pensei que já tinhas ido embora – disse tentando iniciar uma conversa amena.

- É uma longa história, quer ouvir? – Se quero ouvir? Quero me perder nas tuas palavras meu amor…pensei, mas apenas disse que sim.

- Naquela noite no estacionamento do teu apartamento… – desculpa-me, fui uma idiota – interrompi-a – tudo bem Sara, a tua reacção foi totalmente coerente – disse afagando os meus cabelos – então, não consegui dormir, sai de lá fui vagar pela cidade. Eu queria entender o que tinha acontecido naquele carro, o que vinha acontecendo desde o dia em que assinara aquele contracto com a empresa que representas…exerceste um fascínio sobre mim desde o primeiro momento, mas eu achava impossível dar seguimento aos meus instintos, ainda mais se levar-mos em conta que és uma mulher de personalidade muito forte e que não é fácil ir além daquilo que é permitido – eu ouvia aquelas palavras achando que ela falava dela, não de mim. Na minha opinião eu tinha sido bastante explícita em relação à atracão que me empurrava para os braços dela… – na manha seguinte tentei falar contigo mas o teu telefone não respondia, liguei para a tua casa e nada. Pensei, ela não quer olhar na minha cara – foi a minha vez de tocar a face dela numa tentativa de mostrar o quanto estava enganada – tentei saber de ti por todos os meios mas foi em vão. Fui ao teu apartamento e disseram-me que tinhas viajado, quis saber para onde, mas ou ninguém sabia ou não queriam me dizer – os olhos dela pareciam perdidos ao proferir aquelas palavras.

- Eu fugi Jaiden – disse num sussurro enquanto ela me olhava com um ar indecifrável – fugi de ti e principalmente de mim. Tive medo, muito medo pela primeira vez em toda a minha vida.

- Medo de quê minha querida? – Perguntou-me com aquela voz meiga, quente, pela qual eu havia me apaixonado.

- Medo do que eu sinto cada vez que olho para ti, medo de enlouquecer cada vez que me tocas, medo de me acostumar a algo que não tem futuro algum…- pronto, lá estava eu a falar de futuro…- tive medo, tenho medo…

- Então fomos ambas acometidas pelo mesmo sentimento, embora o meu medo só se tenha revelado após a tua fuga. Eu morria de medo de nunca mais poder olhar nos teus olhos, pelo menos não vê-los da forma como estão agora… – ela parecia tão frágil naquele momento.

- E como é que chegaste aqui? – Queria saber se o destino conspirava a meu favor, a nosso favor.

- Quando percebi que tinhas ido embora, e provavelmente com raiva de mim, decidi ir até a França onde tinha um trabalho a fazer. Fiquei apenas 3 dias em Paris e não conseguindo me concentrar em nada regressei ao Brasil. Mais uma tentativa frustrada de falar contigo. Uma amiga minha, a Nádia, que é dona de uma agência de viagens já havia sugerido que eu viajasse pelo nordeste para conhecer e para distrair a minha mente. Cheguei antes de ontem a Natal, e ontem vi para este lugar paradisíaco. O estranho disso tudo é que só vim a Natal por um erro nos voos, era para estar em São Luís agora – ouvia aquilo tudo pensando que a vida me dera mais uma chance de estar ao lado daquela mulher e que eu não iria desperdiçar um único instante. Estava louca para entrar naquela água, mais doida ainda para sentir o toque daquela deusa na minha pele, beijar aquela boca… levantei-me, ela olhou para mim sem entender a minha atitude. Mergulhei naquela água maravilhosa.

- Vem cá, a agua está perfeita – disse num convite que deixava muitas outras coisas subentendidas.

- Louca – ria – é claro que eu vou, só não me peça para pular de uma montanha que é bem provável que obedeça – de volta aquele sentido de humor único pelo qual eu também me apaixonara. Mergulhou. Nadou até onde eu estava, ficamos brincando naquela agua como crianças, na verdade eu queria dissipar a tensão que tomava conta de mim. Eu não perderia aquela oportunidade de estar com ela, mas ainda tinha algum receio. Nadámos até a beira da praia, sentamo-nos na areia. Meu Deus aquela mulher era perfeita. Aqueles cabelos molhados eram um convite a loucuras, aquela blusa colada em seu corpo causava arrepios em mim. Devo ter ficado arrepiada com aqueles pensamentos pois ela perguntou: - Estas com frio? – Silencio. Estávamos a escassos milímetros uma da outra – Não, respondi. Na realidade há um vulcão em chamas dentro de mim. Deitei-me na areia.

- Posso fazer alguma coisa para ajudar? – Pura provocação – puxei-a para mim – podes sim, me beija – estava entregue ao meu desejo louco de ser daquela mulher.

- Sara minha linda, não penso em mais nada há bastante tempo.

Por fim o beijo. Aquele pelo qual meu ser ansiava há dias. Aquelas bocas que pareciam ter sido desenhadas para um perfect match. Eu gemia de prazer com o beijo da Jaiden. A boca dela percorrendo cada centímetro da minha pele e eu gritando de prazer. As minhas mãos trémulas abriram os botões da blusa dela, estava ávida por aqueles seios perfeitos e aquela barriga de sonho. Toquei os dois que pareciam mais lindos ainda por ela estar molhada, meu amor gemeu. Fiquei em cima dela, queria vê-la, tocá-la melhor. Aquela pele de pêssego completamente salgada pela água do mar e aqueles seios com gosto de fruta, nunca provara nada igual. Ela passava as mãos macias pelo meu corpo numa urgência inebriante. Nossas bocas exigiam uma à outra, beijos lascivos, carregados de prazer. Ficámos sentadas entrelaçadas uma na outra. Ambas nuas da cintura para cima, ela me olhava com tanto desejo, aquele brilho nos olhos…eu amava a Jaiden, ficaria ali para sempre. Nossos corpos se tocaram mais uma vez. O toque dos meus seios nos dela enquanto me beijava deu origem à minha primeira intensa explosão de prazer. Apenas a primeira das mil que estavam por vir.

CAPITULO XIV – O AMOR REVELA-SE!

[29/11/09]



Ficámos naquela praia por mais algum tempo e depois fomos cada uma para o seu hotel com a promessa que nos encontraríamos dentro de pouco tempo no hotel da Jaiden.

Eu queria muito estar com a Jaiden, recuperar o tempo perdido. Aproveitaria cada segundo com aquela mulher que sabia que dentro de pouco tempo partiria para mais uma aventura ao redor do mundo. Aquela lembrança entristeceu-me um pouco mas eu imediatamente afastei aquele pensamento da minha mente e decidi aproveitar o presente.

Tomei um banho vesti roupas secas e deixei um bilhete à Nahima dizendo que voltaria na manha seguinte e que explicaria o motivo da minha saída intempestiva…eu ficaria com a Jaiden naquela noite, não tinha a menor duvida.

Ela estava à minha espera no bar do hotel, linda como sempre. Bebemos um gin and tonic, conversámos durante alguns minutos e de seguida ela convidou-me para ir ver algo ao quarto dela. Era tudo o que eu queria ouvir.

Ela mostrou-me umas fotos maravilhosas com as quais iria participar de um concurso mundial e pediu a minha opinião.

- Acho que não sou a pessoa mais indicada para emitir qualquer opinião, acho tudo o que fazes magnifico e essas fotos são maravilhosas – disse com a mais completa sinceridade.

- Ah Sara, assim não vale, mas se achas isso mesmo então eu acredito. Vem cá, vamos aproveitar o que este quarto de hotel tem de melhor. – Puxou-me pelo braço e levou-me à varanda cuja vista era indescritível. – Não acredito que na face da terra haja lugar onde a lua brilhe tão intensamente como aqui – disse debruçando-se sobre o parapeito da varanda.

Eu estava em transe, com a lua, com aquela mulher e sem pensar duas vezes abracei-a por trás e me fundi nela.

- Sara eu ainda não consigo acreditar que estamos juntas aqui, é bom demais para ser verdade minha querida… – beijei-a, que beijo perfeito, que comunhão de toques. A boca dela tinha um efeito devastador sobre mim, saía da realidade. Estávamos ambas entregues ao delírio daquele momento, nada mais existia a não ser o desejo que nos queimava. Eu me surpreendi gemendo de prazer, um beijo dela tinha esse efeito em mim, que loucura, doce loucura.

Ela afastou-se um pouco completamente inundada de desejo e pediu que eu aguardasse um segundo. Entrou no quarto e eu fiquei parada olhando aquela obra da natureza. Dois minutos depois ela voltou, segurou as minhas mãos e entramos no quarto. Lágrimas inundaram os meus olhos. Ela colocara velas aromáticas por todos os cantos do quarto e o ambiente ficou propicio para a primeira noite de amor de dois seres que se queriam acima de tudo.

Eu a olhava admirada e ela me enchia de beijos por todos os cantos do meu corpo.

- Jaiden…

- Shhhh, não diga nada meu amor… – mais um beijo maravilhoso.

- Finalmente temos a cama perfumada…Sara, eu quero muito fazer amor contigo minha querida. – Sussurrou-me no ouvido, com uma voz carregada de desejo.

Não disse uma única palavra, não conseguiria exprimir nada com palavras. Deite-me naquela cama enorme e olhei para ela. Eu estava um pouco nervosa mas o desejo que sentia por aquela mulher suplantava qualquer outro sentimento. Ela deitou ao meu lado e ficamos de mãos dadas por alguns minutos, apenas olhando nos olhos uma da outra. Eu me apaixonava cada vez mais, aqueles olhos magníficos querendo entrar no meu íntimo, aquela pele sedosa que convidava a toques, eu ardia de desejo. Era consumida por um fogo avassalador.

- Eu também quero muito fazer amor contigo Jaiden, acho que nunca quis tanto na minha vida…lágrimas nos meus olhos.

Ela beijava as minhas lágrimas e dizia palavras lindas ao meu ouvido. Tirou a minha blusa de uma forma tão delicada que tive vontade de chorar, tudo nela era perfeito. Beijava cada canto do meu colo e eu transbordava de prazer. Tirei a blusa dela também e mais uma vez fiquei alucinada com a beleza daquele par de seios e aquela barriga perfeita. Num acto de puro desejo beijei os seios dela ao que respondeu com um gemido que aumentou ainda mais a minha loucura em estar naqueles braços. Beijava, mordia levemente, acariciava-os com a ponta dos meus dedos, ao mesmo tempo era tocada de uma forma que jamais tinha sido ao longo da minha vasta experiência sexual. Tirei a minha saia com rapidez, estava ardendo de desejo. Ela fez o mesmo e ficamos grudadas uma na outra. Ela beijava os meus seios, sugava-os e eu gritava de prazer. – És tão linda meu amor, tão linda que não vou aguentar mais, quero-te tanto – voz embargada de desejo – eu também quero-te muito Jaiden – esfregava-me nela enquanto contorcia de prazer. Livramo-nos das últimas peças de roupa que ainda cobriam os nossos corpos e nos entregámos à dança perfeita dos nossos corpos. Corpos suados, bocas se devorando, peles ardentes, mãos ávidas, sexos latejantes e por fim uma deliciosa explosão de prazer. Dera asas ao prazer que me consumia e descobri que fazer amor com uma mulher revelara-se uma das experiências mais gratificantes da minha vida. Não tive medo de errar, decepcionar, nada disso, apenas segui o meu coração e o meu desejo. Fizemos amor a noite toda e quando amanhecia adormecemos abraçadas uma à outra.



CAPITULO XV – FELICIDADE PLENA NÃO É UTOPIA!

[03/12/09]

Acordei as 11 da manha e descobri-me sozinha na cama. O primeiro pensamento que tive foi que estava feliz. Espreguicei-me e ri. Sentei-me na cama, fechei os olhos e revi a maravilhosa noite de amor que tivera com a Jaiden. A realidade superara qualquer imaginação, eu queria mais, queria muito mais. Fui ao banheiro e ao olhar-me no espelho achei-me linda, os meus olhos brilhavam fortemente, o meu sorriso era pleno, estava irremediavelmente apaixonada e aquela constatação não me assustou. Ao sair do banheiro dei de cara com a Jaiden sentada na cama mais linda do que nunca com uma bandeja repleta de delicias.

- Estou morta de fome e acredito que a srta também esteja – piscou com malícia dando uma mordida numa maça suculenta.

- Morrendo de fome mesmo, mas de sua boca mulher maravilhosa. – Ela surpreendeu-se com a minha desenvoltura mas ficou ao mesmo tempo encantada com a minha atitude. Deitei-me sobre ela e beijei-a com todo o desejo que me consumia. Em segundos a toalha que cobria o meu corpo nu estava no chão e aquela cama de hotel testemunhava mais um encontro de dois corpos que se moldavam num todo perfeito. Uma hora mais tarde, totalmente entrelaçadas a Jaiden sussurrou-me aos ouvidos: - És um perigo srta Sara…beijou-me as costas com tamanho carinho, que senti-me desfalecer.

-Hmmmm, porque? – Perguntei manhosa, enroscando-me mais nela.

- Acho que até o mais insensível dos mortais não conseguiria ficar imune aos teus encantos. És um perigo mulher, um perigo… – Virei e fiquei de frente a ela, os olhos tinham um brilho que jamais vira igual, como a Jaiden era linda, irresistivelmente linda.

- Isso é um elogio ou nem por isso – provoquei – Preciso ficar em alerta máxima para não causar danos já que sou um perigo – ri das minhas palavras, e ela olhando-me nos olhos e beijando-me disse – não se preocupe meu amor, os danos já foram causados e a culpa não foi tua.

Meu amor…ela me chamara de meu amor, aquelas simples palavrinhas tiveram um efeito incrível em mim. Tive vontade de gritar que queria ser o amor dela para sempre, já que para mim seria totalmente impossível esquecer a Jaiden, eu amava aquela mulher como jamais amara alguém em toda a minha vida. Era bom descobrir aquilo, mas ao mesmo tempo eu receava o futuro, se é que esse existiria para nós duas. Não me preocuparia com aquilo, pelo menos não naquele momento, queria aproveitar ao máximo aqueles breves momentos de felicidade plena.

Saímos daquele quarto as 2 da tarde com nossos estômagos completamente em guerra com o resto dos nossos corpos. Além de comer eu precisava passar no hotel da irmã da Nahima para mostrar que estava viva.

Comemos no bar do hotel e fomos para a pousada dos Navegantes. Encontrei a Nahima na varanda tomando sol.

- Eu não acredito que deu tudo certo – exclamou Nahima dando um pulo da rede em que estava e correndo para me abraçar.

-Tudo o que sua doida? – Perguntei sem entender nada. Olhei para a Jaiden que sorria cúmplice.

- Eu explico minha querida: lembras que me mostraste uma foto da Jaiden quando ainda estávamos em Porto Seguro? – Assenti – Então, fui com o Jonas para o Hotel Oásis e dei de cara com a Jaiden sentada numa mesa com ar de perdida, não pensei duas vezes em abordá-la para ver se era mesmo a pessoa de quem fugias, e não é que era ela mesma. – A Nahima era uma actriz nata, contava aquilo fazendo uma encenação incrível. – Ah meu amor, eu não perco tempo quanto mais quando o destino resolve dar uma ajuda. Falei com ela, que por sinal foi super simpática em se tratando de uma total desconhecida, no caso eu, e quando disse que te conhecia e que estavas aqui, essa tua Jaiden maravilha quase teve uma síncope, isso é que é amor – eu estava morta de vontade de rir das loucuras da Nahima e ao mesmo tempo transbordando de felicidade, só agora entendia aquele encontro misterioso no pier, amava cada vez mais o meu amor e a minha amiga.

- E ai garota, tirou o atraso? – Nahima provocou rindo da minha cara vermelha.

- Obrigada Nahima, essa tua amiga é um perigo que estou disposta a correr em todos os sentidos… – foi a vez da Jaiden falar, ao mesmo tempo que segurava a minha mão.

- Wow, vejo que estamos bem, fico tão mas tão feliz que a minha vontade é sair voando por ai.

Eu não conseguia dizer nada, estava feliz demais para dizer algo, era melhor sentir. Peguei as minhas coisas e levei para o Hotel da Jaiden, não ficaríamos por muito mais tempo em Pipa e então nada era mais oportuno do que ficarmos juntas. A Nahima dava pulos de exultação, encontrara uma amiga de verdade.

Aproveitamos o resto do dia para passear por aquela praia maravilhosa. Andámos de barco, de ultra-leve, a Jaiden fez fotos maravilhosas, rimos de tudo, fizemos amor numa praia onde só estávamos nós, o sol, o mar e o tesão avassalador que nos consumia. Estava num sonho do qual não queria acordar nunca mais.

Por volta das sete da noite voltamos para o hotel e fomos imediatamente jantar, todas cobertas de sal e queimadas de sol. Durante o jantar fui abordada por um cliente da empresa, um chato que resolveu aparecer justamente onde não devia. A Jaiden ficou a esfregar as pernas dela nas minhas e eu quase perdi o controle. O chato foi embora e eu quase a beijei ali mesmo naquele restaurante repleto de gente. Na minha opinião qualquer um que depositasse os olhos em mim perceberia que eu estava apaixonada pela mulher ao meu lado, não conseguia tirar os olhos dela. Após o jantar, a Jaiden subiu para o quarto e disse-me que voltaria em segundos. Eu sentia um clima de mistério no ar, mas estava amando. Alguns minutos depois ela voltou com uma mochila nas costas e disse-me que preparara uma surpresa e que torcia que eu gostasse. Já gostara! Fomos de carro para uma praia um pouco distante e vi uma espécie de cabana abandonada. Ao parar o carro percebi que aquele era o nosso destino. A cabana abandonada na realidade era um perfeito ninho de amor. Era uma casa de madeira completamente rústica, cheia de velas aromatizadas, flores secas pelo chão, a cama era suspensa no ar, os lençóis tinham ondas de um mar de águas transparentes, e lá fora ouvia-se o barulho das ondas. Eu fiquei pasma. Já tivera romances com homens sofisticadíssimos, mas nenhum tivera uma ideia tão maravilhosa como aquela. Não conseguia dizer uma única palavra, fiquei encostada numa parede morrendo de medo, pois mais uma vez percebi que amava aquela mulher, tudo nela era perfeito.

- Gostaste da surpresa meu bem? – Perguntou-me com aquele olhar que me hipnotizava.

- Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo neste momento…está tudo tão perfeito que parece irreal.

- Isso parece-te irreal? – Ela abraçou-me e beijou-me a princípio com suavidade, seguidamente com tamanho desejo que fiquei sem ar. Ficámos presas naquele beijo durante largos minutos.

Fiz um jantar rápido enquanto a Jaiden arrumava as parefernálias dela, claro que ela levara os seus instrumentos de fotografia. Eu estava impressionada com a funcionalidade daquela que a priori me parecera uma simples cabana abandonada. O pequeno espaço que funcionava como cozinha estava muito bem equipado e não tive problemas em preparar uma massa para o nosso jantar. Após o jantar abrimos uma garrafa de champanhe que foi devidamente apreciada. Fomos para a praia passear e conversamos durante horas. Eu sempre gostara de conversar com a Jaiden, e gostava cada vez mais. Pela primeira vez ela falou da vida sentimental dela, aquele assunto até então tinha sido resguardado. Disse que sempre se relacionara com homens até que aos 25 anos viu-se apaixonada por uma mulher, como nunca tivera medo de nada e era adepta da teoria que qualquer experiência é válida desde que não prejudique ninguém, viveu o romance enquanto este teve forças. O romance havia terminado pois não resistira ás inconstâncias temperamentais da outra e muito menos ás inúmeras viagens da Jaiden. O nosso, provavelmente não resistiria também mas não iria preocupar-me com aquilo, não naquele momento.

- E a srta devoradora de corações masculinos não abriu excepções ao longo da vida? – Ela ria das próprias palavras, a impressão que eu tinha era que ela tentava dar menos importância aquele assunto do que realmente tinha.

- A minha única excepção é a srta fotografa maravilha, e não sou nenhuma devoradora de corações – disse dando uma sonora gargalhada.

- Ah és minha querida, tanto és que devoraste o meu pobre coraçãozinho – a Jaiden e o sentido único de humor – ela disse aquela frase fazendo uma encenação dramática arrancado gargalhadas minhas.

- Vou fazer uma pergunta que é no mínimo idiota, mas sou assim mesmo, pergunto tudo, não te rias de mim ok – fiz cara de drama e a Jaiden riu muito.

- Essa tua faceta dramática eu ainda não conhecia minha querida – Disse aquilo me abraçando forte e me beijando na face.

- O que te chamou atenção em mim?

- Só podes estar a brincar, mulher tu és linda, L-I-N-D-A, deliciosamente linda.

- Não falo disso sua boba, e sabes muito bem a que me refiro. Eu passo a vida rodeada de mulheres lindas e no entanto nunca olhei mais de duas vezes para nenhuma delas, até que a Srta apareceu…

Ela ficou um pouco mais seria e disse – eu te achei atraente no minuto em que coloquei os olhos em ti naquele restaurante. No decorrer da nossa convivência passei a admirar a tua personalidade forte, a tua inteligência, a tua capacidade de lidar com as pessoas, fazendo com que os teus subordinados tenham respeito por ti, admiração e ao mesmo tempo aquele espírito de equipa… e meu amor depois de ter dormido contigo acho difícil esquecer-te…aqueles olhos brilhantes de novo, aquela voz rouca…

Não consegui dizer uma única palavra, estava emocionada demais, limitei-me a pegar-lhe as mãos e fomos para a cabana.

Mal entramos, encostei-a numa parede e iniciei um jogo de sedução que nem eu sabia que era capaz de fazer, pelo menos não com aquela desenvoltura. Deitei-a no tapete macio do chão de madeira e dei asas á minha imaginação. O meu desejo pela Jaiden era algo inexplicável, por mim ficaria numa cama com ela a vida inteira. Adormeci com a Jaiden me abraçando por trás e senti-me em paz e totalmente feliz. Ela ficou beijando as minhas costas durante um longo período e eu sentia lágrimas inundando os meus olhos. A minha vontade era gritar que a amava como nunca amara ninguém na minha vida que queria ficar com ela para sempre mas a minha racionalidade ou covardia (já não sabia ao certo que nome dar aos meus sentimentos) não me permitia. Eu morria de medo de estar a confundir as coisas, eu sabia que amava a Jaiden, mas e ela? A impressão que eu tinha era que o sentimento era recíproco mas afinal eu não a conhecia tão bem assim e aquela espontaneidade, aquela entrega toda poderia ser algo inerente à personalidade dela, enfim…

Acordei primeiro e fiquei observando aquela obra de arte que se estendia ao meu lado, que mulher linda, e dormindo ficava mais linda ainda. Fui preparar algo para comermos pois energias precisavam ser repostas. Comi algumas cerejas e decidi dar um mergulho enquanto ela não acordava. Quando voltei da praia ela estava sentada no chão completamente nua a comer uvas. Aquela imagem era quase irreal, o sol que entrava pela janela dava um reflexo lindo nos cabelos avermelhados dela e os olhos faiscavam. Precisava eternizar aquela imagem. Tirei várias fotos e aquilo tudo terminou numa guerra de uvas e em mais uma deliciosa sessão de amor.

Algum tempo mais tarde o meu telefone tocou, eu não queria falar com ninguém mas dado a insistência resolvi atender. Era o Noah. Eu não me lembrava mais dele, pelo menos não como amante. Conversamos um bocado, afinal ele era meu amigo acima de tudo. Ele perguntou-me onde eu estava, e tive vontade de dizer no paraíso, mas limitei-me a dizer que estava em pipa com a Jaiden. Ele mandou cumprimentos a ela e desligou. Percebi que a Jaiden não estava na cabana, olhei para a praia e lá estava ela dentro do mar brincando com a água, feliz da vida. Como eu queria que aquilo não terminasse nunca…infelizmente a felicidade já estava na recta final, precisava voltar para São Paulo.

Passamos mais uma noite em Natal, aproveitando as maravilhas da cidade. Embora estivesse completamente feliz, lá no fundo da minha mente algo me dizia que logo ela iria embora para as aventuras dela e eu ficaria sozinha e completamente apaixonada. Nessa noite fizemos amor com maior entrega. Eu queria ficar com a imagem dela na cama totalmente entregue gravada na minha mente para sempre. Na nossa última explosão de prazer, já exaustas e sem forças, eu olhei nos olhos dela que estavam molhados, e ela me abraçou forte e disse – I love you Sara – eu não consegui dizer que também a amava, tinha medo que aquilo fosse apenas um rompante, uma loucura de férias, tinha medo de sofrer, tinha medo de tudo. Abracei-a, e beijei-a com todo o desejo que me consumia, enquanto o corpo dela estremecia sob o meu.

Eu era racional demais, amava-a, não tinha a menor dúvida, mas como viver o meu amor integralmente? Ela era uma fotógrafa famosa, mundialmente famosa, vivia viajando de um país para outro, de uma selva para outra, de um deserto para outro, era muito requisitada, e embora fosse bem low profile tinha certeza que era muito desejada por gente bonita… o facto dela ser mulher surpreendentemente não me incomodava, eu estava consciente do preconceito que relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo suscitava, mas não me importava nada. Eu já resolvera aquela questão na minha cabeça e para mim amar a Jaiden ou o Noah era a mesma coisa, o que interessava era o sentimento e não o género. Quem fosse realmente meu amigo e me conhecesse entenderia perfeitamente aquela avalanche que me assolara. Eu queria tanto dizê-la que ficava feliz só pelo facto de sentir a sua respiração nas minhas costas, de sentir o pé dela enroscar-se no meu, de vê-la sorrir…mas ao mesmo tempo eu ficava com medo que aquilo fosse loucura de um doida de 33 anos, como poderia amar alguém com tal intensidade em tão pouco tempo? Mas não era o amor que possuía regras que só ele entendia?...



CAPITULO XVI – “ REALITY BITES”!

[06/12/09]

Durante o nosso voo para São Paulo, a Jaiden disse-me que a minha produtora estava a concorrer para um prémio internacional com o trabalho que ela fizera e que o resultado sairia em poucos dias. O prémio com certeza seria da nossa Agência pois o talento da Jaiden era imbatível. Chegámos em SP e eu senti que as coisas seriam diferentes a partir daquele momento. Cada uma seguiu no seu carro para os respectivos apartamentos.

Algumas horas mais tarde cheguei na produtora e tive que disfarçar o meu mau humor, afinal regressara de umas férias relaxantes e ninguém entenderia a minha cara fechada. A decisão do prémio seria naquele dia.

Tive uma recepção maravilhosa, eu era bastante querida naquela Agência mas ás vezes faltava-me algo mais que ainda não conseguira identificar.

No final da tarde o resultado saiu e corroborando as nossas expectativas ganhámos o prémio internacional. A Agência com certeza seria muito mais requisitada e consequentemente mais respeitada a nível internacional.

A Jaiden foi tratada como uma estrela, e era exactamente isso que ela era, só que para mim era bem mais do que isso, ela era a minha constelação. Tive que a cumprimentar de forma comedida, embora tudo o que eu queria era beijar muito aquela boca e tirá-la dali…

O trabalho aumentou na Agência e eu mal tinha tempo para respirar. Dois dias após a vitória da nossa campanha a Jaiden telefonou-me excitadíssima a dizer que tinha sido convidada para um trabalho na Indonésia. Estava tão feliz com a ideia que eu tive que segurar um grito de dor na garganta. Estava claro que tudo tinha acabado, mas haveria alguma possibilidade de ser diferente? Fiquei feliz por ela.

Mr. Andrews, o dono da Agência deu uma festa na casa dele, onde todos os famosos da publicidade internacional estavam presentes, jornalistas, fotógrafos, televisão, enfim, um acontecimento. Eu não estava com muita vontade de ir, mas era mais um compromisso de trabalho disfarçado de festa e é claro que fui. A Jaiden, linda como sempre era o centro das atenções, embora aparentasse algum desconforto com tantos holofotes. A uma dada altura ela aproximou-se de mim e pediu que a encontrasse do lado de fora da mansão. Consegui ludibriar alguns fotógrafos que estavam na minha cola e saí. Fui para um dos jardins e mal cheguei caímos nos braços uma da outra, nossos corpos tremiam de desejo, ela beijou-me com tanto desespero que tive vontade de fazer amor ali mesmo.

- Vamos fugir daqui, eu preciso ficar sozinha contigo linda, agora, por favor – ela suplicava e eu não pensei duas vezes, afinal não queria mais nada na vida a não ser ficar com ela.

Tivemos alguma dificuldade em sair, tamanho era o assédio, mas conseguimos. Cada uma entrou no respectivo carro mas o destino era o mesmo, o meu apartamento.

Ao entrarmos no meu apartamento percebi que ela estava impaciente, perguntei o que era e ela disse que iria para a Indonésia no dia seguinte. Eu já esperava por aquilo, já tinha me preparado para aquele momento, e a única coisa que consegui dizer foi – boa sorte no teu novo trabalho – tentava mostrar uma frieza que eu não tinha, um desprendimento que não existia, mas que mais poderia fazer? Ela não disse mais nada, abraçou-me e fizemos amor num misto de desespero e carinho, paixão e urgência, coroado de orgasmos transcendentais. Ficámos abraçadas uma olhando nos olhos da outra, cada uma perdida nos seus próprios pensamentos. Não aguentei e comecei a chorar como uma criança. Não conseguia parar, ela beijava as minhas lágrimas e repetia inúmeras vezes que me amava, que eu era a melhor coisa que lhe tinha acontecido. Mas o prazo daquele amor tinha chegado ao fim. Era a ultima vez que sentia o gosto dela, o beijo dela. Era a ultima vez que via aquele sorriso mágico, que tremia ao toque dela. Fiquei olhando o vazio e adormeci.



CAPITULO XVII – O SABOR DO AMOR DEPOIS DE FEITO

[06/12/09]

As sete da manhã a Jaiden preparava-se para deixar o meu apartamento e consequentemente a minha vida. Ela movimentava-se com cuidado para não me acordar, e eu fingia estar a dormir. Não queria enfrentar uma despedida, seria insuportável. Ela debruçou-se sobre mim e beijou-me as costas, a face e permaneceu parada por alguns instantes. Deixou algo na borda da cama deu um suspiro e saiu do meu apartamento. Fui invadida por uma sensação de perda até então desconhecida. Fiquei imóvel naquela cama enorme durante largas horas, por fim resolvi levantar e trabalhar que era a única coisa boa que me restava, pelo menos naquele momento.

Encontrei um bilhete da Jaiden sobre a minha cama, e fiquei agarrada a ele durante algum tempo como se fosse a minha tábua de salvação. Era a minha última lembrança dela, a mais recente e eu tinha medo de ler o que estava escrito. Onde estava a minha célebre coragem? Desdobrei o papel e os meus olhos encheram-se de lágrimas…

“ Honey, não quis te acordar, parecias um bebe de tão linda que estavas. Nem sei o que dizer nestas poucas palavras, talvez i love you seja suficiente, mas a mim parece-me um pouco estranho já que estou de partida para o outro lado do mundo. Sara, eu não quero que a nossa história termine aqui, farei tudo para estar contigo mais vezes, e das próximas sem mal entendidos pelo meio. Não sou muito boa com as palavras meu amor por isso fico por aqui e já morrendo de saudades de ti, da tua pele, da tua boca, do teu cheiro… I LOVE YOU!!!

Jaiden”

Como eu queria acreditar que logo estaríamos juntas de novo, que aquela era apenas uma viagem de trabalho e uma semana depois no máximo estaria nos braços do meu amor. Mas algo no meu intimo me dizia que as coisas não seriam assim. Eu precisava conversar com alguém, não aguentaria aquela pressão sozinha. Liguei para o meu irmão em São Francisco e para a minha grata surpresa ele disse que viria ao Brasil no dia seguinte. Não adiantei nada, preferi conversar olhando nos olhos dele.

Passei o resto do dia ouvindo música e organizando alguns trabalhos. Não parava de pensar na Jaiden e nos momentos maravilhosos que tivemos juntas. Não conseguia imaginar um dia da minha vida sem a certeza que a qualquer momento ela entraria por uma porta com aquele sorriso fascinante. Loucura, doce loucura.

O meu irmão chegou as 8 da noite e fomos jantar. Tomei algumas taças de vinho para ter mais desenvoltura na hora de abordar o tema que me afligia. Não que temesse a reacção dele, mas eu ainda tinha alguma dificuldade em entender como a minha vida tinha virado de cabeça para baixo e isso em tão pouco tempo.

- Maninha, estamos aqui rindo e aparentemente felizes mas eu vejo uma nuvenzinha nesses teus belos olhos, o que se passa? O que está incomodando a minha irmãzinha querida?

- A tua irmã enlouqueceu, perdeu o juízo completamente… – disse olhando fixamente para o resto de vinho que estava na minha taça.

- Hey, o louco da família sou eu meu amor – gargalhadas – não faças drama Sara, aposto que o que chamas loucura não chega aos pés dos meus actos insanos. – Ele fazia de tudo para me descontrair pois a minha cara de desesperada mostrava a minha angustia.

- David eu estou apaixonada… – só omiti por quem estava apaixonada.

- E desde quando isso é um problema? Já percebi que não é pelo Noah. Amor novo minha querida, que bom.

- É, amor novo, pessoa nova, sentimentos novos, tudo novo, novo demais para a minha sanidade…

- Não estou a entender nada Sara, estas assim por estar a trair o Noah? Sinceramente não consigo entender o porque desse olhar perdido e dessa apatia. Estas apaixonada minha irmã, aproveita o que de bom nos trás o amor.

- Estou apaixonada por uma mulher David – Aquilo mais pareceu um sussurro.

- O que? – Ele me olhava incrédulo – Por uma mulher…mulher? A minha irmã devoradora de homens esta apaixonada por uma mulher?

- O restaurante todo não precisa saber disso David, seja discreto pelo amor de Deus – disse um pouco preocupada com o “ Carnaval” que o David fazia.

- Sara eu não consigo acreditar nisso minha irmã, como isso aconteceu e quem é a mulher maravilha que conseguiu essa proeza?

- Não sei se conheces, mas já deves ter ouvido falar, é a Jaiden Howard, a melhor fotógrafa do mundo. – O David me olhava com cara de espanto – eu sei meu irmão, até na escolha se é que se escolhe a minha pontaria foi perfeita – falei com ironia.

- Nossa mana, mas a mulher é lindíssima, já vi que mesmo mudando de género as tuas escolhas continuam irrepreensíveis – ele tentava amenizar a situação com o excelente humor de sempre.

- É sério David, eu estou mesmo apaixonada por uma mulher e não sei o que fazer.

- Estou vendo que é sério meu amor, consigo captar os teus sentimentos no teu olhar. Mas esse amor é correspondido? Vocês já deram asas a loucura ou ainda não aconteceu nada. Ainda estou meio bobo com essa revelação Sara, mas podes ter a certeza que estarei aqui para o que der e vier. – Esse era o meu irmão!

- Vivemos momentos lindos, resisti o quanto pude, não por preconceito, mas por medo de algo novo, mas sucumbi ao sentimento lindo que me assolou e agora que ela foi embora estou nesse estado caótico que podes testemunhar.

- Foi embora para onde? E ela, o que sente por ti?

Abri a bolsa e mostrei o bilhete que ela deixara.

-Mas pelo que leio aqui ela também gosta de ti, então porque tanto drama minha querida?

- Ela não para em lugar algum, está sempre de mochilas ás costas indo de uma aventura a outra, e eu devo ser mais uma, apenas isso meu bem – como eu queria estar enganada, mas que esperanças poderia ter?

- Ei, onde está a Sara que conheci a vida toda? A mulher batalhadora e segura de si? Vá a luta mulher, não é isso que sempre fazes quando queres mesmo alguma coisa, eu nunca te vi assim…

- Também nunca estive apaixonada por uma mulher – era a primeira vez que ria naquela noite.

- É a vontade que tenho, só não sei por onde começar. Ela foi para a Indonésia, e de lá deve partir para sei lá onde – o meu desespero era evidente.

- Sim linda, mas existem telefones, Internet, satélites, enfim, o mundo evoluiu se é que ainda não deste conta – fazia tudo para me alegrar e estava conseguindo, eu já estava mais leve e com coragem para enfrentar algumas batalhas e prol do amor.

- Tenho medo de me magoar, de ser inconveniente, em suma de fazer papel de ridícula. Estou ás vésperas de completar 34 anos David, não sou mais criança.

- Mais uma razão para saberes exactamente o que queres Sara, eu não vejo mal algum em alguém querer descobrir o que lhe reserva a vida. Vá atrás dos teus sonhos criatura maravilhosa, não me desiludas – disse isso puxando o meu cabelo da mesma forma que fazia quando éramos crianças.

- Vou tentar David, podes ter a certeza, e seja lá o que Deus quiser. Não posso continuar nesse impasse. – De repente senti-me com forças para lutar pela minha felicidade, bendita hora que o meu irmão resolveu visitar-me.

- Linda e o Noah? Ele já está a par dos teus novos voos?

- Ainda não falei com ele, mas é claro que ele já deve ter percebido o meu distanciamento, mas isso não me preocupa pois a nossa história sempre foi muito clara. Não somos mais do que bons amigos.

- Eu sei disso, aliás sempre soube, nunca entendi essa história de sexo pelo meio. Nunca vi nada alem de uma bela amizade entre vocês dois. Aliás maninha linda, eu já havia cogitado a possibilidade de sugerir que experimentasses novas emoções se é que me entendes – risos de ambos – já que nenhum homem conseguiu despertar o vulcão que há em ti. Mas sendo a senhora a devoradora de homens que sempre foi eu nunca me atrevi.

- Pare de dizer que sou devoradora de homens. Eu apenas me diverti com alguns ao longo da vida, e eles devem ter feito o mesmo. – Não conseguia ficar brava com o meu único irmão e que me conhecia tão bem.

Ele surpreendia-me com tamanha maturidade, a inconsequência dele restringia-se a sua vida amorosa. O David era grande de espírito!

Infelizmente ele passou apenas 4 dias comigo pois um projecto novo o aguardava na Califórnia. Foram dias maravilhosos, em que ele deu-me muito colo e soube puxar as minhas orelhas quando era preciso. A nossa relação que já era boa ficou melhor ainda. Ele partiu numa sexta à noite, não sem antes exigir que eu entrasse em contacto com a Jaiden. Era tudo o que eu queria.

Enviei um e-mail, dois, três…e nada. Tentei localizá-la na Austrália e mais uma vez sem sucesso. Comecei a achar que ela não tinha os mesmos sentimentos que os meus. Aquilo me deixou triste por algum tempo mas a minha objectividade não permitiu que a apatia tomasse conta da minha vida.

Viajei para a Argentina a trabalho e o Noah foi encontrar-se comigo. O Noah as vezes me surpreendia pela maturidade tão pouco comum nos homens. No hotel, sem que eu falasse alguma coisa ele percebeu que a nossa história tinha chegado ao fim, e sem cenas patéticas conversamos tranquilamente. Ele era o típico ser humano civilizado, ou então também tinha encontrado alguém que lhe completava.

Numa tarde num café de Buenos Aires, ele abordou-me subtilmente:

-Sara, percebo um brilho diferente nos teus olhos, estas apaixonada princesa? – Assim de supetão – ou eu era muito transparente ou ele me conhecia como ninguém.

- Pareço apaixonada? – Tentei disfarçar fazendo pouco caso das palavras dele.

- Eu diria que estas loucamente apaixonada, e digo mais, nunca te vi assim. Além de mais bonita escondes um mistério no olhar, mas percebo também alguma ansiedade…

- Hei meu querido, o que é isso, o mundo perdeu um excelente psicólogo? – Tentava brincar para disfarçar o meu nervosismo.

- Tudo bem que não queiras falar sobre isso minha querida, mas já sabes que podes contar comigo sempre. Nós dois sabemos que o nosso relacionamento jamais daria certo, mas somos amigos, e é isso que importa.

- Muito amigos meu querido, eu te amo, sabias? – Estava sendo muito sincera, amava-o muito, mas era bem diferente do que eu sentia pela Jaiden. Por onde andarás agora meu amor, pensei e suspirei.

- Ihhh já vi que é sério. – Risos e os meus olhos cheios de lágrimas, saudade pura.

O Noah partiu logo para os Estados Unidos e eu permaneci mais algum tempo na Argentina. De Buenos Aires parti para Miami, também a trabalho, aliás esse era o meu suporte para não enlouquecer de saudades…

A minha estada em Miami foi excelente, aproveitei para rever alguns amigos e o trabalho fluiu muito bem.

Regressei a São Paulo um dia antes do meu aniversário. Completaria 34 anos, meu Deus o tempo passava correndo.

Passei em casa correndo e fui à Agencia já que tinha pontos que precisavam ser discutidos imediatamente com os demais directores. Achei o pessoal da Agencia meio estranho mas não dei muita atenção, a impressão que eu tinha era que estavam escondendo alguma coisa. Fiquei mais tempo na Agencia do que o pretendido e só regressei à minha casa perto da meia-noite. Ultimamente trabalhava mais do que o normal numa vã tentativa de esquecer a Jaiden. Eu me sentia uma estúpida por pensar tanto nela. As minhas tentativas de encontrá-la tinham sido infrutíferas mas eu não conseguia desligar-me daquele sentimento lindo…como esquecer aqueles olhos lindos, aquelas mãos…

Mal entrei em casa o meu telefone tocou, era o meu irmão desejando feliz aniversário.

- A princesa encantada já deu sinal de vida?

- Não David, e acho que ela está mais para monstro…

- Eu ainda esgano essa mulher, como é que ela se atreve a fazer sofrer a minha irmã favorita?

- E por acaso tens outra seu palhaço? – Rimos das nossas piadas.

- Meu amor preciso ir dormir agora, estou zonza de sono e amanha, tenho que ir cedo à Agencia. - Estava realmente muito cansada.

- Amanha é sexta e dia do teu aniversário e nem assim te liberam?

- Eu preciso trabalhar para exorcizar os meus fantasmas.

- Quem corre por gosto não cansa…eu te amo tá sua doida, irmã mais velha e cada dia mais velha – Risos!

- Um dia chegas lá querido e não falta muito pelas minhas contas – Mais gargalhadas.

- Eu te amo mana querida e te cuida ok.

- Ok, amo-te também meu bebe.

Nessa noite, estranhamente dormi muito bem. Tive um sonho com a Indiana, achava que ela tinha me abandonado, mas reapareceu e desta vez limitava-se a sorrir o tempo todo. Acordei feliz e fui trabalhar. Percebi uma movimentação estranha na empresa mas não dei importância. Ao meio-dia entendi tudo. Tinham organizado uma festa surpresa para mim. Adorei a surpresa, não gostava muito de festas surpresa mas desta vez gostei, talvez por estar carente. Ganhei presente de todos e senti-me muito bem, querida por todos.

A Clara aproveitou um momento em que eu estava sozinha conversando no celular e aproximou-se com um envelope nas mãos.

- Chefe preferida – sempre divertida e extrovertida – aqui tens o teu último presente – disse isso e estendeu-me o envelope para que eu segurasse.

- O que é isso Clara? – Não fazia a menor ideia do que se tratava.

- É um presente que a empresa inteira resolveu dar à funcionária mais querida, abra e veja.

Era um pacote de fim-de-semana na praia de búzios no Rio de Janeiro com todas as despesas pagas.

- E aí chefe, que tal a surpresa?

- Adorei, e acho que vou aceitar, preciso mesmo descansar num lugar lindo como Búzios.

- Tenho certeza que vais amar Sara, certeza absoluta. Aproveita tudo, mas tudo mesmo.

- Ok podes crer que farei isso mesmo. – Não sei porque mas tive a impressão que ela escondia alguma coisa. Provavelmente era loucura da minha cabeça. Aproveitaria o meu presente ao máximo.

Fui ao Rio e uma estranha ansiedade tomava conta de mim. Sobrevoando Búzios de Helicóptero fui assaltada por uma paz incrível, parecia que tudo na minha vida entraria nos eixos, era uma estranha sensação. Em poucos minutos aterraria em mais um sonho.



CAPITULO XVIII – DÚVIDAS QUE SE EVAPORAM, PARA DAREM LUGAR A CERTEZAS IRREFUTÁVEIS

[10/12/09]



Ao chegar ao Hotel acompanharam-me à Suite Mistério, isso também fazia parte do meu pacote de aniversário. A suite era cheia de fantasia, linda. Achei estranho o pessoal da Agencia ter prestado atenção em detalhes tão ínfimos como a decoração de uma suite mas resolvi relaxar e aproveitar. Tomei um banho de sais maravilhoso e vesti um vestido lindo que comprara em Nova York. Queria divertir-me muito, afinal era o meu aniversário. No minuto em que ia deixar o quarto bateram à porta. Abri a porta e faltaram-me forças nas pernas. Eu só podia estar louca, mas o que via à minha frente era uma Jaiden linda com aquele sorriso lindo olhando para mim. Eu queria abraça-la para ver se não era sonho, mas não conseguia mover as pernas, estava estática.

- Posso entrar? – Ela parecia insegura – Meu Deus como amava aquela mulher, que vontade de cair nos braços dela.

Não disse nada, afastei-me da porta e ela entrou. Aquele perfume inconfundível, cheiro da Jaiden, único!

Os meus olhos estavam cheios de lágrimas e seguindo a voz do meu coração e sem qualquer sombra de medo disse:

- Tive tantas saudades tuas…

Mal terminei a minha frase ela correu para os meus braços e me abraçou com tanto carinho que desabei num choro convulsivo. Era real, ela estava mesmo ali, e melhor me abraçando como se eu fosse a ultima pessoa na face da terra.

- I missed you to death baby – e beijou-me. Eu chorava sem parar. Era bom demais, era perfeito. Dessa vez faria tudo para prolongar ao máximo aqueles momentos de puro êxtase ao lado do meu amor.

- Eu te amo Jaiden, não tenho mais duvida alguma – não tive medo de proferir aquelas lindas palavras, ainda que ela não me amasse com a mesma intensidade, eu estava mais interessada em exteriorizar os meus sentimentos.

- Eu também meu amor, eu também e não aguento mais quero sentir a tua pele.

A urgência era mútua, tiramos as nossas roupas em segundos e nos deliciamos com um ritual de amor maravilhoso. Os nossos corpos se encaixavam perfeitamente, eu estava no céu, feliz, muito feliz!

Algumas horas mais tarde, abraçadas e trocando juras de amor eu perguntei:

- Como é que a srta apareceu na porta do meu hotel? – Estava em cima dela e fingindo cara de brava.

- Eu explico meu amor, explico tudo. Naquele dia em que deixei o teu apartamento, não tive coragem de te acordar. Eu não conseguiria sair dali se estivesses acordada. Fui para a Indonésia achando que esqueceria o sentimento avassalador que me empurrava para os teus braços. Pela primeira vez na vida eu tive medo, logo eu que não conhecia esse sentimento. Achava que para ti aquilo tudo tinha sido uma experiência diferente, algo que tinha causado uma confusão enorme nos teus sentimentos e que mais cedo ou mais tarde acordarias e seguirias a tua vida de sempre. Eu mesma achei que não seria tão difícil esquecer os momentos lindos que vivemos, mas como estava enganada. Cada lugar novo que conhecia o meu desejo maior era que estivesses ao meu lado para desfrutarmos tudo juntas. Sonhava contigo quase todos dias, as vezes até acordada – disse aquilo sorrindo, aquele sorriso que amara desde o primeiro instante.

- E eu aqui achando que tudo não passara de brincadeira para ti meu amor, como fomos idiotas, meu Deus que tempo perdido – abracei-a mais forte ainda.

- Prometo recompensar tudo Sara, tudo mesmo, eu não consigo mais viver sem ti.

- Nem eu meu amor, nem eu… – o que faríamos para estarmos sempre juntas eu ainda não sabia, mas naquele momento tudo o que faria era amar a minha mulher.

Fizemos amor a noite toda, como eu sentira falta dela. Mas agora estava ali, deitada do meu lado. Eu não queria dormir com medo de acordar sozinha, mas fui vencida pelo cansaço. A meio da noite fui acordada pelo meu amor, ela me queria de novo, e eu a queria sempre. Talvez fosse isso o AMOR!!!

- Baby, desculpa-me.

- Porque? – Não entendi o pedido de desculpas.

- Feliz aniversário!

- Estas algumas horas atrasada meu amor, mas o motivo foi nobre então estas perdoada. – Riamos das nossas piadas e aquilo sem duvida era estar no paraíso.

- Srta, ainda não me explicou como chegou exactamente nesse hotel.

- Ihhh me apaixonei por uma detective – Risos.

- Conta lá imediatamente antes que eu te prenda…em meus braços.

- Eu te amo. Sabes a Clara lá da tua agência, vamos ter que elege-la nossa Cupido.

- A Clara, como assim?

- Foi ela que me deu as tuas coordenadas nos últimos tempos. Ela quase me matava cada vez que demonstrava resistência em ir ao Brasil e cair nos teus braços.

- Mas ela nunca disse-me nada.

- O que prova que a menina alem de boa ouvinte tem juízo, já esqueceste que és a chefe dela meu amor. Imagina a tua reacção se uma subordinada se intrometesse na tua vida.

- Acho que se fosse para falar de ti, ela alem se ser promovida a amiga ainda ganharia uns pontos no currículo – ria muito, mas com certeza teria que prestar mais atenção ás pessoas à minha volta, estava claro que aquela menina alem de minha assistente era minha amiga, e que amiga.

- Foi dela a ideia da surpresa aqui em Búzios. Eu a principio relutei um pouco por achar que jamais aceitarias uma coisa assim. Mas ainda bem que segui os conselhos da tua assistente e agora posso desfrutar desse abraço único.

- Mudei tanto Jaiden, e para muito melhor. Obrigado meu amor.

- Não agradeça com palavras minha linda, já estou com saudades de ti, me ame.

Fizemos amor como nunca, ela era linda, linda, linda. Eu cheguei à lua várias vezes, gritei, gemi, chorei, amei. Estava sendo plenamente feliz.

Acordei, o sol já brilhava forte lá fora. Ela dormia como um anjo. Fui invadida por uma paz incrível. Queria sentir aquilo para sempre. Ela abriu os olhos e a primeira coisa que disse foi que eu era maravilhosa, e aquele sorriso…

Tivemos um dia lindo em Búzios. Fizemos todas as loucuras que agradavam a ambas, de desportos náuticos a sessões de amor em lugares desertos e lindos. Á noite comemos sanduíches e dormimos abraçadas a noite inteira.

Fomos juntas ao Rio, mas voltei sozinha para São Paulo. Ela tinha um trabalho na Espanha e já estava atrasada. Ela queria que eu fosse junto, e eu adoraria, mas tinha compromissos inadiáveis em SP. O meu avião partiu primeiro que o dela, a nossa despedida foi uma loucura. Precisávamos de um beijo na boca, mas como? Éramos duas mulheres conhecidas no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, mas a Jaiden sempre tinha uma solução para tudo. Louca essa minha Deusa. Entrámos num banheiro que milagrosamente estava deserto, com excepção da senhora que tomava conta do espaço. Invadimos um dos gabinetes e quase fizemos amor naquele espaço minúsculo. Foi Maravilhoso! Ela beijou-me tanto que tomei um susto ao olhar-me ao espelho, a minha boca estava super vermelha e mais linda do que nunca.

Cheguei em SP com a certeza que dessa vez tudo seria diferente. Já não tinha mais dúvidas dos sentimentos da Jaiden e nem dos meus. Ela amava-me e isso era suficiente para me fazer feliz.

No trabalho todos notaram a minha felicidade, aliás eu não escondia de ninguém. Chamei a Clara e agradeci tudo o que ela fizera por mim. Ela meio sem jeito disse que faria tudo para me ver feliz pois chefe como eu só no céu – espirituosa a garota.

Tudo estava bem, apenas as saudades da minha princesa me consumiam.

Mais tarde, no trânsito a caminho de casa o meu celular tocou. Era o meu amor. Assim como eu estava morta de saudades. Conversamos pouco por causa do trânsito caótico da cidade, mas prometi ligar assim que chegasse em casa. E foi exactamente o que fiz. Horas de amor por telefone e muita felicidade à mistura.

Ela tinha mais um trabalho na França e depois iria a um festival de fotografia na Holanda. Fiz uma surpresa e apareci em Amsterdam. Ela não acreditava e quase perdia o festival onde ganhou vários prémios, inclusive o de fotógrafa do ano. Passámos dias maravilhosos naquela cidade, andamos de mãos dadas por todos os cantos da cidade, visitamos todos os museus, parques, livrarias, aquela cidade tinha algo a mais, um encanto irresistível, além da liberdade concedida ás minorias. Percebi que adoraria viver em Amsterdam, a língua não seria problema já que falava fluentemente o inglês e esse era o idioma de trabalho utilizado por aquelas bandas. Pensaria com carinho na possibilidade. Tudo em nome do amor.

Eu queria viver num lugar onde pudesse desenvolver o meu trabalho, ter tudo o que precisasse, comodidade, segurança, funcionalidade, e agora que eu tinha a certeza que um homem jamais me completaria como a Jaiden me completava, Amsterdam tornava-se mais perfeita ainda. Eu tinha que pensar mais um pouco, arranjar um emprego e deixar o destino se encarregar do resto.

Não disse nada à Jaiden, não queria força-la a nada, mas eu já estava quase certa que adoptaria Amsterdam como minha futura residência.

Viemos juntas a SP e ficamos dois dias enfiadas na cama. De seguida ela foi para Nova York. As minhas contas telefónicas eram assustadoras, mas eu não reclamava, era a forma de estar mais perto do meu amor.



CAPITULO XIX – MY HAPPY ENDING

[13/12/09]

Mandei o meu currículo para algumas Agencias na Europa, duas em Amsterdam, uma em Berlim, uma em Londres e outra em Roma. A sorte estava mesmo do meu lado. A melhor agência de Amsterdam chamou-me para uma entrevista, assim como uma excelente de Berlim. A minha amiga Nahima ficou muito feliz com a possibilidade de eu morar na Alemanha e mais feliz ainda por saber que eu e a Jaiden estávamos bem e muito felizes. Acabei por aceitar a proposta da melhor agência de Amsterdam. Ofereciam condições de trabalho irrecusáveis e queriam-me o mais rápido possível no elenco deles. Era irresistível!

Precisei de algum tempo até desvincular-me por completo da minha produtora em SP. Queriam que eu ficasse mas estavam certos que não podia desperdiçar aquela oportunidade única na minha carreira. Isso era sem dúvida maravilhoso, mas o real motivo era a possibilidade de ficar mais perto do meu sol.

Não disse nada a Jaiden. Na véspera da minha partida definitiva para Amsterdam enquanto falávamos ao telefone eu disse:

- Jaiden, amanha vou a Amsterdam – o meu coração pulava.

- A trabalho princesa?

- Sim – queria fazer uma surpresa.

- Que bom, estarei ai no sábado e mal posso contar as horas para te ter em meus braços.

Mal sabia ela que a partir do momento que chegasse em Amsterdam nossos momentos juntas seriam muito mais frequentes. Para a felicidade de ambas.

Cheguei em Amsterdam e tudo correu muito bem. A Agencia era mais do que eu sonhava e a equipe à qual fui integrada era super eficiente. Aluguei um apartamento numa área residencial tranquila e fiz questão que tivesse um espaço onde a Jaiden pudesse transformar em Studio. As vezes eu ficava espantada com as minhas atitudes e nas mudanças repentinas na minha vida. Eu jamais cogitara a possibilidade de dividir o meu espaço com alguém, prezava demais a minha liberdade, mas desde que descobrira que amava a Jaiden, tudo o que eu queria era dividir um espaço com ela para sempre, ou pelo menos enquanto o ar me faltasse cada vez que colocasse os olhos nela.

É incrível como as coisas funcionam bem na Holanda, em quatro dias a minha casa estava como eu queria, perfeita!

A Jaiden chegou no sábado e eu não pude ir buscá-la no aeroporto, pois estava excitadíssima com um projecto novo que me tinha sido entregue em mãos.

Fui encontrá-la no hotel e ficamos horas nos amando. Amava tanto aquela mulher que ficava tonta ao vê-la. Loucura!

- Sara, eu não aguento mais essa situação – semblante sério, e o meu coração na mão.

- Não queres mais ficar comigo, é isso? – a minha voz saíra tremula.

- Não fales isso nem brincando meu amor, eu te amo muito e é exactamente por isso que não aguento mais essa distancia continental entre nos. Não consigo concentrar-me em nada, contando os dias para ver-te de novo, eu sei que isso é uma atitude no mínimo infantil, mas é assim que me sinto. Quero-te do meu lado. Mas não quero forçar-te a nada, então acho que só me resta ir viver no Brasil, se é que me aceitas por lá. Tenho medo de sufocar-te meu amor – aquela mulher linda, firme e decidida parecia uma menina, como eu amava.

Os meus olhos a essa altura já estavam marejados de lágrimas. Beijei-a como nunca e perguntei:

- Queres morar comigo em Amsterdam?

- Como assim meu amor? – Os olhos dela brilhavam, mas não entendia nada.

- Já moro aqui Jaiden, eu também não aguentava mais essa vida louca que vivemos nos últimos tempos, mas também não queria que te sentisses pressionada, então vim sem dizer nada – me encolhi na cama com cara de menina levada.

Ela pulou em cima de mim me chamando de doida e me enchendo de beijos maravilhosos.

- Eu te amo doida, sabias disso?

- Sabia! E eu também te amo doida mor.

Fomos ver o meu apartamento e ela ficou encantada com o facto de ter um espaço para o futuro studio dela. Disse-me que a partir daquele momento seleccionaria mais os trabalhos, daria preferência aos trabalhos na Europa para que ficássemos mais tempo juntas.

Aquilo tudo parecia um sonho, mas era real. Encontrara algo que nunca, pelo menos não conscientemente tivesse procurado, o amor. E agora tudo faria para mantê-lo sempre aceso dentro de mim.

A minha vida profissional não poderia estar melhor, era solicitadíssima para as melhores campanhas e quase sempre a Jaiden era a fotografa, o que era fantástico pois estávamos sempre juntas.

Um dia, deitadas no chão da sala a conversar, a Jaiden disse-me que um velho aborígene certa vez tinha-lhe dito que encontraria o amor da vida dela nas terras da América do Sul, e que ela imediatamente rumara para aqueles lados.

- O primeiro lugar que cheguei foi Belém do Pará, mas meu amor estava na minha segunda paragem, em São Paulo.

- Então o velho estava certo.

- Certíssimo. Tenho até uma foto dele. Sábio homem.

Nesse momento lembrei-me da Indiana e dos sonhos frequentes. Tudo fazia sentido agora, ela quisera dizer a mesma coisa. Sábios velhinhos. Acertaram em cheio, pois o que existia entre nós não era nem mais nem menos do que um amor, lindo e forte.

Nas nossas primeiras férias de longa distancia juntas, fomos à Índia. Numa tarde enquanto a Jaiden fotografava, sentei-me à porta do Templo de outrora. Uns minutos depois a mesma cigana estava à minha frente. Abri um sorriso largo e disse que encontrara o que ela previra. Ela disse algo que não entendi e depois num Inglês perfeito disse que eu ia ser muito feliz e para sempre, tocou a minha testa e foi embora. Eu senti uma leveza enorme…a minha princesa que estava a escassos metros tirou uma foto de um dos nossos amuletos.

Passeamos por boa parte da Ásia, naquela que era a nossa primeira lua-de-mel.



Já estamos juntas há 3 anos. Actualmente moramos em Nova York e continuamos felizes como se nunca pudesse ser diferente.

O meu irmão finalmente conheceu a Jaiden e eles se dão muito bem. Ele ainda não encontrou o grande amor da vida dele se é que acredita em tão nobre sentimento. Mas há esperanças, ninguém era mais descrente do que eu…até conhecer Jaiden Howard e numa situação…diria, inusitada.

Ao Noah contamos juntas do nosso amor e ele, claro, ficou estupefacto. Nunca imaginaria nada semelhante. Mas hoje em dia somos amicíssimos, não que alguma vez tivéssemos deixado de o ser, mas tudo está mais sólido.

Á entrada do nosso apartamento podem ser vistas duas fotografias simbólicas, uma do velho aborígene que trouxe o meu amor ate mim, e outra da velha Indiana que me lançou no caminho para o amor. Eles são os nossos amuletos. Talvez por estarem lá e sempre em nossos corações, nós nunca brigámos, e posso dizer sem duvida alguma, sou muito feliz e não mudaria nada na minha vida.

Agradeço à Indiana, ao velho aborígene e ao meu amor por fazer de mim essa mulher completamente feliz.

FIM







6 comentários:

  1. Os contos que vc posta são maravilhosos! Pena vc não poder postar tantos quanto eu consigo ler. rs já que tenho muito tempo livre...e passo quase que todo ele aqui!kkkkk
    Bjs

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  2. rs, o tempo livre é uma maravilha, mas prometo postar o máximo que conseguir, por isso deixei um para você, espero que goste.
    fico feliz que passe por aqui, por isso realmente tentarei lhe dar mais para lher.
    Obrigada,
    Bjs

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  3. Muuuuuuuuuito bom , ameeii

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  4. Parabéns. Continue escrevendo.
    Descobri seu blog a pouco tempo.
    Obrigada

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    1. Bom dia, Ilse!

      Agradeço pelo fato de vir ao blog, e por ter gostado do conto... mas o elogio ao conto não posso retribuir pois apenas o postei. A autora do conto acredito que ficará envaidecida por isto.

      bj

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